APOGEU

By JonFonseca

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A vida de dois jovens universitários e suas trajetórias no destino mudam completamente quando se conhecem ain... More

1 - O CAIR DA MÁSCARA
2 - A QUEBRA DO PACTO
3 - O BANDO DE RENEGADOS
4 - AS SOMBRAS DA NOITE
6 - O DEBUTE NA CORTE
7 - O CONTRATO DE OSSOS
8 - O RÉQUIEM SOTURNO
9 - A MESA HEPTAGONAL
10 - O CANVAS ESCARLATE

5 - OS ECOS DA MORTE

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By JonFonseca

Havia se passado exatamente uma semana desde de que Luan e Luna foram introduzidos oficialmente a Casa Olugbeja. Uma semana desde que eles dois haviam aceitado ficar e passar pelo Rito de Iniciação deles, o qual Luna ao ouvir esse nome inicialmente imaginou que poderia sugerir algum tipo de sacrifício de sangue ou coisa do tipo, mas apenas se baseava basicamente em queimar seus pertences e por fim uma espécie de juramento sobre um conjunto de regras daquela organização. Luan e Luna aos poucos entenderam que havia uma grande comunidade de bruxos em todo o mundo, a enorme maioria mantendo sua identidade em segredo, o que formava o mundo oculto. Aprenderam que expor o mundo oculto era colocar em risco a vida de muitos bruxos e bruxas como eles e que por isso era um crime passível de morte. Haviam outras regras gerais que envolvia toda a comunidade, mas num geral cada clã, convento, casa ou família bruxa tinha suas próprias regras, cultura e tradições.

A Casa Olugbeja era uma casa urbana, nada tradicional, havia sido fundada pela própria Mãe Aziza nos anos 80, seus integrantes quase sempre foram jovens que não tinham um lar. A grande maioria havia crescido em orfanatos sem nunca terem conhecido os pais ou qualquer outro parente biológico, outros até já tinham tido uma família, mas foram expulsos de casa apenas por serem o que eles eram, isso tudo antes de encontrarem aquela nova família.

Toda e qualquer similaridade com uma seita ou culto cheio de coisas bizarras e fanatismo ia sumindo a medida que Luan e Luna se davam conta do enorme senso de coletividade e parceria que os irmãos daquela casa tinham. Eles cozinhavam, meditavam, limpavam, tinham até uma horta no terraço, mas principalmente, eles se protegiam, se cuidavam, se defendiam. Agora Luan e Luna eram parte de tudo aquilo e ainda estavam se acostumando a ideia de que tinham deixado suas vidas para trás. A queima de seus pertences pessoais como carteiras, bolsas, chaves, documentos, celulares e roupas enquanto Mãe Aziza proferia um antigo feitiço cigano para a fogueira faria com que mesmo que seus entes queridos vissem eles em fotos, vídeos ou escutassem suas vozes em uma ligação, eles não os reconheceriam em nome da proteção deles. Não sentiriam saudade, nem luto, nem nada que pudesse os colocar em perigo. A partir daquele momento, Luan e Luna tinham renascido como bruxos e a partir dos juramentos eles dois agora eram Luan Olugbeja e Luna Olugbeja.

Nos dias que se seguiram eles imergiram na rotina da família. Estavam ainda em processo de adaptação de uma nova visão de mundo. Ambos acabaram optando por trancar suas faculdades por que quando se tem acesso aquele tipo de conhecimento o qual haviam sido expostos, como segredos da natureza e do universo, estudar publicidade e jornalismo não fazia mais sentido nenhum. Cada segundo naquele lugar tornava eles dois mais interessados nas relações que existiam entre a filosofia, a magia, as religiões, a arte e a ciência. 

