Jardim de Papel (taekook ABO)

By Nyx-in07

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Kim Taehyung, um garoto simples e único criado numa fazenda no interior de Daegu, Coreia do Sul, tem o sonho... More

Margaridas na Janela
O Almoxarifado N° 1
Um Chefinho Muito Estranho
Azul Hortênsia
Luz na Escuridão
Florzinhas de Papel
Cabelos de Fogo
Dia de Cão
Garrinhas Afiadas... Ou Nem Tanto
Especial - O quê era Antes para se tornar Depois
O Vencedor
A Mui Nobre Família Ling
Se Queima em mim, Queima em você?
A Família Que Escolhemos
Amor Entorpecido e Instigado
Onde Deve Estar
Não Pode Ser Escondido
Profundezas do Desespero
Estou Aqui Agora
Incêndio
O Pardal Perdido Que Não Podia Planar

A Mais Terrível e Perigosa e Completamente Assustadora Coisa de Todas

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By Nyx-in07


Olá, Oi!

Demorei, sim. Tive bons motivos, juro. Eu tento não demorar, mas nunca dá certo kkkkk. Estou me adaptando na rotina para sempre reservar um tempinho para escrever, vamos ver se a velocidade de postagens melhora. 

Semana passada Jardim de Papel completou um ano. Passou tão rápido! Desde que eu postei o primeiro capítulo só recebi coisas boas. E a melhor de todas: leitores incríveis que me apoiam da forma mais doce com seus comentários e escrevendo coisas lindas no quadro do meu perfil. Eu leio tudo, mesmo não conseguindo responder, muitas vezes. Amo vocês, docinhos! Esse capítulo, essa história, é meu presente para vocês. 

Boa leitura! 

✿✿✿

– Obrigado por vir comigo fazer as compras do mês, Jin-hyung! Jimin-ssi está ocupadíssimo com a festinha do Hyeon e não pôde vir. – agradeceu Taehyung, dando um sorriso gracioso para Jin, que colocava outro pacote de biscoitos no carrinho já entupido até as bordas. Metade eram os itens da lista de Tae e a outra besteiras que Jin afirmou com toda sua eloquência serem absolutamente importantes.

– Imagina! – dispensou ele, com um gesto de mão. – Ficar me casa 'tá me deixando biruta já. Namjoon sai pra trabalhar e só volta de noitinha. – ele deu um suspiro com um quê de tristeza e Taehyung redobrou sua atenção. Isso não era comum de Jin-hyung, que permanecia cheio de vigor mesmo quando as coisas ficavam difíceis. – Têm sido péssimo de tão entediante ficar em casa sozinho.

– Então, por que não volta a trabalhar, Jin-hyung? – disse Taehyung, sua voz abafada pelo barulho da geladeira do mercado, enquanto tentava alcançar uma garrafa de suco que estava bem lá no fundo.

– Eu queria dar um tempo, me concentrar no meu filho... Mas enquanto o Batatinho ainda 'tá assando, eu preciso arrumar alguma coisa pra fazer.

Quando Taehyung voltou a olhar para Jin, ele estava de braços cruzados e batendo o pé no chão.

Tae deveria ter imaginado. Jin-hyung não foi feito para ficar parado. Ele precisava de um objetivo claro, algo que o inspirasse. Ele e Tae eram parecidos nesse sentido.

Taehyung não podia deixar de se sentir um pouco cabisbaixo também. Ele ainda não havia encontrado sua vocação de vida e sentia que estava bem longe disso, mesmo com Jeongguk fazendo o possível para ajudá-lo.

– Ah, Jin-hyung, eu sei como se sente. Estou numa estrada infindável, enlameada e coberta de neblina atrás da minha vocação de vida e não há qualquer sinal de luz nesta caminhada. – confessou ele, e nunca alguém colocou um brócolis num carrinho com tanta emoção antes.

– Eu já tenho minha vocação, já a exerci por muito tempo, mas preciso de algo diferente agora. Uma nova vocação! – ressaltou Jin.

Taehyung suspirou de admiração, encarando-o.

– Que sorte a sua, Jin-hyung, que já possui uma vocação e agora pode, deliberadamente, escolher outra. Eu gostaria de ter esse magnífico previlégio.

– Não pensa em continuar sendo modelo? – perguntou Jin. Tae deu de ombros como alguém que não tem certeza de nada.

– Gosto de ser modelo, é divertido, mas sinto que... Existe algo mais dentro de mim, algo maior que preciso fazer para me sentir completo.

Como o fogo que nunca para de queimar até atingir o incêndio completo e devastador, Taehyung queria saber porquê toda sua jornada o levara até ali. Seu futuro estava chamando, cantando por ele. Só precisava saber como ouvir a melodia.

– E Jeongguk? Como está o seu quase-namoro? – quis saber Jin, dando um empurrãozinho em Tae com o ombro.

Taehyung imediatamente sorriu.

– Muitinho bem! Jeonggukie chefinho é um ótimo quase-namorado!

– E quando que ele vai tomar vergonha naquela cara azeda e te pedir em namoro de verdade? – resmungou Jin, enquanto eles se dirigiam para o caixa.

Taehyung riu e fez um gesto de "quem sabe?".

– Ele anda estranho ultimamente, o chefinho. – ele fez um biquinho pensativo. – Às vezes, eu estou falando com ele, mas ele está tão distante em seus pensamentos que não escuta nadinha do que eu falo! Aí eu fico com preguiça de dizer tudo de novo...

Jin estreitou os olhos, algo despertando sua desconfiança.

– Muito, muito suspeito.

Tae pareceu alarmado.

– Você acha, Jin-hyung?!

– Ah, eu aposto que tem caroço nesse angu. – ele se aproximou como se fosse contar um segredo sórdido e sussurrou: – Me diga, ele já te chamou para conversar?

Taehyung arregalou os olhos, se arrepiando.

– C-Conversar?

Jin estalou a língua.

– Se o outro pedir pra conversar, desconfie. Se ele vier dizendo que é uma "conversa séria". – ele fez aspas com os dedos. – Então é porque quer terminar.

Terminar? – esganiçou Tae, cobrindo a boca com as mãos.

– Ou dar um tempo, o que é pior. – ponderou Jin.

– ... Pior?! Ó, céus...

Terminar. Ah, mas que palavra mais desprovida de qualquer significado bom era aquela. Será que o chefinho queria terminar o quase-namoro deles?! Taehyung engoliu em seco.

– Mas é claro que isso não vai acontecer. – Jin deu três tapinhas reconfortantes no ombro de Tae. – Jeongguk é louco por você, é mais fácil chover canivetes do que ele terminar.

Mas Taehyung não tinha mais tanta certeza. Aquela palavra terrível ficou murmurando através de cada pensamento dele como um fantasma. Terminar. Terminar. Terminar...

✿✿✿

– Então o pai ômega do Hyeon ressurgiu das cinzas e agora quer recuperar o tempo perdido? – perguntou Lian-chi, surpreso, mas eriçado com a fofoca. – Que treta maligna você foi se meter, hein, Tae...

Taehyung se encolheu um pouco.

– Eu acho que você fez muito bem. – retrucou Seomin, enquanto comia o restinho do seu iogurte de morango com a elegância de um pavão. Taehyung não entendia como ele podia parecer tão bem apenas... comendo iogurte. – Eu sei muito bem o valor de uma segunda chance.

Taehyung suspirou, apoiando as bochechas nas palmas das mãos.

– Muitinho obrigado, Seomin-ssi...

– ...Mas também acho que você precisa parar de meter o bedelho onde não é chamado. – completou, sem mudar seu tom.

Taehyung murchou tristemente como uma bexiga velha.

– Falo pelo seu próprio bem, besourinho. – disse Seomin, ao ver a carinha de cachorrinho sem dono que ele fez. – As coisas podem acabar muito mal pra você se continuar se intrometendo assim na vida dos outros.

– Ele 'tá certo, Tae. – concordou Lian-chi.

– Eu sei, eu sei... Eu tento não me intrometer, mas quando vejo já estou mais enroscado que cipó em galho e não sei como sair! – exclamou ele, batendo a testa no tampo da mesa. – E eu sempre quero ajudar meus amigos...

– Já parou pra pensar, talvez, que seus amigos simplesmente não queiram sua ajuda, assim, sempre? – disse Seomin, e a voz dele era gentil, embora as palavras fossem duras. – E okay com isso, algumas pessoas só não querem ser ajudadas.

– Mas como eu sei quando elas querem? – perguntou Tae.

– Você pergunta. – ele deu de ombros.

– Hmm... Mas e se elas não souberem que precisam ser ajudadas, mesmo precisando muitinho?

– Você respeita. – foi Lian-chi quem disse. – Existem algumas exceções, obviamente, e você vai aprender a diferenciar, mas no geral é isso. Você oferece ajuda, se a pessoa recusar, apenas se mostre disponível quando ela quiser. E pronto.

Tae balançou a cabeça, mostrando que entendeu.

– Vou me lembrar disso.

Seomin se levantou, ajeitando os ombros.

– Já deu minha hora. E você... – ele se aproximou de Lian-chi para beijá-lo na bochecha. – Pare de se atrasar e vá trabalhar.

– Também te amo. – Lian-chi piscou um olho. Seomin bufou e se despediu de Tae antes de ir.

Lian-chi se ajeitou em seu lugar, arrastando a cadeira para ficar mais perto de Tae, com uma cara de quem planejava alguma maldade.

– Agora que estamos só nós dois, meu querido amigo azul, podemos falar mal das pessoas à vontade.

Taehyung franziu o cenho, confuso.

– Mas eu não quero falar mal das pessoas. Isso é ruim.

– Puff, não é falar mal de verdade, verdaaade. – ele desconversou. – É sobre fazer breves comentários não muito gentis sobre a vida delas. Totalmente diferente.

– Isso me parece maldade. – Tae semicerrou os olhos. Lian-chi não era nada confiável quando estava com aquela expressão.

– Não é, relaxa. Então, agora que somos moços comprometidos, polidos e recatados. – disse Lian-chi, gesticulando como se segurasse uma xícara de chá com o mindinho levantado. O senhor Doidinho está ainda mais Doidinho hoje, pensou Taehyung. – Me conte como vai sua vida à dois, meu caríssimo Taehyung.

Taehyung contorceu o rosto numa careta.

– Ah, nem me lembre disso! Jeongguk está tão estranho e me deixando tão perdido! Não me deixa fazer nada que considere perigoso e fica querendo fazer tudo por mim! Se eu digo que vou pra casa caminhando, ele insiste em me acompanhar! Céus, não sei o que deu nele!

– Nem me fale! Seomin não me deixa ser romântico com ele! Eu dou flores, ele fala que estou sendo brega, se falo que vou levá-lo a um piquenique à luz do luar enquanto trocamos juras de amor, ele dá risada da minha cara e fala que sou cafona. É, eu sou! Que culpa eu tenho se eu sou romântico?!

E, no fim, eles estavam mesmo falando mal das pessoas. E dos seus namorados (quase, no caso de Taehyung).

– Sim! Jeonggukie também tem me deixado doidinho! Ele me trata como se eu fosse um bonequinho de porcelana... Poxa, eu sei me cuidar! E quando eu tento retribuir e cuidar dele também, ele não deixa!

– Ah, aquele dentuço metido a besta... – resmungou Lian-chi, tomando as dores de Tae. – Sabe que ele é cabeça dura. Não dá o braço a torcer por nada. Então, você tem que pegar esse braço e torcer você mesmo!

Taehyung ficou horrorizado.

– Eu jamais faria isso com o chefinho! Ele é meu amor... – protestou. Lian-chi bufou e revirou os olhos.

