capítulo escrito ao som de "Fill The Void - The Weeknd."
tentando espairecer, minha filha?
ISABELLA
ME SINTO ZONZA. Minha cabeça está rodando e tem alguém (que obviamente não sou eu, pois nunca, em sã consciência, eu agiria desse jeito) controlando meu corpo. É uma mulher piranha quem me controla, bem piranha, uma cadela no cio que está possuindo meu ser e enchendo minhas veias de luxúria.
Meu sangue borbulha, minha pele pega fogo e as batidas do meu coração estão descompassadas. É um tintintin sem fim seguido de uma pausa sinistra. Devo me preocupar com isso?
Se eu devo, não sei, ainda mais do jeito que estou e com a mente tão contaminada com tudo que não seja sério o suficiente. A única coisa que está fazendo sentido é em como eu posso desfrutar de uma boa foda. Estou cheia de pensamentos pervertidos.
É por isso que eu não sou do time que bebe até cair. Não sou do time que gosta de ficar bêbada. Eu não tenho controle algum sobre meus atos quando estou cheia de álcool no sangue. Eu me transformo numa pessoa totalmente diferente de quem sou. Me torno uma cadela no cio pronta pra dar o priquito pro primeiro macho que brotar na minha frente.
E sabe o que aconteceu na última vez que me deixei ficar nesse estado? Sim, eu engravidei de um jogador de futebol. Desde lá, eu venho tendo equilíbrio sobre minha vida e meus atos. Sendo inteligente. Não posso beber sem estar em casa, sozinha de preferência. Essa é a regra. Fora do meu lar, o máximo são alguns drinks.
Então por que estou assim?
Me lembro de perguntar a Clarisse onde estavam as bebidas de adultos. Ela riu, sem questionar (ela deve achar que a maternidade me desgasta e eu só queira distração), e me conduziu até a adega. O paraíso. Tinha tudo quanto é garrafa com todos os tipos de bebidas alcoólicas que você imaginar. Foi ali que eu declarei meu fim.
Fiquei sozinha com o álcool.
Minha cabeça doía porque o que li sobre mim no Twitter machucou meu coração e me deixou pensativa. E o único jeito plausível para me livrar desse peso era assim. Eu só precisava me distrair um pouco. Porra, por que eu não fui dormir? Isso também ajuda. Mas, não. Optei pela bebida. Parabéns, Isabella, sua sonsa.
O problema disso tudo é que esqueci da minha total falta de controle com a bebida. Uma taça virou uma garrafa inteira de vinho. Depois disso nem sei mais o que ingeri.
Só sei que agora estou totalmente perdida e não estou mais na adega.
Tem uma música alta tocando e meu corpo está balançando de um lado para o outro. Mas não estou dançando. Minha intenção é dançar. É me remexer e ser feliz como nunca fui. Contudo, estou longe de conseguir fazer o que eu quero.
E isso porque estou sendo carregada.
Sim, exatamente.
Tem um braço forte em volta de mim, meu quadril está encostando em seu abdômen enquanto ele, um homem, me leva para não sei onde. É um homem cheiroso. Muito cheiroso. Seu perfume é tão bom que viro meu rosto em direção ao seu pescoço e ando toda torta só para conseguir cheirá-lo ainda mais.
O homem é lindo, por sinal, muito lindo. Maxilar marcado do jeitinho que eu gosto. E uma barbicha, que falhou em ser uma barba, ressaltando seus traços mais bonitos. Às vezes prefiro que tenha um mísero pelo no rosto do que não tenha merda nenhuma e fique com a cara lisa. É pele demais para mostrar. Gosto de bigodinhos.
— Eu vou te levar pra casa — ele diz com a voz grave e meio nervosa, consigo notar um tom de preocupação também.
Mas ignoro seu tom. Eu não, na verdade. A bebida me faz ignorar.
Algo nele me é familiar e me faz relaxar. Tenho uma leve impressão de que estou nos braços de Joaco e deixo que me leve embora. Eu sei que ele está com meu filho. Tom está seguro, então eu estou segura.
Confiando, entro naquele carro. Confiando, entro na minha casa. Confiando, deito em minha cama e me aconchego. E é confiando que eu abro os olhos e chamo por Joaco:
— Fica aqui — peço a ele, o vendo hesitar parado naquele batente. — Deita aqui. Comigo.
Dou umas batidinhas no lugar vago ao meu lado no colchão.
Piquerez me olha com dúvida, franze o cenho e sua expressão é diferente da de costume. Ele nunca hesita quando lhe ofereço algo desse nível. Deitar ao meu lado? Nem preciso pedir, Joaco já deita e dorme.
