O Legado De Orfeu

By BladeRunner72

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O homem sempre esteve almejando ter a sua riqueza histórica, através de seus feitos, de suas guerras vencidas... More

• Dedicatória •
• Aesthetics •
Prólogo
A batalha no mar de Egeu
Em Frenesi

Entre o mar, a terra e o céu

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By BladeRunner72

Nota do autor:

A pintura "A Batalha de Lepanto" retrata um dos eventos mais significativos da história naval, ocorrido em 7 de outubro de 1571, durante a guerra entre a Liga Santa e o Império Otomano. A obra, atribuída a diversos artistas ao longo dos anos captura a intensidade e a grandiosidade dessa batalha decisiva.

No centro da pintura, vemos uma dramática representação da batalha naval em pleno andamento. Navios de guerra estão posicionados em formação, envolvendo-se em um combate feroz. O mar tumultuado é repleto de ondas agitadas, refletindo a violência do conflito.

„Em um triângulo retângulo, o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos" - Pitágoras

Três. Três momentos para a lua cheia, três horas para o virar do dia, três ciclos de remadores e três sinais do general.


Três. Três lados, três pontas, três vértices, três alturas e três ângulos.

Três. Três momento, três paisagens, três naturezas, três que busca tornar-se quatro, ou um três que poderá vir a ser nada, três que são doze, mas que em doze parecem não valer nenhum.

Nas três pontas estão os opostos que não se atraem. Uma destas está vulnerável, trêmula, pálida, com requintes de sofrimento, respingando suor para todos os lados enquanto grita a sua dor. A outra de um lado totalmente oposto, brada o fervor de seus sentimentos enviesados pelo calor da determinação, em seus olhos o fogo que arde como nunca antes, entretanto, algo em comum tinge a natureza destas duas oposições, poderíamos chamar a mesma de hipotenusa, o lado em que duas pontas se conectam por um fio mais longo, ainda que opostos, contém suas similaridades.

E acima da hipotenusa estão os catetos, aqueles que vivem no alto dos pontos, que brindam enquanto uns gemem pela dor e outros encontram o seu fim, que gritam pelo prazer ou pela alegria. Sendo esta ponta um encontro de catetos, a subjetividade torna sua natureza confusa, o que dita o tamanho do triângulo? A hipotenusa alavancada pelos sentimentos que ligam seus opostos com a distância entre os lados da base. Ou a audácia dos catetos que se espaçam pelo plano aumentando a distância do mesmo.

Fato é que só uma das pontas consegue enxergar as outras duas, e é esta que tem o total controle daquele triângulo, porém, somente uma das pontas toma sua devida atenção enquanto gotas de vinho tocam seus tronos.

Fugindo da festividade que estava imperando no Olimpo, o perfume do vinho de Dionísio dava lugar ao adstringente cheiro de um outro líquido com cores semelhantes, ainda que não tivesse tocado o escuro do mar que põe instantes cintilava o brilho da tempestade. Fato é que havia a certeza de que sangue escoaria pelas águas de Egeu, já que os olhos de muitos virava-se para seus corpos, e não havia nenhuma intenção de paz.

- Lá estão eles! - Gregório sussurrava enquanto apontava seu dedo indicador em direção a um enorme estandarte que ressurgia logo afrente de um raio que rapidamente iluminava o escuro mar de Egeu.

- O perfume da batalha finalmente toma vossos corpos, homens, finalmente as visões infames da morte se levante afrente dos nossos olhares, não temam homens, o fim não é o último caminho, e não será para nenhum de nós, nenhum coração nesta noite se apagará pelo mar. - Bradava Ortos levantando sua espada enquanto todos os outros o Correspondia gritando bravamente aos céus acima de suas cabeças.

As embarcações se aproximavam, o mar parecia até se encurtar adiante das madeiras que pareciam se atrair uma à outra, a chuva então finalmente imperava sobre as cabeças que vagavam pelo Egeu, o ar que já estava frio parecia se tornar gelar os seus narizes, entretanto, o calor da adrenalina logo derretia a pequena pinta de gelo que tentava se materializar na ponta de seus narizes.

O mar se agitava ainda mais, as ondas cresceram, vorazes, pareciam acelerar a viagem das embarcações, estes movimentos sinalizavam a ansiedade do mar para com o que estava para acontecer.

