O dia passou, burburinhos tomavam os corredores enquanto andávamos, não pensei que passariam a nos tratar realmente como uma legião de guerreiras depois do discurso. Até abriam passagem para nós, eu me sentia incomodada, mas Keiko, Sora e Hana pareciam mais do que felizes em encontrar o corredor vazio completamente a sua disposição.
Para o treino da tarde, Dan já estava a postos para dar a sua visão geral sobre o time, e espantar as novas jogadoras a sua maneira.
Bati as pontas dos pés no chão antes de entrar no novo ginásio — Tire esse sorriso do rosto vai matar as jogadoras antes de começar.
— O que tem de errado em ficar animado com as novas promessas — ele passava as folhas olhando as inscrições enquanto andei até o carrinho e peguei uma bola —, podemos montar alguns times para treino. Isso é muito bom, estou impressionado, o que você disse no discurso?
— O time feminino de vôlei não é para você. — Aki respondeu tocando a bola para cima.
— A história do mundo está repleta de momentos de grandeza, mas esse ano o marco será nosso. — Hana completou.
— Se entrarem no nosso time, nosso treinador vai tentar matar vocês
— Keiko eu não disse isso — reclamei e joguei uma bola em sua direção, a meio de rede recebeu e devolveu para mim.
— Mas foi o que eu escutei.
— Não é completamente mentira — Sora completou.
— Chegaram no terceiro ano engraçadinhas não é? — o treinador reclamou, mas sem força para levar aquela discussão além, ele voltou a ver as folhas.
— Treinador — Yumi o chamou — sobre o gerente, podemos ter um?
Dan levantou os olhos — Ah, sobre isso Hibiki-sensei está resolvendo com a diretoria, não acho que seja um problema, mas não sei se pelo estatuto podemos. Sabe, toda essa baboseira de divisão de gêneros.
— E a treinadora Atena? — qualquer um iria esperar que essa pergunta viesse de Keiko, mas veio de Misaki, então Dan se segurou na reação — Ela já está treinando algum time? Hibiki-sensei é o conselheiro, você o treinador, ainda temos vaga para um auxiliar técnico.
Meu irmão fez uma careta — Por quê? Eu não sou o suficiente?
— Expanda os horizontes Dan — passei a bola de uma mão para a outra —, não é uma má ideia. A não ser que está com medo de ser substituído por Chie.
— Eu? Com medo? Por favor — o mais velho gargalhou sarcasticamente.
— Então não tem problema se eu já tiver falado com o diretor sobre isso?
— O quê? — o pânico em seu rosto foi imediato, os olhos se focaram em mim, perdendo o brilho momentaneamente antes de perceber que não era realmente verdade. O time não segurou as risadas enquanto o treinador inabalável levantava a mão até a cabeça envergonhado por cair na minha provocação.
— Acho que você é um ótimo treinador e completo — respondi com sinceridade —, mas uma comissão técnica não se faz apenas de uma pessoa. Tem quase o dobro de jogadoras para olhar a partir de agora, mesmo que algumas desistam.
— Sem contar os treinos com o masculino, você é bom Dan, mas não é dois — completei olhando seus olhos.
Ele olhou para mim, sabendo que todos os meus argumentos eram válidos, Dan esteve acompanhando de perto o time e com o crescimento, o tempo necessário para cuidar dele com o mesmo esmero, seria bem maior.
Não é incomum, grandes e prestigiados clubes do ensino médio terem vários treinadores, com o objetivo de auxiliar grupos de talentos diferentes. Até se ouve caso de jogadores que não se encontram até que sejam titulares, embora eu já ache extremo, não poderíamos continuar treinando da maneira que fizemos pelos últimos dois anos.
O clima pesado foi embora quando Sayu entrou acompanhando algumas jogadoras novas, era fácil identificar uma vez que vestiam o uniforme de educação física da Fukurodani. A maioria sorria e parecia maravilhada com o ginásio, do mesmo jeito que ficamos quando vimos a reforma.