– Não literalmente, né, seu doido! O quê eu 'tô dizendo é que você tem que colocar ordem na coisa. Se Jeongguk não está te deixando em paz, então mande ele catar coquinho! Se imponha como um ômega!

– Acho que estou entendendo... – ele balançou a cabeça, compreendendo o que o alfa estava propondo. Não podia fazer todas as vontades de Jeongguk, ora, até parece! – É isso que eu vou fazer! Obrigado, Lian, mas infelizmente acho que não sei o que fazer para te ajudar com Seomin-ssi...

Lian-chi dispensou-o com a mão.

– No meu caso, caríssimo Taehyung, é obedecer ou padecer. Aquele ômega é uma força da natureza. – ele deu um sorrisinho. Lian-chi sempre dava aquele mesmo sorrisinho quando falava de Seomin.

– Mas, na minha humilde opinião, acho que ele gosta, sim, de todas as coisas românticas que você faz. Só não demonstra porque é o jeito dele. – Tae deu de ombros. Lian-chi imitou-o.

– Vai saber. Ah, relacionamentos são tão complicados...

E Taehyung que o diga. Ele amava Jeongguk, claro que amava, porém... Ele não gostava do porém. Porque o porém dizia que algo estava errado. E ele sabia muito bem o que era.

Jeongguk estava sendo maravilhoso. Era prestativo, carinhoso, e o apoiava em cada coisinha. Ouvia os anseios e os medos de Tae lealmente, mas quando Taehyung tentava fazer o mesmo... Quando Jeongguk ficava com aquele olhar distante, quando era visível que tinha esfriado por dentro, e Taehyung tentava conversar... Ele desviava o olhar e mudava de assunto.

Era como se não quisesse compartilhar essa parte dele com Taehyung. A parte de Jeongguk ainda ferida pelo passado, a parte sombria do trauma que ele sofrera, ele não queria falar sobre. Não queria que Taehyung soubesse como ajudá-lo.

Algumas pessoas só não querem ser ajudadas. As palavras de Seomin reverberaram entre os seus ouvidos.

Mas ele não era qualquer pessoa. Era Jeongguk. Seu amor. Seu quase-namorado. Por que ele não iria querer a ajuda de Tae?

Taehyung foi para seu almoxarifado com uma nuvem de tempestade sobre a cabeça.

Ele abriu a porta e, antes que pudesse sequer fechá-la, braços o rodearam e ele gritou.

Mas o grito se dissipou assim que ele viu quem era. Aquele aroma de sabonete refrescante e loção amadeirada era inconfundível. E aqueles braços que o abraçavam como um polvo, menos ainda.

– Bom dia, meu bem. – Jeongguk estava com o nariz enfiado em seu pescoço, cheirando-o como se Tae fosse seu vício.

– Jeongguk... Que susto... – resfolegou Taehyung, mas lembrou do que Lian-chi disse para ele. Se imponha como um ômega. Então, empurrou Jeongguk para longe. – Mas que ideia mais biruta foi essa?! Eu poderia ter caído mortinho aqui!

Mas Jeongguk só riu para cima e voltou a se aproximar, segurando em seus braços e o acariciando. As mãos macias diretamente na pele morna, arrepiando-o.

– Eu quis fazer uma surpresa...

Taehyung cruzou os braços, afastando-se do toque dele, e fez sua melhor cara de bravo.

– Poderia ter feito isso sem me assustar! Eu me assustei muito, sabia?!

– 'Tá, okay. Desculpe por isso. Mas eu queria te ver antes do expediente. – ele fez um carinho leve em sua bochecha. – Não está feliz em me ver?

Tae não podia dizer que não, porque seria uma mentira.

– Claro que estou. Mas não me assuste mais! Eu fiquei muito assustado! Isso, isso... É uma ordem!

Ele riu. Ele riu. Não era pra ele ter rido, ora! Taehyung estava falando sério.

– Está bem, senhor capitão. Sem mais sustos. Agora... – ele se aproximou como um felino. – Cadê meu beijo, hm?

Ele fez um biquinho exagerado, fechando os olhos e esperando. Taehyung deu uma risadinha e deixou um beijinho ali, rápido, se afastando em seguida.

Mas quando Jeongguk queria uma coisa, ele não parava até conseguir. Com uma expressão contrariada, impediu Tae de afastar colocando-se na frente dele.

– Ah, nem pense. Eu quero um beijo de verdade. – reclamou. Taehyung deu um sorriso sagaz.

– Mas esse foi um de verdade, chefinho.

O olhar dele escureceu com uma malícia perversa. Aquele olhar, só aquele olhar, era capaz de fazer o coração de Tae pulsar tão rápido que ele se sentia ofegante.

– Foi, é? – Taehyung sentiu as mãos dele escorregarem pela curva de sua cintura. Ele prendeu a respiração. – E se eu quiser mais?

Ele olhou para a boca de Tae, e não saiu mais de lá.

– O que vai fazer? – sussurrou.

Talvez Tae não fosse forte o bastante, talvez não quisesse ser. Talvez o poder que Jeongguk tinha sobre ele, de fazê-lo derreter com meros toques e palavras, perder completamente a pose, fosse irresistível demais.

Ou talvez ele só não quisesse resistir. Taehyung ergueu-se nas pontas dos pés, míseros centímetros, em direção à boca de Jeongguk. Porque queria, porque podia. Porque não havia nada melhor que beijar Jeongguk.

Nada melhor que as mãos dele puxando-o e colando-o em seu próprio corpo, como se nunca quisesse deixá-lo ir. As bocas se moviam lentamente, as línguas se encontravam com timidez. Morno, quente, em chamas.

Logo, Jeongguk estava prensando-o na parede, segurando-o pela nuca, beijando-o quase desesperadamente, loucamente, enquanto Tae o abraçava com as mãos por dentro do paletó, sentindo a maciez da camisa de linho dele.

A outra mão de Jeongguk deslizava pela cintura até chegar na coxa esquerda de Tae, que Jeongguk envolveu com os dedos e apertou. Taehyung gemeu baixinho na boca dele, mas aquilo o assustou. A sensação o apavorou, o fogo que começava a queimar dentro dele... Ele não sabia o que fazer, então se afastou de súbito.

– Jeongguk... Espera... – Jeongguk abriu os olhos, e o mesmo fogo que queimava em Taehyung brilhava ali, as pupilas tão dilatadas que Tae conseguia se ver refletido nelas.

O medo no olhar de Taehyung apagou-o tão rápido quanto um incêndio sob a chuva.

– O que foi? Eu fiz algo errado? – perguntou afobadamente.

– Não! Não, é que... Eu... Eu não... – ele desviou o olhar e Jeongguk entendeu. Ele era o primeiro (quase) namorado dele. Foi o primeiro beijo, a primeira paixão. Era tudo muito novo e Jeongguk estava indo rápido demais.

– Droga, me desculpe, Tae. – ele passou a mão pelos cabelos, se afastando. – Meu cio está atrasado e eu não sei porquê... Meu lado lupino está uma loucura... Eu sinto muito...

Taehyung balançou a cabeça e segurou o rosto dele entre as mãos.

– Não peça desculpas, você não fez nadinha de errado, chefinho. – ele corou. – Eu... Gostei. M-mas podemos ir, sabe, devagar?

– Claro que sim. – Jeongguk beijou-o na testa e sorriu, alisando os cabelos dele. – No seu tempo, sempre.

Tae sorriu e roubou um selinho dele.

– Tae, antes de eu ir, quero te convidar para jantar amanhã...

– Uhum... – murmurou Tae, de olhos fechados, aproveitando o carinho que ele fazia como um filhote de gato.

– ... acho que estamos precisando, sabe, conversar... sério...

Taehyung congelou, escancarando os olhos. A voz de Jeongguk continuou soando, mas Tae estava preso naquela frase terrível.

Se o outro pedir pra conversar, desconfie. Se ele vier dizendo que é uma "conversa séria", então é porque quer terminar.

Ah, minha nossa, nossa, nossa. Ah, céus. Será que Jeongguk tinha ficado bravo porque Taehyung interrompeu o beijo deles e... e... Queria terminar?!

– Ahhhrrggg! – ele berrou, pulando para longe de Jeongguk como se tivesse levado um choque.

– Tae?! O que foi?! – exclamou Jeongguk, meio perdido e meio assustado.

– Eu... Eu... – eles não podiam terminar, não podiam terminar. – L-Lembrei que Jimin-ssi pediu m-minha ajuda... Preciso ir!

E saiu correndo, os pés batendo exasperados no piso, ecoando pelas paredes.

Jeongguk ficou petrificado no lugar, sem entender absolutamente nada.

Ele queria levar Taehyung para jantar e, assim pedi-lo em namoro adequadamente e da forma mais romântica que conseguisse. Mas o que diabos tinha acontecido?

✿✿✿

Jimin se sentia tranquilo e sereno como um lótus flutuando num lago intocado. Já fazia horas que estava em sua sala na empresa, trabalhando e criando, uma formiga da moda que nunca para. Sua criatividade tinha voltado com tudo e já tinha seis croquis prontos pra mandar pra avaliação de Jeongguk.

Depois da turbulência dos últimos dias, havia decidido não se deixar afetar. Ele tinha sua vida, seu trabalho, seu alfa e seu filhote e, mesmo que Juwon agora fosse uma peça agregada ao conjunto, uma linha fora da curva, Jimin sabia que precisava deixar sua mágoa de lado e fazer o que era melhor para Hyeon, e Hyeon estava mais que animado em ter Juwon por perto.

Ele e Yoongi nunca poderiam adivinhar que Hyeon teria uma reação tão positiva, mas, também, os dois nunca fizeram a caveira de Juwon para o filho, nunca semearam o ódio no coração dele, porque não queriam que ele se sentisse assim em relação ao pai biológico.

Porém, também nunca imaginaram que Juwon voltaria.

Mas Jimin tinha que admitir que não era inteiramente ruim. Hyeon estava feliz e só isso que importava. Ele se lembrava de uma conversa que tivera com seu filhote outro dia...

Hyeon estava dobrando seus convites de aniversário e escrevendo com sua melhor letra, usando canetinhas coloridas, o nome do convidado e o endereço e horário da festa, bem como um breve textinho de incentivo para a pessoa vir, da forma mais adorável possível. Qualquer um que lesse morreria de amores, Jimin tinha certeza.

– Filho? – chamou.

– Sim, papai? – respondeu ele, sem tirar os olhos de seu trabalho minucioso.

– Quero conversar com você um pouquinho. Conversa séria.

Hyeon fez uma careta.

– Muitas conversas sérias. Eu tive uma com o papai Juwon também.

– Teve? – ele assentiu. – E o que vocês conversaram?

– Foi quando ele me contou que também era meu papai.

– Ah... – entendeu Jimin. – E podemos ter uma conversa séria também? Vai ser rápido.

– Mas eu estou terminando os convites. – ele disse, fazendo um biquinho.

– Você pode continuar. – Jimin sorriu. – É só me escutar e responder quando eu perguntar algo. Pode ser?

– Pode! – concordou ele, animadamente, pegando uma canetinha azul e escrevendo "Para TaeTae" no topo do convite.

Jimin respirou fundo antes de começar:

– Hyeon, você já vai fazer 11 anos, já tem idade para entender alguns assuntos. Por isso, filho, quero te perguntar uma coisa e peço que me responda com sinceridade. Como está se sentindo com a volta do seu pai ômega biológico?

– Hm? – ele lhe olhou. – Não entendi.

– Não está triste ou com raiva?

– Não. – respondeu Hyeon, estranhando a pergunta. – Nem triste nem com raiva.

– Você sabe que ele foi embora quando você era bebê. Seu pai e eu nunca escondemos isso de você. – Jimin falava tranquilamente. Só queria saber o que Hyeon estava sentindo. – Então não se sente mal por isso?

