Corte de Labirintos de Rosas...

By FS_Violet_

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"Eu estava em um jardim que mais parecia um labirinto, o mesmo era coberto de espinhos. Vi na minha frente um... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Bônus - 1
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
aviso
Capítulo 30
aviso
Capítulo 31
Capítulo 32

Capítulo 13

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By FS_Violet_

{Primrose}

- Rory - sorri abertamente para a pequena fêmea que caminhou rapidamente até mim, e agora estava a poucos centímetros de distância - É muito bom te ver novamente

Ergui minha mão, receosa de não saber exatamente como me comportar. Aurora sorriu tímida, e quando tocou minha mão, a puxou para baixo de forma leve. Rapidamente me abaixei entendendo o que ela queria. Um abraço.

- Que bom que você veio - ela disse baixo, para que apenas eu conseguisse escutar, sua voz continha tanta esperança e inocência ao mesmo tempo

Sentindo um riso sincero escapar de meus lábios, assim, nos afastamos do abraço

Olhei para seus grandes olhos castanhos. Como os olhos de uma corça. Puros e curiosos. Ela tinha um pequeno sorrisinho, que ficava marcado naqueles olhos. Mas de repente, eles desviaram para trás de mim. E hesitantemente encararam quem me acompanhava.

Me levantei rapidamente, comprimindo os lábios e me lembrando de fazer as apresentações.

Jasper deu um curto passo para a frente, quando eu o chamei sutilmente com a mão. Seu cabelo castanho curto, balançava um pouco por conta do vento.

- Esse é o Jasper - disse, franzindo minhas sobrancelhas com a casualidade que passou por minhas palavras, me perguntando se deveria agir assim - Ele é guarda da Corte Primaveril

Jasper sorriu fraco para Aurora quando a mesma o encarou, escondendo as mãos atrás do vestido rosa claro. O macho fez uma reverência, que ela respondeu apenas acenando delicadamente com a cabeça.

- E essa aqui, é a Ísis - Ísis também deu um passo à frente, fazendo uma reverência para ela.

Não sabia exatamente como me referir a ela, e antes que eu pudesse pensar em algo, meu olhar captou rapidamente outras pessoas que se encontravam ali. Nos encarando fixamente.

Lucien e Elain Archeron.

O sobrenome que ecoou na minha cabeça fez com que eu ficasse alguns segundos em silêncio apenas a encarando.

Era uma Grã-feérica linda. Seus olhos idênticos aos de Aurora, carregavam a mesma graça e beleza. Mas, além disso, percebi sagacidade e maturidade por trás deles. Ela me encarou rapidamente de cima a baixo. Como se pensasse em tantas coisas quanto eu. Mas, em seguida, a fêmea abriu um pequeno sorriso meigo.

- Olá - fiz uma reverência, cortando o silêncio, tentando pensar bem nas palavras antes de dizê-las - É um prazer. Eu agradeço muito o convite.

- Imagine - Lucien começou, gesticulando com a mão, como se dispensasse o agradecimento - Aurora queria muito que viesse, além disso, até mesmo meu pai parecia compartilhar da mesma vontade - ele olhou rapidamente para Helion, deixando que um pequeno sorriso subisse em seus lábios

Helion apenas sorriu de volta e olhou para mim.

- Eu e Aurora pensamos parecido - ele piscou para a neta, que sorriu, balançando o corpo para trás e para a frente

Vi Lucien revirar os olhos, soltando uma risada nasal, e Elain negar com a cabeça enquanto sorria também.

Eu havia visto muito pouco deles, mas algo que o Grão-Senhor parecia não saber esconder era o carinho que sentia pela neta. Ele com certeza devia se deixar manipular facilmente por aqueles olhos castanhos brilhantes.

- Foi muito gentil da parte de vocês de qualquer forma - juntei minhas mãos na frente do corpo

Não havia me dado conta que a fêmea de cabelos ruivos havia se afastado discretamente de mim, andando um pouco para trás, se aproximando de Elain.

- Mamãe - Aurora a chamou, puxando um pouco a saia do vestido marfim da fêmea, fazendo com que Elain, que ainda me fitava, virasse o rosto para ela, com muita delicadeza - Já posso levar a Primrose até o jardim?

Soltei um sorriso ao notar a ansiedade em que Aurora se encontrava.

Sentia um pouco daquela ansiedade em mim, mas por parte, porque ainda me sentia um pouco hesitante em ter o olhar de Elain Archeron em mim, mas escondi essa incerteza por trás de um pequeno sorriso. Já estava acostumada a fazer aquilo.

- Acredito que nossos convidados queiram se instalar primeiro, filha - ela disse, e se virou para nós - Vamos acompanhar vocês até os quartos. As malas já serão colocadas lá, não se preocupem.

Nós estávamos no mesmo salão em que o baile tinha acontecido. Agora, com ele vazio, e tendo a luz quente do Sol sendo refletida pelo mármore branco apenas me mostrou que eu não havia me enganado em pensar que o Grão-Senhor era um macho de gosto refinado.

Pelos corredores, meus olhos acompanhavam os candelabros em cima de nossas cabeças. O que fez com que Jasper tivesse que segurar meu braço uma ou duas vezes para que eu não batesse em algum móvel. Um pequeno sorriso se desenhava em meus lábios todas as vezes, e um murmuro de desculpas saía deles.

Apesar de ser o Grão-Senhor, Helion não pareceu se importar em deixar Lucien e Elain liderando o caminho e apresentando tudo ao nosso redor.

Ele preferiu deixar que Aurora segurasse sua mão e ficasse um pouco para trás a acompanhando. De vez em quando, a via puxar o macho delicadamente para baixo e sussurrar algo para ele.

Jasper e Ísis ficaram do meu lado. O macho parecia observar tudo com muita atenção e não parecer muito surpreso com o que via. Ísis tentava fazer o mesmo.

Fomos colocados cada um em um quarto. Mas todos relativamente próximos um do outro.

Quando Elain abriu a porta do quarto em que eu passaria algumas noites, minha boca se abriu um pouco e minhas sobrancelhas se ergueram. Era lindo. Cada canto do quarto parecia ter sido pensado nos mínimos detalhes.