Quem chega hoje no espaço destinado ao time feminino de vôlei não imagina, todo o lixo e poeira que tivemos que tirar logo no nosso primeiro dia. Agora, três anos depois, não tinha uma mancha nas paredes.
— Traz de volta algumas memórias, não? — Aki se colocou do meu lado — Tenho crise alérgica apenas de lembrar de toda sujeira que tivemos que arrancar do ginásio.
Dei risada — Não posso dizer que foi particularmente agradável, mas foi graças a faxina que viramos um time.
— Foi seu primeiro discurso também — comentou —, eu gostava de vôlei só que depois daquele dia comecei a me dedicar de verdade. Para me tornar alguém digna de andar ao lado das minhas companheiras de time, hoje já não consigo me ver sem nenhum dos dois.
Abaixei a cabeça sorrindo e passei o braço por seus ombros, andando em direção das novas jogadoras — Mal começou o ano, vamos deixar as coisas sentimentais para o final dele, como foi a mudança?
Um grunhido escapou de sua boca — Cansativa, fico feliz pelo Yusuke, porque é do lado da escola dele. Só que em compensação, para mim, ficou bem mais longe.
— Tenho certeza que vai se acostumar, vou falar para Dan revisar seu treinamento. Qualquer coisa podemos folgar em alguns aspectos já que vai andar bem mais que o comum.
— Você realmente existe? Porque acho às vezes que não — Aki parou e me olhou com olhos brilhantes, juntando as mãos na frente do corpo como se estivesse orando —, a propósito meu bairro fica próximo do Colégio Nekoma.
Virei a cabeça com um resmungo, bakaneko imediatamente surgindo em minha mente — Boa sorte com isso.
— Reclama, mas até onde sei você e o Kuroo são bons amigos.
— É para se questionar — respondi e parei na frente das jogadoras, agora olhando as novas personalidades era fácil de ver quem estava ali pela fama ou pelo jogo. De início podia contar três ou quatro que talvez desistissem no meio do caminho. Ainda assim, para o ano seguinte teriam ao menos dois times completos de jogadoras.
— Agradeço pelo interesse no clube feminino de vôlei — comecei a falar —, se ouviram o meu discurso nas apresentações e estão aqui ao menos tem coragem. Por isso são reconhecidas, e bem-vindas.
Sora deu um passo para a frente se colocando ao meu lado — Vimos as fichas e sabemos ter alguns talentos, mas isso não é garantia de que irão começar no time titular. Nas primeiras semanas serão avaliadas, e então montamos as estratégias de jogo.
— Nosso objetivo é o nacional — completei —, todos eles. E a vitória, em todos eles, podem pensar: todos os times dizem isso. A diferença é que para nós não existe outra opção. Quando fui atrás de fundar esse clube três anos atrás, fizemos um planejamento progressivo, chamamos alguma atenção no primeiro ano, no segundo chegamos aos oito melhores do país, e agora chegou a hora de clamar o topo.
— Belas palavras capitã, mas nada disso vai ser possível se não deixarmos o time no topo de suas capacidades — Dan chamou a atenção e assumiu as palavras —, é fácil de saber, mas sou o treinador Daniel, Dan, treinador, o até mesmo Esparta como algumas já usam.
Ele olhou para trás, as meninas seguraram alguns risos e ele apenas as reprimiu com os olhos e continuou.
— Força, técnica e espírito, é como definimos a base do time feminino de vôlei da Fukurodani. Nossa vantagem contra os times do ensino médio é a resistência física, sempre foi, porém, passamos algum tempo lapidando habilidades, agora chegou a hora de aplicar esses três pilares. Avançar e conquistar, vou chamar seus nomes, podem se apresentar e dizer sua posição em voz alta — o treinador deu a orientação e continuou —, vamos fazer alguns jogos e começaremos com as avaliações amanhã, entendido?
As novas jogadoras concordaram.
