- Gabriel Narrando -
Essa semana os médicos começaram a diminuir aos poucos a sedação da Lara porém precisou voltar a ser sedada por não conseguir respirar sozinha mas todos os dias eles tentam retirar a sedação. Há dois dias ela foi transferida para a UTI mas obviamente as visitas são super restritas e até agora só o país e a irmã que conseguiriam entrar. Acordei bem cedo e fui pra casa da Lara, peguei o Baby Groot que já estava agitado me esperando e fui dar uma volta com ele, desde o meu primeiro dia de alta comecei a pega-ló pra passear já que a principal companhia dele não está em casa. O Lucas completava 14 anos hoje e como sempre ele só pediu um jantar com a família e os amigos, e dezenas de presentes. Assim que cheguei em casa parabenizei ele, entreguei o presente e fui tomar café da manhã.
- A viagem - faliu animado
- O papai e a mamãe vão com você - falei e ele sorriu - Por enquanto tem que se contentar em adulto junto supervisionando
- Não que eu quisesse, né? - meu pai falou dando um gole no suco - Acabou os meus planos de início de ano
- Os seus planos acabaram ao descobrir que seria pai - falei simples e ele riu
- Verdade - concordou e eu terminei de comer o meu misto
- Parem com a bobeira - minha mãe falou e assim que terminei meu nescau me levantei
- Vou no hospital - avisei - Mas venho para o jantar
- Se quiser ficar lá eu entendo - Lucas falou e neguei com a cabeça
- A Lara brigaria comigo se eu faltasse ao seu jantar de aniversário - falei e ele sorriu de lado
- Tudo bem - balançou a cabeça - Eu vou escovar os dentes e vou para o hospital
- Mande notícias - minha mãe pediu e eu assenti
Cerca de meia hora depois cheguei no hospital e hoje encontrei com todos os irmãos, primo, padrinhos e os amigos dela. Depois de cumprimentar o pessoal me sentei e fiquei mexendo no celular já que eu não tinha muita conversa com as pessoas que estavam ali.
- Oi - escutei uma voz baixa ao meu lado e ao olhar vi o Davi
- Oi - falei olhando pra ele - Aconteceu alguma coisa? - perguntei e ele negou
- Na real tá acontecendo um monte de coisa, né? Além da Lalinha nessa situação a minha avó tá inventando de morrer uma hora dessa - segurei a risada do jeito que ele falou mas deu pra notar que ele estava muito sentido com tudo
- Ela piorou? - perguntei e ele assentiu
- Os rins começaram a falhar - contou baixo - E achei em uma pesquisa que em falência múltipla o primeiro a falhar é o rim - deu uma pausa - Eu entendo que ela já tem idade e que no caso dela a morte signifca que ela agora vai descansar mas mesmo assim
- É a sua avó - falei simples - É normal pensar assim, conscientemente você entende que seria o melhor pra ela, né? Mas quando tem amor envolvido o negócio se torna estranho
- Acho que sim - falou pensativo
- Vai visitar a Lara? - perguntei e ele negou, já era pra ele ter ido, os meus sogros ofereceram a vaga porém ele não quis
- Não consigo - sussurrou
- Eu acho que você deveria ir - falei e ele me olhou - A Lara deve está muito feliz em ouvir os seus pais mas a voz que ela deve está louca pra ouvir é a sua
- Você acha? - perguntou e confirmei com a cabeça
- Você é a metade dela, cara - falei óbvio - Se tem uma voz que ela irá amar ouvir é a sua
- Pode ser - falou e ficou em silêncio, voltei a olhar a tela do celular mas não deu tempo nem de fazer nada já que outra pessoa se sentou ao meu lado e ao olhar vi a minha sogra
- Oi, querido - sorriu fraco - Você pode visitar a Lara, se quiser
- Posso? - perguntei surpreso
- O Marcelo foi conversar com o médico da mãe e os meninos entenderam que seria importante se você a visitasse - explicou - Eles vão amanhã. Você vem?
- Vou sim - falei rápido e guardei o celular
- Mãe - Davi chamou e ela olhou pro filho - Eu quero ir, posso?
