Corte de Labirintos de Rosas...

By FS_Violet_

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"Eu estava em um jardim que mais parecia um labirinto, o mesmo era coberto de espinhos. Vi na minha frente um... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Bônus - 1
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
aviso
Capítulo 30
aviso
Capítulo 31
Capítulo 32

Capítulo 26

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By FS_Violet_

{Catrin}

As vozes e os passos que chegavam até o quarto ficavam cada vez mais altas, mais próximas. As sombras de Catrin começaram a se agitar, pedindo para que eles saíssem dali imediatamente.

Nyx havia atravessado com Primrose desacordada em seus braços há poucos segundos atrás, ele estava ansioso e aflito, tanto que sequer hesitou em aceitar o pedido de Jasper, ou esperar por ele e Catrin atravessarem também.

A Encantadora de Sombras havia notado que o herdeiro da Corte Noturna estava um pouco distante naquele dia, na verdade, ultimamente, ele andava distante o tempo todo, mas costumava ser tão bom em disfarçar que tinha quase certeza que os outros não haviam notado. Catrin sabia que na maior parte do tempo era por conta da Herdeira da Primaveril, mas ela não se sentia confortável em tentar forçar o assunto com o macho. Ela entendia que ele estava frustrado, preocupado e até mesmo confuso sobre tudo isso. O laço de parceria havia afetado mais seu primo do que ele imaginava.

Algo que ela não compreendia, era a força com que aquele laço puxava Nyx até Primrose, a intensidade com que ele se enrolava em ambos e os enlaçava. A sensação devia ser quase insuportável. A forma como ele estava pronto para se lançar da Casa do Vento no instante em que a sentiu, a forma como seus olhos estavam escuros, cheios de ódio, quando Catrin e Jasper chegaram ao quarto, e Nyx se virou para eles, enquanto segurava sua parceira ferida nos braços. Ele estava pronto para atacar qualquer um que se aproximasse.

Catrin também estava assustada, e principalmente preocupada. Ela mal conhecia Primrose, mas era impossível não se sentir daquela forma ao vê-la desacordada no chão, cheia de ferimentos. Ou de ter escutado-a gritar de desespero e dor.

O traga para mais perto.

Catrin ouviu o sussurro fraco de suas sombras chegarem aos seus ouvidos, enquanto se enrolavam em suas mãos. Isso foi o bastante para seus pensamentos se dispersarem, e para que ela as segurasse firmemente mais uma vez. Assim que Nyx pediu para que ela atravessasse com Jasper elas se tornaram impacientes, e rapidamente tentaram alcançar o macho ao seu lado. Felizmente, Catrin conseguiu mantê-las para si.

A fêmea hesitantemente olhou para Jasper, e para seus olhos castanhos, que já a encaravam, e mesmo naquela escuridão conseguiam fazê-la congelar completamente. Era como se, se ela tentasse dizer algo, sairiam palavras tolas e sem sentido de seus lábios. Então, ela se tornou receosa, mesmo naquele momento de aflição e inquietação, ela hesitou, temendo que Jasper tocasse em suas sombras, temendo o que ele acharia delas.

Com exceção de sua família, Catrin sempre sentiu que o olhar de todos se tornavam diferentes quando concentrados nela. Alguns costumavam olhar demais, quase como se sentissem repulsa ou medo, olhavam tempo o bastante para a deixá-la insegura.

Catrin saiu de seu próprio transe quando viu que Jasper não se afastou, não hesitou. Apenas estendeu a mão para ela, como se fosse ele quem atravessaria os dois. A Encantadora piscou duas vezes, imóvel.

— Tudo bem? - a voz do macho chegou até seus ouvidos, cortando qualquer sussurro que vinha de suas sombras. Ele franziu um pouco as sobrancelhas, e devagar, começou a recolher a mão — Eu sei que provavelmente vocês não desejam que eu vá, e essa situação parece questionável. Eu entendo, porque sequer nos conhecemos - ele engoliu em seco, e estendeu novamente a mão — Mas eu preciso ver Primrose, prometi a ela que ficaria com ela

Catrin ainda em silêncio, enquanto assimilava suas palavras, acenou com a cabeça algumas vezes. E com o rosto franzido, pegou a mão do macho, sentindo suas sombras dançarem para chegarem até ele. Ele não se afastou, sua expressão não se tornou diferente. A Encantadora de Sombras fechou os olhos enquanto atravessava, sentindo o rosto queimar. Algo no toque dele era tão reconfortante, ele não parecia sentir medo.

Assim que pousaram próximos a casa de seu primo, onde ele disse que estaria, ela abriu lentamente os olhos, sentindo a mão de Jasper ainda segurando a sua, enquanto as sombras se enroscavam ali.

— Onde estamos exatamente? - o macho ao seu lado, olhou receoso para os lados, soltando uma respiração nervosa

Catrin tirou os olhos de suas mãos unidas, e encarou o rosto do macho, que parecia tenso. Ela afastou suas mãos rapidamente, as recolhendo para si, trazendo suas sombras consigo.

— Velaris - ela respondeu, agitada, se forçando a se lembrar do porquê eles estavam ali, e que suas sombras agitadas com o macho ao seu lado, não significavam nada. Ela apontou para a grande casa a sua frente, e disse apressadamente, enquanto andava até a porta — Casa do Nyx

Ela não esperou uma resposta dele, apenas caminhou rapidamente até a porta e a abriu, escutando o macho atrás dela, a seguir para dentro. Catrin, erguendo um pouco o pescoço, avistou Nyx com seus pais, um pouco afastados, mas nenhum sinal de Primrose. Ela não escutava com precisão o que o primo dizia, mas estava agitado, suas palavras eram arrastadas e ele parecia até mesmo um pouco afobado, enquanto tentava respirar.

