— O que foi que eu disse? — A voz de Derek soou do outro lado da linha enquanto Hyunjin corria ainda colocando a mochila nas costas.
— Muitas coisas.
— Não brinque num momento como esse, moleque! — Chiou impaciente. — Eu te disse para não ir a festas ou sair sem supervisão de um dos meus homens.
— Como sabe que eu fui a uma festa? — Ele avistou o ônibus e apressou os passos ainda mais.
— Eu sei de tudo.
— Ok, ok. Prometo que não vou mais desobedecer. Agora eu tenho que ir.
— Ir para onde?
— Quilômetros daqui. — Hyunjin não queria ser um cuzão com alguém que estava apenas querendo ajudar, mas aquele cara realmente não saía de seu pé e ele já perdia a paciência.
— Ei, Hwang Hyunjin! Não desli–
Ele desligou.
— Atrasado mais uma vez. Da próxima eu te deixo. — Parker estava na porta do ônibus com um olhar extremamente ameaçador.
— Eu confundi o horário. — Se defendeu passando por ele.
— Corrigindo: Você não olhou o horário. Isso é típico de você. — Jeongin gritou, já sentado, dividindo o assento com Damen que dormia tranquilamente.
— Não irá se repetir. — Ele varreu os olhos pelo espaço enquanto o treinador ia para sua posição de motorista. Hyunjin caminhou até que se acomodou em um dos bancos do final, sozinho.
— Parece que sem a loirinha você não tem ninguém. — Ele ouviu alguém dizer, estava evitando pessoas escrotas desde que se livrou –parcialmente– de seu pai, mas então quando olhou para trás lá estava Dino sentado ao lado de Lesley que apenas ignorava tudo ao redor.
— Parece que quebraram seu nariz. — Retrucou com um sorriso, quando notou o curativo em seu rosto. As risadas vieram logo em seguida e levando em conta a expressão de raiva vinda de Dino, ele queria voar em seu pescoço, mas Hyunjin apenas fingiu não notar e pegou seu celular e fone. Estava realmente cansado de lutar tanto, ainda que Dino não passasse de um babaca procurando briga com qualquer um. Hyunjin só queria paz.
Não se passaram nem dez minutos desde que estavam em movimento e alguém sentou ao seu lado. Felix tinha os braços cruzados sobre o peito e uma cara desinteressada.
— O que está vendo aí? — felix esticou o pescoço para espiar. Hyunjin afastou a cabeça da janela e o encarou.
— Anime.
— Que merda. — Formou uma careta de desdém, assim como seu tom.
— Não estou te chamando pra assistir. — Deu de ombros voltando a atenção para o celular.
— Imbecil. — Ele resmungou, porém hyunjin parecia concentrado demais no que via para dar-lhe atenção e aquilo o irritou. — Me dá um lado aqui, vai. Agora. — Ele tomou um lado do fone e chegou mais perto. Felix certamente não notou o sorriso ladino de Hyunjin de alguém que queria dizer que ele não passava de um farsante.
Hyunjin não poderia dizer o que aconteceu no resto do caminho, pois pegou no sono pouco tempo depois de deixarem a cidade. Quando abriu os olhos, o celular não estava mais em suas mãos, nem o fone em seu ouvido, mas felix ainda estava ao seu lado. Hwang percebeu que tinha a cabeça no ombro alheio enquanto ele ainda assistia o anime que chamou de merda. Hyunjin se remexeu no lugar e Lee finalmente pareceu notar que ele estava desperto, pois o empurrou para longe de si.
— Tira essa cabeça daqui. — Soou rude.
— O que... — Hyunjin bocejou com o cenho franzido porque era óbvio que estava apoiado em seu ombro a algum tempo, mas Felix só pareceu se incomodar agora.
— Quem diria... — Jeongin cantarolou no banco ao lado. Ele não estava ali antes. — Bom, Hyunjin, pelo que vi assistindo o caminho todo, ele te deixou dormir tranquilamente no braço dele. Inclusive, pegou o celular de suas mãos quando percebeu que você apagou.
— Quem te perguntou alguma coisa? — Felix fez menção de que iria sair do banco, mas Hyunjin o segurou no lugar.
— Nojentos. — Dino murmurou com cara de nojo enquanto passava por eles e só então Hwang se deu conta de que já haviam chegado.
