Psicose (Livro I)

By andiiep

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Melissa Parker é uma psiquiatra recém-formada que encontra seu primeiro emprego em um manicômio judiciário. E... More

Aviso Inicial
Prólogo
Um - St. Marcus Institute
Dois - A holandesa de Cambridge
Três - Inesperado
Quatro - Sutura
Cinco - Insônia
Seis - Happy Hour
Sete - Progresso
Oito - Passado
Nove - Proximidade
Dez - Embriaguez Acidental
Onze - Hormônios!
Doze - Corey vs Brian
Treze - Fotografia
Quatorze - Helvete
Quinze - Perigo
Dezesseis - Triângulo
Dezessete - Sobrenatural
Dezoito - Confusão
Dezenove - Corey vs Brian (parte 2)
Vinte - O plano mirabolante de Corey Sanders
Vinte e Um - Render-se
Vinte e Dois - Bipolaridade
Vinte e Três - Mensagem Sobrenatural
Vinte e Cinco - O inferno converte-se em paraíso
Vinte e Seis - Não Há Compaixão Com a Morte
Vinte e sete - Quebra-Cabeças
Vinte e Oito - O Passado Condena
Vinte e Nove - REDRUM
Trinta - Veritas Vos Liberabit
Trinta e Um - Plano de Fuga
Trinta e Dois - Luxúria
Trinta e Três - Preparação
Trinta e Quatro - Vai Dar Tudo Certo!
Trinta e Cinco - Um Sonho de Liberdade
Trinta e Seis - Scotland Yard
Trinta e Sete - Reencontro
Trinta e Oito - Vigilância Constante
Trinta e Nove - Corpo e Alma
Quarenta - Encontros e Desencontros
Quarenta e Um - Armadilha
Quarenta e Dois - Salvação?
Quarenta e Três - Tentativa e Erro
Quarenta e Quatro - O Infeliz Retorno
Quarenta e Cinco - Do Pó Vieste...
Epílogo
AUTO MERCHAN

Vinte e Quatro - Intimidade

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By andiiep


O coração batia tão forte e acelerado contra as costelas de Melissa, que lhe passava uma intensa e quase real sensação de dor. Dor de ansiedade, que deixava seu peito cheio de algo que queimava, como se por aquela região corresse ácido, em lugar de seu sangue. Ou talvez fosse seu fluido vital fervendo verdadeiramente. Toda aquela reação urgente que beirava o desespero só lhe dava a simples e crucial impressão de que estava viva. O ar que lhe entrava pelas narinas e chegava aos pulmões nunca lhe pareceu tão necessário. Era ele. Era por causa dele que seu organismo encontrava-se tão ridiculamente agitado. Era por causa dele que seu psicológico encontrava-se tão desequilibrado. Era por causa dele que se sentia viva. E, a esta altura, concluiu que não havia nada que pudesse fazer para evitar. Já estava perdida. E talvez não houvesse mais um jeito de se achar.

As mãos suavam e Melissa não conseguia parar de remexer os dedos entre os fios de cabelo. Queria evitar pensar que tentava melhorar o visual relaxado de um dia de trabalho. Suas intenções não deveriam voltar-se para o simples deleite de Corey Sanders, e mais uma vez, via-se sem alternativas para contornar tal situação. A julgar pelo acontecido do dia anterior, não deveria jamais, sob qualquer hipótese, permitir-se vê-lo em circunstâncias distintas das obrigatórias consultas – sob a supervisão do guarda brutamontes, de preferência.

Talvez fosse mais sensato pedir ao doutor Thompson que o mudasse de médico mais uma vez, e dessa que fosse definitiva. Seguindo aquela ideia de que nada que estivesse nascendo entre eles, poderia continuar, porque era... Proibido. No entanto, qualquer vestígio de sensatez perdeu-se quando seus lábios tocaram os macios e cheios dele pela primeira vez. E o proibido, o perigoso, tornou-se atraente demais, não conseguia fugir. Agora Melissa era refém do lado irracional de sua consciência, o que era de maneira imprudente dominado pela libido, enganado pelas sensações de intenso prazer e frio na barriga que aquele misterioso prisioneiro era mestre em provocá-la.

Então mesmo que tentasse, Melissa não seria capaz de impedir os passos lentos e incertos que a levavam na direção do helvete. Não era forte o bastante para tanto. E algo lá no fundo dizia-lhe em uma voz irritante que não queria realmente fugir. Melissa, em uma falsa ingenuidade, tentava obrigava a si mesma a acreditar que Corey Sanders queria apenas conversar. Contudo, sabia também, lá no fundo, que nenhuma das atitudes dele eram tomadas de inocência. Talvez fosse esse o maior motivo do frio na barriga, da ansiedade, das mãos suando, do coração batendo rápido como se fosse sair pela boca...

Corey Sanders não era inocente quando se tratava de Melissa.

Tudo nele inspirava segundas, terceiras e quartas intenções, e esse fator a deixava com frequência de pernas bambas.

A entrada sombria do helvete materializou-se à frente de Melissa, erguendo-se das entranhas da grama fofa e verde do jardim do St. Marcus. Viu sua mente vacilar quando se deu conta de que chegara ao seu destino. O ar ao redor daquele imponentemente assustador edifício era pesado de forma tão natural, que chegava a ser irônica.