A grande janela deixava os raios do Sol entrarem, iluminando o cômodo. Quanto mais eu adentrava no quarto mais o achava belo.

Talvez eu me sentia daquela forma porque eu notei que realmente estava conhecendo algo novo, e tendo uma experiência nova. Algo que eu quis por muito tempo. Por maiores que fossem as minhas preocupações, meu peito ainda se enchia de entusiasmo por estar ali.

- Primrose? - ouvi a voz de Elain me chamar, seu tom insistente e confuso mostrava que provavelmente era a segunda vez - Tudo bem com o quarto? Você precisa de algo?

- Não - neguei rapidamente virando meu olhar para ela, e voltando a ficar próxima da porta, onde ela estava - É ótimo, mesmo

Seu olhar ficou menos tenso, e ela apenas assentiu com a cabeça.

- Bom, se precisar de qualquer coisa, nos avise - ela disse, e olhou para Jasper e Ísis atrás dela, que pareciam um pouco perdidos - Vou mostrar o restante dos quartos e deixar que vocês se organizem

Acenei com a cabeça, e eles começaram a se afastar da porta. Ísis ficou.

- Vou te ajudar com suas coisas - ela disse, sem perguntar mais nada, já prestes a entrar no quarto

Sabia que Ísis estava ali a trabalho. Mas ao mesmo tempo, me sentia mal por fazer ela ficar trabalhando quando havia sido eu que tinha implorado a ela para vir. Ela não precisava ter feito aquele favor para mim. Ela não era obrigada a aceitar me acompanhar, mas veio mesmo assim. Então, eu queria que ela tivesse um tempo para aproveitar tudo aquilo também.

Me coloquei rapidamente na frente da porta, bloqueando sua entrada. A mesma se assustou com o movimento repentino e deu um passo para trás.

- Muito obrigada, mas não se preocupe comigo - sorri, e apontei para Elain, que agora indicava o quarto de Jasper, e em seguida, eventualmente, indicaria o de Ìsis - Vá ver seu quarto. Deve ser ótimo. E arrume suas coisas, sem pressa.

A fêmea me encarou, provavelmente querendo retrucar. Mas seu olhar foi para Elain que agora ia em direção a outro quarto. Então, Ìsis se virou para mim e disse um pouco nervosa:

- Tudo bem, mas assim que eu acabar, venho ver como você está - ela avisou

- Sem problemas - sorri, revirando os olhos, deixando um riso escapar, e ela assentou começando a se distanciar

Não demorei muito para desfazer minha mala. Claro, era muito mais fácil organizar minhas coisas com Amélia. Ela fazia aquilo parecer tão simples. Mas, felizmente, não tive grandes dificuldades.

Não sabia se deveria permanecer no quarto até ser chamada ou não. Mas, me lembrei de ouvir Lucien dizer para ficarmos à vontade para caminhar pelo lugar. Essa conversa que voltou a minha mente fez com que eu abrisse a porta do quarto, dando de cara com Jasper.

Dei um passo para trás soltando a maçaneta, e soltei um suspiro surpreso. Jasper arregalou os olhos e andou para trás no mesmo segundo que eu.

- Desculpa - ele pediu, levantando uma mão - Só vim ver se está bem

- Estou ótima - respondi, recompondo minha postura - Sabe que não precisa ficar de babá, certo? - ergui uma sobrancelha

Ele assentiu um pouco sério com a cabeça, com firmeza.

Coloquei minha cabeça para fora do quarto, e Jasper se virou quando ouvimos os passos de Ísis se aproximando de nós. Seus cabelos longos e escuros que estavam para trás se mexeram com a velocidade que ela veio.

- Desfez as malas? - foi a primeira coisa que a fêmea me perguntou

- Sim - afirmei, e antes que eles pudessem me perguntar ou dizer qualquer outra coisa eu comecei - Olha, não quero que vocês fiquem preocupados comigo. Se eu precisar de qualquer coisa, vou atrás de vocês. Prometo. Quero que aproveitem tudo isso também. Podem caminhar e conhecer o local - falei e eles se olharam e assentiram um pouco perdidos - Podemos fazer isso juntos, o que acham?

Quando ambos acenaram com a cabeça, eu saí do cômodo e puxei o braço dos dois o mais devagar possível para que eles me acompanhassem. Ísis soltou uma risadinha. Eu apenas continuei andando, esperando que ambos se igualassem à velocidade de meus passos.

- Esse lugar é muito lindo - ouvi Ísis elogiar ao meu lado depois de alguns segundos - O quarto é esplêndido. Acho que eu nunca dormi em uma cama tão grande - ela admitiu

Jasper, do meu outro lado, concordou com a cabeça.

- Só o lugar é muito lindo? - a ofereci um meio sorriso, e ergui uma sobrancelha, como se indicasse algo

A fêmea apenas negou fortemente com a cabeça, como se tentasse afastar a ideia da mente.

- Nunca devia ter dito nada para você, ou para Amélia - ela disse, voltando a olhar para a frente e eu soltei uma riso

Jasper nos encarou, franzindo as sobrancelhas, claramente perdido. Mas deve ter achado melhor não fazer perguntas.

- Obrigada por nos trazer, Primrose - Ísis agradeceu, ficando mais séria, e quando a ouvi, fiquei também

- Obrigada por me acompanharem - respondi

- Eu nunca havia saído da Corte Primaveril também, Prim - Jasper finalmente falou

Eu sabia que Jasper tinha nascido e crescido na Corte Primaveril, mas não fazia ideia daquilo. Isso explicava o porquê dele ter ficar observando tudo com atenção e muita curiosidade, ao invés de dizer algo.
Além disso, eu sabia que ele estava se sentindo responsável por nós. Eu sabia que o pai dele havia colocado muita pressão nele para não deixar que nada acontecesse conosco. Ademais, o Grão-Senhor havia deixado a filha dele sendo protegida por ele.

Sorri compreensivamente para ele, e ele me devolveu o mesmo sorriso.

- Eu já - Ísis disse, e eu virei minha cabeça para ela - Mas, nunca para cá

- Para onde? - perguntei, curiosa

Ísis pareceu um pouco hesitante em responder.

