Vermelho: a cor do sangue

By Sandmanlil

747 100 8

Na cidade de Sultern, os desafios anuais para os adolescentes lançam uma sombra sinistra sobre a pacata comun... More

Epígrafe.
Dedicatória.
Notas.
Playlist.
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
20
21
22
23
24
25
26
27

19

9 2 0
By Sandmanlil

" Olhos suplicantes que partem meu coração
Com tanta saudade de casa que não posso sentir
Mas eu sei que devo interpretar meu papel
E devo esconder as lágrimas
B

irdy - just a game."

―――――――――――――

A intensidade da chuva lá fora aumentava a cada momento. Mareane insistia que eles deveriam passar a noite ali, garantindo que Antonnie levaria as crianças para a escola na manhã seguinte. Com poucas alternativas, acabou por ter que concordar.

Agora, Zayyan pulava com Jacob no colchão que colocaram no chão. A menina, por sua vez, não conseguia desviar o olhar do relógio; apenas uma hora para a meia noite, sua mente completamente imersa nesse tormento.

― Martinne? Martinne...? ― alguém a cutucou, tirando-a do transe. Era Erick, fitando-a com expressão preocupada. ― Você está bem?

― Estou sim... ― sorriu para o irmão, bagunçando seu cabelo loiro. ― Acho melhor irmos dormir; amanhã vocês têm aula. ― a garota levantou-se, fazendo Zayyan e Jacob se sentarem cansados.

― Concordo. ― O garoto piscou para a menina, que riu em resposta.

Erick e Jacob se acomodaram no colchão, enquanto ela apagava as luzes, optando por deitar como os irmãos. Quando a sala se encheu apenas com a respiração pesada do irmão mais novo, ela levantou, colocou seu casaco, verificou se estava livre e saiu. O vento da noite gelada bateu contra Austin, fazendo os pelos de seu corpo se arrepiarem.

Ela caminhou pelo terreno molhado, os pingos da chuva fria tocando sua pele já encharcada. Cada passo era um desafio, especialmente com a perna machucada. Os galhos das árvores balançavam ao ritmo da ventania, criando sombras dançantes que aumentavam a sensação de isolamento.

Chegando à bicicleta de Zayyan, Austin lançou um olhar hesitante ao redor, como se estivesse compartilhando um segredo com a noite. Soltou a bicicleta da corda que a prendia, sentindo a textura úmida do guidão em suas mãos. Subiu na bicicleta, pedalando com certa dificuldade através da chuva que continuava a cair incansavelmente.

O vento contra seu rosto, combinado com as gotas geladas, criava uma sensação de liberdade misturada com a crueza da noite. Seu cabelo, agora uma cascata molhada, voava ao ritmo do pedal.

[...]

Ao chegar à cabana, Martinne abandonou a bicicleta em um canto da casa. Assim que atravessou a soleira da cabana, soltou um suspiro de alívio, sentindo-se abrigada da chuva persistente. Seu passo apressado a levou diretamente à lareira posicionada ao lado da televisão.

Num impulso, começou a vasculhar os balcões em busca de algo que pudesse acender. Cada gaveta aberta era uma pequena esperança, enquanto suas roupas encharcadas respingavam água pelo chão da cozinha e da sala. O frio cortante penetrava até os ossos, como se desafiasse a chegada do calor reconfortante.

O coração de Austin quase dançou de alegria ao deparar-se com uma pequena caixa de fósforos. Sem perder tempo, ela correu até lá, suas mãos ágeis abrindo a caixa e, com destreza, acendeu o fogo na lareira. As chamas dançaram, iluminando o ambiente e dissipando a escuridão que antes predominava.

Despiu-se da maioria de suas roupas e dirigiu-se ao quarto em busca de cobertores. O ponteiro do relógio teimava em apontar para as vinte e três e trinta, evidenciando a longa noite. A travessia pelo mato foi particularmente desafiadora, com a ventania derrubando algumas árvores. Martinne estava marcada por arranhões dolorosos, e seu pé latejava incessantemente. Em vários momentos, ela quase perdeu o equilíbrio, pois seu pé parecia querer desistir.

Movendo o sofá em direção à lareira, ela desfez-se de seus tênis enlamaçados. A calorosa presença do fogo começou a envolver seu corpo, provocando o relaxamento gradual de seus músculos diante do calor reconfortante.

O som da TV reverberou, fazendo seu coração acelerar como se quisesse escapar do peito. Num gesto rápido, ela deslocou o sofá para frente da televisão e se aninhou entre os cobertores, absorvendo a luz da tela que preenchia o ambiente.

Frases começaram a aparecer na tela.

― Martinne, o desafio anterior ficou inconcluso, mas cientes da sua situação, seu castigo será reduzido. ― Ela leu, fazendo um esforço para lembrar qual havia sido seu desafio.

O clima na sala pareceu ganhar um silêncio carregado quando a TV cessou seus ruídos habituais.

― Escolha. ― Ordenou, mas, de maneira notável, desta vez, as opções eram apenas vermelhas.

Martinne franziu a testa, ponderando. Ambas as alternativas pareciam desfavoráveis, e a jovem mergulhou em um breve momento de reflexão, enfrentando o desafio de decidir entre duas opções aparentemente ruins.

Após um breve instante de contemplação, a garota fixou seu olhar nas opções vermelhas piscando diante dela. A tensão no ar parecia crescer enquanto ela avaliava as possibilidades.

Finalmente, com uma determinação resignada, ela estendeu a mão e tocou uma das opções vermelhas na tela. O som agudo indicou sua escolha, mas o significado exato dessa decisão permanecia um enigma.

A tela se iluminou, revelando um telão escuro, mas uma luz gradualmente surgiu, revelando alguém sentado em uma cadeira.

Os olhos da garota se dilataram instantaneamente ao perceber quem ocupava aquela cadeira, uma surpresa misturada com uma ponta de apreensão se refletindo em seu olhar. O suspense pairava no ar enquanto ela processava a inesperada revelação diante dela.

Steve estava lá. O choque percorreu ao corpo dela ao perceber que Steve não tinha desaparecido, mas sim sido sequestrado.

O menino ergueu a cabeça rapidamente, os olhos apertados contra a luz intensa, revelando hematomas roxos em seu rosto, indicando o sofrimento que havia enfrentado. Em seguida, uma nova câmera foi acionada, mostrando uma figura feminina amordaçada dentro de uma banheira. No entanto, ao contrário da clareza ao revelar Steve, a imagem dela permanecia envolta em sombras, tornando difícil identificar quem era. A tensão no ar aumentou, criando um ambiente de suspense angustiante.

Um conjunto de bolinhas numeradas de um a treze começará aparecer diante da tela, e algo nessa sequência chamou sua atenção: ela era representada pela bolinha número treze. A descoberta adicionou um toque intrigante à situação, sugerindo que sua posição naquele enigma estava de alguma forma ligada aos números apresentados.

Uma voz grossa se manifesta, explicando o jogo acabou surgindo de forma instantânea na tela, trazendo consigo as diretrizes cruciais.

"O jogo é simples: você tem duas opções. Responda corretamente e estará mais perto de finalizar o jogo e garantir segurança. No entanto, se errar, as consequências recairão sobre eles. Cada participante enfrentará uma pergunta. Acerte e avance; erre e prepare-se. O destino deles está em suas mãos."

As palavras na tela ecoaram, lançando uma sombra de gravidade sobre Martinne. A responsabilidade de suas respostas pesava, especialmente sabendo que cada escolha poderia influenciar o bem-estar de Steve e da garota na banheira.

As bolinhas numeradas ainda pairavam na tela, cada uma representando um participante, ela estava marcada como a 13ª. Um dilema silencioso pairava no ar enquanto ela aguardava a primeira pergunta, ciente de que suas decisões agora desempenhariam um papel crucial para salvar a vida dos dois.

A voz do homem se calou, e a tela foi preenchida com o número um, indicando o início da primeira pergunta.

"O que é feito com assediadores?"

A pergunta ecoou na sala virtual, lançando uma sombra de tensão.

A ansiedade aumentou enquanto o número um demorava a responder, e a contagem regressiva começava, uma trilha sonora implacável para a pressão crescente. Ela sentia o tempo escorregar rapidamente, sabendo que cada segundo contava diante da iminente decisão que faria eles viver.

A contagem regressiva chegava ao seu clímax quando, finalmente, o número um deu sua resposta.

― Geralmente, assediadores enfrentam a justiça legal. Ações podem ser tomadas para garantir que a vítima esteja segura e que o agressor seja responsabilizado. ― a voz, embora hesitante, transmitiu uma resposta razoável.