Cinco guardas comparáveis ao armário em seu quarto observavam-na atentos e ameaçadores do alto da escada de pedra envelhecida coberta de musgo. Os pesados rifles eram seguros com firmeza nas mãos. Melissa só tinha estado no helvete uma única vez, porém se lembrava com clareza da sensação de carregar um piano nas costas a cada passo que dava e se aprofundava mais entre suas paredes imundas cuidadas.

— Doutora Parker. — cumprimentou com um aceno de cabeça Pete, o carcereiro chefe.

— Boa tarde, Pete.

— Sanders a aguarda. — informou, chamando-a.

Melissa seguiu Pete pelos corredores compridos, largos, que pareciam não ter fim.

Os prisioneiros nas celas agitavam-se ao vê-la passar. Alguns manifestavam-se com palavras do nível que Jhonnatan Reagan seria capaz de proferir. Outros continuavam com seus atos metodicamente lunáticos. E poucos a observavam em silêncio, com curiosidade e atenção. Não demorou muito para que chegassem à cela com o número treze pintado em branco na porta negra.

— Fique à vontade... –— foi o que Pete disse, sorrindo de soslaio.

O olhar de quem sabia o que ela fez no encontro passado era cruel. Tão somente contribuía para seu martírio interior, para a voz da razão que dizia que ela deveria dar meia volta e ir embora dali. Não só do helvete, mas do St. Marcus, de Winchelsea, talvez até mesmo da Inglaterra.

Pete apertou o botão vermelho ao lado da porta da cela de Corey Sanders, trazendo Melissa de volta à realidade. Quando a porta destravou, revelou o interior do que pareceu à doutora um pequeno, porém aconchegante, quarto de hotel.

Já que estava ali, não hesitou por muito tempo. Entrou a passos decididos, pronta para enfrentar Sanders em qualquer que fosse sua intenção.

De imediato constatou que aquela cela diferia completamente das demais. As paredes eram brancas e limpas. Uma cama de solteiro estava encostada na parede à direita. A colcha azul estava desarrumada. À sua esquerda, havia um armário maior do que o que ela própria dispunha em seu quarto. Uma escrivaninha estava na parede oposta à janela protegida por barras de ferro da grossura de seu braço.

A segunda coisa que Melissa constatou, foi que não havia ninguém por perto. Constatação derrubada por chão quando, ao virar-se na direção de Pete, para avisar que o prisioneiro não estava ali, a porta fechou numa lentidão que não lhe pareceu real. O corredor escuro e imundo do helvete foi desaparecendo aos poucos. O fato de que estava trancada em uma cela do helvete foi anunciado pelo baque metálico da porta. O cheiro de podridão e sangue deu lugar ao perfume amadeirado que lhe impregnara de forma tal no dia anterior, que não houve banho que lhe livrasse dele.

Melissa fechou os olhos e inalou aquela fragrância como se dela dependesse, como se a ela fosse presa por um vício. Esse momento absurdo de distração durou muito pouco, entretanto. Apenas os poucos milésimos de segundos que sua consciência levou para se dar conta de que estava presa em uma cela do helvete. Com um prisioneiro que era anunciado antecipadamente por seu perfume e pelo calor que já começava a percorrer o corpo de Melissa.

Ela hesitou, mordendo o lábio inferior com uma força além da necessária. Em seguida, respirou fundo e deu o passo ao lado que a permitiria virar para trás. Encontrou quem esperava encostado na parede ao lado da porta, o braço ainda esticado pelo movimento que fez para trancá-los ali. O sorriso sarcástico que lhe era peculiar era tomado inteiramente de malícia.

Melissa estremeceu.

E pensou perder um pouco o controle sobre as pernas, quando seu olhar recaiu sobre os olhos azuis dele, que brilhavam exalando a ânsia, a luxúria de suas intenções.

Não haveria conversa alguma ali.

Não se ele pudesse evitar.

Para não perder a pose, para fingir para si mesma que estava no comando, que não se deixaria ser seduzida mais uma vez por Corey Sanders, estufou o peito, ergueu o queixo e preparou sua voz mais firme para perguntar:

— O que você quer, Sanders?

Falar o nome dele causou-lhe um burburinho interior. Era gostoso e assustador ao mesmo tempo.

Sanders cruzou os braços e pendeu a cabeça levemente para o lado, antes de responder. Seu timbre soou mais provocativo do que todas as suas atitudes mal intencionadas haviam soado até ali.

— O mesmo que você, doutora. — a sobrancelha esquerda dele arqueou quando ao final da frase abriu outro sorriso malicioso, que repuxou o canto de seus lábios.

A doutora mal podia acreditar que ele tivera coragem de chamá-la ali para aquilo, que tivera coragem de pensar que aconteceria mais uma vez, que seria frequente sua fraqueza, sua óbvia falta de profissionalismo, seu reprovável desvio de personalidade.