– Papai Juwon foi embora porque estava triste. Por isso não podia ficar comigo. Mas agora ele voltou e está mais feliz. E eu não fiquei sozinho, fiquei com o papai Yoongi e com você, papai Jimin. Agora tenho outro papai! Três papais!

Jimin deu um sorriso tranquilo. Hyeon ainda o surpreendia e muito. Seu filhote nutria uma empatia admirável e uma espantosa sabedoria. Se Hyeon estava bem com isso, então Jimin não precisava se preocupar.

– E você gosta de ter três pais? – perguntou.

– Eu amo! Posso pedir três presentes de aniversário!

Jimin riu.

– Seu malandrinho... – ele cutucou a barriga dele até fazer cócegas. – Filho... Mais uma perguntinha. Você gosta de ter o Juwon como seu pai também?

Ele assentiu.

– Uhum, ele é legal, sempre me dá chocolates e conta muitas histórias. Ele disse que vai ficar agora, que não vai mais embora.

– E você quer que ele fique?

Novamente, ele assentiu. Dessa vez com mais firmeza.

– Se ele for embora, vai ficar triste de novo. Ele disse que fica muito mais feliz quando está comigo. E eu também gosto de estar com ele.

Jimin desviou o olhar, mas assentiu e voltou sua atenção para o filhote.

– Sendo assim, eu e seu pai estávamos conversando e se você quiser, mas só se quiser... Você gostaria de jantar com o Juwon nas sextas? Ele te buscaria na escola e depois te traria para casa. Você quer?

– Sim! – exclamou ele. – Eu quero! Eu posso, papai?

– Se você quiser, pode sim.

– Eu quero muito!

E agora Jimin estava tentando se acostumar à nova rotina. Mas ele não deixava de pensar que, agora que Hyeon passaria as noites de sexta com Juwon, Jimin e Yoongi teriam um tempinho à sós, só pra eles. Então, é, não era de todo ruim.

Jimin deu um profundo suspiro, aproveitando o aconchego do silêncio, o frescor que vinha do ar condicionado, a maravilhosa sensação de estar completamente concentrado em seu trabalho...

– JIMIN-SSI!

A ponta do lápis quebrou em cima de seu desenho perfeito, causando um risco grande e horroroso bem no meio. Jimin deu um pulo quando a porta se abriu com tanta força que poderia partir ao meio, com um Taehyung resfolegante entrando e fechando-a como se estivesse fugindo de uma horda de zumbis com super velocidade.

Jimin deu um gemido de desgosto. Quando Taehyung estava assim, boa coisa não era.

– Ah, Jimin-ssi! – ele começou, parecendo tão desolado que Jimin ficou preocupado. – Não posso acreditar no meu próprio azar! Estou perdido, perdido! Envolto e coberto até o pescoço no mais profundo...

– Pode parar por aí! – interrompeu Jimin, massageando a têmpora. – Anda, desembucha o que aconteceu!

Ele parecia prestes a se debulhar em lágrimas.

– Chefinho quer terminar comigo!

Jimin jogou a cabeça para trás numa profunda e verdadeira gargalhada.

– Ah, 'tá. Essa foi muito boa, Tae, mas só um idiota para cair.

– Quem me dera fosse uma travessura, Jimin-ssi. Mas é a mais pura verdade! Eu sei! – ele se jogou, da forma mais dramática possível, numa cadeira que Jimin usava de cabide para amostras de tecidos.

– E como exatamente você "sabe"? – perguntou Jimin, gesticulando aspas com os dedos.

– Uma série de acontecimentos terríveis comprovam o que estou dizendo. – ele estremeceu. Jimin arqueou uma sobrancelha.

– Qual é, Tae! O mundo acaba antes do Jeongguk terminar com você.

– Não posso arriscar, por isso preciso da sua ajuda, Jimin-ssi! Precisamos sair amanhã!

– Amanhã? Por que amanhã?

– De preferência à noite, para que eu tenha uma desculpa pro chefinho!

Jimin suspirou e coçou os olhos.

– Olha, Tae, sinceramente, eu acho que...

– Podemos ir fazer compras? – supôs ele, em tom insinuante, e Jimin se calou. – Ainda preciso comprar um presente pro Hyeon...

Jimin engoliu em seco.

– Tae, eu sei o que está fazendo...

– Deixo você escolher todas as minhas roupas...

– Ah, por que não, né? Umas comprinhas não fazem mal pra ninguém! Vamos chamar o Jin, também! Ele está reclamando que quase não sai mais de casa...

– Perfeito, Jimin-ssi! Eu sabia que podia contar com você!

Ele fugiria de Jeongguk até que a ameaça de término passasse. A mais Terrível e Perigosa e Completamente Assustadora Coisa de Todas - em maiúsculo. Sim, era isso que faria.

✿✿✿

Taehyung só tinha certeza de uma coisa. Estava ferrado.

O shopping pareceu muito menor enquanto o ar era drenado para fora de seus pulmões.

Ele apertou os olhos para ter certeza de que não era uma miragem.

Mas não. Era tão real quanto o medo que esfriava-o por dentro. Jeongguk estava vindo até eles seguindo Jin, que parecia muito bem consigo mesmo.

Ah, Jin-hyung...

Assim que viu Tae, Jeongguk deixou sua usual expressão pétrea ser trocada por um sorriso tão fofo quanto brilhante. Taehyung se sentiu mortalmente culpado por desejar que ele não estivesse ali.

Jimin parecia surpreso e confuso, olhando de Tae para os outros dois que vinham.

– Adivinhem só! – exclamou Jin assim que chegaram perto o bastante. – Trouxe o alfa para carregar as compras. Alguém tem que pensar nessa parte importantíssima.

– O que você disse para ele vir dessa vez? – quis saber Jimin. Jin deu de ombros.

– Só que o Tae também estaria lá. Ele aceitou rapidinho.

Taehyung segurou um gemido de frustração enquanto Jeongguk ia até ele, beijando-o na testa como cumprimento.

– Hey. – disse. – Não te vi na empresa hoje. Está tudo bem?

– S-sim. – ele engoliu em seco e forçou um sorriso. – Estou muitinho ocupado. Mas, assim, muitinho mesmo.

– Entendi. – ele deu um sorriso de viés. – Talvez eu tenha que ter uma palavrinha com quem está te dando esse "muitinho" de trabalho.

– HA HA HA. – ele forçou uma risada, mas acabou saindo, digamos assim, forçada demais. Jeongguk arqueou uma sobrancelha. – Chefinho é tão engraçado! Acho que deveríamos ir, não é? Para dar tempo de ver todas as lojas...

– Ouçam o ômega! – exclamou Jin. – Quero comprar a primeira roupinha do Batatinho hoje e fazer uma surpresa pro Nam. Vamos em frente!

Jimin e Jin tomaram a dianteira, enquanto Jeongguk e Taehyung ficaram mais atrás, acompanhando-os. Tae mantendo uma certa distância do alfa.

– Está tudo bem mesmo? – Jeongguk quebrou o silêncio.

– Ora, sim. Por que não estaria? – respondeu Taehyung, rápido demais.

– Você parece preocupado... – estranhou ele. Taehyung se obrigou a dar um sorriso.

– É impressão sua, chefinho. Eu me sinto perfeitamente bem. – Ah, Taehyung se odiava por mentir tanto assim, ainda mais para Jeongguk. Porém, precisava se manter firme, pois a mais Terrível e Perigosa e Completamente Assustadora Coisa de Todas estava perto demais e o risco era uma navalha gelada contra a garganta de Tae. Se quisesse manter seu quase-namoro, precisava permanecer firme.

Encontrar um presente para Hyeon, com a ajuda de Jimin, foi fácil fácil. Ninguém conhecia aquele filhote melhor do que Jimin – exceto, talvez, Yoongi. Porém, enquanto Taehyung tentava decidir entre um boneco versão realista de um dos personagens do vídeo game que Hyeon gostava e um conjunto com mais de cem peças de Lego, Jimin ficou muito emocionado e começou a choramingar no ombro de Jeongguk:

– Meu filhote já não é mais um filhoteee! – ele chorava, enquanto Jeongguk revirava os olhos e dava tapinhas nas costas dele. – Ele já vai fazer 11 anos... 11 anos! O meu menino, Jeongguk!

– Eu sei, eu sei... – dizia Jeongguk, pedindo socorro com os olhos.

– Que drama, até parece que o menino vai sair debaixo das tuas asas. – disse Jin. – Espera só quando ele fizer 18, aí sim o choro vai comer solto.

Jimin o fuzilou com os olhos.

– Quando foi a sua vez, eu quero ver. E eu vou rir muito.

Jin dispensou-o com um gesto.

– Batatinho ainda vai demorar para crescer. Não preciso me preocupar com isso tão cedo.

Jeongguk estava realmente implorando por ajuda com um único olhar, então Taehyung disse:

– Acho que vou levar o Lego. – decidiu. – O moço que me atendeu disse que é como um quebra-cabeças 3D! Tenho certeza que Hyeon vai adorar montar!

Jimin finalmente largou do ombro de Jeongguk e limpou as lágrimas. O alfa respirou aliviado.

Escolher um brinquedo foi fácil, a parte difícil veio depois. Jimin resolveu descontar sua tristeza fazendo Taehyung de manequim para suas invenções de moda. Eles iam de loja em loja e Tae perdeu a conta de quantas vezes experimentou roupas. E, em cada loja, eram pelo menos três sacolas.

Taehyung já estava mais que cansado, e se viu entrando em desespero enquanto Jimin o arrastava para mais uma loja.

Ele percebeu quando uma mão segurou-o pela cintura e sentiu-se ser apoiado num corpo maior. Sabia quem era antes mesmo de olhar. Jeongguk o segurou contra si e disse:

– Vamos comer, essa volta de vocês me deixou morrendo de fome. E de tédio. – completou. Taehyung suspirou de alívio. Ele olhou para Jeongguk e murmurou um "obrigado". Jeongguk apenas sorriu e piscou um olho.

Tae engoliu seco, se desvencilhando de Jeongguk. Força, Taehyung, força.

Jin precisava - contra sua vontade - manter uma dieta saudável, então os outros três, sucumbindo às lamúrias dramáticas do ômega, se obrigaram a acompanhá-lo em seu lanche absolutamente isento de gordura. O que não adiantou nada, pois logo em seguida Jin disse estar morrendo de vontade de comer chocolate.

– Você é péssimo, sabia? – resmungava Jeongguk, se fartando de um longo gole de Coca pra tirar o rosto ruim daquela salada de folhas com molho azedo, enquanto eles iam para uma chocolateria do shopping.

– Não brigue comigo, é o Batatinho que quer, não eu. – ele disse, enquanto fingia analisar suas unhas.

– Mas você não tem nem vergonha... Está agindo exatamente como antes, mas agora usa a desculpa de estar grávido! – acusou.

– Chefinho! – protestou Taehyung. – Não brigue com Jin-hyung! Precisamos cuidar bem do Batatinho, e isso significa cuidar bem do Jin-hyung!

Jin abraçou Taehyung de lado e mostrou a língua para Jeongguk. A boca do alfa se escancarou de indignação. Ele sentiu Jimin lhe dando tapinhas nas costas.

– Você está em desvantagem aqui, querido amigo carregador de sacolas. – ele apontou para as inúmeras sacolas penduradas nas dobras dos cotovelos de Jeongguk.

– Vai se ferrar. – foi o que ele disse, e Jimin riu. – Tem alguma coisa estranha com o Tae.

– Por que acha isso? – mantendo-se impassível. Não podia contar o que estava acontecendo para Jeongguk à pedido de Taehyung.