Ela começou a caminhar cada vez mais rápido até eles, quase correndo, enquanto sentia que Jasper a acompanhava. Os Grão-Senhores olharam por cima do ombro de Nyx, avistando Catrin e Jasper, fazendo o herdeiro se virar para eles. Nyx tinha seus olhos quase semicerrados, e seu peito subia e descia com respirações profundas.

Quando a fêmea parou, próxima deles, Jasper fez o mesmo. Todos permaneceram em silêncio, encarando uns aos outros. Tia Feyre e Tio Rhys alteravam o olhar entre Jasper, Catrin e Nyx diversas vezes, suas expressões diziam mais do que qualquer palavra que pudessem sair de seus lábios.

A fêmea de olhos azuis olhou para Jasper rapidamente, e sua feição era de extrema confusão e até mesmo um pouco assustada. Ele estava à frente do Grão-Senhor e da Grã-Senhora da Corte Noturna, enquanto ambos vestiam pijamas. Sua tia Feyre, com o cabelo preso com uma trança lateral, parecia quase comum. Mas, mesmo assim, algo neles, ainda mostrava que eram pessoas as quais você deveria se curvar.

— Grã-Senhora - Jasper cortou o silêncio, fazendo uma curta reverência para Feyre, que sequer conseguiu responder apropriadamente — Grão-Senhor - ele fez o mesmo, e Rhysand acompanhou seu movimento com o olhar. Quando ambos permaneceram em silêncio pelos próximos segundos, Jasper não os esperou, ele estava aflito demais — Onde Primrose está? Ela está bem?

Tia Feyre ergueu um pouco seu rosto, parecendo voltar ao normal, enquanto puxava o ar para dentro.

— Ela está com uma curandeira e vai ficar bem - ela respondeu, juntando as mãos na frente do corpo, olhou Jasper de cima a baixo, e ergueu um pouco uma sobrancelha, esperando algo dele

Ele soltou um suspiro fraco, quase inaudível, de alívio. Então, pareceu notar o olhar de todos nele, e entendeu o que queriam ouvir.

— Eu sou o Jasper, guarda da Corte Primaveril - ele finalmente se apresentou — Eu... Primrose e eu somos amigos - ele pareceu tentar explicar, enquanto gesticulava brevemente com as mãos

— Me lembro de você, na Corte Diurna - tia Feyre o interrompeu, antes que eu prosseguisse com palavras confusas. Ele assentiu com a cabeça, e a fêmea olhou para o lado e fez uma pausa antes de continuar — Pode nos ajudar a entender melhor o que aconteceu hoje?

Jasper engoliu em seco, ele olhou para baixo, e depois para os Grão-Senhores novamente. Claramente, em sua mente, acontecia uma discussão, do que ele acharia certo dizer, do que Primrose acharia que ele deveria contar. Após alguns longos segundos, de sua discussão pessoal, ele começou:

— Eu e Primrose estávamos no bosque algumas horas mais cedo - seu olhar abaixou para pensar, então ele o levantou novamente — Porque ela queria capturar um Suriel...

— Conseguiram? - Feyre não deixou que ele continuasse, ela o cortou completamente. Catrin não conseguiria ler sua feição, ela havia arregalado levemente os olhos em surpresa, mas estava quase congelada

Jasper assentiu com a cabeça lentamente, e Feyre olhou para o canto por um instante, enquanto sua mente viajava para outro momento. Rhysand comprimiu os lábios, olhando para a esposa, mas rapidamente voltou a ficar sério, fazendo um movimento com a cabeça para Jasper, esperando que ele continuasse.

— Não conseguimos conversar muito após isso, já que o Suriel disse a ela que haviam pessoas ali que a procuravam, que estavam atrás dela. Primrose e eu fomos até a mansão, e eles já estavam lá, procurando-a - ele fez uma pausa, parecia ter recebido uma sensação amarga na garganta, como arrependimento — Eu ia tirar Primrose de lá, mas ela quis entrar na mansão porque Amélia estava lá dentro - todos o olharam um pouco confusos, e ele fez uma pausa — Uma criada, que cuidou de Primrose por muitos anos, elas são muito próximas - ele explicou, resumidamente, tenso o bastante para sequer tentar entrar em detalhes — Eu não consegui seguir ela naquele instante, haviam muitas pessoas saindo da mansão, então, quando comecei a procurá-la, vocês apareceram - seu olhar parou em Nyx e Catrin, e em seguida, ele se silenciou

— Eles queriam matá-la - Nyx disse, e pareceu ter engolido em seco para não dizer mais nada. A mão dele estava fechada em um punho, em frente a sua boca, e sua outra mão, apoiava seu cotovelo. Seu rosto estava levemente virado para o lado, e seu olhar parou em uma porta no corredor, e Catrin compreendeu que era onde Primrose estava

— Quem eram? - o pai de Nyx perguntou, franzindo a testa bem levemente

Jasper negou com a cabeça, e seus ombros levantaram um pouco, assim como os de Catrin, indicando que eles não faziam ideia. Nyx desviou o olhar da porta, respirou fundo, como se o ar que entrava o ajudasse a pensar.

— Se pareciam com feéricos, mas suas orelhas não eram tão pontudas. Eu... não faço a menor ideia - ele admitiu, com um suspiro — Mas, os olhos eles brilhavam, como luzes acesas - ele gesticulou, e em seguida, notou que não fazia muito sentido para quem não havia visto — Precisamos falar com Amren - ele constatou, após alguns segundos em silêncio, com certeza, brigando com os próprios pensamentos — Mas, Primrose também precisa estar aqui

— O que Amren sabe? - o Grão-Senhor perguntou, sua postura pareceu até um pouco tensa e surpresa

— Nós temos conversado muito nos últimos dias - ele explicou, seu olhar nunca se mantendo completamente nos rostos dos pais — Tem muito que vocês não sabem, porque achei que não era importante, mas aparentemente é - Nyx iria falar sobre o livro, e sobre o colar.

