Vittoria
Meus olhos permanecem fechados quando Luca me faz gozar, tira sua cabeça do meio das minhas coxas e se deita ao meu lado. Permaneço com os olhos fechados mesmo quando rolo até ele, deitando tão próximo ao seu corpo que seu calor e a camada de suor que cobre sua pele bronzeada, grudam em mim, eu não estava tão diferente.
— Seu almoço é amanhã, não é? — ele pergunta baixo, ainda se recuperando da nossa rodada de sexo. Era sempre assim agora, fazíamos sexo todos os dias e na maior parte deles, várias vezes ao dia e noite. Não parava nunca de senti-lo.
— Você só vem para o jantar — digo confusa — Que almoço?
— A mulher de Donny.
— Oh! Eu tinha me esquecido.
Há duas semanas havia conhecido Francesca, a mulher de um dos capos aqui em Nova Iorque, no salão que Juliano me levou. Ela foi simpática e muito gentil comigo, no fim do nosso bate-papo mais que bem-vindo, me convidou para um almoço. Descobri depois, através de Juliano e Gisele, que a mulher é muito querida e respeitada por todos, Luca logo aprovou. Eu era a única mulher que carregava o sobrenome Romano viva e junto ao fato de ser a mulher de Luca, o Don, era interessante que eu fosse próxima de alguém como ela, claro que não era só por isso que gostei de Francesca, ela realmente me conquistou e seria interessante ter uma amiga além de Gisele, próximo.
Por isso me sinto mal por ter esquecido, mas isso foi só agora. Culpo Luca e sua língua exploradora e experiente por isso.
— Sabe que não será só ela? — assinto. Eu estava maravilhosamente exausta até mesmo para falar — As outras mulheres não são como Francesca, então fique esperta.
Abro meus olhos e deposito meu queixo em seu peitoral.
— Não se preocupe, sei como lidar com as falsas. Eu ia há muito desses encontros.
Ele assente.
— Não me envergonhe — eu gostaria muito de mostrar minha língua a Luca nesse momento, me seguro — Estará lá...
— Como a mulher do Don — interrompo e o imito — Até parece que eles falarão algo de você. Se eu fizer algo errado irão crucificar somente a mim e minha família. Dizendo como papai não soube me criar — me afasto dele — Não se preocupe, Luca, a sua reputação já suja ficará do jeitinho que está.
Ele rir. Não me viro para ver se divertindo, mesmo que sinta que é um dos reais. Quando penso que está se importando comigo... Sabia que não seria fácil ou que iria acontecer de um dia para o outro, mas não posso evitar.
Ele, me puxa para perto. Suspiro e o observo.
— Vamos jogar.
— Matteo já tentou, mas não tive paciência para videogames.
Os lábios dele tremem ao rir de novo. Por isso eu não queria o ver, ia ficar toda derretida com aquele rosto bonito sorridente.
— Não esse tipo de jogo — devo demonstrar minha confusão já que volta a falar — As deixe pensar que vive com o próprio diabo.
Realmente não entendo.
— Mas, eu vivo.
Luca monta em mim, distribuindo seu peso em seus cotovelos jogados um ao lado do outro do meu corpo.
— Não viu nada ainda, bella — ainda que esteja divertido, tem razão — Vai usar roupas longas e com mangas, e um pouco mais de maquiagem, como se escondesse algo. Como se eu a machucasse diariamente — cada palavra de Luca é preenchida por mais divertimento, ele realmente fala sério e gosta disso — O vestido deve ser um número maior, irão pensar que eu não a alimento. Quando tocarem no meu nome, vai agir como se quisesse correr para debaixo da mesa.
Dio santo!
Esse homem é insano e que Ele, me perdoe, mas imaginar as caras das pessoas presentes me arranca um sorriso.
— Você não presta, Luca — encontro os fios em sua nuca.
— Nem você, esposa... O quê? — interrompe sua frase inicial quando o encaro e trago seu rosto para mais perto do meu. Nego com a cabeça — Vittoria...
— Foi a primeira vez que não zomba ao me chamar de "esposa" — minha voz sai baixa, emocionada — Não estrague isso, por favor, Luca — peço quando abre a boca.
— O que me diz? — sorrio quando me dá isso.
— O que vou ganhar?
— Peça.
— O que eu quiser?
— Dependendo do que seja.
— Tente comigo — não preciso lhe dizer mais nada.
Luca sai de cima de mim.
— Já estou, Vittoria — todo seu humor se esvai.
Ele poderia ter razão, mas é aí que estava, Luca não tinha. Tudo nos últimos dias se tratava do sexo e quando eu não estivesse a fim? Mesmo que não veja isso acontecendo. E se ele enjoasse de mim? Se no futuro sua atração por meu corpo chegasse ao fim? Sexo não era garantia alguma para nada.