– Eu sinto. Vejo nos olhos dele. Tem alguma coisa o incomodando e não quer me dizer. – ele encarava seu ômega, andando de braços dados com Jin, que deve ter dito algo engraçado o suficiente para fazê-lo gargalhar. Isso causou em Jeongguk um sorrisinho automaticamente.

– Tae não é muito bom em esconder quando está aflito. – Jimin estalou a língua. – Logo você descobre.

Jeongguk lançou um olhar inquisidor para ele.

– Espera aí, você sabe o que é, não é?!

– Ihh, vai começar. – Jimin apressou o passo.

– Não ouse... Jimin! Volta aqui agora! Jimin!

Taehyung estava encantado. Ele suspirava de admiração enquanto analisava cada mínimo e mágico detalhe daquela loja de doces que mais parecia um pedacinho do paraíso.

Logo na entrada, duas fontes de chocolate líquido, uma delas de chocolate branco, jorravam sem parar, como se viessem de uma fonte infinita das profundezas açucaradas da Terra. Havia chocolates de todos os formatos, cores, sabores e uns que Taehyung nem sabia que existiam. Ele enumerou várias formas de melhorar aquela loja, sua imaginação funcionando como uma máquina a vapor ao detalhar devaneios com paredes de pirulitos doces, as luzes que pendiam do teto seriam feitas de bala de açúcar crocante, e aquela casinha feita de doces sob uma mesa de exposição seria muito, muito maior, de forma que Taehyung pudesse entrar nela como João e Maria na casa de doces da bruxa má.

Mas nem tudo era melhor na sua imaginação. Taehyung não conseguiu pensar em nada que pudesse melhorar aquelas duas fontes de chocolate infinitas. Ele viu uma moça que trabalhava ali mergulhar um cake pop na fonte de chocolate preto e entregar para uma criança. Taehyung lambeu o lábio inferior.

– Você quer? – ele deu um sobressalto assustado. Não notara Jeongguk por perto. O alfa, por outro lado, estava prestando atenção nele desde que entraram na loja. Sempre estava. Não havia nada mais agradavelmente adorável que Taehyung se apaixonando por algo com aquele brilho nos olhos, seja por um objeto ou um lugar, como agora.

– A-ah... Não, não pre....

– Dois, por favor. – pediu Jeongguk para a atendente, sem hesitação.

– ...cisa. – Taehyung ficou levemente corado.

Quando ficaram prontos, Jeongguk entregou os dois cake pops, um de cada chocolate, para Tae.

– Mas... Os dois pra mim? – estranhou ele. Jeongguk assentiu.

– Eu sei que você vai amar o primeiro o suficiente para querer o segundo. – ele sorriu.

Taehyung não pôde deixar de sorrir, enquanto franzia a testa. Aquilo não estava certo, Jeongguk estava sendo tão fofo, um quase-namorado tão bom, não era possível que ele quisesse termi...

Um suspiro dele, e então:

– Tae, eu preciso falar uma coisa com você...

ALERTA VERMELHO. ALERTA VERMELHO.

– Ah! – exclamou ele, interrompendo Jeongguk de supetão. – Jin-hyung! Isso! Eu estou vendo Jin-hyung carregando toneladas de chocolate até o caixa! Precisamos impedir Jin-hyung de comprar a loja inteiraaaa!

Ele saiu correndo. Para onde? Não fazia ideia. Não viu Jin-hyung em lugar algum, só precisava fugir d'A Mais Terrível e Perigosa e Completamente Assustadora Coisa de Todas.

Jeongguk resfolegou de decepção, o gosto amargo da derroga era ainda pior que aquela salada horrível.

E os cake pops chocolatudos era tão deliciosos, mas tinham uma nota de desespero em seu sabor para Taehyung.

Depois da chocolateria, os quatro foram até sua última parada: uma loja de coisas de bebê. Jin estava muito animado, depois de se entupir de chocolate, para comprar a primeira roupinha do seu filho.

Jeongguk disse que esperaria lá fora, porque seus braços doíam de carregar aquelas sacolas de um lado para outro.

Taehyung, depois de um tempo – e alguns sermões dos dois outros ômegas – aceitou que não entendia nada de roupas de bebê – ele não fazia ideia dos tamanhos e confundiu uma roupa de três meses com uma de seis. Ninguém podia culpá-lo, tira zero experiência com bebês – e resolveu ir esperar com Jeongguk lá fora. Mesmo que isso fosse extremamente arriscado dada às circunstâncias ameaçadoras que se encontrava perigosamente perto.

Avistou Jeongguk parado em frente a uma vitrine, encarando-a como se tivesse sido transformado em estátua de pedra maciça.

Chegando mais perto, Taehyung notou ser uma exposição de lindas roupinhas de criança. De menina. Um pequeno manequim usava um vestido branco com corações vermelhos e uma tiara com um laço robusto. Também havia sapatinhos, brinquedos, bonecas de pano e outros adereços que fariam os olhos de muitas menininhas brilharem.

Jeongguk estava petrificado, com aquele olhar vazio e sombrio do qual Taehyung se lembrava de meses atrás, da primeira vez que o viu.

Foi quando se deu conta. Ele estava lembrando da filha. Da filha que perdeu e que nunca pôde usar nada que estava naquela vitrine.

Taehyung sentiu seu coração murchando por dentro. Jeongguk tinha tanta emoção naqueles olhos escuros oceânicos, mas que permaneciam ali, sem nunca serem postas para fora. Tae sabia que, para Jeongguk, era difícil falar sobre suas dores, mais difícil ainda de superar. Por outro lado, não deixava de se sentir frustrado. Não com ele, mas consigo mesmo, por não conseguir ajudá-lo com toda a dor e a roupa suja. Por não ser capaz de enfiar o punho no peito dele e retirar todos os sentimentos ruins, permanecendo só aqueles que faziam os olhos dele brilharem da forma mais linda do mundo.

Os olhos que Tae amava tinham duas nuances, como uma moeda. Ele admirava a primeira, guardando o brilho em seus sonhos, e temia a segunda, por não saber como lidar com ela. Como agora.

– ... Chefinho? – chamou, baixo, mas o suficiente para ele escutar.

Jeongguk deu um leve sobressalto, como se a voz de Tae fosse o estalo que o acordara de um transe. E encarou-o, mas a sombra ainda estava lá, tomava conta dele como uma máscara.

– Oi, já terminaram? – perguntou, com a voz longínqua como um eco.

Taehyung apertou o próprio pulso, um sinal de nervosismo.

– Não, Jimin-ssi e Jin-hyung me expulsaram porque, ao que parece, sou uma tragédia escolhendo roupinhas de neném. – ele fez uma careta.

Jeongguk gargalhou de leve.

– Não pode ser tão ruim. Eles é que são tão exigentes.

– É que são tantos tamanhos...! – reclamou Taehyung, mas encarou contidamente Jeongguk. – Chefinho... Está tudo bem? T-tem algo te incomodando?

E Taehyung viu nos olhos dele. Na cor sumindo de suas bochechas. Medo. Jeongguk sabia do que Tae estava falando, mas não queria, em hipótese alguma, falar sobre aquilo. Ele não queria remexer o passado, bem enterrado dentro de si, porque isso o apavorava.

Não queria nem mesmo que Taehyung soubesse como ele se sentia.

Como se a lua cobrisse o sol, trazendo a noite mais depressa, Taehyung visualizou uma rachadura entre eles, larga demais para se atravessar e profunda o bastante para causar pavor.

✿✿✿

Pelos dois dias que antecederam o aniversário de Hyeon, seguintes ao dia no shopping, Taehyung conseguiu evitar estar pessoalmente com Jeongguk. E, em certo momento, também pareceu que Jeongguk estava evitando Taehyung. E assim sucederam, um sem conseguir dizer o que queria para o outro, e vice-versa.

– A palavra "coisa" é realmente encantadora, não acha, Jimin-ssi? Pode significar tudo o que quisermos e, ao mesmo tempo, nada. Pode ser esclarecedora e, também, a mais misteriosa. Ninguém sabe realmente o que ela significa! No dicionário, a definição de "coisa" é "tudo o que existe ou possa existir, de natureza corpórea ou incorpórea". Não é absolutamente etéreo e maravilhoso que algo possa definir tudo que existe, existiu ou existirá?!

– Taehyung! – gritou Jimin. – A bexiga vai....

POW!

O estouro foi alto o suficiente para fazer Yoongi vir correndo da cozinha, os olhos arregalados, mas ao ver que havia sido mais um ato estabanado de Taehyung, voltou para dentro, resignado.

Taehyung havia gritado de susto, mas agora estava rindo. Ele havia ficado tão perdido entre os próprios pensamentos e as próprias palavras que se esquecera da bexiga enchendo no cilindro de hélio.

Jimin não achara nada engraçado. Suas bochechas estavam vermelhas.

– Nossa senhora da bicicletinha! Pare de tagarelar e preste atenção nisso aí, Tae! É muito importante!

Tudo relacionado ao aniversário de Hyeon era "muito importante" para Jimin.

E estava tudo espantosamente lindo. Eles haviam reservado o salão do prédio de Jimin e a agência de decoração havia feito um trabalho excelente no tema Homem Aranha. Jimin, porém, achava que precisavam de mais balões, e lá estavam eles.

– Daqui a pouco chegam as comidas. O bolo precisa ficar na geladeira até a hora do parabéns para o glacê não derreter... – Jimin resmungava consigo mesmo.

Taehyung deu um sorrisinho.

– Jimin-ssi, está tudo ficando perfeitinho! Você fez um ótimo trabalho! – disse Taehyung, fazendo um joinha, porque Jimin adorava ouvir elogios.

Jimin sorriu para ele, e depois levantou num pulo.

– Daqui a pouco Juwon vai chegar com Hyeon. Precisamos colocar esses balões antes que ele chegue! – anunciou, e depois pegou todos os balões de hélio que tinha amarrado na perna de uma cadeira e saiu correndo para o salão.

Taehyung riu e pegou seus próprios balões, olhando com pesar para o pobre balão que estourara por sua desatenção. Ele era um retrato de como Tae estava se sentindo nos últimos dias. Sem seu Jeonggukie era como se o mundo desaparece, preto e branco, seco como papel queimado. Sem luz, sem sonhos. Eles estavam tão longe um do outro que nem A Mais Terrível e Perigosa e Completamente Assustadora Coisa de Todas estava sendo o suficiente para impedir Tae de querer estar perto de Jeongguk de novo. Só estar com ele.

A rachadura ficava maior e mais profunda a cada instante.

Quando Jimin decretou que tudo estava em ordem, nada mais poderia ser melhorado, como uma deixa, Juwon chegou com um Hyeon muito fofo vestido em jeans e sua jaqueta do Homem Aranha, o cabelo muito bem arrumado num topete, as bochechas coradas de animação admirando a festa que seus pais fizeram para ele.

– Gostou, querido? – perguntou Jimin, sorrindo demais, olhando para Hyeon.

– Uau, Papai Jimin! Essa é a festa mais, mais, mais incrível de todo o mundo! Não, do universo inteirinho! – ele gesticulou o tamanho do universo com os braços esticados para cima.

Yoongi veio da cozinha segurando um pacote de tamanho considerável, um grande embrulho de presente, dizendo:

– Será que já está na hora do presente de alguém que está fazendo 11 anos?

Hyeon deu pulinhos e disse vários "Sim!". Ele correu até Yoongi, sem tirar os olhos do presente, usando toda a sua força para desembrulhar aquela enorme caixa.

Era um vídeo game novinho em folha, do tipo que qualquer criança na idade de Hyeon babava para ter.

– Feliz aniversário, meu amor. – disse Yoongi, recebendo um abraço de urso de Hyeon.

Taehyung foi para perto de Juwon para cumprimentá-lo.