— No fim do dia nos reunimos com o time masculino, é uma tradição ter uma partida entre os primeiro anistas dos dois grupos — completei e sorri —, não é uma obrigatoriedade, mas saibam que ganhamos no último ano, então continuem motivadas.
Assim começou as atividades, Dan as chamou e elas se apresentaram, jogadoras de todas as posições haviam se inscrito. Algumas com mais experiência do que outras, contudo nenhuma completamente alheia ao esporte. Depois sorteamos alguns times e acabamos por fazer alguns jogos, elas eram boas e se alinharam a equipe de uma forma natural.
Tiveram alguns erros, mas nada que uma boa orientação não pudesse resolver.
No meio do treino Hibiki-sensei apareceu acompanhado de um garoto, devia ser aquele que se inscreveu para o cargo de gerente. Dan conversou com ele primeiro e depois que entrei na pausa o treinador me chamou para perto, à medida que andava em direção a eles olhei com mais atenção o primeiro-anista. Ele não devia ser mais alto que Aki, vestia um suéter por cima da camisa social do uniforme, tinha cabelos pretos que caíam de maneira bagunçada, uma franja que alcançava quase até o nariz e bonitos olhos avermelhados. As mãos na frente de seu corpo estavam juntas, as pontas dos dedos umas contra as outras, o rosto corado também gritava que ele estava envergonhado enquanto animado.
— [Nome] — Hibiki-sensei me cumprimentou —, me deixe apresentar, esse é Masami Amano se candidatou como ajudante do time. Como é um caso sem precedentes, o reitor concordou em avaliar Amano-kun por algum tempo antes de dar uma posição fixa no time.
— Entendo, obrigada pela inscrição, Amano-kun — o cumprimentei —, espero que possamos nos dar bem.
— Igualmente senpai, me senti inspirado pelas suas palavras — seu rosto se levantou para olhar o meu prestando uma continência em seguida —, prometo dar o meu melhor!
— Estou contando com isso — coloquei a mão em seu ombro — Hibiki-sensei geralmente ajuda com a organização, então escute bem o que ele dizer, sensei estou contando com você.
— Pode deixar!
O treino ocorreu tranquilamente, Amano-kun andava de um lado para o outro com Dan e Hibiki-sensei, eu conheço meu irmão e sei que é um pouco difícil se sentir confortável com ele logo de início, porém ele pareceu se dar surpreendente bem com o mais velho. Bem, era de se esperar já que Daniel tinha um irmão por parte de pai que é apenas alguns anos mais novo.
Após secar meu rosto numa toalha, já no fim do nosso treino, reuni o novo time — Por hoje é isso, vamos dividir vocês do primeiro ano em dois grupos para as avaliações físicas. Serão feitas em treinos matinais enquanto a tarde continuaremos a fazer jogos, pelo menos nessa primeira semana. Treinador?
Chamei Dan e ele puxou a lousa de estratégia grande e a virou — Esses são os dois times, quem está no grupo A já pode vir amanhã pela manhã, os fósseis e os dinossauros estarão aqui treinando individualmente, então vocês filhotes não precisam se preocupar.
— Se preocupem sim — Keiko interrompeu —, ele provavelmente vai colocar pesos de p-
Hana imediatamente tapou a boca dela e sorriu para as novatas — Não liguem para essa idiota, ela tem traumas.
Levei a mão até o pescoço ajustando os fios soltos, respirei fundo e soltei o ar devagar. Keiko realmente não tinha jeito.
— O último recado de hoje, Amano-kun por favor — o chamei com a mão e o garoto nervosamente andou até mim —, devem ter reparado na presença dele durante o treino. Ele candidatou para ser gerente do time, e ajudar a auxiliar junto de Dan e Hibiki-sensei, por favor o tratem bem.
— É um prazer conhecer vocês, o nome é Masami Amano. Qualquer coisa que precisarem podem contar comigo!
Dei dois tapinhas em suas costas — É isso, vamos para o ginásio masculino e depois disso vamos dar o treino como finalizado, só precisamos organizar as coisas aqui.