— Não tenho tempo para os seus joguinhos de sedução baratos. — Melissa adotou uma postura firme, que esperou ser convincente o bastante. Ela mesma precisava disso, porque sabia que sozinha não seria forte o bastante para fugir dali, apesar de todos os pesares. — Estou em horário de trabalho e tenho certeza de que há muitos outros pacientes precisando de mim, enquanto você está me fazendo perder tempo aqui, e...

— Joguinhos de sedução baratos? – Sanders a interrompeu.

— Sim... Baratos!

Melissa cruzou os braços, ainda de queixo erguido, e ele, por sua vez, riu.

— Se minhas técnicas de sedução fossem tão baratas, teria caído em todas elas?

Melissa engoliu em seco, visivelmente desconcertada. Tinha que admitir que ele era muito bom no que fazia. Isso era frustrante e ao mesmo tempo irritantemente sexy, embora fosse algo que jamais admitiria em voz alta.

— Meus Deus, que arrogância! — sua risada foi irônica — Nem sei o que faço aqui, de verdade.

— Não vou dizer o que faz aqui, doutora, porque minha sinceridade constantemente é confundida com arrogância.

— Porque você sempre acha que tudo que faço tem a ver com você.

— E dessa vez não tem? — o sorriso dele tornou-se espertinho.

Melissa deu um tapa na própria testa, infeliz com a inconstância de sua mente. Estava completamente perdida, não havia dúvidas quanto a isso. Mas a pior parte era que não sabia como se achar, e Corey Sanders era capaz de fazê-la perder-se ainda mais.

— Só tenho uma certeza quanto a você, Sanders: nem Freud explica a situação em que me coloca.

Ele riu outra vez, mas dessa porque achou engraçado, nada de arrogância.

— Eu consigo explicar de uma forma muito simples, e nem preciso de Freud para isso.

— Não vou perguntar.

— Eu sei que você quer. — Sanders continuou com seu semblante divertido.

— Se eu perguntar, vai me contar o que quer comigo e me deixar ir embora?

— Tenho a impressão de que assim que falar, você vai querer ficar. — ele piscou.

— Menos arrogância, Sanders.

— Desculpe. — ele assentiu. — Você está livre para decidir se vai ou se fica. Mas eu sei que vai ficar.

Melissa soltou outra risada irônica, e então perguntou:

— Tudo bem, como chama o que faz comigo?

— São várias denominações, doutora... Louca de desejo, com os hormônios à flor da pele, sedenta por sexo, talvez? Certamente. E tudo isso porque, inexplicavelmente, ainda que não queira, você gosta de mim. E está tudo bem, porque a recíproca é verdadeira. Não acho que deveríamos ignorar algo tão significativo.

Mais uma risada irônica, dessa vez mais alta que as outras, fez-se ouvir na cela. Melissa sabia que estava sendo malvada, mas, naquele momento, foi o meio que encontrou para blindar-se contra a poderosa aura de sedução que Sanders já estava empregando ao seu redor.

— Não seja tão cruel comigo, doutora, assim você parte meu coração.

Melissa cerrou os olhos, analisando-o clinicamente.

— Seu coração é de pedra, está imune a qualquer tentativa minha de fazê-lo se partir.

Sanders balançou a cabeça em negação, cruzou os braços e encostou-se na porta da cela. Sua pose, ainda que simplória, pareceu-lhe tão sedutora, que Melissa levou um instante para se recuperar do pequeno salto que seu coração deu.

— Ele era de pedra. Mas uma encantadora psiquiatra de olhos acinzentados resolveu aparecer e o transformou em gelatina.

Melissa apertou os olhos com as mãos, então os cabelos.

— Minha nossa, isso é tão inapropriado, que nem sei o que fazer.

— Você sabe o que fazer, doutora.

— Tem razão, eu sei, mas meu corpo quer muito fazer o que não é correto. — a doutora riu de nervoso, por falta de outra reação que combinasse melhor com o momento.

A presença dele a atormentava de tal maneira, que ficava sambando em uma corda-bamba suspensa sobre um tanque de jacarés. Ela ia cair, sabia, embora lutasse com todas as forças para manter-se equilibrada.

— Doutora, nós já provamos que não é correto, mas é gostoso. Muito gostoso. Eu não vou contar para ninguém, e se você não contar também, será nosso segredinho sujo.

— Não acredito que me chamou aqui porque quer transar comigo. E eu vim! Seu atrevimento é tanto, que nem sei se consigo ficar irritada!

— Claro que não consegue ficar irritada, doutora! Você adora! Porque não é motivo para irritação, é motivo para outra coisa... Além do mais, não a chamei aqui porque "quero transar com você". A verdade é que eu descobri que não consigo ficar muito mais tempo longe de você, nossa próxima consulta pareceu tão distante...

Melissa engoliu em seco, de repente suas mãos estavam trêmulas, suas pernas não queriam mais obedece-la. O turbilhão de sentimentos era tão grande, que doía fisicamente. Ela queria gritar, para ver se aliviava, só um pouquinho... Só um pouquinho de discernimento, era tudo o que ela pedia.

— Não importa se nenhum de nós contar, eu ainda serei a pior psiquiatra da história. Terei jogado no lixo meu diploma, o orgulho que meus pais têm de mim. Tudo por... — Melissa parou antes que dissesse algo de que pudesse arrepender-se depois.

