Viúva Negra | L.S

By the_noemimutti

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Todos homens temiam seu nome. Idolatravam sua postura. Seguiam suas regras. Harry Styles era o braço direito... More

A Jornada Começa Aqui
01. Homem de Princípios
02. A Morte dá Tchau
03. Desafiando o Diabo
04. Quebrando a Banca
05. Louvado seja Satã!
06. A Deusa da Morte
07. Súplicas Perdidas
08. Fogo Cruzado
09. Com Unhas e Dentes
10. Lar Maldito Lar
11. O Pai da Mentira
12. Flores Álcoolicas
13. Onde Judas Morre Antes
14. Sob Rédeas Curtas
15. O Lobo Atrás da Porta
16. O Verdadeiro Alfa
16,5. Nargot
17. De Frente com o Diabo
18. Vestíbulo do Inferno
19. Chamas na Escuridão
20. Incendiado
21. Jardins da Babilônia
22. Deus e o Diabo na Terra do Sol
23. Corrida Contra o Tempo
24. Eu te Devoro
25. Entre a Cruz e a Espada
26. O Rei Renasce
27. O Caos que nos Une
28. Quando a Luz Toca
29. A Solidão Que Nos Habita
30. Você Vai Me Destruir
31. Imortais & Fatais
32. Doce Criatura Cruel
33. Tudo por Amor
34. Como Atlas
35. Lobo em Pele de Cordeiro
36. Anaconda
37. Em conversa de malandro...
38...otário não se mete
39. Encruzilhadas
40. Bonnie & Clyde
41. De Volta ao Jogo
42. Romeu & Julieta
43. As Rosas Não Falam
44. Demônio Noturno
45. A Fúria
46. A Toca do Coelho
47. Afrodisíaco
48. Xeque-mate
49. Eu Sobre Mim Mesmo

50. O Amor Que Nos Destruiu

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By the_noemimutti

Oii!
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Leiam com "Nothing Breaks Like a Heart".
Tenham uma boa leitura, y'all.



"Eu te amo, mas preciso ir.

Te quis ao mesmo tempo que tuas palavras me cortavam que nem navalha, e foi uma pena ver você se tornando todos os pesadelos que eu te disse que me assombravam.

Assisti a todas as tuas explosões sentindo teus estilhaços me cortarem, porque você nunca teve o cuidado sobre o que ia ou não me atingir.

Te amei quando tu me apunhalou pelas costas mesmo sabendo que nada mais seria o mesmo.

Hoje sento no primeiro lugar da plateia e assisto tu se tornar a pior versão de ti, enquanto me despeço lentamente da tua versão pela qual me apaixonei.

e dói."

— Voarias.

HARRY EDWARD STYLES - P.O.V

Nunca te avisam quando algo para de doer, porque de certa forma, a gente sente quando aos poucos a dor se torna ardor e lentamente em nada.

O problema é que nunca te avisam quando vai doer, pois tornaria o momento mais difícil da sua vida em algo constipado pela ansiedade e o desejo de finalização.

Caminhar para fora daquele bunker consumido pelas labaredas de fogo ao lado do amor da minha vida, da pessoa que possuía cada fragmento do meu coração, me fez ter um estalo.

Eu estava quebrado.
Algo morreu em mim, junto aquelas chamas.

Todo o bunker precisava ser incendiado porque possuía provas demais ali dentro e o pen-drive em meu bolso parecia pesar quilos, me afundando a terra enquanto minhas lágrimas inundavam o meu rosto.

Céus.
Doía tanto...

— Styles — chamou Perséfone, mãe de Louis, a expressão rígida e séria. — Como aceitou participar da última parte do plano, preciso te apresentar a sede da nossa organização.

Pisquei. E depois pisquei de novo.

— Hã... Meu filho não estará lá — acrescentou. — Acho que você não vai querer ver Louis tão cedo.

— Não me importo se ele estiver — sussurrei rouco. — Ele é o líder. Não há como fugir disso.

— Muito maduro da sua parte.

Não respondi a ela, desviando meu olhar para a cabeleireira tão conhecida e os azuis frios como gelo saltar da range rover preta, caminhando até mim com a postura séria. Niall estava distante, parecendo querer errar os meus olhos por saber que eu estava profundamente magoado.

Ele não se abalou em sua postura, seguindo até Perséfone e entregando as chaves do carro em suas mãos.

— Você vem comigo — ordenou Horan. — Como você já escutou a última parte do plano e concordou, toda a Ordem de Hórus está recebendo um aviso que ambos líderes foram sequestrados.

— Certo.

