Servante (jjk + kth) (ABO)...

By veggiekook

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ALFA JEONGGUK | BETA TAEHYUNG Taehyung foi treinado a vida toda para ser um servo... Como um beta, o seu pape... More

Prólogo
I. Eucalipto
II. Triskel
III. Luna
IV. Obsidianas
V. Veridiana
VI. Argila
VII. Realeza
VIII. Trigo
IX. Ursae Majoris
X. Aroeira
XI. Cio
XII. Água
XIII. Narcissus
XIV. Conto
XV. Lyre
XVI. Parole
XVII. Desamado
XVIII. Estábulo
XIX. Isold
XX. Cartas
XXI. Orgulho
XXII. Piano
XXIII. Estufa
XXIV. Aniversário
XXV. Sorriso
XXVI. Elijah
XXVII. Gêmeos
XXVIII. Mango
XXIX. Wooshik
XXX. Legado
XXXI. Edmund
XXXII. Coelho
XXXIII. Elemento
XXXIV. Sentidos
XXXV. Lupino
XXXVI. Grutas
XXXVII. Tempestade
XXXVIII. Banheira
XXXIX. Glicínia
XL. Bhel
XLI. Jingoo
XLII. Karin
XLIII. Mirtilos
XLIV. Afrodisíaco
XLV. Esmeralda
XLVI. Lago
XLVII. Mudanças
XLVIII. Implícito
XLIX. Nascimento
L. Contratos
Segundo Prólogo
I. Léguas
II. Medlars
III. Vagalume
IV. Bandvja
V. Mensageiro
VI. Yoongi
VII. Pássaro
VIII. Conselho
IX. Arslan
X. Similar
XI. Alma
XII. Baile
XIII. Saudade
XIV. Dente-de-leão
XV - Trio
XVI. Arlandrianos
XVII. Nowbei
XVIII. Alvo
XIX. Ombre
XX. Hier
XXI. Kauput
XXII. Arco e flecha
XXIII. Pintura
XXIV. Namjoon
XXV. Da-rae
XXVI. Amor
XXVII. Bohumír
XXVIII. Cura
XXIX. Plano
XXX. Aliado
XXXI. Ékstasis
XXXII. Glândulas
XXXIII. Fantasma
XXXV. Vingança
XXXVI. Dunas
XXXVII. Lava
XXXVIII. Taehyung
XXXIX. Jeongguk
Epílogo
Pré-venda - Livro II

XXXIV. Beta

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By veggiekook

Boa tarde, servanters :))

Aqui estamos, no capítulo das revelações hehehehehe Na verdade, muitas coisas aqui vocês já adivinharam! Creio que ficou bem condizente com a história, e nada vai ser muito bombástico.

Vou elencar os principais capítulos que dão suporte às explicações nesse, caso alguém tenha interesse em dar uma refrescada na memória:

I. Eucalipto - as interações entre Tae e a tia
XIV. Conto - O Conto de Íris e Juno
XV. Lyre - os trechos com o ritual
XVI. Parole - os trechos com o ritual
XXXV. Lupino - a conversa entre Tae e Edmund
XVII. Nowbei - as cartas entre o pai do Tae e Edmund

Faltam cerca de 5 ou 6 capítulos para o fim (+epílogo). Estamos na reta final! Estou muito empolgada para o que vem, e com o coração apertado de ter que me despedir deles (⁠╥⁠﹏⁠╥⁠)

Obrigada pelo apoio, não teria chegado até aqui sem vocês S2

Música: White Palace - Christopher Larkin

— Tia?

— Taehyung — Sunhee saudou com uma voz suave. — Como você está?

O beta segurou a mão de Jeongguk com mais força. Como ele estava? Confuso e terrivelmente machucado por ela. Não conseguia compreender como Sunhee pudera mentir para ele por inteiros dezoito anos. Ela, que por um bom tempo havia sido a única família de Taehyung…

— Eu sei sobre os meus pais — a voz de Taehyung, apesar de baixa, não vacilou.

Ela desceu os olhos em vergonha.

— Imaginei que tivesse descoberto.

Ela imaginara… Como, se ela estivera desaparecida por meses? Taehyung não entendia o que Sunhee queria dizer. Mas também, ele não estava compreendendo muitas coisas: como o fato dela tê-los encontrado ali.

— Podemos nos sentar? Foi uma longa viagem, do centro de Palum até aqui — Lyre pediu.

