Network of Secrets

By Lin-huan

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Wang Yibo, nascido à sombra da criminalidade, possuía um futuro brilhante traçado por seu tio: o comando da m... More

prólogo
Cap1
cap 2
Cap 3
Cap 4
Cap 5
Cap 6
Cap 7
Cap 8
Cap 10
cap 11
Cap 12
Cap 13
Cap 14
cap 15
Cap 16
Cap17
Cap 18
Cap 19
Cap 20
Ca 21
Cap 22
cap 23
Cap 24
cap 25
cap 26
Cap 27
Cap 28
cap 29
Cap 30
cap 31
Cap 32
Cap 33
Cap 34
Cap 35
Cap 36
Cap 37
Cap 38
Cap 39
Cap 40

Cap 9

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By Lin-huan

Yibo examinou minuciosamente sua figura no espelho. Nada poderia estar fora do lugar. Se não soubesse lidar com a sua própria aparência, não poderia lidar com nada, ou talvez fosse assim que seu tio pensava. Ele não poderia se descuidar. Levou a mão com as unhas impecáveis, até ao seus cabelos.

Desistiu por fim de procurar um defeito inexistente e pensou em como Vitor o olharia com deboche se houvesse presenciado a última cena. Deu de ombros e encarou pela centésima vez o relógio em seu pulso. Faltava menos de um minuto para as dez horas da noite, de modo que Yibo decidiu que já era hora de esperar por ele na calçada.

Fechou a porta da sua casa, colocando a chave dentro do bolso no sobretudo, e andou até o meio fio. Passaram-se alguns poucos segundos até que viu o vulto preto do BMW se aproximando. Olhou para o relógio mais uma vez, ao mesmo tempo que o ponteiro dos segundos alinhava-se ao ponteiro das horas e minutos.

Ele arqueou as sobrancelhas, entretido com alguma piada particular. Seu Tio era conhecido, entre outras coisas, por sua extrema pontualidade.

O BMW parou bem ao seu lado e antes que o motorista pudesse descer para abrir a porta para ele, Yibo já tinha suas mãos na maçaneta, rapidamente entrando no carro aquecido.

Sentando-se no banco de trás, Wang mais novo abaixou ligeiramente a cabeça, fato costumeiro quando via o tio depois de um longo período de tempo. O homem, no entanto, falava ao telefone e não lhe deu a devida atenção. Ao contrário, estendeu a palma da mão como se pedisse que ele esperasse.

Yibo revirou os olhos internamente. Como se depois desse tempo todo ele não soubesse quando deveria manter a boca fechada.

- Eu não me interesso se o corpo de Felipe dói, Lorenza... Giancarlo continuou a conversa despertando o interesse de Yibo assim que pronunciou o nome do garoto - Eu quero que ele volte até o galpão e termine o teste vencedor. Até porque não há outra maneira de termina-lo.

A risada encheu o carro, e Yibo sentou-se confortavelmente no banco, cruzando as pernas cobertas pela calça jeans e a bota preta.

- Ele está sangrando? Algum osso fraturado? Torção? - Giancarlo despejou ironicamente - Não? Então digo que ele está apto e atrasado para voltar ao treinamento. Eu não quero desculpas. Carlos sairá desse galpão com a missão concluída, ou em uma maca de hospital.

A última frase despertou uma antiga ira em Yibo. Alguns anos atrás se ele saísse de um treinamento queixando-se de dores seria o próprio Tio quem se asseguraria que ele acabasse em uma maca de hospital. Sem segundas chances. Desfez a cara fechada rapidamente quando sentiu os olhos do tio pairando sobre si.

- Yibo, meu Filho. - Ele saudou-o, seu timbre quase feliz.

- Tio - ele trouxe a mão forte dele, aquela com o anel em ouro branco, entre as suas - Vejo que meu primo deu alguns problemas... Por acaso esse treinamento é o do labirinto? - Yibo comentou, tentando parecer displicente. Giancarlo meneou a cabeça. Os olhos de águia o estudando. - O senhor deveria dar um desconto, Filipe está com dezesseis anos. Se bem me lembro, aquele teste, em particular, bem complicado...