Corey foi direto.

— Por um merda de um condenado à prisão perpétua que matou a namorada. — ele abriu um sorriso triste — É, eu sei que não tenho muito a oferecer. Se estivesse no seu lugar, pensaria milhões de vezes. Mas eu não matei Barber, não sou um assassino e, lá no fundo, você sabe disso. E posso nunca mais sair daqui, mas isso que você reaviveu em mim, isso que você me faz sentir... Não acho que teria encontrado em qualquer outra mulher que passasse pela minha vida, independentemente da minha condição, mesmo que não tivesse sofrido uma grande injustiça, mesmo que tudo tivesse sido diferente, mesmo que eu não estivesse preso neste inferno pelo resto dos meus dias.

A doutora o encarou por um longo momento, completamente sem palavras. Se vivessem em um romance fictício, era o tipo de coisa que gostaria de ter ouvido do personagem principal, o tipo de declaração que a faria ter pulado no colo dele, tê-lo enchido de beijos, transado com ele até que não restasse mais forças em seu corpo. Mas não vivia. A realidade era cruel. A realidade era que Melissa ainda era a médica e Corey Sanders o paciente. Era uma merda. Tão ruim que, por um instante, ela considerou largar tudo para trás, apenas para poder ser livre para viver aquele romance proibido, mesmo podendo visitá-lo uma vez por semana, sem direito a visitas íntimas, sem nem ao menos poder tocá-lo.

Seria louca a esse ponto? Teria coragem de viver uma paixão tão intensamente?

Algo dentro dela riu-se.

Não, não era. Não, não teria.

Ou ao menos achava que não.

Ainda achava que poderia ser uma profissional melhor, superar aquele sentimento que praticamente esmagava seu coração. Não custava tentar...

— Olhe, Sanders... Se está precisando conversar comigo, ótimo, sou toda ouvidos... Mas não acontecerá nada além disso aqui. — Melissa cruzou os braços e esperou que sua tentativa de parecer firme quanto à posição surtisse efeito.

Não surtiu. Sanders não era do tipo que desistia tão fácil. Não quando estava bem óbvio que ela não era tão irredutível assim.

— Tudo bem então, doutora. Eu tenho um joguinho para propor. — Corey também cruzou os braços, e, mais uma vez, Melissa acompanhou sua sobrancelha esquerda arquear no tom de malícia característico. — Apenas porque não posso simplesmente deixar o helvete sem saciar uma das minhas mais excitantes fantasias sexuais.

— Não vou jogar nada com você, Sanders. — ela riu de nervoso mais uma vez. De repente descobriu que tinha várias fantasias sexuais com ele também. Algumas delas envolvendo suas algemas. — Muito menos se envolve alguma fantasia sexual.

Ele soltou uma risada debochada e Melissa cerrou os olhos.

— Eu tenho a leve impressão de que você está disposta a fazer qualquer coisa que eu proponha, doutora.

— Eu realmente não sei de onde tira essa ideia de que tem controle sobre mim.

— Não é controle, Melissa. Admita que se sente tão atraída por mim quanto eu por você, é matemática bem simples.

Ao ouvir seu nome dito pela voz dele, em um tom tão sujo e ao mesmo tempo doce, Melissa teve que sucumbir a um leve e delicioso arrepio. Durou pouco o momento em que fraquejou e quase admitiu que era fraca. Fraca por ele e toda a sua atitude sexual. Corey Sanders não perdia nada, entretanto.

— Está vendo? Eu digo seu nome, você quase se derrete. — o sorriso dele era grande e convencido.

— Impressão sua. — Melissa deu de ombros.

— Acho que não. — Corey Sanders negou com a cabeça e não se moveu um único passo.

A distância começou a deixar Melissa nervosa, e ela nem tinha ideia do motivo de tal incômodo. Não queria pensar nisso também. Não queria pensar no fato de que queria Corey Sanders o mais próximo possível. E essa constatação deixou-lhe levemente irritada. Queria que alguém, além de Corey Sanders, que claramente era parcial demais para a tarefa, dissesse-lhe o que deveria fazer. Seria tão mais fácil.

— A psiquiatra na sala sou eu, e não você. Pare com essa mania de achar que pode me entender! — rebateu, ainda naquela velha tentativa de dizer que não, quando queria dizer sim.

Bela porcaria de pessoa ela era.

— Não tenho culpa de você ser um livro aberto.

— Infelizmente não estou interessada na leitura que você quer fazer da minha vida, obrigada.

— Mas no joguinho que eu quero propor você está?

— Ainda não desistiu disso? — Melissa rolou os olhos, de forma dramática – Não. Também não estou interessada.

— Não quer nem ouvir a proposta?

— Vinda de você? — ela riu em deboche — Não espero nada menos elegante do que... Strip Poker, ou seja lá como chamam isso.

Corey Sanders riu, era uma risada gostosa e satisfeita, e Melissa poderia jurar que o mundo pareceu mais colorido naquele instante. Ele sorria e ela estava completa, porque a felicidade dele pareceu-lhe uma prioridade intocável naquele instante. Melissa não conseguiu censurar tal pensamento a tempo de não ser realmente analisado.

