Improvável Triângulo

By EvaBossy

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Recém-saída da faculdade, é o primeiro ano de Clara como advogada. Competente e dedicada, conquistou vaga em... More

Recadinhos
Agradecimentos
Prólogo
Personagens Principais
1 - Um pequeno imprevisto
2 - Uma viagem inesperada
3 - Tour
4 - Saciando o desejo - Parte 1
4 - Saciando o desejo - Parte 2
5 - Aparências
6 - Mudanças

7- Encontros, trombadas, reuniões e desencontros

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By EvaBossy

Olhando pela janela do carro, Samira encarava a sequência de quadrados brancos sobre a superfície metálica da parede arredondada, formando as letras 'MPL' do aeroporto de Montpellier. A viagem durara muito pouco, mas a jovem modelo sabia que ficaria gravada em sua memória por toda a vida.

Raul era um cavalheiro e, apesar de os dois saberem que não continuariam se encontrando depois de voltarem para suas rotinas, fazia questão de caminhar pelas ruas estreitas, repletas de sobrados cor de creme, de mãos dadas com Samira e isso fazia com que a jovem se sentisse acolhida.

No dia em que chegaram, Raul cumpriu sua promessa do café e Samira se deliciou com doces e salgados de um refinamento que jamais experimentara e, para completar a noite, escolheram um restaurante ao acaso, mas, sem apetite, apenas tomaram vinho.

A modelo fazia com que a conversa fluísse fácil e, mesmo o homem grisalho carregando em seu peito o peso da irresponsabilidade da aventura, ela conseguia distraí-lo e fazê-lo rir com histórias de sua infância.

Atraídos, primeiro pela voz melodiosa falando em língua estrangeira e, depois, pela beldade que a propagava, franceses e francesas viravam os pescoços admirando Samira, enquanto ela passava, ao lado de Raul, conversando:

— Não! Mas, a pior nem foi essa! Deixa eu contar! Uma vez eu estava brincando no quintal... eu não lembro exatamente do que... eu fazia muitas brincadeiras de faz de conta, então eu poderia ser uma pirata ou uma rainha má, mas, nesse dia específico, acho que era uma criminosa tentando fugir da prisão e prendi a cabeça entre as barras do portão da garagem. Com vergonha de gritar, devo ter esperado uns quinze minutos até minha mãe aparecer e perceber o que eu tinha feito. Ela ensaboou meu queixo, passou óleo nas barras de metal e virou meu corpo e a cabeça de todos os jeitos possíveis, até desistir e me deixar lá, até meu pai chegar do trabalho. No fim, tiveram de chamar um serralheiro para cortar uma das barras, permitir que eu saísse e soldar novamente.

Raul não se cansava de ouvir Samira que, como uma versão mais safada de Sherazade, entre carícias e peripécias sexuais, entreteve o magnata com histórias divertidas até que ele dormisse com a cabeça em seu colo.

No dia seguinte, tiveram tempo de realizar apenas um passeio, em um parque chamado Jardin des Plantes que, como o nome deixa claro, é uma área arborizada, repleta de jardins que se misturam com arquitetura em harmonia intensa. Samira quase perdeu o fôlego com a força do contraste de uma sequência de arcos de pedra cercado por plantas e árvores.

A modelo ainda saboreava as melhores lembranças quando o carro seguia para a parte privativa do aeroporto.

Apesar da importância internacional e da riqueza de Raul, ainda assim, ambos precisaram passar pela alfândega. O CEO apertou a mão da modelo com ternura, enquanto dizia:

— Chegamos. É hora de voltar para nossas vidas.

Samira desceu do carro e respirou fundo, antes de dizer:

— Raul... muito obrigada...

O homem grisalho sorriu com simpatia e carinho. Por maior que fosse a beleza de Samira, seu interesse sexual pela jovem fora passageiro e era como se encarasse uma amiga. Não se sentia mal por isso, pois tudo na linguagem corporal da jovem dizia o mesmo. Eles se deliciaram com seus corpos, cheiros e gostos e no dia seguinte, só sobrou o carinho e a cumplicidade. No entanto, souberam aproveitar os dois dias e tornar cada momento em uma cena especial.

— Eu queria poder ficar mais uns dois dias pra poder te levar pra praia... — O homem grisalho falou, enquanto acompanhava Samira para a alfândega.

— Eu acredito que sim. Mas, nem eu nem você podemos nos dar o luxo de ficar escondidos na França por muito tempo — a modelo respondeu, jogando o cabelo para o lado e atraindo a atenção dos três franceses de terno, responsáveis pela imigração.

