Viúva Negra | L.S

By the_noemimutti

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Todos homens temiam seu nome. Idolatravam sua postura. Seguiam suas regras. Harry Styles era o braço direito... More

A Jornada Começa Aqui
01. Homem de Princípios
02. A Morte dá Tchau
03. Desafiando o Diabo
04. Quebrando a Banca
05. Louvado seja Satã!
06. A Deusa da Morte
07. Súplicas Perdidas
08. Fogo Cruzado
09. Com Unhas e Dentes
10. Lar Maldito Lar
11. O Pai da Mentira
12. Flores Álcoolicas
13. Onde Judas Morre Antes
14. Sob Rédeas Curtas
15. O Lobo Atrás da Porta
16. O Verdadeiro Alfa
16,5. Nargot
17. De Frente com o Diabo
18. Vestíbulo do Inferno
19. Chamas na Escuridão
20. Incendiado
21. Jardins da Babilônia
22. Deus e o Diabo na Terra do Sol
23. Corrida Contra o Tempo
24. Eu te Devoro
25. Entre a Cruz e a Espada
26. O Rei Renasce
27. O Caos que nos Une
28. Quando a Luz Toca
29. A Solidão Que Nos Habita
30. Você Vai Me Destruir
31. Imortais & Fatais
32. Doce Criatura Cruel
33. Tudo por Amor
34. Como Atlas
35. Lobo em Pele de Cordeiro
36. Anaconda
38...otário não se mete
39. Encruzilhadas
40. Bonnie & Clyde
41. De Volta ao Jogo
42. Romeu & Julieta
43. As Rosas Não Falam
44. Demônio Noturno
45. A Fúria
46. A Toca do Coelho
47. Afrodisíaco
48. Xeque-mate
49. Eu Sobre Mim Mesmo
50. O Amor Que Nos Destruiu

37. Em conversa de malandro...

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By the_noemimutti

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Leiam com "Middle Of The Night - Elley Duhé"

Se tiver algum errinho, me perdoem! To sem beta hoje e morrendo de sono. Não está tão polido como usualmente.

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Alerta de gatilho: menção a violência física e abuso psicológico.

Tenham uma boa leitura, y'all.

"Gostaria que o resto das pessoas com quem dividimos o planeta correspondesse às suas expectativas. Mas elas não estão à altura. O mundo é cruel, e ninguém está disposto a estender a mão a ninguém."

— Os Sete Maridos de Evelyn Hugo.

HARRY EDWARD STYLES - P.O.V

Louis deu a última estocada antes de sair de dentro, me deixando com a respiração ofegante e as pernas tremendo.

Eu estava mortalmente cansado.

Meus olhos se fechavam, totalmente extasiados pelo sexto orgasmo do dia desde que começamos novamente após a noite toda sem pausas. Agarrei a fronha, relaxando meu corpo e sentindo o sono me abraçando aos poucos com beijos suaves e delicados, me convidando a me entregar a inconsciência.

— Ei, H, vamos tomar banho. Depois você dorme — chamou Louis, porém eu não tinha força nas pernas depois do jeito bruto que ele tinha me comido.

— Hm...

— Hmm nada. Pode parar de ser fedido e vem — ordenou mandão e eu ri fraco, sem nem me dar o trabalho de abrir os olhos.

Louis se ergueu em um dos braços, delineando meu rosto e em seguida parou em minha boca, deixando um selar breve.

— Está tudo bem? — perguntou preocupado.

— Sim.

— Te machuquei?

— Nada que eu não quisesse e fosse fora dos padrões da nossa foda — dei de ombros, agarrando o travesseiro e fazendo uma careta pelo cheiro de sexo. — Precisamos trocar os lençóis.

— Eu troco. Vai lá tomar banho.

Eu nem tentei questioná-lo sobre a doçura tão estranha a sua pessoa e caminhei mancando até o banheiro, tomando uma ducha rápida e quase dormindo no box mesmo. Meu lobo tinha esgotado todas as energias suprindo as necessidades de Louis que parecia três vezes pior que da maioria dos ômegas.

Coloquei uma calça de moletom e nada mais, escovando meus dentes e me sentindo mais sonolento ainda, voltando ao quarto com os lençóis já trocados e limpos. Louis devia estar tomando banho no banheiro de hóspedes, então sem esperar, me deitei e agarrei os lençóis gelados e me enrolei.

Antes de apagar, lembro-me vagamente de um sussurrar bem lento no pé do meu ouvido:

Me desculpe, H. Me desculpe.

***

Os toques eram suaves como pluma, dedilhando desde a minha sobrancelha até a ponta do meu nariz, me arrancando uma risada.

— Bom dia, amor — saudou com doçura, os olhos repletos de uma leveza que me fez sentir acolhido e amado.

— Bom dia, lobinho — respondi no mesmo tom, abraçando a cintura do ômega que se encolheu contra os meus braços.

Ele tinha um cheiro tão envolvente que me peguei com o coração na boca, acelerado daquele jeito que só Louis deixava quando era o namorado mais incrível do mundo.

— Você solta um apito estranho no nariz — comentou da sua forma sem papas na língua, beijando a pontinha do lugar referenciado. — É lindinho.

O encarei de uma forma que jamais fitei outra pessoa, sendo retribuído com afeto mútuo. Eu era incrivelmente apaixonado por ele.

Em cada traço.

— Eu te amo, Harry — ciciou antes de selar meus lábios com paixão.

— Eu também te amo, Louis.

Acordei do sonho com um piscar sonolento, me habituando à escuridão que me cegava momentaneamente. As lágrimas banharam meus lábios e eu fiquei mergulhado naquele sonho bom demais para ser verdade, nem me dando conta que chorava enquanto dormia.

Chutei que era umas três horas da tarde, já que eu e Louis só paramos de transar quando desmaiamos por exaustão. O laço parecia nunca se cansar de ser consumido, porém a nossa matéria já estava cansada o suficiente.

Não me atrevi a limpar as lágrimas, deixando que descarregasse pela água tudo o que eu sentia. Sem a adrenalina por perto, eu tive que encarar realmente o que tinha acontecido dentro das últimas vinte e quatro horas.

Virei de barriga para cima, sentindo a respiração de Louis em meu pescoço totalmente inconsciente e envolto daquela nuvem de sonolência. Tínhamos acabado com quase todos os cômodos da casa. Transamos na sala, cozinha, banheiro, no quarto e depois na sacada antes de apagarmos na cama ao encostar no tecido macio.

O rosto dele estava tão relaxado que eu me vi perdido em cada traço seu, fechando os olhos e imaginando que estava naquele sonho gostoso de novo, mas ao abrir minhas orbes, tinha apenas Louis e suas cicatrizes que o impediam de ser assim.

