Jardim de Papel (taekook ABO)

By Nyx-in07

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Kim Taehyung, um garoto simples e único criado numa fazenda no interior de Daegu, Coreia do Sul, tem o sonho... More

Margaridas na Janela
O Almoxarifado N° 1
Um Chefinho Muito Estranho
Azul Hortênsia
Luz na Escuridão
Florzinhas de Papel
Cabelos de Fogo
Dia de Cão
Garrinhas Afiadas... Ou Nem Tanto
Especial - O quê era Antes para se tornar Depois
O Vencedor
A Mui Nobre Família Ling
Se Queima em mim, Queima em você?
A Família Que Escolhemos
Amor Entorpecido e Instigado
Onde Deve Estar
Não Pode Ser Escondido
Profundezas do Desespero
Incêndio
O Pardal Perdido Que Não Podia Planar
A Mais Terrível e Perigosa e Completamente Assustadora Coisa de Todas

Estou Aqui Agora

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By Nyx-in07

Olá! Oi!

Finalmente, aqui está o capítulo!! E eu sei que demorei, mas foi puramente por falta de tempo. Provavelmente terei que atrasar algumas atts a partir de agora por isso, porque vontade eu tenho e muita kkkkkk mas infelizmente minha vida promete ser cada vez mais corrida. E não se preocupem, sempre acharei um momento para escrever e atualizar para vocês, meus docinhos!! 

Capítulo anterior me rendeu hein. Pelo menos dois processos nas minhas costas, algumas contas de terapia pra pagar, boas risadas com os surtos e rios de lágrimas com os comentários e textinhos tão lindos que vocês deixaram. Eu li todos e simplesmente chorei!!! Obrigada, obrigada!!

Tivemos muitos leitores novos nesse meio tempo, então sejam bem-vindos!!! 

Mas é isso, me perdoem qualquer erro e boa leitura!!

✿✿✿

O quê Jeongguk mais queria era colocar Taehyung sobre sua moto e levá-lo para casa, de onde ele nunca deveria ter saído, mas ainda tinham as malas. Então, contrariado, ele chamou um táxi e foi acompanhando o carro. Quando parava, conseguia ver Tae acenando para ele através do vidro da traseira, então acenava de volta. E eles ficaram nesse joguinho de acenar até chegarem ao prédio de Jeongguk.

O alfa insistiu para que fossem para lá porque queria conversar. Explicar toda a sua versão de seu passado para Tae e ouvir dele também.

Mas, quando subiram – Jeongguk carregando as duas malas e Taehyung atrás dele – foram surpreendidos com uma verdadeira baderna no apartamento.

Yoongi, Jimin e Lian-chi jogavam no videogame de Jeongguk e Seomin brincava de arremessar com Garrinhas. Havia um cheiro de comida picante no ar, o quê só podia significar que Jin e Namjoon se apossaram da cozinha.

– Vocês ainda estão aqui?! – exclamou Jeongguk, um pouco espantado e um pouco frustrado. Já era sua conversa com Taehyung.

– Oh! Olá! – disse Taehyung animadamente, saindo de trás de Jeongguk.

– TAE! – gritaram Yoongi, Jimin e Lian-chi, jogando os controles em cima do sofá e correndo até Taehyung. O olho direito de Jeongguk tremeu encarando seus preciosos consoles quicando no estofado – a sorte deles foi que nenhum caiu no chão.

Taehyung foi rodeado por braços e risadas felizes. Ele abriu um sorriso luminoso tentando retribuir todos, e tentando respirar, pois Jimin tinha agarrado-o pelas costas como um urso, apertando seu pescoço.

– Eu ouvi "Tae"? – era Jin, vindo da cozinha coberto por um avental, Namjoon logo atrás dele.

E começou-se outra sessão de abraços. Ninguém queria desgrudar de Taehyung.

– Calminha, gente. – disse Taehyung, rindo, depois de ficar na pontinha dos pés para conseguir abraçar Namjoon. – Eu só fiquei longe por duas horas.

– Sabe como é né, aquela coisa de só dar valor quando perde. – disse Jin. – É isso que eles estão fazendo, porque eu sempre te dei valor, TaeTae, meu chuchu.

– Há há. – ironizou Yoongi.

Seomin tinha levantado, abandonando Garrinhas com um brinquedo, e foi até Taehyung.

– Ainda bem que voltou, esses bananos não paravam de choramingar. – disse, apontando para eles com o polegar.

Taehyung deu uma risadinha.

– E você não sentiu minha falta também, Seomin-ssi? – ele sacudiu as sobrancelhas. Seomin fez uma cara de tédio.

– Puff, claro que não.

– Mentira! – contestou Lian-chi. – Você ficou quieto esse tempo todo! E eu sei que faz isso quando está chateado com algo!

– Você não sabe de nada! – retrucou ele, cruzando os braços, mas deu um sorriso de viés para Taehyung.

– É muito bom estar de volta, com vocês. Não existe nenhum lugar melhor no mundo. – confessou Taehyung, levemente ruborizado.

– Ainda bem que o Jeongguk chegou a tempo. – ressaltou Namjoon. – Fiquei morrendo de medo que ele pulasse na frente do trem.

– Claro que eu não faria isso! – protestou Jeongguk.

– Não tenho certeza. – contraditou Jimin. – Você costuma tomar umas decisões drásticas quando age na emoção. Se lembra daquela vez no 4°ano...

– Ah, não, Jimin! – interrompeu Jeongguk, apertando as sobrancelhas. – Essa história de novo não...

– O quê é? Que história? – quis saber Taehyung, curiosamente animado.

– Tínhamos uma prova muito difícil de matemática, só que eu e Jeongguk passamos o dia anterior inteiro jogando na lan house escondido ao invés de estudar. Quando chegou na hora, o mini Kookinho ficou tão nervoso que pegou a garrafinha de água e jogou tudo na cabeça pra não precisar fazer a prova. – contou Jimin, sorrindo maldoso.

– Gente do céu... não sei se fico com dó ou dou risada. – falou Jin, gargalhando. – Decidi que vou dar risada.

– Eu levei uma bronca por causa disso e ainda fui zoado o resto do ano. – ele reclamou.

– Ah, eu achei fofo. – opinou Taehyung. Ele e Jeongguk se encararam.

– Ih, galera, eu acho que a gente atrapalhou alguma coisa... – cantarolou Lian-chi, antes de levar um pisão de Seomin. – Ai!

– Deixa de ser inconveniente. – resmungou o ômega.

Jeongguk deu uma piscadela para Tae e disse um "Depois" silencioso. Ele corou e desviou o olhar.

– Foram muitas emoções pra uma só manhã. – falou Jin, com um falso drama. – Quem 'tá com fome?

Logo, a mesa de jantar de Jeongguk foi ocupada por uma travessa de kimchi apimentado e deliciosamente fumegante, acompanhado por filés de porco. Eles assaltaram a despensa do alfa e pegaram todo soju que encontraram, adicionaram mais cadeiras e se agruparam ao redor, atacando a comida como corvos famintos. Jeongguk se apressou pra sentar ao lado de Tae – todos perceberam, mas ninguém comentou – e serviu-o com uma porção generosa de comida e uma dose de bebida.

A conversa fluía suave e animada, nem parecia que tinham passado por tantos momentos conturbados apenas algumas horas antes.

Taehyung pensou que era assim que as coisas funcionavam em uma família que se amava. Uma briga sempre resultava em reconciliação, porque o amor sempre era maior que qualquer desavença.

– O aniversário de Hyeon está perto, não é? – perguntou Namjoon. – Vão fazer festa?

– Hyeon está falando dessa festa desde o começo do ano. – riu Yoongi. – Ele está mais ansioso pra festa do que pra ganhar o boneco do Homem-Aranha que fala e solta teias.

– Yoon não sabe organizar festas. E é por isso que essa missão é minha todos os anos. – disse Jimin, estufando o peito pomposamente.

– Eu só não vejo a necessidade de combinar as embalagens de lembrancinha com a vela do bolo... – protestou Yoongi, contrariado. – Ou a toalha de mesa com a cor dos guardanapos! Quem é que repara nisso?

– Se chama "olhar estético". – retrucou Jimin.

– Hyeon é o filhote de vocês? – perguntou Seomin.

Yoongi e Jimin se entreolharam, sorriram e Yoongi respondeu:

– É, sim. Nosso filhote.

Jeongguk pigarreou duas vezes, atraindo a atenção de todos:

– Eu... Hm... – ele olhou para Tae, que o incitou a continuar. – Acho que devo desculpas a todos, por fazê-los perderem uma manhã de trabalho e causar todo esse tumulto. E agradecimentos. Se não fosse por vocês, não estaríamos aqui.

Jeongguk desviou o olhar, envergonhado, e não viu os sorrisos orgulhosos de seus amigos.

– Nós somos família. – disse Jin. – E família ajuda e proteje uns aos outros. E não adianta fazer essa cara de nojinho, Seomin, você também 'tá incluído.