- Bom, eu não nasci na Corte Primaveril, e eu já me mudei várias vezes - ela olhava para frente - Morei em lugares bem diferentes, e bem longes de onde moro agora - seu tom de voz pareceu ter mostrado que ela havia acabado o assunto por ali. Então, me controlei para não insistir nas perguntas.

Andávamos lentamente, observando a harmoniosa arquitetura do lugar. Um pouco perdida em meus pensamentos, disse, sem pensar:

- Eu tenho uma lista de lugares que eu gostaria de visitar, e coisas que eu gostaria de fazer

- Mesmo? - Jasper perguntou, virando o rosto para mim, com curiosidade

Assenti.

Lembro-me de como comecei. Devia fazer alguns anos. Pouco tempo depois que comecei a treinar com ele. Tive a ideia de escrever tudo em um papel que eu havia escondido muito bem, para que eu não esquecesse de nada. E cada item que eu riscava era um sinal de realização.

Uma das primeiras coisas que coloquei era o quanto eu gostaria de aprender a atirar facas e flechas tão bem quanto um guarda. Coloquei que tinha uma grande vontade de visitar algumas Cortes, e alguns lugares em particular. E entre outras coisas que eu preferia guardar para mim.

- O que tem nessa lista? - ele perguntou

- Não posso dizer, ela é muito pessoal - ergui minhas sobrancelhas e sorri de forma misteriosa, o que fez o macho apenas revirar os olhos para mim - Mas, a Corte Diurna estava nela se quer saber

Ele assentiu, voltando a sorrir um pouco. Ísis fez o mesmo.

- Coloque na sua lista a Corte Invernal, já estive lá um vez, também é muito bela - Ísis aconselhou

- Já coloquei - respondi, animada - Mas, vou precisar também colocar na lista que quero mais vinte casacos para conseguir ir até lá - soltei uma risada fraca

Ísis sorriu balançando a cabeça e Jasper balançou um pouco os ombros, com seus lábios se curvando um pouco para cima.

Com isso, me dei conta que havíamos voltado para o salão principal. E demos de cara com Lucien, Elain e Aurora. Eles pareciam esperar por alguém, mas não parecia ser exatamente por nós.

- Já estão conhecendo melhor o lugar? - Lucien começou perguntando, enquanto segurava a mão da filha. Eu assenti com a cabeça para ele - Precisam de algo?

- Está tudo bem, certo? - perguntei para Ísis e Jasper e ambos acenaram com a cabeça, então, eu me virei para Lucien novamente - A casa de vocês é muito linda

Lucien sorriu como forma de agradecimento.

Elain apenas mantinha o olhar gentil. Seu rosto parecia fácil de ler, mas na realidade, não era. Seus sorrisos doces eram sinceros. Mas, quando ela me encarava por tempo demais, era impossível saber o que ela pensava.

- Aurora queria perguntar algo para você, Primrose - Lucien disse, encorajando ela a falar

Aurora olhou para ele e para a mãe, e em seguida, para nós. A fêmea olhou para baixo, fazendo um beicinho, como se não soubesse exatamente como começar. Suas bochechas ficaram um pouco rosadas, talvez pelos olhares colocados nela.

- Eu só... - ela começou, baixinho, e me encarou - Queria saber se você já arrumou suas coisas, para nós podermos conversar. Mas, tudo bem se não arrumou ainda - ela juntou as mãos envergonhada

- Quero muito ver o que você tem a mostrar - meus lábios se levantaram em um sorriso sincero, e eu ofereci minha mão a ela

Aurora levantou a cabeça e sorriu de volta, tomando minha mão e a puxando. Ela começou a andar rapidamente, suas pernas eram ágeis apesar de curtas. Quase não tive tempo de me virar para Jasper e Ísis e acenar para ambos. Sabia que eles ficariam bem. E daquela forma, poderiam descansar, ou fazer o que preferiam.

Não demorou para que chegássemos ao jardim. E aquele lugar havia sido com certeza o meu favorito dali até agora. Aquele jardim era nitidamente bem cuidado, por alguém que claramente se preocupava. Inspirei, e senti o aroma delicado de todas as flores que se encontravam ali.

- Minha mãe quem cuida dele - ela disse, se virando pra mim - Você gostou? - ela perguntou com expectativa

Sorri para o lugar.

- É lindo - eu disse, observando a forma como a brisa balançava as flores e o Sol iluminava de forma perfeita aquele lugar - Pode certamente se comparar a um jardim de minha corte

Aurora pareceu orgulhosa por poder olhar para aquele lugar naquele momento e dizer que era seu.

Antes que começassemos a andar, retirei meus sapatos. Rory me encarou e fez o mesmo.

- Agora, podemos ir - eu disse, e ela pegou em minha mão e começou a puxá-la para frente

Aurora e eu começamos caminhando lentamente pelo jardim, e eu deixei que ela me explicasse sobre todas as flores e plantas que gostava. Sempre que ela falava de como ela e a mãe gostavam de fazer aquilo juntas, eu sorria melancólica. Porque rapidamente me recordava de minha mãe.

De quando nós caminhávamos juntas pelo jardim. Quando brincávamos de correr uma atrás da outra. Quando ela me deixava deitar em seu colo e lia um livro para mim. Ou quando me fazia coroa de flores.

Mas de qualquer forma, era bom ouvi-la falar. Nossas conversas não pareciam haver preocupação ou tensão de nenhum dos lados. E aquilo nos fazia sentir conforto.

- Onde está seu lírio que você disse que não crescia? - me recordei de nossa conversa na noite do baile

- Você lembra que eu disse isso? - ela me perguntou, levantando as sobrancelhas, como se não acreditasse que eu realmente me recordava

- Claro - respondi, soltando uma risadinha com sua feição surpresa- Por que não lembraria?

Aurora deu de ombros e começou a olhar para os próprios pés descalços enquanto eles tocavam na grama.