— Eu adoraria jogar Strip Poker com você, doutora, mas acho que terá que ser em outra ocasião. — Corey Sanders torceu os lábios, como em decepção. — Não tenho um baralho aqui, porém se você conseguir, não tenho objeção alguma.

— Esse é o tipo de coisa que nunca vai acontecer, pode apostar, Sanders!

— Nunca diga nunca, doutora. — ele piscou.

— Você é um clichê ambulante, sabia? — Melissa levou as mãos à cintura.

Naquele momento, estava mais irritada com a impertinência dele do que com o fato de que estava morrendo de vontade de ser agarrada por ele.

Outro pensamento que não foi preso pelo filtro de sua consciência.

— Eu aposto que você é daquelas que sonha com o príncipe encantado no cavalo branco. Quer algo mais clichê do que isso?

— Péssima impressão sobre mim, Sanders.

— Posso reformular então... Você é daquelas que sonhava com o príncipe encantado no cavalo branco.

— E agora? — Melissa perguntou.

E arrependeu-se logo em seguida. Fazer perguntas a Corey Sanders era como caminhar em um campo minado.

— A dura realidade é que eu estou preso e todos acham que eu sou um psicopata sem coração, então a fantasia se tornou um pouco deturpada, não é mesmo?

— Está insinuando que você é o meu príncipe encantado?

— Não, estou afirmando que eu sou o dono dos seus sonhos.

Melissa teve que rir. Mais de nervoso do que o intencionado deboche. Engoliu em seco e desviou o olhar, com medo de se entregar. Que Corey Sanders era o dono de seus sonhos, não havia qualquer dúvida, porém não precisava ter conhecimento disso.

— Preciso contar um segredo: psicopatas não sentem, Sanders. Você precisa se convencer de que essa ideia de que me quer é uma mentira.

— Eu não sou um psicopata, meu pai comprou o disgnóstico, você sabe, todo mundo sabe, e eu ainda estou aqui, preso com esse estigma imbecil. Então, bem, eu sinto. Eu sinto pra caramba, doutora.

Melissa choramingou em seu canto, dando o caso quase por encerrado, a partida quase próxima do apito final, ele estava vencendo, era só questão de tempo... Questão de ela ser só um pouquinho mais provocada, só mais um pouquinho... Porque gostava. Gostava de vê-lo lutar pela atenção dela, só para variar.

— Por que eu não posso ser uma médica normal, com pacientes normais?

Corey riu, divertindo-se com o desespero dela.

— Tudo bem, pode me analisar, estou completamente aberto para você. — ele abriu os braços, e tudo o que ela viu foram os músculos cobertos de tatuagens e tudo o que pensou foi o que quanto gostou de tocá-los tão intimamente no outro dia.

Soltou uma risada triste, porque sua situação era miseravelmente triste.

— Se as coisas fossem tão simples quanto você faz parecer...

— Não era isso que você queria desde o início? Bem, estou aqui, pronto para colocar na mesa quem eu sou e por que mereço sua afeição. Estou disposto a provar para você que vale a pena correr riscos.

Melissa resistiu ao impulso de sorrir em retorno, apenas porque ele sorria. Sabia que a última coisa a se fazer era isso, porque tão somente mostraria a ele que gostara do que ouvira. Gostara muito. Demais. Muito mais do que lhe era seguro.

— Você não consegue analisar esta situação com um pouco de racionalidade?

— Eu tentei, mas sou naturalmente um ser humano impulsivo e que sente profundamente. Pelo menos isso sei dizer sobre mim mesmo. Então, não, a emoção toma completamente conta de mim quando você está em pauta, doutora Melissa Parker. – foi o que Corey Sanders respondeu, e então caminhou na direção da escrivaninha.

Quando passou por Melissa, intoxicou seu olfato sensível com o perfume marcante que não saía de sua cabeça. Por um momento, permitiu-se inspirar com força o ar ao seu redor. Porém, quando ele voltou a encará-la, naquela intensidade de sempre, retornou ao estado normal de negação. Para todos os efeitos, o perfume de Corey Sanders não causava qualquer reação física e psicológica nela.

— Sente-se, doutora. — Corey Sanders apontou sua cama.

— Não quero me sentar. — Melissa protestou e fechou a expressão em uma carranca impaciente.

A verdade era que sentar no local em que ele dormia parecia íntimo demais para alguém que tentava fingir que não estava bastante tentada a se deitar ali.

Ao lado dele.

Com ele.

Para fazer sabe-se lá quais tipos de loucura.

Melissa acordou do transe de seus pensamentos dominados por hormônios com a voz de Corey Sanders voltando a soar no tom sexualmente malicioso.

— Como quiser, Melissa. Fique em pé, mas acho que pode se cansar.

— O que está tentando fazer? — seu nome na voz dele mais uma vez foi capaz de causar um arrepio.

— Conversar. Quero saber mais sobre você.

Melissa riu e coçou a testa, assimilando o absurdo daquela proposta.

— Era esse o joguinho que estava tentando fazer?