- Eu decido se quero dar um desconto ou não ao meu filho. Não preciso dos seus conselhos quanto a isso. - Giancarlo retrucou audaz - E se bem me lembro, você tinha quatorze quando realizou e foi bem sucedido.... De primeira.

Yibo tentou conter um sorriso. Primeiro porque o último tom empregado pelo tio era quase de orgulho. Segundo, porque, por vezes desconfiara que Giancarlo comparasse os dois. Ele e o filho. E com aquele último comentário tinha certeza. Seu sorriso presunçoso se abriu um pouco mais. Em comparação com Felipe, ele sempre sairia vitorioso.

- É, o senhor tem razão.

Acontece que Felipe, era o motivo de Yibo ainda ser incerto sobre quem controlaria a máfia no futuro. Apesar de que, a seu ver, aquele lugar era seu por direito, já que pertenceu ao seu pai. Mas, nem tudo era uma questão de justiça. Giancarlo ocupava o posto agora e, apesar de deixar claro para muitos a preferência pelo sobrinho, Yibo achava as circunstâncias do nascimento de Felipe um pouco suspeitas. Era como se o tio quisesse ter um filho. E planejasse no fundo, ceder o seu lugar a ele.

Por várias vezes se considerou tolo por pensar no assunto. Era muito mais qualificado que o primo. Além do que, o treinamento que Felipe possuía, era muito inferior em vários pontos do que ele mesma teve.

- Acho melhor você engolir de vez o sorrisinho que está tentando esconder, Yibo- Giancarlo anunciou - Você tem propriedades que Felipe não tem e vice versa. Além disso, não gosto que fique pensando sobre quem indicarei para o meu cargo. Quando faz isso parece que quer me ver pelas costas. Ficaria muito decepcionado se isso fosse verdade.

- É claro que não é, - Yibo falou apreçando-se em um tom rápido, e dizia a verdade - O senhor sabe que não é, tio Carlo! Mas... Propriedades?

Giancarlo sorriu brevemente antes de continuar.

- Você é meu melhor homem, Yibo. E isso não é segredo para ninguém. Mas existem certas coisas, certas características preciosas em um líder, que Felipe detém e você não.

- Como? - Yibo perguntou, incrédulo. Não havia nada que Felipe pudesse remotamente ser melhor do que ele.

- Você coloca medo em qualquer um...

- E isso por acaso é ruim? - ele o interrompeu.

- É melhor que você mude o seu jeito de falar comigo quando o assunto é Felipe. Não gosto do seu tom. - Giancarlo informou.

- Eu não gosto de como o senhor escondeu o seu súbito interesse pelos russos - Ele sustentou o olhar em seu interlocutor, mesmo que um tipo de alarme interno o avisasse que estava ultrapassando o limite -, e de como continua o fazendo.

Giancarlo Ferraro olhou bem dentro dos olhos do homem diante de si.

Yibo engoliu a enxurrada de atrevimentos, e baixou a cabeça em sinal de respeito.

- Perdão. - Deixou que as sílabas conhecidas escapassem por entre os lábios. Giancarlo passou os dedos por sua cabeça, um gesto que para um desavisado, parecia paternal.

- Sabe, Yibo. Quando você fala nesses termos quase parece um bom rapaz.

Ele respirou contidamente diante de tal afirmação e decidiu por mudar o rumo da conversa. Apesar de que o novo assunto em pauta provavelmente arruinaria qualquer bom humor restante do mais velho.

- Tio... - começou cauteloso, ciente de que entrava em um terreno minado -, alguma coisa nova sobre o meu irmão?

~-~

O estabelecimento que parecia de quinta categoria do lado de fora, fazia jus a sua fachada no interior. Yibo pensou quem seria esse tal de Khoury que escolhera um lugar tão imundo para realizar seus negócios ilícitos com um filho de um banqueiro. E, mais importante, o que Giancarlo queria com ele a ponto de aparecer no campo de trabalho?

Balançou a cabeça, tocando o suporte que continha as duas armas na cintura. Depois que ele e o tio entraram no estabelecimento decadente, Giancarlo perguntou ao senhor no balcão que servia as bebidas, onde poderia encontrar o Khoury. Levou um pouco de tempo, e análise da figura de Giancarlo, até que o homem levemente calvo apontasse para uma escadaria e resmungasse em um sotaque russo que a reunião acontecia na segunda porta a esquerda.

