Trem para Barrymore [CONCLUÍD...

By LuckVianna

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VENCEDOR DO GRANDE PRÊMIO - WATTYS 2023 🎖 "Não pode ser coincidência que nossos destinos tenham se cruzado j... More

Prólogo - "Embarque"
Capítulo 1 - "Do outro lado, o que há?" • Parte 1
Capítulo 2 - "Do outro lado, o que há?" • Parte 2
Capítulo 3 - "Cartas ao limbo"
Capítulo 4 - "Borboletas de lugar nenhum"
Capítulo 5 - "Entranhas do desconhecido"
Capítulo 6 - "Criminosos a bordo"
Capítulo 7 - "O sumiço dos girassóis"
Capítulo 8 - "Nunca subestime a tempestade"
Capítulo 9 - "Fim do mundo à meia-noite"
Capítulo 10 - "Trem fantasma"
Capítulo 11 - "Anjo das duas faces"
Capítulo 12 - "Jantar dos esquecidos"
Capítulo 13 - "Brindamos ao abismo"
Capítulo 14 - "Últimas horas antes do fim da linha"
"Páginas não lidas do Diário Montgomery" • Parte 1
"Páginas não lidas do Diário Montgomery" • Parte 2
Capítulo 15 - "Não há nada do outro lado"

Epílogo - "Desembarque"

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By LuckVianna

"[...] E então, apesar de tudo, a Passageira Número Um — Lucy Leweis — viveu pela sua própria história. Enfrentou alguns problemas quando precisou relatar todo o ocorrido à polícia, mas o diário corroborava a maior parte dos fatos. Ela nunca voltou à capital, e nem colocou os seus pés em um trem outra vez. Nunca."

E... fim. Chega a ser um alívio poder escrever essa pequena e insignificante palavra no rodapé da folha que estou encarando. Meus dedos ardem e a tinta da caneta já está acabando quando finalmente afasto o objeto do papel.

Encaro o céu turvo da metrópole. Hoje é o dia quatro mil e quinze — o que deveria significar que fazem exatos quatro anos desde que a crise começou. Quatro anos. Quatro. Anos. É uma data importante para mim, se você quer saber. Se alguém quer saber. Porque não sei exatamente quem vai ler esta pequena nota de despedida um dia.

De qualquer forma... olá. Eu sou o Passageiro Número Três. Não tenho a mínima ideia do que vai acontecer daqui para frente — essa é a graça, não é? —, mas sei que você provavelmente leu algumas das páginas de minha história enquanto eu esperava por este trem. Sim, aquela história sobre a garota com a mão decepada que escapou de um trem imerso em insanidade. Sinto muito em dizer a você que nada disso aconteceu de verdade. Ao menos não ainda. Complicado, não é? Eu sei, e queria que tivéssemos mais tempo para conversar sobre isso. Mas não acho que teremos, porque pretendo estar morto à meia-noite do dia vinte e sete de outubro, como deixei muito claro.

São onze horas da manhã. Dia vinte e três. O sujeito que me ajudará nesta importante jornada não chegou a me dizer o nome dele, mas estou confiando fielmente na hipótese de que ele vai aparecer. Bem, não posso saber se isso vai acontecer ou não, como também não sei se as coisas que coloquei nestas folhas de papel vão se tornar realidade. Eu não sei de absolutamente nada.

É que, se eu soubesse de alguma coisa, você poderia me chamar de louco. Imagine ter certeza daquilo que vai acontecer a seguir? Confiar em pequenos estímulos de sentimentos longínquos que alguém achou incrível intitular como "destino"? Ah, não. Absolutamente não. Eu sou um artista, um escritor, um sobrevivente e... talvez, alguém que se importa muito com o caos deste enorme universo. Mas não sou louco.

Como já disse, hoje é o dia quatro mil e quinze. Significa que, há exatamente quatro anos, deixei o meu diário para trás em um buraco escuro depois de precisar escapar no meio da noite. Queria não ter feito isso, mas nem todas as coisas estão sob o meu controle. Quem pode saber o que teria acontecido se eu o tivesse carregado comigo, junto de minha câmera e dos dois alfinetes? Algumas coisas talvez teriam sido diferentes. E talvez nada fosse mudar, afinal.

O que importa é que, no início daquela madrugada, eu estive muito perto de me despedir da minha própria história. Achei que o fim do mundo tivesse chegado, mas isso não aconteceu. Tudo o que eu guardei foram alguns arranhões e cicatrizes devido à parede de pedregulhos escorregadia, que acabou me salvando daquela queda. Ninguém soube que eu escapei. E nem quero que saibam.