Levantei da cama, caminhando até o banheiro meio mancando, sentindo todo meu corpo parecer protestar ao quanto eu estava dolorido e tinha feito um esforço além do necessário. Deixei a porta entreaberta, já que Louis poderia precisar de alguma coisa. Abri a torneira da banheira e coloquei sais, analisando meu corpo totalmente marcado e sodomizado.

Meu pescoço tinha mordidas fortes e profundas, arranhões, chupões e vergões na pele branca. Parecia que eu tinha sido atropelado, e eu ri.

Estava uma cena caótica.

Entrei na banheira morna e soltei um suspiro de alívio ao relaxar meus músculos, sorrindo em deleite quando a dor dissipou um pouco. Mergulhei na água, sentindo minha cabeça pesar menos e me dar mais clareza do atual momento, empurrando o sono para longe e me deixando ali mergulhado naquela calmaria.

— Cacete — praguejei ao sentir uma pontada quando me sentei, ponderando se deveria tomar algum relaxante muscular. — Acho que passamos do limite.

Ri baixinho, porém aquela risada misturada a uma gargalhada se tornou um choro tão sentido que eu sabia que tinha chego ao meu nível de esgotamento mental. Tudo o que aconteceu pareceu vir diante dos meus olhos como flashes, e eu não poderia fazer nada senão respirar fundo e deixar o choro vir.

Mergulhei de novo na água quente e esfreguei os cabelos com o xampu que tinha ao lado, o cheiro de baunilha misturado a um cosmético caro me deixando totalmente relaxado. Bocejei, o sono sendo mandado ao compasso que eu ficava mais limpo.

Assim que terminei, apoiei meus braços na borda da banheira grande e funda com chão de mármore preta, descansando meu queixo em cima do antebraço. Não pude conter as lágrimas que desceram ao decorrer do percurso, minha mente parecendo um turbilhão de pensamentos conflitantes.

Me sentia flutuar. Não exatamente triste, só... ali.

— Harry? — Escutei uma voz sonolenta à minha procura, sem forças para responder. — Styles?

— Aqui — murmurei roucamente, limpando as lágrimas e jogando um pouco de água em meu rosto.

Louis apareceu na porta segundos depois com minha camiseta social preta e o cabelo bagunçado, coçando os olhos. Minhas marcas pareciam tatuagens em sua pele juntamente com algumas mordidas que já cicatrizavam.

Absurdamente lindo.

E filho da puta.

— Oi — sorriu sem jeito.

Depois da adrenalina de todo aquele sexo e ódio impensado, movido pelos instintos do lobo e principalmente pela nossa necessidade de consumar o laço, parecia tão... estranho ter ele ali diante de mim. Sem toda aquela dose de adrenalina, eu pude pensar o que realmente aconteceu entre nós durante aquelas horas.

Louis me tratou como objeto e me descartou, e fazendo exatamente o que ele inferiu, eu me tratei como objeto ao instigar sua raiva usando meu corpo para isso, como se confirmasse que a autoridade dele servia de algo.

O que um lobo poderia fazer por conta da raiva, não?

Me sentia decepcionado de ponta a ponta. Tanto comigo, quanto com Louis. E eu não sabia dizer qual dos motivos estava me matando mais.

— Olá — respondi curto.

— Hã... — Era até engraçado ver ele todo sem jeito. — Posso... entrar?

Dei de ombros, não me importando nenhum pouco.

Tomlinson tirou sua roupa com rapidez, fazendo uma careta de desconforto ao caminhar até a banheira e mergulhar. Não me virei para ele novamente, só continuei apoiado na borda e encarando a parede como se fosse a maior atração daquele momento.

Uma vela não ilumina uma favela, mas vai iluminar o caminho da casa dela... — cantarolei despreocupado, lembrando de uma cantiga de infância que a mãe de Lauren cantava para nós.

Senti um braço ao redor da minha cintura e Louis apoiou o queixo no meu ombro, me fazendo tensionar. Fechei os olhos, sentindo o cheiro que emanava dele e deixei algumas lágrimas caírem no processo.

— Não estou a fim de transar — cortei imediatamente.

— Nem eu.

— Então se afasta — pedi educadamente e ele suspirou antes de obedecer, se mantendo sentado do outro lado, sem conseguir ver meu rosto.

Funguei, não conseguindo mais segurar o choro, deixando que saísse sem causar tanto barulho a não ser a fungada de leve.

— Estou sentindo através do laço dez vezes pior — comentou Louis. — Você está mesmo se sentindo chateado.

— Me desculpe.

— Não precisa se desculpar por sentir.

— Certo.

Era tão estranho que eu não conseguia ao menos descrever a sensação de estar do lado dele depois de tudo o que aconteceu. Louis realmente me pegou desprevenido e em cheio com tudo o que ocorreu, porém isso não era nada além de expectativas estúpidas minhas.

Ele nunca negou o que era. Ele sempre agiu conforme o que dizia.

E isso não o isentava da culpa como um ser humano egoísta que ele sempre fez questão de frisar que era. Ainda estava no direito de me sentir com raiva, mas ao decorrer do processo, parecia que toda aquela explosão de energia mudou de direção.

A raiva era de mim por achar que podia mudar alguém como ele só gostando e demonstrando afeto.

Alguém como Louis, não se curava com amor como todos diziam. Alguém como ele, com a genética sanguinária e a criação rigorosa, não se tornaria tão maleável com palavras bonitas, momentos "legais" e um sexo bom. E sinceramente, eu não sabia que lugar da minha cabeça alguns momentos bacanas e umas trocas de carícias, poderia significar nada além de que eu era usado para válvula de escape. Assim como estava sendo agora.

Ele sempre deixou explícito o tom do que eu era dele. Da possessividade e de todo o desenvolvimento acerca da sua incapacidade de se apaixonar. Louis nunca mentiu que se tivesse que passar por cima, ele faria sem pensar duas vezes. Ele não era o mocinho que se redimiria e se renderia, afinal, eu esqueci que não estávamos num conto de fadas que a princesa se apaixona pelo príncipe. Estava na máfia, um ambiente violento e que tem a perpetuação desse comportamento.

Mas além disso, eu ainda estava com Louis Tomlinson. O ômega mais cruel e manipulador. O lobo sanguinário. Seria tolice imaginar que, por um segundo, aquela posse se tratava mais do que uma resposta automática do seu lobo ao alfa dele. Ainda mais pelo óbvio traço genético de Louis.

A voz de ômega.