- Não costumam prestar muita atenção no que eu falo quando é sobre jardinagem - ela revelou, e pareceu claramente frustrada

- Bom - eu comecei, chamando sua atenção - Azar deles. Eu presto atenção - pisquei para ela, e ela sorriu

Continuamos caminhando e finalmente paramos quando Aurora indicou uma flor com a cabeça. Era de tom rosa bem claro, que combinava com o vestido que ela usava no momento.

- Aqui - ela disse, se ajoelhando na frente dela, e eu fiz o mesmo, apoiando minhas mãos em meus joelhos - Essa aqui eu plantei sozinha - ela disse com orgulho, mas ao olhar a flor ela pareceu ter se desanimado um pouco - Mas faz um tempo que ela está assim

De fato, a flor não parecia muito perto de desabrochar. E ver os olhos pidões de Aurora ao meu lado me fez tomar uma decisão sem pensar muito.

- Acho que posso dar um jeito novamente - pisquei para ela, e sua feição rapidamente se encheu de expectativa

Ergui minhas mãos até a flor, com as palmas na frente delas. Inspirei e soltei, sentindo o olhar esperançoso de Rory em mim.

Pensei na flor desabrochando. E senti a magia chegar até mim. Aquele arrepio que percorria meu corpo, enquanto a energia se concentrava. Vi a magia verde brilhante, como esmeralda, se acomulando em minhas mãos, e indo em direção a planta. Rapidamente, ela a alcançou e começou a envolvê-la, fazendo com que ela desabrochasse, mostrando suas lindas pétalas rosas.

- Obrigada, Prim - ela agradeceu, entusiasmo passando por sua voz e eu virei para ela - Como você faz isso?

- Não sei, na verdade - admiti para ela - Descobri que conseguia a um bastante tempo, mas nunca entendi como - expliquei, certamente confusa

- Eu queria saber fazer também - ela disse, olhando para a flor com um biquinho, depois ela se virou para mim - Isso te deixa cansada?

- Não - sorri fraco - Costuma fazer eu me sentir bem. Mas, não testei o suficiente para ter certeza disso - falei um pouco frustrada

Aurora se levantou depois de alguns segundos, ansiosa. Ela segurou minha duas mãos para que eu também me levantasse também.

- Posso te fazer uma coroa de flores? - ela perguntou, olhando diretamente para mim, começando a andar de costas - Minha mãe me ensinou e... - escutei um barulho abaixo de nós, e Aurora parou de falar e arregalou os olhos, olhando para baixo

Segui seu olhar, e eles foram direto para os pés descalços de Aurora que agora estavam não na grama, mas enterrados na terra molhada, ficando completamente sujos, começando a se enterrar cada vez mais ali. Provavelmente, ali elas plantariam mais alguma planta ou flor, mas no momento havia apenas terra.

Olhei para o rosto dela e ela estava com a boca levemente aberta, com os seus olhos frustrados e até mesmo envergonhados ao mesmo tempo. Ela ficou parada alguns segundos, e seu olhar ficou desapontado.

Sem pensar muito, e sem deixar que ela sequer levantasse o olhar para mim, pulei em cima da terra junto dela, fazendo com que a sujeira se espalhasse mais ainda. Ela levantou a cabeça, com os olhos arregalados.

- Não foi de propósito - sorri inocentemente, chutando um pouco da terra nela

- Prim! - ela exclamou, vendo que eu havia jogado terra em seu vestido

Cobri minha boca com a mão, escondendo o riso e o rosto surpreso. Quase pedi desculpas naquele momento, mas não demorou nem um segundo para ela sorrir, e fazer o mesmo em mim.

Não costumavam deixar eu nem mesmo cuidar do jardim sozinha, porque diziam não ser algo apropriado para eu fazer. Me ajoelhar na terra e sujar minhas mãos e unhas. Se eu quisesse alguma flor, ou planta, deveria pedir para alguém que já cuidasse do jardim.

E ali estava eu. Pegando a terra com a mão e brincando com ela como uma criança de sete anos. Mas... Por um momento foi como se minha mente tivesse apagado todo e qualquer problema. Ela se esqueceu da Corte, se esqueceu de qualquer história de casamento que batucava em minha cabeça nos últimos tempos, esqueceu o que qualquer um acharia daquela cena que não parecia muito apropriada para uma dama. E eu me senti tão leve... Como se nada importasse de fato.

{Nyx}

Os últimos dias haviam sido inquietantes. Sentia aquilo porque meus pais pareciam sentir também.

Meus pais sempre foram bons em esconder o que sentem. E com o passar do tempo, fiquei tão bom quanto eles. As máscaras que usávamos na Corte dos Pesadelos de vez em quando, não caiam totalmente. Era ruim fingir ser algo que você não era, e difícil não se perder em você mesmo enquanto faz isso.

Eles me diziam que não deveria usar aquela máscara com eles. E nem com nossa família. Que aquilo não era necessário. Mas, de vez em quando, acabava a usando. E fiz isso durante aqueles dias. A energia já parecia um pouco tensa e não queria que piorasse.

Decidi ir treinar com meu tio Cassian. Já fazia um tempinho em que eu não treinava apenas com ele. Havia sido assim que eu tinha começado. Desde pequeno, tinha sido Cassian e Azriel que haviam se responsabilizado pela parte do meu treinamento. Isso nem sempre era bom para mim, porque ambos conheciam todos os meus pontos fracos.

No meio do treino, o mesmo me deu uma pausa, dizendo que eu estava muito estressadinho, e não estava pensando direito na batalha. Não sabia exatamente onde minha mente estava, ou o que ela queria me dizer. Sabia que ele estava certo, mas aquilo me deixou apenas mais agitado.

Voei para casa irritado, e assim que cheguei em meu quarto me joguei na cama bufando. Fiquei encarando o teto por alguns minutos, antes de eu ouvir a porta sendo aberta, e eu cobrir meu rosto com as mãos.

A pessoa entrou, e eu facilmente reconheci seu cheiro. Ela se sentou em minha cama soltando um suspiro. Senti suas mãos em meu cabelo, e tirei minhas mãos do rosto.