Como esperado, com os pares de mãos extras, fechar o novo ginásio foi bem mais rápido do que o comum. Guiei o grupo em direção ao outro ginásio, puxei o coro de cumprimento e os meninos responderam, eles provavelmente estavam esperando já que estavam reunidos.
O treinador Yamiji nos apresentou e disse como iria funcionar a dinâmica dos jogos esse ano. Iriamos usar duas quadras simultâneas, já que tinham mais jogadores do que o ano passado, e no fim reuniríamos os dois times para orientações.
Eu e as meninas mais velhas ficamos nas laterais olhando os jogos e dando dicas, o mesmo com os garotos do outro lado. Com exceção de um que parecia estar chateado demais de não estar jogando, fazia algum tempo que não nos enfrentávamos, então tomei a liberdade de pedir para o treinador estender um pouco tempo e liberar a quadra para uma partida entre os titulares dos times.
— Mesmo que eu dissesse não, iriam fazer de qualquer maneira — me respondeu rindo — a quadra é sua capitã.
Me afastei e chamei Sora — Se aqueça junto dos fósseis, vamos jogar na próxima, não temos um set real contra os meninos a algum tempo.
— Porque será que esse tipo de coisa não me surpreende? — reclamou, mas acabou por ajustar os manguitos no braço — Só nos resta ganhar então.
— Esse é o espírito — completei e me afastei para avisar os garotos, eles estavam sentados numa parte mais afastada.
— Cansados demais para mais um set ou ainda aguentam?
— Eh? Set com quem? — Komi perguntou.
— Entre os times titulares, não temos um desde o ano passado. Mas vou entender se estiverem cansados — sorri em resposta e ergui o queixo, deixando uma expressão um pouco mais ameaçadora tomar meu rosto —, ou com medo.
Washio balançou a cabeça em negação, Konoha suspirou e Bokuto que estava sentado no chão se levantou jogando a toalha para trás, se tinha qualquer traço do seu famoso "emo mode" antes havia desaparecido completamente.
— Vamos jogar, e ganhar.
Apesar de fora do ginásio as coisas serem bem tranquilas, quando nós dois pisamos na quadra numa situação como essa tudo muda. Desde do primeiro ano foi assim, nenhum dos dois queria perder, nossas habilidades se puxavam e a competitividade nascia naturalmente.
— Nos seus sonhos capitão — sorri em sua direção e dessa vez ele não se escondeu, mas sim deixou a chama iluminar seus olhos enquanto encarava os meus —, quem perder fica devendo lanches de conveniência pro outro time.
— Feito.
Voltei para meu time, explicando as boas novas. Não era como se elas também não estivessem animadas.
— [Nome] acho melhor colocar Chiasa no meu lugar — Misa me chamou de canto —, meus pais estão mais rigorosos com os horários, se eu me atrasar...
Era uma situação complicada — Está tudo bem Misa, você é a nossa titular, mas entendo que a questão na sua casa está delicada. Pode ir, eu explico pras meninas depois, não queremos te colocar numa saia justa, vamos resolver isso juntas.
A levantadora ajustou o óculos no rosto e deu um sorriso triste agradecendo, ela se afastou, falou algo com Dan e saiu do ginásio em seguida. Acompanhei sua figura até desaparecer, Sora se colocou do meu lado.
— O que você vai fazer se ela decidir sair do time?
— Isso não vai acontecer — respondi com firmeza.
A meio de rede suspirou — Eu sei que você tem confiança para dar e vender, mas se hipoteticamente você estiver errada e ela sair do clube?
— Se eu estiver errada, o que geralmente não acontece, vamos dar um jeito. Ninguém que ama vôlei de verdade realmente o abandona, sei que esse é o caso da Misa — me virei para Sora —, a questão é que uma parte dessa batalha depende dela mesma, tem um limite até onde podemos interferir.
— Você sempre tem uma resposta para tudo?