A sala virtual parecia suspensa em silêncio enquanto todos aguardavam a validação ou rejeição dessa resposta. O destino de Steve e da garota na banheira pendia no equilíbrio de uma única resposta.

As luzes ao redor de Steve se acenderam intensamente, revelando um cenário até então obscurecido. Um indivíduo entrou carregando um carrinho, e Martinne, forçando os olhos para enxergar, percebeu o que carregava: uma agulha.

Um calafrio percorreu sua espinha, enquanto a ameaça implícita na cena se tornava evidente. A situação se tornava ainda mais urgente, pressionando a todos a se preparar para o próximo desafio e a tomar decisões que agora não afetavam apenas suas jornada, mas também a segurança daqueles que estavam em jogo.

Uma tensão sufocante preencheu o ambiente quando a pessoa segurou a agulha entre os dedos, e Steve, percebendo a ameaça iminente, começou a se debater desesperadamente. A silhueta enigmática por trás da roupa mantinha-se oculta, mas uma sensação de familiaridade sutil pairava no ar, algo que ela não conseguia identificar de imediato.

A agulha, imponente e ameaçadora, foi injetada no pescoço de Steve. Uma onda de grogueza se apoderou dele, tornando-o cada vez mais indefeso. A pessoa se retirou, e a luz sob o garoto se apagou, deixando um rastro de incerteza e preocupação na sala virtual.

A pergunta rapidamente se transferiu para o jogador número dois. A enigmática questão ecoou na tela.

"Não é vivo, mas cresce. Não tem pulmões, mas precisa de ar. Não tem boca, mas a água pode matá-lo."

Um silêncio pesado pairou enquanto todos absorviam o enigma, e a contagem regressiva iniciou.

A mente de Martinne acendeu com uma lembrança vívida. Meses atrás, durante uma palestra dos bombeiros, um dos bombeiros apresentou essa mesma charada aos adolescentes.

O sobrenome Daleyan fez a mente de Martinne despertar abruptamente.

O jogador número dois permaneceu em silêncio por mais um momento, a contagem regressiva agindo como um lembrete implacável do tempo escasso. A resposta pairava no ar, aguardando a decisão que moldaria os eventos futuros.

Finalmente, a voz trêmula identificar a que ouviu a dias atrás, ressoou na tela.

― Fogo.

A resposta ecoou pela sala, e a tensão persistia enquanto a validação ou rejeição pairava sobre eles. O destino deles continuava dependendo das respostas feitas neste intricado jogo de enigmas.

Um choque de horror percorreu Martinne quando a luz em torno de Steve se reacendeu, revelando um círculo de fogo que rapidamente se transformou em um X com Steve no centro. As chamas o envolveram, e os gritos desesperados do garoto ecoaram, formando uma trágica sinfonia de angústia.

O cenário macabro se desdobrava diante da tela, acrescentando uma carga emocional intensa.

A bolinha do jogador número três moveu-se para o topo, indicando que seria o próximo a enfrentar o desafio.

"Jornalistas costumam ser bons, mas o que Castiel Evans é?"

Castiel era um jornalista respeitado na cidade, mas sua carreira desmoronou quando optou por disseminar notícias falsas. Pior ainda, criou um programa de televisão no qual convidava semanalmente alguém para expressar críticas em rede nacional, tornando-se uma fonte de constrangimento. Ele se tornou detestado pela comunidade local.

― Um jornalista. Ele é e sempre foi um jornalista. ― ressoou a voz fina e inconfundível de Halsey Evans.

Um alerta soou, indicando que sua resposta estava incorreta.

"Resposta errada, Castiel Evans é uma fraude."

A voz do homem ecoou, pronunciando a correção e lançando uma nova sombra sobre a garota.

A luz do local onde a pessoa misteriosa, amordaçada na banheira, estava ligou subitamente. Ela ergueu a cabeça, anteriormente coberta por um saco, revelando um vislumbre de quem estava por trás daquela situação angustiante. O suspense se intensificava, e Martinne aguardava ansiosamente para descobrir mais sobre

A mesma pessoa que estava com Steve posicionou-se ao lado, retirando o saco que cobria a cabeça. Revelou-se o rosto de uma menina, pálido ao extremo, tão branco que parecia quase cadavérico. Um silêncio tenso preencheu o ambiente, enquanto todos absorviam a visão da jovem e aguardavam as próximas revelações.

"Escolha a opção um ou dois. " Foi solicitado à garota, que sinalizou com as mãos o número um. A escolha estava feita, adicionando uma camada adicional de mistério à dinâmica do jogo.

Uma foto chocante apareceu na tela, mostrando o melhor amigo de Halsey deitado na cama junto com outros dois meninos, e um deles era Castiel, irmão de Halsey. Austin não pôde evitar uma onda de náusea ao perceber que se tratava de uma orgia. A imagem foi enviada a alguém, dando a entender que em breve seria exposta publicamente em Sultern, revelando a atividade sexual qual irmão e o amigo estavam, e logo toda a cidade veria. O jogo, agora, atingia níveis perturbadores, misturando coisas pessoais.

A tela permaneceu mergulhada em um silêncio pesado após o barulho de notificação, indicando que a foto havia sido enviada. A incerteza pairava no ar, e a pergunta iminente para o próximo participante se tornava uma sombra pendente sobre todos.

A voz do homem ecoou mais uma vez, introduzindo o próximo desafio.

"Jogador número quatro, sua vez. Complete a frase: 'Quem com ferro fere..."

O jogador número quatro ficou em silêncio por um momento, a pressão do desafio pairando sobre todos. A sala virtual aguardava a resposta decisiva para completar a conhecida frase.

Finalmente, a voz do participante ecoou, cautelosa.

― Quem com ferro fere, com ferro será ferido.

Logo a luz que iluminava a área ao redor de Steve se intensificou, revelando a figura que se aproximava com uma barra de ferro firmemente segurada. A atmosfera tornou-se carregada de suspense, cada detalhe ganhando destaque na cena virtual. O brilho da barra de ferro contrastava com a sombra projetada pelo corpo da pessoa, criando uma imagem inquietante que aumentava a expectativa para o que estava prestes a acontecer. O jogo, agora, transcendia o medo.

A pessoa com a barra de ferro se aproximou do menino, mas em vez de atacar fisicamente, surpreendentemente, começou a queimá-lo. O cenário angustiante fez com que a garota entrasse em pânico, adicionando uma camada de horror e desespero à ela e aos outros participantes. O jogo, agora, ultrapassava os limites do mero enigma, mergulhando todos em uma narrativa de consequências perturbadoras.

Blanche, soltou um grito estridente e disparou um palavrão carregado de revolta contra a pessoa que manuseava a barra de ferro. Seu protesto ecoou na sala onde ele estava, destacando a intensidade das emoções diante do choque e da violência presenciados. O jogo continuava a explorar os limites do emocional, deixando uma atmosfera carregada de tensão e incertezas.

À medida que o jogo se desenrolava, Martinne começava a decifrar sua dinâmica cruel: acertar uma resposta resultava em Steve sofrendo, mas errar significava que o seu destino estava na mão da garota na banheira.

Ela sentia a exaustão se apossar dela enquanto a teka marcava apenas o sexto jogador, já se aproximava perigosamente da uma da manhã. A chuva lá fora havia finalmente cessado, assim como o frio que a acompanhava. Suas roupas, molhadas pela chuva, estavam cuidadosamente dispostas à frente da lareira na esperança de secarem.

Logo o jogador sete foi ao topo.

"Defina um pai ausente em uma palavra."

A pergunta havia sido bastante específica, talvez a pessoa tenha conflitos com a ausência do pai, charadas e as perguntas eram pessoais, não existia uma resposta certa, você fazia sua resposta, e eles estavam lidado como se soubesse o que passa em sua cabeça.

Aquilo era tão idiota.

O jogador número sete permaneceu em silêncio, sem fornecer resposta, e os trinta segundos se esgotaram.

" Resposta não válida"

Declarou a voz do homem. Então, a luz sobre a garota se acendeu, revelando mais detalhes da pessoa que antes parecia uma sombra. A menina foi colocada de pé, destacando sua extrema magreza. Um soco direcionado à sua costela foi seguido por outro em seu rosto, fazendo com que o sangue escorresse enquanto ela cambaleava. O jogo, agora, desvendava uma brutalidade física que se somava à tensão emocional da sala virtual.

