Hyunjin piscou algumas vezes. Encarou o teto e não precisou se esforçar muito para se dar conta de que estava num hospital, ele nunca esteve em um antes, mas era tão óbvio. Hwang virou o rosto alguns centímetros e o aparelho que marcava seus batimentos cardíacos apitava com frequência. Hyunjin puxou o ar para seus pulmões com força para ter certeza de que estava realmente vivo, agora seu único medo era viver e ter seu pai ainda ali. Mas ao virar o rosto para o outro lado, de modo que tivesse uma visão melhor, ele encontrou Felix.
Lee segurava sua mão e dormia tranquilamente, Hyunjin sentiu o peito se encher com um sentimento desconhecido enquanto uma lágrima trilhava sua bochecha. Ele não se deu conta dos próprios movimentos enquanto levava a outra mão até os fios de Felix para ter certeza de que não estava morto e foi parar no céu por um engano no sistema judicial divino.
Lee se mexeu de abrupto o assustando. Num instante ele tinha os olhos esbugalhados em sua direção, cético do que via e no outro estava o agarrando num abraço tão apertado que Hyunjin ficou sem ar, mas não reclamou. Morrer ali e daquela forma estava ok para si.
— Eu não morri? — Indagou num tom divertido, mas sua alegria se dissipou assim que Lee se afastou com os olhos vermelhos e o rosto molhado. — Felix...
— Seu desgraçado, você não sabe o quão doido da cabeça é. Eu já não te disse que essas suas atitudes iriam acabar te matando? Sabia que sentir medo é o aviso de que se deve parar e analisar as merdas que estamos prestes a fazer? Mas parece que você age por um impulso desumano, como pode ser assim tão teimoso? — Suas palavras atropelavam umas às outras. Hyunjin tinha os olhos marejados em sua direção, no entanto, Felix o abraçou novamente como se ele pudesse magicamente sumir. — Seu idiota. Eu pensei que tinha te perdido pra sempre. Te amar foi a pior decisão que tomei na vida.
Hyunjin arregalou os olhos e o sentiu enfiar o nariz em seu pescoço enquanto chorava como um bebê.
— Amor, é? E você esperou eu quase morrer pra dizer isso? — Sorriu o apertando contra si.
— Droga, eu te amo pra caralho. — Fungou e afastou o rosto para fitar seu rosto. Ele ainda parecia cético de que o tinha ali.
— Eu também te amo e eu não disse isso antes porque não queria que você acabasse fugindo. — Ele colocou uma mecha de cabelo alheio atrás da orelha.
— E quem fugiu foi você. — O refutou, ameaçando cair no choro mais uma vez. Hyunjin sorriu com aquilo, vê-lo daquela forma era algo novo, bizarro e ao mesmo tempo gratificante de se ver.
— Eu não fugi, eu tirei umas férias. — Acariciou seu rosto.
— Vá se foder, essa merda não tem graça. — Negou com a cabeça enquanto lágrimas grossas pingavam.
— Há quanto tempo eu estou aqui? — Indagou limpando suas lágrimas. Ele pensou em perguntar sobre Chan, mas o homem estando preso ou não, não queria estragar esse momento com Felix.
— Oito dias. — Ele descansou a cabeça em seu peito. — Eu deitei aqui todos os dias para ter a certeza de que seu coração estava funcionando. — Fungou.
— Ele não vai parar de bater enquanto tiver você, sabe por quê? Porque ele bate por ti. — Disse ainda tentando apaziguar a situação, mas recebeu um beliscão no abdômen. — Ai!
— Que merda, hein. Que cafonice. — Ele fez uma careta e ficou ainda mais engraçado pois seu rosto estava extremamente inchado. Hyunjin não foi capaz de segurar a risada. — Fale outra breguice dessa pra mim e eu te mato. — Hyunjin gargalhou e tentou se endireitar devidamente para sentar, mas precisou da ajuda de Felix. Foi só aí que ele se deu conta de que o braço de Lee estava enfaixado.
— O que foi isso? — Ele segurou com cuidado. — Onde você se machucou?
— A gente tem tempo pra falar sobre isso. — Puxou de seu alcance. — Vou chamar uma enfermeira agora.
— Espere. — O agarrou pela nuca e o trouxe para perto. Hyunjin deixou apenas um selinho em seus lábios, pois tinha consciência de que não fazia sua higiene básica há dias. — Te amo. — Sussurrou.
— Esse não é outro beijo de adeus, é? — Certificou-se colando suas testas de olhos fechados.
— Eu prometo que esse beijo não vai mais fazer parte disso.