Seus pais trocaram um olhar quase imperceptível, como se conversassem por ele, em seguida, seus olhos se prenderam em Nyx.

— Quanto tempo Tamlin ficará fora? - Feyre perguntou, não tirando os olhos do filho, que permaneceu em silêncio

Catrin moveu o pescoço, e olhou para Jasper.

— Acredito que uma semana - o macho de cabelos castanhos respondeu, enquanto franzia levemente as sobrancelhas

Antes que qualquer um deles conseguisse dizer algo novamente, o barulho da porta que Nyx tanto encarava, sendo aberta, os interromperam, e todos os olhares ficaram concentrados ali, esperando. Então, Madja saiu do cômodo, sozinha, fechando a porta atrás de si, e caminhando até eles. Ela arregalou imperceptivelmente os olhos quando viu que haviam mais pessoas, mas, mesmo assim, continuou andando na mesma direção.

Nyx a encarou com os olhos atentos, esperançosos e ansiosos por alguma informação da fêmea. Foi como se Madja tivesse pedido silêncio a eles, mesmo sem dizer nada. Já que conforme ela andava, todos permaneceram em silêncio completo, como se até mesmo o barulho de suas respirações fosse quebrar algo.

Quando a curandeira parou, ela juntou as mãos na frente do corpo, mantendo a postura e o rosto firme.

— A garota vai ficar bem - Catrin conseguiu soltar um curto suspirou, até Madja continuar — Está com alguns ferimentos mais graves no pescoço, e alguns no corpo - ela viu a respiração de Nyx prender — Além disso, está inconsciente e desacordada, mas felizmente, a batida na cabeça poderia ter sido pior - Madja olhou para o herdeiro, tombando levemente a cabeça para o lado — Parece muito ruim, mas acredito que não vai demorar muito para que ela se recupere, ela precisa apenas de muito descanso - era como se ela dissesse tudo apenas para Nyx, para confortá-lo — Posso vê-la quando ela acordar, para saber se ela sente algum incômodo, e trazer alguns chás para dor. Fora isso, não acredito que tenha nada muito grave

Nyx assentiu com a cabeça, abaixando o olhar, mas nada saiu de seus lábios.

— Certo, Madja - foi a Grã-Senhora quem respondeu a curandeira, e a ofereceu um pequeno sorriso em agradecimento — Muito obrigada

O Grão-Senhor trocou um olhar com a esposa, e ela assentiu com a cabeça.

— Vou te levar para casa - ele disse, caminhando até a curandeira, e ela acenou com a cabeça — Obrigado por vir, e sinto muito por precisar te chamar às pressas

O canto dos lábios de Madja se repuxaram, e ela negou com a cabeça.

— Acho que já estou um pouco acostumada - ela disse, baixo e se Catrin não estivesse tão preocupada com a feição de Nyx, ela teria sorrido

Em um segundo, ela conseguiu captar um pequeno sorriso do Grão-Senhor, no seguinte, ele havia atravessado com a fêmea.

O silêncio cruel se instalou mais uma vez, enquanto Catrin via sua tia encarar seu primo seriamente por longos segundos. A fêmea de cabelos negros pigarreou, fazendo a fêmea mais velha mudar o olhar para encara-la, e assim, ela pareceu ter saído de seus próprios pensamentos.

— Jasper - ela o chamou, fazendo-o levantar levemente as sobrancelhas, esperando-a dizer algo — Pode ficar aqui se quiser, não vejo problema - ele pareceu esconder um pouco a surpresa e a confusão que passou por seus olhos — Catrin se quiser passar a noite aqui também sabe que é bem-vinda - a Encantadora de Sombras acenou com a cabeça — Vamos esperar Primrose acordar, acredito que não vai demorar muito. E então, podemos todos conversar - ela fez uma pausa, e passou os olhos pelos três — Todos vocês precisam descansar agora

Catrin assentiu mais uma vez, e quando olhou para Nyx notou que ele pensava em qualquer outra coisa, e estava em qualquer outro lugar que não fosse aquele.

Eles precisavam de espaço, e Catrin entendeu isso, ela era boa em entender isso. O silêncio a tornou alguém bastante observadora.

— Posso levar Jasper até um quarto - ela se voluntariou, para facilitar as coisas para todos, e se retirar dali

— Claro - tia Feyre sorriu em agradecimento, enquanto assentia de forma fraca com a cabeça — Obrigada

Foi o bastante para Catrin lançar um pequeno sorriso a Nyx, que finalmente a encarou de volta, como forma de conforto.

Então, girou os calcanhares, e chamou Jasper com o olhar. O macho a olhou de volta, olhou para o herdeiro e para a Grã-Senhora, murmurando um agradecimento para a última, antes de se retirar com a Encantadora de Sombras.

{Jasper}

A mente de Jasper ainda tentava assimilar o que havia acontecido, o que ele havia feito e principalmente onde ele estava, enquanto seguia os passos quase silenciosos da Encantadora de Sombras. Ele sentia como se aquele momento não estivesse de fato acontecendo, como se ele não estivesse na Corte Noturna, e como se a Corte Primaveril não tivesse acabado de ter sido atacada.

Deixando Nyx e a Grã-Senhora para trás, ele se sentiu nervoso ao subir aquelas escadas com Catrin, enquanto encarava os lados com curiosidade, principalmente as pinturas nas paredes, que pareciam ser de rostos que ele conhecia. No fundo, sentia que aquilo era certo, que ele precisava estar ali por Primrose. Ele não podia deixá-la sozinha, não após a conversa que tiveram, não após ele ter dito todas aquelas coisas a ela, e principalmente não após ele ter deixado sua melhor amiga quase morrer.