Austin ficou perplexa, tentando compreender por que esse desafio foi tratado de maneira diferente, a garota na banheira era quem decidia o destino dos jogadores, não eles que decidam o que aconteceria com ela.

O jogador número oito assumiu a liderança, trazendo consigo uma pergunta carregada.

"O que as loiras são?"

O vlima tornou-se denso, revelando a natureza sensível e potencialmente controversa do enigma.

Martinne arqueou a sobrancelha, e um flashback a atingiu. Uma única pessoa em sua mente era constantemente rotulada como "loira burra" ao longo de sua existência, e seu maior trauma estava intrinsecamente relacionado a esse estigma. O jogo, inadvertidamente, tocou em uma ferida profunda e pessoal.

― As loiras são burras. ― A voz feminina proferiu em um tom baixo, mas a garota reconheceu de longe a voz de sua melhor amiga. O jogo, mais uma vez, mergulhava em território pessoal, trazendo à tona a insegurança de Scarlet.

Steve abriu os olhos com cautela, sua condição lamentável evidenciava um cenário que mais se assemelhava a um filme de torturas. O corpo da pessoa se colocou diante do menino, segurando um papel em uma mão e uma pá na outra.

― "Loiros são burros, idiotas e arrogantes." ― proferiu a voz da pessoa, despejando palavras carregadas de preconceito sobre Steve, enquanto a situação se desdobrava em um contexto de tortura física e psicológica. O jogo, agora, estava em níveis ainda mais horríveis.

O garoto ergueu os olhos, encarou a pessoa diante dele e, em seguida, soltou uma risada de desafio, cuspindo sangue no rosto. Em um momento rápido, a pá foi em direção à cabeça do menino, causando um impacto severo que fez sua cadeira tombar e ele desmaiar.

Martinne começou a sentir o nervosismo aumentar à medida que sua vez se aproximava, ciente de que o jogo estava se tornando cada vez mais pessoal e invasivo, atingindo pontos íntimos que poderiam causar um impacto profundo nos participantes.

Os números nove, dez, onze e doze passaram, e foi torturante testemunhar a cena que agora envolvia sangue, muito sangue.

O número treze finalmente chegou ao topo.

" Sou uma palavra de 7 letras, você me começa de manhã, e termina de noite, se você me tira, você morre. Se você tem 234, você pode 1234. 56 é uma coisa que eu sou, 89 indica o meu nome, e até mesmo 7 pode me prejudicar. O que sou eu? "

A expressão de Austin congela, seus batimentos cardíacos aceleram. Foram as últimas palavras de Daphne antes de morrer e eles sabiam. Cada palavra pareceu um flashback daquela tarde.

A contagem regressiva começou e Martinne não teve forças para responder. Então assim que a contagem terminou, ela esperou a carnificina humana começar.

A luz de Steve permaneceu apagada, mas em outra tela, uma nova câmera foi ativada. O local não era muito claro na escuridão, mas ela conseguiu distinguir a presença da piscina. Era a casa de Steve. A situação se tornava ainda mais pessoal e aterrorizante, enquanto o jogo levava os participantes aos limites de suas emoções e temores.

Martinne teve uma compreensão súbita do que aconteceria nos próximos segundos. Observou a contagem regressiva de um minuto, apressou-se para calçar os tênis, abandonou a cabana e pegou a bicicleta. Atravessou a floresta com pressa, seus braços nus sentindo o impacto do frio cortante. O casaco ficou para trás, deixando-a vulnerável ao vento noturno. Cada pedalada impulsionava sua corrida contra o tempo, o suspense e a urgência aumentando a cada segundo enquanto ela se dirigia para a casa do prefeito.

Ela pedalou tão rápido, ignorando completamente a dor em seu pé; isso viria depois. Lágrimas começaram a rolar de seus olhos. Steve seria jogado da sacada, uma repetição do incidente em 4 de julho. Era uma forma cruel de atingi-la, explorando um trauma de adolescência. Apesar de haver muitas pessoas naquela situação, era Austin quem carregava a culpa, um fardo que a consumia desde os doze anos. A corrida desesperada dela era impulsionada pela angústia e pela tentativa de evitar a repetição de um passado doloroso.

O asfalto transformado em lama foi rapidamente deixado para trás. A casa de Steve ficava apenas a duas quadras da residência dos Collins. Cada pedalada de Martinne se tornava um esforço impulsionado pela urgência de chegar a tempo e evitar.

Suas lágrimas se misturaram com as gotas de água, a chuva já havia cessado um pouco. A probabilidade de Austin enfrentar um acidente aumentava, já que pedalava tão rápido no asfalto molhado. Ao chegar na esquina, deixou a bicicleta e correu até a parte de trás da casa do prefeito, uma área que costumava ficar aberta. Ela conhecia bem, pois era por ali que ela e Henry saíam escondidos. O desespero guiava cada passo dela na tentativa de alcançar o destino e mudar o curso trágico dos eventos.

Assim que se aproximou, Martinne pôde ver a porta aberta, indicando que alguém já havia estado ali. Ao entrar, seu peito disparou ao ver uma cena horrivel. Steve estava caído no chão, uma poça de sangue se formava ao seu redor. Scarlet, próxima a ele. Ela virou-se cautelosamente para a morena, seus próprios olhos transbordava rancor.

A loira caminhou num instante, aproximando-se da amiga. Ela segurou os ombros de Austin e a abraçou, um gesto que desencadeava memórias dolorosas para ambas. Collins foi quem havia lidado com as consequências do 4 de julho, tomando para si as responsabilidades, ciente de que ela mesma estava imune às qualquer coisa.

Em breve, a porta se abriu com pressa, revelando a entrada de Antonnie, Halen e Janet. Seus olhos se direcionaram imediatamente para o corpo no chão, um silêncio pesado pairando entre eles enquanto enfrentavam a realidade brutal que se desdobrava diante de seus olhos.

― Nós temos que ir. ― Janet indicou apressadamente a luz que acabara de se acender.

Halen e Janet saíram primeiro, enquanto Scarlet tentava puxar Martinne. No entanto, ela permanecia fixa, encarando o corpo de Steve. A chuva, que havia dado uma trégua, retornava com intensidade, as gotas de água arrastando o sangue de Steve em direção à piscina, tingindo a água com uma tonalidade vermelha. A cena era surreal.

Antonnie se aproximou, seus dedos tocaram suavemente o rosto da morena, virando-o delicadamente em sua direção. Seus olhos negros, profundos como o abismo, capturavam a atenção dela de maneira hipnotizante.

― Vamos, ou teremos que passar o resto da semana na delegacia. ― A voz de Collins, como um lembrete crítico, ecoou atrás de Antonnie.

Martinne estendeu a mão para o garoto, e juntos, eles saíram correndo. Halen buzinou, indicando o fusca rosa onde Janet esperava do lado de fora, para que eles pudessem entrar na porte de trás. A garota, encolhida ao lado da melhor amiga permanecia em um estado de choque. Seu corpo não reagia, imerso em um estado de êxtase.

― Pra onde vamos? ― Janet falou alto o suficiente para todos ouvirem. ― Pra onde porra?

― Eu não sei, está bem? Não faço a mínima ideia. ― Delayan bateu no volante, visivelmente irritada.

― Qual o nome de vocês? ― Antonnie dirigiu-se às meninas na frente.

― Sou Janet. ― a de cabelos azuis encarou o garoto.

― Meu nome é Helan.

― Certo, Helan, você está no volante, você decide, mas eu sei de um lugar. Precisamos nos acalmar um pouco. Desça na próxima avenida, depois siga até o bar Zamnnies.

A menina confirmou com a cabeça, parecendo conhecer o local mencionado.

Martinne parecia estar mais calma, agarrada à loira, que também estava no mesmo estado.

― Onde você esteve? Eu te liguei a tarde toda. ― a morena choramingou no ouvido da amiga.

― Eu... estava resolvendo alguns problemas. ― Scarlet fez acariciou os cabelos morenos da amiga.

Todos estavam abalados e sabiam o que estava prestes a acontecer. Steve era a pior, mas sua morte havia sido cruel. O prefeito iria se despedaçar ao ver o corpo do filho no chão, envolto em seu próprio sangue em sua casa.

O silêncio persistiu dentro do fusca, tornando-se quase palpável enquanto se dirigiam ao bar. Antonnie foi o primeiro a sair, prontamente auxiliando Martinne a descer. Scarlet observou com uma expressão intrigada, notando que o garoto não estendeu a mão para ajudá-la.