— Geralmente sim. — ajeitei as joelheiras novas e bati palmas reunindo o time uma vez que os jogos dos novatos haviam terminado, perdemos um e ganhamos outro.
Assim que o primeiro passo foi dado na quadra foi como se toda a atmosfera mudasse, o ar se tornou mais denso e não era caça e caçador, mas sim dois caçadores. Juntei as meninas no meio.
— Vamos jogar com calma e mostrar aquilo que somos capazes, Fukurodani...
— Fight!
— Fly — chamei de novo.
— High! — abaixamos as mãos e tomamos nosso lugar na quadra, passei a mão pelo pescoço e joguei o cabelo para o lado no meu característico efeito chicote, os meninos iriam jogar com garra, tínhamos que responder com a mesma intensidade.
Da esquerda para a direita na linha da frente, Aki, eu e Keiko, na linha do fundo, Sora na rotação com a Emi, Chiasa e Hana no saque.
— Hana bom saque!
Ela bateu a bola no chão e sacou, forte e sendo viagem, era a primeira vez que ela usava numa partida sem ser no nosso ginásio então causou alguma surpresa. Eles não conseguiram receber e o primeiro ponto foi nosso.
Ambos os times estavam reunidos nas laterais para assistir o set, mais uma vez Hana sacou com precisão, mas Komi já preparado colocou a bola para cima. Akaashi se posicionou e levantou a bola, quem avançou para corta foi Saru, Emi que estava na quadra no lugar da meio de rede recebeu sem grandes problemas.
Chiasa avançou e fez um levantamento pelo meio, eu estava na ponta servindo de isca então Keiko teve a missão de finalizar a jogada. Uma largadinha foi o suficiente para marcar o segundo ponto.
— Largadinha na primeira? Você voltou assustadora Kei — bati a mão com a dela comemorando o ponto.
— Ficaria impressionada com a quantidade de jogadas absurdas que eu vi.
— Aposto que sim — me apoiei nos joelhos — Hana mais um!
Dessa vez os meninos receberam e Akaashi levantou para Bokuto que avançou pela lateral, eu e Keiko pulamos para fazer o bloqueio, mas o que parecia ser um corte com toda a força acabou sendo um de engano, a bola embolou nos nossos braços e caiu no chão.
— Pretendem jogar com truques então? — questionei para o outro lado da rede.
O capitão mirou os olhos cor de âmbar para mim e levantou uma sobrancelha — Não fui eu que usei uma largadinha na primeira jogada.
A rotação aconteceu e agora eles que iriam para o saque, nos preparamos para receber e Emi, fez seu papel passando a bola diretamente para Chiasa, o sinal do ataque tinha sido dado, avancei pela lateral direita joguei os braços para trás e pulei. Washio pulou para me bloquear, mas não foi o suficiente, a bola bateu no bloqueio e voou para trás fazendo um ponto de block-out.
— Chia, foi um pouco baixa. Acho que eu consigo pular mais alto agora — dei uma orientação e bati a mão na dela.
— Pode deixar capitã!
O jogo seguiu, era claro que nenhum dos dois lados queria deixar a diferença de pontos aumentar. Odiava Dan por ter feito um bom trabalho com o treino físico deles, pelo tanto que os rallys estavam se estendendo já era para um dos times estarem se apoiando nas próprias pernas de cansaço.
Mas isso não ia acontecer tão cedo.
Estávamos empatados por 17 pontos cada quando voltei para o saque. Bati a bola no chão duas vezes e me preparei. Sorri antes de trocar a bola de mão e a jogar para cima para sacar com a esquerda.
Konoha tentou receber, mas a rotação fez com que ela voasse para fora da quadra, Komi não quis desistir, correu até ela a jogando para trás.
— Bola de graça — mexi meus pés e ajeitei ela para a levantadora, Hana avançou pelo meio e cravou o ponto.
Peguei mais uma bola e dessa vez eles receberam, Bokuto avançou para cortar e mesmo Sora estando na rede encarando de frente não foi o suficiente, estourou no bloqueio e caiu na quadra.
