Quando as quatro regressar
A bondade retornará
E com ela
O mal também ressurgirá
O véu da morte descerá
E no Fim em paz
Narnia irá ficar.
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Edmundo
Beijar Gleice fazia borboletas dançarem no meu estômago, mas ver esse ser novamente o congelava. A multidão em volta suspirava em espanto e frenesi com seus cochichos sem nexo. Meu instinto foi manter Gleice atrás de mim, protegendo-a. Meus olhos percorriam ao redor buscando respostas mas elas não existiam. Pedro paralisado também protegia a ruiva que sequer piscava. Escutei a voz fraca de Fernanda balbuciar seu nome, o que fez meu estômago revirar em nojo.
-Impossível. - consegui dizer. - Você esta morta. - A multidão se afastava a cada passo dado em direção a nós.
O frio dominava o local e seus olhos me fitavam.
-Não, eu não estou morta, meu caro Edmundo. Se tens dúvida venha até mim. - ela estendeu sua mão.
-De você eu só desejo distância.
-Aslam a matou, como conseguiu voltar? - com a espada desembanhada, Pedro avançou a passos lentos. - Nós testemunhamos sua morte.
-Ah, Pedro. - ela acariciou o queixo longo. - Existe muitas coisas que você se quer desconfia. - sorriu largo e seu semblante estava cada vez mais mórbido. Estalando os lábios ela continuou. - Vou lhe responder. Pelo menos em partes. - ela gargalhou mostrando alguém que estava atrás dela. - Entre minha cara amiguinha loira. - Disse ela abrindo espaço para uma garota entrar passando a mão sobre sua cabeça e acariciando seus cabelos. - A amiga de vocês me foi bastante útil. - sorrindo ela rodeava a menina que em seus olhos somente tinha um vazio.
Eustáquio pôs-se a frente.
-Como pode fazer isso? Confiamos em você. Ajudamos você quando precisou. - ele limpou uma lágrima que insistiu em cair. - Porque ajudou ela, Jill? - e sua resposta foi somente o silêncio da antiga amiga. - PORQUÊ? - ele gritou avançando mais.
-Opa! - a feiticeira estendeu a mão e se pôs a frente da garota. - Parado ai, rapazinho. Ninguém se aproxima. - alertou. - Ela só obedece á mim.
-O que você fez com ela? - Eustáquio cerrou os punhos entendendo que a garota foi obrigada aquilo.
-Meu querido. A escolha foi dela. - seus braços envolveram a garota. - Jill tão tolinha, acreditou que se me ajudasse eu iria parar de atormentá-la em seus sonhos. E eu faria o mesmo no lugar dela, afinal o tormento que eu a causava insistindo para que ela os matasse aos poucos era gigantesco. Mas infelizmente ela não aceitou minha proposta para fazer o serviço sujo. Então eu fui praticamente obrigada a amaldiçoá-la a ir em Chan me despertar. - seus olhos emanavam orgulho de si mesma.
-Essa garota me foi tao útil que decidi lhe dar uma colher de chá e deixá-la viva. - Disse ela segurando o queixo da querida menina que estava em volta a uma névoa verde e seus olhos sem cor alguma. - Ela está sendo uma ótima serva. - sorriu novamente. - Bom, - deu de ombros. - meu plano era matar vocês envenenados através dela mas tive que mudar ao saber da chegada dessas ai. - apontou com nojo no olhar para cada garota. - Se eu matasse todos de uma vez, que graça teria? Eu quero é diversão, o frenesi, o medo em seus olhos. Seus corações palpitantes em espanto. A gritaria da multidão. E suas mortes em minhas mãos causadas muito dolorosamente. - sorriu de lado e com movimentos rápidos ela fez surgir do chão guerreiros envoltos em névoa preta, fazendo o lugar ficar cada vez mais frio
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Leonardo
*Poucos minutos antes*
Eu tinha que ser mais ágil. Tenho que aproveitar a oportunidade dela estar distraída. Eu apressaria mais os guardas na distribuição das armas, mas não posso chamar a atenção dela.
-Ei... - sussurrei puxando Caspian lentamente pelo braço. Seu corpo deu um espasmo e com seus olhos espantados olhou para trás. - Não fale nada, apenas pegue essas espadas e distribua. A guarda está armada. Avise os meninos. No sinal de Pedro atacaremos.- ele balançou a cabeça concordando. Antes dele sair o puxei novamente. - Devagar e sem movimentos bruscos.
Faltavam poucos para receberem as armas. Tummus ajudava lentamente retirando as mulheres e crianças do salão.
-Todas foram mandadas para casa nos cavalos mais velozes. Pelo menos o sangue derramado vai ser menor. - ele me informou chegando a mim. - Aurélio me informou que temos reforços de mais duas guardas que conseguiram comunicar. Quase todos aqui dentro já possuem suas armas. Vou tirar Lúcia e Susana daqui. - olhou de relance para as duas que estavam atrás de todos.