Ele cruzou com seu pai, pouco antes de entrar na mansão para procurar a Herdeira. Felizmente, ele estava bem, mas havia pedido para que Jasper não entrasse lá dentro, e o macho o ignorou completamente. Ele apenas torcia para que o pai acreditasse que ele estava bem.

Catrin finalmente parou no corredor, se aproximando de uma porta, após analisar as muitas outras que tinham ali. Ela a abriu lentamente e esticou o pescoço para dentro, como se examinasse o cômodo, então, voltou a olhar para o macho, com seus grandes olhos azuis, que mesmo que tivessem sombras de vez em quando, os cobrindo, escondiam algo curioso, algo belo.

— Pode ficar aqui - Catrin quebrou o silêncio, se encostando no batente da porta. Jasper olhou para o cômodo rapidamente, e tentou não parecer impressionado ou muito admirado. A cama se parecia com a que ele havia dormido na Corte Diurna. Era maior do que qualquer outra que ele tivesse dormido antes, mas, ele sabia que aquele era um tamanho de cama normal para aquelas pessoas, e talvez quem morasse ali nem notasse sua extensão — Se quiser tomar banho - ela apontou para o banheiro que havia ali, e Jasper assentiu — Consigo encontrar uma roupa para você - ela pareceu meio incerta

Ele mal sabia o que dizer, e o olhar da Encantadora de Sombras nele, um olhar que ele não sabia ler, não ajudava. Jasper olhou rapidamente para as sombras de Catrin que subiam graciosamente para seu pescoço, e a única coisa que ele pensou naquele momento era como elas deixavam a fêmea mais bela do que ela já era.

— Obrigado - ele agradeceu, desviando o olhar de seu pescoço para seus olhos azuis novamente

Os olhos de Catrin congelaram nos dele, e ele se lembrou da forma como ela o olhou na Corte Primaveril, algumas horas atrás, e como hesitou em atravessar com ele para a Corte Noturna, de forma que fez ele pensar que ela não o queria lá de jeito nenhum.

— Está com fome? - ela perguntou de repente, saindo de seu próprio transe, e tirando Jasper do dele, enquanto comprimia um pouco os lábios

Jasper balançou a cabeça negativamente quase que no mesmo instante.

— Não precisa se preocupar - ele dispensou, fazendo um pequeno gesto com a mão. A última coisa que o macho iria querer era sentir que estava tirando alguém de seu próprio conforto, se preocupando com ele

— Bom, não seria nada demais para mim - Catrin juntou as mãos na frente do corpo, as massageando, enquanto tombava um pouco o pescoço para o lado — Eu não ia cozinhar, porque se eu tentasse, nem eu, e nem você iriamos querer comer - Jasper sorriu, ele conseguiu sorrir mesmo naquele momento. Catrin abriu um pequeno sorriso tímido — Eu ia apenas ver se sobrou algo do jantar - seu sorriso aumentou, e ela deu uma risadinha baixa, enquanto suas sombras dançavam em seus cabelos e Jasper sentiu que poderia assistir aquilo por horas.

— Certo - ele assentiu, sentindo seu sorriso diminuir — Então, acho que vou aceitar 

{Nyx}

Ela vai ficar bem.

A voz de minha mãe se repetiu mais uma vez em minha mente. Uma, duas, três, quatro vezes. Havia perdido as contas após isso. Era como se eu mesmo tentasse me fazer acreditar em suas palavras, como alguma forma de consolo, ou como uma maneira de me acalmar.

Minhas mãos ainda tremiam, enquanto eu subia as escadas para meu quarto. Eu precisava ficar um pouco sozinho, precisava deixar que minha mente descansasse um pouco, mas não parecia estar funcionando. Enquanto eu me sentava na cama, era como se algo continuasse pesando em meu peito, machucando-o. Juntei as mãos na frente da boca, e não soube em que momento senti lágrimas escorrendo de meus olhos, minha garganta doeu com a força que eu usava para controlá-las.

Eu nunca havia sentido aquilo na minha vida, e aquela sensação me assustava.

Havia ficado calado quando meus pais tentaram conversar comigo, dizendo que eu apenas precisava de silêncio.

A noite caía, e meu corpo continuava agitado, assim como minha mente e meu coração. Não consegui trocar minha roupa ou comer, tinha ficado sentado, olhando para o teto por uma longa e torturante hora, me sentindo incapaz de fazer qualquer outra coisa.

De repente, algo surgiu em cima de minha cômoda, envolta a sombras. Era uma tigela de ensopado. Catrin. Agradeci com um murmuro, quase sentindo vontade de rir. Mas as sombras não se afastaram até que eu tivesse colocado duas colheres de comida em minha boca.

Quando elas se foram, me sentei na cama novamente, e meu pé bateu involuntariamente, de forma rápida, contra o chão algumas vezes.

Soltando uma respiração pesada, me rendi. Me levantei da cama e puxei um cobertor fino que estava ali. Saí de meu quarto, com passos sorrateiros, quase inaudíveis em direção às escadas.

Ouvi as vozes de Jasper e Catrin dentro de um quarto próximo, pareciam estar conversando. Encarei a porta que estava encostada por alguns segundos, e escutei uma risadinha vindo de lá, parecia ser a de Catrin. Eu sorri de volta quando a escutei, e balancei um pouco a cabeça. Quando as conversas baixas voltaram, apenas virei meu rosto, e continuei a andar.