A voz usada para demonstrar posse sobre seu alfa líder acerca de outros ômegas que também estariam ali para disputar lugar. Toda a posse dele estava diretamente ligada à genética, afinal, ele não era assim com seus amigos e seus antigos pretendentes pelo jeito, e nunca foi assim antes de intensificarmos o laço.

Ele detestava usar aliança em Doncaster justamente pelo significado de posse dela. E de repente, ao me reconhecer como alfa dele, seu lobo revogou toda aquela possessividade intrínseca. Ele era assim comigo desde que soube que eu era seu parceiro e eu cai na tolice de não diferenciar o que é do laço e o que é dele.

Louis tinha mais cautela com isso. Ele sempre estava procurando identificar o que era nosso e o que era produto do laço. Por exemplo, o sexo movido a raiva e desenfreado ou a resposta automática de seu corpo ao ser neuroestimulado pelas substâncias liberadas pelo seu cérebro durante a situação de risco.

Tomlinson era alguém ligado totalmente e viciado em adrenalina. Seu real vício era em dopamina ao encontrar uma situação de risco, demonstrado durante sua quase morte na piscina. Ele pulou, mesmo sabendo as horas, mesmo com o alarme e mesmo sabendo que fecharia em certo tempo. Eu fiz questão de questionar se ouviu o alarme, se lembrava da lona e se sabia as horas que fechava. E ele sabia de tudo isso.

O cérebro dele simplesmente desligou a chavinha de diferenciar risco de prazer. E isso não tinha nada a ver com fetiche. Era orgânico.

Ele se viciou nessas substâncias neuroestimulantes e eu demorei muito tempo estudando e raciocinando juntamente com Lauren, para realmente entender como alguém após tantas situações de alto risco se demonstra eufórica e excitada depois.

Jauregui teve a maior paciência de explicar que, algumas pessoas necessitam de doses de dopamina mais altas que outras, e Louis a encontrava através das atividades de alto risco. Não foi uma simples tentativa de suicídio misturada com sexo depois, não, foi a forma que o cérebro dele achou para lidar com uma evidente crise e falta de estimulação, usando posteriormente o sexo que sempre foi sua válvula de escape como descarrego de toda aquela excitação causada pela dopamina e endorfina.

Ele era um viciado. Não havia nada com fetiche sexual ou algum tipo de prática sadomasoquista. Era uma resposta de seu cérebro como alguém criado no mundo da máfia e sob a pressão que exerciam sobre ele.

Poderia levar pelo seu lobo que fica aprisionado tanto tempo. Já era para Louis estar tombando ensandecidamente a procura de sangue e morte, contudo, ele parecia controlado e meio anestesiado nas últimas semanas.

Além da respiração ofegante, os olhos distantes, a postura mais retraída. Ele assumia uma personalidade diferente quando estava com Mark e a Ordem...

Precisava perguntar para Lauren o que ela imaginava de tudo isso.

— Você está muito tempo em silêncio — observou Louis. — É incomum.

— Estou reflexivo.

— E monossilábico — constatou após. — Achei que estivéssemos mais tranquilos depois de sei lá... o sexto round?

Não consegui segurar a risada sem humor, porque Louis facilmente resolvia seus problemas com sexo e sarcasmo. Parecia a única resposta para tudo o que lhe afligia.

— Você é lindo quando está quieto — retorqui sem ânimo. — Estou processando o que aconteceu.

— Eu me curvei diante de você, rolou tudo dos nossos pais dando piti e...

— Não seja sarcástico. Por favor. Estou realmente tentando lidar com tudo isso — suspirei totalmente cansado. — Você me deixa confuso. Suas atitudes são confusas.

— Nunca fui responsável pelas suas expectativas, Harry. O que eu fui, sempre esteve nítido. Se sua frustração é porque achou que algum momento iria redimir minha alma ao dividir o cargo comigo, achou errado. Estou constatando desde o início do nosso envolvimento que sou filho da puta e não é algo que eu me sinta mal sobre. Lide com isso ou não. É sua escolha.

Louis era direto e cortava tranquilamente como navalha sob a pele. Ele não tinha remediação e mesmo que protegesse todo mundo, ele ainda protegia para proteger a si mesmo. Porque ele não sabia lidar com os próprios sentimentos.

Até quando estava sendo cuidadoso, ele era egoísta. Era a natureza dele.

E eu sinceramente... não queria me envolver com alguém assim.

— Por que se curvou? — Finalmente perguntei.

— Ah. — Estalou a língua em divertimento e eu me virei, fitando seu rosto saboreado de uma arrogância nata. — Até que enfim a pergunta saiu de sua boca além de tentar se vingar.

Crispei os lábios, sem respondê-lo.

— Meu pai pediu para que eu me transformasse. Eu não queria que me respeitassem por medo do meu lobo, mas por medo de mim de ser um louco do caralho — deu de ombros. — Meu pai não sabia do seu medo, e como eu tinha que fazer a tarefa delegada, afinal, não estamos no primário de rebater o chefe da máfia como um adolescente. Assim como Niall deve respeito a mim, eu devo respeito ao meu pai. Não é uma democracia.

— Ainda não entendi a real necessidade de se curvar.

— Porque eu transformado iria agitar os outros ômegas da Ordem a se rebelarem. Parece que não, mas as palavras de Zayn ficaram em minha mente. Um lobo do meu tamanho, na posição que eu estava, ameaçar o chefe alfa? Iria ser uma catástrofe. Nossas leis pedem que nós sejamos racionais e não emocionais.

— Então se curvou para demonstrar que reconhecia minha autoridade?

Louis riu, deitando a cabeça para o lado como quem estivesse se deleitando com a minha confusão.

— Obviamente que não. Santa paciência, Styles, você realmente acha que eu me curvaria para você em minha própria casa para reconhecer sua autoridade? Eu fiz para irritar meu pai, expor que os dois líderes eram soulmates, demonstrar respeito a tradição de que o ômega abaixa a cabeça perante ao alfa, e principalmente, que o alfa líder da Ordem era meu e quem se aproximasse teria que tomar cuidado comigo.

Puta que pariu. Parecia que nada era fácil com Louis no meio.

— Matou quatro coelhos numa cajadada só — reconheci ao finalmente ter a visão de tudo.

— Vocês esquecem que eu sou metade gênio, não?

— Se sua inteligência fosse metade na emocional, com certeza seria um ser humano incrível — resmunguei mal-humorado.

O fato de Louis ao menos parecer abalado me deixava com náuseas.

— Ainda bem que nossa facção exige razão, não?

— Touché — murmurei, me encolhendo ao redor das minhas pernas.