- É loucura Tummus. Elas estão no campo de visão da feiticeira.
- Loucura é deixá-las batalhar. A qualquer momento Jadis vai parar de se vangloriar e irá atacar.
Agradeço por meus reflexos serem rápidos pois se não fossem por eles eu estaria agora sem cabeça. Ela realmente joga sujo. Traze-los do chão é sacanagem.
- Fernanda. - a gritei no meio da luta e lhe joguei um arco e flechas. Ela me olhou assustada e mirou nos guerreiros dos quais eu lutava contra os derrubando facilmente.
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Edmundo
-Você não irá vencer! Nunca. - Gleice saiu de trás de mim e antes que eu a conseguisse segurar ela já estava longe.
-Ai está ela. - ela riu. - A senhorita Justa quer um acerto de contas?. - Disse ela irônica - Sabe acho que você pode morrer primeiro? Assim posso lutar com um Edmundo mais vingativo. - estendeu uma de suas mãos levantando a menina no ar e puxando-a para mais perto de si em uma névoa verde.
Não senti minhas pernas. Minha vista escureceu e o medo tomou conta do meu corpo inteiro. A voz na saia por mais que eu tentasse e quando saiu foi desesperada.
-Me leva no lugar dela, por favor. - nem vi que já estava bem próximo de Gleice. - Eu faço o que quiser. - cai de joelhos dois metros de Gleice e três da feiticeira. Eu já não importava comigo desde que ela fosse salva.
-Ótima idéia... - ela sorriu me olhando no fundo dos olhos.
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Pedro
-Estúpido. - sussurrei antes de sair correndo atrás dele. Chegando perto o levantei trazendo para trás em passos largos. Empurrava ele de volta com as costas viradas para ela. - OLHA PRA MIM. - bati em seu rosto para que ele parasse de se debater. - NÃO SEJA IDIOTA. - gritava tentando o segurar, olhava em volta procurando ajuda mas todos estavam cercados. Ao meu lado via a ruiva em estado de choque. - SAI DAQUI. - gritei para ela que me fitou, deu passos para trás e correu.
-VOCÊ NÃO ME MANDA. ME SOLTA.
-NÃO SOLTO. - gritei de volta - Para de ser tolo. é isso que ela quer. - segurei seus ombros e o envolvi em um abraço de urso.
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Fernanda
A vi correndo pelo salão sem nenhuma arma e logo os guerreiros a viram também e lhe cercaram. De longe derrubei-os e ela olhou assustada em minha direção. "Uma espada" balbuciou ela correndo em minha direção. Minha visão periférica capitou Jadis alguns metros atrás de Pedro. Ela tirava uma adaga de um lugar escondido em seu vestido.
-PEDRO... - juntei todo o ar de meus pulmões para gritá-lo quando ele me viu soltou o irmão. - SAI DAI.
Meu olhar se lembrou do olhar da minha amiga que vinha até mim. E direcionei-o a ela, percebendo o espanto em seu rosto, a vi mudar de direção. Meu estômago gelou. Corri para detê-la mas estava longe demais.
-NÃO! - quanto mais eu corria, mais eu ficava longe dele. Era desesperador.
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Pedro
Senti uma estocada em minhas costas, um corpo bateu contra o meu. Ao meu lado uma flecha passava contando o ar. Me virei e vi ela entrando na feiticeira que caiu em seguida.
Senti o corpo caindo sobre minhas pernas e num impulso me virei e o segurei. Tudo menos isso. Meus olhos se encheram de lágrimas e cai junto com ela ao chão.
-NÃO! - uma onda de medo, dor e remorso passou pelo meu peito e me senti petrificado. - Porque você fez isso Rany? PORQUÊ? - gritei tocando seu rosto.
-Sou impulsiva. - sorriu de lado com dificuldade.
-Fica quita não fala nada, vai ficar tudo bem. - coloquei o dedo em sua boca pedindo silêncio e olhei ao redor vi Eddie e lhe gritei.
-Vá até Lúcia e pegue o elixir. RÁPIDO. - ele se assustou com a cena e logo entendeu e foi correndo em direção da irmã derrubando todos a sua frente.
-Não vai adiantar. Eu já sinto tudo se esvaindo. - lágrimas desciam de seus olhos.
-Não fale isso. Cadê a garota otimista que conheço? - tentei sorrir a mantendo acordada.
-Você partiu o coração dela. - senti como se eu tivesse levado a estocada da adaga e chorei copiosamente debruçado sobre ela. Sua mão levantou o meu rosto e ela me olhou sorrindo de lado. - Mas tudo bem, ele sempre foi seu para partir mil vezes se quiser. - Ela passou a mão sobre meu rosto levemente. - Salve a todos, Pedro. Não deixe mais ninguém morr... - antes de terminar sua mão caiu e seus olhos pararam. Queria que meu coração parasse junto ao dela. Tudo que era bom em mim, tudo que eu tinha, minha essência, meu ser, minha vida... tudo morreu com ela.