Quando os Olugbeja não estavam trabalhando em prol da casa ou simplesmente trabalhando na investigação a respeito do necromante, eles se dividiam em suas atividades pessoais. Tanto Luan quanto Luna por serem novos ali adquiriram esse habito de passar o tempo imerso nas atividades pessoais que seus novos irmãos tinham enquanto estavam ali, Luna pegava seu caderno e começava a desenhar na companhia de outros que tinham atividades igualmente silenciosas, ajudou Irina com a manutenção e cuidados das ervas na estufa enferrujada que ficava em um dos terraços, acompanhou um treino de artes marciais com armas de Rian e passou uma longa tarde ao lado de Beto enquanto este programava sua própria inteligência artificial em seu computador portátil. Já Luan ficou horas conversando com Verônica e Brenda enquanto elas tentavam decifrar um antigo grimório. Foi nesse meio tempo com elas que Luan pode entender como a magia se manifestava de diferentes jeitos em diferentes coisas, e que feitiços e encantamentos não passavam de intenções transferidas do microcosmo da mente para o macrocosmo da realidade. Luan também acompanhou mais dos esforços de Greta, Joel e Galileu para descobrir quais organizações criminosas estavam ligadas a distribuição de Vapula na cidade e qual a ligação que aquela droga tinha com o serial killer.

Aos poucos ambos estavam descobrindo os mistérios e segredos daquele lugar. Aquele enorme apartamento, uma cobertura duplex no centro da cidade que visto de longe seria só uma propriedade de uma antiga e rica família paulistana, mas que na verdade era o lar de uma família adotiva de bruxos que combatiam o mal na noite escura de São Paulo. Em uma dessas noites, Luna ainda estava perturbada com a sensação constante de que algo naquele momento em que viu o homem saindo das sombras havia conseguido olhar tão fundo dentro dela a ponto de quase a invadir. Aquilo tirava seu sono e a fazia se revirar várias e várias vezes na cama que os demais tinham colocado especialmente para ela no quarto cheio de livros e cristais de Verônica e Brenda. Ela se levantou e partiu em direção a cozinha com o objetivo de buscar um copo d'água antes de se decidir se subir para o terraço e fumar um cigarro sem antes pegar um casaco era uma boa ideia, afinal o topo daquele prédio poderia a congelar naquela hora da noite. Foi nesse mesmo instante que viu uma figura se esgueirar silenciosamente pelos corredores da propriedade, Luna ficou em silêncio e imóvel para que não fosse notada. Logo ela conseguiu ver quem era: Rian. Estava com o mesmo semblante que era uma mistura de tristeza e raiva e parecia usar seus pijamas. Rian era forte, sua pele era do mesmo tom de Mãe Aziza, seus cabelos loiros eram formados por várias tranças raiz que partiam do topo de sua testa até pequenos rabinhos em sua nuca. Os olhos eram negros e pareciam cansados.

Luna que havia acompanhado seu extensivo treino de artes marciais sabia que o garoto não era muito de falar, mas era dedicado, concentrado. Era definitivamente um guerreiro, e ousava dizer que era o líder daquele grupo mesmo não sendo o mais velho. A forma como ele tinha a habilidade mágica de transformar a superfície de sua pele em ouro puro transformava seus dedos, mão e braços em uma arma extremamente afiada e letal. Mas lá estava ele, tarde da noite caminhando de forma discreta pela sala. Luna espremeu seus olhos para ver o que ele estava fazendo para estar aquela hora da noite encarando a porta de entrada fechada do apartamento por dentro.

- Eu sei que está aí - disse ele rapidamente, sem tirar o olhar daquela enorme porta branca que dava entrada e saída a propriedade. 

Luna imediatamente fingiu que não estava tentando espionar e abandonou seu modo furtivo. Caminhou lentamente até ele.

- O que está fazendo? - Se aproximou usando aquele tom de voz surpreendentemente agudo.

- Quer ver uma coisa legal? - Perguntou Rian ainda sem olhar a menina de cabelos escuros ainda bagunçados.