Todos riram, e Seomin corou. Lian-chi fez um carinho leve em sua bochecha vermelha.

– É o jeitinho dele de demonstrar afeto. – disse o alfa, sorrindo enquanto o olhava.

– Para com isso... – ele tentou disfarçar a vergonha colocando mais comida na boca, afastando-se da mão de Lian-chi.

– Cada um ter a sarna pra se coçar que merece. – concluiu Jin, com um muxoxo.

Enquanto isso, por baixo da mesa, a mão pretensiosa de Jeongguk procurava a mão de Taehyung, que estava apoiada preguiçosamente em cima de sua própria coxa. Quando sentiu o toque macio do alfa, Tae estremeceu e o olhou, mas Jeongguk permanecia com seus olhos atentos à conversa. Os dedos dele se entremearam nos seus e, quando percebeu, eles estavam com as palmas juntas, o polegar de Jeongguk acariciando sua pele devagar.

Prestar atenção a qualquer coisa agora parecia impossível. Todos os seus nervos estavam concentrados no toque de Jeongguk, sentindo e gravando cada textura e sensação. Seu coração batia a galope no peito.

Ele deu uma breve olhada em seus amigos, sentados em pares. Yoongi e Jimin tinham seus ombros quase se tocando, pareciam duas partes de um imã que se atraía sem nem perceberem. Namjoon alimentava Jin com sobremesa – um sorvete de baunilha que estava esquecido no congelador de Jeongguk – e sorria a cada expressão de satisfação que Jin fazia. Lian-chi tentava conseguir a atenção de Seomin cutucando-o sem parar, recebendo um rosnado.

E Jeongguk e Taehyung... De mãos dadas por baixo da mesa, queimando com um simples toque um do outro.

Taehyung não sabia o quê fazer agora que existia um "Jeongguk e Taehyung".

Antes parecia um sonho distante que fora quebrado e escurecido com sombras, mas que estava ali agora. Era real. O quê Taehyung sentia por ele era recíproco. Ele não amava sozinho.

Quando viu Jeongguk na estação de trem, achou que fosse sua imaginação. Uma alucinação causada pela tristeza. E quando ele se declarou da forma mais doce e tão... ele! Taehyung pensou que fosse desmaiar de tanto que seu coração batia forte, suas pernas tão rígidas quanto troncos de árvores.

Nem em seus sonhos mais distantes teria conseguido imaginar algo mais lindo que ver Jeongguk declarando seu amor por ele. E Taehyung queria ceder, queria muito, mas pensou por um momento e chegou a conclusão de que ele deveria se esforçar um pouco mais. Não porque Taehyung não o achava suficiente, mas porque queria que os dois tivessem mais que só uma reconciliação.

Queria se apaixonar de novo por ele, sem impedimentos nem mágoas agora. E queria que Jeongguk pensasse no porquê amava Taehyung, no que poderia fazer para que ele "o perdoasse".

Subitamente, ele ponderou como estaria se tivesse entrado naquele trem. Provavelmente mais do que infeliz, e pensar nisso lhe causou uma sensação tão ruim que apertou mais a mão de Jeongguk. Ele o olhou imediatamente. Porém, uma exclamação de Jin preocupou todos.

– Acho que estou enjoado. – disse, pálido como papel. – Parece que o bebê não gosta muito de sorvete de baunilha...

– Ah, minha nossa, quer que eu pegue um copinho d'água? – perguntou Namjoon, tão pálido quanto Jin, mas de apreensão.

– Não... Só... Vamos pra casa, Nam? 'Tô cansado.

Ele assentiu.

– Vamos, querido.

Então, todos decidiram que estava na hora de ir. Yoongi precisava buscar Hyeon na tia antes de ir para o trabalho e, mesmo que Jeongguk nunca fosse trabalhar no dia 6, os outros já haviam perdido tempo demais.

Antes que eles fossem, Taehyung pediu para conversar rapidinho com Jimin e Jin.

– Aquela conversa que eu ouvi... Jin-hyung achava que chefinho e eu éramos parceiros. Por quê? – quis saber Tae. Jin deu um longo suspiro.

– Sinto muito, Tae. Eu me enganei e acabei causando um mal-entendido enorme. Mas é que na minha família temos dois casais de parceiros lupinos. Meus avós maternos e meus tio-avós. Minha mãe contava que vovó chamou meu avô no cio, e foi assim que eles descobriram. O mesmo aconteceu com minha tia-avó. Quando você estava no cio, te ouvi chamando o Jeongguk e comecei a pensar bobagens.

– Mas então... – ele franziu o cenho. – Quer dizer... Não é possível ter mais de um parceiro na vida, é?

– Nunca foi registrado antes. – disse Jimin. – Já é difícil encontrar um, que dirá dois. Sinceramente, não acho que seja possível.

– Deve ter sido porque Jeongguk estava lá na hora com você. Ou porque você já era muito apaixonado por ele e seu lado lupino pode ter se confundido ou até já considerá-lo como seu alfa. – supôs Jin.

Taehyung mordeu o lábio, uma pesada angústia deixando-o inquieto.

– Não fica pensando muito nisso, Tae. – disse Jimin, afetuosamente. – Esse negócio de parceiro é muito superestimado. Não precisa ser parceiro para um casal dar certo. Veja eu e Yoongi, Jin e Namjoon, Hoseok e Taeyeon... E Lian-chi e Seomin, que são parceiros, vivem se estranhando. – ele riu, contagiando Tae. – Tenho certeza que você e Jeongguk vão ser felizes.

– Não sei porque fiquei matutando isso, só... fiquei. – ele empertigou os ombros. – Vou dar um jeitinho de tirar isso da cabeça, uhum.

Quando a porta do elevador se fechou, Jeongguk deu um suspiro seguido de um sorriso e olhou para Tae.

– Enfim, sós.

Taehyung deu um longo bocejo que durou todo o caminho que Jeongguk fez até o sofá, onde o ômega estava sentado sobre os calcanhares.

– Com sono? – perguntou Jeongguk, tirando uma mecha de cabelo azul dos olhos dele.

Ele assentiu, piscando os olhos úmidos.

– Eu acordei cedinho, mas não quero dormir agora.

– Também acho que precisamos conversar. – disse ele, se recostando no sofá. – Imagino que tenha muitas perguntas.

– Algumas. – concordou. – Mas antes eu quero que me conte a sua história, chefinho. Eu quero ouví-la de você.

Jeongguk se remexeu, incomodado, desviando o olhar.

– Não é uma história bonita.

– Quero ouvir mesmo assim. – falou, um pouco firme, mas também gentil.

Ele deu um longo fôlego, procurando as palavras certas.

– Eu era uma criança solitária. Pelo menos até conhecer Jimin. Meus avós trabalhavam muito, meu pai fazia qualquer outra coisa para não me dar atenção e minha mãe não parava em casa. Eles dois... Bom, quando fiquei mais velho, percebi que não gostavam da vida que levavam. Meu pai odiava trabalhar com negócios, minha mãe se arrependia de não ter seguido seus sonhos, e nenhum deles me amava a ponto de querer viver por mim.

A voz dele tremia. Taehyung chegou pertinho e segurou sua mão. Era a única coisa que podia fazer.

– Daí veio minha adolescência... Jimin e Yoongi que me impediram de surtar. Eu estudava muito, mais do que era necessário, porque queria me provar. Chamar a atenção dos meus pais. Passei em primeiro lugar em todas as universidades que prestei vestibular, comecei a trabalhar com a minha avó e era o melhor da turma nos dois cursos que fazia... – ele fez uma pausa brusca, sorvendo ar entre os dentes. – Você... Pode chegar mais perto? Só um pouco...

Taehyung fez mais. Deixou que ele o envolvesse com seus braços e o puxasse para seu peito. Era cálido e confortável como deitar numa cama e cobrir-se por inteiro num dia frio. Taehyung não sabia se era pelo sentimento mútuo que os envolvia, a cumplicidade e confiança que começavam a desenvolver agora que Jeongguk estava se abrindo, ou se pelos dedos dele se emaranhando em seus cabelos e lhe trazendo paz, mas tentou controlar seu coração louco. Jeongguk precisava de toda a sua atenção.

– Eles morreram antes que eu terminasse a faculdade... – continuou ele. – E isso me destruiu, mas também me mudou. Eu decidi que nunca mais faria nada para impressionar ninguém, nem procuraria orgulho ou aprovação de outra pessoa. – ele deu uma risada nasal. – Isso foi antes de eu conhecer a Nora. Quando percebi, estava fazendo de tudo para impressioná-la.

– Como ela era? – perguntou Tae, de olhos fechados, apreciando a sensação de estar abraçado à Jeongguk, sentindo o carinho dele em seus cabelos. Era mil vezes melhor que sua imaginação. Taehyung tinha uma lista mental de coisas que eram muito melhores na imaginação, mas o toque de Jeongguk certamente não era uma delas.