- Por onde anda sua mente atualmente, morceguinho? - a voz de minha mãe saiu delicada

- Morceguinho, mãe? - perguntei, encarando seus olhos acinzentados como os da minha tia Nestha - Não sou mais criança - sorri, ao me dar conta de que fazia um tempinho que ela não me chamava daquela forma

- Para mim, sempre será - ela beijou minha bochecha - Meu morceguinho - ela voltou a fazer carinho em meus cabelos, e soltou um suspiro - Você está bem?

Demorei alguns segundos para responder, e me sentei.

- Estou - disse apenas, saiu como um suspiro cansado

- Cassian me contou que estava um pouco tenso no treino - ela ergueu uma sobrancelha

- Cassian me irrita - retruquei rapidamente

- Cassian irrita qualquer um - ela acrescentou, piscando para mim - Mas eu te conheço, e sei que não é assim - ela me olhou com ternura - Quer conversar?

Respirei fundo e soltei, não sabendo exatamente o que dizer, ou se queria dizer.

- Só estou um pouco preocupado com tudo - admiti, olhando para o chão, como se fosse encontrar alguma resposta ali - Acho que essa história de reunião, e tudo que envolve ela vem tomando conta dos meus pensamentos. E... Não sei explicar

Nunca me preocupei muito com a reunião dos Grão-Senhores. Sempre fui ensinado a como me portar nesse tipo de situação, então elas não costumavam me preocupar. Não me deixavam ansioso ou nervoso.

Mas aquela, por algum motivo, me deixou estressado e atormentado pelos meus pensamentos.

Ela assentiu compreensivamente, e colocou uma mão em meu ombro.

- Seu pai e eu vamos tentar manter tudo sob controle e não deixar que as coisas esquentem demais - ela prometeu - Sei que está preocupado, e admito que eu também estou um pouco tensa. Mas eu, e principalmente seu pai, fazemos isso à bastante tempo, sabemos como lidar

Assenti para ela, tentando manter o rosto sereno. Mesmo assim, eu ainda me preocupava com a forma de como as coisas acabariam. E apesar dela tentar me confortar, não consegui relaxar completamente, principalmente, tendo sentido nos últimos dias com uma certa frequência um puxão, daquele bendito laço.

- Vamos para a Corte Diurna hoje mais tarde - ela avisou, depois de passarmos algum tempinho em silêncio, muito concentrados em nossos próprios pensamentos - Primrose estará lá também

Apenas a olhei, franzindo as sobrancelhas. E antes que eu pudesse sequer pensar em algo, ela disse:

- Aurora gostou muito dela. E foi um jeito que nós encontramos de fazer com que Tamlin fosse com certeza. Lucien, Elain e Helion não se importaram em recebê-la, por ambos os motivos - ela explicou, e depois me encarou com mais intensidade - Só precisamos saber se você quer ir conosco hoje. Ou se prefere ir depois. Não se sinta pressionado em ir agora. Pode ir depois com o resto da família ou...

Antes que ela pudesse concluir, eu a cortei, sem pensar muito para responder.

- Eu vou com vocês

{Primrose}

Encarei meu vestido, que uma vez havia sido lilás, e agora estava completamente coberto de terra, assim como meus braços e pernas. Mas, não consegui me preocupar muito com isso quando virei para Aurora, e a mesma se encontrava em um estado parecido. Ela sorria abertamente, então só consegui fazer o mesmo.

Quando finalmente nos cansamos de jogar terra uma na outra, nos sentamos na grama. E ficamos acompanhando o Sol se pôr lentamente.

Consegui ver Elain de longe, vindo em nossa direção. Quando conseguiu nos enxergar melhor, a fêmea acelerou os passos, com uma feição confusa, e ao mesmo tempo até preocupada. Nesse momento, eu me levantei, passando a mão por meu vestido, o que apenas fez com que ele sujasse mais.

- Meninas - ela chamou, quando se aproximou, e nos olhou com a testa franzida - O que aconteceu?

Tentei responder algo. E olhei para Aurora, que ainda estava sentada na grama, e ela retribuiu o olhar. Ao invés de fazer um rosto tenso e preocupado, ela sorriu, não apenas sorriu, como começou a gargalhar. Ela tapou a boca com uma mão para parar, mas parecia não conseguir. Soltei uma risada também, aliviando meu rosto tenso, não sabendo o que fazer.

Enquanto Aurora sorria reparei algo que me deixou intrigada. Parei de rir no mesmo momento, extremamente confusa. Era como se sua pele estivesse começando a brilhar. Rory parecia um pequeno raio de Sol. E o brilho só se intensificava conforme ela ria.

- Está brilhando, filha - Elain sorriu, acompanhando o riso da filha. Ela me olhou, e deve ter reparado feição perdida - Isso acontece involuntariamente quando ela fica muito feliz, Lucien faz isso também - ela me tranquilizou, e eu virei meu rosto, sorrindo para Rory.

Eu havia feito ela brilhar.

- Bom, não sei o que aconteceu aqui, mas sugiro que as duas vão direto para o banho - Elain aconselhou, e eu assenti com a cabeça

Percebi que ela falaria mais alguma coisa direcionada a mim. Mas, Aurora foi mais rápida.

- Tia Feyre chegou, mamãe? - ela perguntou, levantando

Minha feição caiu ao ouvir aquilo, e pensei que havia escutado errado. Encarei lentamente Aurora e em seguida, Elain.

Elain comprimiu os lábios para Aurora. Como se ela quisesse ter avisado aquilo antes que a filha pudesse. Ela se virou lentamente para mim, e disse:

- Minha família vai vir um pouco antes da reunião também - seu tom de voz era tranquilo e suave

Eu não diria nada. Aquela era a casa deles, eles poderiam chamar quem quisessem, além disso, eles eram uma família. Mas aquilo não evitou fazer com que eu engolisse em seco.

Rapidamente pensei em meu pai. E sabia que se ele descobrisse que a Corte Noturna estava ali, provavelmente iria querer que eu fosse embora no mesmo momento. Isso fez com que eu apertasse minhas mãos ansiosamente, temendo que de alguma forma ele descobrisse.

Mas, naquele momento eu apenas segurei uma respiração pesada, e tentei sorrir fraco, assentindo com a cabeça para elas.