Pensei em meus pais, mas era algo inútil. Eu também estava fazendo aquilo pensando no bem deles, já que parte do plano de Mark consistia em eliminar os Styles.

— Vamos com um carro discreto — apontou para o sedan cinza. — Queremos o máximo de discrição. Coloque esses óculos e essa boina.

— Cadê Margot?

— Está na sede — respondeu, parando por alguns segundos para me encarar de verdade. — Nós também não saberíamos se eu não conhecesse Louis tão bem. Ele nunca teria me contado antes, Styles. Não ache que foi o último a saber por decisão dele.

Ri de escárnio.

— Ele se importa tanto comigo — revirei os olhos. — Quando na verdade tudo o que ele fez foi para proteger você.

Horan torceu a boca, respirando fundo.

— Não fale o que você não sabe — retorquiu.

— Eu não sei de muita coisa.

— Foda-se. Não tenho tempo para isso. Entre no carro e eu te explico o que quiser durante o caminho.

Me surpreendi brevemente.
Aquele foi o gesto mais gentil que eu já escutei na vida vindo de Niall Horan.

Atendi sua ordem e entrei dentro do carro, esperando ele terminar de conversar com Louis que parecia distante demais e mantinha uma distância longa de mim. Às vezes eu sentia os azuis me queimando, porém não me atrevi a retribuir.

Eu estava enjoado.

Niall ficou uns bons minutos conversando com ele e o abraçou fortemente no final, sussurrando algo em seu ouvido e beijando sua testa antes de se afastar e vir em direção ao carro.

— Vocês têm algo — constatei.

Niall não negou.

— Desde quando?

— Desde sempre.

A voz era tão fria e imperiosa que eu sabia que tinha que ser cauteloso com as perguntas e insinuações.

— Ele te ama mais do que me ama.

— Não é por aí. Temos papéis e intensidades diferentes.

— Mas ele te ama mais.

— Se é o que você acha — deu de ombros. — Você entrou agora na vida do Louis, Styles. Eu estou nisso há vinte anos. Não compare nós dois.

— Você teve imprinting com a Margot? De verdade?

— Sim. Somos soulmates como vocês são.

— Pelo menos algo foi real — sussurrei.

Niall ponderou bastante antes de me encarar pelo retrovisor, já que eu me encontrava no banco de trás, parecendo receoso ao dizer:

— Eu também tive imprinting com Louis. Quando tínhamos cerca de quatro anos, mais ou menos.

Não me surpreendi. Ninguém se descontrola do jeito que o lobo dele se descontrola com Niall se não tivesse algo.

— Não sei porque isso não me surpreende? — rebati sarcasticamente.

— Idiota. Não é do jeito que você está pensando. Por que todos levam para o sentido romântico da coisa? Somos o que os cientistas chamam de chama gêmea.

— Isso é impossível. É um mito ridículo da época dos humanos e... Assim como o lobo do Louis também era um mito ridículo.

— Touché — sorriu de lado. — Eu não tenho nenhum papel romântico na vida dele. Sou a chama que compartilha a mesma alma, como se fôssemos metades que andam em conjunto. Você acha que eu não quero deixar minha genética se transformar em alfa por quê?

— Margot disse que era porque você gosta de ser um ômega.

— Eu faria de tudo pela minha esposa, Harry, mas ela não está acima do meu laço com Louis. Se eu me transformar em alfa...

— Você perde a conexão com Louis — finalmente entendi. — E seria tão ruim? Vocês não precisam de um laço atestando isso.

— Sou metade da essência de Louis. Somos ômegas por uma razão. Se eu me transformar num alfa, será como viver com um buraco no peito. Não só eu, como ele.

— Por isso seu lobo dormiu? Não sabia decidir entre Margot e Louis? — Ele assentiu. — Você escolherá ele.

Niall não discordou.

— Temos uma teoria de que podemos fazer dar certo — garantiu. — Ele tem... tinha você. Já amenizava um pouco a dor que ele sentiria.

Pois eu queria mesmo que sentisse.

— Ele tentou te contar, Harry. Nós não deixamos, porque não confiávamos em você. O modo como você manipulou os ômegas naquela missão do Viúva quando espalhamos o veneno, foi digno de mestre. Ficamos preocupados que você estivesse enganando Louis.

Não respondi.

— Além do mais, você é o mais treinado de todos nós. Você não possui uma explosão de raiva, não se altera em nada, não deixa ninguém ler. Impossível confiarmos e Louis estava cego pelo laço.

— Por isso colocaram o Lion — ri baixinho. — Para me tirar do sério?