Então por que ele está hesitando tanto agora? Será que fiz alguma coisa? Falei o que não devia?
Depois de tanto pensar, aquele homem bonito se deita ao meu lado. Mas não me toca. Não me aquece. E nem nada. Ele só fica ali deitado, com a respiração totalmente irregular. Ou será que é a minha?
Bom, não dou muita importância. Minha cabeça está começando a doer e eu estou enjoada. Então, irei dormir pra ver se passa.
Se eu dormi, eu não sei por quanto tempo, só sei que agora estou acordada. Muito bem acordada. A presença daquele homem ao meu lado não me deixa pregar os olhos. Não quando tem álcool demais em minhas veias.
Meu corpo está quente. Muito mais quente que o normal e meu coração tão acelerado que ele facilmente pode saltar para fora do meu peito. E isso por um único motivo em particular: o homem bonito deitado ao meu lado.
Estou de costas para ele, mas sua presença é tão viva e quente que é impossível não senti-lo ali. Sua respiração ainda irregular. Seu perfume forte.
É isso que me faz aproximar o quadril ainda mais dele. É isso que me deixa ansiosa. Ansiando pelo toque dele. Por suas mãos deslizando por meu corpo sedento. Por ele finalmente me possuir. Não quero só seu calor ao meu lado. Quero seu calor em mim.
E não preciso falar para que o homem deitado ao meu lado entenda o que quero. Ele se vira e meu corpo se encaixa perfeitamente nele. Minha bunda roça sua virilha e eu o sinto. Duro. Pronto. Tão ansioso quanto eu.
— Isabella — ele geme, um gemido tão expressivo que desce um arrepio muito desejado pela minha espinha o qual me faz pressionar as pernas em busca de atrito. — Isabella, a gente não pode...
Tem algo diferente na voz dele. Mas não sei o que é.
— Não resista — digo a ele. Mesmo que não queira aceitar o que tanto quer, ele está possuído. Tão possuído quanto eu e está me tocando. Me abraçando de lado. Apertando um dos meus seios com sua mão enorme. — Já estamos aqui...
Me esfrego contra ele para poder senti-lo melhor atrás de mim, corpo com corpo. Ele está pronto. Eu estou pronta. E era isso que eu queria, não? Lembra do que eu disse lá no começo? Cadela no cio e tal?
— Isabella...— A voz dele falha e ele afunda a cabeça em meu ombro. Seu tom de voz mostra que está alcoolizado também e eu não sei dizer em que momento ele bebeu. Tenho a impressão de que bebemos juntos. Que mais coisa aconteceu entre a gente antes de eu deitar nessa cama? — Bella.
E depois disso a conversa morre. Chega de papinho, né, porra?
Algo muito melhor acontece. A conversa é substituída por ações.
A mão dele começa a me tocar. Descendo pelo meu abdômen, apertando minhas coxas, deslizando pelo meio de minhas pernas.
Ainda estou bêbada para lembrar de tudo com tanta clareza, mas eu sinto tudo que faz comigo. E é tão maravilhosamente bom. Principalmente depois de abaixar a minha calça e começar o trabalho. Não. Ele a retira. Estou nua. Espera. Mas eu já estava com uma roupa diferente da que eu estava na festa. Como?
Bom, não sei. Minha mente não está muito boa.
E eu também estou pouco me importando. Eu só quero registrar esse momento. O momento em que ele agarra meu quadril e me invade, de ladinho. Calmo e delicado. Mas o gemido que solta quando está enterrado dentro de mim, sentindo meu calor e a forma como estou sedenta, não é nada delicado.
Nós temos pressa. Ele tem pressa. E por eu estar tão molhada, não é nada difícil para ele deslizar para dentro de mim.
Ele me fode com força. Mandando o carinho pra puta que pariu.
Agarra meu quadril e começa a se impulsionar para dentro de mim em movimentos rápidos e constantes. Tão rápidos e intensos que em determinado momento ele se viu obrigado a ajeitar a postura para entrar melhor. Ele agora está em cima de mim. E suas estocadas estão mais profundas.
Mordo a língua, mas isso não reprime meu grito.
Principalmente enquanto meu corpo inteiro se encolhe pelo orgasmo. Agarro o lençol e afundo a cabeça no travesseiro.
Não sou a única a gozar. Ele vem logo em seguida, desabando em minhas costas e permanecendo lá dentro. O sinto latejar dentro de mim enquanto se recupera. Nós nos recuperamos juntos e estou tão cansada que poderia dormir nessa posição, mesmo com seu peso em cima de mim.
Minha mente oscila, meus olhos reviram e eu me sinto perdida. Confusa. O coração apertado, principalmente quando ele sai de cima e de dentro de mim e ameaça ir embora.