– Nos conhecemos num desfile, aqui na Coreia. Ela estava fugindo do agente dela. – ele riu de novo. – Estava sempre fugindo dele. Detestava que mandassem nela e vivia quebrando regras. Isso chamou minha atenção. Eu que sempre andava na linha, tirando as melhores notas e sendo o exemplo perfeito. Mas Nora... Ela brilhava. Era uma criação orgulhosa do Paraíso. Eu acredito que ela veio para trazer cores pra minha vida. – ele falava com saudade e adoração, mas sua voz foi diminuindo até parecer inegavelmente triste. – E quando se foi, tudo voltou a ser preto e branco. Eu caí num abismo.

Taehyung ergueu o olhar para Jeongguk. Havia uma sombra em seu rosto.

– Pode chorar se quiser, chefinho. – disse, espalmando a mão no lado esquerdo do peito dele. – Faz mal guardar tudo no coração.

Jeongguk balançou a cabeça levemente, cobrindo a mão de Tae com a sua.

– Estou bem, só é difícil falar sobre isso.

– Então me conte o quê aconteceu depois. – ele voltou a encostar a orelha no peito dele, ouvindo as batidas suaves que vinham dali.

– Depois... – um suspiro. – Minha vida seguiu bem monótona, pra falar a verdade. Uma rotina sem fim. Da empresa pra casa e da casa pra empresa. Às vezes o pessoal conseguia me arrastar para algum lugar, mas não me lembro de alguma vez em que realmente me diverti. – Taehyung sentiu um aperto interior. Pobre Jeongguk... Taehyung só queria poder abraçá-lo e protegê-lo para que nunca mais sofresse. – Na verdade, continuou assim até você chegar.

Foi inevitável não corar. Taehyung ergueu os olhos surpresos para o alfa.

– E-eu?

– Sim. – ele riu e apertou sua mão. – Você me arrastou para fora da minha zona de conforto e bagunçou completamente a rotina que eu seguia todo santo dia. Taehyung, você me fez armar uma declaração tosca e vergonhosa para Yoongi e Jimin! – foi a vez de Taehyung rir, escondendo o rosto vermelho de vergonha. – E, além disso, fez todo mundo se encantar por você. E enquanto eu tentava te arranjar algum defeito, dizendo para mim mesmo que não me importava, eu estava me encantando também.

Ele foi capturado pelo olhar de Jeongguk. E, imerso naqueles oceanos escuros como ébano, tudo o quê Tae sonhara ver ali. Leveza, carinho, ele sorria com os olhos.

– Como percebeu? – quis saber Tae, baixinho, sem quebrar o contato visual. – Você sabe...

– Estava aqui o tempo todo. – ele apontou para o próprio coração. – Eu só não queria ver. Mas eu percebi depois da sua declaração, e uns bons choques de realidade. Jimin jogou a verdade na minha cara e me mandou lidar com isso, Yoongi foi um pouco mais gentil. – eles riram, e era incrível, pensou Tae. Ele ali, juntos, rindo de uma situação que os deixara tão mal anteriormente.

Juntos. Jeongguk e Taehyung. Juntos. Não mais duas pessoas distintas sem nada em comum. Um conjunto unido por um sentimento maior que eles. Juntos soava maravilhoso e era sua nova palavra favorita.

– Você é tão lindo... – murmurou Jeongguk, acariciando o rosto de Tae com o polegar. – É perfeito, e até seus defeitos se completam. E o seu coração é tão bom que não imagino o quê possa ter visto em mim.

Taehyung abriu a boca para fazer um discurso, mas Jeongguk interrompeu-o colocando o dedão sobre seus lábios.

– Não, não me diga ainda. Antes quero me redimir por tudo. Quero me tornar melhor e merecedor do seu amor e de qualquer coisa boa que tenha a dizer sobre mim.

Taehyung queria dizer que ele já era. Queria listar todos os motivos pelo qual Jeongguk era sua pessoa certa, sua pessoa favorita, tudo que o seu coração desejara e amava. Mas simplesmente não conseguia pensar com aquele olhar dele sobre si. Jeongguk o encarava intensamente como se estivesse faminto.

Os olhos inquietos traçavam seu rosto. Jeongguk imaginava quais seriam os melhores lugares para beijar. Na bochecha para fazê-lo corar, no nariz para fazê-lo rir, ou na boca para ouvi-lo suspirar. Ele tinha uma curva longa no arco do cupido que se abria no desenho do lábio superior como as asas de um pássaro. Jeongguk desenhou-a com o dedo.

Se aproximou para beijar ali, mas Taehyung desviou, então seus lábios esbarraram na mandíbula.

– Chefinho... – um beijo, depois outro mais embaixo. – Chefinho!

Ele se afastou para longe do alcance de Jeongguk.

– O quê? – quis saber um Jeongguk frustrado. Ele só queria continuar beijando Taehyung para sempre.

– Nada de beijos mais! – disse ele, como se lesse seu pensamento. – Não esqueça que você está no castigo!

Jeongguk bufou e cruzou os braços. Seu peito ainda estava quente, onde ele tinha estado segundos antes e de onde jamais deveria sair. Seus dedos formigavam com a falta da sensação dos cabelos dele.

Jeongguk estava começando a detestar esse castigo.

– 'Tá, então me diga exatamente o quê eu posso e não posso fazer.

Ele se aprumou, e Jeongguk observou satisfatoriamente as bochechas coradas e os pelos dos braços arrepiados. Algo dentro de si, seu lado mais selvagem, apreciava e muito ver o efeito que causava no ômega. Seu ômega. Ou, pelo menos, o ômega que seria seu.

– Primeiro, nada de beijos.

Jeongguk fez um biquinho chateado.

– Nem na bochecha?

Ele pensou por um momento.

– 'Tá, na bochecha pode. Mas só um beijinho.

Que droga, ele é tão fofo. Pensou Jeongguk. Os lábios espremidos um no outro, o cenho franzido querendo passar seriedade. Jeongguk não conseguia parar de olhar para ele.

– Hm... E o quê mais?

– Não está permitido contato físico além de abraços rápidos. Pode haver algumas exceções em casos excepcionais. – acrescentou. – E não pode ficar pegando na minha mão em público igual hoje na mesa. Isso também está proibido.

– Não sei do que está falando. – ele desviou o olhar, escondendo um sorriso.

Taehyung estreitou os olhos.

– Sabe, sim.

– Ah, devo ter esquecido. Tenho uma memória péssima.

Ele é tão atrevido, pensou Tae, bufando mentalmente.

– Só isso? – perguntou Jeongguk.

– A princípio, sim. Algumas coisas podem mudar dependendo do seu comportamento. – falou, austero como um juíz. Jeongguk deu um riso de escárnio.

– Tudo bem, eu posso fazer algumas exigências também?

Ele cruzou os braços.

– Você pode tentar.

– Quando eu te convidar para um encontro, você precisa aceitar sem questionar.

Ele pensou por um momento.

– Feito.

– Outra coisa, não precisa me chamar de "chefinho" fora da empresa. Pode ser só Jeongguk.

– Ah, mas eu já me acostumei com "chefinho". – reclamou. – Mas acho que tem razão. Ainda não estamos na fase dos apelidos. É muito íntimo.

Jeongguk pareceu ofendido, mesmo que a ideia de "não apelidos" tenha vindo dele.

– Mas você chama todo mundo por apelidos!

– Você não é como todo mundo! – rebateu. – Além disso, apelidos para chamar seu namorado são completamente diferentes dos outros!

Jeongguk deu um sorriso de viés que logo ocupou metade de seu rosto.

– Namorado, é? Gosto de te ouvir dizendo isso.

Taehyung ergueu uma sobrancelha.

– Você não é meu namorado, chefinho. Ainda não.

Ele fechou a cara, mas lembrou de algo que o fez sorrir maliciosamente de novo.

– Então... Quatro filhotes?

Tae parou no ato de colocar a franja atrás da orelha, toda a cor lhe sumindo.

– Ah, não! – exclamou, cobrindo o rosto. – Chefinho, por favor, esqueça isso!

Ele jogou a cabeça para trás, gargalhando.

– Não posso esquecer. Inclusive, estou com ele aqui...

– Nããão! – Taehyung se jogou sobre ele, fazendo-os caírem para trás no sofá, um sobre o outro. – Eu imploro, por favor! É tão vergonhoso...

Jeongguk estava surpreso com sua própria astúcia. Ele tinha Taehyung exatamente onde queria. Desajeitadamente em cima de si, mas ainda perto, ao alcance de suas mãos.

– Eu paro se me der um beijo. – ele estava sendo um grandíssimo filho da mãe, mas não podia evitar. Era instantâneo: estar perto de Tae lhe trazia uma felicidade interior boa demais, viciante como um droga, e ele não conseguia não desejar mais.

– Você está trapaceando! – acusou ele, tentando se afastar, mas Jeongguk o segurou onde estava pela cintura.

– Cada um joga com as armas que tem. – sussurrou, resvalando seus lábios nos dele.