As luzes da casa já haviam sido quase todas apagadas, o ambiente parecia calmo, mesmo que eu ainda estivesse ansioso. Cheguei até a porta do quarto onde Primrose estava, e ainda hesitei em virar a bendita maçaneta. Respirei fundo, e quando entrei no cômodo, fechei a porta atrás de mim, acendendo uma luz feérica em seguida.

Soltei quase um suspiro de alívio ao vê-la ali. Sua cabeça estava deitada no travesseiro de fronha marfim, assim como eu havia deixado-a. Seu rosto apagado, virado para o teto, suas mãos próximas a sua barriga. Ela parecia quase imóvel. Alguém havia colocado uma coberta nela, até quase seu busto, deixando seus braços para fora.

Mas, sua roupa continuava a mesma. Tinha certeza de que Madja havia checado os ferimentos de todo o corpo de Primrose, mas provavelmente, a colocou na mesma roupa depois, sem muitas opções. E como estávamos discutindo do lado de fora, ela não quis atrapalhar para pedir outras vestes.

Caminhei lentamente até ela, e me sentei na lateral da cama, a encarando por longos minutos, esperando qualquer movimento. Tirei alguns fios de cabelo que caiam em seu rosto, eu dedo percorreu sua face, que parecia serena, enquanto eu analisava mais calmamente alguns de seus ferimentos.

Meu olhar caiu para seu braço, para perto de seu pulso, onde Madja havia enfaixado a mesma, onde estava aquela cicatriz. Coloquei minha mão em cima do local, e meu polegar a acariciou ali. Não entendia porque alguém escreveria algo assim em seu braço.

Levantei meu olhar, encarando seu rosto mais uma vez, como eu já havia feito diversas outras vezes. E sentia que nunca me cansaria de olha-la.

— Espero que não fique com raiva de mim quando descobrir que eu te trouxe até aqui.  Ou que me chame de imprudente mais uma vez - revirei os olhos, quase conseguindo sentir vontade de rir de suas ofensas  dirigidas a mim, sempre era um pouco engraçado vê-la tentando me afetar de alguma forma com seus xingamentos. Mas, pensei como aquela preocupação minha de vê-la com raiva, agora era ridícula — Na verdade, eu quero que brigue comigo, se isso quer dizer que você vai acordar - constatei, sentindo meu sorriso sumir, e engoli em seco, encarando seus olhos fechados, querendo ver suas belas orbes verdes novamente — Grite comigo, diga como eu sou imprudente e egocêntrico, jogue um sapato ou dois em minha cabeça - soltei uma risadinha trêmula — Apenas... acorde, por favor - pedi mais uma vez, sentindo que ela me escutava

Nada.

Alguma parte de mim acreditou que ela fosse responder, mas a outra, sabia que aquilo que eu havia dito obviamente não adiantaria nada. Me levantei, e me sentei em uma poltrona ao lado da cama, e finalmente adormeci, encarando seu rosto.

{Catrin}

A casa estava silenciosa, e Catrin tentava manter esse silêncio enquanto pegava uma tigela e a enchia do ensopado que havia sobrado do jantar. Fez o mesmo em outras duas tigelas. Uma para si mesma, outra para Jasper e uma para Nyx, já que sabia que o primo não havia jantado. Catrin não queria atrapalhá-lo. Então, o que fez foi pedir para suas sombras levarem a tigela até ele.

Por mais que muitas vezes as sombras de Catrin pudessem fazê-la se sentir desconfortável, na maioria das vezes, elas eram muito úteis, e de vez em quando, sua melhor companhia. Elas ajudavam Catrin a entender a si mesma, e por mais que ela passasse bastante tempo sozinha, não se sentia solitária.

Em seguida, elas levaram também a tigela de comida e uma troca de roupa para Jasper, até o quarto. Catrin não queria atrapalhar sua tia ou seu tio, eles já pareciam ter coisas o suficiente para pensar. Além disso, conhecia a casa o suficiente para acomodar qualquer um.

Mas, a fêmea não pode evitar pensar como aquela situação era inesperada e inquietante. E se ela se sentia assim, mal conseguia imaginar como Jasper estava se sentindo. Era nisso que a mente de Catrin se prendia enquanto ela se sentava na mesa sozinha para comer.

Ela pensou em Lyra e Ethan, que estavam na Casa do Vento, e sequer poderiam imaginar o que havia acontecido. Não foi algo que preocupou Catrin naquele mesmo instante, já que ambos estavam bêbados o bastante para pensar em qualquer coisa. Provavelmente, mal se deram conta do sumiço dela e de Nyx e Catrin, e adormeceram no tapete onde estavam deitados.

Mas de qualquer forma, isso ficou colado em seus pensamentos quando ela pensou em quanto tempo Primrose ficaria lá, e como eles reagiriam ao vê-la. Principalmente Lyra.

Catrin notava a repulsa que possuía os olhos de Lyra quando a Herdeira da Primaveril era apenas mencionada. No início, a fêmea pensou que a raiva vinha apenas porque Primrose era filha do Tamlin, mas ela acreditava que ia além disso. Notando pouco a pouco, e analisando os últimos encontros que haviam acontecido, Catrin viu como Lyra olhou para Primrose quando a fêmea estava sentada ao lado de Alev, usando um colar que ele havia entregado a ela. Um colar de pedras vermelhas, pedras que eram quase idênticos aos sifões de Lyra.

Ela não sabia o que acontecia entre os dois, mas a tensão entre eles era notória de longe.

Quando a colher que Catrin segurava bateu no fundo da tigela quase vazia, a fêmea se levantou, e a colocou na pia, a limpou e fez o máximo possível para continuar ali por mais alguns minutos.

Quando terminou, e notou que não havia mais nada que ela pudesse fazer para que o tempo passasse mais rápido, ela subiu as escadas, indo em direção ao quarto em que domiria. Próximo a ele, era o quarto onde Jasper estava.

