Katherine ficou em silêncio durante a maior parte do tempo, desde os últimos acontecimentos na escola até aquele momento.
Baby, I love your way by Big Mountain tocava em um volume razoável no rádio, e vez ou outra, a ruiva ao seu lado batucava os dedos no volante no ritmo da música e até mesmo cantava baixinho.
A cabeça da garota estava quase explodindo de tanto dor e a música não estava ajudando.
Então, em um ato impulsivo, ela se inclinou para frente e pressionou o botão de desligar, do aparelho com um pouco a mais de força, ouvindo então as reclamações de sua "motorista".
— Ei, se você não queria ouvir a música era só me avisar, não precisava de toda essa violência com o meu botão, tudo aqui nesse carro e caro. — Disse ela indignada.
— Quem é você afinal?
O corpo da ruiva ficou paralisado durante alguns segundos ao ouvir a pergunta. Seus dedos apertavam com tanta força o volante que já estavam ficando brancos, ela respirou fundo e tentou manter a calma ao responder.
— Meu nome é April Delacour, eu sou sua... — Ela fechou os olhos com força e balançou a cabeça várias vezes, como se estivesse se repreendendo por quase ter revelado seu segredo mais importante. — E-eu sou uma amiga...eu soube através da Noshiko sobre a situação pela qual essa cidade estava passando, eu sabia como ajudar então eu vim...e me desculpe por isso.
Katherine não entendeu de início mas ao tocar a região esquerda de seu peito, ela entendeu.
Ela afastou o tecido fino da blusa que usava e analisou com cuidado o ferimento feito em seu coração.
— Está doendo? — April pergunta.
Katherine apenas acente, fazendo uma careta de dor. Ainda com sua atenção na estrada, April se inclinou para frente e pegou um frasco minúsculo com um líquido rosa dentro, e entregou a garota, que fez cara de nojo.
— O que é isso?
— É um antídoto. — Katherine a olhou confusa e April logo explicou. — A adaga com a qual eu "matei" você, havia sido banhada em lilases.
— O que seria lilases? — Katherine perguntou olhando o frasco ainda confusa.
— Um veneno. — Disse April com naturalidade. — basicamente, é a única coisa no mundo capaz de matar permanentemente uma fada, apenas um toque em suas delicadas pétalas e boom...você morre.
Katherine estava estática no lugar, seus olhos estavam arregalados e suas mãos tremiam, e sem nem pensar duas vezes, ela abriu o frasco e bebeu todo o líquido de uma só vez, sentindo sua garganta queimar no mesmo instante.
— Obrigado. — Agradeceu enquanto tossia.
April tirou uma das mãos do volante e começou a procurar algo no banco de trás, logo depois, jogou um moletom preto no colo de Katherine.
— O antídoto tem alguns efeitos colaterais, frio é um deles, seguido de fome e sono. Eu não tenho nada aqui pra você comer mas você pode dormir se quiser, eu te acordo quando chegarmos a sua casa.
Katherine acentiu, encostando a cabeça na janela e observando a paisagem do lado de fora.
Enquanto esperava o sono chegar, ela se ajeitou no banco e observou em silêncio a mulher dirigir, e então percebeu o quanto ela era familiar.
— Por que você me salvou? — A pergunta surgiu do nada, pegando April de surpresa.
— O que?
— Por que você me salvou? — Repetiu.
— Eu salvei você, porque você não merecia morrer, você ainda é jovem, tem muita coisa ainda pra viver. — Respondeu.
— Você está errada. — April a olhou confusa.— Eu merecia sim morrer.
April tirou sua atenção da estrada e a olhou chocada com suas palavras. Katherine encostou a cabeça na janela e continuou.
— Era o mínimo que eu merecia por ter matado todas aquelas pessoas...
Derrepente, o carro parou bruscamente, jogando April e Katherine um pouco para frente. Katherine olhou assustado para April, ela já estava sem seu sinto de segurança, com seu corpo todo virado na direção de Katherine com um olhar severo no rosto.
— Nada, você me ouviu? NADA que aconteceu lá foi sua culpa. — Disse ela. — Você estava possuída pelo espírito maligno de uma fada vadia vingativa, as coisas que ELA fez, as mortes que ELA causou e TODO o resto, não foi sua culpa.
Katherine estava surpresa e ao mesmo tempo assustada. April era fofa, tanto na aparência quanto na personalidade mas ficava assustadora quando estava brava ou falando sério.
E por mais que as palavras da mais velha estivessem certas, mesmo sabendo disso, Katherine não conseguia deixar a culpa de lado.
— Eu tenho todo o direito de me sentir culpada, Okay? — A fada rebateu. — Eu tive muitas oportunidades de lutar contra ela e recuperar a minha consciência mas eu fui covarde. Eu tive medo do que poderia acontecer e por conta disso pessoas morreram. Então SIM, é TUDO minha CULPA!