Taehyung estava indignado. Aquele alfa abusado, ele estava sorrindo! Se divertia em torturá-lo!

Taehyung devia saber que apostar com Jeongguk, qualquer que fosse o motivo, seria uma prova de fogo. Ele não desistia enquanto tivesse cartas na manga, e era muito bom em encontrá-las. Era muito bom em vencer.

Um dia se perde, no outro se ganha, Tae pensava. Jeongguk podia estar com a vantagem agora, mas ele ainda teria muito com o quê se preocupar. Ele não perdia por esperar.

Entretanto, por mais que ele estivesse no castigo, beijar Jeongguk nunca seria um problema. Tae juntou seus lábios com muita delicadeza, devagar, e sentiu Jeongguk sorrir antes de puxá-lo e descansar as mãos preguiçosamente em sua cintura, abraçando-a. Taehyung segurava a lateral de seu pescoço.

A boca dele era macia, Jeongguk constatava todas as vezes. Era como roçar os lábios numa pétala de flor. Taehyung não era tímido ao beijar, só indeciso. Ele deixava Jeongguk guiar e seguia com perfeição. Quando o alfa sugou seu lábio inferior e mordeu, ele fez o mesmo logo depois. E sempre existiria aquele frio na barriga, mas a ansiedade se fora. Agora, eles se beijavam como duas pessoas que se amavam e tinham consciência disso, não mais como amantes obstinados e imprudentes, amedrontados por não saberem o quê estavam fazendo.

Quando eles se separaram, Taehyung ainda ficou perto o bastante para seus narizes se tocarem. Jeongguk permanecia encarando-o nos olhos, absorvendo cada mínima ação. As pupilas dilatando, os cílios batendo na bochecha a cada piscar.

– Miaaaaau.

Os dois viraram a cabeça ao mesmo tempo, vendo Garrinhas sentado no tapete e observando-os, parecendo nada feliz.

– Há quanto tempo 'tá aí?! – perguntou Jeongguk, indignado por seu momento com Tae ter sido interrompido.

– Meow. – miou baixinho, se esfregando no sofá manhosamente.

– Pobrezinho, ele deve estar se sentindo de lado. – disse Taehyung, se desvencilhando de Jeongguk e apanhando o gatinho para seu colo. Garrinhas começou a ronronar enquanto Tae coçava embaixo de seu queixo.

Jeongguk estava de braços cruzados, estreitando os olhos.

– Quem é o gatinho mais lindo do mundo, hm? – ele dizia e beijava atrás das orelhinhas, esfregando o nariz no pelo preto lustroso. – Quem é o peludinho mais fofo de todos os peludinhos?

– Agora eu que estou me sentindo de lado. – reclamou Jeongguk.

Taehyung riu e disse:

– Você está de castigo.

Aquele ômega...

Quando Garrinhas se cansou do carinho e foi atrás de um móvel para arranhar, uma mesa para escalar ou outro pote de canetas de Jeongguk para derrubar no chão, Taehyung deu um longo bocejo.

– Acho que é melhor eu ir. – disse, limpando lágrimas do canto dos olhos. – 'Tô com muito soninho.

– Fica mais um pouco. – pediu Jeongguk, brincando com os dedos dele. Não estava nem um pouco à vontade em ver Taehyung ir e voltar a ficar sozinho naquele apartamento, que parecia tão vazio sem ele ali. Taehyung enchia aquelas paredes cinzas com risadas, calor e momentos bons. – A gente pode ver um filme...

– Você está me enrolando... – acusou ele, mas ver a cara que Jeongguk fazia para convencê-lo, aqueles olhos esbugalhados e o beicinho, ele não conseguia resistir. Ele era tão manhoso, mesmo sendo um alfa.

– 'Tá, eu admito que estou procurando uma desculpa para ficar perto de você. Por favorzinho...

Taehyung percebeu que aquele castigo não seria nada fácil para ele também. Seu coração era muito mole por tudo que o envolvia.

– 'Tá bom, mas só porque você disse "por favorzinho".

Ele deu um sorriso tão grande e tão espontâneo que Tae quis chorar. Os dentinhos de coelho e as ruguinhas no canto dos olhos apareciam sem esforço e sem nada que os impedisse. Eles aqueciam o coração de Taehyung com a promessa de que tudo ficaria bem agora. Que eles teriam uma chance, uma linda chance, de serem felizes juntos.

– Vou pegar a pipoca. – disse ele, correndo para a cozinha.

Taehyung dormiu no meio do filme, usando o ombro de Jeongguk como travesseiro. O alfa pensou se deveria acordá-lo e levá-lo para casa, mas não ousaria. Ele parecia tão cansado, e Jeongguk se odiou por saber que a culpa era sua. Ele ficou tão triste a ponto de ir embora de Seul, sua cidade dos sonhos, por sua causa.

Mas isso jamais voltaria a acontecer. Agora, Jeongguk o protegeria e faria com que ele fosse feliz. Porque ele merecia e porque Jeongguk amaria fazê-lo feliz.

Desligou a televisão e pegou Tae no colo. Ele resmungou um pouco, mas não acordou. Era leve como uma pluma e parecia feito para caber em seus braços. Seu pequeno ômega.

Pensou em levá-lo para o quarto de hóspedes, mas pareceu errado. Além disso, sua cama era mais confortável. Jeongguk depositou-o no colchão, apoiando sua cabeça com cuidado no travesseiro, cobrindo-o com um lençol. Fechou a janela e as cortinas para que nada atrapalhasse o sono dele.

Jeongguk ainda ficou uns bons minutos assistindo-o dormir, pensando que o destino, o universo, ou o que que fosse, era muito bondoso em lhe ceder o bem mais precioso do mundo. A pessoa mais incrível de todas para que ele pudesse amar.

Beijou-o na testa e lhe deixou com seus sonhos, esperando estar presente neles.

✿✿✿

Taehyung abriu os olhos brilhantes depois de um sono sereno. Ele voltara a sonhar, e foi maravilhoso. Jeongguk estava lá num campo cheio de margaridinhas e ipês amarelos. Seu cabelo parecia ainda mais preto que de costume, a pele branca era pintada com rubor de sol e o sorriso vinha tão fácil quanto o sopro de uma brisa de verão. Parecia esperar por ele enquanto olhava para o céu, tão azul quanto o interior de uma safira.

Ele se espreguiçou e percebeu estar numa cama diferente, num quarto diferente, sob uma penumbra diferente.

As paredes eram de um azul cinzento frio, exceto a que estava bem em frente à cama, que possuía um padrão de tijolos brancos. Encostado nela, um móvel marrom escuro com uma televisão. Alguns quadros na parede, nada de muito interessante na decoração, Taehyung podia apostar que estava no quarto de Jeongguk.

Ele se surpreendeu ao perceber que nunca havia estado no quarto dele antes. Mas, também, nunca houve motivo para que estivesse. A cama em que estava era muito, muito macia, quentinha e tinha o cheiro de Jeongguk. Deve ser por isso que dormira tão bem e sonhara com ele.

Tae olhou ao redor e notou que a gaveta da mesa de cabeceira à esquerda estava aberta. Vazia, exceto por duas coisas que ele simplesmente não pôde ignorar: um par de sapatinhos de bebê e duas fotos. Ele estendeu a mão para pegá-los.

Os sapatinhos eram tão pequenos que cabiam, os dois, na palma de sua mão, feitos de feltro e cetim para pezinhos delicados. Taehyung deu um sorriso repleto de tristeza. Deviam ser os sapatinhos de Evelyn. Jeongguk os guardara.

Claro que guardara. Uma coisa que havia aprendido sobre o alfa era que ele era muito devotado a quem amava. E amava com fervor. Por esse motivo, também, sofria intensamente.

A primeira foto era de Jeongguk e uma garota muito bonita, com cabelos loiros como cascatas de raios de sol e olhos castanho-esverdeados. Ela tinha um rosto gentil e sorria como alguém que estava prestes a cometer uma traquinagem. Aquela devia ser Nora, e ela fazia chifrinhos com dois dedos em um Jeongguk que não tinha a menor ideia do que estava acontecendo. Ele parecia inegavelmente jovem, bem diferente do Jeongguk maduro de agora. Seu cabelo caia pela testa numa franja adorável e ele tinha o sorriso de uma criança feliz.

A segunda foto era Evelyn dentro de uma incubadora, um bebê tão pequeno e frágil que Taehyung sentiu seus olhos se enchendo de lágrimas. Como devia ter sido para Jeongguk ver sua filha dentro de uma caixa transparente e não poder protegê-la, evitar que qualquer mal lhe acometesse? Ele, que cuidava tanto de quem amava?

– Pequeno Anjo... Eu queria ter podido conhecer você. – ele abraçou a foto e os sapatinhos. – Espero que você seja parecida com seu pai, assim posso imaginá-la em meus sonhos. Com os dentinhos de coelho e os olhos redondos... São as partes que mais gosto da aparência dele, sabia? – ele olhou, então, para a foto de Nora. A sorridente Nora, que devia ter feito Jeongguk muito feliz enquanto viveu. – Prometo que vou cuidar dele, tudo bem? Pode confiar em mim. Vou amá-lo e cuidaremos um do outro. Promessa de dedinho.