Ela não soube porque, mas parou no mesmo instante, encarando a porta de cima a baixo. Suas sombras sussurravam para que ela entrasse, a fêmea pensou que elas estivessem enlouquecendo, e quase correu para longe daquele local, e se trancou em seu quarto. Quando suas sombras notaram que Catrin não entraria, elas se calaram, e no segundo seguinte, se afastaram completamente da Encantadora, rastejando pelo chão, e entrando pela fresta da porta, sumindo da vista da fêmea.

— Não! - gritou, por meio de um sussurro, enquanto seus olhos se arregalavam com o susto e o desespero, ela esticava um braço, como se pudesse alcançá-las

Catrin tentou forçá-las a voltar, mas nenhum de seus esforços adiantou. Ela deu passos apressados até a porta, sentindo suas mãos tremerem um pouco, e suas pernas ficarem bambas.

— Vocês são insuportáveis - ela murmurou, apontando para a porta com raiva, como se apontasse para elas, e depois engoliu em seco — Por favor, voltem para cá - ela pediu, calmamente, e se sentiu tão estúpida por estar fazendo aquilo. Era ela quem controlava as sombras, e não o contrário

Nenhuma resposta.

Catrin colocou as mãos na cintura, ainda encarando a porta, bateu o pé duas vezes no chão. Soltando uma respiração pesada, ela se rendeu, e hesitantemente, bateu na porta duas vezes e esperou uma resposta.

Silêncio.

A fêmea esperou mais alguns segundos, e quando o silêncio prevaleceu, sua ansiedade tomou conta de seu corpo e pensamentos, a fazendo abrir a porta lentamente. Ela colocou a cabeça para dentro do cômodo, e notou que estava vazio, mas a porta do banheiro estava fechada e a luz de dentro acesa.

Catrin entrou no quarto, com os olhos semicerrados, e rapidamente encontrou suas sombras, encostadas perto da cama. Dessa vez, quando a Encantadora as chamou com as mãos, elas a obedeceram, e se enrolaram nos braços de Catrin.

— Oi - a voz rouca do macho a fez virar para trás com um susto, e arregalar levemente os olhos. Ele estava usando a troca de roupa que suas sombras entregaram, era quase como um pijama, num tom de azul escuro. Jasper virou um pouco o rosto, e seus olhos pararam na tigela de comida, ele semicerrou um pouco os olhos — Foi você quem fez? - ele sorriu fraco, e Catrin notou que foi apenas para provocá-la

— Já disse que cozinhar não é um talento meu - ela cruzou um pouco os braços, soltando uma respiração fraca, enquanto se acalmava

Ele balançou levemente a cabeça, e se aproximou da comida, a olhando. Seu olhar parou na porta, que estava encostada, ele olhou para ela, como se enxergasse através da madeira. Catrin olhou para seus cabelos castanhos, que agora pareciam mais escuros por estarem úmidos.

— Obrigado - ele sorriu fraco em agradecimento, mas Catrin notou que aquele sorriso não era exatamente verdadeiro

A feição da fêmea mudou, e ela analisou o macho em sua frente por alguns segundos.

— Você não gosta? - ela indicou o ensopado, franzindo um pouco a testa, de forma receosa

Jasper pareceu ter a mente em outro lugar por um instante.

— Não, não é isso - ele piscou fortemente, enquanto balançava a cabeça como se tentasse voltar para o momento — Eu gosto - ele engoliu em seco, gesticulando — Estou apenas pensando em outra coisa

Ela assentiu com a cabeça em compreensão, juntando as mãos na frente do corpo, enquanto dava dois passos em sua direção. Ambos permaneceram em silêncio. O olhar de Catrin foi para o canto, desviando do dele. Ela mordeu levemente o lábio, contendo a vontade de dizer algo. Catrin odiava sentir que estava invadindo o espaço de alguém, mas não conseguiu evitar.

— Se quiser compartilhar esses pensamentos... Eu sou uma boa ouvinte - ela passou a vida toda escutando — E minhas sombras não costumam ser fofoqueiras - sussurrou, como se não quisesse que elas a escutassem elogia-las, e viu Jasper abrir um pequeno sorriso

Ele analisou o rosto da fêmea, deixando-a nervosa, querendo saber o que ele pensava. O macho suspirou, se tornando mais sério, mas sua postura ainda era tensa, quando ele começou a dizer:

— Eu... Deveria ter impedido a Primrose de entrar na mansão - ele olhou para baixo, e seus olhos escureceram, como se ele lembrasse do momento em que eles se separaram, e do que ele poderia ter feito de diferente — Deveria ter ido mais depressa, deveria ter encontrado-a antes - suas palavras aceleraram — Ela não estaria assim se eu tivesse simplesmente feito o que eu deveria, protegê-la - ele fez uma pausa, e Catrin engoliu em seco, sentindo o peso da palavras dele, e a angústia que carregavam — E não aconteceu nada pior porque vocês apareceram - ele levantou o olhar para ela — Porque talvez, quando eu chegasse, ela já poderia estar...

— Não - Catrin o cortou, fazendo com que ele se calasse, já que ela já entendeu o que ele pensava — Não fique pensando assim - ela negou com a cabeça, seu olhar para ele se tornou mais frágil — Não pode mudar o que aconteceu, e pior castigo vai ser você se prender em seus próprios pensamentos de cenários em que as coisas foram diferentes - ele abaixou o olhar para ela, com a respiração se acalmando — E com certeza... Primrose não te culpa pelo o que aconteceu

O macho soltou uma respiração pesada, como se algum peso saísse dele, ou pelo menos uma parte dele. Ele precisava escutar aquelas últimas palavras, apenas para não se afogar naquele pensamento.

