BEATRIZ 🍄
O perdão é diferente para cada um de nós, uns tem mais facilidade em simplesmente sorrir, perdoar, e esquecer tudo de ruim que aconteceu. Admiro essas pessoas, são fortes e sem medo de dar uma nova chance para ter um novo recomeço, mas também são as pessoas que mais são machucadas, e isso acontece constantemente porque não importa o que aconteca, a pessoa que machuca alguém assim, sempre tem a noção de que não importa o que faça, ela sempre vai receber o perdão e vai ser como se nada tivesse acontecido.
Tem outras pessoas que simplesmente não conseguem deixar para trás e eu não as julgo, só quem experimenta da dor sabe a dificuldade para se curar, as vezes tendo a sensação de que se perdoar, será como se estivesse anulando tudo o que sentiu.
O perdão é um processo, requer muito amadurecimento também e uma visão do que te machucou, enxergando perfeitamente a situação.
Li uma vez que "O amor é perdão incondicional" mas acredito nisso só até certo ponto, quando machuca demais, já não tem mais como perdoar, porque já não é mais o amor puro e digno do perdão.
É assim que eu vejo o relacionamento dos pais do Leonardo, sim, não nego que percebo a forma como o pai dele olha para Helena, os olhos brilham e ele dá o sorriso mais genuíno que já vi vindo dele. Parece o Leonardo quando me olha, eu juro que são os mesmos olhos.
A mãe dele também demostra alguns sentimentos, medo, trauma, rancor, mágoa, desespero quando ele se aproxima. Mas infelizmente, ela também demostra amor.
Digo infelizmente porque de tudo o que ela sente, eu tenho certeza de que o amor por ele é o que mais a machuca.
Fico pensando sobre isso as vezes, se ele amava tanto essa mulher, como conseguiu destruir tanto ela quanto o amor dessa forma?
Quando se ama, a gente cuida, zela, protege isso como se fosse a coisa mais delicada do mundo.
Nesse assunto eu estou contra o Leonardo, sei que o que ele mais quer é ter a família toda unida, junta, mas eu não acho que o pai dele mereça que Helena volte. Ela está recomeçando a vida dela, vida que ele destruiu.
Sou do tipo que concorda que o amor perdoa, mas só até certo ponto e a relação dos dois passou do ponto a muito tempo.
tenho medo de que um dia a minha relação com o Leonardo se torne algo doloroso, não sabemos o que pode acontecer daqui a um tempo, tudo pode mudar.
Mas parando para pensar, o nosso amor e respeito um com o outro não vai mudar, amor assim não muda.
Me sentei na cama quando ouvi um barulho na porta, Leonardo havia saído com o pai depois que Helena foi embora, isso já fazem horas.
Ele entrou no quarto e eu encarei seu rosto, a expressão cansada, observei também a forma como ele me olhou, parece que queria me dizer algo, juro que senti isso. Mas ele simplesmente passou direto para o banheiro.
Me recostei na cama e senti algo ruim, um incomodo no peito, ele não chegou nem perto de mim para me dar um abraço ou um beijo. Pode parecer algo bobo, mas ele sempre vem até mim com uma demonstração de carinho, e é a primeira vez que não acontece.
Meu coração já estava quase saindo da boca quando ele finalmente saiu do banho, já estava vestido.
—Oi — disse baixinho.
Passei a mão no rosto e respirei fundo, ele está triste pela mãe e eu não vou iniciar uma discussão por algo tão besta assim.
—Amor, tá tudo bem? — perguntei mesmo sabendo a resposta.
—Eu poderia mentir e dizer que sim, mas a verdade é que eu estou me sentindo um completo idiota, um ser humano horrível. Me arrependo das coisas que disse para minha mãe cedo, era como se eu tivesse ignorando tudo o que meu pai fez com ela.
Balancei a cabeça positivamente, Leonardo disse umas coisas que o deixou com um ar de egoísta, que independente do que aconteceu com a mãe dele, nada mais importava a não ser ter a família unida.
Mas eu sei que não é assim, ele ama a mãe a ponto de não querer que ela volte a sofrer, mas tem a esperança de que tudo fosse diferente e que o pai a fizesse feliz.
—Meu amor — caminhei até ele e coloquei uma mão em casa lado do seu rosto — Você é o ser humano mais incrível que eu já conheci em toda a minha vida, e tenho certeza que não vou encontrar outro ser humano tão incrível quanto você. Você só quer a sua família unida, isso não te faz um ser humano horrível.
Peguei a mão dele e me sentei na cama o puxando para sentar do meu lado.
—É que — Leonardo fechou os olhos com força e engoliu o choro — Eu sou tão incompleto, e me sinto mal porque eu tenho você do meu lado e eu sei que é mais do que suficiente, mas tem uma parte de mim que queria mais.
Sorri para ele, em meio a dor no meu peito, ser suficiente para ele, e ele é suficiente para mim, mas os dois só queriam uma família unida e feliz.
—Sabe, acho que nós dois vamos ter que nos dar uma família — sussurrei.
—Como assim?
—Eu estou falando sobre termos a nossa família.
—Nossa família? — sorriu confuso — filhos?