— Não se preocupem, vamos recuperar.
Troquei um sinal com Chiasa que se posicionou em seguida, como estava na linha de fundo recebi o saque, parecia que eu tinha errado e mandado para perto da rede, mas a intenção era para que a levantadora fizesse um ataque de segunda. O que foi bem-sucedido.
Aki que foi para o saque, acabou mandando uma bola forte demais e voltou a empatar o placar 19 a 19.
Konoha foi para seu lugar e a bola veio na minha direção, porém poucos segundos antes de fazer contato tirei os braços, foi fora.
— Boa leitura [Nome]!
— Foi por pouco — bati em suas mãos.
Sora fez um saque simples, que foi recebido e Washio finalizou pelo meio. Tão insistentes.
— Será que vocês não podem apenas perder? — Hana acabou vocalizando os meus pensamentos.
— É uma boa ideia porque não faz isso Hana-chan? — Komi-yan rebateu.
— Porque provavelmente os irmãos Esparta vão nos matar depois — Keiko se meteu no meio da conversa —, então ganhar é a melhor opção.
— Ganhar é sempre a única opção — Aki corrigiu —, não foi isso que a capitã disse?
— Me alegra que vocês realmente escutam o que digo — comentei vendo o placar 20 a 20 com Saru no saque.
— Só às vezes, não se acostume — Emi rebateu após trocar com Sora, girei o pescoço aliviando a tensão. Esse é meu time.
Fiz a recepção dessa vez e em seguida avancei pela lateral, Chia ajeitou o toque para trás e o ataque cruzado com a esquerda marcou o ponto de desempate.
— Eu odeio esse ataque.
— Keiko você é do meu time — reclamei com ela.
— Eu sei, mas continuo odiando, é ridículo de bom.
Empurrei para o lado e acompanhei a rotação, olhando com cuidado para a quadra adversária. Akaashi estava aprontando algo, ele não estava mandando muitas bolas para Bokuto. Precisava abrir uma vantagem antes que o rapaz entrasse num turno de pontos e levasse o set de uma vez.
Dessa vez, depois da boa recepção, Hana precisou dar o acompanhamento e fez um levantamento longo para mim que estava longe do bloqueio. Os meninos chegaram rápido, mas mesmo assim consegui tomar o ponto deles.
— Precisamos acabar com isso rápido, eles estão tramando alguma coisa — disse quando nos juntamos no meio — Bokuto está no saque da próxima rotação.
— Então na quadra é Bokuto e fora dela Kou? — Sora levantou a mão para meu rosto e apertou a bochecha — Que bonitinha.
Bati sua mão para longe, e empurrei as garotas que riram — Foquem no jogo, sabe o que as espera se perdermos.
A aura do time voltou a ficar centrada, ninguém queria arriscar pegar o lado ruim do Dan. O próximo saque acabou pegando na rede, e isso nos fez ficar em alerta para que viria do outro lado. No momento que ele olhou para mim, soube que viria em minha direção.
Meus braços arderam por conta da força e acabei por me desequilibrar e me atrasar para o contra-ataque, um breve olhar para o levantador e o sorriso de canto denunciou ser esse o plano. Aki não conseguiu furar o bloqueio e bola voou, estava atrás e ainda estava no meu alcance, estiquei o braço e a impedi de cair.
— Bola de graça! Akaashi!
Levantei-me rapidamente sabendo que novamente seria Bokuto a cortar — Bloqueio!
Não deu tempo o cruzado veio como um tiro, Emi recebeu mas não teve o suficiente para levantar a bola para um contra-ataque, estava longe dos meus braços então com o pé tentei ajeitar para passar para o outro lado. Mas nesse instante mais uma vez o capitão estava lá para interromper, e cortar.
A bola bateu no meu ombro e em seguida meu rosto antes de cair e rolar tranquila para fora, enquanto isso estava caída no chão olhando para o teto. Emi apareceu no meu canto de visão.
— Tudo bem?