Já ao lado de fora, a garota tremia de frio, a chuva forte em sua pele, deixando-a completamente arrepiada. Sensível à situação, o menino ao seu lado percebeu a necessidade e prontamente retirou seu moletom azul, oferecendo-o para que ela pudesse se aquecer.

Antonnie, ainda com a atenção voltada para a morena, manteve-se próximo, observando-a com uma expressão de preocupação. Janet, por sua vez, cruzou os braços e fez um gesto de impaciência, indicando que deveriam se apressar. O grupo adentrou o bar, buscando um refúgio temporário da tempestade e dos eventos angustiantes que acabaram de enfrentar. O bar Zamnnies era um dos bares mais famosos da cidade, encantando com sua decoração luxuosa e suas bebidas e alto padrão. As luzes suaves realçavam a decoração cuidadosamente escolhida, criando um ambiente acolhedor no momento. As mesas de madeira mogno e as cadeiras confortáveis sempre acomodaram a todos da cidade. Era um refúgio sofisticado, onde os moradores buscavam alívio e descontração.

― Você trabalha aqui? ― Scarlet rodopia o lugar, apreciando os detalhes do ambiente.

― Eu sou o dono. ― ele dá um meio sorriso, conduzindo o grupo até o balcão. Janet parece encantada com a beleza do lugar. ― Aceitam? ― ele oferece bebidas, para Helan e Martinne, que estão próximas do balcão. O aroma envolvente de algum perfume caro, e o som da chuva caindo lá gota alíviou a tensão qual todos estavam.

Delayan aceitou a bebida, sentindo o líquido ardente deslizar pela garganta, enquanto Austin, com um aceno negativo, recusou a bebida.

― Qual é o número de vocês ― questionou Collins, acomodando-se ao lado de sua melhor amiga.

― Eu sou a seis. ― Janet respondeu, erguendo seu copo de bebida com um leve sorriso.

― Oito... ― Scarlet murmurou, corando levemente.

― Dois. ― Helan deu mais um gole em sua bebida, parecendo indiferente aos olhares ao redor.

― Sete. ― Antonnie também deu um gole em sua bebida.

Todos os olhares se direcionaram a Martinne.

― Treze.― ela confessou, surpreendendo.

― Porra, nunca imaginei que vocês... ― Janet apontou para Scarlet e Martinne que estava em seu lado. ― estariam jogando.

A morena percebe o olhar descarado de Antonnie em si, ela evita a encara ele diretamente. Ele sem vergonha, não desvia o olhar por nenhum momento,
causando um certo desconforto na menina que decide se levantar, quebrando o silêncio ao perguntar educadamente onde ficava o banheiro.

Ao entrar, encara seu reflexo no espelho e desabafa com autodepreciação. Sentindo-se arrependida, questiona mentalmente por que não morreu naquela casa, onde se livraria de todas as preocupações. Joga água no rosto como uma tentativa de afastar esses pensamentos e retorna à sala principal.

― Olha nós deveria perguntar a el...― pararam de falar assim que viram a garota na porta.

― Não precisam parar de falar só porque eu cheguei. ― ela encarou todos, mas nenhum deles se manifestou.

― Eles não vão te contar, estão te julgando e jogando a culpa pela morte de Blanche nas suas costas. ― Helan falou de forma áspera, ignorando o olhar mortal de Collins.

― Por que você não consegue calar a boca em Delayan. Porra garota! ― Janet bateu as mãos na mesa bruscamente.

― Qual é, vai fazer diferença ela não saber? ― ela disse, encarando todos. ― Todos nós sabemos que ela é culpada, vocês mesmas dissera. Mas lembre-se, poderia ser você, eu e até mesmo Collins, a vida dele não seria poupada. ― A frase de Helan deixou o clima pesado. ― Foi bom o papo, mas eu estou indo. ― ela pegou suas chaves no bolso e se aproximou da porta.

― Você... você acha que eu tenho culpa? ― Austin perguntou, olhando entristecida para a melhor amiga.

Collins demorou alguns segundos para encarar a menina.

― Eu não acho que você tenha culpa, mas... ― Sua voz saiu carregada.

Os olhos de Martinne encheram-se de lágrimas. Desnorteada, ela se afastou, batendo nas cadeiras, deixando-as cair. Em um instante, correu para fora, permitindo que mais uma vez as lágrimas caíssem, banhando seus olhos em água. Seu coração parecia ter levado um soco.

Até Scarlet achava que ela havia matado o garoto. Rapidamente, ela limpou seus olhos com a manga do moletom azul. Ao olhar, percebeu que Helan ainda estava estacionada no mesmo lugar, seus olhos azuis encarando a morena. A rua estava sendo iluminada por apenas um poste. Delayan abriu a porta e olhou novamente para a garota, sendo a única que não a acusou injustamente, junto com Antonnie, mesmo que sequer disse uma palavra.

Martinne deu uma última olhada para a porta e correu até o fusca. Assim que entrou, Helan acelerou. As duas permaneceram quietas, apenas o vento gelado que entrava acalmava o ambiente.

― Sabe que não é verdade, né? ― Delayan chamou a atenção da morena. ― O que eu disse lá, você não tem culpa. ― enfiou um cigarro entre seus lábios e acendeu.

― Não faz diferença mesmo, em quatro horas o prefeito encontrará o corpo do filho e todos serão suspeitos. ― ela encostou as costas no banco.

― Você tem alguma roupa seca? ― Martinne perguntou, já irritada pela roupa colada ao corpo.

― Atrás tem uma mochila vermelha, escolha o que quiser.

Ela pulou para o outro lado do fusca, alcançando a mochila que estava sob o banco. Ao vasculhar seu conteúdo, encontrou uma calça jeans rasgada e um casaco verde de zíper, suficientes para a situação. Retirou o moletom e a regata rosa encharcada, e quando ergueu os olhos, percebeu o olhar de Delayan através do espelho retrovisor. Fechou o casaco, decidindo não trocar de calça, estava desconfortável demais para isso.

― Onde devo deixar você? ― Helan questionou, com o cigarro entre os lábios.

Austin ponderou por um momento.

― Me deixa próxima da casa de Steve, esqueci algo lá.

Helan virou o rosto para a morena.

― Se você não quer ser culpada, não aja como uma Martinne.

Delayan dirigiu até a rua e a deixou exatamente na esquina onde a bicicleta havia ficado. Austin esperou até que o fusca da garota sumisse para pegar a bicicleta. Seus olhos viajaram para a casa do garoto.

Ela subiu na bicicleta e pedalou até a casa de Mareane. Sairia pela manhã, tentaria levar sua vida o mais normal possível, mesmo que logo a bomba da morte de Steve venha à mídia. Talvez considerem suicídio, mas pela sua ficha psicológica e seus hematomas, pouco vão considerar essa hipótese.

Martinne enrolou a bicicleta no mesmo lugar e entrou cautelosamente. Seus irmãos estavam dormindo, cobertos por uma paz que ela não compartilhava naquele momento. Ela caminhou silenciosamente pela casa. O ponteiro do relógio sinalizava quase três da manhã. Ela retirou os sapatos e a calça molhada, e deitou-se no sofá, mas o peso dos acontecimentos a impedia de fechar os olhos. Fixou o olhar no teto, envolta por um silêncio que ecoava com as batidas de seu coração. A madrugada se estendeu, sombria e inquietante.

[...]

O incessante tic tac do relógio permeou toda a madrugada, uma constante que ela não conseguiu escapar, mantendo-o acordado. Enquanto a luz do sol iluminava o ambiente, os cantos dos pássaros ecoavam, trazendo consigo a promessa de um dia melhor.

Na cozinha, Martinne fixava seu olhar em Mareane, cujas mãos habilidosas se moviam com destreza para preparar um café revigorante. O marcador do tempo na parede indicava seis da manhã, destacando a passagem implacável das horas. A noite da garota foi permeada pela insônia, e a expectativa de que uma xícara de café pudesse trazer algum alívio pairava no ar.

― Querida, você passou a noite sem dormir? Parece tão abatida. ― A mulher dirigiu-se à morena que estava aérea.

― Estou bem sim. ― sorriu gentilmente para a mulher e logo ergueu a xícara para que servisse o líquido.

― Martinne, eu não faço a menor ideia do que acontece em sua casa, mas acredito que a relutância, a proteção em excesso e o olho machucado de seu irmão têm a ver com seu pai. ― Mare serviu o café, sentando-se em frente à garota.

A garota pareceu analisar o líquido preto antes de bebericar. Café nunca foi seu forte, mas agora, uma xícara de café não parecia uma ideia tão ruim.