—Sim Leo, você não tem vontade de ser pai?
Leonardo sorriu ainda mais e me abraçou me enchendo de beijos.
—Meu sonho é ser pai dos seus filhos.
Fechei os olhos e senti meu peito transbordando amor e um sentimento bom, a um tempo atrás eu não tinha esse sonho, mas últimamente eu tenho pensado tanto em ser a mãe, em ter uma família com o homem que eu amo.
—Você é a mulher da minha vida.
—E você o meu homem, o homem da minha vida, meu amor, tudo para mim.
Leonardo me olhou sorrindo e se levantou, observei ele abrir o armário e tirar dele uma peguena caixa de sapatos, ele me entregou um pegueno envelope voltou a se sentar ao meu lado.
Abri o envelope meio amarelado, um pouco sujo de poeira, retirei o papel de e abri a carta. Meu coração acelerou quando comecei a ler.
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Beatriz
Estou escrevendo essa carta sem nem mesmo ter te dado um "oi" nesses dois anos que te observo de longe, por favor, não pense que eu sou um louco, mas é impossível não te olhar de longe e me encantar com a sua beleza. Juro que não é somente a sua beleza que me chama a atenção, você tem algo que me atrai e faz com que eu queira te ter por perto, mesmo só te tendo de longe.
Não sei se algum dia eu vou conseguir enviar essa carta para você, talvez eu espere a minha formatura e assim eu possa enviar a carta tendo a noção de que provavelmente, nós dois não iremos mais nos ver. Eu já vou ter saído da escola e você vai estar no segundo ano, não sabe como eu odeio esse um ano de diferença entre nós dois, me irrita.
Você é a garota mais linda que eu já vi em toda a minha vida, os seus olhos verdes se tornaram a minha cor preferida, gosto como seu cabelo fica com algumas mechas soltas na frente, caindo sobre seu rosto, gosto da forma que você anda, tão tímida, gosto da maneira como age com as pessoas, tão atenciosa e carinhosa com todo mundo.
Eu sinto que você esconde alguma coisa, te vi chorar algumas vezes escondida em um canto, juro que tentei ir até você, ensaiei o que devia falar, mas eu não consegui, era como se minhas pernas estivessem presas no chão. Odeio ter essa maldita insegurança que me impede de falar com você.
Queria poder cuidar de você, te ajudar a resolver isso que te machuca e te proteger de tudo que há de ruim no mundo, eu quero ser seu e é estranho pensar assim, querer ser de alguém que nunca nem mesmo troquei um cumprimento.
Espero que um dia eu tenha a coragem de conversar com você, nem que seja para perguntar seu nome, mesmo que eu já saiba e sonhe com ele.
Estranho ter sentimentos sem conhecer alguém, mas Beatriz, você não precisou realmente me tocar Para fazer com que meus sentimentos por você fossem da forma que são. Era isso que eu queria que você soubesse, que sou apaixonado por você, em segredo.
-Leonardo
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Meus olhos estavam cheios de lágrimas, não importa, ele sempre vai fazer com que eu me sinta cada vez mais amada. Ele sempre se supera, sempre.
—Eu me apaixono por você todos os dias sabia? — sorri em meio as lágrimas
— Eu te amo cada vez mais. Meu Deus Leonardo, como eu amo você.
Passei a mão no rosto sorrindo em meio as lágrimas, Leonardo gargalhava e sorria também. Senti meu peito se aquecendo quando percebi o quão incrível esse momento é, um momento que vai ficar guardado na minha memória para sempre.
—Você disse uma vez, que não queria ser minha Só por uma noite, porque disse aquilo?
Sorri sincera ao me lembrar, mas com uma dorzinha no peito. foi no dia em que ele estava em uma cama de hospital, e eu pensei que estava perdendo ele, e foi quando eu me declarei, sem saber que ele estava me ouvindo.
—Porque quando eu e você fazíamos amor, eu era sua, completamente e inteiramente sua. Mas eu não queria ser sua Só por uma noite, queria ser sua para sempre e em todos os momentos.
Leonardo sorriu para mim e agarrou minha mãos colocando em seu peito, seu coração batia descontrolado.
—Linda, teve uma fase da minha vida que eu sonhava em que você fosse minha nem que fosse Só por uma noite, e agora, te ouvindo dizer tudo isso, não sei nem mesmo explicar o que eu sinto.
Não tive outra reação a não ser agarrar ele pelo pescoço e apertar entre meus braços. Esse homem me trouxe tanta felicidade que eu nem consigo explicar.
Me afastei para olha-lo, os olhos azuis brilhantes, o sorriso sincero e espontâneo, alguns fios loiros caindo sobre a testa e as poucas sardas que eu tanto amo e que enfeitam sua pele branca.
Senti vontade de chorar enquanto estava no seus braços, um sentimento bom e aconchegante, mas um saudade do início, saudades de quando tudo começou. Mesmo com os momentos ruins, mesmo em meio a dor, eu fui fleiz desde o primeiro momento em que ele entrou na minha vida. E espero que não saia nunca, e mesmo se sair, eu vou atrás e o busco de volta.
Cheirinho de despedida...
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