— Não — me viro em sua direção antes que me deixe sozinha. Não sei o que estou fazendo. — Por favor, fica comigo. Por favor. Não me deixa sozinha. Eu preciso de você.
Não me lembro de mais nada depois disso.
em maio de 2008
— Hola, mi hija — meu pai me chama assim que passo pela porta de seu quarto. Hoje ele está deitado pois acordou com muita dor de cabeça e nos olhos. Bom, foi o que mamãe me disse, mas ele está com uma aparência terrível de doente e eu sei que tem muito mais por trás disso. Ela só não quer me dizer por medo de como irei reagir. — Ven aquí con tu papa.
Sorrindo me aproximo dele e me sento ao seu lado na cama, rapidamente pegando em sua mão e depositando um beijo nas costas. Ele fica contente do gesto e se esforça para levar a minha mão até seus lábios secos e meio roxos. Papa está realmente muito doente.
Esse é nosso cumprimento diário, um beijo nas costas da mão um do outro. Um gesto de respeito e de benção, como ele diz.
— Papa, cómo estás?
— Bien, mi Bella. Su papa mejorará, te lo prometo.
É uma promessa sem fundamento. É uma promessa vazia. São apenas palavras. A verdade está em seu olhar. E ele já aceitou o fim, só está esperando que venha o mais tardar possível.
— Prometes a mí ou a nosotros? — A promessa feita só a mim pode até ser cumprida, mas feita a nós, a nossa família, será levada muito mais a sério.
— Lo prometo, Bella. Solo prometo.
— Papa, me dijiste que solo era una gripe.
— Bella — ele aperta minhas mãos e respira fundo, o simples esforço já me deixa preocupada. — Mi Bella, no pienses en mi. Pienses en ti. Tu cumpleaños es mañana, qué quieres de regalo?
— Te quiero en la fiesta, papa. Quiero que salgas de esa cama y te diviertas conmigo.
— Mi hija — ele me oferece um sorriso entristecido e me vejo pensando se essa será minha última lembrança de suas feições —, no me necesitas para ser feliz.
— Necesito, si. Eres mi padre. Y yo te amo. No puedo vivir sin tí.
— Sí se puede y se hará. — Meu pai olha no fundo dos meus olhos e meu coração dói de uma forma significativa. — Eres una chica fuerte, has pasado por mucho antes de llegar aquí, no? Tu madre te enseñó a ser independiente. No necesitar a nadie. Y sei que realmente no necesitas.
— Papa, yo...
— Escúchame, hija. — Ele me interrompe, pedindo para que eu o ouça. — Yo siempre estaré contigo. Siempre seré tu papa. Pero necesito que me prometas que nunca, em ninguna circunstancia, necesitarás de alguien. Prometeme.
— Te lo prometo, papa.
— Prometer o qué? Digas con convicción, mi Bella.
— Te prometo que nunca necesitaré a alguien.
— Nunca — ele repete e beija a palma de minha mão mais uma vez.
Cinco meses após a minha promessa, onde eu disse em alto e bom som que nunca iria precisar de ninguém, eu decidi levar aquelas palavras ao meu coração. Queria dar orgulho ao meu papa, mesmo que ele não fosse ver, ainda quero ser o motivo de seu orgulho.
Por isso, numa quinta-feira meio ensolarada de outubro, Tini e eu descemos para brincar no campinho com nossos amigos e primos. Me lembro que naquele dia, meu papa ainda estava vivo. Estava fora da cama, graças a Deus, tomando sol na varanda junto de mamãe.
Caminho até o campo olhando para os dois rindo na varanda de casa até sumirem de vista e o barro seco e as árvores cheias de folhas começarem a nos cercar.
— Escúchenme, todos ustedes! — berro para que a discussão entre o grupo de pré-adolescentes se encerre. Eles se calam assim que me ouvem. Estufo o peito e continuo falando. — Juan e Pablo serán los policías. — Os dois garotos de quase catorze anos comemoram quando lhe digo suas funções na brincadeira. — Florencia e Diego serán los ladrones, Yo seré el juíza e Joaco... — olho para o garoto magricela e branquelo que está de braços cruzados esperando que eu lhe diga sua função na brincadeira.
— No me digas que yo seré el jugador de futebol porque no tiene nada a ver con el brincadeira — ele protesta, irritado por ser o último a ter uma função e acabar ficando com a sobra.
Eu o colocaria para ser o jogador, ele tem talento com a bola, mas não combina com a adaptação de polícia e ladrão que estou fazendo.
— Serás el prefeito.
— No tienes prefeito en este juego, Isabella!