No entanto, agora que você leu as minhas páginas, conheceu cada pequeno detalhe da minha criação e aguardou pelo desfecho, tudo o que eu posso pedir é que torça para que as coisas saiam como planejado. Estou perto da estação, pronto para adentrar no veículo que carregará todas aquelas pessoas para o seu profundo e inesperado...

Não. Eu não vou usar essa palavra, se é isso que está esperando. Vou apenas amassar esta nota e jogá-la fora antes de embarcar. O que acontece daqui para frente — e você já deve imaginar — se trata de um completo mistério. Talvez cada pequeno resquício da história fictícia que você leu se consagre como algo verdadeiro. Talvez não. Talvez tudo seja diferente. Gosto de não saber o que vem a seguir, gosto do caos daqui de fora. Gosto de... não estar mais lá embaixo.

Bem, eu vou deixá-lo ir. Acho que nunca nos veremos outra vez, se nossas vidas acabarem se misturando às milhares que nos rodeiam agora. Acredito que o sentido de estarmos vivos neste pequeno espaço de tempo é o suficiente para que eu saiba que funcionou — em alguma das diferentes realidades criadas pelos próximos passos que eu vou tomar.

Então, Passageiro Número Dois, se esta for a sua decisão, pegue o próximo trem para qualquer lugar do mundo e faça a sua própria história. Participe da de alguém. Ame, lute por isso quando a meia-noite chegar, segure em seu colo alguém que se feriu, chore e arda nas chamas, mas nunca... nunca... nunca, em hipótese alguma, aceite permanecer no fundo de um abismo. Não seja esquecido.

[...]

Olá. Há alguém que ainda está lendo isso?

Não tenho muito tempo sobrando. Meu nome é Lucy Leweis — a Passageira Número Um — e eu sou a última sobrevivente do trem para Barrymore. Eu sou... eu sou a única que restou, e acredito que isso vá mudar nos próximos minutos. Infelizmente, não será porque cheguei em Barrymore e contei a verdade ao mundo — isso é mentira. E sim porque estou perdendo muito sangue. A minha visão já não me permite enxergar o restante dos trilhos, e os ferimentos me farão perder a consciência em breve.

Passageiro Número Dois, se ainda estiver disposto a confiar em mim, eu preciso que não enlouqueça com o que eu vou dizer a seguir:

O destino existe. Seja lá o que quer que você tenha ouvido enquanto estivemos afastados, é mentira. Nunca pensei que eu pudesse acreditar nas palavras contaminadas da garota do abismo, e ainda não acredito na maior parte, mas percebi que não há nada no universo que possa explicar tudo o que aconteceu — a não ser, é claro, o destino.

Isso me obriga a admitir que eu estava errada. Por que ainda estaria viva? Ninguém ouvirá os meus gritos de socorro, mesmo que a entrada para o condado fique a poucos metros de onde estou agora. É muito difícil continuar respirando. Angelina estava certa, e o seu destino doentio está se apossando de mim.

Nunca chegarei a Barrymore. Mas você, Número Dois... você talvez possa. Estou implorando. Implorando! Preciso que acredite em mim e que deixe a sua mente cansada acolher a ideia de que o destino é algo possível — caso contrário, não haveria motivo para que estivéssemos tendo esta conversa agora. Algo exige que continuemos tentando.

Embarque no próximo trem. Siga o rastro de sangue pelos trilhos e encontre o diário que estará em minhas mãos, debaixo do enorme sobretudo que pertencia ao idiota do Charles. Depois, leve-o até o condado e conte ao mundo toda a verdade. Conte ao mundo a história. A nossa história.

Não sei o que vai acontecer daqui em diante, mas se houver mesmo um destino, ele o levará para o caminho correto. Essa é a nossa chance de fazer com que todas aquelas pessoas não sejam engolidas pelo esquecimento.

Mais uma vez, não acredite em ninguém dizendo que isso tudo se trata de uma história. Com certeza as coisas que eu vivi não fazem parte de um simples faz de contas. Não dê ouvidos. Acredite somente em mim, porque sou a Passageira Número Um. Esta é a última vez em que você verá as minhas palavras.

E, se algum dia alguém iniciar uma conversa com você sobre a Teoria do Caos, fuja no mesmo momento.

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