Jeongguk meneou a cabeça afirmativamente. Sem soltar a mão de Taehyung, ele indicou para que as duas o acompanhassem até os troncos que serviam de banco ao redor da fogueira. Em silêncio, com a flecha ainda encaixada no arco — mesmo que já não o mirasse nas visitantes —, Arslan também seguiu o grupo.

Elas removeram as bolsas de viagem e a capa, cujo desgaste nas barras denunciava quanto tempo elas estavam andando. Lyre afofou o cabelo encaracolado que emoldurava seu rosto anguloso e afiado, ajeitando-o. Ao lado dela, Sunhee portava feições opostas: seu cabelo loiro escuríssimo liso e seu rosto redondo lhe davam um aspecto mais cansado.

Também inexistiam semelhanças na aparência de Sunhee e Taehyung.

Taehyung sentou-se ao lado delas no círculo que formavam ao redor da fogueira. Jeongguk postou-se atrás dele, realocando sua mão para o seu ombro. Arslan ficou no lado oposto da flama.

— Então você de fato voltou para Palum, Lyre — Jeongguk apontou. Aquela era uma possibilidade que ele considerara antes, mas com toda a confusão ao redor de seu irmão, não pudera se dedicar a procurá-la.

Taehyung também lhe pedira com veemência para não realizar novos rituais, e seu interesse na feiticeira passara a ser apenas pelas respostas que ela poderia oferecer. E ele duvidava que ela daria tais respostas de bom grado…

O que o levava à pergunta: por que ela estava ali?

— Como foi que nos encontraram aqui? — carregando as mesmas dúvidas de Jeongguk, Taehyung buscou saber.

— Foi Sunhee. Ela pode ver algumas situações do futuro — Lyre revelou, ganhando um olhar reprovador da tia de Taehyung. Ela respondeu com uma repreenda também: — Oras, não foi você que insistiu para contar tudo a eles? Então contaremos.

A mente de Taehyung estava ficando cada vez mais zonza. Sua tia podia enxergar o futuro… o seu futuro?

— Não são visões precisas — Sunhee se adiantou em explicar, vendo a confusão na sua face. — Não consigo ver imagens ou cenas, como pode estar supondo que eu o faça. Mas consigo… sentir quando certas situações estão para ocorrer.

— Possui visões em que… não vê? — A voz dúbia de Taehyung ressoou.

— Pense que é como- como se o futuro fosse um contador de histórias que gostasse de sussurrar algumas delas no meu ouvido. O que de fato enxergo são algumas auras nos lugares. Foi dessa forma que os encontrei aqui, na floresta.

Nos seus estudos de filosofia, Taehyung vira sobre a aura: um véu translúcido e colorido que envolvia um corpo, formando um campo de energia ao redor de um indivíduo ou de um objeto. Tal energia era gerada através das vivências, e era única para cada um. Por onde passavam, os corpos deixavam traços de sua aura — usualmente invisível para a maioria.

Se Sunhee via tal aura nos lugares, significava que enxergava pedaços do passado, além das visões do futuro que tinha.

A beta que lhe criara era uma mentira. A mulher em sua frente era uma poderosa profetisa, e não uma simples comerciante.

Taehyung balançou a cabeça, retomando sua atenção para as perguntas mais práticas que ainda precisava fazer.

— Ainda não compreendo. Sabia ou não de tudo que ia acontecer comigo?

E das coisas ruins que viriam? Sabia das maldades de Elijah, dos ataques do irmão de Jeongguk? Era o que ele queria de fato perguntar.

— Não. Veja, não posso saber tudo sobre seu destino, Tae, porque sua vida não é uma reta linear, e as decisões que toma afetam os acontecimentos do seu futuro. — Ela desviou os olhos para Jeongguk. — As escolhas dos outros também mudam seu destino. Ademais, o futuro não me conta tudo.

Taehyung tomou alguns segundos para considerar a fala da tia. Sunhee tinha previsto apenas alguns acontecimentos, então… Mas quais deles? O lampejo de uma lembrança o fez estreitar os olhos. Ele encarou a tia com mais firmeza.

— Lembro que você insistiu para eu me tornar o beta de Jeongguk. Foi porque nos viu juntos?

Ela estudou o rosto do sobrinho com um olhar terno, incerta sobre o quanto deveria contar.

— Quis que ele fosse trabalhar para os Jeons?! — Lyre interrompeu, soando tão surpresa como os demais, sua face severa. — Pensei que o envolvimento dos dois estivesse no rol de coisas que não sabia.