Niall deu de ombros.

— Foi o mais perto que chegamos de analisar suas reações. Vimos que você faria de tudo por Louis. Esse imbecil se jogou naquela piscina apenas para nos provar que a conexão de vocês era forte o suficiente para o fazer colaborar. Perséfone e Lottie proibiram de contar. Toda a organização proibiu.

— Ele tentou tantas vezes assim?

— Muitas — suspirou. — Na noite que você foi envenenado, Louis te chamou para sair porque iria te fazer assistir o que tem nesse pen-drive. Ele fez o sumiço de Ziam parecer uma pista que levava ao relógio do William e ver os relatórios que temos do tráfico dos ômegas. Ele começou a ficar louco, tentando achar um jeito de te mostrar sem que você o expulsasse.

— Eu nunca percebi.

— Não se culpe. Parte de não ter dado certo foi o momento que essas pistas foram dadas. Eu comecei a desconfiar desde o dia que lancei aquela adaga no rosto de Louis dentro da mansão. E ele fez algo que jamais poderia fazer comigo.

— Ele ameaçou a te deixar surdo do outro ouvido — relembrei o episódio.

— Louis não seria capaz disso. A primeira vez que ele fez, eu dou jus. Tirei o lobo dele do sério, porque ele não me dava ouvidos desde quando Margot entrou na minha vida. Ficou possesso de ciúmes.

— E então você deu a adaga para ele.

— Louis me deu de presente quando éramos mais novos. Coloquei um rastreador e o peguei uma vez dentro de uma boate, depois de ter matado uma garota de programa em puro descontrole. Ele não enxergava nada aquele dia. Estava fora de si. Tão animalesco... Ele parou em um beco onde estava um morador de rua.

— O dia que ele voltou com cheiro de sangue e morte. Eu me lembro.

— Eu estava escondido, perseguindo ele o mais rápido possível. Esse morador era o Doutor Legacy. O responsável por ter injetado e conduzido todo o genes assassino de Louis que veio do pai e o intensificado. Mark lhe expulsou da sede depois de o pegar abusando de algum dos ômegas durante os estudos.

— Louis...?

— Era o favorito dele. — Eu senti todo o meu corpo parar naquele momento. Não sei se suportaria escutar mais alguma coisa. — Louis sempre é o favorito de muitos.

— Mas chegou a...

Niall caiu o olhar, confirmando de forma muda, fitando o horizonte com um breve fogo queimando de uma forma que eu jamais tinha visto.

— Ele tinha cinco. Começou com pequenas visitas noturnas para regular a medicação, dopando ele a maior parte do tempo. Louis mal piscava os olhos sem fechá-los. Todos nós o víamos durante o dia muito controlado, e em seguida, recebíamos uma espécie de "apagamento" sobre tudo e uma infância que não existia. Ele não podia sair conosco nas viagens e tia Amber passava a maior parte do tempo tentando fazê-lo feliz, colocando memórias que o tirasse de toda aquela dor.

— Ela sabia dos abusos?

— Ninguém sabia, Harry. Não tinha marcas, não tinha violação explícita. Eram toques, gestos e falas.

Aquilo me fez despedaçar mais do que eu já estava.

— Ele assistiu os vídeos?

— Todos.

— E você?

— Não tive coragem. É por isso que Louis travou quando Zack o agarrou saindo do banheiro, porque ele não tem resposta a abuso. Seu cérebro se acostumou a deixar. Lottie fuzilou de ódio por saber disso.

Eram tantas informações. Meu cérebro parecia prestes a explodir.

Niall parou em frente a uma casa bem arranjada, sentando-se no banco de trás, ao meu lado, pegando o notebook que estava no banco do motorista e o abrindo, conectando o mesmo pen-drive que estava no meu bolso.

Abriu-se uma série de vídeos numerados cronologicamente, parecendo tão organizado e típico de um estudo conduzido.

— Eu sei o que é estar ao lado dele e não sentir ele. Simplesmente Louis é muito... Vou assistir com você. A alma e a chama juntos.

— Não sei se conseguirei assistir, Niall — fui sincero. — Não sei se eu quero. Saber do passado dele não diminuirá a mágoa que eu estou sentindo.

— Não, não vai mesmo. Não diminuiu a minha — sorriu de lado, os azuis gélidos um pouco mais quentes. — Mas acho que devemos isso a ele. Não desculpá-lo, mas entendê-lo.

Ponderei cerca de trinta segundos, respirando fundo e concordando por fim. A minha maior surpresa foi sentir os dedos de Horan se entrelaçar com os meus, como se buscasse apoio assim como eu estava precisando.