Apoiei o queixo em cima delas, me mantendo pensativo sobre tudo o que tinha acontecido. Louis parecia sempre estar três passos à frente de todo mundo, quase como se estivesse ele contra o próprio Viúva em um jogo de xadrez dos dois.

Me esquecia que daquela equação toda, na cabeça de Louis, eu era apenas o seu futuro consorte e alfa que seria a mão ajudante com cerca de toda a Ordem. Nada mais que isso.

Que droga. Por que eu fui me deixar apaixonar por ele? Meu coração idiota ignorou totalmente todos os momentos que ele demonstrava ser um sádico e focou-se na carência de Tomlinson. O laço me fez criar tanto uma situação de superproteção que eu me deixei levar demais.

Não era culpa dele. Era minha.

— Sua puta — soprei a palavra com um tom melancólico. — Sou isso para você, não é? Válvula de escape emocional.

— Não venha com essa para cima de mim, Styles. Você estava quase comendo a Madison na minha frente — revirou os olhos.

— E você gostou — conclui ao observar a expressão que beirava o indecifrável, porém o prazer estava ali.

— Não posso opinar sobre isso. Nunca fui possessivo em relação às minhas coisas, você foi a primeira. Achei que iria me irritar bem mais, ao ponto de matar Mad, porém meu lobo entrou em conflito comigo mesmo. Eu, Louis, achei deleitoso. Meu lobo quebrou a mesa. Eu queria levá-la conosco. Meu lobo colocou a adaga na sua garganta. Eu queria dar para você. Meu lobo queria te machucar. Enfim, é uma linha tênue conflitante.

Coisa.

Ele disse "minhas coisas".

— Você não tem mesmo noção, não é? — perguntei abismado. — Eu não sou sua coisa.

— Foi modo de expressão.

— Então o tire da sua boca — refutei irritado. — É diferente em contexto sexual ser tratado assim, aqui agora eu exijo mais respeito aos pronomes usados.

— Harry, você é dramático para cacete, às vezes.

— Não, Louis, eu só sou humano e não uma máquina. Não tenho culpa que uma hora você me pede carinho, e outra se joga dentro da porra de uma piscina como um viciado de merda em dopamina para lidar com uma situação de conflito e simplesmente desiste de nadar porque sentiu minha presença através do laço indo atrás de você e queria experimenciar a sensação de novo. Uma hora me beija abaixo das estrelas e outra você está passando por cima das minhas decisões. Estou conflituoso.

— E o que eu disse em todos esses momentos? — rebateu com os dentes cerrados.

Fiquei em silêncio, sabendo exatamente do que ele falava.

— Ein, Styles, fala a porra que eu disse em todos esses momentos!

Mordi os lábios, segurando o choro decepcionado.

Não se apaixone por mim. Não sou merecedor disso e nem de desenvolver tais sentimentos — sussurrei o que ele sempre dizia.

— Então não vem com essa porra de momentos conflituosos quando eu SEMPRE deixei claro o que eu era e o que eu quero. Se você deixou-se levar porque eu me abri com você, a culpa não é minha. Fui filha da puta sim, em curvar sem perguntar se você queria expor, mas era isso ou uma rebelião. E eu escolhi a Ordem. Eu sou o futuro chefe dela e se você tivesse um pouco de sangue frio e calculista, teria deixado suas emoções de lado e visualizado tudo isso.

— Louis...

— Não, vai para a puta que pariu! Eu aceito a sua raiva ao não contar o plano, contudo foi bem antes de entrar na arena. Se você tivesse tirado um segundo das suas observações tão minuciosas e colocado suas emoções de lado e focado na Ordem, teria enxergado minhas intenções. Não encare isso como uma gangue de esquina e chame seu papai para te defender. Está na hora de crescer e aprender que as pessoas vão te usar e você vai precisar usar alguma delas para chegar onde precisa.

Não respondi, só fitando seus olhos irados em minha direção.

— Eu tive que fazer o que fiz e não me arrependo, porque precisei ser racional. Acha que eu me sinto feliz em te ver chateado por culpa minha? Acha que eu me sinto feliz em ter que ver você chorando? Não, eu não me sinto feliz. Mas o mundo é cruel e as pessoas são bem mais.

Louis se aproximou brevemente do meu rosto, as bochechas cobertas da cor rubra e estufadas, totalmente entregue aquele rompante de energia.

— E me desculpem, caros senhores da empatia, eu prefiro ser o filho da puta do que ser o coitado. É tudo sobre poder. Não leve para o pessoal.

— Ok — murmurei extasiado, avaliando tudo o que ele disse.

— Eu tive a decência de te pedir para me ensinar ser pelo menos metade do emocional que você é e controlar meu lobo melhor, agora você precisa de umas aulas de como ser mais cruel e independente. Você é um ótimo líder e alfa. Seu problema é que você é uma boa pessoa e não tem espaço para isso na máfia.

Franzi o cenho, o sentindo encarar até minha alma com aquelas safiras duras e gélidas. Louis podia ter 24 anos, porém era mais calejado que todos nós juntos.

O pai dele se certificou disso.

— Quer me ensinar a ser como você? — perguntei confuso, observando ele limpar as lágrimas que escorriam do meu rosto sem controle e se aproximar mais ainda, ainda sem tocar meu corpo.

Louis sabia que eu não estava no clima de toques além do necessário.

— Não, para você ser como eu precisaria de um pai com genética sanguinária, uma mãe prostituta que te abandonasse e entregasse na mão do maior mafioso do mundo que te criou para ser o soldado perfeito dele passando por cima da sua natureza humana.

Uou.

— Tio... Mark?

— Um sádico de merda? Oh, sim. A genética só não recaiu tanto em Lottie porque eu apanhava no lugar dela para livrar-se da dor.

— Apanhar? — Aquilo tudo parecia surreal. — A Ordem não bate nos filhos. Meu pai disse que uma das leis mais rigorosas.

Louis gargalhou como quem tivesse escutado uma piada boa.

— Harry, você precisa sair desse conto de fadas que seu pai impregnou na sua mente. Ele te protegeu enquanto podia, o problema é que não te criou com o emocional necessário para lidar com tudo isso.

— Meu pai foi um ótimo pai — rebati indignado.

— Eu sei. O admiro por isso. Queria ter tido a oportunidade igual a sua, mas toda vez que eu tentava tocar alguém com amor, eu apanhava. Não estou me vitimizando, estou só te contando o que eu aprendi. Não foi como você e Lauren. Você foi ensinado a separar, eu fui ensinado a punir.

Louis parecia mais cansado que eu, se escorando na borda da banheira e fitando suas mãos com marcas da luta em processo de cicatrização.