Sunhee, nada enfadada, entrelaçou as mãos no colo calmamente.

— Só insisti que Taehyung se juntasse aos Jeons porque considerei como uma boa oportunidade para trabalho — Ela não titubeou ao dar uma resposta, mas Taehyung duvidava que estivesse dizendo a verdade.

E de fato, anos atrás, quando Sunhee insistiu para que Taehyung aceitasse a proposta dos Jeons, ela sabia que o sobrinho encontraria um grande amor, pois era o que o futuro lhe contara:

Que Taehyung amaria e seria amado; que ele sofreria e conheceria a dor, vivendo todos os sentimentos intensamente.

O que Sunhee não sabia, à época, era que o amor vivido por Taehyung seria com Jeongguk. Quando ela descobriu, através de sinais enviados pelo próprio Taehyung — como no dia em que ele apareceu com um casaco que obviamente fora um presente de aniversário dado por Jeongguk — já era tarde demais.

Ela teria sido menos insistente se soubesse que Taehyung amaria um alfa herdeiro de um clã como os Jeons? Sunhee já nem sabia.

Aparentemente, Lyre também não acreditava nela.

— Tínhamos um acordo para mantê-lo escondido, Sunhee! — a feiticeira explodiu, levantando-se abruptamente. — E você o deixou cair nas mãos de um Lorde!

— Um acordo? — A voz de Jeongguk soou pesada e profunda. — Com quem?

— Fizemos uma promessa ao pai dele de que iríamos protegê-lo — a tia explicou com suavidade, buscando os olhos de Taehyung. Ela tentou segurar sua mão, mas ele se retraiu. Rejeitada, ela endireitou a postura, engolindo em seco diante do nó em sua garganta.

— E por que ele escolheu vocês duas? — Arslan falou pela primeira vez na conversa. — Qual era a relação de vocês com os nowbei?

— Taehyung foi confiado a mim justamente pela minha habilidade de prever certas coisas no futuro — Sunhee clarificou. — O pai dele achou que ele ficaria seguro comigo, pois eu poderia guiá-lo por um caminho sem muitos percalços.

Havia uma pergunta entalada em Taehyung, todavia ele não conseguia reunir coragem o suficiente para deixá-la sair.

Seu pai fizera o pedido… então onde estava sua mãe?

— Ainda não explica onde foi que conheceu o pai dele — Arslan pressionou.

Sunhee deu-lhe um sorriso astuto.

— Vossa Alteza de fato possui demasiado interesse nos nowbei, não é? Consigo sentir em sua aura. É exatamente o tipo de pessoa gananciosa que o pai de Taehyung queria evitar na vida dele. — Ela ergueu um dos lados dos lábios. — Se tivesse lhe visto em minhas visões, eu teria feito de tudo para impedir que Jeongguk o mandasse para você.

— Deixe-o; a minha história com ele já está resolvida. Também quero saber o mesmo, tia. — Taehyung não conseguia evitar usar o termo para referir-se a ela, mesmo que àquela altura já estava óbvio que eles não eram parentes de sangue. — Como você conheceu meu pai?

Sunhee se ajeitou no lugar de novo. Lyre, em silêncio, enviava faíscas através do olhar em sua direção. Não aceitava que ela o mandara para Jeongguk de bom grado.

— Foi Lyre que marcou você em seu nascimento. Nós duas éramos as únicas feiticeiras em todo Arquipélago de Gaelar. Mais precisamente, vivíamos na Ilha de Altar.

— A ilha em que mora o tio Edmund… — Jeongguk murmurou.

— Você estava na casa de Edmund quando o marquei, Taehyung — Lyre explicou. — Era ele quem estava abrigando você e seu pai, depois da… — Lyre hesitou, trocando um olhar com Sunhee.

Jeongguk apertou a mão que estava no ombro de Taehyung, querendo mostrar que estava ali. Podia sentir o beta tremendo sob seus dedos. A sua vontade era de tomá-lo nos braços e roubar para si toda a sua aflição, mas Jeongguk temia que, ao abraçá-lo, Taehyung se desmontaria. 

— Contem a história de uma vez — Jeongguk sussurrou, mal contendo a ansiedade que sentia por Taehyung.