Ele não esperou muito por uma resposta e logo inseriu no buraco da fechadura o que parecia ser uma chave grande, antiga e dourada presa no que parecia ser uma corrente fina e brilhante. Rian abriu a porta e então justamente no momento em que Luna esperava ver o corredor do prédio que levava aquela porta, ela viu o interior de uma enorme sala, com luz, cheiro, tamanho e cor diferentes. Luna não era muito experiente, mas tinha a certeza que aquilo era magia. O chão era de mármore creme, o pé direito daquele lugar era muito mais alto do que o corredor do prédio, havia uma iluminação mais amarelada e sutil proveniente de enormes lustres pendurados ao lado de enormes esqueletos de criaturas que Luna nem ousava tentar adivinhar quais eram. Rian partiu em frente e Luna foi logo atrás dele dando uma última olhada para a sala do apartamento. Rian fechou a porta atrás dos dois, eles já estavam naquele outro ambiente que parecia ser uma sala de museu. Repleto de enormes estantes, prateleiras, pedestais e expositores que sustentavam inúmeras e diferentes peças que Luna imediatamente suspeitou serem objetos e relíquias mágicas. Enquanto caminhava ela via uma relíquia hindu chamada Vajra, e mais a frente um conjunto de runas celtas. Sua imaginação fluiu enquanto ela pensava que por trás de cada um daqueles objetos havia uma aventura, uma história.

- Onde estamos? - Perguntou ela ainda boquiaberta com o que estava diante dos seus olhos.

- É aqui que guardamos tudo, de perigosamente amaldiçoado até perigosamente valioso...

- Legal - disse Luna simples. - É tipo aquele quarto dos Warren, que tem a Annabelle.

Rian apenas fez uma careta.

- Sei lá, só não encosta em nada tá? - E sumiu entrando em um corredor formado pelo espaço entre duas enormes estantes repletas de domos de vidro que protegiam pedras pequenas e brilhantes que Luna não sabia dizer muito bem o que poderiam ser ou o que faziam.

Ela caminhou por aqueles corredores por mais um minuto chegando até uma parte mais macabra onde havia o que parecia ser animais e criaturas empalhadas. Foi naquele momento em que Luna descobriu que fadas, lobisomens e chupa-cabras eram coisas reais. Seu momento exploratório foi rapidamente cortado quando Rian surgiu de repente e silenciosamente ao seu lado a chamando para irem embora. Ele a conduziu novamente até a porta, que daquele lado era de madeira escura e envernizada, com detalhes diferentes da porta branca do apartamento. Rian usou novamente aquela chave dourada e então Luna pode perceber que havia um anel feito de osso em sua mão direita que não estava ali a poucos instantes. Ele abriu a porta que dava novamente para a sala exatamente como quando se passava pela entrada do apartamento e então gesticulou para que Luna passasse primeiro. Ela passou, ele passou em seguida, trancou a porta e então deu as costas para ela soltando apenas um "boa noite". 

- Boa noite - ela respondeu.

- Não conte nada disso pra ninguém, ok?

Luna voltou para seu quarto e finalmente conseguiu dormir. Mas por mais que ela e Luan conseguissem se livrar de todos os milhares de pensamentos que giravam em suas mentes e finalmente caíssem no sono, ainda não estavam totalmente livres de serem abatidos por aquela nova realidade ás vezes acolhedora, ás vezes aterrorizante. Em algum momento da noite aquele estranho fenômeno havia acontecido mais uma vez, talvez a terceira ou a quarta vez naquela semana. Havia um momento em que seus sonhos se sintonizavam, os de Luna e os de Luan, tais sonhos eram desformes, as vezes apenas vozes e sons indescritíveis, coisas que não sabiam muito bem compreender. A verdade é que dormindo separados eles não faziam ideia de que estavam tendo os mesmos sonhos e muitas das vezes eles acabam esquecendo-se. Mal sabiam o que estava acontecendo em suas vidas, muito menos o que estava acontecendo em seus sonhos, embora tivessem a certeza que estavam com graves problemas para dormir. Sonhos incompreensíveis que se misturavam aos pensamentos ainda acordados de uma mente com insônia. Tudo se misturava e não parecia nem de perto com aquela experiência de sonho conjunto que haviam tido no dia que acordaram naquele lugar. 