Os céus acompanhava o mar, raios que antes já estavam inquietos, desta vez cortava o céu e parecia criar cicatrizes mesmo após o seu pico, tamanho era o brilho que já não necessitava de estrelas para iluminar aquela noite. Trovões preenchiam o silencioso som da noite de sangue, o vento gélido tentava levar as embarcações para o rochedo, queriam ver a morte, e não importa a causa ou consequência da mesma, tudo conspirava contra eles, nem mesmo a natureza ousava facilitar, nem os deuses ou qualquer coisa que estivesse compondo aquela sinfonia de destruição que estava para iniciar.

- Ortos! - Gritou - Consegue ouvir a natureza? Entende este aviso? - Continuava gritando, ainda que distante, sua voz não era abafada pela distância e nem pelo som dos trovões ou da chuva. - Finalmente chegou o dia de sua morte, você sabe disso, e digo mais, sua cidadezinha está com os seus dias contados! - O general do exército inimigo pendurava-se no mastro. Um sorriso o preenchia enquanto sua arrogância entonação a sua voz sobre todos os sons que ecoavam por lá.

- Quem é aquele? - Indagava Gregório. - Ele parece lhe conhecer até melhor do que eu. - Complementou.

- Protos, meu amado irmão. - Respondia, assustando Gregório, quando Ortos também subia pela vulnerável escada que se alongava até a ponta do mastro. - Meu irmão, olhe para os céus, eles festejam a nossa batalha, olhe para o mar, Poseidon está a gozar com a nossa situação, eu diria que é uma bela noite para morrermos e acabar de vez com a podre linhagem sanguínea que nos compõe. - Gritava ainda mais alto.

Ainda que em um passado distante, Protos e Ortos eram grandes companheiros, seus laços sanguíneos ultrapassava todos os territórios, Ortos era o garoto quieto, porém fiel, que jamais ousou deixar um amigo para trás, que mesmo nos perigos, lá estava frente tomando a frente da situação, nas gargalhadas ou no choro, o verdadeiro garoto entre os dois era o pequeno Ortos.

Já Protos era a própria personificação do êxtase, aquele que sempre buscava uma forma de transformar uma situação em aventura, aquele que entre o caminho fácil e o difícil, ele sempre escolheu o difícil, determinado e sem nenhum pudor ou medo de errar, era o puro espírito desbravador, e foi exatamente esta sua natureza que o fez romper a relação com o seu irmão.

- Este momento... Me lembra aquela conversa, a diferença é que não havia como você chegar no alto, era fraco demais para escalar as pedras que separavam nossos corpos. - Dizia Protos enquanto sorria maliciosamente. - Você chorava como um bebezinho. - Provocava.

- Irmão, eu não me arrependo do esforço e das palavras ditas naquele dia, e até mesmo hoje, eu estenderia a mão para te tirar desta escuridão que encobre o seu coração. - Ortos estendia a mão enquanto um raio partia seus olhares, fazendo os mesmos fecharem os olhos, os deuses pareciam não desejar diálogos.

- A escuridão que entorna o meu eu é o que me completa, mas a escuridão que te persegue é para onde você irá e é o que lhe tornará um nada. - Continuava provocando. - Você a teme e pagará por tal afronta, todos que renegam a escuridão há de pagar um preço, e o seu é o nada, o esquecimento total, escolheu ser meretriz de um reino e terá seu pagamento por tal atitude. - Gargalhava. - Por falar em meretriz, onde está Phila? - Indagava.

Phila era a mulher que havia cuidado dos dois ainda na infância, suas relações foram resultados da morte prematura de seus pais que segundo os viajantes, seus corpos foram atingidos por uma saraivada de flechas enquanto cavalgavam em direção aos campos de colheita.

Ortos calado estava e calado continuou, parecia não querer alongar a conversa, ou preferia evitar maiores discussões já que o mesmo, pelo irmão ele sempre preferia andar distante de territórios hostis, Ortos era o pacifista entre os dois.

- Eu enxergo aquela mesma feição, eu sinto nojo de você, criado por uma mulher, isto o tornou vulnerável, me impressiona ter uma patente tão alta quando até o mais medroso dos seus homens tem mais culhão que você, irmão, sejamos sinceros, um homem como você não deveria estar aí onde está se colocando. - Provocava, Protos detinha a arte da provocação como poucos naquele mundo.

- Nossa mãe..

- Você considera aquela mulher um ser da nossa linhagem? Isto te levará ao tártaro por tamanha idiotice! - Interrompia.