— Em verdade, Edmund saberá falar sobre seus pais melhor, Taehyung. Ele era muito próximo de seu pai; os dois eram melhores amigos. — Sunhee continuou, suas cordas vocais trepidando. Ela respirou fundo. — Mas a história que todos nós sabemos é que… Houve uma erupção de um vulcão na Ilha de Ahora, a ilha vizinha, onde você vivia junto aos nowbei e sua família. Você era só um recém-nascido.

Edmund contara a história da ilha para ele. Taehyung tampou a boca com a mão, abafando qualquer som. Ele conseguia sentir para onde estava indo as palavras de sua tia.

— Seu pai sabia uma técnica para se transformar em lobo rapidamente; acredito que tenha aprendido com Edmund. Em sua forma lupina, ele o pegou e escapou da erupção na ilha, mas sua mãe… sua mãe ficou.

Lágrimas copiosas desceram pelo rosto de Taehyung.

Não podia definir a própria tristeza. Era estranho, o conceito de sentir tanta dor pela morte de uma mãe que nunca tivera. Mas então ele lembrava das cartas, e da Da-rae que parecia amá-lo desde seus primeiros segundos de vida. Ele se lembrou do sacrifício de Maeve… Por que sentia que sua mãe também morrera em sacrifício?

O aperto no seu peito ficou mais forte, suas lágrimas mais ácidas.

Jeongguk não suportou. Ele puxou Taehyung para um abraço, deixando que escondesse o rosto na curva de seu pescoço. Taehyung tentou afastar-se em primeiro momento, no intuito de mostrar força, mas Jeongguk o puxou pela nuca com delicadeza, aconchegando-o de volta.

Um soluço forte sacudiu o corpo de Taehyung, e Jeongguk intensificou o abraço, sentindo a visão embaçar. Ele murmurou doces nadas, tentando criar uma redoma segura ao redor de Taehyung com seu aroma.

Arslan, como o príncipe que era, tirou um lenço do bolso. Ele o estendeu a Jeongguk, que agradeceu com um único aceno. Trocaram um breve olhar carregado de compreensão.

Os outros presentearam Taehyung com silêncio, permitindo-o ter seu momento. Jeongguk ficou ali, como uma base sólida para ele, sentindo como a fração de ar que Taehyung exalava ia ficando mais calma.

Passados extensos minutos, Taehyung pôs-se a desvencilhar de Jeongguk. Ele ofereceu um sorriso de cantos tristes para ele. O alfa secou o seu rosto com a ponta do lenço delicadamente. Taehyung pegou o tecido e virou-se para Lyre.

— E o meu pai? — Taehyung questionou a ela, limpando o rosto com o lenço. Um gesto inútil: suas lágrimas ainda estavam teimosas e fugiam de seus olhos insolentemente.

— Não sabemos onde ele está.

Taehyung apertou o lenço contra os dedos. Ele sentiu o cheiro de Jeongguk lhe reconfortando, o que despertou outra dúvida.

— Você-você disse que me marcou no nascimento… A minha marca está certa? Ou fez algo nela?

Ela hesitou, descendo o olhar para a marca do triskel e da letra beta no braço de Taehyung.

— Responder isso não é uma tarefa trivial. Sua marca está certa… e não está.

— Não é hora de falar em metáforas, Lyre. Seja direta — Jeongguk quase brandou, recebendo um olhar de desprezo da feiticeira.

Ela nunca gostara dele, em todos os anos que o conhecera, nem mesmo quando ele precisava de seus cuidados durante os rituais.

Lyre estalou a língua, voltando-se para Taehyung.  

— Usualmente, a marca de um lobo surge sem que nós feiticeiras tenhamos o livre arbítrio para escolher como ela será. Nós apenas somos guiadas pela magia a desenhá-la. Pude ver uma marca de beta em você, de fato, mas quando precisei marcá-lo, ela estava... turva.

Taehyung mirou o próprio antebraço. Turva? O que aquilo queria dizer?

— Nunca conheci outro como você, um filho de um nowbei com alguém de outra etnia, porque os nowbei apenas se relacionavam entre si — Lyre continuou. — Só eles entendiam a própria língua, e também viviam juntos em lugares longínquos, como é o Arquipélago de Gaelar. E sabe por que tanto isolamento, Taehyung?

Mudo, ele apenas balançou a cabeça.

Proteção. O seu povo era muito visado pelas habilidades que tinham. Tenazes como alfas, inteligentes como betas, bonitos e gentis como ômegas — Lyre recitou como uma reza decorada. Os olhos dela, usualmente opacos, brilhavam um pouco em excitação. — Não vê? Eles eram como você.