– Você fez um bom trabalho. – disse Tae, se referindo a Hyeon estar adorável vestido para seu aniversário. Juwon deu um risinho.

– Ele é muito independente. Só foi me dizendo o que fazer e qual roupa queria. – Juwon não tirava os olhos de Hyeon, no entanto.

Quando os doces e aperitivos chegaram, todos ajudaram a posicioná-los nas mesas.

Yoongi tentava dialogar incidentemente com Juwon, mas Jimin se mantinha distante. Eles haviam trocado breves cumprimentos. Juwon disse que a festa estava bonita e Jimin agradeceu. E foi isso. Taehyung, porém, estava satisfeito. Havia aprendido que há coisas que não se pode forçar. Amor é uma delas. Amizade também. Mas o respeito é algo que devemos até para pessoas que detestamos. Eles estavam se respeitando, ainda que não se gostassem exatamente. E tinham um motivo em comum para isso. Hyeon. Ambos queriam o bem dele, e isso era maior que o ódio ou a mágoa.

Quando Jeongguk chegou, Taehyung estava comendo um brigadeiro furtado da cozinha (ele havia sido proibido de entrar lá novamente quando Jimin descobriu).

Ele parou de mastigar, incapaz de se concentrar em qualquer outra coisa.

Taehyung detalhou com os olhos ele inteiro, da cabeça aos pés, e concluiu que nem a perfeição pura e genuína poderia competir com o que estava vendo.

Jeongguk vestia calça e jaqueta jeans de lavagem escura sobre uma camisa inteiramente branca, combinando com botas marrons nos pés. Os cabelos estavam tão escuros, como se tivessem sido mergulhados em petróleo. Ele estava tão lindo que Taehyung ficou envergonhado.

Admitia que não se esforçara tanto em sua própria aparência no dia de hoje. Não achou que precisaria parecer especificamente bonito num aniversário de criança. Mas agora, olhando Jeongguk brilhando como uma jóia, queria ter se arrumado mais. Mais do que só uma camisa amarela com um desenho de uma única margarida no lado esquerdo e jeans rasgados nos joelhos. A camisa era um tom mais clara que seus inseparáveis tênis all-star e havia uma presilha prendendo sua franja.

Hyeon foi correndo até ele, arrancando um sorriso de Jeongguk, dentes de coelho bem à mostra para Tae admirar, e então sorrir também com a boca ainda cheia de brigadeiro.

Jeongguk tirou um embrulho colorido de trás das costas e entregou para o menino. Hyeon, comportadamente e seguindo as ordens de Yoongi, agradeceu seu tio Jeongguk com uma reverência e um abraço, colocando o embrulho na caixa de presentes. Eles seriam abertos mais tarde – Taehyung, porém, havia confabulado com Hyeon o tráfico de alguns presentes para os fundos do salão, no armário de vassouras, onde eles abririam-os escondidos. Ele não se sentia culpado. Foi Jeongguk quem o ensinara que algumas regras existem para serem quebradas.

O mesmo Jeongguk que agora o encarava. Taehyung engasgou com o brigadeiro, tossindo contido.

Quando o alfa chegou até ele, Tae estava vermelho, mas recuperado.

– Olá, Tae. – disse ele, franzindo o cenho ao ver o estado do ômega. – Tudo bem?

– Hm? Ah! Sim, tudo perfeitamente e ordenadamente bem por aqui. – Céus, ele estava muitinho mais bonito de pertinho. Os olhos são tão, tão bonitos...

Taehyung piscou e chacoalhou a cabeça, pigarreando.

– Chefinho, eu... – mas ele se interrompeu quando Jeongguk levou o polegar até o canto de seus lábios, rindo nasalmente.

– Parece que alguém andou comendo brigadeiros fora da hora.

Taehyung ficou vermelho como um morango.

– É que... Eles pareciam tão, tão deliciosos... Eu não resisti. – ele olhou para baixo. – Mas Jimin-ssi viu e me deu bronca. Agora estou estritamente proibido de entrar na cozinha de novo.

Jeongguk lhe roubou um beijo, tão rápido que Taehyung mau sentiu a textura dos lábios dele.

– Eu pego uns pra você. – ele piscou um olho.

Tae já sentia seu coração pulando loucamente. Ele se perguntava quanto tempo levaria até que essas pequenas atitudes de Jeongguk se tornassem normais, e ele deixasse de tremer a cada beijo, cada olhar dele.

– M-mas... Jimin-ssi vai expulsar você também! Não quero que ele te expulse!

– Tsc... Ele nem vai perceber... Observe. – ele sorriu de lado e seguiu confiante até a cozinha, onde as vítimas – os brigadeiros – estavam perigosamente posicionados ao alcance do caçador – Jeongguk.

Jimin, porém, era um guardião de olhos afiados e garras prontas pra acabar com qualquer um que tentasse...

– Aquilo é uma barata?! – disse Jeongguk, fingindo surpresa. Taehyung prendeu o riso.

Foi uma reação generalizada. Jimin deu um grito. Yoongi, ouvindo o barulho, correu para ver o que tinha acontecido, assim como Juwon e Hyeon.

Enquanto isso, Jeongguk pegava alguns brigadeiros para dentro da manga de sua jaqueta. Ninguém nem se deu conta. Quando foi atestado que não havia barata coisa nenhuma, Jeongguk deu a desculpa de que queria assustar Jimin, o que coube como uma luva, porque parecia muito algo que Jeongguk faria.

Taehyung estava saboreando os brigadeiros furtados num cantinho escondido quando Jeongguk se aproximou. Eles trocaram olhares de cumplicidade.

– Estão bons? – quis saber Jeongguk. Taehyung assentiu com as bochechas recheadas, como um esquilo. Ele tirou um brigadeiro de trás das costas e estendeu-o para Jeongguk. – Pra mim? – perguntou o alfa. Taehyung balançou a cabeça afirmativamente. Jeongguk sorriu e acariciou uma das bochechas de esquilo. – Obrigado, meu bem.

– A-há! – os dois deram um pulo, achando terem sido, enfim, pegos. Mas quem os descobrira não representava ameaça alguma – a princípio. Era Lian-chi, acompanhado por Seomin e, surpreendentemente, Chang-yin, o irmão mais velho de Lian-chi. – Então os dois pombinhos estão traficando brigadeiros, hm? Interessante, muito interessante.

– Bico calado, você. – sibilou Jeongguk.

– Lian-chi! Seomin-ssi! E Sr. Ling, olá! – cumprimentou Taehyung, animadamente.

– Por que chegaram tão cedo? – quis saber Jeongguk. – A festa só começa daqui uma hora.

– Isso é verdade?! – exclamou Seomin, olhando com desconfiança para Lian-chi. – Mas alguém disse que a festa já tinha começa meia hora atrás!

Lian-chi assumiu uma expressão culpada.

– Eu não gosto de esperar o horário das coisas.

– Você ficou apressando a gente! – protestou Seomin.

– Você demora demais pra se arrumar! – defendeu-se Lian-chi. – E Chang-yin ficou um tempão pra decidir "a melhor roupa para se usar numa festa de criança" só pra vir com a mesma roupa de sempre!

De fato, Ling Chang-yin vestia um terno usual que poderia usar no dia-a-dia, num azul celeste fosco muito bonito.

– Perdoem minha falta de possibilidades, faz muito tempo que não frequento uma festa como essas. – ele observou curiosamente a decoração do Homem Aranha.

– Você se acostuma. – disse Jeongguk.

– Está muito elegante, Sr. Ling! – elogiou Taehyung, erguendo o polegar. Chang-yin sorriu.

– Agradeço. – ele abaixou levemente o queixo.

– É UMA CATÁSTROFE! – Jimin veio gritando da cozinha, com o celular na mão. Todos olharam na direção dele, assustados. – Contratei um palhaço pra entreter as crianças, mas ele acabou de me ligar dizendo que teve "um problema pessoal". – ele fez aspas com os dedos. – Quando perguntei o que era, ele disse que a mãe dele tinha morrido. Bem hoje ela tinha que morrer!

– Um palhaço, Jimin? – disse Jeongguk, em tom de reprovação. – Hyeon não tem mais cinco anos.

– E que horror, seu insensível. – replicou Lian-chi, com uma expressão de verdadeiro medo. – É a mãe do cara, dá um desconto.

Jimin lançou um olhar fulminante para ele.

– Agora ficamos sem palhaço, isso significa uma dúzia de crianças entediadas! Significa uma festa escorrendo pelo ralo!

– Sem drama, podemos lidar com um bando de crianças impressionáveis. – disse Jeongguk, cruzando os braços. Porém, ele não notou os olhos de Jimin começando a brilhar enquanto o encarava. E, quando notou, já era tarde demais. – Não! Nem pense nisso!

– Você tem razão, Jeonggukie! Podemos lidar com um bando de crianças! Você pode!

A cor sumiu do rosto de Jeongguk.

– Mas não temos nenhuma fantasia de palhaço, isso não vai funcionar. – ele tentou argumentar.

– Tem uma caixa de fantasias no depósito, deve ter alguma coisa lá! – disse Jimin, para o desespero de Jeongguk.

– Com licença. – pediu Chang-yin, e todos olharam para ele. – Eu sei alguns truques de mágica e sempre ando com meu baralho. Posso me encarregar de entreter os pequenos.

– Você sabe fazer mágica?! – surpreendeu-se Lian-chi. – Como eu nunca soube disso?

– Obviamente eu já mencionei antes, mas você nunca se interessou em ver, Lian-chi. – disse Chang-yin, calmamente, como sempre. Lian-chi deu de ombros.

– O senhor sabe fazer mágica?! – perguntou Taehyung, maravilhado. – Como isso é possível?!

– Poderia me emprestar a presilha em seu cabelo, por favor? – pediu para Taehyung, que na mesma hora retirou a presilha de morango que prendia sua franja para o lado e entregou na palma de Chang-yin. – Está vendo ela aqui? – ele ergueu-a na altura dos olhos de Tae, então fez um movimento com o pulso. – Agora, não está mais. – E a presilha tinha desaparecido.

– Mas...! Uau! – exclamou Taehyung, os olhos cintilando. – Mas onde ela foi?! Ah, Sr. Ling, eu realmente gosto daquela presilha, não quero que ela desapareça para sempre.

– Está... – Chang-yin levou a mão até atrás da orelha esquerda de Taehyung. Quando a trouxe de volta, lá estava a presilha. – Aqui.

– Isso é maravilhoso! – disse o ômega, encarando a presilha como se fosse um cristal precioso. – Sr. Ling é mesmo um mágico!

Chang-yin riu levemente.

– Só sei alguns truques, mas consigo me virar. – falou, então olhou para Jimin. – Adoro crianças, então será um prazer ajudar.

– Esplêndido! – Jimin comemorou, mas sua animação se esvaiu num instante. – Mas prometi para Hyeon que teríamos um palhaço, ele vai ficar tão decepcionado...

Então olhou de esguelha para Jeongguk, que fingiu não ver, mas por trás daquela pose firme como concreto havia um coração mole que o fez resmungar:

– Me dê a porcaria da fantasia!

Jimin bateu palmas.

✿✿✿

– E agora, apresento a vocês... – falou Jimin, num microfone de brinquedo que o fazia parecer algum tipo de host ou apresentador de um show. – O Mágico Chang-Chang e seu assistente, o Palhaço KooKoo.

Taehyung bateu palmas genuínas. Jin, por outro lado, deu uma gargalhada tão alta que assustou-o.

– Jin-hyung! Que susto! – disse. Jin, porém, mal escutou-o. Estava vermelho de tanto rir.

– Namjoon! Grave isso, grave! – falou entre arfadas. – Eu juro, que nomes são esses...

