Audrey Rose Laurent
- Alô?
- Audrey Rose Laurent! - Angel me chamando pelo meu nome completo não era coisa boa.
- Hmm...
- Onde você 'tá!?
- Eu... Eu 'tô em casa, por quê?
- Não minta pra mim.
- Não 'tô mentindo.
- Eu 'tô sentada na sua sala, no seu sofá com uma xícara de café na minha frente e com seu pai sentado na poltrona do meu lado, então não. Você não 'tá em casa.
- É que...
- Audrey Laurent Rose, não me diga que você voltou pra casa dele.
- Meu nome não é assim.
- Me responde!
- Olha, não foi por mal. Ele me ligou ontem a noite e me pediu desculpas, disse que não conseguiu dormir sem mim e que precisava que eu estivesse com ele, pelo menos esse domingo.
- E você acreditou?
- Ele não parecia estar mentindo.
- Ah, claro. Deixa eu adivinhar, você está deitada na cama dele, embrulhada no cobertor dele e ele fazendo o café da manhã.
- Como você...
- É sempre a mesma coisa, Audrey Rose. Ele sempre consegue te conquistar com desculpas pensadas e um café da manhã cheio de coisas, carinho e a porra toda. Você não precisa desse filho da puta que te trai sem mais nem menos. Se você soubesse...
- Soubesse o que, Angel?
- Audrey, faz um tempo isso... Me desculpa por não ter te contado antes. O Kaleb... Ele...
- Ele o que, Angel?!
- Faz uns dois meses... O Kaleb me chamou pra ficar com ele, sem compromisso. Ele disse que eu era muito mais interessante que você, e muito mais bonita também. Eu... sinto muito.
- Por que... Você não me disse antes?
- Eu fiquei com medo de você achar que eu estava inventando, só pra separar você e o Kaleb.
- Angel, eu sei que você jamais faria isso comigo. Nunca que eu ia pensar uma coisa dessas.
- Me desculpa por não ter contado antes. Eu 'tava com medo.
- 'Tá tudo bem. Agora eu preciso ir.
- Certo, eu também vou. Tchau, amiga, se cuida.
- Tchau, você também.
Desliguei a chamada e coloquei o celular na mesinha de cabeceira.
- Baixinha...? - O ruivo apareceu na porta do quarto, sem camisa e com um pano de prato no ombro. - Você... Parece que viu um fantasma.
- Talvez eu tenha visto - disse fria.
- O que foi dessa vez?
- Nada... Eu só... 'Tô um pouco cansada, só isso.
Kaleb se sentou na cama e colocou a sua mão em minha coxa.
- Sei que não está falando a verdade, Audrey. Me conta o que aconteceu e vejo se posso te ajudar.
Pode, pode sim. Você poderia me explicar porque você procurou minha melhor amiga e pediu pra ficar com ela. Pode me dizer também por qual motivo você me trai toda semana com uma garota diferente, eu não sou suficiente? Eu não consigo te satisfazer como elas te satisfazem?
Queria dizer tudo isso para ele. Queria que ele soubesse como eu me sinto. O quanto ele me machuca quando faz essas coisas. Quando apenas me usa pra aumentar seu ego. E eu também queria muito saber por que eu continuo com ele. Por que eu não consigo deixar ele.
Quando fui me dar conta, já estava nos braços dele, chorando e me desculpando por não sei o quê. Ele passava a mão pelos meus cabelos e dizia que ia ficar tudo bem.
Mas eu sabia que não ia, sabia que tudo ia se repetir como um ciclo infinito de desgraça. Que por mais que eu pedisse pra ele mudar, ele nunca ia me ouvir realmente, levar minha opinião em consideração.
- Shhh...
Ele disse no meu ouvido e eu comecei a me acalmar. Ele me afastou de seu ombro molhado pelas minhas lágrimas e me olhou nos olhos. Parecia que seus olhos tinha algo que era indecifrável. Mas somente eu sabia o que era aquilo. Nojo.
Foi então que eu percebi que precisava de ajuda. Para terminar com ele.
O dia passou tranquilo. Kaleb fez as malas para o workshop dele enquanto eu assistia a um filme de comédia na televisão que não me fez dar uma risada.
- Vem cá, Audrey. Você 'tá muito estranha. Você 'tá vendo um filme de comédia e nã deu uma risada.
Fingi que não ouvi o que ele disse e continuei concentrada nos meus pensamentos.
De noite, pedimos pizza e comemos em silêncio, sem trocar uma palavra sequer. Nem nos olhamos direito.
Quando já estava deitada, recebi uma mensagem da Karina, ela me avisou que o Sr. Davidson adiantou a data do lançamento da coleção nova e que as fotos precisariam ser adiantadas também. Perguntou se eu estava livre amanhã durante o dia, eu disse que sim, apesar de precisar estudar para minha prova.