Taehyung guardou as fotos e os sapatinhos de volta na gaveta, fechando-a como se selasse uma promessa de vida. Não lhe agradava ter que deixar Nora e Evelyn numa gaveta escura, mas entendia que devia ser difícil para Jeongguk encará-las. Um dia ainda diria para Jeongguk enquadrá-las, mas só quando ele se sentisse pronto.

Tae se levantou e foi até o banheiro do quarto - o enorme banheiro, que tinha até uma banheira de hidromassagem - para jogar uma água no rosto e fazer um bochecho, antes de ir atrás de Jeongguk. Precisava vê-lo e abraçá-lo. Só... precisava disso como precisava de ar para viver.

Garrinhas dormia de barriga para cima no sofá, mas Jeongguk não estava no apartamento. Só depois ele foi perceber um bilhete posto em cima da mesinha de centro da sala, escrito com a letra do alfa, e dizia:

Fui até a academia. Volto logo. Pode pegar o que quiser na geladeira e fazer o quê quiser. Sinta-se em casa. Ass.: Um alfa que descobriu amar te ver dormir.

Taehyung sorriu e corou com a última frase. Então Jeongguk havia observado-o dormir? Saber disso o deixava estranhamente eufórico. Quer dizer, ele só estava dormindo. Nada de interessante. Assistir alguém dormir lhe parecia um ato de carinho. E mais. Um ato de amor.

Tae vestiu seus sapatos e entrou no elevador para o primeiro andar, onde esperava conseguir informações de onde ficava a academia. O porteiro foi gentil em lhe acompanhar até lá. Era um senhor muito sorridente com um sotaque puxado que, durante a curta viagem de elevador, lhe mostrou uma foto de seu netinho de 2 anos e disse:

– É um garotinho muito esperto, e tenho certeza que vai ter tão bonito quanto o senhorzinho quando crescer!

Taehyung deu risada e fez uma mesura, agradecendo.

A academia estava vazia, exceto por um alfa de cabelos escuros, bermuda e regata parado numa posição estranha, apoiando os antebraços e pontinhas dos pés no chão sobre um tatame, e parecia estar sofrendo um bocado para permanecer daquela forma.

Jeongguk não notou sua presença, então Taehyung foi silenciosamente até ele, subindo em suas costas. De perto, percebeu que ele estava com fones de ouvido, por isso não o ouviu chegando. Mas deu um espasmo de susto quando sentiu um peso sobre si.

– Tae?! – exclamou, quando virou a cabeça e viu o ômega de cabelos azuis, segurando em seus ombros para se equilibrar. – Que susto! O quê faz aqui?

Ele estava falando um pouco mais alto que o normal, então Taehyung tirou-lhe um dos fones de ouvido sem fio.

– Você não estava em casa. – constatou, saindo de cima dele e sentando sobre os calcanhares.

– Sim, eu fiquei entediado e vim me exercitar um pouco. – Jeongguk se aprumou, sentando de frente para Tae. – Aconteceu algo?

Ele negou com a cabeça.

– Eu só... senti saudade.

Jeongguk sorriu, satisfeito.

– Sentiu, é? E como chegou até aqui?

– O senhor da portaria foi muito gentil em me ajudar. Ele disse que não deveria sair do posto, mas que nunca se pode negar ajuda a ninguém. – de repente, Tae ficou preocupado. – Ele fez mal? Por favor, não o culpe...

– Eu jamais faria isso. – interrompeu Jeongguk. – Na verdade, acho que ele merece um aumento de salário.

Taehyung inclinou a cabeça.

– Ele merece? Por quê?

Ele deu um sorriso de lado.

– Porque trouxe você para mim.

Entendimento iluminou seu rosto e o coloriu de rosa-avermelhado. Tae encolheu os ombros.

– Ah... – então, ele ergueu os olhos para Jeongguk. – Eu... bem, o motivo pra eu vir... é que eu queria te abraçar.

Jeongguk pareceu surpreso, mas disse:

– E o quê está esperando?

Taehyung mergulhou nos braços abertos dele, enterrando o rosto no seu pescoço. Jeongguk tinha cheiro de suor e colônia amadeirada, e Tae absorveu-o até estar grudado em sua memória.

Jeongguk acariciou-o do topo da cabeça até a nuca, murmurando:

– Tem certeza que está tudo bem?

Ele assentiu, se afastando o suficiente para olhá-lo nos olhos.

– Chefinho... Eu tenho só mais uma condição.

– E qual é?

Tae engoliu em seco.

– Quando estiver se sentindo mal, ou cabisbaixo, ou só cansado, prometa que vai me contar. E vai compartilhar comigo o quê estiver te incomodando.

Jeongguk desviou o olhar, subitamente sombrio. A mão que lhe acariciava o pescoço deslizou até o ombro.

– Tae... Eu preciso que entenda que isso não é tão simples para mim quanto é para o resto das pessoas. Lido com meus problemas guardando-os e, se eu puder, ignorando-os. Sei que não é o ideal, mas...

– Não está certo! – protestou Taehyung. – Não precisa mais fazer isso, chefinho! Eu estou aqui agora e quero que confie em mim!

Jeongguk deu um sorriso triste.

– Meu bem, você só "está aqui" há... mais ou menos, sete horas, desde que nos encontramos na plataforma. Eu tenho sido assim há anos, entende?

Ele entendia. Mesmo assim, engoliu o choro em sua garganta.

– E-então pode, pelo menos, me falar? Pode ser só um "Eu estou tristinho", aí eu vou saber e prometo não fazer perguntas!

Jeongguk riu baixinho e assentiu.

– Posso fazer isso. – ele tocou sua bochecha delicadamente com o polegar. – Não fica assim. Odeio te ver triste.

– Não estou triste. – disse por entre o biquinho.

– Está, sim.

– Não estou!

Ele suspirou.

– Sei que pensa que não confio em você, mas não é verdade.

– Juro que não penso isso, chefinho. – retrucou Tae. – Minha mãe me dizia que existia um crescimento para cada coisinha da vida. Um crescer para a felicidade, um crescer para a tristeza, um crescer para o amor. Você pode ser bom em um e péssimo no outro, não tem problema. Cada um cresce de uma forma. Você só não cresceu nisso ainda.

– Acho que sua mãe está muito, muito certa. – Taehyung concordou com a cabeça. Sua mãe quase sempre estava certa. – Mas vamos mudar de assunto. Quero que me diga mais sobre você.

– Mas você sabe tudo sobre mim. – Taehyung sentou no tatame com as pernas cruzadas, sentindo falta dos braços quentinhos de Jeongguk ao seu redor. Mas ele precisava respeitar os limites do castigo.

– Não sei, não. Como.... O seu aniversário! Quando é? Eu não me lembro...

– 30 de dezembro! – respondeu animadamente. Ele adorava falar sobre si mesmo. – E o seu?

– 1 de setembro...

Por exatamente uma hora, eles brincaram de perguntarem coisas um ao outro, com os corações mais leves e os olhares mais serenos. Taehyung dava respostas longas e cheias de palavras, enquanto Jeongguk era mais direto. Mais tarde, Jeongguk, enfim, o levou para o apartamento de Jimin – e seu, também. Tae estava sorrindo para o nada antes de entrar e ser bombardeado com perguntas pelo seu melhor amigo.

✿✿✿

– Então? Como foi com seu boy todo poderoso? – perguntou Lian-chi, dando um sorriso malicioso.

Já era nove e meia da noite. Taehyung tinha jantado com Jimin, Yoongi e Hyeon e arrumado suas coisas de volta. Logo antes de ir, tinha conversado com Jeongguk sobre seu emprego no almoxarifado. Ele disse para que ficasse tranquilo, pois aquela vaga não poderia ser ocupada por mais ninguém. Taehyung já poderia voltar a trabalhar no dia seguinte.

Agora, conversava com Lian-chi por chamada de vídeo, deitado em sua cama já com seu pijama.

– Nós conversamos... Assistimos um filme, mas eu dormi no meio... E ele me levou para a cama. – respondeu, e foi inevitável não sorrir.

– E não rolou nem uns beijinhos?!

Ele corou.

– Bem, alguns...

Lian-chi deu uma risada maldosa.

– Eu sabia que o Kookinho não iria me decepcionar.

– Com quem você 'tá falando? – uma outra pessoa disse ao longe. Taehyung reconheceu como a tempestuosa voz de Seomin.

– É o Seomin-ssi? – perguntou.

– É. Olá, besourinho. – Seomin apareceu na câmera. – Esse folgado não sai mais da minha casa.

Nossa casa. – protestou Lian-chi.

– Garoto?! Como pode ser nossa casa se nós nem namoramos?!

Lian-chi ficou indignado.