Engolindo em seco, ele colocou o vídeo #01.

Experimento Tomlinson
#01

Um garotinho de orbes gigantes azuis apareceu na frente da câmera, dentro de uma espécie de gaiola, coçando os olhinhos sonolento com uma jardineira amarela tão infantil.

Os cabelos estavam todos bagunçados e ele tinha uma expressão caída, parecendo tão tristonho.

— Olá. — Uma voz grave soou. — Titio vai fazer algumas perguntas, tá bom? Você responde as que souber.

Ele assentiu.

— Seu nome?

— Louis — a vozinha era tão baixinha, fina, amendrontada.

— E quantos anos você tem, Louis?

— Quatro. — Mostrou nos dedinhos gordinhos.

— Muito bem. Sabe quem é sua mãe, Louis?

— Penny — disse mais rápido do que esperava, arregalando os olhos ao ver. — Amber!

O homem estalou com a língua em discordância.

— Desculpa, Louis, você conhece as regras.

Uma onda de choques que parecia punitivo, nada muito forte, mas o suficiente para assustar uma criança ricocheteou pela gaiola e o fez gritar de dor. Os azuis logo aguaram, se tornando piscinas com um bico enorme nos lábios rosados.

— Mamãe Amber. Papai Mark — disse Louis.

— Muito bem! E quem é sua irmã?

— Lottie. Ela ainda é neném.

— E quem você mais ama no mundo, Louis?

Eu finalmente entendi o que eles estavam fazendo. Era uma espécie de "adestramento" da lealdade e do lobo dele. Para ser fiel aos Tomlinson.

— Niall — sussurrou.

— Da família Horan?

— Isso. Ele traz biscoitos e brinca comigo pelas grades, tio. É amigo do papai e da mamãe.

Os olhinhos se tornaram um pouco mais alegres e eu escutei o soluço de Niall.

— Vou trazê-lo na próxima sessão, então.

— Titio, posso comer?

— Sabe que só pode comer depois de algumas horas da medicação. O que te ensinei?

Ele olhou para os dedinhos e assentiu, apertando um ursinho azul nos braços com força.

— Gravações de confirmação do efeito do remédio 01. Estamos progredindo. Louis está esquecendo aos poucos da antiga família. Próximo estágio serão as memórias.

Experimento Tomlinson
#02

O vídeo voltou para um Louis na mesma posição, agora de banho tomado e muito mais dopado do que o outro vídeo. Estava com roupa de hospital e o semblante caído de cansaço.

— Olá! Vamos fazer as nossas perguntinhas, tá bom?

Ele assentiu.

— Qual seu nome?

— Louis — sussurrou tão lento que meu peito se apertou.

— Quantos anos você tem?

— Quatro.

— Quem é sua mãe?

— Pen- Não, titio, por favor, AÍ! — gritou em dor ao final quando sentiu os choques. — Mamãe Amber.

— E pai?

— Mark — fungou. — Desculpe.

— Sabe que precisa esquecer dessa mulher. Ela não é sua mamãe, Louis. Ela queria seu mal.

Ele não respondeu, parecendo quase cair de tão pesado que seu corpinho minúsculo parecia possuir. Rapidamente, a câmera mudou de foco para uma miniatura loira que caminhava saltitando em direção a gaiola.

O médico, Doutor Legacy, apontou para Louis novamente que encarava seus pés.

— Trouxe um amiguinho que você disse que gostou da última vez — anunciou a um Louis que soltou um gritinho infantil de animação.

— Vem cá, lourinho — chamou, correndo para a grade assim como Niall.

— Oi, Lou.

Diferente da dicção mais eficiente de Tomlinson, Niall tinha mais erros na fala como uma criança de quatro anos.

Os dedinhos de Niall tocaram o de Louis, fazendo uma espécie de faísca subir que fizeram os dois rirem animados.

— Como fizeram isso? — perguntou o médico a si mesmo. — Não é possível... Abram a gaiola 28 de Tomlinson.

Um som alto que fez Niall ir para trás ressoou e o garotinho correu para dentro da gaiola e abraçou Louis com força. O rosto pálido de Tomlinson pareceu automaticamente ganhar mais cor, assim como os negros do seu lobo apareceram brevemente.

— Não é um imprinting de almas — deduziu. — Preciso investigar. Encerro aqui.

***

Niall fitava a tela estático, sem reação nenhuma.

Eu mal conseguia piscar.

— Então foi assim — sussurrou para si mesmo.

— Ele te amou desde o primeiro instante que te viu.