🐺
Hyunjin tinha os braços cruzados enquanto uma enfermeira empurrava sua cadeira de rodas até a saída. Ele estava de cara fechada porque insistiu em ir andando, mas ela disse que era protocolo e nada que ele dissesse iria mudar isso. Foi só quando Felix interveio que ele finalmente cedeu. Porém sua cara emburrada se desfez no momento em que saíram do hospital e viram todos os seus colegas de pé do lado de fora. Hwang abriu a boca num perfeito O e correu os olhos por eles
A maioria segurava flores e tinham sorrisos tão grandes que poderia facilmente lhes rasgar o rosto. Hyunjun se colocou de pé e mesmo a enfermeira repetindo que ele não podia correr, lá estava um Hyunjin gritando e recebendo gritos triunfantes de volta. Yeji foi a primeira a ir em sua direção e então Jeongin, Damen, Jaehyun, Yuta, Seungmin, Minho, Jisung e Changbin. Eles o rodearam num grande abraço. Era possível ouvir choro daquele monte, mas Hyunjin tinha certeza que muitos negariam mais tarde.
— Meu Deus, ele acabou de sair do hospital e vocês querem o mandar de volta. — Parker reclamou puxando os alunos de cima dele. Hyunjin estava uma bagunça, mas abriu um sorriso enorme para o homem. — Moleque idiota, vem cá! — Ele o puxou só pra si e o apertou. — Você tem noção do medo que senti?
— Eu sinto muito, treinador. — Fechou os olhos com força, mas o homem o afastou de supetão.
— Vamos pra casa agora, você precisa descansar.
Ele acenou e quando voltou a andar com todos ao seu lado, ele tinha um sorriso de alívio. Todos se dividiram em seus carros, mas Yeji, Jaehyun e Yuta ficaram no carro de Felix. Os três estavam no banco de trás e pareciam muito contidos a perguntas, Hyunjin agradeceu aos céus por não ter Jeongin e Damen ali (ele os amava, mas aqueles dois não mediam esforços em serem inconvenientes). Porém foi Hyunjin o primeiro a perguntar alguma coisa.
— Como te deixaram ficar no hospital, sendo que não temos parentesco? — Ele franziu o cenho na direção de Felix, mas foi Yeji quem deu a resposta rapidamente, ela parecia saber que Felix iria rodear até distorcer a história.
— Não deixaram nenhum de nós ficar contigo. Até o treinador tentou. Mas aí quando Felix disse que era seu namorado, eles permitiram só ele.
Hyunjin mordeu o lábio para reprimir o sorriso.
— Ninguém te perguntou. — Ele olhou no retrovisor para dizer a ela.
— Hyunjin perguntou. — Jaehyun o refutou.
— E quem te chamou na conversa? — Arqueou as sobrancelhas.
— Sentiu falta, Hyunjin? — Yuta perguntou ironicamente e ele riu.
— Muita. — Suspirou encarando Felix.
Quando chegaram à universidade, todos eles voltaram a rodeá-lo. Hyunjin abraçou todos um de cada vez e só quando foi levado por Felix para seu dormitório que pôde respirar devidamente. Felix deu banho em si tomando cuidado especial com seus ferimentos e também aproveitou a deixa para se lavar, ele ajudou Hyunjin a escovar os dentes, trocar os curativos e se vestir. Foi só quando Felix foi cuidar da própria ferida que Hyunjin viu que se tratava de uma queimadura.
— Como isso aconteceu?
— Não...
— Sim! — O interrompeu. — Sim, felix. Pare de varrer a sujeira para debaixo do tapete como se mais cedo ou mais tarde você não tivesse que lidar com isso de qualquer forma.
Lee respirou fundo enquanto tinha a ajuda alheia para enfaixar. — Quando eu entrei pra te buscar eu devo ter me queimado, não lembro em que momento exatamente isso aconteceu. — Deu de ombros como se não fosse nada.
— Você o quê?! — Alterou a voz pelo choque da notícia.
— Olha, seu pai tá morto e você está bem, isso é tudo que importa agora. Você não precisa se preocupar com mais nada.
— Ele... — Engoliu em seco. — Chan morreu?
— O FBI trocou tiros com eles. Seu pai foi encontrado morto a alguns metros do local, mas... Ele estava como uma peneira. — Parou um pouco e um sorriso estranho se abriu em seu rosto. — E as balas também não eram dos oficiais, parece que alguém já havia o matado antes que chegassem.
Hyunjin abaixou o olhar para o braço de Lee devidamente enfaixado e só precisou de um segundo para raciocinar. Era tão óbvio que ele sequer segurou o riso. — Aquele desgraçado...
— Quem?
— Gregory. — Negou com a cabeça ainda rindo. — Encontraram alguém com esse nome?