— Isso é homofobia! — Jeongin gritou. — Treinador, O Dino tá sendo homofóbico. — Berrou para o homem que assistia os alunos saírem.
— Dino, deixe o Jaehyun e o Yuta em paz, seu idiota. — Ele deixou um tapa na nuca do menino enquanto ele deixava o ônibus, mas não se importou o suficiente para explicar a quem seu ódio estava sendo direcionado.
— Hã? — Jeongin pendeu a cabeça. — Não são...
— Boca fechada. — Felix pulou do assento antes de ser parado por Hyunjin e agarrou seu maxilar.
— Felix! Solte ele, vamos, agora. — Parker o repreendeu.
— Anda. — Hyunjin tocou suas costas para que ele seguisse os colegas, mas Felix se esquivou de seu toque.
Eles deixaram o automóvel, mas não estavam numa faculdade e nem em um campo de futebol. Hyunjin colocou a mão frente ao rosto por causa da claridade e observou ao lado. Era um hotel e a calçada era movimentada. Ele andou mais um pouco enquanto seguia Jeongin e Jaehyun e por puro instinto procurou Yuta, mas não o viu. Hyunjin ficou alerta e parou o amigo rapidamente.
— Cadê o Yuta?
— Eu sei lá. — A indiferença em sua voz assustou Hwang, que nunca o vira daquela forma.
— Mas você–
— O japinha foi com o Damen comprar água. — Jeongin disse ao seu lado.
Hyunjin acenou, mas não iria explicar o porquê de toda a preocupação, mesmo estando claro o ponto de interrogação nos rostos de seus colegas. Sempre teve medo de ter amigos ou se relacionar com outras pessoas porque sabia que seu pai era capaz de qualquer coisa apenas para vê-lo sofrendo. Hyunjin tinha medo de que alguém do time acabasse machucado, ou pior, por sua causa.
— Vamos passar a noite aqui. O conselho disponibiliza hotel e dinheiro pra comida quando necessário, mas eu não acho que isso seja suficiente para encher a barriga de vocês até amanhã, ainda mais quando temos as líderes de torcida. — O treinador falava e Hyunjin finalmente viu as meninas se aproximando. Era umas dez garotas, onze com a treinadora, e Yeji estava com elas. — Vamos fazer uma vaquinha.
— Tô liso. — Jeongin se manifestou rapidamente.
— Ah, merda. — Parker suspirou impaciente. — Ninguém? Vocês vão preferir passar fome? — Todos desviaram o olhar. — Filhos da puta! Se estão pensando que irei tirar do meu bolso...
— Eu vou. Me dê o cartão. — Felix esticou a mão com um olhar preguiçoso.
— O que?
— Eu pago o restante, caso for necessário. Me dê o cartão. — Insistiu. O treinador o analisou com estranheza e todos pareciam ter o mesmo pensamento agora. Ele lhe entregou o cartão e Felix deu as costas. — Jisung, vem comigo.
Ele foi.
— Vocês não acham isso no mínimo estranho? — Yeji comentou num tom de fofoca quando chegou perto o suficiente.
— Essa história está mal contada. — Jeonghan cerrou os olhos.
— Meu Deus. — Jeongin ficou espantado e todos o encararam. — Olhem os bolsos.
Eles arregalaram os olhos como se uma lâmpada estivesse acesa em suas cabeças de repente. A alguns meses atrás Hyunjin iria ficar indignado com aquela situação, mas agora ele só conseguia tentar disfarçar o sorriso. Até mesmo o treinador entrou em alerta e checou os bolsos, mas suspirou em alívio quando encontrou tudo ali.
— Desgraçado. — Changbin praguejou alterado. — Aquele doente pegou a minha carteira! Ele nem chegou perto de mim, quando ele fez isso?
— Ufa. — Jeongin colocou a mão no peito. — Vejamos pelo lado bom, ele pegou do mais rico. Além de que, você com toda certeza teria dinheiro para pagar para todos nós, só está com pena.
— Covarde. — Minho negou com a cabeça.
— Merda. Treinador, o senhor precisa colocar jeito nele!
— Somos todos adultos aqui. — Ergueu as mãos no ar. — Se resolvam.
— Você sabe muito bem que eu não vou comprar briga com aquele louco. — Retrucou.
— Então o que posso fazer? — Deu de ombros. — Enfim, Ryujin, a Yeji pode ficar no quarto com as meninas, sim?