Giancarlo não se afetou com o olhar repressor do sobrinho enquanto acabavam de subir as escadas. Antes de entrar pela porta, no entanto, ele olhou para Yibo.

- Você vai ficar aqui fora, de vigia. Seu rosto é conhecido pelo Barclay.

Yibo pensou seriamente em protestar, mas sabia que aquilo não era sensato. Giancarlo então virou a maçaneta e entrou pelo cômodo iluminado, bem mais confortável que o resto do estabelecimento até então. Yibo pode vislumbrar quatro, ou cinco homens dentro do quarto.

- Senhores - a falsa voz educada de Giancarlo ressoou antes que ele pudesse fechar a porta - Sei que não fui convidado, mas receio ter uma inclinação para o poker essa noite.

E essa foi a última coisa que Yibo ouviu durante os próximos dez minutos que se sucederam. Tirando, é claro, as vozes masculinas alteradas, e o barulho de copos quebrados que vinham do salão lá em baixo. Bem como o gritinho fingido de alguma puta.

Passos ecoaram pela escada e Yibo levou a mão despropositadamente para uma de suas armas. Esperou pacientemente que a figura aparecesse em seu campo de visão. Mas ele não estava preparada para o que estava por vir. A primeira coisa que apareceu foram os cabelos de um tom levemente puxado para o preto. Logo em seguida, as sobrancelhas escuras adornando e aumentando o brilho dos olhos castanhos. O rosto completo revelou-se, e a seguir o corpo másculo que Yibo preferiu não avaliar.

O Agente Xiao Zhan subiu o ultimo degrau da escada e parou, olhando diretamente para ele, sorrindo logo a seguir. O maldito sorriso de lado, assinalou Yibo mentalmente, ao mesmo tempo em que sacava a arma. E para a sua surpresa, Zhan empunhava uma arma também.

- Olá, Yibo. - Ele saudou, o sorriso aumentando um pouco mais. Yibo se perguntou por que diabos o homem sempre falava seu nome daquele modo peculiar, pausado e rouco.

- Pensei que tinha deixado claro o que aconteceria se nos víssemos novamente, Agente. - Yibo começou, com uma frieza calculada que, de fato, não era o se passava em seu interior.

- E deixou, senhor - Xiao falou, dando de ombros - Mas, pensei que poderia mostrar um pouco de gratidão e poupar minha pobre vida - continuou, com falso drama, logo após ficando sério - Afinal, é por minha causa que você está aqui agora.

- Estaria aqui do mesmo modo se você não tivesse arruinado os meus planos naquela festa. - Yibo retrucou - Então considere sua pobre vida, não poupada.

- Você me decepciona Yibo. Eu andei pesquisando, e soube que essa gente costuma ser agradecida com aqueles que lhes prestam favores. Sejam eles diretos ou indiretos. Não há modo de negar que eu lhe prestei um favor, mas você não honra o sentimento de gratidão de seus antepassados...

Xiao deu um passo para frente e Yibo engatilhou sua arma.

- Não chega perto.

Ele soltou um sorriso debochado.

- Vai atirar em mim se eu o fizer? Vai comprometer seja qual for a sua função, por minha causa? Sendo assim, atire.

A gargalhada baixa que Yibo soltou quase assustou Xiao. Quase.

- Pois saiba, Federal, que minha missão aqui hoje nada mais é do que viajar essa porta. E isso implica me livrar de quem quer que ameace o que está acontecendo lá dentro. E você se qualifica no termo ameaça, não é mesmo? - o brilho dos olhos de Xiao diminuiu - E será um prazer me livrar de você.

Foi a vez de Yibo dar um passo para frente, mas seu pé nunca chegou realmente a tocar a superfície a diante. Uma sequência de seis tiros foi ouvida. A audição de Yibo lhe dizia que eram de, pelo menos, duas armas diferentes. Não houve tempo para hesitação. Ele abriu a porta do quarto empunhando a pistola para o cômodo.

Quatro corpos se encontravam sem vida no chão, enquanto um homem gritava com a mão na perna, onde certamente um tiro o acertara. Mas Yibo não se incomodou em conferir quem eram, porque seus olhos estavam no atirador sobrevivente que abaixava a arma, sorrindo-lhe abertamente. Ele também abaixou a sua própria arma, o coração voltando ao ritmo normal quando seu cérebro processou que nenhum dos disparos afetara seu tio.