Ao passo que as embarcações lentamente se aproximavam, o volume de suas vozes diminuía a intensidade.

- A força que você tanto buscava, parece ter encontrado meu irmão, seus braços são quase dois dos meus... - Ortos gargalhou, em suas palavras não continha nenhum sentimento denso. - Mas consigo te trazer uma arrogância descomunal, você verá seus homens perecendo...

Um forte vermelho rasgou o céu, do grande feixe de luz se lançava outros, como as raízes de uma árvore que cresciam adentro da terra, desta vez brilhavam para além das nuvens, perdendo o brilho por um breve instante, a luz então desceu, era o raio de Zeus que vorazmente atingia as águas do mar.

Era possível sentir o tremer da terra com tamanho poder chocando-se com a mesma, a ponta dos seus dedos sentia sua superfície tornando-se vulnerável, o deus dos raios estava irritado com tamanho diálogo, mas logo suas atenções foram interrompidas por um desesperador grito que ecoava para além das águas.

- Os deuses resolveram dar o primeiro golpe. - Sussurrou Protos saltando do mastro.

- Falhamos? - Perguntou um guerreiro.

- Se nós falhamos? Hoje, aquele que imperava nas longínquas noites eternas irá saciar-se com tamanha obra de arte referenciada de sua própria natureza, que o Caos comece! - Recitava o general cefalônico quando inesperadamente uma flecha passo ao lado dos seus olhos, para Protos, o tempo havia congelado, a flecha passeava calmamente afrente da sua presença, exalava um cheiro familiar quando em outro instante, gotas vermelhas respingavam em sua testa, foi aí que lentamente o guerreiro que estava ao seu lado caiu.

- NÃO RETIRE SEU OLHAR SOBRE MEU CORPO! - Bradava Ortos do outro lado da embarcação portando um arco e flecha que carregava as cores de Ática.

- Não tire seus olhos do que você não pode enxergar...- respondia o irmão.

A superfície tremeu, desta vez não era nenhum poder divino, um som ecoou e desta vez não um trovão seguido de um feixe de luz.

- Todo esse teatro, o diálogo... Era tudo para ganhar tempo. - Sussurrou, quando sua expressão já perdia o brilho do êxtase da batalha com o seu irmão, instantaneamente seu rosto tornava a explicitar uma apreensão sem igual.

- Demorou demais irmãozinho. - Provocou.

A madeira novamente tremeu, ecoando pela matéria o som do despedaçar das estruturas, gritos se lançavam do fundo da embarcação para suas extremidades, o fino som do chocar-se de espadas se misturava ao som do quebrar da madeira e do inconsciente grito da morte que badalava em mais uma noite.

- ELES ESTÃO AQUI DENTRO, ESTÃO QUEBRANDO E INVADINDO POR BAIXO! - Esgoelava um dos galerianos enquanto lançava-se para a estrutura externa da galé.

- Irmão, você pensou mesmo que seria jogo limpo? - Disse Protos, estando a algumas dezenas de metros de distância do seu irmão que se mantinha inerte sobre a madeira, atônito demonstrava os seus olhos que não cintilavam o brilho dos raios com tamanha escuridão imperando adentro do seu ser.

- Ortos, não é momento para se portar assim diante de uma batalha. - Gritava Gregório aproximando-se do inerte homem com seus olhos arregalados.

- HOMENS! disparem as flechas. - Bradava Protos. - Observem a arte da guerra acima de suas cabeças, que se afundem ao tártaro. - Puxava um arco e fecha, disparando contra o seu irmão.

Ao mesmo momento, uma saraivada com quase duzentas flechas se lançara ao ar, algo curioso acontecia, naturalmente a força do vento da tempestade faria as flechas mudarem de trajetória, mas desta vez era diferente.

- Papai, você vai... - Indagava Afrodite no olimpo enquanto se perguntava se o deus estaria conivente com o massacre total dos guerreiros de Ática. - Era pra ser somente um passatempo, façam alguma coisa! - suplicava.

- É claro que é só um passatempo! - respondia.

Voltando ao campo de batalha, Gregório grita.

- TODOS, PARA FORA DA EMBARCAÇÃO! - Sacudia o seu companheiro na tentativa de trazer a razão de volta ao seu perdido olhar.

- Protos, você não muda mesmo... - Sussurrava enquanto observava fixamente o gargalhar de seu irmão, fechando o punho, sua pupila a se dilatava, um impulso ascendia uma faísca adentro de seu coração. - Para fora do barco... - Dizia a Gregório.