— Eu protegia todos eles porque eu não suporto ver quem eu gosto se machucando. É mais para me proteger do que para eles. Eu pego tudo, porque sou calejado, Harry; porém não posso pegar as suas também. Se quiser, pode me odiar. Eu não me importo. Só que... é exaustivo.

— Você colocou um alvo nas minhas costas, Louis, não me peça para ter empatia por você.

Ele bufou e coçou o cabelo de forma frustrada.

— Não vai dar certo se toda vez que o punho tiver que ser estendido for meu. Não vai dar certo se eu tiver que fazer a parte ruim, porque você não tem estômago para tal.

— Não sou uma florzinha. Sei matar e esquartejar tanto quanto você. Não tenho complacência para isso.

Ele achava que eu era o quê? Quando nos conhecemos, eu mesmo tinha feito tudo o que era necessário. Inclusive matar.

Esse era o problema de demonstrar a parte vulnerável sua para as pessoas.

Elas te enxergam como fraco.

— Ah, pode ter certeza que eu acredito em você. Ninguém nunca teria culhões de me irritar daquela forma na frente de todo mundo como você teve — riu baixinho ao lembrar-se de Madison. — Eu quis te esganar.

— Foi um bom beijo — dei de ombros e ele gargalhou, me encarando divertido.

— Foi um ótimo beijo, porém meu lobo iria te matar se continuasse — afirmou sem delongas, voltando a expressão dura. — O que eu estou dizendo é que quando se trata de mim, suas emoções te nublam.

— Um homem sempre deve deixar a emoção de lado ao ter a lealdade dividida — recitei um dos princípios da Ordem. — Eu não sei lidar com o que eu sinto por você.

Tomlinson suspirou, envolvendo seus braços ao redor dos meus ombros e beijando minha testa com carinho.

— Vai ter que aprender. Não é a primeira e nem a última vez que vou precisar ser um cuzão, tanto com você quanto com os outros. Evite decepções e sempre espere o pior de mim.

Franzi o cenho, observando ele se afastar para poder me encarar nos olhos com toda aquela frieza calculada.

— Você fala isso com tanta tranquilidade. Não te faz sentir mal?

— A época que isso me incomodava passou-se há muito tempo. O mundo nunca vai dar nada para você, então você tira.

Pisquei, e pisquei de novo, talvez desacreditado demais de toda aquela falta de emoção.

O que tinham feito com ele?

— E você ainda me olha com compaixão — riu desacreditado. — Você é realmente algo inusitado para se ter por perto. Se eu sou a doce criatura cruel, você é a doce criatura estúpida.

— Você é muito complexo de entender. Achei que tivesse entendido com a profundidade certa, mas era só a ponta do iceberg.

— A tendência é piorar — provocou e eu não consegui não rir. — Só tem uma coisa que eu me arrependo.

— Do quê?

Louis não se arrependia fácil, por isso me surpreendi ao vê-lo pegar minhas mãos e fazer um singelo carinho com o semblante decepcionado.

Mas consigo mesmo.

Você não é minha puta — afirmou envergonhado. — Foi ridículo ter dito aquilo, bem perto do seu pai e com o risco dele ouvir. Eu... agi no ódio e descontei em você por não me defender de seu pai.

— Ele estava certo. Não disse nada porque eu concordava.

— E saber disso me irritou e eu não sei lidar com sentimentos tão... humanos. Eu sei lidar com raiva, ódio, crueldade. Agora envolvendo isso...

— Isso o quê?

Ele balançou a cabeça, como se tivesse perdido.

— Não sei se é produto do laço ou meu, mas... Meu coração acelera perto de você, minha boca seca e minhas mãos ficam geladas e o seu cheiro me deixa com vontade de vomitar. Sua voz me deixa estranho, porque eu não quero parar de escutar ela e eu simplesmente não consigo reter minhas pernas de ficarem moles e seu sorriso, ah... — Ele segurou o fôlego, parecendo que entraria em colapso tamanha frustração. — Eu juro que não sei o que isso pode significar e vem me frustrando de uma forma que eu não sei remediar. Ver você concordando me fez sentir um aperto no peito que eu nunca senti desde os meus onze anos. Desconheço o sentimento.

Quase lhe dei um tapa na cara ao ouvir aquilo. Ele achava engraçado mesmo dizer tudo aquilo, todos aqueles sintomas de paixão, na cara dura?

Porém ao procurar vestígios de piada, só achei um monte de confusão.

Ele genuinamente não entendia.

— Oh, céus, Louis... Você não faz ideia? — murmurei com o coração angustiado.

Que porra fizeram com ele?

— Não. Talvez seja orgânico. Preciso fazer uma bateria de exames de qualquer jeito. Você nunca se sentiu assim por conta do laço?

Eu quase ri, contudo, mantive em mente que estava lidando com Tomlinson. Não podia dar-lhe a resposta de mão beijada, se não atrapalharia sua evolução como ser humano.

O laço estava desabrochando o lado sentimental dele e o deixando perdido. Louis não precisava de mim — além de eu não ser babá de homem nenhum —, ele precisava dele mesmo.

Então eu me fiz de desentendido.

— Não que eu me recorde — dei de ombros, pondo uma expressão falsa, mudando de assunto. — Por que disse aquilo?

— Meu pai te machucou depois de eu demonstrar sentimentos por você. Mesmo que ele tenha interpretado da forma errada, ele sabe que... laço de alma é algo importante. Ele sabe que pode me fazer ficar mole.

Finalmente entendi seu raciocínio.

— Seu pai estava na porta ouvindo ainda, não é?

— Sim — suspirou audivelmente, beijando os nós dos meus dedos com arrependimento genuíno. — Ele te machucou e ele iria machucar mais. Eu preciso estragar tudo antes que ele o faça. Meu pai não machuca, Harry, ele destrói.

E destruiu você, tive vontade de dizer, porém fiquei quieto.

— Você precisou vestir a máscara que sempre veste perto dele — conclui. — Eu entendi, mas não quer dizer que te perdoo por isso. Não sou evoluído o suficiente.

Louis riu, soltando minhas mãos e me encarando com aquelas ruguinhas despontadas no final dos olhos. Ele era tão massacrado por dentro que pela primeira vez, eu não senti raiva.

Eu senti pena.

— Já está aprendendo, santinho — elogiou. — De qualquer forma, eu peço... hm...

— Desculpas? — incentivei segurando a risada ao ver a expressão azeda.

— Isso.

— Então diga.

— Você entendeu o que eu quis dizer, Harry.

— Não entendi, não.

Ele bufou, revirando os olhos e cruzando os braços como uma criança birrenta.