Quando o Mágico Chang-Chang, que era Chang-yin vestido no mesmo terno que chegara – com um pouco de purpurina que Jimin jogara em cima dele – e uma cartola um pouco grande demais, apareceu fazendo floreios e reverências para o público de uma dúzia de crianças, todos coleguinhas de Hyeon da escola, além do próprio Hyeon, que parecia estar tendo o momento de sua vida.

O Palhaço KooKoo veio logo atrás, com muito, muito menos animação. Taehyung precisava admitir que era engraçadinho ver Jeongguk vestido num macacão azul com babados, sapatos enormes, uma peruca que o deixava com dois tufos de cabelo vermelho ao lado da cabeça. Jimin tinha sido generoso na maquiagem. Ele estava com a cara toda branca, como uma máscara, com sombra azul nas pálpebras, um sorriso alargado exageradamente nas bochechas feito com batom vermelho e um nariz de palhaço redondo e brilhante, também vermelho.

A carranca usual de Jeongguk permanecia firme e forte, o que não era nada "palhaçesco".

Jin estava passando mal de tanto rir.

Jimin estava vermelho, tentando segurar a risada e manter o teatro. Yoongi estava rindo silenciosamente, cobrindo a boca.

Lian-chi estava chocado demais para rir. Provavelmente nunca imaginou ver seu irmão... bem, daquele jeito.

– Eu vou morrer... Eu não aguento isso... – Jin dizia entre risadas.

– Isso é... interessante. – foi o que Namjoon disse, prensando os lábios para não rir.

– Interessante?! Eles estão ridículos! Amor, você 'tá gravando, não é? – exclamou Jin. Namjoon sacou o celular do bolso e começou a gravar na mesma hora.

– Eu estou traumatizado... – falou Lian-chi, pela primeira vez desde que o show começou. – Que vergonha... Eu definitivamente nunca mais vou deixar o Chang-Chang em paz.

– Chefinho está tão fofo! – disse Taehyung, porque era realmente verdade – mesmo que ele fosse o único que pensava isso. O Palhaço KooKoo fazia poses engraçadas e caretas para provocar o Mágico Chang-Chang, não deixando ele realizar suas mágicas. Eles não ensaiaram nada, era tudo improvisado, mas as crianças pareciam estar amando.

Jin lançou um olhar estranho para Taehyung.

– O amor é cego mesmo.

– Fiquem quietos, eu quero ver o show! – ralhou Seomin, então todos olharam para ele. – O que foi? Eu gosto de palhaços. Mesmo que o palhaço em questão seja o meu chefe.

– Seomin tem razão. Nunca mais veremos isso de novo, então vamos aproveitar. – disse Lian-chi, cruzando os braços e focando completamente na apresentação.

Juwon, que havia ido ao banheiro, não vira o início do show. Quando ele voltou, lançou um olhar horrorizado para o que estava acontecendo ali, abriu a boca para perguntar, mas Taehyung o interrompeu com um balançar de cabeça resignado. Juwon apenas deu de ombros, enfim.

O show se seguiu com o Mágico Chang-Chang impressionando a todos e o Palhaço KooKoo fazendo suas palhaçadas. Ele começou a se soltar mais depois de um tempo – provavelmente aceitando sua situação e fazendo o melhor dela. Jeongguk e Chang-yin assumiram uma sincronia ótima, Taehyung percebeu. E as crianças estavam se divertindo, e, quer saber, até os adultos.

Como gran finale, O Mágico Chang-Chang tirou um coelho de pelúcia da cartola e presenteou-o ao aniversariante do dia. Palmas e risadas soaram quando eles agradeceram com uma reverência, e o show havia acabado.

Mas o Mágico Chang-Chang e o Palhaço KooKoo ainda precisariam atuar por mais um tempo, afinal, ainda havia mais algumas horas de festa pela frente. E uma dúzia de crianças para entreter.

Taehyung não conseguiu falar com Jeongguk, que estava cercado de pequenos seres animados por mais do Palhaço KooKoo. Mas ele diria assim que tivesse a oportunidade o quanto ele tinha sido incrível.

Eles cantaram parabéns para Hyeon, o bolo fora distribuído em pedaços e, nesse meio tempo, Taehyung viu Jeongguk se esgueirar para dentro da cozinha, procurando alguns minutinhos de paz.

Tae pegou um pedaço a mais de bolo e seguiu até lá, evitando ser visto.

Quando entrou, encontrou o Palhaço KooKoo tentando recuperar o fôlego. Ele pareceu assustado quando a porta se abriu, mas se acalmou ao ver quem era.

– Oi! Trouxe bolo pra você! – anunciou Tae, fechando a porta atrás de si. Jeongguk fez uma expressão de deleite.

– Obrigado... Nossa, eu 'tô exausto. Como pode seres tão pequenos terem tanta energia?! – ele deu uma garfada generosa no seu pedaço de bolo, comendo com um gemido prazeroso.

Taehyung deu uma risadinha.

– Mas você é muito bom com eles. É um ótimo palhaço!

Jeongguk pareceu envergonhado e não muito convencido.

– Pode dizer, eu 'tô ridículo.

Taehyung negou muito seriamente.

– Não, não, não. Chefinho fica muito bem como palhaço, um palhacinho! – afirmou.

Jeongguk riu.

– Se você diz, eu acredito. Você é incapaz de não ser sincero.

A animação de Tae se esvaiu. Aquilo não era exatamente verdade. Ele não estava sendo sincero com Jeongguk a semana inteira, mas era tudo culpa d'A mais Terrível e Perigosa e Completamente Assustadora Coisa de Todas! Mas mesmo assim...

– Chefinho, eu preciso...

– Aí estão vocês!

Tanto Jeongguk quanto Taehyung deram um pulo de susto. Jimin havia encontrado-os.

– O descanso acabou, Palhaço KooKoo, tem um bando lá fora perguntando de você. – falou Jimin, um quê de malícia em sua voz.

Jeongguk suspirou, e Taehyung quis fazer o mesmo. Parecia que tudo estava contribuindo para que ele e Jeongguk nunca pudessem ficar sozinhos.

Quando a festa estava chegando ao fim, Taehyung não conseguia mais não pensar em outra coisa que não que precisava falar com Jeongguk. Urgentemente. Contar o que estava acontecendo como já deveria ter feito há muito tempo.

Enfrentar A mais Terrível e Perigosa e Completamente Assustadora Coisa de Todas. Ele engoliu em seco.

Estava se ocupando em observar os outros. O Mágico Chang-Chang havia terminado seu trabalho, e agora comia os doces da festa conversando com Lian-chi, Seomin, Jin e Namjoon. Yoongi e Jimin estavam organizando um pouco a bagunça que ficara.

Em determinado momento, Juwon chamara Hyeon para entregá-lo seu presente. Curioso, Taehyung os seguiu até a cozinha sorrateiramente para escutar a conversa.

– Eu quero ver o que é! – dizia Hyeon, animado.

– Bom, um deles eu já te dei, que era o que você me pediu. – falou Juwon. – Mas tem um outro presente que eu gostaria de dar, extraoficialmente.

– Extraoficialmente? – ele inclinou a cabeça para o lado.

– Uhum. – então Juwon o tirou de trás das costas. Um pacote retangular bem embrulhado que Hyeon logo tratou de destruir. Era um livro. Tinha capa dura e era todo colorido. Hyeon o olhou com curiosidade.

– "Alice no País das Maravilhas". – leu.

– Isso. – concordou Hyeon. – Foi o primeiro livro que eu li e eu adoro essa história. Queria que você a conhecesse também.

– Mas eu conheço! Tem o filme. – falou Hyeon. Juwon riu.

– Mas o livro é muito melhor. Você vai gostar, tenho certeza. Você confia em mim?

– Confio! – disse Hyeon sem hesitar. – Você lê comigo, papai?

O sorriso de Juwon vacilou, só pra se abrir ainda mais luminoso.

– Claro! Claro que sim! Quando você quiser, nós lemos.

Taehyung deu um sorriso tranquilo. Estava tudo bem ali, ele não tinha com o que se preocupar.

Tae resolveu sair do salão um pouco para tomar um ar fresco. O ar da noite sempre limpava seus pensamentos e o fazia raciocinar melhor. Haviam instalado uma piscina de bolinhas ali, mas já estava vazia. A maioria das crianças já havia ido embora, e as que restaram estavam brincando com os brinquedos novos de Hyeon lá dentro.

Ele não havia visto Jeongguk e estava pronto para ir procurá-lo, até que...

– Psiu!

Taehyung deu um sobressalto e olhou ao redor, assustado.

– Quem disse isso? – perguntou, para o nada.

– Eu!

Ele estremeceu.

– Eu quem? Ah, céus, que não seja um fantasma...

– Eu, Tae! – disse a voz, parecendo ofendida. – Aqui embaixo!

Taehyung olhou para baixo, na direção da piscina de bolinhas, e lá estava Jeongguk! Afundado no meio das bolinhas coloridas com só o rosto aparecendo. Ele se parecia mais como Jeongguk e menos como o Palhaço KooKoo agora que a maquiagem havia saído quase toda e a peruca se foi.

– Chefinho! – exclamou Taehyung. – O que está fazendo aí?!

– Não é óbvio? Me escondendo! – ele arregalou os olhos. – Me escondendo daquelas criaturas de bateria infinita! – ele se referia às crianças. Taehyung deu uma risadinha.

– Oh, céus! Então, eu posso me esconder junto com você? – perguntou, fingindo desespero.

– Não sei o que você ainda está fazendo aí. – replicou Jeongguk, sussurrando como se eles corressem sério perigo.

Taehyung arrancou os sapatos e os escondeu atrás da piscina de bolinhas, entrando pela abertura na rede de proteção, que impedia que todas as bolinhas saíssem para fora enquanto crianças animadas brincavam e pulavam lá dentro.

Ele precisou se agachar para conseguir entrar sem bater a cabeça no teto, as bolinhas farfalhando enquanto ele se mergulhava nelas, Jeongguk se retirando de seu esconderijo para sentar de frente para Tae. Então, lá estavam eles, se encarando sob a penumbra. Estava de noite já, mas ali dentro parecia ainda mais escuro, de forma que Taehyung conseguia ver Jeongguk e Jeongguk conseguia ver Taehyung, mas sombras rodeavam as feições e as curvas dos rostos deles que, enquanto a visão ia se acostumando, ficavam cada vez mais claras.

– E então? Aproveitou a festa? – perguntou Jeongguk.

– Sim, sim, sim! Os doces estavam muito, muito gostosos! Foi a primeira festa de criança que eu vim, sabia, chefinho? – lembrou Tae. – Foi tudo perfeito! E o palhaço KooKoo e o Mágico Chang-Chang foram a melhor das melhores partes!

Jeongguk fechou a cara.

– Nem me lembra disso. A minha honra foi arremessada direto e triunfante pro lixo! Que vergonha... – ele cobriu os olhos com o antebraço.

– Que nada, chefinho! Você e o Sr. Ling foram muito bem! O Namjoon-hyung até filmou! – disse animadamente, enquanto Jeongguk empalidecia.

– Ele vai apagar isso... Ah, mas ele vai. Ou vou demiti-lo! – falou ameaçadoramente.

– Chefinho! – riu Taehyung.

– Não me importo de estar sendo abusivo. Esse vídeo não pode existir! Minha honra depende disso! – ele estreitou os olhos. – Aposto que foi o Jin que mandou ele filmar. Vai pro olho da rua também!

Taehyung apenas ria. Depois de um instante, Jeongguk não conseguiu mais manter a pose e começou a rir também. Eles riram, depois se encararam, e o riso foi cessando e cessando até existirem apenas olhares profundos e cheios de sentimentos não ditos.