Como num piscar de olhos a realidade se fez em torno deles e antes mesmo de abrirem seus olhos podiam sentir o frio em suas nucas. Luan e Luna agora estavam parados em pé, um ao lado do outro, estavam com as roupas com que tinham ido dormir naquela noite, mas não estavam em um lugar nem um pouco familiar. Não estava absolutamente escuro, parecia que estavam durante o crepúsculo, o céu estava vermelho e os prédios espelhados que haviam em volta refletiam esse tom sangrento. Novamente não precisaram se olhar para sentir a presença um do outro. O que chamava mais atenção ali era a faixada daquele prédio preto com o número sete três vezes em sequência feitos em metal cromado, os três números fixados no mármore escuro daquela entrada obscura. Seus pés descalços estavam encostando em algo pegajoso e quente, era sangue. Eles olharam para trás e viram uma enorme quantidade de corpos estendidos em meio a fogo e destruição. No meio da rua mais a frente e posicionado de lado em meio aquele mar de cadáveres estava um cavalo dourado e sobre ele a figura de um homem nu que os olhava com os olhos absolutamente negros. Os dois estavam congelados, não conseguiam falar, nem se mexer e nem mesmo fechar os olhos. Tudo que conseguiam fazer era deixar aquela visão continuar a se fixar em suas mentes. Tudo era real demais, os corpos, os rostos de pessoas que eles não conheciam, as roupas, o sangue, a Avenida Paulista. Eles acordaram sincronizadamente de suas camas, Luna no quarto que dividia com Brenda e Verônica e Luan no quarto que agora dividia com Beto e Joel. Estavam ofegantes e confusos, mas fizeram questão de não acordarem seus amigos. Se levantaram de suas camas quase que automaticamente e acabaram se encontrando no corredor quase como se soubessem que aquilo iria acontecer.

Quando se olharam pela primeira vez naquele corredor escuro com as luzes apagadas não sentiram necessidade de falar nada apenas se aproximaram um do outro e nesse caminho foram surpreendidos por um som vindo da sala. Parecia o som da porta de vidro que separava a sala de estar da varanda, alguém tinha acabado de abri-la.  Ambos foram cautelosamente até lá, não havia nenhuma luz, abajur ou vela acesa. Toda e qualquer luz que entrava ali era a da cidade que entrava junto de um vento gélido que balançava as cortinas. Luan e Luna não viram ninguém, a sala estava completamente vazia. Eles caminharam até a varanda, lenta e silenciosamente até sentirem uma sensação perfurante em suas espinhas. Com os pés no teto e olhando para eles havia uma figura semelhante a um humano, porém com membros superiores longos e pele brilhante como vinil, tinha dedos longos como garras e estava absolutamente imóvel de frente para a entrada do apartamento, a mesma porta que Luna tinha visto se transformar em uma travessia mágica ainda naquela noite. Seus olhos eram círculos brancos, não tinha boca nem nariz. 

- Vocês vão morrer essa noite - disse com uma voz seca pouco antes de gargalhar, era quase como se aquela coisa não tivesse dito aquilo por meio de uma língua, parecia que sua linguagem era o medo. 

- Fiquem juntos - disse a voz de Mãe Aziza que estava parada na varanda, ela estalou os dedos e fez a coisa ficar presa em chamas no teto enquanto agonizava. Dessa vez por fim, Luan e Luna acordaram de verdade, estava despertos. Porém exaustos e com medo do que encontrariam se levantassem de suas camas. Estavam com medo, mas logo o medo passou, sentiam novamente a sensação de segurança que aquele lugar provia, acabaram dormindo.

Na manhã seguinte, no café da manhã quando todos estavam na mesa, tanto Luna quanto Luan estavam dispostos, por algum motivo tinham conseguido dormir bem por mais que soubessem que tivessem tido um pesadelo. Luna ao olhar Rian sentiu que o que quer que ele tivesse pegado daquele misterioso e fascinante lugar, talvez realmente apenas ela soubesse. Ele estava agindo em seu normal e aquele anel de osso não estava mais em sua mão. 