{Nyx}

Assim que cheguei à Corte Diurna, senti o laço presente. Ele vibrava, parecia saber que ela estava ali, e queria incontrolavelmente me levar até a fêmea. Fiz de tudo para apenas permanecer onde estava, e acalmar todo e qualquer instinto.

Cumprimentei Helion e meus tios. Não demorou muito para meu pai perguntar onde a herdeira da Primaveril se encontrava. Eles disseram que Primrose estava no jardim com Aurora. Fiquei aliviado por ele ter perguntado, porque eu não queria fazer aquela pergunta. Eles não sabiam de nada. Então, me mostrei indiferente em relação aquilo durante todo o momento.

Disse que iria até o quarto quando notei que eles pareciam querer conversar sobre a reunião com um pouco mais de privacidade, não me importei muito, talvez ouvir aquilo me deixasse mais inquieto.

Sempre dormia no mesmo quarto quando passava a noite ali. Então, já sabia o caminho de cor. Parei onde estava quando senti meu coração palpitar de repente, e ouvi uma risada melodiosa atrás de mim. Um som que fez meu estômago se apertar, mas a sensação não era ruim. Senti um puxão no meu peito. Um puxão de excitação, animação e êxtase. Dei alguns lentos passos para frente.

Primrose.

Ela virou o corredor com um enorme sorriso no rosto, e um olhar iluminado.

Mas o que me chamou atenção no mesmo momento foi o fato dela estar coberta do que eu achava que era lama. Seu vestido que uma vez parecia ter sido lavanda, agora estava todo surrado e cheio de terra.

Já havia visto ela com grandes vestidos de baile, com o cabelo arrumado, com a pele sem sequer um defeito. Sem um fio de cabelo para o lado errado. Mas, naquele momento, quando captei seu sorriso bem aberto, pensei, comigo mesmo: Primrose seria sempre bela. E não precisaria se esforçar. Ela apenas era.

Seu grande sorriso pareceu ter perdido o brilho ao me encarar. Sua boca se abriu e fechou um pouco.

- Boa tarde, princesa - cumprimentei, e ela engoliu em seco - Não vai me desejar uma boa tarde também?

Suas sobrancelhas se franziram rapidamente, como se ela se concentrasse em algo. E eu rapidamente notei o que ela fez. Ergueu os escudos mentais. E eu sequer tentei tocá-los ou penetrá-los.

E aparentemente contra sua vontade, ela disse:

- Boa tarde - sua voz fria, em comparação a risada que havia conseguido me aquecer

Mordi meu lábio ao encará-la de cima a baixo, e prestando mais atenção, eu tive que me segurar para não dizer nada.

Ela levantou a postura, juntando as mãos na frente do corpo. Como se não importasse como ela parecia naquele momento ou como ela estava se vestindo. Ela não deixaria sequer uma brecha para eu dizer algo dela.

- Não sabia que jardinagem acabava assim - comentei, olhando para seu vestido e sorrindo de canto - Muitas flores foram plantadas hoje? - ergui uma sobrancelha, claramente zombando da mesma

Ela apenas me encarou, erguendo uma sobrancelha, mostrando que não havia achado humor em lugar nenhum de minhas palavras.

- Ergueu os escudos - disse, ainda sorrindo fraco

- Bom, da última vez que não fiz isso, não gostei muito do que aconteceu - ela retrucou quase imediatamente, seu tom parecia conter além de raiva, insegurança

Abaixei meu olhar rapidamente, sentindo meu sorriso sumir.

- Veio por conta da reunião? - decidi mudar de assunto. Ela apenas assentiu, franzindo um pouco o cenho - Fiquei sabendo que Aurora quis que você a visitasse antes - disse, intrigado na verdade. Aurora costumava estar sempre quieta. E não se sentia confortável com muitas pessoas envolta, principalmente com as que ela não conhecia - Sabe, Aurora deve ter um bom motivo para gostar de você - sorri fraco

- Por que não entra na mente dela também, e descobre? - ela devolveu quase imediatamente, erguendo as sobrancelhas. Quando eu não respondi, ela apenas olhou para baixo e em seguida para mim - Poderia me dar licença? Ou tem mais alguma coisa a dizer?

Minhas sobrancelhas se levantaram de forma quase imperceptível. Neguei firme com a cabeça. E me coloquei de lado, para que ela passasse. Seus passos foram acelerados, e ela saiu sem sequer me olhar.

Eu a vi se distanciando, ela virou um pouco a cabeça, para conferir se eu ainda estava ali. E quando me viu, virou rapidamente a cabeça para frente novamente, tentando disfarçar, e pareceu acelerar mais os passos, e dessa vez não olhou para trás novamente.

Um sentimento ruim rapidamente tomou conta de mim. E não demorou muito para eu indicar qual era. Culpa. Mesmo que eu e Primrose não tivéssemos nada, eu estava fazendo um péssimo trabalho em tentar fazer com que ela aceitasse minha presença. Dizer e dizer que não me importava, era uma bela porcaria. Pois por mais que eu tentasse, não conseguia... Me convencer disso.

{Primrose}

Depois de passar horas no banho até sentir minha pele enrugar, decidi começar a me vestir. Pensava em como talvez fosse um erro eu continuar ali. E talvez fosse um erro eu ter aceitado ir. Vê-los fazia meu estômago apertar. Além do mais, precisaria estar a cada minuto me preocupando em erguer os escudos.

Enquanto eu tentava arrumar meus cabelos sozinha, ouvi Ísis abrindo a porta. Seus olhos brilhantes pareciam conter indignação e ao mesmo tempo irritação.

- Primrose - ela começou, quase como um suspiro - Se Amélia visse o estado de seu vestido, provavelmente sofreria um desmaio - ela disse, e eu não consegui segurar um sorriso ao pensar em Amélia ali

- Desculpa - pedi, voltando a ficar séria, porque meu riso fez com que ela rapidamente me encarasse de olhos semicerrados - Me animei com a jardinagem - respondi, não sabendo exatamente como justificar aquilo

Ela balançou a cabeça negativamente e se aproximou de mim, indicando com a mão que eu a entregasse a escova de cabelo.

