016 [ 2 ]

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Nem sequer me recordo de quando fecho meus olhos e durmo com a cabeça apoiada em algo que parecia ser o peitoral de Jere.

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Passo a noite tendo pesadelos e durante um deles, acordo com falta de ar.

Sonhar já é difícil.

Lembrar é pior ainda.

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Faltava menos de uma semana para Susannah falecer, mas ainda não tinha noção disso na época. A mulher tinha pedido que eu fosse visitá-la e, mesmo não aceitando, sabia que seria a última vez que a veria.

Ao chegar em Boston, suava frio. Minha mãe tinha me alertado sobre as limitações dela, mas ver aquilo era diferente. A sensação de impotência doía no meu coração, mesmo sendo o dela que funcionava por aparelhos.

— Minha princesa linda. – Susannah não conseguia mais se levantar com facilidade então quando cheguei ela estava deitada
— Oi. – ela tinha uma fisionomia fraca, cansada, como se tivesse que fazer força para viver
— Você está linda minha flor.

Estava ao seu lado, com uma expressão impactada ao vê-la daquela forma, e quando seus braços tremeram ao me abraçar, uma lágrima escorreu dos meus olhos. A limpei antes que ela visse mas não consegui esconder a dor.

— Tudo bem? – ela indicou para que eu se sentasse ao seu lado
— Sim, eu só...

Não, queria dizer não. Mas como dizer não se estava bem, para ela, uma pessoa tão frágil naquele momento, estava bem. Mas para mim, estava quebrada, em pedaços, me afundando na mágoa que achei que tinha superado.

— Acho que não. – seus dedos encostaram minha bochecha e meus olhos se levantaram até os dela. — Te conheço bem o suficiente para saber que você está sofrendo. – outra lágrima pulou de meus olhos, agora sem controle
— Eu tô bem, só meio cansada. – neguei sua sugestão
— Ele também está. – ela murmurou de volta, meu coração parou por um segundo. — Quero que vocês cuidem um do outro. Mesmo que não se amem da mesma forma, quero que vocês cuidem um do outro. Por favor. Espero que vocês consigam cumprir essa promessa pra mim. Pode me prometer pelo menos tentar? – meus olhos já estavam tremendo e inchados com lágrimas caindo para todo lado
— Prometo.

Seu abraço me reconfortou e me senti leve por um momento, sem segurar meu choro desabei ao seu lado.

Pela última vez.

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É cedo quando acordo, a luz do sol ultrapassando as cortinas entre abertas e irritando meus olhos.

— Bom... – desperto mas ao me virar, não encontro Jeremiah deitado ao meu lado, como esperava. — Jere? – me levanto, indo na direção do banheiro

O loiro não está em nenhum lugar e aquilo me deixa inquieta, nunca fui de acreditar nos meus pesadelos mas quando você sonha com abandono tem uma certa tendência de acabar ficando inquieta com uma situação dessas.

Entro no banheiro e começo a escovar os dentes, discando o número dele no celular.

É a quinta vez que minha chamada cai na caixa postal e já estou arrumada, até meus cabelos estão penteados.

Desisto de esperar ele no quarto e saio, a procura do carro de Conrad já que a chave está com o loiro.

Minha ansiedade explode quando vejo o sumiço repentino do carro, fico alguns segundos analisando a vaga vazia do veículo até que sou tomada pelo susto quando algo toca meu ombro.

— Procurando alguém? – Jere sussurra e quase dou um soco em seu rosto
— Idiota. – levo minha mão ao peito, me recuperando do susto
— Trouxe seu cookie favorito, não quis te acordar depois de você finalmente conseguir dormir. – ele explica
— Eu te acordei? Desculpa. – digo
— Não, eu acordei quando vi que você estava com o coração disparado, fiquei preocupado mas antes que fizesse algo, você se deitava de novo. – ele completa
— Eu tive uns pesadelos, mas nada demais. – faço questão de não lembrar dos sonhos com meu pai e Susannah nesse momento
— Que bom. – ele sorri e todos meus pensamentos se dispersam
— Achei que você tinha ido sem mim, queria te dizer uma coisa antes. – sorrio de volta
— E deixar você aí? Jamais. – ele ri mas fica com uma feição curiosa. — O que você queria me dizer?

Seu rosto é preocupado mas mesmo assim seus olhos são delicados, trazendo leveza pro loiro sorridente.

— Bem... – abro um sorriso largo. — Acho que eu te amo.

Ele não diz nada no momento mas consigo me comunicar com seus olhos pra saber que o garoto ainda está tentando acreditar no que ouviu.

— Eu... – ele engole algo, visivelmente nervoso mas levo minha mão a seu queixo, fazendo com que ele me olhe, de verdade. — Eu também te amo.

Meu coração desfaz o nó dado por mim mesma quando Jere me puxa para perto, juntando nossos lábios em um só novamente.

Nunca vou me cansar de sentir seu gosto misturado com o meu. O único nó que vou dar agora vai ser dar nossas línguas.

Não é como se não nos sentissemos assim mas esse beijo é diferente. Calmo, apaixonado, tudo que somos nesse momento.

Me sinto leve com seus lábios roçando os meus e me surpreendo quando o loiro enrosca seus braços por minha cintura e me levanta, me deixando ligeiramente mais alta que ele.

Adoro o fato de que tenho uma sensação boa ao estar do seu lado, não um frio na barriga ou borboletas no estômago, só...

Algo bom.

Algo que faz meu mundo parar.

Não é como se eu conseguisse explicar a sensação de estar perdidamente apaixonada por alguém, porque não consigo.

A única coisa que sei é que desde a primeira vez que vi esses olhos azuis oceânicos, meu coração disparou e nunca mais parou.

— Você disse cookies?

O cheiro delicioso de biscoitos sobe até mim e pergunto, quase me esquecendo do fato de ainda estar beijando ele, é algo tão natural pra mim ficar assim que existem momentos em que esqueço da realidade.

— Chocolate. – ele sorri contra meus lábios
— Um anjo. – o loiro ri quando dou diversos beijos nele, pegando a sacola que deixamos cair do chão
— Verdade, amo te levar ao céu. – rio de sua piada ridícula, mesmo ficando vermelha
— Cala a boca! – meu rosto está vermelho e tapo ele com as mãos enquanto entramos no quarto
— Não consegui evitar. – ele me dá um beijo de desculpas e... O que ele tinha feito mesmo?

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— Isso são cookies?

Já estamos com nossas coisas arrumadas e guardadas no carro quando batemos na porta do quarto do resto do pessoal.

— E então? Precisamos ir pra Cousin's trocar os carros. – Jere diz ao vê-los pegando suas coisas
— Vamos. – Conrad diz, sendo o primeiro a sair do quarto
— Pra Cousin's de novo. – Jack segue o moreno até o carro, carregando o resto das bolsas
— Vocês podiam ter avisado sabe? Nunca mais vou na direção do quarto de vocês sem ligar. – demoro alguns segundos pra entender e meus olhos se arregalam no instante que vejo Jeremiah segurando uma risada
— Cala a boca. – dou um soco em seu ombro, indo na direção do carro antes que fique mais vermelha
— A culpa não é sua, linda. Fiz questão de te fazer gritar. – o rosto pervertido de Jere me deixa roxa de vergonha

Se tivesse uma arma, atiraria na minha própria cabeça.

Quem fala isso?

E sabe o pior de tudo?
Eu, ainda sim, amo ele.

𝗧𝗛𝗜𝗦 𝗦𝗨𝗠𝗠𝗘𝗥 | Jeremiah FisherWhere stories live. Discover now