Mas então ele viu os olhos do tio adquirirem o brilho assassino que nem sequer abandonaram totalmente, erguendo a arma para além dele. Yibo não precisou de mais nada para saber do que se tratava, olhando rápido viu que Xiao entrava pela porta empunhando a arma para o seu tio.

E então, com um passo veloz para o lado, ele pôs-se na linha de tiro dos dois, levantando a mão desarmada na direção do tio. Um pedido claro para que ele tivesse calma. Engoliu em seco, se demorasse em seu lugar dois segundos a mais, um dos dois representaria um quinto corpo sem vida no chão. E ele apostaria que naquele papel estaria Xiao Zhan.

Mas, na vida, nada é cem por cento certo. Não conhecia as habilidades de atirador que Xiao possuía a fundo. Então, existia a mínima possibilidade de que Giancarlo fosse o atingido. Ou, é o que ele pensaria algumas horas depois, quando se perguntaria por que diabos se colocou entre os dois.

- Filho, sugiro que volte para o seu lugar. Ou vai ter que visitar um hospital graças a uma bala que passará de raspão pela sua cabeça, atingindo o crânio do rapaz ali, logo atrás. - Giancarlo disse, tão friamente, que Yibo apostaria que um calafrio tinha subido pela espinha do agente.

- Giancarlo... - ele começou, a voz levemente temeroso -ele não é uma ameaça.

Xiao riu e Yibo sabia bem o porquê. Não fazia mais de dois minutos que ele o qualificara como aquilo que agora afirmava que ele não era.

- Oh não? - Giancarlo devolveu sarcástico - Então porque ele está apontando a arma na minha direção?

Yibo olhou para trás por sobre os ombros. A arma do Xiao antes apontada para Giancarlo pelo vão do pescoço dele, encontrava-se agora a centímetros de seu rosto. Mas foi para os olhos castanhos que Yibo olhou. E, como sempre, Xiao não teve escolha a não ser olha-lo de volta.

- Quer fazer o favor de abaixar a porra da arma? - Ele encarou a figura masculina que sussurrava a sua frente. A mão dele ainda estava estendida para o tio.

- Claro. Quando ele abaixar a dele. - Xiao disse em alto e bom som. Fazendo com que Giancarlo desse uma risada tão alta que poderia se equiparar com o barulho dos tiros de outrora. Ele constatou então que Yibo teve um excelente professor durante todos esses anos.

- Xiao.. - Yibo sibilou, em um tom quase... implorativo. A mão de Xiao foi se abaixando lentamente. Não porque o respeitava, ou estivesse com medo de Giancarlo. Aquela era a primeira vez que Yibo o chamava apenas pelo primeiro nome. E aquele determinado fato fez com que seus músculos agissem conforme ele pedia.

- Então, tio...- ele respirou profundamente e Xiao odiou Giancarlo por fazer com que ele se comportasse daquele jeito. Quase como um submisso a ele. - Como eu dizia, ele não representa um perigo. O rapaz está comigo.

Giancarlo olhou sarcasticamente para o sobrinho.

- Você sabe que ele é um policial, não sabe?

Xiao alargou os olhos diante daquela pergunta, que nada mais era do que uma afirmação. O que, possivelmente, em sua figura diria para Giancarlo que ele era um policial?

O corpo de Yibo tremeu a sua frente em uma risada. Mas Xiao pode perceber que aquele era um disfarce para o nervosismo que ele sentia.

- Claro que sei, Tio... Ele é meu informante! Foi com o senhor que aprendi que não se deve concluir as coisas pelo que se vê apenas na superfície.

Xiao admirou o homem a sua frente mais uma vez. Ele blefava bem. Mas quando os olhos gélidos de Giancarlo pousaram em Xiao, ele percebeu que o homem era uma verdadeira ave de rapina, e não comprava totalmente a história do sobrinho. Mas não foi isso que fez com que um tremor percorresse suas vértebras. Os olhos pretos e gélidos a sua frente eram muito peculiares a Alexander. Ele via aquele olhar em Yibo, claro que um pouco menos poderoso. Mas era definitivamente o mesmo olhar. E essa semelhança vista tão de perto, de fato, o assustara.