**********

Conforme Patrícia lhe informara no dia anterior, Raul ainda não tinha voltado de seu compromisso no exterior e isso não representava nenhum problema para Clara, ela tinha uma reunião com o famoso e inimigo declarado Dr. Américo e até preferia que não houvesse mais nenhuma força envolvida nessa primeira reunião.

A jovem aproveitou o espelho do elevador para conferir se o cabelo estava devidamente ajeitado, sem nenhum fio rebelde escapando do coque e se havia alguma falha na maquiagem discreta. Achava fútil prestar tanta atenção em sua aparência em situações decisivas como aquela, mas, cuidar da vaidade era uma excelente ferramenta para distrair sua mente em momentos que a ansiedade e o estresse, se deixados livres, causariam estrago.

A porta do elevador se abriu e, com passos firmes e decididos, Clara começou a caminhar pelo corredor, em direção a sala de Dr. Américo, mas foi interrompida quando a porta da copa se abriu bruscamente e Elídio saiu de supetão, trombando com a advogada.

O corpo do homem grande, com seus mais de um metro e oitenta, bateu de frente contra a lateral da pequena Clara que teria sido lançada contra a parede se Elídio não tivesse tido a presença de espírito de segurá-la, envolvendo-a em um abraço.

Tudo acontecia tão rapidamente que o cérebro da jovem demorava para processar as informações. O súbito impacto, braços fortes e quentes a envolvendo completamente, firmando-a no chão e, no segundo seguinte, Elídio já se afastava, dizendo:

— Nossa! Perdão! Me desculpa! Eu preciso ir.

E antes que a jovem pudesse dizer qualquer coisa, o homem de cabelos dreadlock virou o corpo de lado e passou pelas portas do elevador que se fechavam.

— O que foi isso?

Clara disse, em voz alta, para ninguém, olhando ao redor para ver se mais alguém presenciara a cena do encontrão.

Não havia testemunhas e a advogada sorriu, aliviada.

A porta do escritório de Dr. Américo estava aberta, mas mesmo assim, Clara preferiu bater e aguardar, antes de entrar.

A resposta veio imediatamente:

— Pode entrar — a voz era grave e macia, podendo indicar um homem de qualquer idade entre trinta e sessenta anos.

Como todas as pessoas que Clara conhecera na Mighty Star, até então, eram jovens, ela construíra a imagem de Dr. Américo como um senhor imponente, de cerca de cinquenta anos de idade, com cabelos grisalhos e ombros largos, mas, foi surpreendida.

O advogado tinha os cabelos completamente brancos penteados para trás, indicando que já deixara a casa dos sessenta para trás. Era magro, pequeno e tinha o rosto enrugado e cansado. A jovem não pode deixar de pensar que, mesmo em sua juventude, Dr. Américo nunca fora uma pessoa de estética agradável. Havia algo no formato de suas longas sobrancelhas, ou na ruga mais profunda, no lado superior direito do lábio do homem, que o deixava com uma expressão de deboche, ou até mesmo 'com cara de safado' como a jovem pensou.

— Bom dia, Dr. Américo. Muito prazer, meu nome é Clara — a advogada disse, se aproximando da mesa e estendendo a mão, com firmeza e profissionalismo.

O idoso observou a jovem dos pés até a cabeça e, por um instante, a advogada achou que o homem não responderia à saudação, mas, um segundo antes que ela recolhesse a mão, constrangida, Dr. Américo estendeu a sua, com dedos compridos e ossudos, dizendo com a voz grave e jovial que não combinava em nada com sua figura:

— Bom dia, Dra. Veiga, estou ciente de quem você é. Faça o favor de se sentar.

"Dra. Veiga, claro! Como eu sou estúpida, não estou entre amigos, mas sim em um escritório com um colega advogado. Já começou mal, dona Clara" — a jovem pensou, sentindo uma vontade imensa de voltar no tempo e recomeçar a apresentação. Mas, tudo o que podia fazer era puxar uma cadeira e se sentar, dizendo:

— Obrigada.