— Sim — aceitei sua mão e me sentei girando o ombro —, não teve o que fazer nessa. Pelo menos não foi direto na cara.
— Não ia ficar pior do que já é.
— Sei que me ama Sora, obrigada — respondi a vice-capitã que ria de fora da quadra, ajeitei a camiseta e ajustei as joelheiras nas pernas, 22 a 22.
Respirei fundo e soltei o ar devagar, a estratégia deles não funcionaria novamente. Emi recebeu e Chiasa fez o acompanhamento, as meninas na linha da frente pularam para enganar o bloqueio e eu finalizei com o ataque de fundo.
— Sabe cheguei a me preocupar com você por um segundo — Konoha colocou as mãos na cintura —, mas você parece bem demais.
— É um jogo, esse tipo de coisa acontece — joguei o cabelo pro lado antes de assumir meu lugar na rede sorrindo —, recue um segundo e vamos te comer vivo.
Eu provavelmente não voltaria para o saque até o fim do jogo, então precisava fazer o máximo enquanto estava na rede. A recepção foi feita, por conta da organização nosso bloqueio estava fraco e a recepção também não estava nas condições ideais, Chizue entrou no lugar de Sora no saque já que ela tinha a recepção um pouco melhor do que a meio de rede.
Quando o contra-ataque veio, não pulei, deixei o ar limpo para que cortassem, assim ela poderia receber sem problemas e foi o que aconteceu. Chiasa levantou e Aki marcou da outra ponta.
— Chizue mais uma vez bom saque!
O saque foi fraco e caiu logo depois da linha, o que resultou numa bola de graça proporcionada pelo líbero Komi-yan.
— Nossa chance, Chia me mande uma boa.
Bati na lateral da perna e avancei, dessa vez a bola veio mais alta e o meu pulo também teve um alcance maior, girei o braço esquerdo e encontrei uma brecha para paralela, a bola bateu em cima da linha, mas ainda assim foi um ponto.
24 a 22
A minha segundo-anista sacou forte, mas eles estavam preparados, não tivemos como parar o capitão e seu cruzado, foi uma jogada limpa que tirou um ponto de vantagem. Contudo, nós ainda estávamos no set-point.
— Vamos lá garotas — bati palmas chamando sua atenção —, só mais um ponto!
Quem estava assistindo começou a gritar encorajamentos, senti os olhos do capitão queimarem nos meus. Apesar de tudo, ele odiava perder, assim como eu.
Emi recebeu a pancada do saque e Chiasa levantou, Hana atacou, mas eles receberam. Pulei para o bloqueio junto de Keiko.
— Um toque! — ela gritou avisando.
— Chiasa!
— Minha! — ergui a mão pedindo, tomei impulso e cortei, o bloqueio do time masculino foi efetivo, a bola voltou, mas nossa líbero novamente salvou e fez um passe por cima, todas se moveram em sincronia e Chiasa ficou próxima à rede para levantar mais uma vez.
A melhor escolha do ponto de vista do adversário seria a Aki ou Hana, até mesmo um ataque de fundo de Keiko. Só que indo contra as expectativas ela me mandou o levantamento, minha direita ainda era mais forte, então foi com ela que enterrei a bola na quadra adversária, ganhando o primeiro set contra o time masculino do ano.
— Isso!
— Capitã boa cravada!
Batemos as mãos e cumprimentamos os meninos antes dos técnicos finalizarem o treino com boas expectativas para ambos os times. Vamos continuar tendo alguns dias de treinamento em conjunto, assim como nos anos anteriores.
— Capitães querem dizer algo? — treinador Yamiji perguntou.
— Não, já tivemos discursos demais hoje — respondi sorrindo.
— Pois bem, estão dispensados.
Juntei as minhas meninas e agradeci pelo dia antes de as dispensar, ajudamos os meninos arrumarem o ginásio e voltamos para os vestiários. Quando o segundo e terceiro ano ficou sozinho dividi os pensamentos sobre o que aconteceu com Misa.
