6 - O DEBUTE NA CORTE

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Por fim se fez noite e era como se toda a atmosfera da cidade soubesse exatamente como se comportar para aquela ocasião. Uma neblina misteriosa estava recaída por toda e qualquer rua do centro enquanto chegava o momento de Luan e Luna serem introduzidos como os novos membros da Casa Olugbeja perante a comunidade do mundo oculto. A ansiedade que sentiam era uma mistura de frio na barriga e um denso e nebuloso medo que poluía suas mentes com os pensamentos mais desconcertados possíveis. Eles eram novatos ali e era difícil ser um novato em qualquer lugar que fosse. Isso sem falar na longa lista de mistérios envolvendo os dois que até aquele momento, ambos não tinham nem ideia de como começar a explicar. 

Enquanto vários deles se esforçavam, ou melhor, quase brigavam para impor suas visões artísticas a respeito do visual, a melhor roupa, penteado e maquiagem para os dois, tanto Luna quanto Luan Olugbeja conseguiram aproveitar parte daquele momento em que eram o foco da atenção para fazer algumas perguntas aos demais. O alvo estratégico dos dois na maioria das outras oportunidades para essa tal enxurrada de questionamentos que lhes abatiam normalmente era Galileu, que responderia até mesmo o que ele não deveria responder. No entanto, com os preparativos para o baile, o grupo estava separado e os dois precisaram encontrar novos meios de responder aquelas questões que cutucavam suas mentes. Luna já tinha entendido que se fizesse uma pergunta disfarçada de elogio, ela por sua vez conseguia absorver excelentes informações sobre aquela realidade que se apresentava aos poucos para ela. Foi assim que soube a respeito de vários detalhes daquela sociedade secreta para o qual estavam prestes a debutar.

Enquanto Galileu, Joel, Beto e Rian contribuíam com a produção de Luan, Luna era produzida por Irina e as outras meninas num dos outros quartos. A faziam experimentar várias peças de roupa, fizeram sua maquiagem, e conversa vai, conversa vem, Luna Olugbeja descobria que a noite paulistana, aquele submundo oculto que se estendia por toda a metrópole era uma espécie de reino. Dentre uma enorme quantidade de clãs, conventos, famílias e casas formados por bruxos e feiticeiros, o domínio político e territorial sempre esteve na mão de sete organizações, desde os anos 60. Eram cinco casas: os Bevilacqua que são de origem italiana, os Yamaguchi que são de origem japonesa, os Okanjuwa que são de origem iorubá, os Da Veiga que são de uma antiga linhagem de bruxas portuguesas que foram mandadas para o Brasil na época colonial e os Olugbeja que tinham pouquíssima tradição. Havia também os Tamoio que descendem dos bruxos nativos que viviam ali antes da colonização e por fim a Ordem, uma organização mundial e secreta de feiticeiros sem sangue bruxo que se apropriavam e corrompiam a magia natural. 

Embora cada uma dessas organizações tivesse algum domínio sobre seus territórios e os que juravam fidelidade a eles, havia apenas um Rei ou Rainha da Noite. Era o bruxo ou bruxa mais poderoso de todos que detinha o maior poder, controle e autoridade sobre o mundo oculto. Mãe Aziza era a atual Rainha da Noite que junto dos chefes de cada uma dessas organizações com exceção da Ordem e dos Tamoio formava o Conclave das Cinco Casas. 

- E como ela se tornou rainha? - Perguntou Luna sem nem pensar duas vezes.

- Na minha cabeça ela sempre foi - disse Irina já absolutamente produzida. Seus cachos crespos meio ruivos meio loiros pareciam brilhar junto com seus olhos que pareciam mais duas gemas de quartzo verde. - Sério, eu acho que ela nasceu pra isso...

- O que a Irina está querendo dizer é que é muito improvável que exista uma bruxa tão poderosa como Mãe Aziza - disse Verônica sentada de frente enquanto Irina terminava seus babyhairs e se preparava para mais uma sessão de laquê no penteado molhado, brilhante e ondulado que ela finalizava em Luna.

- É assim: quando um novo bruxo, bruxa ou bruxe surge e seu elo mágico é tão grande que chama a atenção do Conclave, essa pessoa é treinada e estudada pelos mestres das casas. - Explicou Greta. Greta era uma das três ruivas, esse o tom mais escuro dos três, quase vermelho sangue. Estava em pé observando a conversa enquanto terminava de finalizar seu cabelo ondulado. Sua pele branca como a neve brilhava refletindo partículas de purpurina prateada em seus ombros e decote. - Normalmente quando é comprovado que aquele elo mágico é mais ou tão poderoso quanto o do atual Rei ou Rainha, essa pessoa se torna a primeira na linha de sucessão da coroa, claro, apenas se ela se aliar a uma das casas.

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