— Foi recíproco. Eu só queria me lembrar de como foi isso — soluçou, tocando na tela em um Louis tão apagado e sem vida. — O que fizeram com ele?

— Eu não sei o que pensar sobre — admiti. — Preciso de um tempo. Não vou conseguir terminar de assistir essas gravações.

Horan não respondeu, fechando o notebook e limpando as lágrimas. Observei pelo retrovisor a moto de Louis parar ali, assim como ele retirar o capacete de forma lenta e desanimadora.

Fitei Niall sem reação, porque eu ainda fervia de tanto ódio e decepção, mas agora parecia tão errado manter esses sentimentos...

— Ele vai respeitar seu tempo — disse Horan. — Margot respeitou o meu.

— Eu não o quero mais — encolhi os ombros. — Não importa o quanto eu tente. Não adianta ficar com uma pessoa que não se ama.

Duas batidinhas tornaram-se presentes no vidro e nós saímos de dentro do carro em conjunto. Louis estava com seus trajes de couro e as luvas que usava para pilotar, mas seus olhos ainda não me alcançavam.

Muito sem jeito, ele disse:

— Penny disse que você não achou problema em te mostrar a sede da organização. Se preferir, posso...

— Vamos logo — cortei a enrolação, o fitando firmemente nos olhos.

Louis parecia quebrar cada vez mais que me encarava.

— Tudo está agindo conforme o premeditado. Com o nosso suposto sequestro, meu pai teve que mandar Lottie assumir a missão aqui junto a Lauren e deixar minha mãe e os conselheiros no controle da Ordem. Não dou mais de dois dias para esse empurra-empurra acabar em um dos líderes querendo o trono da Ordem.

— Assim vocês vão literalmente acabar com ela envenenando todos de intriga e corrupção — reconheci, meio surpreso pela inteligência. — Você é realmente muito manipulador, Tomlinson.

Niall coçou a garganta, cortando o clima denso e caminhou em direção a porta com as chaves em mãos. A casinha era tão modesta que eu não entendi como poderia ser a organização de um plano tão gigante.

Parecia uma casa típica americana dos subúrbios, até chegarmos no porão.

— Olá, playboyzinho filantropo — soou a voz mecânica quando Louis pôs sua digital.

Niall riu.

— Céus. Você não muda.

— Ah, cala a boca. Sua esposa é uma miniatura da Penélope Cor de Rosa — alfinetou onde sabia que Horan iria se afetar.

— Pelo menos eu tenho uma esposa — deu a língua, porém pareceu perceber o que disse na brincadeira e o sorriso morreu na hora. — Desculpe.

Louis não respondeu, entrando no complexo que se abriu embaixo de toda aquela casinha de fachada. Era gigantesco. Tinha doutores passando de cima para baixo com pranchetas, agentes secretos e alguns soldados ômegas fiéis da Ordem que seguiram Louis para o plano.

Incluindo Haila.

— Olá, chefinho — sorriu abertamente, caminhando até o meu pescoço e retirando o colar que me dera. — Isso aqui volta para mim.

— Você sabia?

— Fui recrutada, na verdade. Por Lottie.

— E confiou cegamente nela?

— Ah, não. Eu confiei cegamente nas minhas memórias de infância todas apagadas ou borradas. Lottie só me deu a confirmação que estava estranho.

— Sabe há quanto tempo?

— Um ano, mais ou menos.

— Lauren?

Haila suspirou.

— Ela tentou tirar algumas informações, mas a hipnose que fizeram nela a deixou muito perturbada. Confundiu o lobo dela inteiro. Ela ficou cega, assim como você por conta do laço. Seu lobo confia no Louis, mesmo que sua mente desconfiasse de muitas coisas, o lobo te tranquilizava ao ponto de você ao menos suspeitar. É diferente para gente que está de fora da relação ver.

— Me sinto um pouco confuso — confessei. — Preciso processar toda essa gama de informações que foram cuspidas em mim.

— Você não tem muito tempo. A próxima fase do plano está vindo. Só você pode executá-la.

Assenti, desviando minha atenção para um indivíduo que parecia muito animada ao ver Louis. Ela estava com as mesmas roupas hospitalares, cabelos negros e longos, olhos azuis e redondos e uma janelinha adorável.

— TIO LOU! — exclamou com aquela animação de criança, correndo em direção aos braços dele que a puxou e jogou no alto.

— Fala, piveta.

— Senti sua falta. — Fez um biquinho, beijando a bochecha de Tomlinson que fez uma careta.

Nem percebi que estava sorrindo.

— Quem é essa? — questionei a Haila.