— Não está!
— Do meu jeito, estou! — esbraveja, saindo da cama — Vou para o escritório — avisa vestindo sua calça de pijama.
— Vá. Sabe que não está. Minta para você, não para mim. Sou apenas diversão, e não pode me culpar por querer mais que isso.
Finalizo e volto a fechar meus olhos, o sono vem mais rápido do que imaginei.
(...)
Francesca, me recebe com um grande e gentil sorriso, quando chego em sua linda casa e antes que possamos trocar mais palavras além de um breve cumprimento, sou praticamente engolida por uma meia dúzia de melhores curiosas para me conhecer, melhor, saber como é a vida ao lado do Don. As que não estão ao meu lado, observam tudo muito atentas e percebo os cochichos, nada novo. Mas então, as fofocas vão sendo seguidas por risinhos e olhares esnobes e maldosos. Ok. Eu nunca tinha chegado nessa parte, não comigo sendo o alvo deles, o máximo que alcancei e mesmo assim não tive que lidar diretamente, foi quando Luca me escolheu como sua noiva, mas logo tudo passou.
— Com licença — digo para as mulheres mais velhas, as que estão ao meu redor e caminho até o grupo composto por cinco mulheres, ainda que mais novas, elas aparentavam ser mais velhas que eu, somente uma loira parecia ter minha idade ou talvez mais nova e a mais falante delas — Olá! Ainda não fomos apresentadas pessoalmente — sorrio.
A garota loira, passa na frente e beija minha bochecha.
— Cherry — se apresenta — Finalmente a vimos. Eu apostei que você já estaria morta e logo Luca iria informar um novo noivado — Cherry diz, deixando suas amigas espantadas por ter tido coragem de dizer em minha frente o que sem dúvidas falavam pelas costas. Fecho minhas mãos em punhos. Para melhorar, ela, me olha da cabeça aos pés — Mas não deve demorar — seus olhos castanhos brilhando em maldade focam nas mangas longas do vestido midi cinza que uso.
Eu quero bater nessa garota!
— Irei reservar um lugar no inferno para você, quando isso acontecer. Suponho que você espera que seja a próxima senhora Romano — seu sorriso desaparece e é minha vez de chocar as outras — Passem seus nomes e contatos para Francesca, pretendo receber algumas pessoas para um chá da tarde em breve. Será um prazer tê-las comigo.
Cherry ainda não recuperou seu sorrisinho divertido. Já as outras mulheres, parecem bastante recuperadas tamanha animação.
— Não tenho interesse.
— Cherry! — uma mulher praticamente idêntica a garota, chama sua atenção — Perdoe minha irmã, senhora Romano.
Sorrio empática para a mulher, mas isso não desfaz sua cara envergonhada e assustada.
— Nunca se desculpe pela falta de educação do outro. Principalmente uma adulta petulante — é a vez de Cherry fechar as mãos em punho, sua irmã segura sua mão — Vá, Cherry, insisto. Assim irá poder ter em mente o que mudar na casa quando ocupar meu lugar — lhe dou meu maior sorriso — Me perdoe por interrompê-las, é que gostaria de ouvir o que falavam ao meu respeito. Com licença — as choco novamente.
Francesca está atrás de mim e quando começo a me envergonhar por tratar suas convidadas assim, além de enfiar seu nome em algo, mas então, ela sorrir e passa seu braço pelo meu.
— E eu pensando que precisava de ajuda.
Rimos.
(...)
Francesca se despede da última convidada e se joga ao meu lado, sem nenhum pingo de elegância da qual já me acostumei vindo dela, me deixando surpresa e ela sorridente com meu espanto, no imenso sofá que toma uma das suas salas.
— Mais champanhe? — oferece. Aceito — O que achou?
— Obrigada. Nada muito novo, devo admitir, mas Cherry e suas companheiras rindo de mim, me pegou de jeito, confesso. Na Itália não me tratavam assim, ao menos em minha frente.
Ela assente, dando uma boa golada na bebida borbulhante. A imito, apenas levando menos do líquido.
— Por isso foram tão maldosas, não se surpreendam, mas perguntaram e muito de você. Inclusive eu.
Isso não me surpreende. Mav e eu já fizemos isso várias vezes quando um novato surgia.
— Cherry é apaixonada por Luca ou apenas a ilusão de poder ao ser a mulher do Don? — falo de vez o que quero saber.
Francesca sorrir, sabendo bem que era isso que eu queria desde meu pequeno embate com a garota.