- Se vocês duas se empolgarem novamente com a jardinagem amanhã, acho que vou preferir ficar bem longe daqui - ela brincou, e murmurando mais um pedido de desculpas. Então ela continuou com um suspiro, mudando de assunto - Acho que servirão o jantar daqui a pouco

Não a respondi de início, demorou alguns segundos para eu perguntar:

- Será que eu posso jantar no quarto?

Ela pareceu confusa pelo reflexo do espelho.

- Acredito que sim - ela disse, perdida, e eu apenas assenti. Mesmo assim, ela pareceu não se segurar, e perguntou - Posso perguntar o porquê?

- Estou cansada - respondi, olhando para baixo - Quero me deitar cedo - expliquei, tentando não abrir espaço para mais perguntas

Mas não era exatamente aquilo. Eu sabia que teria que jantar com eles. E eu não queria jantar. Não queria fingir que gostava de me encontrar naquela situação. Não queria ter que ficar a cada segundo achando que alguns deles estavam tentando ouvir meus pensamentos. Não queria vê-los olhando para mim. Eu já sentia olhares em mim o suficiente o tempo todo. Não queria ter aquela sensação ali.

- Oh, certo - ela assentiu, afirmando com a cabeça - Vou pedir que tragam o seu jantar, e deixar você descansar - ela garantiu, parecendo convencida, e em seguida soltou um sorriso nostálgico - Tenho uma irmã mais nova, e eu entendo que crianças energéticas cansam, de fato

Havia jantado sozinha no quarto, perto da janela, olhando para o céu. Foi como se mesmo tentando ficar longe, a noite quisesse me acompanhar.

Ísis tinha deixado a comida para mim, sem eu sequer dizer nada, ela pareceu ter percebido que eu precisava ficar um tempinho sozinha. E de alguma forma, ela parecia ter realmente acreditado que eu estava cansada. Jasper também não apareceu mais, pensando também que eu estava exausta. Nesse momento, me senti mal por mentir para ambos.

Agora, eu estava deitada naquela cama enorme, vestida em uma camisola branca e esperando o sono tomar conta de mim. Movi meu travesseiro diversas vezes, e me coloquei em várias posições diferentes, mas nada pareceu funcionar.

Foi quando ouvi batidas fracas na porta, quase inaudíveis, que eu tive que me sentar e erguer meu pescoço para direção da porta para ter certeza de que havia as escutado. Me levantei lentamente e abri a maçaneta.

Meu olhar caiu e eu vi Aurora. Já vestida com seu pijama. E notei que ela carregava algo nas mãos, e a escondia atrás do corpo. Ela fez uma feição culpada quando me encarou.

- Desculpa, você já estava dormindo? - ela perguntou, baixo

- Não - neguei com a cabeça, e sorri - Estava tentando na verdade, mas não consegui

Ela assentiu em compressão.

- Me falaram que você estava cansada para sair, mas, eu... Ouvi você dizer que era a primeira vez que passava uns dias fora de casa - ela disse rápido - Então, eu te trouxe uma coisa - ela tirou as mãos de trás das costas e mostrou o que carregava: um livro - Meu pai lê para mim quando eu não consigo dormir, eu pensei que pudesse te ajudar também

Sorri com sinceridade por conta de sua ingenuidade.

- Muito obrigada, vai me ajudar com certeza - agradeci, e ela me entregou o livro, o encarei e tive uma ideia- E se a gente lesse agora? Posso ler para nós

- Mas você não está cansada? - ela perguntou baixinho, olhando para os pés e em seguida para mim

- Acho que consigo ler um capítulo ou dois para nós - disse, abrindo mais a porta do quarto

Aurora sentou na cama ao meu lado, encostada em um travesseiro macio. Coloquei um lençol em cima de nós e abri o livro para começar a lê-lo. Era claramente um livro infantil. Mas não me importei muito. A história era na verdade bastante agradável.

Comecei a fazer algumas vozes diferentes para os personagens, o que fez Rory rir.

Mas quanto mais eu lia, mais sentia o sono chegando em mim. E não passou muito tempo para eu ver a fêmea ao meu lado começar a esfregar os olhos. De repente, senti o peso da cabeça de Aurora caindo em meu ombro. Me movi um pouco para vê-la.

Ela parecia dormir tão tranquilamente que não tive coragem de acordá-la. Então, apenas fechei o livro. E comecei a sentir meus olhos se fechando também, e tomei um belo susto quando ouvi algumas batidas na porta.

Para que as batidas não ficassem mais altas e acordassem Aurora, me levantei rapidamente. Movendo delicadamente a menor ao meu lado, e colocando sua cabeça no travesseiro.

Quando eu abri a porta, me deparei com o Grão-Senhor da Corte Diurna. Ele rapidamente conseguiu enxergar Aurora deitada na cama, completamente apagada.

- Sinto muito, Primrose - ele pediu no mesmo momento - Nem acredito que a pestinha finalmente dormiu. Ela ficou o jantar inteiro perguntando se poderia vir aqui.

- Não tem problema - o tranquilizei, sorrindo fraco

Abri a porta para que ele pudesse entrar. O macho pegou Aurora nos braços, de forma lenta e delicada, e ela sequer deu indícios que despertaria. Parecia ter um sono pesado.

Continuei parada perto da porta, e a abri completamente para que ele pudesse passar com ela sem complicações.

- Obrigado - ele agradeceu ao passar pela porta, e em seguida me encarou, sorrindo. E naquele momento ele sorriu para mim da forma mais verdadeira - Boa noite, Primrose

- Boa noite - respondi, e o vi se afastar, e sumir completamente pelo corredor

Minha cabeça se virou quando eu ouvi um barulho do outro lado do corredor. Sai do quarto, dando alguns passos para aquela direção. Percebi que o barulho que havia escutado, eram passos também. Recuei um pouco e sem demoras, a pessoa foi revelada.

Era o herdeiro da Corte Noturna. Ao notar, desejei ter ficado em meu quarto.

Conferi se meus escudos estavam levantados, e fiquei mais relaxada quando me convenci de que sim. Mas, minha tensão voltou quando ele rapidamente passou os olhos por mim, e eu lembrei que ainda vestia minha camisola. Cruzei meus braços rapidamente na frente do corpo, e sem mais ou menos, tentei voltar para o quarto. Certa de que já estava corada.