— Essa é a Dakota. Uma das ômegas que resgatamos do tráfico. Ela tem uma anomalia que faz o lobo dela ser gêmeo quando assume a forma animal.

— Como? Quando ela se transforma em lobo, se tornam dois?

— Sim. Pelo o que sabemos, rolou uma briga por dominância quando ela dividiu o útero com a outra gêmea dela. Eram ambas alfas. Por conta da série de experimentos que Mark e a Ordem fez para aprimorar o lobo dela, sem saber que ela era alfa, acabou a fazendo ter uma luta com a gêmea e ela engoliu dentro do útero. É bem comum entre gêmeos alfas.

— Então quando ela se transforma em lobo...

— Se tornam dois. Fascinante, não é? Parece aquela habilidade de se transformar em várias cópias suas ao mesmo tempo.

— E como ela era alfa, o que fariam com ela?

— Ela seria sacrificada ou vendida. Mark queria ômegas. Louis a salvou quando invadiu a rede pela primeira vez, jogando os dados dos ômegas que seriam descartados para uma base em Atlanta, como se estivesse mudando o destino de onde seriam mortas. Quando chegaram lá, a organização Viúva sequestrou todas as crianças de lá e trouxeram para cá.

Nós andávamos em direção as salinhas infantis onde tinham várias crianças brincando, sendo supervisionadas por médicos e cientistas.

Era uma cena que me deixava desconfortável.
Me lembrava Louis pequeno.

— Estamos supervisionando porque não sabemos até onde foram afetados e quão de risco oferecem a si mesmos ou a terceiros. Dakota é a queridinha do Louis.

— Achei que ele não gostasse de crianças — retruquei.

— Ah, ele adora. Tem a mesma mentalidade que elas — apontou para Tomlinson que estava brigando com Dakota pela revistinha do Homem-Aranha que ela estava mostrando. — Você parece confuso.

Sorri de lado, enfiando a mão nos bolsos e olhando ao redor de toda aquela organização de mestre. Todo o bem que eles estavam fazendo. Tentei me sentir incluído naquilo, mas a verdade é que...

Eu não me sentia bem ali.

— Acho que eu só preciso beber.

— Esse é um prédio subterrâneo. Temos mais cinco andares para baixo. O último são os quartos dos líderes da organização e o segundo é uma espécie de bar e hall que usamos para desestressar depois das missões.

— Onde eu irei ficar?

— Como você é um líder, e todos supomos que você iria continuar com Louis, é no mesmo quarto que o dele.

— É sério? — bufei estressado. Me sentia muito consumido.

Sabe quando seu corpo parece prestes a entrar em colapso? Todo o meu autocontrole feito e emoldurado por mais de dez anos parecia ruir naquele momento.

Começou lentamente, meus dedos se fecharam e meu coração acelerou de uma forma que ficou muito difícil de respirar. Passei a mão na nuca, forçando minha vista a focar no rosto de Haila, mas a sensação de desespero começou ao sentir a garganta fechando.

Fazia anos que eu não tinha uma crise de pânico e ansiedade.

— Harry? — perguntou Haila, preocupada ao notar minha respiração resfolegante.

Os sons tornaram meus ouvidos sensíveis demais, me fazendo tapá-los e fechar os olhos com força.

Respira. Inspira. Respira. Inspira.

— Harry, o que está acontecendo?

Meu coração parecia que ia pular para fora e eu comecei a tremer, perdendo o equilíbrio e caindo no chão branco e limpo daquele laboratório. Minhas vistas desfocaram-se de uma forma que eu via pequenos borrões.

— Um médico! — exclamou Haila, porém o som de seu grito me fez encolher ainda mais.

Puta merda. Meu lobo parecia arranhar as paredes do meu corpo.

Autocontrole, Harry. Você está liderando essa situação. Você sabe lidar com as suas emoções como ninguém. Mantém a postura.

— Hazz? — Aquela maldita voz penetrou meus ouvidos, me deixando mais irritado ainda. — Sou eu.

— Você não, você não — sussurrei sem parar.

— Você está tendo um ataque de pânico? — perguntou cautelosamente, se aproximando aos poucos do meu corpo.

— Você fez isso comigo.

— Eu sei — confirmou com a voz serena. — E como você está se sentindo?

— Sufocado. Angustiado. Não consigo controlar nada.

— O que você consegue ver aqui?

— Nada. Minha visão está embaçada — solucei. — Sai de perto, Louis.

Ele ficou em silêncio, parecendo ficar atrás de mim e tocou levemente em meu braço direito, chegando próximo ao meu ouvido.