- Você dormiu bem? - Perguntou Luan para Luna, ele não sabia se ela tinha tido aqueles sonhos.

Ela ainda fitava Rian no outro lado da mesa que tomava seu suco pouco antes de seus olhares se cruzarem muito rapidamente.

- Definitivamente não - disse ela voltando os olhares para Luan como se implorasse silenciosamente para que ele dissesse que ela não está louca.

- É... Eu tive um pesadelo - respondeu Luan colocando uma garfada cheia de ovos mexidos em sua boca.

- Eu reparei. Minha mente estava captando uma certa ansiedade e um certo medo vindo do seu lado do quarto... -  comentou Joel.

- Você ficou lendo a mente do garoto enquanto ele dormia, credo Joel, que coisa feia! - Disse Greta sorridente dizendo aquilo apenas para provocação.

- Eu não entrei na mente dele, as emoções estavam tão intensas que eu conseguiria captar até mais de longe... Aliás vocês dois quando estão juntos, tudo se intensifica, as vezes parece que vocês sentem parecido... - completou Joel. - Aquele dia que estavam tendo o mesmo sonho, foi a primeira vez que senti algo assim, eu não sabia muito bem o que era mas... Agora acho que é isso.

- Faz sentido, Joel. Bom dia a todos - disse Mãe Aziza sentando-se na cabeceira da mesa ainda vestida com um robe preto de cetim.

- Bom dia - todos disseram em coro.

- Sonhos conjuntos, insônia conjunta, precisamos ajudá-los com isso... Eu também nunca vi nada assim - Observou Verônica.

- Vocês tiveram o mesmo pesadelo de novo? - Perguntou Joel. 

Ambos engoliram a seco.

- Ei, vocês são parte da família agora, podem nos contar tudo - disse Greta carinhosa.

- Acredito que seja apenas uma fase. Luan e Luna passaram por um evento traumático. De fato não sabemos muito sobre suas conexões com a magia, mas vocês não precisam se preocupar com isso agora. Aliás, eu acho que vocês deveriam aproveitar que hoje é sexta e saírem juntos, mostrar algum lugar incrível e inesquecível para Luan e Luna... O que acham? - Perguntou Mãe Aziza pouco antes de fechar seus olhos por dois segundos. 

A mudança de assunto abrupta fez os demais na mesa permanecerem em silêncio. Rian quebrou o gelo.

- Pai Okanjuwa vai dar um baile hoje, estava pensando em ir - disse ele sem tirar seus olhos da comida.

Irina, Greta, Brenda e Verônica fizeram a mesma careta ao mesmo tempo.

- Não é você que odeia a Casa Okanjuwa? - Perguntou Beto.

- Eu não aprovo os métodos deles, aliás, nós não aprovamos... Mas eles são realmente bons de fazerem festas, certo? - Completou Rian.

Luan reparou que Brenda continuou com a careta.

- Excelente! - Disse Mãe Aziza entusiasmada. Estava um tanto mais pálida e abatida, ela fez novamente uma pausa e quando isso aconteceu, seus olhos se fecharam e todos na sala conseguiram notar que sua mão estava tremendo. Ela abriu os olhos novamente e voltou a sorrir como se nada tivesse acontecido. - Eu acho que é disso que vocês precisam, se divertir! Afinal de contas é tão bom vê-los assim, juntos.

- É talvez seja uma boa ideia, quem sabe eu não encontro o Caleb - disse Joel suspirando.

Um novo silêncio aconteceu, esse era mais cômico e menos tenso. Luna sentiu alguns olhos revirarem e Luan ouviu Brenda bufar.

- Quem é Caleb? - Questionou Luna.

- É uma longa história... - disse Joel.

- Uma história que você não vai querer saber, acredite Luna - disse Galileu.