- Espero que saiba o que está fazendo, Yibo - O mafioso assinalou, olhando de volta para o sobrinho - De qualquer modo, deixei uma sobra para você.

Giancarlo apontou para o ferido que olhava a cena com os olhos arregalados. E então, Yibo pode, pela primeira vez, contemplar o crime. Os quatro homens mortos no chão, formavam uma única poça de sangue, que arruinava o carpete. Três foram atingidos na cabeça, e um no peito.

O ferido trêmulo, encostado na parede do quarto, obteve a sua atenção logo em seguida.

Yibo percebeu que se tratava de Thomas Barclay. Seu tio deixara o filho do banqueiro para que ele liquidasse.

Uma clássica versão de que se deve acabar com o que se começa. Ele começou com o Barclay, era mais que justo que ele acabasse com ele.

Yibo não tinha problemas em matar pessoas. Pelo menos, não mais. No entanto, detestara aquele tipo de atitude recorrente do tio. Não ter problemas não significava que morria de amores pelo assassinato.

Ele empunhou a arma na direção do jovem Thomas, lamentou-se por ele um instante. Certamente o garoto nunca soube que a consequência de suas ações o levaria até aqui.

- Oh não! Não! Por favor! Eu não vou falar nada, eu juro! Eu juro! - Ele murmurou, enquanto ele engatilhava a arma. A deixa mais famosa de quem vai ser assassinado, concluiu Yibo sombriamente.

- Yibo... - Xiao sussurrou espantando, quando percebeu que ele realmente iria matar aquela pessoa.

- Não se meta - ele sibilou, e algo em seu olhar fez com que Xiao deixasse que ele prosseguisse. Ele estava... afetado. O federal engoliu em seco tentando se consolar de que Thomas morreria de qualquer forma. Se Yibo não o fizesse, o próprio Giancarlo o faria. Mas Xiao preferiria mil vezes a segunda opção.

Então ele apertou o gatilho, calando os pedidos de clemência do rapaz. Yibo olhou para a sua vítima, os olhos perdendo o brilho da vida. O sangue jorrava em grande quantidade pelo buraco de saída da bala, atrás da cabeça de Thomas. No buraco de entrada, na testa do rapaz, apenas um fiapo de sangue escorria por entre as sobrancelhas.

E então o corpo inerte acabou de escorregar até o chão.

- Belo disparo. - Giancarlo comentou, quase feliz, como se o parabenizasse por um bom resultado na escola.

- Obrigado, tio. - Yibo agradeceu, evitando encontrar o olhar de Xiao. Sentiu a mão pesada de Giancarlo Ferraro em seu ombro.

- Acho que você pode se virar para ir embora para casa. - Giancarlo afirmou, olhando sugestiva e raivosamente para a figura do agente, que engolia em seco olhando para o corpo sem vida de Thomas.

Yibo simplesmente sacudiu a cabeça. Não era hora de comprar brigas com o tio. Giancarlo deu alguns passos em direção a porta. Parando bem ao lado de Xiao Zhan e olhando para Yibo.

- Sugiro que saia daqui antes da polícia chegar. - Então ele encarou os olhos do agente, vários segundos se passaram e, por fim, Giancarlo disse mordaz - Oh, engano meu! Parece que ela já está aqui.

Yibo soltou um longo suspiro assim que a figura do tio saiu pela porta. Como se tivesse tirado um peso das costas. Olhou para todo o quarto, evitando a figura alta que ainda permanecia parada e imóvel, e concluindo que nada naquela sala poderia incriminá-lo, decidiu por ir embora. Com a manga do sobretudo limpou a maçaneta da porta e percebendo os olhos castanhos colados em seus movimentos. Simplesmente deu as costas, indo na direção das escadas.

Ele escutou seu nome ser chamado várias vezes enquanto descia as escadas e atravessava o salão, saindo do estabelecimento. Foi só lá fora, que ele parou, sentindo a mão grande puxando o seu braço e olhou friamente para ele.

- Você não deveria estar aqui, agente - a voz dele era baixa e ameaçadora - Faça um favor a si mesmo e volte para o lugar de onde saiu.

A expressão dele era cautelosa.