― Meu pai é agressivo, um bêbado agressivo que bate em seus próprios filhos para descontar a frustração da vida. ― disse a morena com sarcasmo, mas logo deixou transparecer seu desprezo. A seriedade pesava no ambiente, revelando um lado sombrio da vida da menina. Mare absorvia as palavras, sua expressão refletindo compaixão misturada com a indignação diante da crueldade que estava por trás da fachada familiar.

― Sabe... Você é incrivelmente forte por enfrentar isso. ― a mulher pegou suavemente as mãos da garota, que a encarou meio sem jeito. ― Meu primeiro marido era extremamente agressivo; eu era jovem e levei muitos anos até finalmente conseguir me libertar.

― O que você fez para se libertar? ― Martinne encarou a expressão gentil da mulher, suas covinhas eram tão bonitas quanto todo o resto do rosto, seus olhos eram esverdeados.

― Eu matei-o.

Mareane então levantou-se, dirigindo-se até a bancada quando Zayyan entrou na cozinha com o rosto todo amassado, revelando os sinais de uma noite boa de sono.

― Bom dia. ― Zayyan sorriu para Martinne e foi até a avó, dando um beijo em seu rosto.

― Bom dia, meu neto. ― A avó retribuiu o gesto.

― O favorito também chegou. ― Antonnie entrou na cozinha, pegando uma fruta em cima da mesa.

― Você se ilude muito, Antonnie. ― A voz feminina de Aaliyah se fez presente.

Era a primeira vez desde que chegou em Mareane que tinha visto Aaliyah.

A menina exibiu um sorriso quando vê Austin na mesa. Martinne observou a interação entre eles, sentindo o conforto de uma família.

Zayyan, com um olhar perspicaz, percebeu a tensão no ar e tentou dissipá-la.

― Vocês dois sempre com essa rivalidade. Deixem isso para depois do café, por favor.

― Bom dia, meus netos favoritos. ― Mareane abraçou os dois por trás. ― Olha os modos Aaliyah, de bom dia, temos visitas hoje. ― A atenção de todos na cozinha logo foi direcionada para Martinne.

― Que isso, vó, ela já é de casa. ― Zayyan juntou sua cadeira ao lado da morena, sinalizando uma camaradagem que transcendia as formalidades.

― É, já é de casa. ― Antonnie veio até a cadeira da frente, que estava livre. A menina seguiu-o com o olhar, não conseguia tirar o olho do menino. Antonnie era realmente bonito e atraente, seu sorriso era chamativo por conta de suas covinhas, seu cabelo tinha um corte que o deixava muito atraente, mas o principal era seus olhos, que eram pretos, suas íris dançavam lentamente cada vez que ele piscava. Seus olhos eram escuros, tanto quanto o céu escuro e refletiam na luz igual o brilho das estrelas.

Ela se levantou, e pela primeira vez no dia, ele ergueu os olhos para observá-la. Pareceu notar que o moletom havia sido substituído, um detalhe que ela não lembrava. O silêncio na cozinha foi momentaneamente preenchido pelo som sutil das cadeiras movendo-se.

O olhar dele encontrou o de Martinne, e por um instante, um entendimento silencioso pareceu passar entre os dois.

Ela quebrou o silêncio com um gesto casual, indicando o café que permanecia na bancada. ― Quer um pouco? ― perguntou, oferecendo uma oportunidade para a normalidade retornar àquele momento peculiar entre eles.

― Belo casaco. ― Antonnie aceitou o gesto, elogiando o casaco. Austin deu um meio sorriso, percebendo que o comentário não tinha nada haver com sua pergunta, por que ele estava tão obcecado pelo fato dela ter trocado o moletom que ele havia emprestado. O gesto foi um elo silencioso entre eles, uma troca de entendimento que deixou o clima nada agradável.

― Nós precisamos conversar. ― ele sussurrou baixo, garantindo que ninguém percebesse. O tom de urgência e confidencialidade pairava entre eles, criando um clima.

Martinne assentiu levemente, captando a gravidade nas palavras sussurradas por Antonnie. Com cuidado, ela saiu da cozinha, indo para o quarto de tralhas que Mareane tinha.

― Vou ao banheiro. ― Antonnie se afastou da mesa, saindo da cozinha, indo na mesma direção que ela.

Aaliyah percebeu que talvez houvesse algo entre eles, então chutou o irmão por debaixo da mesa e apontou na direção onde o primo havia ido.

Antonnie entrou onde a porta estava aberta e fechou com cuidado.

― Não podemos contar a ninguém o que aconteceu durante o jogo, especialmente sobre termos ido à casa de Steve. ― ele disse olhando para a garota que prestava atenção em cada palavra sua. ― Depois que você e Helan saíram, eu, Scarlet e Janet fizemos álibi distintos para cada um de nós cinco, caso a polícia inicie uma investigação.

― Qual meu álibi? ― Martinne pede.

― Que você estava dormindo com seus irmãos. Você dissera cada detalhe da noite antes de sair, tirando o fato que saiu, claro.

― Certo. ― ela confirmou com a cabeça.

Antes que a menina pudesse sair, ele continua a falar.

― Em nenhum momento você se encontrou com elas, nem com a Scarlet, Janet ou Helan. Mantenha essa história para protegermos uns aos outros.

― Entendido. ― Ela confirmou com a cabeça apreensiva.

― E lembra, qualquer deslize quando você for responder, pode botar todos nós em uma corda bamba. ― Antonnie pisca profundamente, seus olhos escuros que parecem hipnotizar a garota. Ela balança a cabeça, acordando do transe e se retira do lugar.

Ela segue até a sala, deparando-se com ambos os irmãos já acordados. Com delicadeza, pede a Jacob que a auxilie na organização, enquanto Erick aproveita o momento para tomar o café. Apressada, ela apressa os irmãos, pois iriam perder a hora, mais uma vez.

― O que acontecerá depois? ― indaga Jacob, meticulosamente dobrando o cobertor enquanto Martinne estava distraída.

― Ah? Que, como assim?

― Não finja que sou idiota Martinne, sei que não temos um lugar para ir. ― ele encara a menina com seus olhos tristes. Jacob sempre teve os olhos tristes, desde pequeno a dor e o sofrimento do que vivia refletia em seus olhos.

Ela suspira antes de falar. ― Não tenho certeza... Mas fique tranquilo, não permitirei que voltem para lá. ― ela se aproxima, abraçando-o com ternura.

[...]

Martinne troca breves despedidas com seus irmãos, que saem do carro e correm diretamente em direção ao portão da escola.

Antonnie vira a chave de ignição, dando partida no motor do carro assim que os meninos somem da vista de ambos. Mareane, havia insistindo tanto a garota pegar carona com o neto, que ela acabou não tendo saida e teve que entrar no carro do menino.

Austin olha todo o momento o menino enquanto ele, com firmeza, segura o volante. Seus olhos permanecem fixos na estrada, mal piscando, imerso em sua própria mente.

― Se quiser um retrato, é só pedir ― ele diz, desviando brevemente o olhar para a morena, que inclina o rosto em direção à janela.

― Não, obrigada. Se eu quisesse, iria ao hospício, lá tem muitos iguais a você ― ela dispara, atrevida.

O menino permanece em silêncio por alguns segundos, mas logo um sorriso substitui a expressão entediada dele. Ele achava a situação engraçada, e estava disposto a dar o que Martinne queria.

― Bem ousada, mesmo. Mas aqui não funciona assim, Martinne. Eu não sou o Zayyan. ― ele diz, relaxando as costas no banco.

Ela arqueia a sobrancelha, um tanto confusa.

― Até por que ele é legal. ― ela sussurrou.

― Você está no meu carro e está me insultando, achando que vou só aceitar, corajosa, mesmo sabendo que eu posso simplesmente capotar esse carro e você morrerá e eu vou dizer que foi um acidente, por isso você é corajosa de provocar. ― seus lábios se formam em um sorriso presunçoso. ― mas, sabe, meu carro foi muito caro para desperdiçar com um acidente tão tosco, morrer por acidente de carro é uma coisa tão tosca. Ficaria para as mortes mais sem graça de Sultern.

― Você é muito escroto e idiota! Só sabe falar merda e ser um metido? ― ela o encara com raiva. ― E sabe que sua vó me pressionou para aceitar essa carona, mas estou vendo que errei. ― diz, soltando um longo suspiro.

― Poderia ter negado, minha vó não iria insistir se você realmente não quisesse. ― encarou ela com desdém.

― Poderia calar a boca? Sua voz está mais insuportável que uma britadeira. ― Ela tapa os ouvidos com os dedos, agindo como uma criança.

