APOGEU

By JonFonseca

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A vida de dois jovens universitários e suas trajetórias no destino mudam completamente quando se conhecem ain... More

1 - O CAIR DA MÁSCARA
3 - O BANDO DE RENEGADOS
4 - AS SOMBRAS DA NOITE
5 - OS ECOS DA MORTE
6 - O DEBUTE NA CORTE
7 - O CONTRATO DE OSSOS
8 - O RÉQUIEM SOTURNO
9 - A MESA HEPTAGONAL
10 - O CANVAS ESCARLATE

2 - A QUEBRA DO PACTO

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By JonFonseca

Era dia. A grande metrópole pulsava agitadamente em suas infinitas vias. Milhões de carros e pessoas andavam em direções pré-definidas. Era assim que era todos os dias, o dinheiro precisava girar e para isso tudo girava também. Nada era estático, tudo estava em movimento enquanto esse fluxos se retroalimentavam em diferentes sentidos exatamente igual um coração. De dia, São Paulo era um caos labiríntico e cinzento, e as fronteiras entre as inúmeras cidades que existiam dentro de uma só, durante esse específico momento, diminuíam. Tudo por que dentro desses fluxos, imersos nessas vias estavam todos os tipos de cidadãos, de todas as cidades, os caminhos eram os mesmos para todos, ou quase todos. 

De dia era o movimento, a busca pelo dinheiro e a obrigação sistêmica de continuar o ritmo do mecanismo econômico, era apenas isso que obrigava pessoas de mais ou menos poder a estarem juntas pelo menos por certo tempo em um mesmo lugar: os caminhos. As milhões de rodovias e estradas que interligavam absolutamente tudo seja por cima da terra ou por baixo. De noite a cidade se aquietava e as fronteiras voltavam a se expandir, bastava apenas chegar em casa e fechar suas cortinas e pronto, estavam todos prontos para viver de novo a ilusão de que continuavam conectados com o mundo por meio dos dispositivos que não saiam de suas mãos. No entanto, a ilusão do dia não era a distância, era o sistema em si. Era justamente esse véu sistêmico controlado por poderosos que mantinha as pessoas cegas e presas em suas funções, completamente anestesiadas. Elas acordavam todos os dias repetindo as mesmas funções sem pensar, passavam todos os dias por moradores de rua e instantes depois por arranha-céus que sediavam grandes bancos. 

E é em um dos últimos andares de um desses grandes arranha-céus que nos encontramos agora. Embora nas dezenas de andares abaixo desse andar em específico tivessem centenas de trabalhadores ansiosos correndo para lá e para cá para repetir funções extremamente exaustivas na falsa esperança de um dia ascender naquele perverso e ao mesmo tempo encantador jogo de poder e influência, aquele andar não era bem assim. Ele era mais calmo, mais luxuoso, mais silencioso e mais frio. O chão era de mármore branco, as luzes eram brancas, o teto também. Os únicos elementos que traziam um pouco mais de cor para aquele ambiente eram os vários expositores com prateleiras e mais prateleiras de documentos e fotos antigas, medalhas de guerra, livros, armas e itens diversos que pareciam ter mais de dois séculos.

No fim daquele corredor havia uma enorme porta vermelha, seus adornos neoclássicos contrastavam com o resto do estilo daquele lugar, mas conversavam com quantidade de história contida naqueles expositores. Mais a frente ao lado tinha um balcão de recepção que lembrava uma mesa de madeira antiga pela quantidade de adornos e rococós, porém era pintada de um vermelho intenso exatamente como a porta ao fundo. Atrás dela havia uma mulher velha que usava um par de óculos com uma armação preta e fina, seus cabelos pretos eram partidos em dois e escorriam ao longo do rosto até a altura dos ombros. Seus olhos se deslocam imediatamente para o elevador no outro lado da sala quando as portas do mesmo começam a se abrir revelando uma entidade que emitia uma energia intrinsicamente diferente de tudo que havia ali enquanto o som de salto alto começava a ecoar por toda a sala.

A mulher preta e alta cruzava a sala como fosse uma passarela, o pouco que se via de seu rosto escondido sobre o par de óculos escuros pousados no fim do nariz e um chapéu preto e brilhante como um disco de vinil, era uma maquiagem preta em seus olhos negros e um delineado tão dourado quanto o batom em seus lábios. Aliás as únicas peças em seu corpo que não eram totalmente pretas eram as grandes joias douradas: vários anéis, dois braceletes, uma gargantilha de anéis dourados e brincos em estilo africano. Ela não tinha pelos no lugar das sobrancelhas e tinha seu cabelo completamente raspado também. 