Tae assumiu um olhar de preocupação, e suspirou as palavras:

– Chefinho, Jeonggukie.... Eu preciso muito, muitinho, falar uma coisa...

Mas sons altos de passos interromperam-o. De repente, ele se viu sendo puxado por Jeongguk para debaixo das bolinhas coloridas, de forma que quem quer que estivesse lá fora não conseguisse vê-los.

Juwon apareceu como uma sombra tomando forma com a luz. Parecia preparado para ir embora.

– Com licença, senhor! Espere!

Juwon se virou bruscamente à voz que o chamava. Taehyung e Jeongguk também se voltaram para ver – o máximo que o esconderijo na piscina de bolinhas permitia. E lá vinha Chang-yin. Ainda com o terno purpurinado, mas sem a cartola, de modo que ele voltava a ser o Chang-yin, não mais o Mágico Chang-Chang.

– Esqueceu o seu celular. – disse Chang-yin assim que chegou perto o bastante.

– Minha nossa! – exclamou Juwon, apanhando o celular veementemente. – Como eu pude esquecer... Muito obrigado, senhor, obrigado mesmo. Eu nem conseguiria entrar em casa sem ele. A senha do meu apartamento está aqui. – ele riu. – Nunca consigo lembrar dessas coisas...

– Eu vi quando o deixou lá. – explicou Chang-yin, apontando para dentro da festa. – Achei que fosse voltar para pegar, mas quando não veio, procurei por você e o vi indo embora. Corri o mais rápido que minhas pernas permitiram.

Eles riram juntos. Chang-yin, por sua vez, omitiu que estivera observando o ômega atentamente durante toda a festa, sem ter tido a oportunidade de se aproximar. Oportunidade esta que, surpreendentemente, se dera por um mero celular. Chang-yin só podia chamar aquilo de destino.

– Acho que não nos apresentamos. – lembrou, estendendo a mão. – Sou Ling Chang-yin.

– Ahn Juwon, é um prazer. – pegando a mão dele, gentil e quente, para sua surpresa. Se bem que tudo nele transmitia calma e tranquilidade, como um rio sereno e constante, que nunca se deixa abalar pela tempestade. – E eu já conheço sua identidade secreta, Mágico Chang-Chang. – sorriu maliciosamente.

O sorriso de Chang-yin afrouxou.

– Ah, nossa, minha primeira impressão foi terrível.

– Nem um pouco. – acentuou Juwon. – Eu adorei o show. Foi, literalmente, mágico. Mas preciso dizer que nunca imaginei ver Jeongguk daquele jeito. Ele costumava ser muito reservado.

– Vocês se conhecem há muito tempo? – quis saber Chang-yin.

– Bastante tempo, mas nunca fomos próximos. Minha história é com Yoongi e Hyeon.

– O aniversariante do dia, não é? – Juwon assentiu. – Eu o ouvi te chamando de "pai".

– Ele é meu filho. – confirmou Juwon. – Sou o pai ômega biológico dele, mas... É uma longa história. – ele deu um sorriso tímido. Chang-yin percebeu que talvez ele não quisesse entrar naquele assunto. Ele, porém, estava ávido por saber mais dele.

– Bom, você já sabe minha identidade secreta. – riu. – Acho que é justo eu saber um pouco sobre você também.

Juwon hesitou, mas ele transmitia tanta confiança com um só olhar direto e franco, que disse:

– A verdade é que... Eu o abandonei, quando ele nasceu. – a declaração surpreendeu Chang-yin, mas sua expressão permaneceu inalterada o bastante para Juwon continuar: – Eu não tinhas condições, nenhuma, de ser pai. Achei que ele ficaria melhor sem mim e fui embora. Mas agora quero compensar isso e, quem sabe, um dia ele me perdoe.

O alfa sentiu que havia mais. Aqueles olhos diziam tanto mais que as palavras pronunciadas, mas não quis o pressionar. Não era essa sua intenção com aquele ômega. Queria que ele ficasse confortável perto de si, porque ele parecia desesperadamente desconfortável com tudo e qualquer coisa. Exceto, talvez, quando estava perto do filho. Tinha observado-o o bastante na festa para concluir isso.

– O garotinho parecia gostar de você. – foi o que disse, e era verdade.

Juwon deu um riso triste.

– Mas quando ele crescer o suficiente para entender o que eu fiz, o mal que eu causei, vai me odiar.

– Discordo. – retrucou Chang-yin. – Crianças são os seres mais puros, honestos e sábios que existem. Tenho certeza que seu filho sabe, e entende, o que aconteceu. Mas ele escolheu te perdoar com sinceridade.

Juwon desviou o olhar, movendo os lábios num sorriso pequeno.

– Ele é um ótimo menino. – suspirou. – Eu só espero poder me redimir de todo o mal que fiz.

Chang-yin pousou uma mão sobre o ombro dele. Apenas... Queria estar mais perto. Ele não sabia o que ele tinha que o atraia tanto, há muito tempo não se sentia assim com alguém.

– Você já deu um passo e tanto. Reconheceu o que fez e está tentando de coração aberto. – confortou-o.

Juwon e Chang-yin conectaram olhares, e algo mais, também. Eles só não sabiam o que, ainda.

– Ele me salvou. Meu filho. Sem ele, eu nem... – ele se interrompeu. Não sabia porque estava contando tudo isso para ele, um alfa que acabou de conhecer. Mas que era tão gentil e parecia ler sua alma como quem que lê uma revista em quadrinhos. – E-eu preciso ir, foi um prazer, senhor....

Mas Chang-yin não o deixaria ir. Não aquela criatura tão bela, mas que tinha um olhar tão perdido, como se não pudesse ver um caminho diante de seus pés.

– A sua história me intriga muito, senhor Ahn. Eu gostaria de ouvir mais. – falou rapidamente, antes que ele escapasse por entre seus dedos.

– Por favor, me chame só de Juwon. – pediu.

– Juwon. – obedeceu ele. – Insisto que aceite jantar comigo para conversarmos.

Surpreso, Juwon levantou as sobrancelhas.

– Ah, eu posso ver um dia que estiver livre...

– Hoje. – interrompeu ele.

– Hoje?! – exclamou Juwon, gaguejando. – Mas, eu não...

– Está ocupado? Se sim, o deixarei ir.

– Não, mas... – Ah, o que ele tinha a perder, afinal? E precisava admitir que queria muito saber mais sobre ele. Apenas ouvir mais daquela voz profunda e leve, como aquelas músicas de final de novela, tranquilas, a música de um final feliz. – Tudo bem, eu aceito.

– Perfeito! – ele sorriu, e Juwon piscou lentamente. Ele sorria tão, tão bem... Com certeza havia várias coisas que aquele alfa era bom, mas sorrir era a principal delas, sem dúvidas. – Vamos no meu carro.

– T-tudo bem.

Chang-yin ofereceu um braço. Hesitante, Juwon o aceitou.

Quando eles partiram, Jeongguk e Taehyung, enfim, puderam respirar aliviados e sair de seu esconderijo.

– Mas o que foi isso? – indagou Jeongguk, e surpreso era pouco para o estado que ele se encontrava. – Isso aconteceu mesmo ou foi um devaneio meu?

Mas Taehyung estava dando risadinhas e batendo palmas, farfalhando as bolinhas ao seu redor.

– Eu achei tão, tão adorável! Espero que eles se entendam! Ah, Jeonggukie, isso não é maravilhoso?!

Jeongguk deu de ombros.

– Eu diria inesperado. Muito, muito inesperado. Na verdade, ainda acho que imaginei tudo.

– Ei, casal! – era Lian-chi, vindo de dentro da festa. Ele já os vira, então tarde demais para tentar se esconder debaixo das bolinhas. Lian-chi, porém, não pareceu se importar nem um pouco para onde eles estavam, nem o que estavam fazendo ali. – Vocês viram meu irmão?

– Acabou de sair com o Juwon para jantar. – disse Jeongguk, apontando para a direção onde eles foram com o dedão.

Ele o que?! Ah, aquele velho safado. Nós viemos de carona com ele! Vamos ter que pegar um Uber e... Espera, você disse que ele saiu para jantar com quem?!

Jeongguk riu maldosamente. Enfim, tinha uma vantagem sobre Lian-chi

– Se tudo der certo, você vai ter um cunhado em breve. – zombou.

Lian-chi encarava Jeongguk sem nem piscar, parecendo alguém que permaneceu na escuridão por tempo demais e agora, enfim, estava vendo a luz.

– Chang-yin... n-namorando? Mas ele nunca namorou ninguém, que eu saiba...

– Não ouse se intrometer! – ameaçou Tae.

Eu?! Nem se eu fosse doido! Eu vou é soltar foguetes se isso for verdade! Quem sabe assim aquele velhote sai um pouco do meu pé! Preciso contar isso pro Seomin... Continuem aí... O que quer que estejam fazendo. – e saiu correndo para dentro da festa, restando somente o silêncio.

– Tae. – a voz de Jeongguk ecoou. – Agora que, finalmente, estamos sozinhos, podemos conversar, só nós dois. Tem algo que eu quero muito, muito te dizer...

ALERTA VERMELHO. ALERTA VERMELHO. ALERTA...

– JÁ CHEGA! – berrou Taehyung, e Jeongguk deu um pulo de susto. – Eu não posso mais aguentar isso!

E ele, completamente fora de si, começou a pegar as bolinhas e jogar contra Jeongguk.

– Ai! Ai! – ele exclamava, tentando se defender.

– TODA ESSA SITUAÇÃO HORRÍVEL... – uma bolinha. – ESTÁ ME DEIXANDO... – e outra. – MALUQUINHO! – e mais e mais bolinhas eram jogadas contra o pobre Jeongguk.

– Ai! Ai! Taehyung... – ele não sabia nem como reagir. Nunca vira Tae tão descontrolado. – Para com isso! Ai!

Ele parou. E começou a chorar. Jeongguk estava pasmo.

– Está me incomodando tanto quanto uma farpa no dedo mindinho! – ele cobriu o rosto, sua voz saindo abafada de lágrimas. – Se tem algo a me dizer, pois que diga agora! Eu suporto qualquer coisa!

– Taehyung, mas de que diabos você está falando?! – quis saber Jeongguk, esfregando as costas da mão onde ele tinha acertado uma bolinha que parecia muito mais dura que as demais.

Ele mostrou os olhos cheios de lágrimas.

– Você quer terminar comigo!

Jeongguk permaneceu em silêncio, de olhos arregalados, até que:

– Terminar com você?! Eu?!

– Você mesmo! – acusou Taehyung.

Jeongguk estava perplexo demais para pensar em algo coerente para falar. Seu cérebro tinha virado gelatina. Ele terminar com Taehyung?! Mas que ideia de jerico era aquela?!

– Pelo amor de Deus, de onde você tirou isso, Kim Taehyung?! É óbvio que eu não, repito, não quero terminar com você. – enfatizou, e o choro de Tae foi diminuindo conforme ele assimilava as informações.

– Não?

Jeongguk resfolegou de impaciência. Sério, eles nem deveriam estar tendo aquela conversa, porque ele terminar com Taehyung era absolutamente impossível!

– O que mais eu vou precisar fazer pra provar o meu amor, poxa? – disse, e tinha um quê de mágoa em sua voz. Taehyung percebeu e se aproximou dele, mais que arrependido.

– Eu não duvido do seu amor, chefinho!

– Não é o que parece. – teimou Jeongguk, virando a cara.

– É que o Jin-hyung me deixou confuso...

Aquilo fez Jeongguk olhá-lo tão rápido que seu pescoço poderia ter quebrado.

– Espera aí, o que o Jin te falou?

– Exatamente?

– Cada palavra.