- Claro, amor - confirmou e nos levantamos - É muito importante que vocês tentem falar com ela e com isso estimular qualquer reação, as vezes ela abre os olhos e isso é um grande avanço
- Tá bom - falei e seguimos a área indicada pra então nos trocarmos e colocarmos roupas adequadas para a visita, o estado da Lara era grave e o que menos ela precisava era que levássemos alguma doença de fora
- Podem entrar - a enfermaria falou e ver a Lara sem o respirador já deu um baita alívio
- Eu não - Davi travou na porta e ficou olhando com os olhos arregalados pra irmã
- Ei, vem - segurei a mão dele e vi que tremiam - É a sua irmãzinha doida pra ouvir a sua voz
- Tá, calma - respirou fundo e começamos a andar em direção a maca, assim que me aproximei segurei uma das mãos dela e passei a mão de forma delicada na testa dela
- Oi, bailarina - falei baixo e meus olhos encheram de lágrimas - Eu já sabia que você era preguiçosa e que tinha muito sono, né? Mas agora você está está muito mais. Você precisa ficar boa logo ou não deixo nunca mais você pegar a minha sobremesa - brinquei e me abaixei aproximando a boca do ouvido dela - Desculpa por não ter evitado o acidente, nunca quis machucar você e eu vou ficar maluco se você não voltar - solucei e meu rosto já estava encharcado de lágrimas - Volta pra mim, amor, eu estou cheio de saudades - apertei a mão dela levemente porém não tive resposta, me virei pra olhar o Davi e vi que ele chorava em silêncio
- Quem disse que isso funciona? - perguntou irritado e negou com a cabeça - Olha o que você faz, Lara, como você teve coragem de me abandonar assim? Você me deixou sozinho aqui, me deixou perdido sem você, nós nunca nem ficamos esse tempo todo sem nos falar e você inventa de ficar nessa situação. Meu deus! Você precisa voltar porque eu não sei viver sem você e já está ficando insuportável ficar sem a sua presença e eu não quero me acostumar ficar sem ela - fungou e limpou o rosto, coloquei a mão no ombro dele porém ele me abraçou caindo no choro - Ela tem acordar, ela precisa acordar logo
- Ela vai acordar - sussurrei e acariciarei as costas do mesmo, os únicos barulhos no quarto eram do choro dele e equipamentos
- Vi - um som bem baixinho se fez presente no quarto e nós travamos - Vi - se repetiu e nos soltamos, assim que nos viramos a Lara estava com os olhos abertos olhando pra gente, os olhos vagavam pelo quarto e o olhar assustado se fez presente
- Lalinha - Davi falou animado e se aproximou - Você tá sentindo alguma coisa? - perguntou e ela continuou quieta - Hein? - insistiu mas não tivemos resposta
- Segura a mão dela - sussurrei - Pede pra ela apertar em forma de resposta
- Lalinha, você lembra o que aconteceu? - perguntou e segurou a mão dela - Se você se lembrar aperta uma vez a minha mão e se não lembrar aperta uma - falou e ele assentiu - Ok, não lembra!
- E é normal - falei ao ver o pavor dele - Me lembro de pouca coisa do acidente
- Menos mal - Davi falou baixo - Sabe o nome dele? - apontou pra mim e os olhos dela voltaram pra mim na hora - Não? - perguntou e o meu coração parou na hora
- Não é possível - sussurrei passando a mão no rosto
- Não sabe quem ele é? - voltou a perguntar e ele fez uma cara confusa - Ué, você sabe quem é mas não se lembra? - questionou - Aparentemente ela lembra de você mas não sabe quem é você ou o seu nome, sei lá
- Deve ser os remédios - falei baixo
Não demorou para o médico entrar e precisamos sair do quarto, explicamos o que aconteceu e obviamente o avanço dela deixou todo mundo contente. Depois de algum tempo a minha sogra voltou, ela foi conversar com o médico e recebe as últimas notícias da Lara.
- E então? - minha cunhada perguntou nervosa
- A Lara ainda precisa de muitos exames - explicou e eu já imaginava isso - Mas o médico desconfia que ela esteja com um quadro de afasia e isso explica ela não conseguir se comunicar corretamente, mas ele só vai fechar qualquer diagnóstico depois da junta médica avaliá-la
- Já foi um grande avanço ela ter falado e apertado a mão do Davi, né? - Felipe perguntou e ela confirmou com a cabeça
- Ela finalmente está melhorando - Mayara, madrinha da Lara, falou e foi abraçar a minha sogra
- Finalmente uma boa notícia - Rhuan suspirou
- Se você não tivesse insistindo eu não teria ido e ela não teria acordado, obrigado - Davi falou sorrindo e me pegou de surpresa com um abraço
- Relaxa - falei sem graça e a minha sogra veio me abraçar quando ele me soltou