- Pois não? - Disse a secretária ainda assustada com a presença daquela mulher que continuava a cruzar a sala em linha reta em direção a porta vermelha. - Quem deixou você entrar aqui?

A mulher parou imediatamente.

- Meu bem, uma coisa sobre mim: eu entro e saio de qualquer lugar que eu quiser. Use esse tom novamente comigo e eu corto sua língua - disse ela com uma voz graciosamente calma e elegante.

A porta dupla vermelha se abre de repente revelando uma enorme sala, uma voz ecoa lá de dentro, mais precisamente de trás de uma enorme mesa. 

- Pode entrar, Rainha da Noite.

A mulher desfila lentamente para dentro da sala, olha para uma escultura de vidro exposta em um pedestal e a faz estourar apenas com o seu olhar. Junto dela uma enorme quantidade de cacos de vidro começaram a flutuar e segui-la pelo ar e apenas com um gesto de seus dedos longos com longas unhas pretas avançaram rapidamente em direção ao homem branco de camisa social entreaberta que estava sentado em uma poltrona com um charuto em sua boca. A luz era pouca e também ali dentro a decoração se baseava na exposição de itens antigos que pareciam ser raridades. O chão daquela sala, diferente da anterior, era como um tabuleiro de xadrez, quadrados alternados em preto e branco. Haviam pilares brancos até o fim da sala e uma enorme pirâmide de concreto sustentada por cabos de aço estava em exposição no alto da sala. Cada um daqueles pontiagudos e mortais estilhaços de vidro haviam misteriosamente desviado no último instante do corpo dele, com a exceção de um pequeno caco que tinha gerado um pequeno corte no antebraço daquele homem que exibia em seu peito uma tatuagem de um símbolo místico antigo. O sangue começava a manchar a camisa enquanto ele ria, o som estridente do grito das mulheres seminuas que estavam na sala e pareciam ser prostitutas ou escravas sexuais ainda soava.

 Enquanto o homem branco de cabelos castanhos claros, nariz reto e olhos extremamente azuis notava seu corte, a mulher de preto agitava seus dedos no ar fazendo cada uma das moças cair adormecidas ao lado da mesa onde consumiam cocaína pouco tempo antes. 

- Mãe Aziza Olugbeja... - Começou ele com uma voz firme. - Ao que devo a honra dessa visita tão civilizada?

- Por favor, vamos cortar as formalidades, aberração imunda - disse ela igualmente calma fazendo a porta dupla fechar novamente.

- Eu ainda prefiro as formalidades do que seu modo destrutivo, Mãe Aziza - a voz do homem era seca, cansada e possuia algum resquício de um sotaque europeu mesmo na maneira em que riu em seguida. 

- O pacto foi quebrado - disse ela veemente.

- Suponho que esteja se referindo a anomalia mágica que ocorreu no centro da cidade na noite de ontem - disse ele puxando seu charuto e dando uma sequencia de três sopradas daquela densa fumaça. - E da tentativa organizada e rápida de raptar dois devas que emitiam uma magia natural, poderosa e misteriosa.

- Precisamente. Foi você, Edgar?

- Sabe que mesmo eu tendo proteção contra sua magia, não tenho poder suficiente para derrotá-la, ainda. Sabe que eu jamais quebraria O Pacto da Noite colocando em risco expor a Grande Ordem, seja lá quem fez tudo aquilo, não se importa com nossas leis. - Aqui o homem que parecia ter muito dinheiro, poder e influência fez uma pausa, pressionou seus olhos e baforou mais uma vez alisando o anel em seu dedo no qual brilhava uma enorme gema vermelha - No entanto, se correu o risco de vir aqui, deve estar muito interessada em quem está trás dos jovens.

- O Pacto foi quebrado, a magia foi exposta mesmo com aquele blackout. Você sabe muito bem que isso pode trazer o caos tanto pra você quanto para mim. Você sabe quem foi o necromante que invocou aqueles corpos-secos?

- Desconhecemos o autor da operação, posso garantir que não é obra da Grande Ordem. Agora vá embora.

- Se eu descobrir que os dedos podres da Ordem estão por trás dos recentes desaparecimentos e de fenômenos como os de ontem que quebram o Pacto, eu posso garantir para você que eu queimarei este lugar e qualquer outro sob o domínio da sua escória - Mãe Aziza virou as costas e começou a caminhar até a porta. Edgar começa a falar alto para a mulher que havia lhe dado as costas:

- Eu posso sentir Rainha da Noite... Seu poder está diminuindo e seu reinado está perto do fim.