As sombras geradas pelas chamas da fogueira no rosto de Lyre pareciam mais proeminentes.

— Mas com a influência de Da-rae, que era uma beta, eu não sabia como deveria classificá-lo. — O tom de Lyre, ao mencionar a mãe dele, era repleto de desdenho. — Pedi à Sunhee para tentar ver seu futuro, e ela soube que você não teria um cio. Foi o que balizou minha decisão. Como já percebeu durante a vida, o funcionamento de seus hormônios são iguais aos de um beta.

Taehyung assentiu, seu estômago dando enormes cambalhotas. A conversa estava lhe dando enjoos, principalmente pela forma com que Lyre falava de sua mãe — como se ela, uma beta comum, tivesse sujado a linhagem dele.

— Classificar você como um beta foi a melhor aproximação que pudemos fazer. E ainda era conveniente, pois assim ficaria mais escondido. — Ela olhou de esguelha para Jeongguk. — Achei que não teria qualquer característica dos outros rankings, até que Jeongguk me contou, durante um dos rituais, que podia sentir seu cheiro.

Surpreso, Taehyung levantou o pescoço para mirar o alfa.

— Quando contou isso a ela?

— Creio que logo quando você chegou na fortaleza? Naquela viagem para Palum.

— E já sabia mesmo naquela época? Que tínhamos alguma conexão?

Jeongguk deu-lhe um sorriso lateral pequeno. Ele penteou os cachos de Taehyung, tirando alguns fios que estavam grudados nas bochechas molhadas.

— Sempre suspeitei. Desde o primeiro momento que o vi.

O olhar de Lyre para os dois não era gentil.

— Quando ele mencionou um beta e disse seu nome, eu soube: ele estava ligado a você, e nada poderia ser pior. Alguém com um sangue tão ganancioso, de um clã com tal visibilidade, tendo esse vínculo com você-

— O Jeongguk não é assim — Taehyung a cortou, direcionando olhos afiados a ela, antes que Lyre pudesse sujar o nome de Jeongguk.  — Não o reduza à história da família dele.

Ela levantou o queixo desafiadoramente.

— Não confio nele, ou em alfas como ele; nunca confiei ou confiarei.

Aproximando-se dois passos, Taehyung nivelou o rosto ao dela.

— Mesmo depois de tudo que ele passou com você nos rituais? Depois de tudo que ele sofreu para que não perdesse o controle?

— Um dia ele irá perder. É o que ele é —  ela praticamente rosnou. — Só rezo para que vocês dois não estejam realmente ligados, e que esteja longe quando isso acontecer.

Taehyung ficou a um passo de fazer algo para machucá-la. Jeongguk sofrera tanto durante os rituais performados por ela, ao ponto de flertar com a morte diversas vezes. Como Lyre podia ser tão cruel com ele?

— Não há pelo que rezar, Lyre — Jeongguk interviu, seu tom falsamente resignado. — Vivenciei uma lembrança de mim e de Taehyung em uma outra vida. Era por isso que meu lobo sentia tanta ânsia, não é? Ele esteve separado de Taehyung por muitos e muitos anos.

E o fato dos Jeons se conectarem tão profundamente com seus lobos só deixou Jeongguk mais suscetível às variações de humor em seu alfa. E a julgar pelo olhar odioso de Lyre, ela sempre soubera — ou desconfiara — daquilo, mas continuara a performar os rituais em Jeongguk.

— Não importa o que vocês dois queiram. Um beta e um alfa não fazem uma união natural. Um nowbei com alguém de outra etnia…

Taehyung deu as costas para ela e para as atrocidades que ela continuava a cuspir.

— Chega. Vamos embora, Lyre — Sunhee a interrompeu. — Você já falou besteiras o bastante.

***

Antes de deixar o acampamento, Sunhee chamou Taehyung para uma conversa em privado. Já vestindo a capa de viagem, ela estava preparada para partir na mesma noite que chegara.

Taehyung suspeitava que a visita rápida era o plano dela desde o início. Sunhee vira algo no seu futuro que lhe deixara tentada a contar a verdade para Taehyung? Ou a visita era fruto de lampejos de uma consciência pesada?

— Acredito que essas cartas pertençam a você.

Os olhos de Taehyung ficaram espantados ao lerem o remetente.

— São de Jimin?