– Não namoramos porque você nunca me aceita! Eu já pedi três vezes em três contextos diferentes e sempre recebo um "não"!

– Eu disse que queria ir com calma!

– Você nem queria cozinhar pra mim! – ele fez um biquinho. – Eu disse que estava com fome e você falou "Pede alguma coisa"! – imitou uma voz rabugenta.

Taehyung apenas olhava de um para o outro, perdidinho.

– Porque eu cozinho mal, Lian-chi! E você sabe disso!

– Não ligo! Eu amo a sua comida ruim!

Seomin jogou as mãos para o alto.

– Quer saber? Eu desisto! – ele saiu do raio da câmera.

– E eu já falei pra me chamar de "Meu bombomzinho", não Lian-chi! Lian-chi é muito frio!

– Eu nunca vou te chamar disso! – e bateu a porta.

Lian-chi deu um longo suspiro.

– Vocês parecem... bem. – falou Tae, com um sorriso amarelo.

Ele apertou os lábios.

– Sabe aquelas balas que são azedas no começo, mas depois ficam doces? É o Seominie. Apesar de me agredir e me xingar e quase sempre recusar meu amor e carinho, eu amo ele. E sei que ele me ama naquele coração peludo. – disse ele, com os olhos brilhando.

– Eu entendo. – falou Taehyung, com um sorrisinho que dizia saudade. – Jeongguk também é um pouco assim. Hoje ele foi mais carinhoso, mas eu sinto que ainda tem muitas coisas entre nós, sabe?

Lian-chi fez um gesto de despensa.

– É porque ainda é muito recente. Mas relaxa, essa coisa de confiança e intimidade é construída com o tempo. Logo vocês vão estar dividindo cuecas e entrando no banheiro pra fazer xixi enquanto o outro toma banho.

Taehyung arregalou os olhos, gaguejando, enrubescendo até as orelhas.

– M-mas... Isso... Você faz isso com o Seomin-ssi?!

Lian-chi torceu o rosto.

– Nah, não mesmo. Se eu entrasse no banheiro enquanto ele toma banho, não sairia de lá vivo. Por mais tentador que seja. – ele suspirou. – Acho que preciso ir lá amansar minha fera, mas desejo felicidades pra você e seu ricaço boa pinta.

Tae deu uma risadinha.

– Obrigado, Lian. Boa sorte com o Seomin-ssi.

Assim que Lian-chi desligou a chamada, a porta se abriu e Seomin entrou, como se estivesse esperando a deixa. O alfa reconhecia aquela postura. Contrariedade misturada com arrependimento.

– Bombomzinho... – ele chamou, se aproximando manso como um gatinho.

– Ahhh! Agora você fala né! – ele cruzou os braços. Seomin sentou em cima da sua barriga, com uma perna de cada lado, abraçando-o.

– Você sabe que eu tenho vergonha de falar essas coisas perto dos outros. – murmurou contra seu pescoço, fazendo cócegas.

– Mas é o Tae! – retrucou ele, não se deixando levar pelo afago que ele fazia com o nariz na sua clavícula. Precisava se manter firme, mesmo que ter seu parceiro sobre si com uma de suas camisas e um short fosse terrivelmente tentador. – Sabe o quê acontece quando eu falo que estamos juntos? As pessoas perguntam se eu estou bem!

Seomin levantou a cabeça, mordendo o lábio inferior e evitando encará-lo.

– Me desculpa, eu sei que sou chato e horrível de aguentar, mas...

Lian-chi, vendo a carinha de tristeza que seu parceiro fazia e que amolecia completamente seu coração, se arrependeu no mesmo instante, segurando-o pelas bochechas.

– Não! Eu não ligo para o quê as pessoas dizem! Que se danem elas! Não te conhecem como eu conheço...

– Só está dizendo isso para que eu me sinta melhor. – resmungou ele. Lian-chi negou e o fez olhá-lo.

– Amor, você leva café na minha sala todo dia, mesmo eu dizendo que não precisa. Não muito quente e com bastante açúcar, do jeito que eu gosto. E manda mensagem dizendo para eu parar de trabalhar e ir comer ou vai vir pessoalmente me chutar até o refeitório. – Seomin deu uma risada abafada no pescoço de Lian-chi. – E ainda teve aquela vez que você enrolou Chang-yin no telefone por uma hora só porque eu disse que não queria falar com ele!

– Seu irmão é mais educado que você. – ele arqueou uma sobrancelha em provocação.

– Mas eu sou mais interessante. – retrucou. – Entenda, essas pequenas coisas me fazem um bem que você não tem noção! Eu amo você, com todos os tapas, pisões, beliscões, empurrões...

– As pessoas não podem pensar que estamos tão bem – interrompeu ele, abrindo um sorriso maldoso. – Ou vão ficar com inveja e querer roubar você de mim.

– Então a sua ideia é fazer eu parecer um paspalho frouxo que apanha do próprio parceiro? – disse ele, com sarcasmo.

Ele estalou a língua.

– Preciso cuidar do meu namorado.

Lian-chi congelou.

– O quê você disse? – murmurou, com assombro. Mas Seomin apenas sorriu e disse:

– Quer namorar comigo?

– Eu... – balbuciou, depois pareceu ofendido. – Deveria dizer não, sabia?

– Então você aceita?

– Óbvio que sim! – ele segurou sua cintura e o abraçou, sentindo as mãos leves de Seomin acariciando seus cabelos. Elas eram muito delicadas quando não usadas para a famigerada violência. Lian-chi precisava admitir que o provocava igualmente, mas era assim que eles eram. Era assim que davam certo, com todos os defeitos.

Podia parecer cedo para alguns, mas era tão certo para eles. Ambos eram teimosos e decididos, e sabiam o quê queriam e o que sentiam. Sabiam que amavam um ao outro, não importa o quê digam. E isso bastava.

Lian-chi desconfiava - na verdade, tinha quase certeza - que era a única pessoa na vida de Seomin que ele amava. Ele passou muito tempo sozinho, tempo demais, e esqueceu como era se importar com outra pessoa.

Lian-chi queria garantir que ele nunca mais esquecesse.

Ele apoiou o queixo no peito dele e o olhou. Ainda era estranhamente quente a sensação de olhá-lo e ter certeza de que estava nos braços certos da pessoa certa.

– A gororoba 'tá pronta? – perguntou, enquanto pensava no quanto ele era lindo, mesmo enquanto fazia cara feia pra ele. Como agora.

– Ridículo. Foi você quem pediu. – deu um tapinha em seu braço.

Lian-chi deu de ombros.

– O quê posso fazer se eu amo você e sua comidinha ruim?

Seomin pareceu desconcertado e subitamente sério.

– Eu sei que não digo isso muito, e provavelmente não direi toda hora, mas também amo você. Muito. Mais do que achei que fosse um dia amar alguém.

Lian-chi sorriu enquanto beijava-o por cima da camisa.

– Eu sei, meu rabugentinho.

– Se me chamar assim de volta, eu vou...

Mas Lian-chi o beijou antes que ele completasse o que seria, claramente, uma ameaça a sua vida e integridade física. Seomin não disse mais nada, não se atreveu a separar seus lábios tão sedentos um do outro. Eles não deixaram o quarto tão cedo.

Mais tarde, descobriram que a tal comida que Seomin preparava tinha queimado e, na melhor das hipóteses, precisariam de um fogão novo.

✿✿✿

– Amoooooor! – chamou Jin, sem tirar os olhos da televisão. Ele assistia uma série de ação que o prendia completamente, duas tigelas de sorvete de baunilha vazias na mesa de centro. Ele tinha ficado com vontade depois de comer na casa de Jeongguk e Namjoon foi correndo comprar o maior pote. Seu alfa, que lavava a louça do jantar na cozinha, veio rápido responder ao chamado. – Pega mais unzinho pra mim, por favor?

Namjoon deu um sorriso cheio de amor, assentindo. Marchou para a cozinha e voltou trazendo mais uma tigela de sorvete, sentando ao lado do ômega. Ele estava particularmente lindo usando uma camisa cinza e calça de moletom sob um avental cor-de-rosa de Jin. Havia um rastro de sabão em sua bochecha que Jin rapidamente limpou.

– Parece que o Batatinho gosta de sorvete de baunilha, né? – disse ele, rindo.

A mão de Jin congelou no ar, segurando a colher com sorvete quase entrando em sua boca aberta.

– Pelo amor de Deus, me diga que "Batatinho" é qualquer lombriga que estiver na minha barriga e não o nosso filhote.

Namjoon deu uma risada envergonhada.

– Ele precisa de um nome enquanto não sabemos o sexo. – justificou.

– E você achou que Batatinho seria uma boa opção?! Coitada da minha criança, Namjoon! – dizia, enquanto enchia a boca de sorvete e sentia seu cérebro gelar, estremecendo.

– É um nome fofo!

– Não, é horrível! – balbuciou, engolindo o sorvete. – Kim Batatinho soa péssimo!