Um primeiro passo foi dado, seus olhos estavam vidrados no mar que os convidava para um salto, quando inesperadamente a madeira abaixo do seu pé logo se partiu ao meio, fazendo o seu corpo desequilibrar-se, o mar que o desejava agora era uma linear marrom adiante da queda do seu corpo.

Na tentativa de ajudar Gregório rapidamente levou uma de suas mãos para tentar o levantar, mas o pobre guerreiro parece ter machucado o tornozelo, sentindo uma fisgada que o impossibilitava de se levantar, entretanto, não era o fim, foi quando rapidamente uma faísca azul cintilou em seus olhos, como nenhum outro raio proferido por Zeus havia feito.

- Zeus, eles estão ao nosso lado. - Sussurrava Ortos.

- Não seja tolo, é o oposto! - Respondia o general atônito.

Um som tomava suas atenções, uma ofegante respiração se estabeleceu após o choque.

- A flecha que meu irmão disparou... Lá se vai minha perna esquerda e o meu braço direito. - Dizia enquanto lançava um medroso olhar em direção ao Gregório que logo quebrava a flecha. - Desgraçado, ele me atingiu somente quando eu estava parado, eu não aceito morrer para um homem fraco como ele.

- Ele acertou em cheio, as duas primeiras flechas eram para homens que estavam a nos ajudar, levante seu rosto e verá os dois corpos sangrando. - Respondia o general.

A luz azul voltava a cintilar, desta vez parecia se expandir.

- Como ele se atreve... - Gritava vorazmente.

- É um passatempo para eles. - Respondia o general.

- Como está tão calmo? - Indagava Ortos.

Um raio surgia do interior da embarcação, em uma pequena fração de segundos o feixe poderoso se estendia do barco até as nuvens do céu que iluminavam totalmente o ambiente, tamanho era o brilho que por alguns instantes seus olhos estavam aquém da luz e experimentaram por alguns segundos o vazio da escuridão.

A Galé havia se partido ao meio, o que restava era somente um buraco que os separavam, os que sobreviveram aos percalços do momento logo se intercalaram mar adentro, mas por alguma razão eles ainda continuaram por lá, sobre as águas de Egeu, a madeira que parecia negar-se ao mar, lutava contra as águas na tentativa de salvar os dois homens que jogavam seus longos braços contra o olho já intenção de os protegê-los.

Gregório foi o primeiro a retirar o braço de seus olhos, quando se deparava com o total caos, logo veio em sua mente a lembrava do sorriso da sua amada, apesar do exército inimigo estar totalmente intacto, existia somente uma chance de sobrevivência.

- Ortos, suba no mastro, eu estarei logo atrás de você. - Ordenava.

- Você tem alguma ideia?

- Sobreviver! - Respondia enquanto levava seu amigo até a escada do mastro.

O inimigo demonstrava uma inquietude sem igual, afinal, havia somente mais dois corpos para boiar no mar.

A cada degrau, seus olhos alcançava o martírio total, o fogo sucumbia a madeira que restava acima do mar, o sangue afastava os peixes, mas aguçava a selvageria dos tubarões que se juravam rapidamente em volta dos corpos que boiavam sobre as águas do mar.

A chuva cessava, os raios já não se faziam tão presentes como antes, o som dos trovões já não ecoava a um bom tempo e o mar se amansava enquanto se preenchia pela natureza selvagem marítima.

Foi quando uma mão segurou o pé esquerdo do general de Ática, entretanto, rapidamente uma flecha atravessou o olho esquerdo do soldado cefalônico.

- Eles dois são meus... - Dizia Protos enquanto arremessava o arco e flecha em alto mar.

Ao alcançar o topo do mastro, Ortos e Gregório tomavam as devidas proporções das consequências do embate que acabará de acontecer frente aos seus corpos.

Corações partidos, membros entrelaçados uns aos outros que ainda rolavam pela molhada, fria e dura madeira que já não eram marrons e sim vermelhas com litros de sangue as pintando, olhos desmembrados que se desfaziam ao tocar o fogo que parecia não para de queimar, a escuridão que domava o espaço mesmo que o alto fogaréu imperasse sobre as águas.

Em seu coração era possível sentir os sentimentos distantes, das mulheres que sentiam a viuvidade baterem em suas portas, as pequeninas crianças que se debruçavam ao choro total, naquela noite, partia dois mil homens de Ática.