— Foram essas que consegui recuperar… Enquanto esteve em Kauput's Wolf, Lyre rastreou o seu nome. Ela as roubou.

— Como ela fez tal coisa?

— Lyre tem seus métodos; muitos desaprovados pelo restante de nós feiticeiras. — Ela negou a cabeça em um gesto reprovador. — Quando ela descobriu as cartas que Jimin estava postando, ela as interceptou.

Taehyung analisou os papéis antes de guardá-los no bolso com cuidado.

— Ela não queria que eu tivesse razões para voltar para Ealathia, para perto de Jeongguk — ele mesmo concluiu. Jogando os ombros para trás e respirando fundo, mirou a tia. — Por que acha que ela abomina tanto a ideia de nós dois?

— Lyre é uma fanática pela história dos nowbei, eu diria. Ela acredita em muitas superstições em torno deles.

— Quais tipos de superstições?

Sunhee mordiscou os lábios.

— Para ela, a erupção no vulcão foi um castigo de Luna, porque seu pai se envolveu com alguém de fora dos nowbei.

Taehyung entreabriu a boca, empalidecendo.

— Achar que um povo foi dizimado porque duas pessoas ficaram juntas... É uma crença absurda.

— É, de fato.

Os dois dividiram um silêncio. A tia era um mistério para Taehyung, e ele poderia passar dezenas de noites questionando-a sobre tudo. Em sua exaustão, ele só tinha energia para uma última pergunta:

— Ainda não entendo uma coisa — Taehyung olhou para os pés. — Passou a vida inteira me ensinando diversas regras. Quis que eu escolhesse o destino mais rígido dentre os destinos dos betas. Por que, de repente, achou que meu caminho era o de viver um grande amor?

Sunhee fechou os olhos por alguns segundos. Quando os abriu, eles estavam marejados.

— Vi como uma chance de me redimir. — A voz de Sunhee ficou embargada. — Eu o criei com tantas regras, pois acreditei que ficaria protegido por elas. Por muito tempo eu pensei como Lyre; mas então você foi crescendo, e era tão cheio de vida. E então aquela carta chegou…

Taehyung assumiu uma postura contemplativa.

— Eu abominava a ideia de passar a vida trancafiado, trabalhando em documentos — ele confessou, seu olhar um pouco vacante. Ele voltou a atenção para o acampamento, onde Jeongguk mantinha guarda. — Mas nem isso ao lado dele é ruim. Nada é.

Sunhee assentiu em compreensão.

— Vocês têm um livro, de capa verde-esmeralda? O Conto de Íris, aquela que olha pelos betas, e de Juno, a deusa que abençoa os alfas.

Taehyung confirmou com um aceno. Havia uma cópia na biblioteca privada de Jeongguk, e outra que Taehyung pegara do acervo de sua mãe, no castelo.

— Já o leu?

— Apenas as primeiras páginas.

— Você já foi mais aplicado! — Ela brincou, sendo capaz de tirar um sorriso de Taehyung. — Esse livro fala sobre amor; um que não é necessariamente romântico. Sabia?

Taehyung apenas balançou a cabeça.

— A conexão de Juno com sua serva era tão poderosa que transcendia o plano físico. O que chamaríamos de amor incondicional, acredito: aquele além de emoções superficiais, como atração ou paixão. As duas partilhavam uma profunda conexão, tão enorme que o irmão de Luna, Anul, tentou roubá-la por muitas vezes.

Um arrepio desceu pela espinha de Taehyung. Ele abraçou o próprio tronco.

— E é uma história real?

Sunhee deu de ombros.

— Não há como saber. Mas leia-o por conta própria, certo? Assim poderá tirar suas próprias conclusões.

— Sempre procure a informação na fonte — Taehyung recitou. Ela lhe deu um sorriso pequeno e orgulhoso.

Sunhee sorriu mais largo, e então estendeu o polegar até a bochecha dele, correndo-o pela pele úmida.

— Independente do que há de verdadeiro nesse livro, e independente da classificação que lhe deram, acredite no que vou lhe dizer agora; afinal, posso ver as auras das pessoas.

Taehyung fechou os olhos, inclinando a bochecha no toque. A brisa da floresta acariciou-lhe como o toque da tia.

— Eu não conheço, Tae, alguém que seja mais rodeado de amor do que você. A beleza que todos sempre viram em você é mais do que seu sangue nowbei; ela vem da sua aura. Que a verdade o liberte hoje, meu menino. Seja feliz todos os dias.

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