— Ahora tienes! — Abro um sorriso convicto para que não haja mais interrupções ou discordâncias. — Tu trabajo será ayudar tanto a policías como a ladrones. Puede ayudarlos a esconderse ou ayudarlos a encontrarlos. Entendiste?
Joaco resmunga um sim meio indiferente e eu dou de ombros, ele sempre fazendo drama, é um mal dos Piquerez. Minha mãe já me disse que o sr. Piquerez Pai é super mimado pela mulher. Não deve ser diferente com o filho, né?
— Y yo, hermana? Cuál será mi papel? — Tini vem saltitando em minha direção, ansiosa em ter uma função na brincadeira assim como todos os outros.
Faço uma careta automática sem saber o que dizer. Tini é a mais nova do grupo, a trouxe porque fiquei com dó de deixá-la sozinha em casa. Mas ela só tem sete anos, não sabe brincar que nem a gente. Ela não pode ser a juíza e condenar os ladrões porque eu já sou. E muito menos é rápida o suficiente para ser uma policial ou ladra. O que lhe resta...
— Serás la primera dama!
— Qué!?? — Joaco se irrita, já entendendo que terá uma parceira indesejada e não esperada. — No, no. No necesito de una esposa.
— Deja de chatice, Piquerez. — Diego, um garoto moreno de cabelos bem cacheados, protesta, na defensiva. — Deja que la niña seja la Primera Dama y que comience la diversión.
— Si. — Florencia, a ruiva, concorda. — Ela es cafe con leche.
— No voy a llevar la chica solo porque no puede ser otra cosa.
— La primera dama tiene un papel muy importante en brincadeira, Joaco. — Bufo, autoritária como sempre. — Acabo de crear como creé la función de prefeito. Entón deja de quejarte.
— Déjame elegir a mi esposa al menos — ele sorri para mim, debochando.
— No! — Nego de imediato, ficando brava com o quanto ele é mimado. — Martina será la primera dama y pronto.
— Quiero que tu sejas mi esposa. — Ele sugere, apontando para mim.
— Qué? — Dou risada, sem acreditar que ele teve coragem de pedir isso pra mim. — Aquí tu no eliges nada. Yo escojo. Tini será la primera dama y el asunto está cerrado.
Joaco revira os olhos e fica emburrado, pelo menos não está mais protestando.
Minha irmã, satisfeita, caminha saltitando até parar ao lado de Piquerez que olha para ela com indiferença e diz:
— Fiques a mi lado todo el tiempo, Tini. Tu me necesitas. No arruines la diversión.
— Bien — minha irmã concorda porque é a mais nova e não quer problemas.
Mas aquilo mexe comigo de uma maneira tão surreal que eu não posso simplesmente ignorar. Tini não precisa de Joaco, não. Ela não precisa de ninguém. Não posso deixar minha irmã ser inferiorizada desse jeito.
— No. — Todos me olham, confusos, mas eu falo diretamente a Tini. — No, Tini. No lo necesitas. No necesitas a nadie.
— En teoría, ela me necesita, sí. — Joaco informa com uma careta. — No?
— No. — Fico firme em minha decisão e lembro das palavras de meu pai. — Tu eres fuerte. Es independiente. Nunca dejes que nadie te haga inferior. A partir de ahora, usted y Joaco competían por el cargo de prefeito. El que sea mejor y ayude más, gana.
Isso. Que os dois disputem pelo cargo e o melhor ganhe.
— No, Isabella. Este no era el acuerdo.
— Calado — interrompo a fala de Piquerez, cansada de seus protestos. — Mi hermana necesita entender que puede ser lo que quiera y que no necesita que los hombres la controlen. Entiendes, Tini?
— No necesito que los hombres me controlen — ela repete com um sorriso, fazendo Joaco revirar os olhos.
— Vamos a brincar ou no? — Ele pergunta, totalmente impaciente principalmente pelo fato de ter perdido seu cargo. Rindo, eu inicio a brincadeira.
Como eu posso prometer a meu pai que eu realmente não precisaria de ninguém e ensinar isso a minha irmã, mas no futuro, quinze anos depois, acabar pedindo para um homem não me abandonar após uma foda? Não me abandonar porque tenho medo da solidão. Porque no fundo, mesmo após promessas, tudo que eu menos quero na vida, é ficar sozinha de novo.
Esse capítulo é muito importante para trazer um pouco do passado da Isabella que ainda será muito explorado na fic. O papa que foi citado não é o pai biológico da Bella, mas é o pai que a criou e quem ela considera como pai de fato. O pai biológico ainda está vivo, mas... Vcs gostam de novelonas? Pois então. EU TAMBÉM.