Enquanto o caos domava os olhos de Gregório sobre o mar de Egeu, distante dali uma bela moça estava em trabalho de parto.

- Gregório... Não morra! - Sussurava

Sua voz vagava pela triste e fria noite, viajando para além das nuvens, seu sussurro não se apagava pelo tempo ou distância que o separava do ser divino, Afrodite sentia um leve arrepio que se prostava como um impulso adentro de si.

Enquanto Zeus e Poseidon brindavam às cenas que transpassaram os seus olhares instantes antes, todos os outros gargalhavam em mais uma noite de sangue que percorria a história até aquele momento.

Neste ínterim entre as duas pontas do triângulo que se arcava por entre o espaço, da voraz força natural de uma mulher e o gargalhar maléfico dos deuses, entre duas distinções uma outra parecia desejar imperial sobre elas. A coragem de dois homens buscava-se reinar sobre o triângulo arcado, nem tão baixo quanto a mulher e tão pouco alto quantos os deuses, dois olhares se cruzavam enquanto o mar balançava, parecia apresentar a mesma inquietude de momentos antes, tentando fazer seus corpos se derramarem às águas do mar.

- É claro que a glória não seria dada a dois homens contra outros milhares, vocês já devem saber o que vos aguada para além da madeira os levanta contra os seus inimigos... - Sussurrava Poseidon do alto do Olimpo, suas palavras vagavam, alcançando a pele do encorajado Ortos que segurava o ombro do seu velho amigo de guerra.

- Você já deve saber... - Dizia o guerreiro ao seu general.

- Se os deuses estão contra nós, que estejamos contra os deuses! - Respondia, tentando de alguma forma não diminuir a moral que parecia apagar gradativamente em seus olhos.

- Seus traços nunca sumiram desde a primeira batalha onde eu estive ao seu lado, sua coragem não se apaga nem mesmo quando o mar quer te derrubar, um posto merecido...

- Sua glória será esta, não morto por uma lâmina humana, mas sim apagado pelo mar de um deus. - Bradava aos ouvidos de Ortos que o Correspondia entregando-se totalmente aos movimentos de Egeu que parecia o convidar.

- NÃO! - gritava o general, quando subitamente uma enorme onda surgia abaixo de onde a estrutura do barco estava, era notória que a causa divina se instalava por lá, já que a onda que os levantavam não apresentava largura, ela ascendia em um ponto único.

O que restava da embarcação partiu-se ao meio, balançando seus corpos ferozmente, os mesmos se separaram, nem mesmo suas forças foram capazes de os colocarem juntos, os olhos do general já não encontravam o corpo de Ortos que sumia pelas águas que tomavam o seu campo de visão.

- E eu digo para que todos ouçam! - Gregório também era encoberto pelas águas de Egeu. - AINDA NÃO ACABOU! - Bradou, e o seu grito ecoou mesmo que estivesse totalmente isolado.

Ainda que o puro sentimento de coragem reinasse em suas artérias, um pequeno flash domava a sua mente, em seu cérebro o sorriso de sua mulher brilhava como nunca antes enquanto os belos cabelos de sua filha saltitavam enquanto a mesma corria em sua direção, isto era o estopim para sua coragem irradiar entre suas veias, órgãos e músculos que o construíam.

- Uma bela história de amor... - Sussurrava Gregório.

O homem então posicionou as pernas na madeira que ainda lhe restava em contato com o seu corpo, sua vontade era usar o que lhe restava pensando em dar impulso para um salto.

- Uma história que deveria ser contada até o último dia pelos sete mares deste mundo...

Seus olhos imploravam pelo choro, mas que fora ligeiramente negado, Gregório rapidamente se livrou do elmo e da armadura, arremessou vorazmente as espadas contra a onda que o cercava, percebia-se que a forçado movimento da água era aquém da normal, assim o mesmo sabia que precisaria de toda a energia presente em seu interior para ultrapassar a força que imperava sobre o movimento ondulatório.

- E ao meu filho que nascerá, eu deixo a minha coragem... - O general flexionou seus joelhos e gritou. - Observe Poseidon, Observe que nem mesmo o seu mar é capaz de me parar. - Bradou.

Em perfeita simbiose com o seu filho, o general então saltou, seus corpos tocavam o que lhes cercavam, entre a fria água e o aquecido corpo, acompanhado de um grito masculino e outro feminino, a cabeça ultrapassava o que os isolavam do outro lado, desta vez o som ecoava com mais força, sua sinergia rompia as barreiras, tanto dos deuses quanto da própria natureza.