Antonnie, de forma provocativa, começa a emitir sons irritantes com a boca, intensificando a irritação da morena. Ela luta para manter a sanidade, mas o barulho acaba sendo a gota d'água, fazendo-a explodir em um grito.

O menino, satisfeito com a reação provocada, continua a produzir os irritantes sons com a boca, aumentando deliberadamente o volume. Martinne, agora visivelmente frustrada, não consegue mais conter sua irritação.

― Sério, Antonnie? Está agindo como uma criança mimada. Pare com isso antes que eu jogue você pela janela.

― Ah, duvido que você tenha coragem. Afinal, esse carro é meu. ― Ele diz, debochado, retrucando.

Martinne, agora desafiadora, encara Antonnie com determinação.

― Quer apostar? Se continuar com esses barulhos, vou fazer questão de mostrar que não estou blefando. A propósito, cuida a estrada.

Mesmo após a advertência de Martinne, ele decide persistir em seu comportamento infantil. Ele solta uma risada e começa a fazer caretas, mantendo a atmosfera descontraída, mas ao mesmo tempo desafiadora.

― Antonnie, sério, pare com isso. Eu não estou para brincadeiras infantis hoje. ― ela diz, já cansada.

Um silêncio pesado se abate sobre o ambiente, como se as palavras proferidas tivessem o poder de fazer ele parar. O menino absorvendo a repreensão com seriedade, mantém-se em silêncio por alguns minutos. Finalmente, ele quebra a quietude ao se manifestar.

― E agora, para onde devo levar a madame? ― Seus olhos fitam a jovem com uma expressão intrigante e ele pisca os cílios.

― Condomínio da principal. ― A resposta vem de maneira concisa.

― Pra quem morava do outro lado da cidade, você anda bem. ― Ele abre um chiclete de menta, impregnando todo o ambiente com o cheiro forte.

― Fique quieto Antonnie, você não sabe de nada. ― A expressão da menina se fechou e cruzou os braços.

Ele ficou quieto, só seguindo na direção que a Martinne tinha falado. Sua Porsche ficou estacionado do outro lado da casa da amiga, dava pra ver o carro preto na garagem, mostrando que ela estava lá.

― Espere aqui, volto logo. ― Ela ordenou, saindo do carro em passos apressados em direção à casa. Queria evitar encontrar Scarlet ou qualquer outro Collins, não estava a fim de dar explicações, e, sinceramente, pouco se importava com o que Nora poderia pensar.

Martinne abriu a porta e, aliviada por encontrar o local vazio, correu escada acima até o quarto que Nora determinou como seu. Com cuidado, fechou a porta branca, pegou a bolsa de roupas na cama e optou por uma calça e blusa justa. Sabia que precisaria arranjar mais roupas em breve. Ao vestir, completou o visual com sua jaqueta preta pendurada no cabide, a única peça que tinha no guarda-roupa.

Ao encarar o espelho, ela viu seus fios num caos total, parecendo que um pente era algo que não via a dias. Austin saiu do quarto, a caminho das escadas, mas parou ao ouvir um barulho vindo do quarto da amiga. Martinne subiu as escadas e tentou abrir a porta, mas estava trancada.

― Scarlet? Scar, sou eu. ― A morena bateu na porta, esperando que a loira respondesse, mas apenas o silêncio preencheu o ambiente. ― Queria falar sobre a madrugada... Abre a porta, vamos conversar. Vai ser rápido. ― Ela insistiu, notando o estranho silêncio persistente.

Austin, prestes a desistir de conversar com a loira, ouviu a voz abatida da amiga.

― Vai embora, me deixe em paz.

― Aconteceu algo? Abre pra mim. ― Martinne se aproximou da porta, preocupada.

― Martinne... Vai embora. Não quero conversar com você. ― A voz de Scarlet soou mais baixa que antes, carregada de dor.

A garota, compreendeu aquilo como uma resposta, desceu as escadas com raiva e tristeza e saiu da casa. Ela tentava não se preocupar com a amiga, afinal, ela praticamente acusou Martinne de matar Steve, então queria agir com desprezo, mas Scarlet parecia tão abatida que era difícil ignorar a preocupação.

Ela se aproximou do garoto, que estava parado em frente sua Porsche azul, com um cigarro entre os lábios, o fumo se misturando com a calma que pairava no ar ao seu redor.

― Disse para ficar no carro.

― Você não manda em mim. Além disso, demorou muito. ― Antonnie revirou os olhos como uma criança birrenta.

― Não demorei nem 10 minutos.

Ele deu de ombros, entrou no carro com o cigarro, e abaixou a janela para que a fumaça se dissipasse com o vento.

― Garoto, você é idiota? Se a polícia pegar você fumando, será um problema que eu quero evitar. Aliás, acelera essa porra, vou chegar na segunda aula. ― Ela bateu furiosa em suas coxas.

Ele então acelera, mais do que ela deseja. Ela se mantém em silêncio enquanto ele continua aumentando a velocidade.

― Antonnie, abaixa a velocidade, caramba. Eu pedi pra acelerar, não pra matar a gente. Se quiser se suicidar, se mate sozinho. ― Martinne alterou a voz, expressando sua preocupação.

― Você é muito chata! ― ele reclamou.

― Chato é você, não sei como sua mãe aguentou você desde que nasceu. Eu já teria mandado ir embora. ― Ela disparou sem pensar no estava falando e cruzou os braços.

O carro foi bruscamente freado, fazendo o corpo da morena ir para frente. Antonnie havia parado o carro no meio da estrada poeirenta. Ele virou para ela com um gesto claro, mandando ela sair.

― Como é? ― Martinne olhou incrédula.

― Saia agora, Martinne. ― ele respondeu sem encará-la.

A garota o encarou novamente, tentando discernir a veracidade de suas palavras. Sua última atitude foi descer do carro, sentindo a poeira da estrada sob seus pés. Olhou para o rapaz, com ódio e, bateu a porta do carro com tanta força que poderia facilmente cair.

Antonnie e pisou fundo no acelerador sem ao menos olhar para trás, afastando-se rapidamente com o carro, deixando-a sozinha no meio da estrada, envolta na poeira que o veículo levantou ao partir.

― FILHA DA MÃE. SEU IDIOTA! ― ela gritou tão alto que suas palavras ecoaram enquanto o carro se afastava. A frustração e raiva eram evidentes em sua voz.

A garota ficou sem saber o que fazer. Não estava longe, mas provavelmente chegaria no fim da terceira aula. Bateu o pé raivosa; certamente, o menino tinha um parafuso a menos por deixá-la sozinha no meio do asfalto, se algo acontecer, ela colocaria a culpa toda nele.

Minutos depois ela avista a Porsche azul e quase comemora, pensando que ele voltaria para buscá-lo. No entanto, para sua surpresa, o carro acelera enlouquecidamente, repetindo essa ação três a quatro vezes. A frustração mistura-se com a perplexidade em seu rosto enquanto observa a cena.

Na última vez que o carro volta, ela se irrita e mostra o dedo do meio. Diferente das vezes anteriores, Antonnie para no meio-fio, mas ela o ignora e começa a andar, e o carro a segue em baixa velocidade.

― Entra.

― Não. Você me expulsou.

― Martinne, entra agora. ― Ele usou um tom agressivo.

― Não grita comigo. Eu não preciso de você para chegar lá.― Ela respondeu com firmeza, mantendo sua postura.

O garoto soltou uma risada, como se achasse toda a situação divertida.

― São exatamente sete e cinquenta ― ele checou no relógio que adornava seu pulso esquerdo. ― Você tem 10 minutos para entrar nesse carro e ainda conseguir pelo menos entrar na escola. Decide logo. ― A expressão dele indicava uma mistura de impaciência e diversão com a situação.

Martinne, mesmo contrariada, ponderou por um momento. A pressão do tempo e a oferta de carona a fizeram reconsiderar, e ela decidiu entrar no carro de Antonnie. O silêncio tenso permanecia, mas agora, além da raiva, havia uma pitada de desconforto entre os dois enquanto o carro seguia pela estrada.

― Você tem uma moto, uma Porsche, um restaurante... interessante. Tem mais alguma coisa que eu deveria saber? ― Ela o olhou com inocência.

― Tem diversas coisas que você ainda não sabe, Martinne. ― retrucou, sorrindo.

― Por que você foi escolhido? Não é de Sultern, é riquinho, mimado, vive do bom e do melhor. ― ela disse, sem perceber o que havia dito.