Céus, fora da Ordem e do alcance do pai ele era tão espontâneo. O que será que ativava em Louis, seu lado mais traiçoeiro e cruel? Não podia ser só Mark...

— Me desculpe — sussurrou quase inaudível. — Você não é minha puta, Harry. Devo desculpas a tio Desmond também, mas espero que tenha entendido meu motivo para dizer. Meu pai saciou, por enquanto, a vontade de se vingar de mim afetando você. Suponho que ele tenha visto que meu lance com você é só sobre posse e nada mais que isso.

Eu quis rir de verdade agora, porque Louis não fazia ideia que estava se apaixonando por mim. O mais engraçado era ele dizer tão tranquilamente os sintomas sem nem perceber que era uma declaração assinada e enviada a mim.

Era genuíno.

Porém isso me fez ficar mais precavido e não menos magoado. A sensação de ter sido utilizado ainda martelava em minha mente, além de que eu constatei que precisava desse baque de susto.

Eu precisava ter o teste verídico de sua verdadeira personalidade, porque agora eu tinha clareza do ser humano que ele era. Não dava mais para fantasiar um herói reprimido e rendido.

Louis é louco por poder. E saber disso me deixou cauteloso onde eu estava pisando e com quem estava pisando.

Não iria ser saco de pancadas de ômega nenhum. E se eu precisasse desafiá-lo outra vez por isso, eu faria.

— Certo — concordei sem dar muita credibilidade. — Eu não sou seu.

— É do meu lobo — afirmou. — Eu, Louis, tenho total discernimento que você não é de ninguém. Meu lobo e o seu que tem outra ideia.

— Eu não sinto ciúm-

— Dá um tempo. Você surtou por conta de Zack.

— Vai me falar que você não estava transando com ele?! — Os gritos e os gemidos extasiados não eram frutos da minha imaginação.

Tomlinson desviou o olhar, encarando a ponta dos seus pés.

— Está frio, não? Acho melhor sairmos — sugeriu, mudando totalmente de assunto e pulando de dentro da banheira para pegar a toalha.

— Louis — convoquei o ômega que me fitou distante.

Não tinha mentira ali. Tinha desespero.

O que ele escondia com Zack que eu não podia saber? O que Zack era? Por que Lottie saiu tão irritada para a viagem? O que realmente acontecia dentro da família Tomlinson?

Mordi os lábios, negando com a cabeça e forçando um sorriso mais ou menos.

Precisa sondar Louis.

— Quer assistir a nossa série? — sugeri.

Ele sorriu, expondo um alívio nítido em seus olhos azuis. Retribui falsamente, ainda sem saber como me comportar diante dele.

Tentei por em mente que apesar de tudo, Louis tinha feito o que foi melhor para facção e não me devia romance nenhum, apesar de ter errado como parceiro em não me contar. Assim como eu fiz quando contei para Lauren e não ele em relação ao pendrive na escola em Doncaster.

Obviamente em escalas maiores, mas eu compreendia o sentimento de traição que ele sentiu. Eu me sentia da mesma forma.

E precisava fazer ele voltar a se abrir para mim como antes. Precisava sentar como líder e adulto, principalmente como futuro marido dele, e estruturar nossa relação.

Inteligência emocional era a chave agora. Nada mesquinho e juvenil como fechar a cara e nunca mais olhar para ele como um adolescente que briga eternamente com os pais, mas sim, como o marido e líder de tudo aquilo.

As porteiras precisam de dois pilares para manter-se aberta. Um portal precisa dos dois lados.

Eu não podia deixar tudo na mão dele.

Isso não significa que eu tinha perdoado. Só que eu estava agindo como adulto.

— Te espero na sala?

— Pode ser.

— Quer pedir pizza?

Eu já sabia que Louis não era muito fã de pizza, por isso respondi ao mesmo tempo que ele:

— Tacos apimentados com chá gelado — dissemos em uníssono e ele arregalou os olhos, surpreso. — Sério mesmo que você acha que eu nunca percebi isso sobre você? Assim você me insulta. Eu vou querer...

— Hambúrguer vegetariano e suco natural de morango — rebateu entediado. — Fitness.

Não consegui segurar o sorriso ao vê-lo memorizar alguma das minhas manias, e Louis fez uma careta, segurando seu peito com a feição estranha.

— Céus, isso é tão...

Não terminei de escutar porque ele saiu andando e resmungando, me dando espaço para sair da banheira e trocar de roupa. Parei brevemente na janela para fumar um cigarro e responder uma mensagem de texto ao pai de Lauren, questionando se ela estava bem depois da perna e como tinha ido a cirurgia.

Foi um alívio saber que ela ficaria cerca de um mês com a tala, porque apesar de Louis ter tentado quebrar as estruturas fundamentais como tíbia e fêmur, ele foi milimetricamente certeiro no golpe ao ponto de não lesionar tanto. Sabia que tinha dedo de Jauregui nisso.

Ela ainda estava sob efeito dos remédios e precisaria fazer uma fisioterapia depois, porém me senti feliz ao saber que o diagnóstico era positivo para voltar a caçada.

— Você demorou — reconheceu Tomlinson, colocando a comida na mesinha de centro. Analisei meu suéter azul marinho de tricô em seu corpo assim como minha calça, levantando uma sobrancelha em questionamento. — Espero que não tenha se importado. Mexi nas suas coisas.

Eu não me importava. A questão era que aquele moletom tinha apego emocional para mim.

Minha avó me deu antes de morrer.

— Sem problemas, é que...

Ele começou a ficar constrangido e fez menção de tirar, porém eu retive o movimento.

— Só cuidado — exigi cauteloso.

— Eu posso trocar se ela for importante demais para você. É que está muito frio e você não tinha nenhuma que esquentasse tão bem quanto essa.

— Está tudo bem. Eu vou mexer no aquecedor.

— Obrigado — sorriu mínimo.

Ver ele na minha roupa tinha me deixado meio perdido. Não sabia o que sentir ao vê-lo tão... caseiro.

Aumentei a temperatura da casa e voltei a sala, observando a comida desembalada e a série pronta para ser assistida com o episódio pausado.

Louis mexia em seu celular, compenetrado em algo enquanto fumava.

— Niall está bem e Margot conseguiu parar a hemorragia, agora está sedada. Liam e Zayn estão sumidos há um tempo e você tem notícias de Lauren?

— Saiu da cirurgia — notifiquei, aceitando o cigarro oferecido e despausando a televisão. — Vai voltar a andar daqui um tempo.

— Vai poder lutar?

— Sim.

— Que ótimo — sorriu contente, parecendo satisfeito. — Meu plano saiu perfeito.