— O que você consegue ouvir, alfinha?

— Eu só vou falar mais uma vez: Louis, sai de perto de mim!

Ele se assustou com o tom grave, se afastando imediatamente ao ouvir o rosnado. Senti uma picada leve no braço e me acalmei aos poucos, conseguindo focar minha visão levemente e o meu coração pareceu voltar a bater no lugar correto.

Percebi que era um calmante e que o corredor praticamente estava vazio, apenas Niall, Margot, Haila e Louis permaneciam ali.

Levantei aos poucos, coçando a nuca e piscando os olhos, dando de cara com um Tomlinson muito abismado e sem reação.

Todos pareciam sem reação.

Um alfa nunca rosnava do jeito que eu rosnei para seu soulmate. Tanto que Louis se aproximou porque sabia que eu não o machucaria por ser meu soulmate, mas a questão era que meu lobo também estava machucado.

Não reconhecíamos mais o poder e a presença de Louis.

Suspirei.

— Você quer se deitar, chefinho? — perguntou Margot. — Pode dormir no meu quarto. Niall dorme com Louis até ajustarmos o quarto novo para você.

Assenti, ignorando o estado catatônico de Tomlinson e seguindo Margot em direção aos quartos.

Eu precisava descansar.

***

Acordei cerca de duas horas da manhã com um pressentimento de que algo estava errado.

Abri um dos olhos, tentando me acostumar com a escuridão que engolia o quarto e observei um corpo perambular pelo quarto em direção a poltrona com a minha jaqueta jogada ali.

Fiquei quieto, só espreitando Louis agarrar o tecido e cheirar, pondo em si e caminhando lentamente para fora do quarto de maneira sorrateira.

— Em alguns países isso é considerado crime — comentei ao corpo que se assustou, quase escorregando no chão.

Levantei as sobrancelhas.

— Hm... Eu... Não consigo dormir.

— Notei.

— E seu cheiro me ajuda a pegar no sono — coçou a nuca, sem jeito. — Se importa se eu levar?

— Não. Só não traga de volta.

Ele assentiu, caminhando até a porta e parando brevemente com a mão na maçaneta ainda. Respirei fundo, já imaginando a discussão que se prolongaria a partir dali.

Não queria escutá-lo.
Queria um tempo.

— Lauren chegou. Acho que ela precisa de você.

Foi tudo o que disse antes de sair do quarto e deixar uma brecha aberta, esperando que eu saísse atrás da minha melhor amiga.

Andei até a poltrona e peguei meu hobby preto, me desafiando a perambular pelos corredores atrás do cheiro da alfa que eu já conhecia. Parei para beber um pouco de água que ficava no corredor, tentando achar em alguma daquelas portas a de Lottie ou de Stacie.

Escutei um gemido leve vindo de uma porta no fim do corredor, logo em seguida um praguejar leve de alguém que lutava contra algo.

— Merda, Leo, para de se mexer — resmungou uma voz doce que eu conhecia bem.

Zayn.

— Ele está se mexendo de novo? — murmurou uma voz rouca. — Vem cá.

Liam.

Eu certamente não cansava de me impressionar com o tanto de coisas que foram mantidas embaixo do tapete por eles.

Continuei andando pelo corredor, parando quando escutei a voz de Lottie.

Bingo!

Antes que eu ameaçasse a bater, uma voz chorosa cortou o silêncio por cima:

— Vocês duas estão casadas há quanto tempo? — Era Lauren.

— Quase dois anos, mais ou menos — respondeu Stacie, a voz que outrora foi calma se tornando a sua verdadeira personalidade. Séria e imperiosa.

Lauren ofegou e meu coração parecia chorar junto com o dela.

— Eu fui parte do plano. Ok. Isso eu entendi. Mas por que me levar para o meio de vocês duas?

— Precisávamos saber se poderíamos ter sua confiança e até onde Íris foi na sua mente — disse Lottie. — Nós meio que... hm...

— Tínhamos a missão de te tirar do cargo de caçadora para que Haila, que fazia parte do plano, pudesse entrar. Precisávamos te fazer cometer erros difíceis de serem perdoados — respondeu Stacie.

Um choro copioso cortou a conversa e eu fechei os olhos, encostando a minha testa na parede. Tinha passado pela mesma coisa que Lauren estava passando.

— E-e-eu realmente me apaixonei por vocês — soluçou. — E vocês duas tinham apenas um fetiche? Parte do plano era se aproveitar da caçadora idiota?

— Lauren, eu também me apaixonei por você — inferiu Lottie.

