LIVRO INCOMPLETO. DISPONÍVEIS APENAS 4 CAPÍTULOS PARA DEGUSTAÇÃO.
Eu me enfio debaixo do cobertor e fico quietinho. Ela deve estar nos braços dele agora. Ao menos um de nós conseguiu o que queria com um plano improvável e muito bem manipulado. Ela merece, devo admitir. É uma atriz e tanto! Ouço sons de passos pela suíte, mas não tenho certeza. A luz do quarto é acesa e de repente algo pula sobre mim.
Sento-me alarmado e Sury está aqui. Tira o casaco apressada, soltando os fios negros de um rabo de cavalo torto. Parece assustada, meio pálida e cansada.
— O que está fazendo aqui? Astolfo a deixou entrar?
Estou prestes a gritar por ele quando ela diz:
— Desculpe por acordá-lo, sei que está bravo, mas vai ficar ainda mais com o que vou dizer agora.
— Experimenta me irritar ainda mais, Sury.
Ela pega o aparelho celular, parece tremer levemente.
— Eu fiz uma coisa que você me disse muitas vezes para não fazer, mas antes de brigar comigo e ficar bravo, você precisa escutar o que ouvi.
Olho para suas mãos e ela percebe onde meus olhos se focam.
— Onde está seu anel?
— Eu não perdi! Está seguro no closet da minha suíte. Eu não sairia na rua à noite com algo tão valioso no dedo.
Então se dá conta do que disse e dispara a falar:
— Eu saí sem seu consentimento, mas antes que fique bravo eu tive um bom motivo. Oscar me enviou mensagens, disse que tinha algo a dizer sobre você que Silas havia dito a ele, eu levei o celular e deixei gravando toda a conversa e, bem... Escute por si mesmo.
Ela não sabe que a segui, nem sequer que tomei conhecimento de sua saída. Ela adianta um pouco o áudio e para pouco depois do que o ouvi dizer a ela, é aí que escuto o que a deixou tão assustada.
— Silas tem provas que Igor assassinou os pais e o irmão para ser o único herdeiro da Valentino's. Eles morreram há seis meses em um acidente de carro. Igor deveria estar com eles, mas na última hora, inventou uma desculpa e não compareceu. Apenas ele se livrou. Curiosamente, dois meses antes do acidente, Valentino Werneck, havia mudado o testamento deixando tudo o que possuía para seus filhos, Andrei e Igor. Você não sabia sobre isso, não é?
— Isso não prova nada! — A voz de Sury responde.
— Seu noivo é sincero com você, Sury? Pode confiar nele? Ele contou a você que não é filho de verdade de Valentino Werneck? Não contou, não é? Também não contou que afastou o pai de toda sua família alegando que eles o maltratavam e cometiam racismo contra ele, aposto.
— Conhecendo Silas não é difícil acreditar. Ele é desprezível.
— Não há nenhuma prova de que meu cliente tenha cometido qualquer crime de racismo contra o sobrinho, no entanto, Igor levou o pai, a mãe e irmão para a Itália e, por anos, eles não tiveram contato com ninguém da família. Valentino tirou Igor das ruas, as circunstâncias nunca ficaram claras. Depois deu a ele sobrenome, dinheiro, estudo e ações na Valentino's. Ensinou a Igor tudo o que ele precisava e coincidentemente, mudou o testamento mesmo ainda sendo jovem e saudável, dois meses antes de um acidente que tirou sua vida, de sua esposa e filho legítimo, ficando apenas o filho adotivo vivo. O único herdeiro em testamento. Você não acha coincidência demais?
— Você está me assustando, Oscar. Silas tem provas disso, você disse.
— Ele tem provas que a morte do irmão não foi acidente.
— Que provas?
— Não posso falar sobre isso com você aqui, agora.
— Como ele conseguiu essas provas?
— Sury, não posso...
— Você me fez vir até aqui para dizer que o homem com quem vou me casar é um assassino. Precisa ser mais convincente do que isso, Oscar. Essas coincidências e especulações para mim, não são nada. Ainda mais vindas de você. Sua palavra não tem qualquer veracidade para mim. Você me ama? Quer me salvar depois de tudo o que me fez? Acha que vou acreditar nisso?
— Sury, eu juro que só estou tentando salvar você e a Sammy. Ele é perigoso e, quando perceber que vai perder tudo...
— Então me convença que está dizendo a verdade. Que provas Silas tem? Como as conseguiu? Me dê algo melhor do que coincidências. Eu não acredito em coincidências.