Decidi não avisar o Kaleb sobre a sessão de fotos para ele não reagir estranho como aconteceu da última vez. Apenas mandei uma mensagem pra Angel e perguntei se ela poderia ir comigo e desliguei o celular.
Demorei dois séculos para dormir, acho que só tirei um cochilo durante a noite e finalmente realizei meu sonho de assistir ao nascer do Sol. Kaleb acordou logo depois das seis e levou um susto ao me ver de pé tão cedo.
- Acho que vai chover hoje. Você de pé tão cedo. - Ele se levantou e me abraçou por trás. - Não queria deixar você aqui sozinha durante essa semana.
- Não tem problema. É algo importante. - Tentei falar com a voz mais doce possível, acho que deu certo.
- Se importa se eu não fizer café pra você hoje? Preciso estar na porta da firma às sete e meia.
- Não se preocupe, eu como alguma coisa no caminho.
- Que caminho? Não vai ficar aqui?
- Ah... Eu vou passar uns dias na casa da Angel.
Ele apenas balançou a cabeça e disse que ia tomar banho.
Peguei meu celular e vi que tinha 21 mensagens da Angel, todas eram ela surtando pela sessão de fotos.
Anjinha 💕👼
Posso ficar um tempo na sua casa?
Q pergunta mais besta Audrey
Claro q pode
Pq?
O Kaleb vai pra um workshop e ainda n
quero voltar pra casa
Seu irmãos n vão se incomodar né?
Dessa parte eu cuido
Vc pode ficar o tempo q quiser amg
Minha porta tá aberta
Agora conte-me mais sobre a sessão
N
N fala
Espera pra qnd a gnt se ver
Tenho q me arrumar bjs
Bjs
Foi nesse momento que lembrei que não tinha nenhuma roupa descente para ir. Melhor: não tinha ideia de como deveria ir para uma sessão de fotos.
Eu tenho duas opções: ou eu pego alguma roupa da Angel, ou eu volto em casa e me arrumo lá.
Escolhi a primeira opção. Novamente mandei mensagem pra Angel e ela disse que estava tudo bem eu pegar algumas roupas emprestadas.
- Tudo bem?
Tomei um susto quando Kaleb surgiu atrás de mim usando apenas uma toalha em volta da cintura. Meu corpo começou a ter reações que eu não queria que tivesse. Senti minhas bochechas esquentarem e minha respiração ficar descompassada. Desviei o olhar no mesmo momento.
- Por que essa reação. Não tem nada aqui que você já não tenha visto.
Ele disse com um sorriso no rosto, mas a única coisa que consegui sentir foi enjôo. Quebrei uma regra minha para agradar ele, mas foi em vão. Então me recompus e engoli em seco.
- Você quer uma carona até a casa da Angel?
- Não vai se atrasar?
- Não se preocupe com isso, qualquer coisa digo que estava sendo um cavalheiro e levando a minha namorada e não deixando ela andar sozinha por essas ruas e avenidas perigosas. - Fingi um sorriso. - O que me diz?
- Pode ser então.
Já que não tinha trago roupas, vesti a mesma com a qual estava ontem. Quando estava calçando meus coturnos, Kaleb aparece pronto ao meu lado. Ele estava vestindo seu uniforme de sempre. Todo de social, só que dessa vez ele estava usando uma calça azul marinho e... gravata. Kaleb nunca gostou de gravatas.
Me lembro muito bem quando ele teve que usar uma na formatura, ele ficou muito desconfortável e na primeira oportunidade a tirou. Só que agora... Ele parece totalmente confortável.
- Achei que não gostasse de gravatas.
- Isso é passado. Está pronta? - Apenas assenti. - Vamos, te deixo na Angel e depois vou pro escritório.
- Tá.
Fomos até o elevador, depois até o carro. Sem trocar uma palavra.
Quando chegamos na mansão de Angel, ela estava do lado de fora conversando com Aaron, seu irmão mais velho. O cabelo loiro e os olhos claros eram idênticos, assim como o bom gosto para moda.
Me despedi de Kaleb sem muitos rodeios e parti para cumprimentar Aaron, que me abraçou pela cintura e... Senhor, como ele era cheiroso.
- E aí, meu amor, como vai? - Ele fez carinho em minhas costas e olhou para Kaleb durante alguns segundos, escondeu um sorriso. - Você tem estado muito mais bonita durante os últimos tempos. - Ele falou alto.
- Obrigada, Aaron, você também tem estado na sua melhor forma.
Nesse momento ele me puxou para mais perto, com a mão ainda na minha cintura e aproximou seus lábios de seu ouvido.
- Angel me contou o que aconteceu com você e com aquele traste, posso beijá-la agora mesmo e acabar logo com isso.
- Acho que... Mais tarde.
- Mas a graça é ele ver tudo.
- Aaron...