– Mas ele gostou, não é, bebê? – disse Namjoon, espalmando a mão na barriga de Jin sobre a camisa. Ainda não havia nada ali, mas Namjoon agia como se Jin já estivesse de 9 meses. – Não é, coisa linda do pai?

Jin deu um tapa na mão dele.

– Não, consigo ouvir o choro dele daqui. – resmungou, pegando mais sorvete. Namjoon riu e tomou a colher de sua mão, levando sorvete à boca dele. – Não acredito que batizou nosso filho de um tubérculo feio.... Não podia ser.... Um nome.... Mais.... Fofinho.... – Namjoon o interrompia com mais sorvete a cada tentativa de formar uma frase inteira, até que a tigela acabou e "Batatinho" havia se consolidado como o nome temporário do bebê.

– Quer mais, querido? – perguntou Namjoon, beijando-o na bochecha.

– Não, se comer mais um grão que seja, vou explodir...

A companhia tocou. Eles trocaram olhares.

– 'Tá esperando alguém? – perguntou Namjoon. Jin negou.

– Estranho o porteiro ter deixado subir... – ponderou. – Quem será?

– Um dos rapazes? – Namjoon havia se levantado para atender.

– Não, acha que eu sou doido de dar passe livre pra minha casa para algum daqueles baderneiros? – de repente, ele arregalou os olhos. – E-espera, só tem uma pessoa que...

Mas Namjoon já havia aberto a porta. E ela estava lá.

Kim Hyorin parecia fabulosamente bem num vestido Channel preto, scarpin de sola vermelha, joias douradas de brilhantes, um cabelo que parecia recém saído do salão na altura dos ombros. As rugas em seu rosto eram mais um enfeite de maturidade, suavizadas com procedimentos estéticos e maquiagem.

Sua mãe olhou primeiro para Namjoon, o confuso e desarrumado Namjoon, ainda de avental cor-de-rosa, e Jin sabia pela expressão no rosto dela que Hyorin já tinha sua resposta. Ela entrou sem nem cumprimentar o alfa e foi direto até Jin, pousando seus olhos afiados nele, depois nas tigelas de sorvete.

– Me explique o quê significa isso, Kim Seokjin.

Nem um "Olá, meu filho. Estava com saudades", ou "Faz meses que eu não te vejo nem mando uma mísera mensagem, mas eu lembro que você existe, sim, quando me convém".

Jin não estava nem um pouco preparado para lidar com sua mãe naquele final de dia, um dia longo demais e já suficiente de emoções. E, se fosse qualquer outra situação, mandaria-a embora e diria para conversarem amanhã.

Mas o descaso com que ela tratou Namjoon, seu alfa, seu namorado, pai de seu filho e a melhor pessoa que ele conhecia, fez seu sangue ferver até entrar em erupção.

Kim Hyorin podia tratar mal quem seu coração bolorento e sua mente doentia quisesse, podia tentar controlar Jin o quanto quisesse, pensando que ele ainda era um menino que não sabia nada da vida, mas não faria isso com Namjoon, e definitivamente não na casa deles.

– O quê faz aqui, mãe? – perguntou, calmo como o mar antes de uma tempestade. – Deixa eu adivinhar. A cobra peçonhenta do Han-min foi fofocar da minha vida pra você, acertei? Aquele lá não consegue me esquecer mesmo...

– Han-min veio me alertar... – ressaltou ela. – Sobre o quê você anda fazendo com sua própria vida. Meu filho... – ela sentou no sofá, pegando uma mão de Jin. – Por favor, me diga que não é verdade... Que você não estragou tudo o quê lutei para construir...

– Vamos pular logo esse teatrinho. – ele soltou-se do toque bruscamente, se levantando e indo para o lado de Namjoon, ainda parado perto da porta, agarrando-o pela mão e o puxando desajeitadamente para sua mãe poder ver bem. – Não sei o quê Han-min lhe disse e nem quero saber, mas a verdade é essa: Esse aqui é Kim Namjoon, meu namorado e o alfa que amo. E eu estou esperando nosso filhote. E sim, por isso eu resolvi dar um tempo na carreira e por isso tem tantas tigelas de sorvete aqui.

Hyorin estava pálida de horror, a boca coberta por batom vermelho escancarada. Jin realmente achou que ela fosse surtar e pegar todas aquelas tigelas e arremessar na parede, mas, ao invés disso, levantou num pulo com os punhos cerrados.

– Como ousa... Como ousa! Depois de tudo que eu fiz... Todo o tempo que dediquei a você... É assim que me retribui?! Se juntando e ainda por cima engravidando de um alfa como... ele? – ela cuspiu as palavras, gesticulando para Namjoon com descaso.

Jin cravou as unhas na palma da mão.

– Amor... – murmurou Namjoon, acariciando seus ombros. – Eu vou pra casa da minha mãe, tudo bem? Vocês precisam conversar...

Ah, seu Namjoonie, sempre tão calmo e pacífico, disposto a apaziguar qualquer situação. Jin imaginava que Namjoon já havia passado por tantas humilhações como aquela, de pessoas o rebaixando por o quê quer que fosse, que não se importava mais. Mas Jin, sim. Ele não admitiria que ninguém constrangesse seu alfa. Ninguém.

– Não. – interrompeu ele, duramente. – Você fica. Essa casa é sua também agora. E tudo que tenho a dizer, direi na sua frente. Serei breve.

Hyorin o olhava através de fendas, mas Jin não tinha mais medo dela há muito tempo.

– Escute com atenção, mamãe. – começou. – Nunca, nunca mais fale do meu alfa e do meu filho como menos do que eles são. Como se fossem um erro. Nunca. Exijo que sejam tratados com respeito que merecem, ainda mais estando debaixo do meu teto.

– Seu teto... – debochou. – Você deve tudo o quê tem a mim! Eu te criei, eu criei o modelo perfeito das capas de revista e das passarelas para que fosse alguém, e não só mais um pobre coitado que não tem onde cair morto! Deveria me agradecer de joelhos, mas o quê eu recebo? Desgosto.

A postura de Jin não falhou. Ele tinha uma resposta na ponta da língua, e nem era tão difícil assim de encontrá-la. Sua mágoa de sua mãe só não era maior que o amor próprio que ele havia levado tanto, tanto tempo para construir. Nem o amor que sentia por Namjoon, que naquele momento o dava forças enquanto apertava seu ombro.

– Eu sou grato – respondeu – por ter me criado com tudo do bom e do melhor, por ter investido em meu futuro, mesmo que de uma forma completamente doentia e tóxica. – um olho dela tremeu, mas Jin continuou: – E é só por isso que ainda não te expulsei da minha casa. E da minha vida. Mas mesmo depois das dietas, dos exercícios, das horas na frente do espelho, eu consegui trabalhos. E continuei conseguindo, mãe, por mérito próprio. Porque eu era bom, e continuo sendo. Tenho 29 anos, idade em que a maioria dos modelos está consolidando a carreira, mas eu continuo no auge.

Hyorin permanecia num silêncio que dizia muitas coisas.

– Ganhei meu próprio dinheiro. – prosseguiu. – E várias oportunidades de trabalhos no exterior. Você saiu de todos os seus empregos, e eu passei a te sustentar. Mais da metade do que eu ganhava ia para os seus caprichos. Bolsas de marca, carro do ano. Até que eu parei de mandar o dinheiro que você queria, e você achou que seria conveniente parar de falar com seu próprio filho e se casar com o primeiro milionário prestes a bater as botas que apareceu na sua frente.

– Kim Seokjin... – ameaçou.

– Eu parei de depender de você, e você parou de depender de mim. Então por que continua achando que pode se meter na minha vida? – ninguém saberia que ele estava controlando o choro, nem sua mãe, mas Namjoon sabia. E por isso ele intensificou o aperto em seu ombro e alcançou sua mão, entrelaçando seus dedos. – Meu Deus, eu vou ter um filho! Você vai ser avó, e não consegue nem ficar feliz por isso?

– E como eu poderia? – disparou ela. – Esse auge que você fala não vai durar para sempre! Sua beleza vai acabar, e você sabe que sua carreira está com os dias contados desde o começo. Como vai continuar se mantendo depois que não for mais nada?

Jin deu uma risada amarga.

– É sério? É isso que você tem a dizer? – ele bufou. – Diferente de você, mamãe, eu sei valorizar o meu dinheiro, sei a hora de gastar e a hora de economizar e quando é seguro investir. Jamais ficarei pobre, se esse é o seu medo. E pare de justificar seu próprio preconceito. Acha que eu não vi como olhou para Namjoon? Não brinque comigo, mãe.

– Você vai se arrepender. – sibilou ela. – E depois não adianta vir correndo até mim.

– Te garanto que isso não vai acontecer. – disse, impassível. – Agora, por favor, se já disse tudo o quê queria dizer, vá embora. Não é mais bem-vinda nem na minha vida nem na do meu filhote.

E Kim Hyorin não disse mais nada, seu orgulho tornando sua boca tão fechada e silenciosa quanto um túmulo de ferro. Ela se foi sem olhar para trás, sem nem tentar consertar as coisas com seu filho, sem pedir desculpas.