- Resumindo, Caleb Okanjuwa é um boy lixo - dizia Greta.

Enquanto essa conversa acontecia, Irina se levantou da mesa, foi até a sala ao lado e voltou com uma caixa na mão que parecia uma caixa de guardar charutos, tirou lá de dentro uma folha seca de árvore que ela pousou na palma de sua mão e então colocou nas costas de Mãe Aziza, tudo isso enquanto a líder daquela família continuava a falar. Os demais continuavam conversando e rindo sem ligar para nada daquilo, mas Luan e Luna não conseguiram deixar de notar.

Era bastante evidente que Mãe Aziza estava doente, mas por algum motivo ninguém ali comentava sobre isso. Luan e Luna tinham vergonha de perguntar, mas os demais, era como se não quisessem tocar no assunto. Tanto Luna quanto Luan conheciam Mãe Aziza a apenas alguns dias, e ainda assim tiveram muito pouco tempo com ela. Ela parecia ser uma mulher extremamente forte e jovial, e de fato era, pelo menos para sua idade. Mãe Aziza chegou em São Paulo no início da década de 1980 com pouco menos de 18 anos, isso fazia dela uma mulher de quase 60 anos. Seu rosto mal tinha rugas, sua pele brilhava, sua voz era elegante e sua postura extremamente firme como a de uma verdadeira rainha. 

- Fico muito feliz que finalmente esteja se envolvendo com os bailes, mesmo que seja os da Casa Okanjuwa... Acho que todos deveriam ir... - Dizia Mãe Aziza agora que parecia mais aliviada. - Coloquem roupas caras e causem impacto... Está na hora daqueles chatos lembrarem que a Casa Olugbeja não é só poder, é também opulência.

- Tá aí... Eu gostei da ideia - disse Galileu provavelmente fingindo ignorar o agravamento do estado de saúde de Mãe Aziza.

- Pois então está combinado! Quem sabe eu não apresente essa noite lá? - Disse Greta animada.

- Seria formidável Greta, faz tempo que não a ouço cantar - disse Mãe Aziza feliz e sorridente. - Luan e Luna, eu sei que os últimos dias podem ter sido difíceis e que nossa realidade é por muitas vezes dura, mas eu queria que hoje pudessem esquecer de tudo um pouco e se divertirem. Esses momentos são importantes para florescermos como uma comunidade mais unida e forte. E vai que de quebra vocês não encontram alguém legal por lá...

Eles assentiram e sorriram ao mesmo tempo.

- Assim... - começou Beto - Sem querer ser chato é que a gente meio que queimou todas as roupas deles e agora queremos que eles vão num baile dos Okanjuwa...

- Muito bem observado Senhor Beto Olugbeja - disse Galileu se levantando da mesa e analisando Luan e Luna com um olhar técnico. - Temos uma emergência fashion aqui!

- Você está sugerindo o que eu estou pensando, Galileu? - Disse Brenda absolutamente entusiasmada.

- Um makeover! - Disse Joel também animado enquanto Galileu assentia com um sorriso quase infantil em seu rosto.

Todos imediatamente começaram um burburinho de ideias de tinham para looks, penteados, acessórios e coisas que queriam que os dois novatos vestissem naquela noite. Eles dois estavam envergonhados, mas também animados para saberem quais roupas aquela tropa de pelo menos seis stylists escolheriam para eles dois. Mas na verdade o grande temor que sentiam era em relação aquele baile que eles não tinham muita opção de não ir. De certa forma seria o momento em que Luna Olugbeja e Luan Olugbeja debutariam para a sociedade bruxa paulistana. Estavam curiosos e ao mesmo tempo receosos por não saberem muito bem como se portar, mas sabiam de uma coisa: aquela noite prometia. Enquanto apenas sorriam em meio as discussões de moda que envolvia os dois, tanto Luna quanto Luan olharam para Mãe Aziza rapidamente, ela estava sorrindo com uma xícara de café em uma das mãos e acabou piscando um de seus olhos para os dois. 

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