Engoli a parte que ele precisou ser um cuzão comigo e colocado um alvo nas minhas costas, e fiquei quieto.

Praticamente devorei o lanche assim como Louis, afinal, estávamos quase um dia e meio sem comer nada além de tomar água e suprir a energia.

O ômega já parecia sonolento novamente, coçando os olhos e tentando se manter atento a série. Aproveitei sua guarda-baixa e subi para o sofá, abrindo a manta que sempre ficava repousada ali e o fitei com a maior feição tranquila e apaziguadora.

Louis estava suscetível e seria um ótimo momento para aproveitar suas barreiras frágeis e me infiltrar na sua mente.

Não era só Tomlinson que era filho da puta, e sendo bem sincero, ainda precisava me vingar de tudo aquilo.

Mas eu seria um filho da puta inteligente.

— Massagem? — ofereci com um sorriso, observando ele me encarar e levantar sem pestanejar, deitando em meu colo e eu cobri com a manta.

Tentei não deixá-lo dormir, aproveitando o seu estado calmo para começar as perguntas de forma sutil.

— Quando começou a mexer nos computadores e descobrir sua paixão por tecnologia?

Parecia uma pergunta besta, porém eu iria conseguir tantas coisas através dela. Louis se virou, fitando a tevê tão compenetrado que ao menos se sentiu num impasse ao responder:

— Eu levo jeito com código. Decoro fácil. Quando eu tinha sete anos, já sabia ler e escrever e gostava de seguir meu pai pela casa. Inclusive a sala de controle e fiz amizade com o cara do T.I. Ele me ensinou brincando a jogar pacman, e eu terminei memorizando toda a matriz do jogo. Ele ficou desacreditado e meu pai só ignorou, porque já sabia que eu era um gênio e deixou ele me ensinar.

— Então você aprendeu com esse cara? Ele está na Ordem ainda?

— Não. Criamos uma ligação forte de carinho e quando meu pai pediu para eu hackear a rede da polícia como teste, ele tentou intervir e meu pai atirou nele. Disse que do filho dele só ele sabia e que eu não podia dar brecha para ninguém saber meus planos, porque no final a bala podia ser na minha testa — deu de ombros, bocejando.

Tensionei, mal acreditando nas palavras que saíam da sua boca. Ele dizia com tanta calma que eu não tinha reação a não ser espanto.

— E sua mãe?

— Me levou para viajar e ficar longe um pouco, porque eu não entendia o que eu tinha feito de errado para Steve ter sido machucado. Acho que nunca descobri o que eu fiz, só sei que não podia contar nada para ninguém.

Oh. Isso explica tanta coisa.

— Hmm... — Me fiz de desinteressado, como quem estivesse jogando papo fora. — Tinha um boato meio engraçado a respeito do seu pai...

Joguei verde, sem saber de boato nenhum, só querendo saber se colhia maduro.

— Das traições ou da câmara? — refutou categoricamente.

Não parei por um segundo de mexer em seus cabelos, começando a descer a massagem para suas orelhas e o apertando mais no colo.

Não sabia mais se era por pena ou para tentar tirar informações. Louis te deixava na linear entre amá-lo, odiá-lo e ter piedade.

Engoli o sentimento.

— A câmara — chutei o que mais parecia inusitado.

Ele deu de ombros.

— Eu gritava muito durante algumas missões com os pesadelos. Não estava acostumado ainda e sentia falta dos meninos o tempo todo. Acho que a primeira vez foi no aniversário de Liam, eu tinha por volta dos onze? Eu não lembro bem. Todos eles viajaram, inclusive Niall e o pai dele era super rigoroso, para o Havaí. Eu pedi para ir, porém meu pai disse que nossos mundos eram diferentes.

— Como assim?

— Ele dizia que eu tinha que olhar onde eu quero estar. E os meninos eram meus subordinados, não meus amigos. É difícil explicar isso para uma criança e eu chorei muito, então ele me trancou na câmara. É uma sala com luz o tempo todo e fria, sem nada para fazer além do próprio tédio. Ficava lá quando enchia demais o saco dele.

Caralho.

Parei o movimento, sentindo a garganta seca. O que mais me deixava abismado, era a tranquilidade que ele ditava.

Louis virou-se com os azuis sonolentos, agarrando a minha cintura e enfiando o rosto no meu abdômen como um gatinho.

Suspirei, ajeitando meus braços e pensando numa pergunta eficiente.

Ele dormiria logo logo.

— E... por conta disso que você apanhava também? — sugeri calmo, com cautela, ludibriando devagar para não pegá-lo desprevenido.

Tomlinson negou.

— Eu apanhava antes nos treinamentos porque me recusava a machucar os meninos, então meu pai pedia a alguém que fizesse. Não posso julgá-lo. Meu avô, pai de Mark, o cortava com navalha e colocava dentro do sal grosso. Avaliando o histórico da família, meu pai é só a reprodução automática e o fruto do modo como foi criado.

Assim como você, quis dizer, porém beijei sua testa e atenuei o carinho.

— Então a família Tomlinson vem infringindo as leis há bastante tempo, huh? — insinuei risonho, porém passei um pouco dos limites ao perceber que ele travou.

Porra, Harry, cautela! Assim ele não diz nada. Engoli a língua, beijando a bochecha quente e tentando desviar o foco de sua atenção.

— Será que hoje vai sair a nova temporada?

— De The Home? — se referiu a série que assistimos juntos e eu afirmei, passando a mão nos seus cabelos com mais carinho.

Seria estupidez dizer que eu não estava curtindo aquele momento. Aquele Louis calmo parecia um sonho de pessoa e...

Lembre-se, coração estúpido, do que ele fez. De quem você é. Do que a máfia precisa.

Centralizar e ser coeso, cauteloso e estrategista.

— Isso.

— Acho que não — deu de ombros. — Posso ficar aqui hoje?

— Achei que iria querer voltar para a mansão.

— Você quer que eu vá?

Eu não queria. Precisava da sua vulnerabilidade para estudar todos seus pontos de fraqueza e entender o que de fato estava acontecendo na Ordem.

— Não — fui taxativo. — Pode ficar.

— Certo — sorriu. — Acha que a Jenna vai morrer nesse próximo episódio?

E lá se foram mais uns quarenta minutos de debate de série e de personagens, com ele cada vez mais agitado e praticamente subindo em cima de mim.

Depois do sexo parecia que nossos lobos queriam contato o tempo inteiro, por isso não critiquei quando ele já estava sentado no meu colo atravessado, a cabeça em meu ombro direito e as pernas elevadas.