- Eu... - Xiao passou a mão pelos cabelos bagunçados, Yibo percebeu a nítida confusão que ele se encontrava - Eu vou leva-lo para casa, Yibo.

Ele riu sardonicamente.

- Eu acho que uma pessoa como eu consegue lidar com algumas ruas escuras

Ele tentou livrar-se da mão dele, mas Xiao o segurou ainda mais forte.

- Eu tenho que conversar com você!

Yibo ergueu as duas sobrancelhas bem feitas, achando aquela declaração inusitada.

- Eu não tenho o que falar com você.

Xiao se aproximou dele, sua boca era uma linha fina, a mandíbula trincada. Quando ele falou, Yibo pode sentir o ar quente do hálito dele acariciar a pele fria de seu rosto.

- Eu insisto.

~-~

O percurso de menos de quinze minutos parecia durar uma eternidade. O interior do volvo era simplesmente pequeno demais para abrigar os dois ocupantes e a tensão tangível que pairava sobre eles. Xiao sabia o que devia fazer, mas era simplesmente complicado demais. Difícil demais.

Passou as mãos novamente pelos cabelos, dirigindo em alta velocidade. A imagem do homem ao seu lado apertando o gatilho a sangue frio o intrigava, e ainda não conseguira afastar aquele momento dos seus pensamentos. Lançou um olhar rápido para a figura sentada ao seu lado. Ele olhava a janela, as mãos jogadas em cima das pernas, nenhum sinal de nervosismo. Parecia até, de certa forma, entediado.

Xiao se perguntou quantos ele já havia matado para conseguir aquela aparente calma que transmitia. Mas, Xiao sabia que havia visto algo em seus olhos momentos antes de matar Thomas. E queria muito entender o que se passava naquela cabecinha complicada, mesmo que algo em seu interior lhe avisasse que talvez não fosse capacitado para isso.

Ele estacionou o carro rente ao passeio, desligando-o logo em seguida. As luzes do apartamento de cima estavam acesas e ele pensou o que Vitor estava fazendo agora. Olhou para o lado e resolveu começar a falar antes que Yibo fizesse menção de sair do carro.

- Sabe, Yibo... Thomas era... inocente. - começou incerto recebendo um olhar debochado do homem.

- E o que acha que eu sou, Agente? Um Dexter da vida real que só mata se o cara for malvadinho? Eu não preciso de princípios nobres para dar fim à vida de alguém.

Ele parou de falar, o silêncio dominando o carro momentaneamente.

- Matei Thomas Barclay, sim. Porque para a máfia, ele precisava morrer. Era uma testemunha e não poderia sair daquele quarto andando. Eu não sei por que Giancarlo matou aqueles homens e, francamente, não me interessa saber. Certamente se meteram no que não deviam, ou então não estariam em sacos pretos agora.

Xiao riu sem humor.

- É impressionante o modo calculista com que você trata o assunto.

Foi a vez de Yibo gargalhar.

- Porque são negócios, e negócios devem ser tratados assim. Ou você acha que os traficantes que eu lido, os donos das casas de prostituição, e mais tantas outras figurinhas da criminalidade, me respeitariam se eu fosse tomado de piedade? - Yibo falou a ultima palavra quase que com nojo - Nunca matou um homem, Federal?

Xiao engoliu em seco, as mãos em punhos sobre seu colo. O pescoço grosso pendeu para trás, encarando o teto do veiculo.

- Uma vez. - Murmurou ele por fim. Os olhos de Yibo se arregalaram brevemente, reconhecia aquele sentimento, já tinha passado por aquilo.

- Eu... não devia ter perguntado. - Ele disse, logo após chutando-se internamente por estar fazendo algo perto de pedir desculpas para ele - Se me der licença, vou entrar agora. Nada de bom pode surgir do nosso papinho. - olhou pela janela - E não posso pensar em nada que você venha a me dizer aqui. Minha mente ainda está ocupada com a discussão que tive com Giancarlo hoje, Felipe, a porra dos russos, meu irmão...

Yibo apertou os olhos quando percebeu o que acabara de falar. Que merda acontecia com ele quando estava com a porra do agente?

- Seu... irmão? - Ele perguntou incerto.

- Sim. E não é da sua conta. - Yibo retrucou.

Xiao riu, o bom humor voltando.