― E como sabe que não sou daqui? ― Ele tirou os olhos da estrada por um breve momento.

Martinne percebeu a expressão intrigada de Antonnie e ponderou antes de responder.

― Bem, pelo que sei, a cidade é um lugar pequeno, onde todo mundo conhece todo mundo. E, francamente, você não parece o tipo que passaria despercebido por aqui, ainda mais se tivesse estudado aqui.

Antonnie sorriu, dando a entender que ela poderia estar certa.

― Eu nasci aqui, mas morei na cidade vizinha por muito anos. ― Ele disse isso, não dando muitos detalhes e ela não quis perguntar.

O resto do trajeto continuou em um silêncio carregado. Antonnie dirigia com intensidade, e Martinne olhava para fora da janela, tentando ignorar a presença incômoda dele. Após alguns minutos, ele quebrou o silêncio tenso.

― Não precisava ser tão dramática, Martinne. Só não fale mais da minha mãe dentro do meu carro.

Ela soltou um suspiro, sem olhar para ele.

― Ela morreu? ― perguntou descaradamente.

― Além de fazer muitas perguntas é muito intrometida.

A tensão persistia, mas o carro seguia seu caminho, levando consigo a bagagem de emoções mal resolvidas.

Ela se retira do carro sem se despedir, ultrapassando o portão e seguindo até a porta principal do colégio. O relógio na entrada indicava que sua primeira aula já estava prestes a acabar. Embora não tivesse preconceito com as primeiras aulas, ela as considerava um verdadeiro saco.

Martinne se posicionou diante de seu armário, observando a grade de horários. A próxima aula seria de educação física, e seu pé recentemente machucado tornava-se uma excelente desculpa para escapar da aula mais entediante. Ela esperou que o sinal soasse, observando os alunos trocarem de sala, exceto os do terceiro ano, que foram direcionados para os vestiários no campo. Infelizmente, para seu azar, não teve tempo de evitar o professor.

Seu pé ainda doía pela perturbadora madrugada, e apesar de ter avisado o professor sobre isso, foi obrigada a ir para o campo. Ao chegar lá, viu Stacey e suas amigas se aquecendo para o jogo de hóquei. Martinne odiava não poder participar, pois o hóquei era sua válvula de escape para liberar a frustração sem ser literalmente culpada. O ódio por Stacey só aumentava a cada dia.

A garota observou todos os alunos do terceiro ano, exceto dois. Scarlet não havia aparecido, e Steve, provavelmente, já devem tê-lo encontrado. O pensamento intrusivo de como isso vazaria na mídia e o prefeito buscaria vingança fez os pelos de Austin se arrepiarem. O clima tenso pairava enquanto ele tentava afastar os pensamentos sombrios e se concentrar na aula de educação física.

O professor explicou, pela décima vez, as regras do jogo. Martinne seria responsável por marcar os pontos de cada time. O jogo começou, e Austin desejaria poder jogar, especialmente para poder atirar a bola bem na cara da ruiva. No entanto, Janet estava fazendo isso por conta própria. O professor de educação física estava quase sem voz de tanto gritar com ela, tentando fazê-la entender que aquilo não era jogo de atirar bola nos outros, e sim hóquei.

― JANET, BANCO! ― O homem gritou do outro lado do campo para a menina dos fios azuis, após ela arremessar o taco em Stacey. Janet bufou e saiu do campo batendo os pés, sentando-se ao lado da morena sem pronunciar uma única palavra. Talvez estivesse assim pelo o que houve na madrugada. O silêncio tenso se instalou ao redor.

― Bela jogada aquela que acertou a perna de Stacey. ― puxou assunto e a menina sorriu olhando por cima do ombro.

― Sou boa no que faço.

Janet, então, se levantou da arquibancada e caminhou até o vestiário. O jogo continuou normalmente, o time amarelo havia ganhado. Agora, Jéssica estava sentada na ponta da arquibancada com suas amigas, provavelmente falando da vida dos outros. A próxima aula era de biologia, e Brandon havia mencionado que tinha um trabalho para entregar. No entanto, sua vida esteve tão corrida que ela não o fez.

Martinne se retirou rapidamente do campo, dirigindo-se ao corredor para sua próxima aula. O sinal tocou logo em seguida, e mais à frente, ela avistou Brandon e Henry conversando entre si, tão envolvidos na conversa que nem perceberam a presença da menina.

― Oi. ― Martinne cumprimentou, segurando firme a alça da mochila.

Brandon sorriu em resposta, mas Henry apenas deu atenção ao seu celular.

― Você está bem, Henry? ― ela o questionou, notando que ele não havia tirado os olhos do celular.

― Minha mãe disse que o prefeito já fez a confirmação do corpo. ― Henry ignorou Martinne novamente.

― Corpo...? ― Martinne ousou perguntar novamente.

― Acharam Steve jogado no chão da piscina hoje de manhã. Eu estava na casa do meu pai, não consegui ver. Minha mãe disse que Steve foi muito espancado antes de ser jogado da sacada. ― Dessa vez, Henry não ignorou, encarou a menina com seus redondos olhos e falou seriamente.

― Como assim 'antes de ser jogado da sacada'? ― Ela franziu a testa, tentando parecer o mais normal possível.

― Parece que ele se nega a aceitar que o filho possa ter se jogado, então colocou na cabeça que alguém o jogou da sacada. ― explicou Henry, transmitindo a confusão e o desconforto da situação.

Martinne assentiu com a cabeça, encaminhando-se em direção à sala de aula. Seus amigos seguiram logo atrás. Ao entrar na sala, escolheu a penúltima cadeira da terceira fileira. Brandon e Henry se separaram, cada um indo para um lugar diferente na sala. O clima pesado pairava enquanto todos se acomodavam para mais uma aula.

Ela cumprimentou os alunos, organizou sua mesa e pediu informações sobre o trabalho.

― Martinne. Você não fez? ― A professora direcionou a pergunta especificamente para ela, fazendo com que todos na sala voltassem a atenção para a garota. O peso do olhar coletivo era evidente.

― Sabe o que é, professora, eu estive no hospital. Não tive muito tempo para fazer os trabalhos da sua matéria. ― ela mentiu, tentando justificar a falta de entrega do trabalho.

A mulher fez uma anotação rápida em seu caderno antes de redirecionar a atenção para outros alunos. Austin observou Brandon, que desenhava na mesa, e Henry parecia perdido em seus próprios pensamentos. Embora não fosse uma pessoa de se enturmar, sentiu um leve desejo de ser amiga de qualquer uma das garotas na sala, apenas para poder ouvir suas conversas. Elas cochichavam entre si, criando um burburinho que a professora prontamente repreendeu, dissipando-o. O clima na sala voltou a ficar mais silencioso, mas o olhar curioso dela permaneceu.

A professora Tayyin pegou seu caderno e começou a escrever no quadro, interrompendo-se a cada palavra para explicar o conteúdo.

Os próximos segundos pareciam acontecer em câmera lenta. A porta se abriu, e a diretora entrou na sala com a pior expressão possível. Logo atrás dela, um homem negro entrou, sua presença introduzindo uma mudança sutil na sala. Todos os olhares se voltaram para eles, criando uma tensão palpável na sala.

― Professora. ― A diretora cumprimentou a mulher, e ela devolveu o gesto.

O homem cruzou os braços, seu olhar penetrante varrendo a sala meticulosamente, como se buscasse decifrar não apenas as expressões, mas as almas dos estudantes. Cada rosto parecia ser minuciosamente analisado, criando uma atmosfera de intriga e desconforto enquanto ele examinava cada estudante com uma intensidade quase palpável.

― Hoje acordamos com uma notícia horrível... Steve está morto. ― Assim que a diretora começou a falar, os alunos irromperam em um burburinho imediato. Henry e Brandon trocaram olhares carregados de significado, enquanto Martinne se manteve inabalável, uma estátua em meio ao tumulto de vozes. O murmúrio constante na sala refletia a comoção generalizada, e o clima tenso pairava no ar como uma nuvem sombria.

― Alunos, gostaria de apresentar a vocês ao investidor que estará a frente do caso de Steve.

Silêncio tenso se instala na sala, os olhares curiosos dos alunos se voltam para o Sr.

O homem da um passo à frente.

― Gostaria de ter uma conversa com cada um de vocês individualmente para entender melhor os detalhes do ocorrido.

A tensão na sala se intensifica, alguns alunos arregalaram os olhos, outros se mostraram inquietos diante da notícia.