— Eu não sei, mas pelo que entendi todos os homens de Chan foram mortos na troca de tiros. — Deu de ombros. — Por que está rindo?
— É só que a vida é incrível demais. — Sorriu para ele e Felix lhe lançou uma cara entediada. Hyunjin subiu a mão por seu braço e acariciou seu rosto, antes de chegar perto e finalmente beijá-lo devidamente. Lee segurou sua nuca delicadamente e fechou os olhos devagar, enquanto Hyunjin dava forma ao beijo. Ele inclinou a cabeça e seus lábios tinham o mesmo encaixe de sempre, assim como a sincronia perfeita de suas línguas. Hwang se afastou com o lábio inferior alheio entre os dentes e sorriu enquanto deitava e levava Lee consigo. Felix beijou a ponta de seu nariz e abraçou seu tronco, enquanto descansava a cabeça no peito de Hyunjin.
— Eu achei que ficaria louco. — Confessou.
— Por quê?
— Porque pensei que nunca mais fosse te ver. — Disse numa vulnerabilidade que atingiu Hyunjin. Hwang o abraçou enquanto fazia carinho em suas costas. — Você emagreceu pra caralho, consigo contar suas costelas. Se não ganhar peso logo, vai ser esmagado nos próximos jogos.
— Ai, meu Deus. — Ele sentou tão rapidamente que a cabeça de Felix caiu como uma pedra na cama.
— Filho da... — Sua voz estava abafada nos lençóis.
— O jogo! Como foi o jogo? Vocês conseguiram vencer, certo? — Ele olhou Felix com expectativa, mas o garoto não parecia ter nenhum pouco de pressa enquanto desenterrava a cara do colchão e deitava com o braço atrás da cabeça. — Feljx!
— Nós passamos, sim. — Hyunjin soltou o ar, aliviado. — Mas eu fui suspenso no último tempo, o time ganhou de 1 a 2. Foi um grande sufoco.
— O que você fez pra ser tirado de campo? — Juntou as sobrancelhas voltando a deitar ao seu lado, dessa vez foi ele quem deitou no ombro alheio depois de gemer de dor por se machucar nos movimentos.
— Cuidado. — Sussurrou e então pensou um pouco antes de dar a resposta. — Como eu disse, eu achei que fosse ficar louco...
— E?
— E nada, não quero falar sobre isso também.
— Você foi na psicóloga? — Seu tom era como de uma autoridade querendo respostas. Mas ele estava respeitando sua escolha em não falar sobre alguns assuntos.
— Fui, idiota. Eu odeio ela.
— Odeia nada. Você só não consegue aceitar que ela é a única pessoa que vê através de ti.
— Não é verdade. — Estalou a língua na boca, mas então apertou Hyunjin contra si. — Inferno, eu realmente senti sua falta.
— Eu também senti a sua. — Ele choramingou no pescoço de Felix e subiu beijos até sua bochecha. Hyunjin se apoiou sobre os cotovelos e analisou cada centímetro do rosto dele.
— Pare de se esforçar, vai acabar abrindo os pontos. — Disse e o empurrou de costas na cama, Hyunjin arregalou a boca pronto para protestar, mas Felix quem tomou sua posição de antes e deixou um selinho em seus lábios e então outro, e outro, e outro... Até Hyunjin rir e segurar sua nuca para ele não se afastar mais.
— Me beije de verdade, Felix.
E Felix o beijou, colando suas bocas e deixando tudo fluir como costumava ser. A diferença é que agora havia algo a mais e ambos sabiam disso, era como se tudo aquilo estivesse ainda melhor que antes, como se os sentimentos que antes eram mantidos em segredo estivessem explodindo entre eles e nenhum seria capaz de reclamar quando suas línguas eram tão pacientes. Era um beijo molhado e... Com paixão. Eles se amavam e tudo estava incluso ali.
Eles se beijaram por minutos, horas... Até que seus lábios estivessem inchados e o pescoço de Felix cheio de hematomas que Hyunjin não hesitou em deixar, porém três seres barulhentos invadiram o dormitório.
— Aposto que já ficaram de muita melação. — Damen disse com uma falsa careta. — Vamos comemorar a sua volta, Hyunjin.
— O que?!
— Isso mesmo, vamos. — Jeongin ofereceu uma mão e ele ficou de pé.
— Pra onde a gente vai?
— Casa do Changbin, obviamente.
— Certeza? — Fez uma cara desgostosa.
— Claro! — Yeji passou um braço por sua cintura e o abraçou de lado. — Mas você não vai beber.
Hyunjin lançou um olhar para Felix e ele já estava calçando os tênis.