— Claro. — A mulher alta e com um rabo de cavalo escuro sorriu. — Vamos, meninas.
🐺
Quando Felix voltou o ambiente não mudou em nada, pois ninguém teria coragem de tentar tirar satisfação. Então Lee simplesmente jogou a carteira para Changbin que resmungou baixo coisas ofensivas enquanto os outros pegavam biscoito, salgadinho e refrigerante para comer. Eram apenas dois quartos, então tiveram que se dividir.
Jeongin correu para ficar no mesmo quarto que Yuta e consequentemente Hyunjin e Jaehyun acabaram lá também, assim como Damen e Jisung. Changbin iria ficar com eles, mas ao encarar Felix sua revolta se fez presente novamente e ele marchou pelo corredor com um travesseiro debaixo do braço. Havia um banheiro, então tiveram que esperar um de cada vez e quando todos estavam devidamente limpos, o treinador passou de porta em porta certificando se estava tudo bem e os ameaçando caso resolvessem bancar os espertinhos e sair para beber ou algo do tipo.
Hyunjin se jogou numa das três camas e se espreguiçou. — Tô ansioso pro jogo de amanhã. — Confessou. O barulho do chuveiro ainda soava, pois Lee estava tomando banho por último.
— Os caras são bons. — Jisung comentou. — Eles foram os últimos contra quem jogamos ano passado. — Suspirou tristemente.
— Dessa vez só serão mais um. Vamos para as semifinais. — Disse.
— Sua determinação me emociona. — Jeongin disse se jogando ao lado de Yuta e aquilo foi estranho. Hyunjin sabia que o loiro era inconveniente, mas algo não estava certo e ele notou isso desde o ônibus.
— Eu vou deitar aqui com você. — Jaehyun disse tirando o óculos e deixando na cômoda ao lado. Ele ficou ao seu lado e se cobriu até o queixo.
— Mas... — Ele não sabia como formular a frase devidamente. Era um pouco constrangedor mesmo que ele quisesse que não fosse. — Mas você não vai... Bem, você não vai dormir com o Yuta?
— Não! — Grunhiu. — Aquele palerma do caralho.
Hyunjin arregalou os olhos. Jaehyun não era assim. Ele se virou para ele e ambos ficaram cara a cara.
— Vocês brigaram? — Perguntou. Yuta estava na cama no canto da parede com Jeongin que conversava sem parar.
— Aquele idiota. — Resmungou.
— Pare de enrolar! O que aconteceu? — Insistiu.
— Ontem ele dormiu no dormitório de um amigo dele. Eu odeio aquele cara e ele sabe disso! Fez isso de propósito! E então hoje ficou dizendo que só estavam jogando video-game. — Bufou. — Então não podia me chamar?!
— Cara. — Hyunjin gargalhou.
— Pare de rir. Isso é sério. — Rangeu os dentes para ele e o mesmo cessou as risadas de supetão.
— Olha, eu acho que você só está com ciúmes.
— O que?! — Estava visivelmente frustrado.
— Sim, sério. Você não confia no Yuta? Eu o conheço há poucos meses e sei que ele nunca iria te trair. Todo mundo não gosta de alguém, mas ele não é obrigado a odiar uma pessoa só porque você não vai com a cara dela. Há amizades fora do relacionamento, não é? Isso é normal. Cabe a você se convencer de que ele nunca iria fazer uma burrada se realmente confia nele.
— Merda. — Ele pareceu ser atingido. — Você já esteve em quantos relacionamentos?
— Você acha mesmo que eu poderia estar em um em algum estágio da minha vida? — Debochou.
— Sai. — Eles ouviram e assim que Hyunjin ergueu o olhar, lá estava Felix os encarando com os olhos muito abertos. Hwang pensou que ele poderia ser facilmente confundido com um psicopata louco agora. — Você me ouviu? — Sua voz parecia ainda mais enraivecida.
— Vá se resolver com ele. — Hyunjin sorriu e deu alguns tapinhas amigáveis nas têmporas do amigo.
— Que se foda. — Lee o pegou pela camisa e o ergueu como uma pena. Jaehyun foi colocado de pé brutalmente e olhou meio chocado para Hyunjin que fez um sinal para ele ir logo, pois não seria nada agradável tentar separar uma briga com Felix agora. Jaehyun pegou os óculos e saiu sem dizer nada.
— Ei, ei. Eu que vou ficar aqui. — Jeongin gritou.