O idoso respondeu ao agradecimento com um leve movimento de cabeça e, depois de dar um gole de água e limpar a garganta, começou a falar:

— Parece que, injustamente, comecei nossa relação com o pé esquerdo e, por isso, quero te pedir desculpas. Preciso que saiba, de minha própria boca, que fui contra a contratação de um profissional com zero experiência em um cargo de tamanha importância e que, mesmo tendo participado de sua escolha para preencher a vaga, continuo me opondo a este disparate. Raul pai teria me dado ouvidos, mas Raul filho age conforme quer e tem o poder de convencer toda a diretoria a apoiá-lo, mesmo que suas ideias sejam completamente descabidas, como a construção do Parque Temático... enfim... Não é para isso que te chamei aqui.

'Quero que saiba que minha posição não é contra você, advogada Veiga, mas contra a sua função nessa empresa e, por isso, por motivo único e exclusivamente estratégico, eu me recusei e, mesmo na ausência de Raul, continuo me recusando a explicar e te orientar em suas funções. No entanto, o estrago está feito. Você está contratada e não tenho muito o que fazer contra isso. Por isso, quero que saiba que, quando estiver ciente de suas funções, estou disposto a ajuda-la, pessoalmente ou emprestando alguém de minha equipe, conforme a ocasião permitir.'

Em choque, com o rumo tão inesperado da conversa, Clara estava boquiaberta, em um dos raros momentos de sua vida em que não sabia o que dizer. Por isso, mesmo tentando resgatar sua presença de espírito, só conseguiu agradecer:

— Muito obrigada, Dr. Américo...

Sem sorrir ou dar indícios de que estava brincando, o idoso complementou, olhando para o nada:

— Não é como se eu tivesse opção. Tudo o que podemos fazer é torcer para que eu esteja errado e que essa loucura dê certo. Ou, que se der errado, que os estragos não sejam muitos — e, voltando a encarar Clara. Apoiou os dois cotovelos sobre a mesa e apoiou as mãos fechadas contra o queixo — agora, resolver algumas pendências para terminar de processar sua contratação...

**********

Elídio saltou da bicicleta e a deixou encostada no muro, do lado de fora da casa centenária e, sem tempo para procurar a chave no bolso, pulou o portão, correndo pelo corredor lateral da casa até os fundos, torcendo para que a porta da cozinha estivesse aberta.

Mesmo sem fôlego, o artista conseguiu encontrar energia para gritar:

— Dona Diva? Beatriz?

E, sem esperar resposta entrou no quarto, encontrando a cama desarrumada e vazia.

Sentindo faltar as forças da perna, o homem caiu de joelhos e, ainda ofegando e respirando pesadamente, começou a chorar, murmurando:

— Cadê vocês, meu Deus... cadê vocês...

Seu pesar e sua respiração eram tão ruidosos que Elídio não escutou o barulho que o cadeado fez ao ser aberto, tampouco o gemido das dobradiças do portão e, por isso, ao sentir a mão suave e rechonchuda pousar em seu ombro, os músculos do artista se contraíram com o susto e ele olhou para trás, com os olhos vermelhos e inchados, arregalados.

— Desculpa, eu não queria te assustar, meu querido — a voz afável e tranquila de Dona Diva tinha o poder de acalmar qualquer alma em agonia.

Apesar de sentir o desespero, Elídio ainda estava ansioso quando perguntou:

— Cadê Beatriz? Como ela está?

A mulher se sentou na cama, ficando de frente para o homem ajoelhado no chão. Ela respirou fundo e olhou para o teto, buscando as melhores palavras para contar o que tinha de ser dito. Percebendo que a demora era pior que uma notícia mal dada, Dona Diva decidiu contar primeiro o fim e depois explicar:

— Beatriz está viva e estável, mas vai precisar ficar no hospital por uns dias. Agora venha cá, senta aqui do meu lado pra eu te contar tudo... — como o homem chorava como uma criança, o instinto maternal da senhora se aflorou e, apoiando a cabeça de Elídio em seu ombro, ela continuou falando, com voz de acalanto — isso... já passou, meu filho... tá tudo bem... ela passou mal, a ambulância chegou rápido e a levou. Desculpa não esperar você chegar, mas tinha que ser rápido... quando ela foi, eu também me senti um pouco tonta e fui ali na Dona Irene medir a pressão e tomar um copo de água com açúcar... mas já está tudo bem... que tal tomar um bom banho para irmos pro hospital, ein meu filho?


**********

Eu sinto muito que o Elídio esteja passando por isso, mas faz parte :(

Espero que tenham uma ótima leitura e saibam que eu estou me esforçando para divulgar esse romance! E segue aí um desafio:

- Se até dia 10 de setembro eu alcançar 100 seguidores, vou postar um capítulo extra na semana!

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