— Basicamente, mas tive que operar algumas mudanças. A regra de tirar a roupa foi vetada dessa vez. — ele piscou e pareceu um moleque maroto.

Melissa sorriu, e nem teve conhecimento da razão. Não queria ter, na verdade. Nem quis resistir como antes. O simples fato de Corey Sanders fazê-la sorrir com simples coisas, deixava seu peito inchado com algo que parecia bom demais para ser realidade.

— Você deveria fazer mais isso...

— Isso o quê? — Melissa franziu o cenho, confusa.

— Sorrir. — Corey Sanders observou, e o sorriso que se abriu em seus lábios pareceu verdadeiramente sincero, apenas porque ele apreciava o fato de Melissa estar feliz. — Você tem um sorriso lindo. É até um crime me privar dele.

— Não é como se eu fosse uma pessoa carrancuda o tempo todo e nunca sorrisse... — eça protestou.

— Você não sorri com frequência perto de mim.

— E nós dois sabemos o motivo.

— Eu sei. Só não concordo com ele. — Corey Sanders deu de ombros — Correndo o risco de parecer brega aqui, eu só queria dizer que você fica... Radiante quando sorri.

— Mais um momento clichê de Corey Sanders... — Melissa rolou os olhos, apenas para disfarçar o fato de que teve vontade de suspirar com a declaração simples e batida dele.

A verdade era que, naquela altura, vinda dele, qualquer declaração brega parecia um soneto Shakesperiano.

— Qual o seu problema com os clichês, doutora? Algum ex-namorado-príncipe-encantado-do-cavalo-branco totalmente clichê partiu seu coração? — ele perguntou, de modo que fez parecer o assunto totalmente casual.

Melissa, entretanto, não gostava do assunto. E a julgar pelo próprio passado amoroso, Corey Sanders também não deveria gostar.

— Muito esperto, Sanders. — foi o que ela respondeu.

Trocava o peso de pé o tempo todo. Ainda tentava ignorar o fato de que logo cansaria e teria que sentar na cama dele.

— Esperto por quê?

Corey cruzou os braços na frente do peito, de modo que destacaram os músculos tatuados, torneados pela camiseta preta simples e justa que vestia. Por um instante, Melissa perdeu o juízo na análise daquelas linhas coloridas que formavam diversos desenhos e inscrições que não foi capaz de decifrar. Quis perguntar o que tudo aquilo significava, porém temeu abrir brecha para uma pergunta de mesmo teor. Tatuagens poderiam ser coisas muito íntimas, e intimidade era algo que preferia não compartilhar com Corey Sanders.

— Está dando voltas até me fazer cair no seu joguinho de perguntas e respostas.

— Eu preciso tentar, não é mesmo?

— Não vamos jogar uma versão pornô de verdade ou desafio, pode esquecer!

— Eu já disse que a parte de tirar a roupa pode ser esquecida. — ele fez um bico de uma criança desapontada. Melissa conseguiu conter o sorriso dessa vez — Qual o grande mal de eu querer saber sobre seu passado?

Melissa suspirou por um instante, sendo vencida pela vontade de se sentar na cama de Corey Sanders. O colchão macio apoiou-lhe e ela levou as mãos aos lençóis de seda que lhe cobriam. Um luxo que não esperava encontrar.

— Lençóis de seda em um manicômio judiciário... — comentou, enquanto assistia aos seus dedos deslizarem sobre as dobras do tecido nobre. — Interessante...

— Minha mãe pode ser bastante... Cuidadosa quando quer. — ele torceu os lábios, como se não concordasse com aquela medida.

— Sei como se sente.

— Olha só! Temos uma evolução aqui! Um comentário sobre a proteção exagerada das mães... Conte sobre o excesso de cuidado da sua!

— Eu não vou falar sobre o meu passado, Sanders. — Melissa respondeu, curta e grossa. Sua cabeça doía só de pensar.

O sorriso satisfeito que estava nos lábios dele foi sumindo aos poucos.

— Por que não?

— Porque não tem nada de interessante nele.

— Tenho certeza de que eu vou achar interessante.

— Não, não vai. - Melissa cruzou os braços e fechou a cara, porque a cabeça começou a doer verdadeiramente — Além do mais, eu sou paga para ouvir sobre você, e não para contar sobre mim para você.

— Esse papo de ética no trabalho não combina mais com você. Transar com um paciente em tratamento não é exatamente um exemplo de comportamento, não é mesmo?

— Você não precisa ficar lembrando disso o tempo todo. — ela fez careta.

— Não é como se eu fosse capaz de esquecer... — Corey abriu outro sorriso, e dessa vez era daqueles recheados de malícia — E nem você. — então ele piscou.

Melissa engoliu em seco e pigarreou, antes de continuar. Suas bochechas pegavam fogo.

— Que tal mudar de assunto? Que tal... Contar você sobre o excesso de cuidados da sua mãe?

Corey Sanders a analisou por alguns instantes, e dessa vez havia um sorriso misterioso escondido no canto de seus lábios. Não aparecia, mas Melissa sabia que estava ali, porque nos olhos dele havia um brilho distinto. Então Corey Sanders finalmente respondeu:

— Eu costumava gostar do luxo, hoje em dia encaro como um excesso de cuidado.