— Eu não sabia que alguém conseguia fazer aquilo - Jasper disse, distante, após alguns instantes de completo silêncio. Ele olhou para baixo, com a testa franzida, como se estivesse se lembrando de algo

— O que? - Catrin franziu um pouco o rosto em confusão, não entendo para onde aquela conversa estava indo

— O que o Herdeiro da Noite fez hoje - ele respondeu, gesticulando com as mãos — Apenas com a mente...

— Oh - Catrin suspirou, em compressão. Seu primo havia matado aqueles machos apenas com a mente, sem sequer mover um dedo, lembrando-a do quanto ele era poderoso — Nyx pode destruir alguém com apenas um pensamento - ela murmurou, pensativa

Quando pensou que Jasper não a escutou, ele devolveu no mesmo tom:

— Um aviso para nunca tentar irritá-lo - ele disse, levantando as sobrancelhas, enquanto cruzava os braços

Catrin riu baixinho.

— Meu irmão e minha prima o irritam a anos e posso te garantir que o máximo que já aconteceu foi Nyx os xingando incansavelmente de volta - ela revirou os olhos — Ou descontando tudo no treinamento, o que de fato se torna mais violento

Jasper conseguiu soltar uma risadinha também. O som daquela risada baixa e rouca fez os pelos doa braços de Catrin se arrepiarem completamente. Ela enrubesceu.

— Posso te perguntar algo? - ele questionou, e Catrin assentiu com a cabeça, sentindo o rosto esfriar — Primrose me contou que Nyx sabe um pouco do que está acontecendo na Corte Primaveril. Então, naquele dia... Na Corte Outonal, você foi até lá para ver Primrose?

Ela se lembrou da forma como ela trombou com ele naquela noite, e mentiu, sobre estar vendo uma amiga, ou algo assim.

— Fui - ela confirmou, quando notou que não havia mais porque esconder aquilo — Porque eu não estaria no território da Corte Primaveril, sei que mesmo assim ainda foi um risco e...

— Então, por que o Nyx estava na Corte Primaveril noite passada? - Jasper a cortou, como se não tivesse conseguido se controlar, e as palavras chegaram rápido demais em seus lábios

Catrin franziu o cenho, e se conteve para não parecer tão confusa ou surpresa. Ela não sabia que ele havia ido até lá novamente.

— Ele... Estava? - ela perguntou lentamente, erguendo um pouco uma sobrancelha

— Sim - Jasper assentiu, algo por trás da voz dele mostrava um pouco de incômodo. Ele hesitou, como se não soubesse que deveria continuar, mas algo pareceu ter ficado preso na sua garganta, algo que ele não gostou — Nyx e Primrose, eles estão... Por acaso eles têm algo? - ele finalmente perguntou, voltando a olhá-la

— Não - Catrin negou com a cabeça, quase no mesmo instante, para acabar com os pensamentos de Jasper. Ele claramente não fazia a menor ideia da existência do laço, já que sequer Primrose sabia. Então, ver ambos juntos, na Corte Primaveril, provavelmente foi bem questionável e duvidoso — Não - dessa vez, ela respondeu um tanto quanto incerta, já que se ela mesma não sabia de quantas vezes Nyx a visitara, poderia ter acontecido outras coisas, das quais ela não sabia — Acredito que seja apenas para uma espécie de aliança  - ela concluiu, encobrindo qualquer coisa que Jasper pudesse pensar

Jasper assentiu com a cabeça, e pareceu pensativo quando Catrin se calou.

— Como vocês se tornaram próximos? - Catrin se atreveu a perguntar, e ele franziu levemente a testa — Você e Primrose - ele a encarou por mais algum tempo — Minha vez de fazer uma pergunta - ela levantou um pouco as mãos, como forma de defesa

Jasper acenou com a cabeça, e sorriu fraco.

— Bom, acabamos nos tornando amigos porque meu pai trabalha como guarda na mansão desde que éramos crianças - ele gesticulou brevemente com uma mão

Catrin sentiu que ele não estava sendo totalmente sincero, na verdade, suas sombras agitadas sentiram, elas queriam saber mais. No momento em que Catrin se distraiu, e se descuidou, suas sombras finalmente se soltaram de seu corpo, e foram até o macho rapidamente, com ansiedade e animação.

A Encantadora soltou um suspiro surpreso, quase como um susto, enquanto andava até ele, com o rosto em completo choque e desespero.

Jasper descruzou os braços, sentido-as subirem por seus dedos, se enroscarem em seus braços, até chegarem próximas ao seu pescoço.

Catrin sequer olhou para o rosto dele, apenas as puxou de volta, com toda a força que tinha.

— Me desculpa! - ela pediu alto, em aflição, enquanto as sentia voltarem para si, e se afastarem de Jasper. Ela balançou a cabeça com força, olhando para as sombras que voltavam a circula-la — Elas estão agitadas  ultimamente e...

— Não me incomodo - o macho a cortou, sua voz tranquila e calma, fazendo Catrin subir o olhar para ele, vendo seu pequeno sorriso. Ele passou a mão pelo pescoço — Elas são admiráveis e até mesmo intrigantes. Fizeram cosquinhas, na verdade - seu sorriso se tornou um pouco maior

Catrin sentiu que ficou vermelha dos pés à cabeça, tão vermelha que os cabelos de seu irmão e de sua mãe sentiriam inveja. Sua boca se abriu levemente, e as sombras se moveram alegremente com o elogio.

— Certo - ela assentiu com a cabeça, sequer pensando nas palavras que saiam de sua boca, — Então, vou deixar você dormir - ela se virou rapidamente, e pareceu até um pouco atrapalhada quando colocou a mão na maçaneta, a puxando para que pudesse sair, sentindo Jasper acompanhar todos os seus movimentos

— Boa noite, Encantadora de Sombras - ela o ouviu dizer, sua voz rouca

A fêmea acenou com a cabeça rapidamente, vendo Jasper sorrir fraco para ela. Catrin fechou a porta quase no mesmo instante, querendo esconder seu rosto.