― Martinne Austin, Brandon Villares, Henry Bitencourt, Scarlet Collins e Lunna Stuart. Pedimos que deixem a sala, sejam os primeiros, por favor. ― afirmou a diretora com um tom de seriedade que ecoou pela sala de aula.

Os olhos de Austin percorreram os rostos de seus dois amigos; notou uma expressão de tensão em Villares e uma preocupação mais evidente em Bitencourt, embora sem a mesma intensidade de tensão.

Os quatro alunos presentes naquele dia se retiraram da sala, havia um policial na porta.

― Está faltando Scarlet Collins.

Nenhum dos alunos ousou falar algo.

Para Scarlet, faltar às aulas justamente hoje, sabendo que iriam vir procurar saber algo na escola, algo devia ter acontecido com ela. Com cuidado, Brandon abraçou os ombros de Austin; a tensão no ar era palpável, algo que ambos percebiam bem, já que se conheciam desde sempre.

A diretora conduziu-os até a secretaria, onde misteriosamente desapareceu. O homem entrou na sala com Lunna. Houve uma época em que Jéssica espalhou que Steve concordou em se envolver com Lunna apenas para poder cumprir uma aposta, porém ela surpreendeu todos, pois mesmo depois de todos saberem, eles continuaram juntos por um longo tempo.

― Até morto, Steve continua trazendo problemas. ― Henry bufou, manifestando sua irritação.

Se o rapaz mantivesse uma atitude aparentemente indiferente em relação ao caso, certamente se tornaria o principal suspeito aos olhos do policial. Ele precisava agir com compaixão; afinal, Steve era seu meio-irmão, e apesar de ser considerado o pior, era evidente que suas atitudes um dia o colocariam em sérios apuros.

Lunna saiu do escritório da diretora sem muitas delongas, sua expressão não estava tão boa quanto quando entrou.

― Austin, por favor. ― o homem a chamou, abrindo espaço na porta para que ela entrasse.

Ela se ergueu lentamente, suas pernas quase cedendo a cair, mas ela não permitiu que isso acontecesse.

O homem pediu que ela se sentasse na cadeira e fechou a porta atrás de si. O ambiente estava escuro, cortinas fechadas, o ambiente estava iluminado apenas pela luz. Além dele e de Martinne, não havia mais ninguém na sala. Sobre a mesa, um gravador, uma caderneta e um lápis, ele estava empenhado em descobrir qualquer informação dentro da escola. Talvez, ao investigar, pudessem descobrir que Steve Blanche era muito mais do que aparentava: um estuprador, assediador, hipócrita, nojento e agressor.

― Martinne. ― pronunciou o nome com rispidez. ― Seremos breves. Sou George, estou aqui para descobrir o que aconteceu com Steve Blanche. ― Ele fitou a morena. ― Farei algumas perguntas, você responde, e pronto, estará liberada.

George ajustou o gravador e começou suas perguntas de forma direta.

― Martinne, onde estava no momento em que Steve desapareceu, a cinco dias atrás?

Ela respirou fundo antes de responder, ciente da seriedade da situação.

― Eu estava saindo do hospital naquele momento.

Ele assentiu, fazendo uma anotação em sua caderneta.

― Alguém pode confirmar isso? Algum familiar, amigo, ou talvez registros no hospital?

A tensão na sala aumentou enquanto aguardavam a resposta da garota.

― Nora Collins ou Owen Collins estavam comigo no hospital. Eles pode confirmar. ― Ele assentiu, já sabendo quem era os nomes.

― Está bem, Martinne. Mais alguma informação relevante que queira compartilhar sobre Steve ou a situação?

Ela nega.

O investigador balançou a cabeça.

― Onde você estava na noite do dia vinte e sete de setembro de dois mil e vinte e dois? ― olhou para ela, dando espaço para responder.

― Estava dormindo. ― Austin engoliu em seco.

― Estava dormindo onde?

― Na casa de um amigo.

― Qual amigo? Henry Bitencourt? ― olhou por baixo dos cílios.

― Não. Eu não vejo Henry fora da escola desde que saí do hospital. ― Martinne cruzou os braços diante do homem.

― E o que estava fazendo na casa do seu amigo?

― Ele me convidou para dormir lá, e eu aceitei.

George manteve seu olhar focado em Martinne, prosseguindo com as perguntas:

― Há alguém que possa confirmar que você estava na casa desse amigo naquela noite?

Martinne ponderou por um momento antes de responder.

― Sim, Antonnie Goulart. Ele estava comigo naquela noite. ― ela forçou a mente para lembrar o sobrenome do menino e torcendo para não ter errado o sobrenome.

George olhou com calma e aprofundou sua investigação.

― Qual foi a última vez que teve algum contato com Steve Blanche?

Ela pensou por um momento antes de responder.

― Há quase um mês. Tive uma única aula formativa e ele foi do meu grupo

― Houve alguma interação entre vocês durante essa aula?

― Não, ele só mandou botarem o nome dele e depois sumiu.

― Então, mesmo tendo aulas com ele, ser amiga do meio-irmão de Steve e frequentando a mesma casa que ele, você afirma não ter proximidade com Steve. É isso que me diz? ― George juntou as mãos diante de si, aguardando a resposta dela.

― Me diga George, você é investidor e só por sua profissão você é próxima dos outros que trabalham com você? ― Martinne perguntou ao perceber o tom de acusação.

O homem se manteve quieto, porém foi uma resposta para ela.

― Não tente usar essa jogada comigo, senhor, eu não matei ele e você tentando insinuar não fará eu confessar, principalmente por que não fui eu! ― ela disse calma, olhando diretamente para ele.

― Em nenhum momento eu a acusei, estou apenas buscando confirmações. ― George se fez de sonso em sua resposta. ― Preciso que compreenda que estamos investigando um caso delicado. Precisamos saber todas as possibilidades. Se tiver alguma informação relevante, mesmo que pareça pequena, isso pode ser crucial para descobrir o que matou o seu colega. Estamos todos aqui para encontrar a verdade e dar paz e justiça para aquela família.

A garota bufa e mantêm a postura ereta.

― A mãe de Henry se casou com o prefeito, que é o pai de Steve. Ambos são meio-irmãos e moram juntos. Eu sou amiga de Henry e não de Steve, nunca teve motivos para eu ser próxima dele se a única coisa que ele prezava e respeitava era sexo e os homens. Isso esclarece suas dúvidas? ― Martinne expressou, mostrando uma leve irritação, mas logo recuperando a calma.

― E você frequentava muito a casa?

― Quando eu era criança, sim, vivia junto com Henry. Hoje não mais, pouco vou lá.

― E como era a sua relação com Steve nessa época?

― Como eu mencionei, nunca fomos próximos. Tentei me enturmar com o menino, mas desde pequenos, ele demonstrava ser um machista que só ligava pra quem pudesse abrir as pernas para ele.

― Por que você acha que ele não respeitava as mulheres? ― George perguntou e, em seguida, anotou algo em seu papel.

― Ele dizia que as meninas só serviam para prazer próprio e quando queria e não conseguia, ele forçava.

― Ele já te forçou? ― George ergueu a sobrancelha.

― Não. ― Martinne encostou as costas na cadeira fria.

― E você acha que alguém teria algum motivo para querer ele morto?

― Todos querem Steve morto. Qualquer adolescente nessa cidade teria motivos para querer ele morto.

― Certo, Martinne, acabamos por aqui. ― George desligou o gravador, levantou-se, passou por ela e abriu a porta. Brandon era o próximo.

____________________

Aaaaaaa galera do ceuuuu. 10 mil palavras
nuuu demorei muito, eu não revisei esse capítulo ent perdoe-me.

Continue Reading

You'll Also Like

28K 2.3K 104
ABO jikook . Alfa lúpus Black e ômega lúpus White 🐺🐺 Em um universo paralelo, uma profecia existia! Que um dia existirá um casal de lúpus invencíve...
33.1K 1.6K 21
Morava em uma cidade pequena, mas com recursos suficientes para todos nós, Infelizmente havia notícias de um assassino na nossa cidade, ou talvez 2...
224K 1.9K 32
Oiiee amores, uma fic pra vcs!! Irá conter: - masturbação - sexo - traição Se não gosta de nenhum dos assuntos a cima, já sabe não leia.
1.1M 67.2K 47
Atenção! Obra em processo de revisão! +16| 𝕽𝖔𝖈𝖎𝖓𝖍𝖆 - 𝕽𝖎𝖔 𝕯𝖊 𝕵𝖆𝖓𝖊𝖎𝖗𝖔| Fast burn. Mel é uma menina que mora sozinha, sem família e s...