— Desde quando?
— Desde agora. Preciso ir.
Há o som da cadeira sendo arrastada, a porta do café sendo aberta e fechada, de passos, um carro passando, e depois é encerrada. Não consigo me mover, mal consigo respirar. Tantas coisas passam por minha cabeça e não sei por onde começar a assimilar tudo o que ouvi.
— Sinto muito — Sury diz baixinho e meus olhos se desviam para ela. — Isso foi tudo o que consegui que ele dissesse.
Sinto-me confuso. Ela chegou aqui tremendo, meio pálida até. Provavelmente por medo de mim, se acha que matei meus pais.
— Eu não matei minha família, Sury — digo, mas minha voz soa mais baixa do que pretendia.
— Eu sei que não. Isso nem passou pela minha cabeça.
— Como você sabe que não?
— Porque você ainda está de luto.
Surpreende-me que ela tenha tido a sensibilidade de perceber isso, mas me surpreende ainda mais que apenas tenha decidido acreditar em mim. Por acreditar. Ela é alguém que acredita nas pessoas, eu nunca fui assim e não entendo como ela consegue apenas acreditar.
Ela deve ter percebido a confusão em meu rosto, porque continua:
— Além do mais, se for para eu acreditar em um homem que ajudou uma maluca que nem conhecia a não se sentir humilhada ou em um homem que em três minutos de conversa tentou agredi-la, em quem acha que eu acreditaria? Você é bom, Igor. Você também viu bondade em mim.
Assinto, uma lágrima fujona escapa dos meus olhos e ela a seca. É um gesto automático. Chorar costuma me fazer sentir fraco, mas agora sinto-me apenas aliviado. Ela acaricia meu rosto com o dedo molhado e pede:
— Eu posso tocá-lo?
— Já está tocando.
Ela sorri e, do nada, sendo Sury, entende minha resposta como consentimento. Se lança sobre mim abraçando-me. A abraço de volta, prendendo-a nesse abraço. Suas mãos passeiam por minhas costas e descem por elas, até que ela se dá conta. Tenta afastar-se, mas não permito, rindo baixinho.
— Você... está nu?
O cobertor agora cobre da cintura para baixo. Onde Sury está acomodada.
— Só agora você percebeu?
— Você está mesmo nu! Está nu e quente! Muito quente!
Ela se afasta, mas a trago de volta para perto. Giro nossos corpos jogando-a de costas na cama. Seguro suas mãos uma de cada lado de seu rosto e deito meu corpo sobre o seu. Sua respiração está acelerada, o cabelo bagunçado no meu lençol branco. Os fios negros se destacam contra a palidez do lençol. Os olhos de mel até poucos minutos mais escuros, parecem refletir mais luz quando a olho assim, tão de perto.
— Não foi de propósito, Sury? Pular sobre mim, até pedir permissão para me tocar. Você sabia que eu estava nu. Está sempre tentando fazer sexo comigo.
— Não desta vez.
— Então devo libertá-la?
— Não foi o que eu quis dizer.
— Então o que devo fazer, linda Sury? Foi maldade a lingerie, você sabe que foi. Isso vai ter volta.
Ela sorri, um sorriso travesso.
— Você ficou excitado?
— Por longas e dolorosas horas — confesso.
Seus olhos de mel estão presos aos meus. Deixo uma de suas mãos para tocar seu cabelo. É macio, meus dedos deslizam pelos fios negros e se prendem entre eles. Sury aproveita a mão livre para tocar meu peito. Dura poucos segundos, impaciente, desce a mão para debaixo do cobertor e encontra a boxer que uso. Então empurra meu corpo com uma careta e olha para baixo.
— Você não está nu!
— O que exatamente você queria ver aqui embaixo, Sury? Eu acho que está obcecada pelo meu corpo.
— Seu corpo não, só seu pênis — confessa e se arrepende no mesmo segundo.
Uma risada me escapa e ela sai da cama, irritada.
— Oscar deve me procurar de novo para contar algo mais convincente, isso se alguma coisa do que ele disse for mesmo verdade. Mas eu preciso saber o que exatamente estamos procurando. O que Silas está fazendo contra você? O que há entre vocês? Como eu posso ajudá-lo? Se um dia você decidir que pode me contar alguma coisa, estarei pronta para ouvir.
Ela dá a volta na cama, pega o casaco e o celular e deixa o quarto. E percebo o quanto fui ingrato com ela e o quanto me sinto aliviado por ela ainda estar aqui.