Quando ela se afastou da porta, sentia vontade de se sorrir largo, e não fazia a menor ideia do porque, mas era uma sensação que ela nunca havia sentido algum outra vez. A aquecia por dentro. Era diferente de qualquer outra coisa, mas era muito, muito boa.

{Nyx}

— Filho - uma voz familiar, calma e doce, ressoou em minha mente, me fazendo despertar aos poucos

Não me lembrava exatamente do momento em que eu havia dormido na noite anterior. Mas, me forcei a abrir lentamente os olhos, pesados de cansados, deixando que a luz os atingisse. Os fechei novamente com força quando isso aconteceu, e senti um incômodo no meu pescoço, me fazendo perceber o quão desconfortável eu havia dormido durante a noite.

Movi lentamente o meu pescoço para o outro lado, e em seguida para trás, tentando afastar o incômodo. Abri os olhos mais uma vez, me espreguiçando, reparando que eu havia dormido naquela poltrona por horas.

— Você precisa comer algo, querido - levantei o rosto, piscando algumas vezes, para ver minha mãe na minha frente

Meus olhos se abriram totalmente, e eu me sentei melhor no mesmo instante, quase derrubando o cobertor que eu havia colocado em cima de mim, preguiçosamente na noite anterior. Movi meu rosto, e encontrei Primrose com o olhar, que não parecia sequer ter mudado de posição durante a noite. Ela continuava apagada na cama.

— Ainda é manhã? - coloquei os dedos na têmpora, minha voz saiu baixa enquanto eu encarava as janelas que brilhavam com a luz do Sol, mas, que era disfarçada pelas claras cortinas

— Já está de tarde, e já passou do horário do almoço - minha mãe balançou a cabeça negativamente, e eu arregalei um pouco meus olhos, me surpreendendo com o quanto eu felizmente tinha conseguido dormir. Olhei para a fêmea deitada na cama mais uma vez, e minha mãe compreendeu esse olhar — Eu posso ficar um pouco aqui - ela sugeriu, oferecendo um pequeno sorriso a mim — Vá tomar um banho e comer algo, tudo bem?

Ajeitei um pouco minha postura, deixando meu olhar cair em direção ao chão, e então, cedi.

— Tudo bem

Me levantei lentamente, me afastando conforme a olhava. Temendo que se eu a deixasse de olhar por muito tempo, ela pudesse acordar, e eu não estaria ali.

Soltando um suspiro fraco, finalmente saí do quarto. Mas, antes que eu conseguisse fechar a porta, vi minha mãe caminhar até a cama, e analisar Primrose por bastante tempo. Não conseguia ler seu olhar, ela estava completamente imóvel, se não fosse por seus olhos percorrendo a Grã-Feérica.

Então, ela se moveu, se curvando um pouco e hesitantemente, ajeitou o travesseiro no pescoço da loira, e arrumou seus cabelos, os soltando de uma trança bagunçada em que eles estavam presos, com muito cuidado.

Minha mãe, ajeitou o cobertor nela, o subindo mais um pouco, enquanto comprimia os lábios de forma séria. Ela ficou mais alguns segundos a olhando, e finalmente se virou, para sentar na poltrona, nesse instante, fechei a porta.

Atravessei até meu quarto após isso, não planejava cruzar com ninguém. Mesmo que soubesse que deveria ver Jasper e Catrin. Principalmente o macho, para perguntar a ele se sabia de mais alguma coisa que tinha acontecido, mais alguma informação, que ele talvez tenha esquecido de dizer ontem, ou que tivesse medo de dizer. Mas, minha mente não estava exatamente ali para aquela conversa naquele instante.

Havia sentido que tinha passado horas de baixo d'água naquela banheira, apenas deixando a mente em branco, tentando não pensar em nada por longos minutos.  Mergulhei na água algumas vezes, até me estar completamente submerso, e não suportar mais ficar sem ar, foi apenas nessa hora que senti que despertei, que senti que minha mente acordou.

De fato, no mínimo uma hora havia se passado, já que quando sai do banheiro e olhei para as janelas, o Sol começava a se pôr.

Me vesti em seguida, ainda sentido um pouco de cansaço percorrendo meu corpo. Não demorou para meu estômago roncar de fome, fazendo com que eu descesse as escadas, em direção a cozinha, mas surpreendente não encontrando ninguém no caminho, apenas silêncio.

Comi as sobras do almoço, me sentindo melhor após aquilo, me sentindo mais relaxado.

Com um suspiro, minhas costas se apoiaram preguiçosamente no encosto da cadeira, enquanto minha mão ainda segurava um talher, o batendo contra o prato de vez em quando.

Foi quando eu ouvi barulhos de passos apressados em direção a cozinha, e ajeitei rapidamente a postura , erguendo o pescoço, esperando quem quer que fosse aparecer.

Minha mãe se revelou, e eu quase levantei no mesmo instante. Ela travou durante o primeiro segundo, sua feição era de surpresa, e de ansiedade. Franzi as sobrancelhas, colocando minhas mãos nas laterais da cadeira para levantar, e segurei minha respiração quando a ouvi dizer:

— Primrose acordou

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Oioi leitores! Como vocês estão?

O que acharam do capítulo de hoje?

Muitos momentos do Jasper e da Catrin, para descontrair a tensão extrema do capítulo anterior, espero que vocês tenham gostado!

Desculpem qualquer erro.

Não se esqueçam de votar e comentar muito!

Beijinhos<3

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