Jin já devia saber. Era assim que sua mãe funcionava, mas não deixava de doer menos.

– Estou orgulhoso de você, querido. – disse Namjoon, um pouco mais tarde, quando eles já estavam enrolados um no outro debaixo dos cobertores, enquanto ele entremeava os dedos pelos cabelos loiros de Jin. – Enfrentou sua mãe e não se deixou abalar. Você é tão forte...

– Eu queria que fosse mais fácil. – sussurrou ele. – Queria não precisar ser tão forte. Não com a minha própria mãe.

– Eu sei. – ele beijou o topo de sua cabeça. – Eu sei. Mas você pode ser fraco quando quiser, e eu prometo que serei forte por nós dois. Só achei que você era o único que podia dizer aquelas coisas para ela. Qualquer palavra que eu dissesse teria o impacto de uma pena comparadas às suas.

Jin concordou.

– Ela precisava ouvir de mim. Só espero que possa mudar e querer conhecer o Batatinho.

Os olhos de Namjoon brilharam.

– Você falou Batatinho!

– Falei, né. Agora que você batizou não tem mais volta. – resmungou.

Namjoon riu e o abraçou mais forte.

– Eu amo tanto você.

Jin sorriu contra os lábios dele.

– Mais do que, aparentemente, ama batatas?

– Sim. – ele riu ainda mais. – Muito mais.

– Bom. – deu um sorriso satisfeito, antes de mergulhar na boca dele.

✿✿✿

– Papai... – chamou Hyeon, cutucando seu pai alfa com o indicador. – O quê o papai Jimin tem?

Yoongi olhou para seu noivo com preocupação. Jimin estava bem durante o jantar, até que foi tomar banho e voltou enrolado em um pijama de seda púrpura, seu cabelo rosa tão úmido que pingava continuamente, trazendo seu material do trabalho e jogando tudo em cima da mesa. Yoongi não ligou à princípio. Era normal Jimin ter surtos de inspiração nas horas mais aleatórias e simplesmente parar tudo que estava fazendo para criar. Então, ele sentou no sofá com Hyeon, ambos de banho tomado e pijamas, para assistir um filme.

O problema era que Jimin parecia em total estado de perturbação. Yoongi conseguia ver as pernas cruzadas dele por baixo da mesa de jantar, o pé esquerdo tremendo sem parar, na mesma velocidade em que ele batucava a caneta na superfície da mesa. Assim, quase imóvel, ele mantinha os olhos no papel como se esperasse ter uma visão do futuro.

– Seu pai deve estar tendo problemas para se inspirar. – foi o quê respondeu para o filho. – Foi um dia bem longo.

Hyeon não fez mais comentários, mas pela cara dele, Yoongi sabia que não estava totalmente convencido. Ele apoiou a cabeça nas coxas do pai e passou a assistir o desenho. Depois de alguns minutos, ele dormiu com o cafuné de Yoongi em sua cabeça.

De repente, um furacão de cabelos azuis invadiu a sala, parando na frente da televisão.

– Eu estou....! – Taehyung se interrompeu depois que Yoongi fez sinal de silêncio, apontando para Hyeon. – .... Perdidinho. – completou, sussurrando.

– O quê houve? – quis saber Yoongi, enquanto Taehyung se jogava ao seu lado no sofá. Ele parecia tão perturbado quanto Jimin, embora mais alvoroçado.

– Estava conversando com Lian-chi, e ele me disse que foi pesquisar restaurantes temáticos vergonhosos para levar o Seomin-ssi no computador dele, e acabou abrindo o histórico e vendo que ele andou pesquisando cursos de Direito em Universidades! Direito, Yoongi-hyung! – despejou, gesticulando copiosamente, mas ainda falando consideravelmente baixo. Jamais se perdoaria se acordasse Hyeon do seu soninho precioso.

– Mas isso é ótimo, não? – disse Yoongi. – Ele estar pensando num futuro melhor....

– É maravilhoso para ele, sim, mas terrível para mim! Ah, Yoongi-hyung, minha situação é absolutamente deplorável! – ditou, roendo a unha do polegar.

Yoongi precisou prender uma risada. Taehyung já era naturalmente engraçado, mas quando fazia drama era ainda mais. Parecia um ator de novela mexicana.

– Ainda não entendi porquê.

Taehyung lhe olhou como um cachorrinho abandonado.

– Você, Yoongi-hyung, está estudando para o vestibular e já sabe que quer fazer Assistência Social porque é calmo e lida bem com as pessoas, principalmente em situações ruins. Jimin-ssi é ótimo fazendo roupas, é o melhor. Namjoon-hyung sabe muito sobre números e é bom em organizá-los. Lian-chi faz os chapéus mais bonitos do mundo. Hoseok-hyung fotografa tão bem e Jin-hyung desfila e posa maravilhosamente. E o chefinho é o melhor chefinho que existe! – ele fez um biquinho. – Todos tem suas habilidades. Seus dons. Aquilo que nasceram para fazer. Menos eu.

Yoongi não diria dessa forma, mas preferia esperar Taehyung terminar.

– E agora Seomin-ssi decidiu fazer Direito, e eu nem sei o quê eu quero! Se quero continuar trabalhando no A1, se faço faculdade, mas o quê eu faria?! Não tenho nenhum talento...

– Tae? Como pode dizer isso? – indagou Yoongi, assombrado. – Você tem inúmeras qualidades. É muito bom com as palavras, fala muito bem, e é tão gentil que todos se sentem bem na sua presença. Está sempre disposto a ajudar e nunca se cansa. – ele deu um pequeno sorriso. – Se eu fosse resumir seu talento, diria que é o de fazer as pessoas mais felizes.

– Ah, isso é tão doce da sua parte, Yoongi-hyung. – disse ele, fungando. Yoongi deu um pequeno sorriso e bagunçou a juba azul dele.

– Se quer um conselho... – emendou. – Na hora de escolher qual carreira seguir, foque no que você é. Pense consigo mesmo nas suas qualidades e defeitos, no que gosta e não gosta, e deixe por último o quê sabe ou não fazer. Essas habilidades você aprende na especialização. Ou você acha que Jimin já chegou na faculdade sabendo tudo de moda e desenho? Ou que Jeongguk nasceu sabendo administrar uma empresa?

– Mas eu não sei nem por onde começar... – ele olhou de soslaio para o filme animado que passava na TV, mas a cena em questão acabou prendendo-o. Dois animais falantes, um panda preto e branco e o quê parecia ser um panda-vermelho rabugento, dialogavam emocionantemente:

– "Você quer aprender Kung Fu?!" – dizia o bichinho bigodudo.

– "Quero". – respondeu o panda.

– "Então eu serei o seu mestre".

– É isso! – exclamou Tae. – É exatamente isso que eu preciso! Um mestre! Um mentor! Alguém mais velho e qualificado que eu para poder me guiar para a luz da minha vocação de vida!

Yoongi ponderou.

– Acho que é uma boa ideia. Pelo menos, um começo. Pense em alguém que seja mais experiente e te conheça muito bem.

A resposta veio fácil.

– Jimin-ssi me conhece "muitinho" bem. – disse animadamente. Mas, ao olhar para seu amigo descabelado, um músculo tremendo na bochecha, encarando o caderno enquanto murmurava assustadoramente consigo mesmo e mordia a ponta da caneta, não pareceu certo. – Mas acho que Jimin-ssi está ocupado demais mentorando a si próprio.

Yoongi seguiu seu olhar e concordou, resignado.

– Acha que eu devo ir até lá?

– Acho que não se pode incomodar um artista no seu momento de inspiração e criação, mesmo que ele esteja batendo com a cabeça na mesa de modo preocupante. – Taehyung apertou os lábios. – Quer saber, Yoongi-hyung, acho que está na hora de Jimin-ssi tomar uma xicarazinha de chá e ir dormir.

– Você nunca esteve tão certo, TaeTae. – concordou Yoongi, já se levantando, pronto para ir até Jimin, colocando a cabeça de Hyeon delicadamente sobre a almofada do sofá. – Sinto muito não poder ajudá-lo com sua busca.

– Está tudo bem, Yoongi-hyung. – ele sorriu. – Eu já sei a pessoa certíssima para essa tarefa.


No próximo capítulo....

Enquanto Jeongguk quebra a cabeça pensando no encontro perfeito para ele e Tae, o pequeno ômega procura ajuda para encontrar sua vocação de vida. É uma tarefa árdua, mas ele tem o mentor certo. 

✿✿✿

Entoon? Gostaram?

Foi isso queridos. Por favor, não esqueçam de me contar o quê acharam. E, se quiserem me mandar mensagem ou escrever no quadro do meu perfil, fiquem à vontade!! Estou sempre à disposição para vocês!! 

E sim, eu tenho lido as teorias e estou adorando!! Vocês são incríveis!!!

Bjs bjs da Nyx e até o próximo!!

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