April balançou a cabeça, incapaz de acreditar nas palavras da garota por quem tinha um carinho especial.
— Sabe de uma coisa? Eu era exatamente igual a você. — April a olhou com tristeza.
— A alguns anos atrás, uma coisa horrível aconteceu comigo...e eu...eu me culpei pelo ocorrido durante muito tempo...
Katherine permaneceu em silêncio, ouvindo atentamente cada uma das palavras.
— ...até que um dia, alguém muito especial conseguiu me convencer de que eu não era culpada. — April respirou fundo antes de continuar. — Mesmo que eu tenha "desejado" que aquilo acontecesse.
Uma lágrima escorreu pelo rosto de Katherine, o mesmo aconteceu com April.
— Você conseguiu esquecer? — April a olhou confusa. — O seu "problema", você conseguiu esquecer?
— Eu tenho pesadelos com aquele dia, todas as noites e mesmo que eu queira, eu nunca vou conseguir esquecer. — Ela encarou o chão, limpando uma lágrima. — É um trauma.
— Exatamente. — Katherine concordou, balançando a cabeça. — É um trauma, é uma coisa que mesmo que eu queira eu nunca vou esquecer.
April queria dizer alguma coisa, queria mesmo, mas não haviam mais palavras no mundo que pudessem reverter o que aconteceu na vida da garota, e falar sobre seu "trauma" estava fora de cogitação.
Sem opções restantes, April colocou o cinto de volta, deu partida no carro, e seguiu a estrada para a casa de Katherine.
Assim que April estacionou seu Ford Fusion em frente a casa de Katherine, ela sentiu a tristeza chegar.
Infelizmente, ela teria que se despedir de sua querida garotinha, ela então se ajeitou no banco e com uma das mãos acariciou a bochecha de Katherine, que havia se rendido ao sono.
— Demorei tanto tempo pra te achar, é uma pena ter que me despedir de novo, eu te amo, minha borboletinha...
Por fim, April se aproximou deixando um beijo sobre os cabelos avermelhados da garota, que aos poucos foi despertando.
April se ajeitou no banco, tentando discretamente limpar suas lágrimas, ao terminar, ela sorriu pra garota.
— Bem-vinda de volta ao lar.
Katherine, que ainda estava entorpecida de sono, olhou ao redor sem entender o que estava acontecendo, ao ver sua casa, seu humor mudou rapidamente.
Sendo pega de surpresa, April sentiu os braços de Katherine serem jogados ao redor de seu pescoço em um abraço de agradecimento.
— Obrigado, Obrigado!
April a abraçou de volta, com toda a força que ainda lhe restava, aproveitando aquele momento o máximo que podia.
April a afastou de leve e limpou as lágrimas, sorrindo pra ela com uma "falsa alegria".
— Já é hora de você ir, seus pais devem estar sentindo muito a sua falta. — Disse ela.
Katherine acentiu com um sorriso.
— Obrigado, April.
— Não precisa me agradecer, Katherine.
Com isso, Katherine saiu do carro, ela apertou mais o moletom em seu corpo e caminhou até a porta de sua casa, tocando a campainha apenas uma vez.
Ela se virou mais uma vez, querendo se despedir de April mais uma vez, mas ela já não estava mais lá.
A porta então foi aberta, revelando Elizabeth Haller com um de seus muitos pijamas coloridos e o cabelo avermelhado preso em um rabo de cavalo.
Ao perceber a garota, que ainda estava de costas pra ela, seu rosto empalideceu, ela se sentiu tonta mas logo se recompôs.
— Katherine? — A garota se virou de imediato ao ouvir a voz da mãe.
— Oi, mamãe.
Sem perder tempo, as duas se abraçaram, chorando juntas, enquanto Elizabeth gritava os nomes do pai e do irmão de Katherine.
Logo, as duas ouviram os passos apressados de Phelipe descendo as escadas, Elizabeth se separou da filha, dando a oportunidade do advogado entender todo aquele escândalo.
— Ai, meu deus, Katherine!
— Papai.
Os dois também se abraçaram.
Ainda chorando, Elizabeth fechou a porta, e se juntou ao abraço e junto ao marido os dois a encheram de beijos.
Enquanto tudo isso acontecia, Katherine percebeu seu irmão no topo da escada, olhando diretamente pra ela.
Não havia lágrimas em escorrendo por seu rosto, não havia absolutamente nada em seu rosto, que indicasse que ele estava feliz pela volta da irmã.
Ao se separar dos pais, Katherine sorriu para o irmão, mas não houve retribuição, ele apenas virou as costas e entrou em seu quarto, fazendo questão de bater a porta ao fechá-la.
April Delacour...
Guardem esse nome, pois essa personagem terá um papel muito importante na história da nossa Katherine.
E aí, teorias de "quem" ela pode ser?