— Não diria apaixonada, mas atraída. Os meninos Romano tem isso sobre as mulheres — assinto. Eles eram lindos demais, claro que meu Luca ainda mais, mas, os três era um trio de abalar qualquer um — E definitivamente o poder. Fique esperta, Cherry praticamente implorou a Luca que a escolhesse.
Sabia!
— Por que ele não fez, Francesca?
— Não me leve a mal, querida, mas, Cherry está longe de ser apta para ser uma rainha.
Não a interpreto mal, mas não concordo. Ou seja só eu e minha dúvida, já que também não me acho uma boa escolha para tal cargo, principalmente após Luca deixar claro o motivo de ter me escolhido.
— Eu também não — me pego confessando. A mulher de lindo olhos verdes para com a taça no meio do caminho e me repreende com o olhar. Bebo de vez o que sobrou em minha taça — Me apaixonei por Luca na adolescência, ele sabia e por isso me escolheu. Sou fácil — dou de ombros, envergonhada e humilhada.
Francesca se levanta e se ajoelha em minha frente, estou para pedir que se levante, mas ela não me permite falar.
— Repita uma asneira dessa novamente e lhe darei uns bons tapas! — diz convicta — Luca sempre teve tendências há idiotices, mas nessa altura do campeonato ele já deve ter se dado conta da boa escolha que fez e se não o fez ainda, logo perceberá. Luca pode ser inteligente, mas é homem no fim das contas. E você sabe, homens são estúpidos por natureza, querida — acaricia minha mão, lhe dou um sorriso.
— Minha cunhada vai amar te conhecer.
— Sinto que irei adora-la — se levanta — Ah, não se preocupe com Cherry, uma vez que percebeu que você não é uma tonta há deixará em paz — assinto. Assim espero — Mas me diga se eu estiver errada. Conte a Luca também, ele vai adorar aterroriza-la.
Minha vez de servi-la.
— Você o conhece bastante, não é?
Ela concorda, seu olhar se torna distante e fico em silêncio, esperando ela retornar de suas memórias.
— A mãe de dos meninos, e eu éramos amigas. Melhores amigas, praticamente irmãs — há um sorriso afetuoso e saudoso em seus lábios — Margot não era como eu, vinda de berço na máfia. Seu pai era um associado, um importante empresário, muito linda, tão bela quanto você. Mário não resistiu quando a conheceu, fez tanto que conseguiu se casar com ela. No início ela temeu, quis fugir e tudo mais, foi assim que acabei com Donny, como castigo por tê-la ajudado há fugir uma vez — seu sorriso aumenta e lágrimas brilham em seus olhos — Mas, Margot não teve sorte como eu. Mário só foi um bom marido por algumas semanas — suas lágrimas escorrem, agarro sua mão e faço carinho — Obrigada, querida!
— Não precisa contar ma...
— Oh, eu quero.
— Certo.
— Margot foi morrendo aos pouquinhos. Cada dia que a via, uma parte sua havia partido. A depressão e insanidade lhe tomaram — minhas lágrimas surgem e molham meu rosto — Luca e tampouco Vince, nunca conheceram de verdade a mulher que lhes trouxe ao mundo. Mesmo que não tivessem culpa pelos atos cruéis do pai, Margot associou isso a eles.. — um soluço alto lhe escapa e abraço. Ficamos assim por minutos — Quando engravidou pela terceira vez, uma menina... — mais um soluço. Se tivesse uma irmã... "Sim". Ele sabia — Margot atirou o carro com as crianças e ela, em um lago. Luca conseguiu salvar o irmão, mas não a tirou há tempo. Não que isso fosse resolver, não foi a primeira vez que tentou se matar. E o filho da puta sequer era um bom pai, os machucava tanto quanto fazia com minha amiga. Os três viveram o inferno na terra.
Tantas coisas passam em minha mente e no fim, a imagem de duas pequenas crianças em meio há uma mãe perdida na própria dor e um pai cruel, de olhos e coração tristes é o que se forma em minha mente. Luca e Vincenzo sofreram desde o dia que vieram ao mundo. Por isso Luca é assim e Vince não ficava atrás, não justificava, mas explicava muito, além de todo o restante.
— Eu sinto tanto — choro, fundida em dor.
— Sabe como Luca passou a ser conhecido como o homem que carrega uma besta?
— Não.
— Por ter matado o pai, aos onze anos. No aniversário de morte da sua mãe e irmã, um ano depois.
Se isso deveria me chocar, não o faz. Estranhamente, me sinto feliz por Luca ter feito isso. Algo transparece em meu rosto, Francesca me observa em silêncio desacreditada.
— O verme implorou por isso — lhe digo, o que nem era preciso.
O maldito desgraçado implorou por isso.
Ela finaliza seu último gole.
— E mesmo sem querer, Luca escolheu bem.
Votem e comentem bastante 💜