- FORÇA! - Repetia várias vezes a mulher ao lado segurando a sua mão enquanto o bebê ressurgia para a luz, em seu semblante já se ensaiava-se um sorriso.

- CORAGEM! - Gritava o guerreiro para que o mundo todo pudesse, sua vontade era de ter seu nome vagando não somente pelo mar, mas também pela terra e pelos céus.

Seus corpos então romperam inteiramente com os que resguardavam da pura realidade do espaço, enquanto na pequenina mão da criança se encontrava uma pequena lágrima advinda dos olhos de seu pai, já na mão do guerreiro se encontrava a adaga envenenada que o mesmo sempre carregou.

- Pelos deuses, que garotinho mais lindo. - Sussurrava Patrona enquanto levava o seu olhar cintilante para o vulnerável e pequeno corpo que se encontrava a sua frente.

- Pensou mesmo que este seria um final feliz? - Disse calmamente, o deus dos deuses, Zeus horkyos, aquele que é o ímpio dos raios. - Antes do fim, me responda, qual a origem desta bela adaga? - Indagou.

- A origem eu desconheço, mas do fim eu já tenho certeza. - Respondeu recolhendo seu braço, pronto para disparar.

- Tolo, o protagonismo sempre foi meu! - Um forte brilho cintilou.

Seu corpo já não se sustentava no ar, a natureza do mesmo não permitia, Gregório tinha somente uma única chance, mas, ironicamente o tempo de Zeus havia estilhaçado sua tentativa, quando seus olhos já enxergavam o decair da sua carne que desabava de encontro aos tubarões.

- Morra! - Mais rápido que a queda do seu corpo foi desabar de um raio que partia o espaço tempo acima de sua cabeça quando ao seu olhar tudo parou, a queda não seguiu, o suor pendurava-se na sobrancelha esquerda, a adaga que fora arremessada apresentava estar estável afrente da sua mão direita e o raio que sobrevoava a cabeça se afinava enquanto a forte luz já não incomodava sua pupila.

- Você consegue enxergar o sorriso do seu filho, consegue ver a bela moça que virá a se tornar sua filha... - Dizia uma mansa voz feminina que ressurgia entre a água que o cercava junto de um feixe de luz apontado para o seu corpo.

- Por qual motivo eu não vejo a minha amada? - Indagou enquanto seu tom de voz desabava em lágrimas.

- Você já deve saber... - Respondia enquanto retirava do seu rosto duas gotas de lágrimas que se despejava em sua bochecha. - Eu entregarei isto a eles...

- Por qual motivo ela tem que morrer? - Suplicava, enquanto tentava levar suas mãos em direção ao nada, mas sua tentativa era inválida.

- Sua luta já terminou! Adeus... Gregório.

Antes que qualquer outra palavra fosse proferida, a escuridão havia chegado aos seus olhos, vagando como uma forte luz que irradiava do céu, tingia seu corpo com o vácuo do puro nada, enquanto o cavalgar da morte ressoava o último trovão daquela longa noite que parecia almejar o seu fim com pequenas frestas do sol que começava a pintar a calma água de Egeu.

O triângulo irrompia, tamanha era a área para três pontas se segurarem em seus postos, o mesmo se desconstruía pelo espaço enquanto era notável que nesta noite não havia alcançado o perfeito já que o equilíbrio não se manteve em nenhum instante.

Apesar de que houve um curto momento em que as três pontas se interligaram, formando espaço linear, mas que naturalmente fora destruído enquanto uma das pontas resolveu-se rebelar contra as demais.

Entretanto, nas entrelinhas dos lados, coexistiu com o triângulo alguma outra forma externa, não sendo explícita, por curtos momento a forma foi tingida por uma outra essência ou natureza. Apesar de implícito, o desconhecido se fazia presente mais do que nunca.

Entre as lágrimas dos olhos e o sangue dos corpos, duas almas se abraçavam euforicamente, enquanto discorriam sobre uma voz desconhecida, os pontos comuns se uniam apesar de separados, em seus campos de batalha, suas vitórias foram conquistadas, enquanto uma partia após um parto, o outro se partia em vários após um raio, em seus fins distintos, seus corações se unem pela semelhança de um sentimento, forte como nenhum outro, seus fins foram aquilo que os uniu.

O amor.

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