— Diz isso depois de me ver quase enlouquecendo com um laço que não existia. Ou talvez eu seja mesmo soulmate da Íris.

Um rosnado irritado saiu dos lábios que eu deduzi ser de Stacie, assim como o clima pareceu bem mais intenso.

— Não fale besteiras, Jauregui. Você é minha alfa.

Lauren riu.

— Não, eu não sou.

— Como assim? Dá para resolvermos isso, Lolo. Nós tínhamos uma missão maior e nem poderia imaginar que você se apaixonaria e que nós iríamos também. Foi natural — disse Lottie.

— Eu não sou egoísta o suficiente para virar as costas para o que está acontecendo e não ajudar, mas a partir do momento que eu colocar meus pés para fora desse quarto, eu não quero que dirijam a palavra a mim.

— Vai agir como uma pirralha mesmo? — Stacie sobressaltou-se. — Você está sendo estúpida. Está óbvio na minha cara que eu gosto de você, Lauren.

— Eu sou o unicórnio de vocês — disse Jauregui. — Não toca em mim, Lottie! Eu sou a porra do unicornio de vocês. O que trouxe alegria durante um tempo na relação de vocês duas. O que torna o sexo interessante.

— Cala a boca, Lauren. Não é assim! — exclamou Lottie.

— Não é assim? Enquanto você me fodia de um lado, do outro você encontrava Stacie e mantinha segredos. VOCÊS SÃO CASADAS, PORRA! E eu... Eu...

Lauren soltou um soluço tão quebrado que eu não aguentei meus dedos e bati brevemente na porta, esperando que abrissem.

Precisava tirar minha garota de lá.

— Quem é? — questionou Lottie, porém Lauren abriu com tudo e se jogou nos meus braços.

Arregalei os olhos, tanto pelo baque quanto pela força, apertando a garota no meu peito com carinho e beijando seus cabelos negros enquanto seu corpo pulava conforme o choro forte.

Encarei Lottie que estava chorando silenciosamente e Stacie que parecia mais irritada do que qualquer coisa. Irritada consigo mesma.

— Faz parar de doer, Ed — pediu baixinho, apertando meu tronco com mais força.

— Existem pessoas que não merecem seu coração, Morceguinha. Nem o seu, nem o meu.

Minha expressão estava nublada, eu queria mais que tudo descer a porrada nas duas, mas de nada adiantaria. Quem estava precisando da minha ajuda agora era o corpo que balançava conforme o choro abundante.

— Vem. Vamos dormir comigo.

Stacie deu dois passos para frente, consternada.

— Não! — bradou, parecendo perceber que estava perdendo realmente Lauren. — Não!

— Facilite isso, Laurent. Ou Reed. Seja lá quem for você.

— Me tira daqui — choramingou a alfa e eu concordei, virando as costas para levá-la ao meu quarto.

— Lauren — chamou a ômega. — Lauren Michelle Jauregui! Você vai voltar agora! Seu lugar é conosco.

Ela ao menos respondeu, não se virando para nenhum dos chamados de Stacie. Nem mesmo quando a voz irritada se tornou chorosa, e logo após, muito desesperada.

Era muito complicado toda a situação.
De um lado entendíamos, de outro, era incompreensível entender que alguém que amasse fosse capaz de fazer o que ambas fizeram.

— EU ESTOU GRÁVIDA! — noticiou em pleno corredor, tão alto que até meus tímpanos doeram.

Lauren parou, parecendo catatônica.

— Eu estou grávida — repetiu.

Achei que minha amiga teria uma síncope ali, porém ela estufou o peito e limpou o rosto das lágrimas pesadas, virando-se para a ômega que tremia.

Com uma frieza calculada, ela respondeu:

— Parabéns ao casal. Espero que venha com saúde.

E nós caminhamos para dentro do quarto.

Eu, Lauren e o amor que nos destruiu.


NOTAS DA AUTORA: Vixi!

Relaxem que não tem narração e nem aquela coisa chata de gravidez. É apenas mencionado. Estamos na reta final da fic, então não terá nada sobre gravidez e focar em bebês, mas sim, Zayn fugiu porque estava grávido assim como Stacie também está. São a segunda geração da Ordem.

O foco agora é o desfecho do plano, assim como a redenção incrível que tem do Louis. E muito está envolvido de vocês verem o que aconteceu com ele e o que ele fará.

Não esqueçam: Louis ainda ama o pai.
Assim como ama a mãe. Guardem isso.

Para acompanhar surtos, atualizações e spoilers, meu twitter é: the_noemimutti.

Até em breve, cariños!

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