— Pare de fazer barulho seu idiota. — Damen gritou de volta.
Yang saiu bufando da cama e Hyunjin assistiu Jaehyun deitar-se ao lado do outro que sorriu levemente, como se estivesse esperando aquilo mais que tudo. Eles não se falaram, mas estavam próximos o suficiente para não deixar dúvidas de que amanhã ficaria tudo bem.
— Não vão fazer nada estranho. — Damen sentou só para dizer com uma careta entre Hyunjin e Felix e Jaehyun e Yuta. — Eu tô falando sério. Se vocês inventarem de fazer alguma coisa, eu juro por Deus que pulo por essa janela.
— Está roubando a personalidade do Felix agora? — Jisung comentou rindo de leve e recebeu um tapa de Jeongin que se jogou entre eles, e então, uma discussão estava rolando.
Hyunjin revirou os olhos e chegou mais perto da beirada para que Lee se deitasse devidamente. Ele não chegou a pensar que ele realmente iria escolher dormir consigo, então não tinha se preocupado com isso. Quando dormiram no carro foi diferente, era só uma coisa do momento e estava realmente preocupado com Felix, pois sabia que ele estava mal. Mas agora... Lee literalmente brigou com alguém para deitar-se na mesma cama que ele e Hyunjin não sabia se deveria temer ser morto enquanto dormia. Ainda não tem certeza se Felix deixou de lado todo o ressentimento.
Felix deitou de costas para si, como costumava fazer no ônibus num sinal pacífico de que não queria ser perturbado. Mas Hyunjin queria perturbá-lo. E por essa razão um sorriso ladino se formou em seu rosto e ele levou a mão levemente até a nuca do garoto. Ele pensou em tocar suas costas, mas não tinha certeza se Felix gostasse que alguém lhe tocasse numa parte sua que nunca iria cicatrizar. Entretanto, ele reagiu ao toque sensível de Hyunjin. Lee se encolheu levemente e Hwang percebeu o pelo de seu pescoço se arrepiar.
Hyunjin subiu a ponta dos dedos para sua orelha e então Felix agarrou sua mão, para logo depois, virar-se. O de olhos azuis não soube decifrar a expressão dele, mas Lee não parecia irritado.
— O que está fazendo? — Ele não soltou sua mão, ainda a segurava entre os corpos.
— Nada. Só te tocando, não posso? — Seu tom não tinha malícia. Felix cerrou os olhos.
— Eu consigo ouvir vocês. — Damen resmungou.
Felix estalou a língua na boca e se mexeu na cama até ter o nariz colado ao de Hyunjin. Ele estudou o olhar de Hyunjin com intensidade e Hwang não soube como reagir. Sua mão ainda não havia sido libertada.
— É. Você gosta de sair tocando as pessoas por aí. — Ele sussurrou e seu hálito de menta por causa da pasta de dente esfriou o rosto de Hyunjin.
— Está falando do Jaehyun? — Sussurrou de volta.
— Veja só. Você não é tão lerdo assim.
— E isso é o que? Ciúmes? Isso não combina com você. — Ele sorriu e secretamente gostou daquilo.
— Não. Eu não sinto ciúmes de ninguém, por que sentiria de você? Idiota convencido. — Apertou a mão do menino ainda mais, mas ele não expressou reação.
— Porque você gosta de mim. Eu acho que finalmente entendi o que significa. "por que isso está acontecendo?" e "por quê?". Está óbvio agora. — Disse — Você gosta de mim.
— Bastardo do caralho. — Sussurrou. — Pare de se achar. Essa merda nunca iria funcionar. Pare de me dar corda, acabe com isso. — Sua voz era sofrida.
De repente Hyunjin sentiu o aperto em sua mão se tornar insuportável.
— Está me machucando. — Disse baixinho assim como toda a conversa. Ele continuou com o contato visual e Felix lentamente soltou seus dedos, apertando a própria mão em um punho contra o peito. — Viu? Por que não iria funcionar quando você está se esforçando tanto? — Indagou. Felix abriu a boca procurando algo para dizer, mas Hyunjin não lhe deu tempo e o beijou repentinamente. Dessa vez foi apenas um encostar de lábios, algo para não dar-lhe espaço para xingamentos ou insultos e pareceu funcionar, pois quando Hyunjin estava prestes a se afastar, Felix colocou a mão em sua bochecha e o beijou novamente.