Uma enorme nuvem de sombra se expandiu rapidamente em direção ao homem, movendo toda a sua enorme mesa de madeira e todos os objetos sobre ela em direção ao chão. Ele se deslocou alguns passos para trás, mas novamente era como se a magia não tivesse efeito sobre ele, tudo por causa do anel de pedra escarlate brilhando em seu dedo. Ele estava ofegante e agora, a bruxa tinha sumido completamente enquanto a raiva ainda pulsava no rosto do homem.

-----

Era noite. Tanto Luan quanto Luna estavam confusos, com vertigem. O céu estava escuro e uma enorme camada de nuvens cobria toda a cidade. Estavam no topo de um prédio e o vento frio quase os congelava, estavam mais especificamente no ponto mais alto que se podia estar do Ed. Altino Arantes, o famoso prédio branco com um farol que ficava bem no meio da cidade e que tinha um mirante. Luan não via Luna, nem Luna via Luan, mas sentiam a presença, estavam de costas um para o outro. Eles olhavam para baixo e conseguiam ver fogo, caos e escuridão dominando todas as ruas, os prédios, os carros, as pessoas... Tudo estava em chamas e haviam explosões em toda parte. Eram fagulhas de luz e fogo vindas do céu que acertavam os prédios como tiros. Um estrondo ocorreu na outra direção iluminando todo o céu de vermelho sangue. Luan e Luna se viraram rapidamente e então notaram que vestiam roupas brancas. Foi então que algo praticamente inexplicável começou a ocorrer diante de seus olhos: uma enorme esfera descia das nuvens, maior que tudo que eles já tinham visto, quase do tamanho de outra terra. De repente o que parecia ser a parte externa daquele globo colossal começa a se mover exatamente como pálpebras revelando uma íris vermelha em um globo ocular absolutamente negro. A pupila dançava pela cidade como se procurasse algo, até que ela focou neles dois no alto daquele prédio. Imediatamente ambos se sentiram invadidos como se uma adaga tivesse cortado seus cérebros. Eles acordaram juntos ofegantes e em um só pulo.

- É... Definitivamente eles estavam tendo o mesmo sonho - disse uma voz masculina ao lado de Luna. 

- Gente, que coisa esquisita, eu nunca tinha visto isso... - Uma voz de garoto.

- Gente, silêncio! - Uma outra voz feminina fazendo ambos se assustarem e se colocarem sentados nas camas em que estavam deitados.

- QUEM SÃO VOCÊS? - Luna e Luan falaram ao mesmo tempo, eles se olharam por um instante até voltarem a encarar rapidamente a enorme quantidade de pessoas que estavam de frente para aquelas duas camas em um grande quarto com algumas paredes descascando. Estavam de pijamas e seus corpos estavam cheios de curativos exatamente igual algumas das pessoas na frente deles. 

- Calma, vocês estão em segurança - Disse uma garota de olhos verdes e um volumoso cabelo crespo e ruivo que segurava bandagens e uma espécie de musgo com uma das mãos. 

Os olhos de Luan e Luna apenas escaneavam o ambiente ainda muito saltados. Não se lembravam muito bem do que tinha acontecido, mas para cada um deles, aquela pessoa ali do lado, também em choque era a única coisa familiar que tinham, mesmo que soubessem que haviam se conhecido na noite anterior, sentiam que tinha uma ligação mais forte que poderiam explicar em palavras. 

- Viu só? Eles ficaram em choque, eu falei que não era pra vir todo mundo pra cá... - Disse um rapaz de cabelos quase raspados e um par de óculos de armação transparentes frente a dois olhos castanhos bastante claros.

- Vamos gente, todo mundo lá pra fora! - Disse a menina de cabelos crespos ruivos com uma voz doce.

- Não - falou Luan meio rouco.

- É esperem - pediu Luna ainda olhando cada um daqueles rostos. - Vocês nos salvaram, certo?

- Sim - confirmou a outra garota ruiva, essa com cabelos lisos e um generoso sorriso estampado no rosto.

- E aí quase mataram a gente em seguida - falou o garoto mais atrás com longas tranças douradas pouco antes de receber uma pequena cotovelada de uma outra menina, essa de cabelos levemente cacheados até a altura dos ombros. 

- Bom Luna e Luan, eu me chamo Irina - disse a garota que provavelmente havia feito todos aqueles curativos neles pouco antes de apontar um a um para aqueles outros jovens. - E esses são Joel, Greta, Galileu, Beto, Brenda, Verônica e Rian.

- E onde estamos? - Questionou Luan um pouco preocupado.

- Essa é a Casa Olugbeja, sejam bem-vindos - disse Verônica.





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