— Você era um menino mimado, então?

A verdade era que estava corroendo de curiosidade para saber tudo o que pudesse sobre ele. Seu interesse por Sanders talvez fosse obsessivo, embora ainda não tivesse condições de diagnosticar. O fato de que era difícil pensar perto dele jamais era ignorado.

— Era uma das muitas definições que eu recebia. Para a maioria das mulheres era "cafajeste sem coração" e coisas de nível mais baixo que eu prefiro não reproduzir na frente de uma dama distinta.

— Você partiu muitos corações, Corey Sanders?

— Mais do que tenho conhecimento, provavelmente. Mas não me orgulho disso. Não mais. — ele ficou sério e se remexeu inquieto em sua posição.

A cabeça de Melissa doeu tanto, que uma pontada quase insuportável teve que ser disfarçada. Ela temeu, mas respirou fundo e continuou, crente de que ele não havia percebido seu momento de lapso.

— Sabe o que fez você mudar de ideia sobre tudo?

— Ver Barber morta naquela árvore não foi exatamente um dos melhores momentos da minha vida... — o tom dele foi levemente cínico.

Melissa balançou a cabeça em negação e ganhou em troca um olhar confuso.

— Você só mudou a sua posição em relação a tudo porque se viu preso em uma situação completamente adversa a tudo o que já havia experimentado antes. A sua natureza é extremamente egoísta, Sanders, e não fico feliz em saber que tenta disfarçar isso dizendo a si mesmo que o fato de Barber ter sido assassinada daquela forma é o real motivo da sua mudança. Nós dois sabemos que a reviravolta aqui dentro do St. Marcus aconteceu porque você finalmente teve conhecimento do que é realmente o mundo. Da sua mansão em Londres parecia tudo muito distante, não parecia?

Melissa finalizou seu discurso, e esperou pacientemente pela resposta de Corey Sanders. Por um longo instante, ele limitou-se a encará-la, e do modo como fazia, parecia queimar a pele dela. A sensação, apesar de intensa e pesada, era deliciosa. Melissa não tinha ideia do que se passava pela cabeça de Corey naquele longo momento de reflexão, porém, pela primeira vez, não teve medo do que estava por sair de sua boca.

Quando Corey Sanders finalmente respondeu, Melissa conseguiu respirar com calma outra vez.

— Eu não... Eu realmente acredito que o assassinato de Barber mudou alguma coisa na minha vida.

— Partindo do princípio de que você não matou Barber... E isso é apenas uma suposição! — Melissa reiterou, quando ele pareceu querer sorrir — Você foi preso injustamente, é claro que o fato de ela estar morta mudou a sua vida! E eu entendo que a única mudança que isso causou em você foi a revolta e o seu fechamento para o mundo exterior.

— Talvez você tenha razão...

— Mas eu vejo você tentar operar uma mudança em toda essa situação...

— Antes de você aparecer na minha vida, a última coisa que eu buscava era uma mudança de atitude. A verdade é você me faz querer ser um homem melhor, doutora.

Melissa gostaria de poder ter um controle melhor sobre suas atitudes, mas era fraca demais para tanto. Antes que se desse conta, a informação havia sido processada em seu cérebro entorpecido de Corey Sanders, e ela estava sorrindo com sincera satisfação. A reação seguinte, foi abaixar a cabeça, enquanto colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha. E Melissa ainda queria parecer desinteressada...

Corey Sanders acompanhou todas as ações de Melissa com um meio sorriso nos lábios.

— Eu aprecio sua sensibilidade, doutora. Se começar a contar sobre o quanto meu pai e eu éramos ligados e sobre o abandono dele quando fui condenado... Arrisco a dizer que a veria chorar.

— Isso é algo que você nunca, jamais, vai ver na sua vida! — Melissa retrucou, e conseguiu finalmente ser firme.

— Realmente, ver você chorando não é algo que eu deseje.

— Argh! Por que você sempre contorna a situação e faz parecer um romântico incurável e eu a insensível sem coração?

— Eu sou um grande manipulador, ainda não te contaram? Ou você ainda não foi capaz de diagnosticar? Esqueceram de me receitar um remédio para isso.

— Eu sei que você é um daqueles rebeldes que escondem o remédio embaixo da língua para enganar as enfermeiras e depois joga fora.

— O que é isso, doutora? — Sanders fingiu estar ofendido, mas um sorriso maroto não deixou de acompanhar a reação dramaticamente exagerada — Se eles querem me dopar, quem sou eu para dizer não?

— Isso está muito errado. — Melissa abanou a cabeça, fingindo preocupação.

— Eu sei que você é a última que vai me dedurar, sabe que eu não preciso de nenhum desses remédios.

— Prefiro não entrar no mérito da questão. — Melissa tratou de responder rapidamente. – Contanto que você continue cooperando comigo nas sessões...

— Eu não vou deixar de cooperar com você, doutora. — ele piscou.

Melissa cerrou os olhos.

— Ótimo, então... Fale sobre... A sua infância... — ela pediu, contando com o fato de que, se o mantivesse falando, esqueceria que queria levá-la para a cama.