- Primrose - ouvi a voz rouca do macho me chamar. O que me fez virar foi perceber a forma como meu nome havia saído de seus lábios. Sem nenhuma intenção de zombaria, ou de sarcasmo - Tenho algo seu - foi apenas o que ele disse

Parei onde eu estava, com a mão no batente da porta, dando tempo para ele se aproximar. Minhas sobrancelhas franziram, de forma confusa.

Ele ficou atrás de mim, e eu o encarei virando meu pescoço. O vi mexer no bolso de sua calça preta, e o que ele tirou dali fez meus olhos brilharam, e me fez virar o corpo inteiro para ele. Me aproximei um pouco tentando ter certeza de que o que eu encarava era real.

- Meu colar - murmurei, ao ver novamente aquela pedrinha verde que já era familiar para mim

Ele assentiu fraco com a cabeça, levantando o colar perto do rosto e o observando com curiosidade e atenção.

- O que fazia com ele? - perguntei, o olhando com desconfiança

Ele suspirou.

- Seu... lobo, Fenris, que o trouxe para mim naquele dia que nos vimos na floresta - ele explicou, e eu olhei para baixo, me lembrando. Nyx lentamente passou por mim, fazendo com que eu ficasse de costas para ele. O macho passou o colar por meu pescoço, e eu encarei a pedra verde que agora balança perto de meu rosto. Ele estava prestes a tirar meu cabelo da minha nuca para fechar o cordão quando eu pareci ter saído de meu transe

Puxei o colar com a mão, antes que ele pudesse terminar. Me virei para ele, o encarando de frente novamente.

- Obrigada - agradeci baixo e hesitante, apertando a jóia em minha mão

O macho na minha frente sorriu fraco.

- Não agradeça - ele dispensou, e em seguida, seu riso rapidamente voltou a ser aquele que eu já havia visto outras vezes - Está vendo? Não sou tão ruim assim

- Você apenas devolveu o que não era seu - ergui uma sobrancelha - Fez algo muito simples, na verdade

Ele deu de ombros, murmurando algo como "tudo bem".

Quando ele notou que eu não havia tranquilizado minha feição, a sua também ficou um pouco mais intensa. Como se agora ele pensasse em algo importante. Ele me fitou com seus olhos azuis intensos em mim.

- Aquele dia em que eu estava em sua Corte, na floresta - ele começou, calmo mas firme - E eu fiz aquilo com sua mente... Não quis te deixar-

- Não importa - o cortei dura, antes que ele pudesse terminar - Não quero problemas com você ou com sua família - disse, sem mostrar um pingo de insegurança em minha voz

- Aurora...? - foi apenas isso que saiu de seus lábios, quase como um sussurro, mas eu entendi rapidamente o que ele queria dizer

- Com Aurora é diferente, e é óbvio - disse, como se não lhe devesse mais explicações, porque realmente não devia. E antes que ele pudesse contra argumentar eu continuei - Você se importa mesmo com isso? - perguntei, semicerrando os olhos, mostrando que aquilo tudo não fazia sentido para mim. Não fazia sentido ele ter visitado minha corte naquela noite, nem ter dançado comigo no baile, muito menos o dia da floresta. E agora, não fazia sentido ele estar ali - Qual a diferença se eu não gostar de você?

Ele pareceu hesitar. E depois de me encarar por um longo período de tempo, seu rosto ficou mais inexpressivo. Não saberia dizer o que ele pensava de forma alguma.

- Nenhuma... - ele balançou de forma leve a cabeça, com suas sobrancelhas tensas - Não importa

- Então, - juntei minhas mãos na frente do corpo, ajeitando minha postura - Acho que já nos resolvemos, senhor

Naquele momento, ele riu com escárnio, olhando para cima e depois me voltando seu olhar para mim.

- Senhor? - ele perguntou, como se tivesse escutado errado - Sério? - ele ergueu uma sobrancelha

- Não tenho menor intenção de ultrapassar qualquer formalidade com você - expliquei calmamente, sem querer me alterar - Boa noite - disse, antes de passar por ele, e ir em direção a porta do quarto, onde eu deveria ter ficado

Entrei no cômodo, e me virei para fechar a porta, encarando o macho que estava de costas para mim.

- Então, continuará tendo as refeições no quarto para nos evitar durante os próximos dias? - sua pergunta me pegou de surpresa, e eu hesitei antes de fechar a porta, sentindo meu coração acelerar

Ele girou os calcanhares, e um meio sorriso quase subiu em seus lábios.

- Eu não me importo com o que vocês pensam sobre isso - disse firme, apesar de sentir que minha voz ter tremido de forma quase imperceptível - Não me importo com vocês de forma nenhuma

Ele deu dois lentos e dolorosos passos em minha direção.

- Se não se importa de verdade com o que se passa por nossa mente, vai se sentar conosco. E não ficar se escondendo. Isso apenas mostra o quão preocupada está com o que achamos de você - ele disse, colocando as mãos por dentro dos bolsos, deixando seu sorriso finalmente aparecer. Minha respiração se prendeu, e não disse mais nada, por mais que eu sentisse vontade de retrucar. Ele riu nasalmente - Boa noite, loirinha - ele piscou, e umedeceu os lábios ao me encarar uma última vez, atravessando para longe em seguida. Me deixando ali parada. Encarando agora o corredor vazio, com um suspiro envergonhado preso em minha garganta

---------

Oioi gente! Como vocês estão?

O que acharam do capítulo? Teorias?

Minhas últimas semanas foram uma loucura, não tive tempo e nem cabeça para escrever. Mil desculpas. Espero que o capítulo longo possa recompensar vocês. E meu Deus do céu, vocês haviam dito que gostavam de cap longo, esse ficou super longo kkkkkkkkkkk

Não se esqueçam de votar, e comentar muito!

Desculpa qualquer erro.

Percebi que ainda não trouxe o Nyx, e juro que vou trazer kkkkk, mas, hoje eu trouxe a Ísis:

O que acharam?

Beijinhos<3

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