– Ele disse que se o outro pedir pra conversar, não é um bom sinal. E se ele vier dizendo que é uma "conversa séria", então é porque quer terminar. Disse também que dar um tempo é muito, muitinho pior. – De repente, ele arregalou os olhos. – Você não quer dar um tempo, quer, chefinho?

– Não! – exclamou Jeongguk, indignado. – Agora 'tá tudo explicado. Francamente, Tae, você não pode levar ao pé da letra tudo que te falam. Principalmente se for o Jin.

Ele fez um biquinho e o coração de Jeongguk derreteu.

– Me desculpa, Jeonggukie, desculpa. É que eu fiquei com muito medo de você terminar comigo porque eu não sou um bom quase-namorado. – ele encolheu os ombros, parecendo querer se enfiar naquelas bolinhas coloridas de ponta-cabeça como um avestruz.

– Como assim você não é um bom quase-namorado? – ele estava confuso, não imaginava que Taehyung tivesse esses tipos de pensamentos.

– Eu te ignorei a semana inteira por um motivo tão bobo... E agora joguei um monte de bolinhas coloridas de plástico em você. – ele parecia prestes a voltar a chorar e Jeongguk estava entrando em desespero de novo. – Me desculpa, chefinho, por fazer tanta coisa feia, você me perdoa?

Jeongguk riu pelo nariz. Era melhor esclarecer logo as coisas. Ele não aguentava mais essa situação entre eles.

– Tae, eu queria conversar com você, sim. Mas não pra terminar, claro que não.

Ele olhou-o com atenção.

– Por que então?

Era agora. Jeongguk tirou uma caixinha de veludo macio do bolso.

– Eu poderia fazer um discurso bonito dizendo o quanto você mudou minha vida, o quanto eu sou uma pessoa melhor com você por perto, e o quanto eu quero te fazer feliz e te amar e te retribuir tudo de bom que você me traz, mas eu prefiro demonstrar com ações. Pelo resto dos meus dias, eu vou te dar a certeza de duas coisas: A primeira é que eu te amo, a segunda é que você é insubstituível, incomparável e único pra mim. Meu ômega. – ele abriu a caixinha, onde duas alianças delicadas como ramos de figueira repousavam, idênticas. – Kim Taehyung, você quer namorar comigo?

E aconteceu algo que raramente acontecia com Taehyung: ele não conseguia pensar em nada. Era um daqueles momentos, preciosos momentos, que ele não conseguia tornar melhor com sua voluptuosa e brilhante imaginação. Que sua mente fértil não conseguia alcançar outro lugar que não fosse ali, em frente a Jeongguk, seu amor, com uma maquiagem borrada de palhaço, mas ainda seu Jeonggukie, perfeitamente como só ele conseguia ser.

Felicidade irradiava de seu peito, seu retumbante coração, até seu olhos, e o bastante para desenhar um sorriso em seus lábios. Mais que suficiente para formular a palavra doce de:

– Sim! – e depois de novo: – Sim, sim, sim! Mil vezes sim! Um milhão, dez milhões, infinitas vezes, sim!

E pulou sobre Jeongguk com tanta intensidade que os dois caíram para trás, mergulhando nas bolinhas coloridas, rindo como duas crianças. Ou dois amantes, o que eram, felizes em só estarem na presença um do outro. Felizes com o caminho luminoso que se abria nas estradas de seus futuros, afastando a névoa da incerteza. Um caminho para os dois, juntos.

– Eu te amo, eu te amo, eu te amo... – repetia Jeongguk, seu mantra, sussurrando para só Tae ouvir, porque só ele precisava ouvir. Só ele precisava da certeza. Jeongguk só pertencia a ele. E quando olhou para ele, lindo, sorrindo de seu jeito favorito, as bochechas rosadas colidindo com os olhos de tão grande o seu sorriso. Ele não queria mais nada, apenas ele. Se tivesse Taehyung, poderia enfrentar qualquer coisa.

Até mesmo os demônios de seu passado. Taehyung o salvava.

– Chefinho! Agora somos namorados de verdade! – constatou ele. – Não mais "quase-namorados"! Mas, sinceramente, não muda muita coisa. Eu achei que mudaria, mas não mudou. Continuo gostando de você na mesma forma, e te amo do mesmo jeitinho. Ainda te acho o alfa mais bonito de todos, e você continua...

Jeongguk não o deixou terminar. Não que não quisesse ouvi-lo falar, poderia fazer isso por horas e horas, mas, nesse momento, sentia a necessidade quase instintiva de beijá-lo. Como se seus instintos mais antigos despertassem e lhe ordenassem que tomasse aquela boca deliciosamente cheia e rosada entre os lábios. E foi o que fez.

Puxou a nuca de Tae, que suspirou de surpresa, mas cedeu tão fácil que Jeongguk rosnou em resposta. Eles se beijaram como não faziam há dias. Fogo ardia e doía entre eles, um fogo que só podia ser apartado se estivessem juntos, sem nenhum centímetro separando-os. Jeongguk deixou que Taehyung tomasse a frente, beijá-lo como quisesse e sentisse vontade. Ele foi tímido, mas amoroso, segurou atrás da orelha de Jeongguk enquanto abraçava seu tronco com a outra mão. Eles estavam afundados até a cintura em bolinhas coloridas de plástico, que funcionavam como um cobertor incomum.

Jeongguk subiu as mãos para a cintura de Taehyung, depois deslizou-as com preguiça até as coxas. O objeto de sua cobiça desde que o viu pela primeira vez. Ele não precisava se conter agora. Segurou-as com firmeza e sentiu Tae estremecer.

Ele separou o beijo e Jeongguk pensou que fosse pedir para pararem. Mas Taehyung só o olhou, ofegante, apoiando-se com as duas mãos em seu peito. E que visão... Jeongguk poderia ficar ali para sempre, só admirando-o.

– Chefinho... – murmurou. – Jeonggukie...

– Você quer parar? Sabe que podemos, se quiser.

Mas, para a surpresa de Jeongguk, ele negou.

– Eu não quero parar, é só que... – ele mordeu o lábio inferior. Jeongguk moveu os olhos até ali. – Tenho medo de fazer algo errado e você não gostar.

Jeongguk voltou a encará-lo, se perguntando se ele estava falando sério. Então jogou a cabeça para trás numa risada curta e rouca. Uma risada que fez Taehyung sentir... coisas.

– Tae... – ele levou a boca até a orelha de Taehyung, esfregando os lábios no lóbulo macio, fazendo o ômega se arrepiar, mas de um jeito bom, muito bom. – Não tem nada que você faça que eu não possa gostar. O que preciso fazer para que entenda isso, hm?

Taehyung respirou fundo. Não conseguia pensar direito com Jeongguk fazendo... aquilo.

– E, também, ainda estamos numa piscina de bolinhas... – murmurou Taehyung. – Tem gente lá fora...

Jeongguk arregalou os olhos, a sensação entorpecente de estar com Taehyung nos braços desaparecendo como vapor quando ele se deu conta da realidade em que se encontrava.

Ainda estavam numa piscina de bolinhas. Ainda era a festinha de seu afilhado. Ele ainda estava ridículo vestido de palhaço.

Foi como um jato de água fria. Ele se afastou de Tae rapidamente.

– Droga, por um momento eu esqueci disso... – praguejou, ajudando Taehyung a se sentar, o melhor que podiam estando rodeados de bolinhas. – Vamos para casa e...

– Chefinho... – interrompeu Taehyung, parecendo ter se lembrado de algo. – Onde estão as alianças?

Jeongguk congelou. Olhou ao redor, as bolinhas coloridas eram como um mar sem fim e sem esperança. Olhou de volta para Tae, que pelo jeito pensava o mesmo que ele.

Jeongguk amaldiçoou as porcarias das bolinhas coloridas pela hora que se seguiu em que eles passaram tentando achar as alianças.

✿✿✿

– Sabe, chefinho... – dizia Taehyung, enquanto desenhava uma borboleta na borda no caderno onde, anteriormente, fazia anotações. A aliança prateada brilhando em seu dedo anelar. Uma igualzinha era exibida no dedo anelar de Jeongguk. – Acho que eu já decidi o que quero fazer no futuro.

Jeongguk olhou para ele, particularmente interessado, sem parar o carinho que fazia nos cabelos azuis macios. Taehyung estava deitado nas coxas dele enquanto Jeongguk assistia, ou tentava, ao noticiário e Tae falava sobre um pouco de tudo. Garrinhas estava deitado sobre as pernas esticadas de Tae e eles ocupavam todo o sofá com sua preguiça de final de dia.

Jeongguk estava se sentindo muito bem consigo mesmo. Tinha seu namorado consigo, seu gato, as coisas na empresa estavam indo bem, seus amigos estavam muito bem resolvidos com suas próprias vidas, seus avós voltariam em breve. Não tinha nada mais que ele pudesse querer.

Mesmo que, sempre que olhava para aquela gaveta na cabeceira do seu quarto, houvesse muito algo que ele queria. Que implorava para ter.

Agora ele tinha esperança, ao menos. O vazio que sentia ia, lentamente, sendo preenchido pelo ômega de cabelos azuis deitado em seu colo, perdido em seus pensamentos e tentando compartilhá-los com Jeongguk.

– O que é? – perguntou Jeongguk.

– Acho que quero abrir meu próprio negócio, como você tem o seu. – revelou ele. – Estivesse pensando, e pensando, e pensando mais um pouco, e foi isso que decidi.

Jeongguk moveu a cabeça como se estivesse ponderando o que acabara de ouvir.

– O que você acha? – quis saber Taehyung, ansiosamente.

– Acho que você consegue fazer qualquer coisa que quiser. – falou. – Mas preciso alertá-lo que não vai ser fácil. É difícil abrir um negócio e mais difícil ainda manter. Vai precisar se esforçar bastante.

– Eu sei... Mas se esforçar por um sonho vale a pena. – concluiu Tae, terminando sua borboleta e mostrando para Jeongguk, que elogiou-a.

– Já sabe que tipo de negócio? – perguntou o alfa, depois.

– Ainda não... – Taehyung olhou de soslaio para a televisão, onde notícias tristes e revoltantes passavam uma atrás da outra. – Queria que existisse um lugar onde as pessoas pudessem ir quando se sentissem mal. Um lugar tranquilo, de paz e cores, para que se sentissem bem e esquecessem dos problemas do mundo. Um lugar de conforto e segurança.

Jeongguk se atentou a ele. Tae estava divagando, ou melhor, navegando nas águas profusas de sua mente.

– Não sei se existe um lugar físico assim. Talvez seja algo que cada pessoa precisa encontrar na vida. Seu porto seguro, seu conforto. E isso pode ser um lugar, um objeto ou... – Ele deu um toquinho de leve no queixo dele, trazendo-o de volta para o mundo real. – Uma pessoa.

Taehyung olhou para ele e sorriu.

– Mas se tem alguém que consegue pensar num lugar assim, é você, meu bem. – acrescentou ele. Uma notificação fez seu celular vibrar. Ele pegou-o no braço do sofá e olhou, depois se surpreendeu. – Não acredito!

– O que foi?! – quis saber Tae.

– Hoseok e Taeyeon estão voltando!


Com a volta de Hoseok e Taeyeon, os amigos se reunem depois de muito, muito tempo. Jeongguk e Taehyung passam um tempo com Han e Yoona. Jeongguk procura uma forma de ficar a sós com Tae e eles fogem para um chalé isolado de tudo e todos, onde seu amor pretende ficar ainda mais forte. 

✿✿✿

Gostaram?

Ficamos por aqui. O próximo capítulo não tem grandes emoções, mas bastante taekook! Aproveitem enquanto podem...

Obrigada por ler e até o próximo!

Bjs Bjs da Nyx!

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