E ela também esquecia que queria, de fato, ser levada para a cama. Para arrancar as roupas dele e passar sua língua por todas as partes do corpo dele que fossem possíveis.

— Foi uma ótima infância, na verdade... Muito feliz, nada de dramas familiares... — Sanders deu de ombros.

— Barber esteve sempre presente?

— Sim, desde que eu me conheço por gente. — Sanders esticou os braços atrás da cabeça de forma relaxada.

O modo com que ele falava da pobre Barber Paay dava a impressão de que ela ainda estava viva e bem. Era estranho, Melissa tinha que admitir.

— Houve um tempo em que foi só amizade ou vocês são prometidos desde o berço?

— Está com ciúmes, doutora? — Corey Sanders abriu um sorriso esperto.

Melissa piscou em velocidade acima do seguro, para alguém que queria disfarçar algo que estava escrito na testa.

— Não. — limitou-se a responder, com medo de que qualquer outra reação pudesse entregar-lhe.

— Não é como se o meu destino e o de Barber estivesse escrito nas estrelas... — Sanders ainda sorria — A ideia de que deveríamos ser um casal sempre esteve presente, mas a amizade valia mais do que tudo para nós.

— Entendo... — Melissa cruzou os braços e balançou a cabeça em afirmação —Você estava ou não apaixonado por ela naquela época?

A pergunta saiu com tamanha rapidez da boca de Melissa, que ainda levou um tempo para se dar conta do que havia acabado de perguntar. Era íntimo demais, invasivo demais... Passou a pisar em um terreno muito perigoso ali. Melissa achou que deveria cuidar mais do filtro que deveria haver ente seu cérebro e sua boca. Corey Sanders, entretanto, não se abalou com a pergunta repentina tanto quanto Melissa, e foi capaz de respondê-la com a tranquilidade que lhe era peculiar.

— Sinceramente... Eu não sei. Acho que, na verdade, eu tinha aquela ideia fixa de que deveria protegê-la, em qualquer circunstância... E sempre a amei, mesmo sem ter certeza, naquele momento, qual o sentido daquele amor.

— Você acha que deveria ter feito alguma coisa para mudar o que aconteceu? Entende que esse era o seu papel, porque supostamente deveria zelar por ela?

— No começo eu achava que sim, mas depois comecei a entender que não havia nada que eu pudesse ter feito... Quem a matou não fez isso porque eu surtei e a abandonei... Pelo menos eu imagino que não.

— Tem alguma ideia de qualquer motivação?

— Para uma brutalidade daquelas? Acho que nenhuma motivação no mundo é relenvante o bastante. — Corey Sanders respondeu, e o rancor tomou seu tom de voz e o deixou rouco e frio.

Melissa passou a não gostar do Corey Sanders que via à sua frente. Era o mesmo Corey Sanders destruído que conheceu em sua primeira consulta no St. Marcus. Havia muito tempo ele tinha desaparecido, e o retorno não agradou. Melissa havia provocado tal retorno, porém achava ser necessário enfrentá-lo, para que se fosse de uma vez por todas.

A conversa havia tomado proporções muito mais íntimas e profundas do que imaginava quando entrou no helvete mais cedo. Jamais esperou conseguir arrancar de Corey Sanders todas aquelas informações. E aliado ao fato de que o fantasma de Barber apareceu com mensagens perturbadoras... Melissa precisava pensar. Precisava de ar fresco. Precisava estar longe de Corey Sanders, pelo menos naquele momento.

Foi como se tivesse se dado conta de onde estava e com quem estava. Remédios, diagnósticos, manipulações...

Uma cela do helvete.

Um paciente.

Corey Sanders.

Psicose elevada.

Precisava sair dali, antes que a cama dele parecesse tão confortável, que deixá-la não seria uma opção interessante. Foi como se tivesse acordado de um sono profundo, então sua consciência racional estava de volta à ativa.

— Eu... — Melissa pigarreou, criando a coragem necessária para falar — Eu preciso ir. — disse, e levantou-se de imediato.

Perder tempo era perigoso demais em uma terra que era dominada pelos poderes de sedução de Corey Sanders.

— Por quê? Você não precisa ir... Pode ficar aqui comigo.

— As coisas não funcionam assim, Sanders.

— Então como? Explique! Qual é a sua, doutora? Porque ainda tenta fugir? Porque não admite de uma vez que precisa de mim tanto quanto eu preciso de você? Está escrito na sua testa, negar é uma perda absoluta de tempo!

Melissa suspirou. Não queria responder. Se falasse, confessaria tudo o que se passava por sua cabeça. E a última coisa que precisava naquele instante, era que Corey Sanders tivesse conhecimento de sua insanidade temporária. Talvez Melissa não quisesse estar ali por causa do fantasma de Barber Paay. Talvez não quisesse estar ali porque ele era um prisioneiro em um manicômio judiciário. Ou talvez ela quisesse estar ali porque ele era Corey Sanders, simplesmente. Era difícil raciocinar, entretanto.

Tinha que aproveitar a oportunidade para ir, antes que fosse tarde demais, e fugir não fosse uma opção.

Ou fosse apenas a opção que não queria escolher.

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