- Sim, meu amor? - Ele se afastou, mas sua pegada ainda era firme.
- Acho que podemos fazer isso. - Um sorriso enorme se abriu nos lábios dele e Angel soltou algum ruído. Ele chegou perto novamente. - Ainda não - disse olhando para o carro que ainda estava parado e acenou para Kaleb.
- Audrey, venha aqui.
A voz dele me puxou de volta. Aaron olhou para mim, estava esperando uma resposta, se ele deveria me soltar ou não. Acenei para ele, que alargou a pegada no mesmo momento, me virei e fui em direção ao carro.
- O que foi aquilo?
- Aquilo o quê? - Perguntei inocentemente.
- Você e o irmão da Angel.
- Somos amigos, normal. - Dei de ombros.
- Amigos não fazem o que ele fez.
Ele visivelmente estava irritado, e eu, me sentindo cada vez mais culpada.
- E o que ele fez?
- É sério, Audrey? - Ele passou a mão pelos cabelos e sorriu de forma psicótica.
- Sim, não entendi o que ele fez de errado. Estávamos apenas conversando.
- Pra conversar ele não precisa ficar com a mão na sua cintura e sussurrar no seu ouvido, podem conversar longe um do outro. - Seu tom de voz aumentou de repente e eu me assustei, mas tentei não demonstrar.
- A gente se conhece a bastante tempo. - Kaleb respirou fundo. - Tipo, desde que eu entrei na faculdade, temos intimidade.
- Intimidade você deve ter comigo, não com ele, que claramente quer te comer!
Agora ele estava gritando. Senti o choro entalar na garganta, mas permaneci firme.
- E qual o problema nisso? - Tentei esconder a voz embargada.
- Audrey, entra no carro! Vou te levar pra casa.
- O que tá acontecendo aqui? - Angel aparece do meu lado e pude sentir o corpo de Aaron se posicionar atrás do meu. - Tá tudo bem, amiga?
- Sim, podemos entrar?
- Claro! Assim você não se atrasa. - Aaron diz.
- Se atrasar para o quê?
Os olhos do ruivo pulam entre eu, Aaron e Angel.
- Não contou pro Kaleb, meu amor?
- Pare de chamar ela assim! E o que você não me contou, Audrey!?
- Opa... - O loiro soprou um sorriso.
- Vão na frente vocês dois, eu já entro - disse para Angel e para Aaron.
- Tem certeza, amiga?
- Tenho.
Como pedi, ambos saíram. Mas Aaron não podia simplesmente sair sem provocar Kaleb. Quando saiu, disse que me esperaria no quarto dele para conversarmos e ele me ajudaria a escolher uma roupa.
- Que filho de uma puta! Eu vou acabar com a raça desse loiro de farmácia! - Kaleb desabotou o cinto.
- Boa sorte tentando.
Ao me ouvir, ele parou o que estava fazendo e raciocinou.
- Já disse para entrar no carro.
- Não vou, vou ficar aqui com Angel.
- O que disse?
- Que não vou.
- Audrey, eu estou falando sério.
- Eu também.
Ele engoliu seco e respirou fundo.
- E... para o que vai se atrasar?
- Nada demais, tem a ver com a faculdade. - A mentira saiu tão fácil que eu mesma me impressionei.
- E aquele filho da puta precisa ir?
- Ele é o acompanhante da Angel.
- Então eu fico e vou com você.
- Não! - Me apressei em dizer. - Quer dizer... Não precisa, não é nada importante.
- Você sabe que eu odeio mentirar, não sabe? Se você estiver mentindo pra mim... - Sua voz ficou sombria.
- Fica tranquilo, não é nada do que você tá pensando.
- Bom que esteja falando a verdade. Agora tenho que ir. Te mando mensagem.
- Tá bom.
Me afastei do carro e Kaleb saiu em alta velocidade. Observei o carro indo embora e respirei fundo antes de entrar na casa.
- Amiga, temos que ir rápido, ou você vai se atrasar e vai pegar muito feio chegar atrasada no primeiro ensaio. Eu e Aaron separamos algumas roupas pra você. Não peguei nada muito chamativo, mas sim mais clean, não queremos passar a imagem errada, também peguei alguns acessórios de ouro para ficar mais sofisticado. Ah e tem o sapato, pensei em um...
- Angel!
- O quê? Não me diz que você já tem roupa. Por favor, Audrey Rose. Eu gastei minha manhã inteira atrás disso aqui pra você, se você falar que...
- Amiga. Calma. Você tá mais ansiosa do que eu. - Ela riu e me tirou um sorriso. - E não, não tenho roupa.
-Ótimo! Tenho o vestido per-fei-to pra você. Ele é de malha e off-white, você vai ficar linda nele! Vem comigo!
Angel me puxou para o seu quarto e começou a me mostrar as combinações que havia escolhido para mim.