— Os pais delas são inacreditáveis — Emi bateu no armário com raiva —, os meus não são muito melhores. Pelo menos não tentam regrar cada ação na minha vida.
— Sabemos disso Emi, mas ainda são os pais dela. O máximo que podemos fazer é servir de apoio, Hibiki-sensei e Dan estão avisados. — respondi e subi o zíper do agasalho — Só que não é por isso que estou dividindo o assunto com vocês.
— Não sei o quanto de pressão Misaki aguenta, o que estou aqui para pedir e para ficarem de olho em qualquer comportamento estranho. Temos nossas responsabilidades, o time é importante, mas só é bom enquanto tem algo de bom para oferecer. Nem eu, nem a escola ou Dan e Hibiki-sensei, queremos que alguém fique doente por conta disso, entendido?
O grupo concordou, não demorou para que estivéssemos do lado de fora. A maioria dos alunos já tinha ido embora, e minha companhia estava me esperando no portão.
— Até amanhã [Nome] — Hana foi a última que se afastou.
Acenei e me voltei para Koutarou ele tinha a cabeça baixa, fora da quadra as coisas eram um pouco diferentes. Não precisava de palavras para saber exatamente o que estava passando em sua cabeça. Peguei sua mão, entrelacei nossos dedos e o puxei no caminho de volta.
— Estou bem, foi um jogo. Não vai ser uma bolada que vai fazer eu parar de gostar de você, então pode tirar essa expressão do rosto — ele virou o rosto assustado para mim —, e também não estou lendo a sua mente. Só entendo muito bem o que passa na sua cabeça.
— Tem certeza? — questionou com os olhos arregalados por acertar seus pensamentos.
Dei risada — Claro que sim, se eu conseguisse ler a mente de alguém com certeza saberia.
Kou soltou os ombros e apertou a minha mão de volta — Desculpe.
— Podia ser qualquer pessoa, então não se preocupe, Sora me acerta propositalmente com frequência e ainda é minha melhor amiga, além disso, foi um bom ataque. Está reagindo mais rápido do que no ano passado.
— Você acha?
— Sim, então o que achou dos seus novatos capitão?
A conversa a partir daí fluiu, enquanto andávamos de mãos dadas. Escutei ele falando sobre os jogadores e o time e depois quando contei também ouviu, interrompendo algumas vezes, mas ouvindo na maior parte do tempo. Chegou o momento em que seguíamos por caminhos diferentes.
— Nos vemos amanhã.
Não precisava de muito para alcançar seu rosto, abençoada fosse minha altura, nunca tinha pressa em nossos beijos, mas sempre um gosto doce. Profundo, mas ainda assim divertido, gostava de segurar seu rosto perto do meu apenas para ver meu reflexo nos fragmentos de sol que eram seus olhos. Apesar de ser uma pessoa mais de abraços, Kou era um bom beijoqueiro.
Sua mão, ainda que com incerteza, se levantou até o meu rosto, o lugar onde a bola havia acertado estava um pouco quente, então seus dedos frios foram mais que bem-vindos. Com cuidado ele virou meu rosto inclinando sobre ele, sua testa encostou na lateral da minha cabeça. Kou beijou meu rosto e se afastou.
— Katsue-nee diz que é para melhorar, mas gelo também ajuda.
— Farei isso.
Ele sorriu e se afastou, com um aceno seguindo na direção da própria casa. Vi ele passando a mão nos cabelos e se virando para ver se eu ainda olhava, acompanhei até que ele saísse do meu campo de visão. O sol já tinha se posto há muito tempo, mas só quando Kou se afastou que a noite finalmente chegou aos meus pensamentos.
Entrei em casa e cumprimentei meus pais, esperando ansiosamente pela próxima manhã e o sol que vinha com ele.
N/A: EU AMO ELES MUITO!!!!!!!!!!
Essa semana foi aniversário do Bokuto, então capítulo grandão (já tava escrito mas o universo colaborou).
Vejo vocês na próxima!
Até mais, Xx!