- Sempre tão cheia de reservas, Yibo... Não me espanta que você não possa demonstrar gratidão, ou mesmo se importar...

A raiva invadiu Yibo.

- Eu sei demonstrar gratidão, Federal! - A pulsação dele martelava em suas veias agora. XXiaoo acusava de não ser grato. E ele tinha quase certeza que demonstrar gratidão era um fator importante para ser amada... Ou assim Giancarlo pensaria.

- Tanto sei demonstrar a porra desse sentimento, que serei grata a você agora. Mesmo que não tenha pedido para terminar minha missão, você o fez.

Yibo retirou o cinto e aproximou seu corpo do de Xiao. O homem tencionou no assento do motorista. Era perturbador demais tê-lo assim, tão perto.

- O que está fazendo, Yibo?

Ele simplesmente riu.

- Pude perceber que você gostou disso ontem a noite, Federal. - ele disse apoiando uma das mãos no ombro dele. Xiao suspirou fundo, seu corpo tornando-se ciente da presença dele- E para demonstrar minha gratidão, estou disposta a lhe proporcionar uma segunda dose.

Yibo levou a mão que estava no ombro másculo até a nuca de Xiao, onde enlaçou os cabelos rebeldes com os dedos, sentindo a maciez dos fios... Não pode explicar, mas era infinitamente bom tocá-los. Xiao fechou os olhos firmemente, travando o maxilar. Lembrou-se de como queria sentir aquele toque quando o viu pegando daquele jeito no cabelo de Thomas Barclay.

A menção do defunto, mesmo que em sua cabeça, quase o despertara da áurea que envolvia os dois naquele momento. Mas, Yibo trouxe aquela boca, colocando-a na dele. E a única coisa que Xiao pode fazer foi agarrar com força aqueles cabelos negros, aprofundando o beijo dos dois.

Ambos tentavam tirar o máximo que podiam do outro, sentir o máximo do outro. Era um beijo envolvente, feroz, e extremamente luxurioso.

Xiao apertou firmemente o quadril de Yibo, resoluto em puxá-lo para o seu colo. Mas ele ficou imóvel, logo após terminando o beijo. Levou a sua boca até perto do queixo do homem, mordiscando a região. Deliciou-se com aquela sensação. Ambos deliciaram-se.

- Yibo... - Xiao murmurou.

E ele estava sentado novamente em seu lugar, olhando para frente, tentando controlar a sua respiração.

- Você realmente não acha que um único beijo basta, não é? - Xiao perguntou, desacreditado.

Yibo o olhou, a respiração quase controlada, as feições sérias.

- Tem que bastar, Agente. Porque isso - ele apontou para os dois - Acaba aqui.

Xiao engoliu em seco e Yibo prosseguiu.

- Esse joguinho não é mais sustentável. Não me persiga mais, eu claramente não procurarei você também. Eu não te matei, em troca, você mantém a sua boca fechada. Uma troca justa.

Yibo procurou os olhos castanhos.

- Você não me atrapalhará mais, eu me manterei longe do seu campo de trabalho também. Porque, Federal, a coisa que mais prezo na vida é o meu trabalho, e agora que estamos "quites", eu realmente não sei qual seria a minha reação se você me atrapalhasse novamente. A amostra que você viu hoje não representa uma parcela mínima do que eu sou capaz.

Xiao olhou para frente. As mãos apertando firmemente o volante.

- Isso acaba hoje. - Yibo reafirmou, e Xiao balançou a cabeça uma vez.

Ele quase sorriu.

- Adeus, Federal. - Disse, abrindo a porta do carro, Xiao simplesmente lhe lançou um sorriso de lado. Sua marca registrada.

Viu o homem andar calmamente até a porta de sua casa, remexendo nos bolsos a procura da chave. Ele mesmo remexeu no bolso interno de seu casaco tirando de lá um gravador preto. Apertou um pequeno botão e o aparelho parou de gravar.

Olhou pelo retrovisor e contemplou a porta já fechada, alguma luz dentro da casa se acendeu. Batucou o gravador no volante. Em uma coisa Yibo estava certo, aquilo acabava essa noite, concluiu, com uma pontada de tristeza que não soube dizer de onde vinha. Ligou o carro e olhou para o gravador novamente.

Ele tinha tudo o que precisava.








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