Dessa posição eu podia ver bem seus olhos azuis excitados ao contar sua teoria ao compasso de acariciar suas pernas cobertas pelo moletom, analisando toda sua linguagem corporal.

Mais despojado, elétrico, vital. Nada de olhar distante, aparência acabada e ideias mirabolantes.

Um Louis sem Tomlinson.

E terapia nenhuma curava uma pessoa tão fodida quanto ele, se o seu problema era justamente o lugar onde estava.

Percebi, então, que cerca de oitenta por cento de suas atitudes eram condicionadas pelo ambiente. Seu pai, a máfia, a Ordem e as obrigações.

Fazia tanto sentido Louis ter partido antes que partissem mais ainda ele...

— O que é essa cicatriz? — questionei curioso ao ver o moletom subir, expondo uma cicatriz que eu já havia notado enquanto transávamos.

Parecia queimadura.

— Levei um tiro de raspão — explicou sem entrar em muitos detalhes. — Em uma das brigas meu pai levou uma mulher para casa e minha mãe pegou, apontou a arma para ele, porém ele já tinha sacado contra ela. Entrei na frente ao ouvir os barulhos e levei de raspão.

Fechei os olhos, controlando a raiva aflorando.

— Quantos anos?

— Hm... seis — ponderou, mas logo deu de ombros. — Relaxa! Foi de raspão e eu nem senti dor. Desmaiei na hora. Minha mãe cuidou bem de mim depois e meu pai ficou um docinho durante um mês. Ele sempre fazia isso: batia e depois era carinhoso. É aquilo, certo? A mão que estende é a mesma mão que tira. Não o culpo. A criação dele não foi uma das melhores, porém era melhor do que morrer dentro de um prostíbulo ou ser vendido para um cara estranho.

Só piorava. Por Deus.

— Ah, entendi. — Estalei a língua, beijando sua testa e apertando sua cintura, controlando os instintos de quebrar Mark no meio na porrada. — Você não quer dormir?

— Quer que eu saia?

— Não... Pode dormir no meu colo. — Precisava ir aos poucos porque se não poderia perder tudo o que consegui e nunca mais fazê-lo falar novamente. — Vou abrir o sofá. Só um segundo.

Abri o sofá-cama e o puxei para dentro do meu peito, ponderando quais passos seria dali em diante. O que fazer, como lidar, como abordar...

— Ei, Harry — murmurou sonolento, chamando minha atenção. — Não pegue mais ninguém na minha frente.

Ri baixinho.

— Não estou vendo aliança no meu dedo...

— Se quiser, eu deixo. Pode por na minha. Não quero nosso relacionamento escorado nisso. Enquanto não for tomada uma decisão dos dois para fazer juntos consensualmente, podemos não ficar com outras pessoas?

Retorci o nariz, não gostando.

— Não vou devotar fidelidade a alguém que não é nada minha ainda. Não somos um casal.

— Eu sei, mas... Nem se eu devotar de volta?

— Quer prometer não ficar com ninguém além de mim, a não ser que queiramos juntos?

Que papo era aquele? Louis devia estar com muito sono.

— As outras pessoas não valem a pena — deu de ombros, beijando meu pescoço. — Você é suficiente.

Puta que pariu. Assim era difícil me manter racional, porém resgatei o ínfimo do que eu registrei da última vez e clareei meus pensamentos.

— O chá foi tão bem dado que o lobo mau virou a vovózinha?

Ele gargalhou, pegando minha mão e pondo em cima do seu coração, me encarando com as pupilas dilatadas.

— Está vendo? Só fica assim perto de você e da sua voz. Acho que estou enlouquecendo, Harry. Isso não é normal.

Mordi a bochecha, permanecendo neutro.

— Terá que ver com um médico especialista em coração.

— Um cardiologista?

Tive vontade genuína de rir e ele pareceu confuso com meu raciocínio, suspirando cansado logo após.

— De qualquer forma, não é ruim. Estou aprendendo a lidar. É gostoso, às vezes. E... você é meu, de qualquer jeito.

— Eu não sou seu, Louis. Você inventou um mundo paralelo na sua cabecinha de vento que ter o laço significava necessariamente de posse.

Fazia sentido ele não entender sentimentos e achar que todo aquela paixão crescendo e o desejo de me ter era sobre o lobo e a posse dele.

Louis não sabia lidar e eu tinha que ter cautela. Era engraçado saber que ele estava se apaixonando antes mesmo da própria pessoa saber.

Parecia surreal demais. Cômico e triste. Tão... cruel.

Do jeito de Louis.

— Não posso prometer isso — disse por fim.

— Vai ficar com ela?

— Não pretendo. Fiz aquilo para te mostrar que você não manda em mim. Ninguém é de ninguém e se você acha que eu vou ser cachorrinho seu, aos cantos e aceitando você cagando por aí que eu sou sua posse, está muito enganado. Minha mãe me fez humano, não um adolescente idiota.

Ele pareceu ponderar, assentindo por fim.

— Você ainda é meu — provocou zombeteiro e eu dei um peteleco na sua orelha, escutando sua risada.

— Vai dormir que amanhã é outro dia, Louis.

O ômega se aconchegou e eu repousei meu queixo em seus cabelos, sentindo o agarre de ferro ao redor da minha cintura e fechei os olhos, pronto para dormir.

Já estava quase me entregando a inconsciência, sendo acordado pela voz rouca de Louis no pé do meu ouvido:

— Um dia você ainda vai ser meu, Harry. E vai partir de você o pedido.

Não soube o que responder, permanecendo quieto e sem jeito. Ele tinha me dado tela azul, porque imaginava escutar tudo, menos aquilo.

Ele mal fazia ideia. E como poderia?

Quem dera o amor ter sido justo com ele. Poderia ter sido tão grande. Tão incrível.

Não que não fosse, mas ele sempre estaria nesse impasse de bloqueio emocional. Essa barreira maciça de gelo e aço.

Fadado a ser melancólico e caótico. Uma doce criatura cruel solitária.

Não sabia o que me assustava mais:

Seu passado.

Ou ter certeza que ele estava se apaixonando por mim.

Afinal, quem era de verdade a família Tomlinson?



NOTAS DA AUTORA:

Espero que tenha ficado esclarecido alguns pontos pertinentes e mais fácil de interpretar.

Espero que tenha sido esclarecedor a questão da cena da piscina. VN não vai abordar BDSM, porque não gosto e em momento nenhum mencionei isso. Ser masoquista não está atrelado a ser parte da comunidade de BDSM.

Enfim.

Quem quiser acompanhar os surtos, spoilers, ou o diário de atualização: the_nohmutti é meu twitter.

VEJO VCS NAS FIGURINHAS!!

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