Psicose (Livro I)

By andiiep

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Melissa Parker é uma psiquiatra recém-formada que encontra seu primeiro emprego em um manicômio judiciário. E... More

Aviso Inicial
Prólogo
Um - St. Marcus Institute
Dois - A holandesa de Cambridge
Três - Inesperado
Quatro - Sutura
Cinco - Insônia
Seis - Happy Hour
Sete - Progresso
Oito - Passado
Nove - Proximidade
Dez - Embriaguez Acidental
Onze - Hormônios!
Doze - Corey vs Brian
Treze - Fotografia
Quatorze - Helvete
Quinze - Perigo
Dezesseis - Triângulo
Dezessete - Sobrenatural
Dezoito - Confusão
Vinte - O plano mirabolante de Corey Sanders
Vinte e Um - Render-se
Vinte e Dois - Bipolaridade
Vinte e Três - Mensagem Sobrenatural
Vinte e Quatro - Intimidade
Vinte e Cinco - O inferno converte-se em paraíso
Vinte e Seis - Não Há Compaixão Com a Morte
Vinte e sete - Quebra-Cabeças
Vinte e Oito - O Passado Condena
Vinte e Nove - REDRUM
Trinta - Veritas Vos Liberabit
Trinta e Um - Plano de Fuga
Trinta e Dois - Luxúria
Trinta e Três - Preparação
Trinta e Quatro - Vai Dar Tudo Certo!
Trinta e Cinco - Um Sonho de Liberdade
Trinta e Seis - Scotland Yard
Trinta e Sete - Reencontro
Trinta e Oito - Vigilância Constante
Trinta e Nove - Corpo e Alma
Quarenta - Encontros e Desencontros
Quarenta e Um - Armadilha
Quarenta e Dois - Salvação?
Quarenta e Três - Tentativa e Erro
Quarenta e Quatro - O Infeliz Retorno
Quarenta e Cinco - Do Pó Vieste...
Epílogo
AUTO MERCHAN

Dezenove - Corey vs Brian (parte 2)

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By andiiep

— Você está bem? — a voz de Brian soou longe. Como se ele estivesse do outro lado de um ginásio vazio. Foi apenas um eco.

Melissa ainda estava perdida em devaneios. O cotovelo apoiado na mesa de fórmica do refeitório começava a doer, porém não se dava ao trabalho de mudar de posição. Foi somente quando duas mãos fortes e conhecidas a chacoalharam, que ela foi capaz de voltar ao planeta Terra.

— É sério, Melissa, você está me assustando... Parece um dos pacientes catatônicos do helvete. — ele chamou a atenção. A voz soou preocupada. — Aconteceu alguma coisa?

Melissa pigarreou, tomou um gole do suco de laranja que jazia por um tempo à sua frente, então falou:

— Não aconteceu nada, Brian. – e forçou um sorriso.

Ele não pareceu se convencer.

— Acha mesmo que eu vou acreditar? Se não tivesse acontecido nada, você não estaria aí, parecendo um vegetal...

— Não é nada. — ela voltou a negar, colocando um grande pedaço de bolo de chocolate na boca.

Os eventos sobrenaturais dos últimos dias, sobretudo o do banheiro e o último no arquivo, deixaram Melissa particularmente incomodada naquela manhã. As cenas iam e vinham, repetindo-se em um padrão irritante. Melissa pegava-se perdida e pensativa, tentando entender a razão daquilo. Não tinha lógica, obviamente, e a palavra fantasma ainda teimava em brincar, como se dela zombasse. Para melhorar, não podia contar a ninguém. Porque na única vez em que teve essa brilhante ideia, foi somente para arranjar briga com Brian e ser sutilmente chamada de louca. Para completar, era dia de consulta com Corey Sanders e esse era motivo para deixá-la de humor alterado. Sozinha com ele mais uma vez...

Melissa forçou ao máximo a atenção para ficar em Brian, que a encarava desconfiado. Quando Kate chegou foi um alívio.

— Bom dia, casal. – ela sorriu.

E o poder cativante de sempre do sorriso de Kate não contagiou Melissa.

— Por que não fala mais alto? Acho que não te ouviram no helvete... – a voz de Brian trouxe Melissa de volta, a tempo de ver Kate dar de ombros.

Nem mesmo a insinuação errônea de que ela e Brian eram um casal foi o suficiente para trazer a doutora totalmente de volta ao planeta Terra. E

— Ninguém está ouvindo, Brian. — ela rolou os olhos.

— Você é tão ingênua a ponto de achar que não ouvem nossa conversa? Lindsey está bem pertinho daqui.

— Acho que ela já te superou, pode ficar tranquilo.

— Ela não superou nada, fui encurralado na porta do banheiro outro dia.

— Então quer me dizer que está traindo Melissa?

— Você é maluca, Kate?

— Sério mesmo que vocês vão começar a discutir sobre isso a essa hora da manhã? – Melissa interrompeu Kate, que já abria a boca para retrucar.

Nem se importou com a insinuação de que Lindsey, a doutora ruiva, ainda estava tentando alguma coisa.

— Tudo bem. – Kate buscou a xícara de chá e bebericou — Mas que fique bem claro que você não venceu, Peters.

— Eu não disse que venci... Mas se tivéssemos continuado, pode ter certeza que eu venceria no final.

— Claro que não, Peters, você vem perdendo a sua vida inteira, por que iria começar a vencer agora?

— Você sabe que isso não é verdade, Kate...

— Eu não acredito que eu estou vendo dois adultos brigando por uma coisa tão estúpida! – Melissa rolou os olhos e juntou alguns biscoitos do prato de Brian – Vou sair e deixar os dois continuarem com o momento nostálgico.

Melissa tentou transparecer calma enquanto caminhava pelo corredor, enfiando os três biscoitos de chocolate quase de uma vez na boca. Quando estava nervosa precisava comer. Precisava comer chocolate. Cumprimentou com um aceno e um sorriso forçado alguns médicos que passaram por ela. A essa altura, seu coração já saltitava no peito de pura expectativa.

Sozinha com Corey Sanders...

Sozinha com Corey Sanders...

Sozinha com Corey Sanders depois de um segundo beijo.

Tão indescritivelmente maravilhoso quanto o primeiro. As cenas começaram a repassar em sua cabeça. A lembrança era nítida. Tão perfeita, que Melissa lembrava o gosto de menta da boca dele, e o frio que tomou sua barriga no segundo que antecedeu o beijo. E então todo aquele turbilhão de formigar em sua pele, em cada centímetro que Corey se encarregava de tocá-la. A sensação era viciante, de modo que Melissa só conseguia pensar que precisava de mais daquilo, porque duas míseras vezes não eram o suficiente para suprir sua necessidade.

Quando chegou a seu destino, Melissa abriu a porta e não hesitou em se jogar sobre a cadeira. Queria fingir que estava tranquila a todo custo. A verdade era que não poderia deixar transparecer um mínimo de seu nervosismo quando Corey Sanders chegasse. Porque se o fizesse, sabia que sua vulnerabilidade a ele se tornaria evidente. E Corey Sanders bem sabia de como se utilizar de tal estado precário nos nervos de Melissa para se aproximar mais. E Melissa tinha conhecimento do que poderia acontecer quando Corey Sanders aproximava, na atual conjuntura de seu relacionamento. Acima de tudo, deveria evitar pensar que o que tinham poderia ser comparável a um relacionamento. Melissa não poderia, jamais, cogitar levar para frente o que aqueles dois beijos inesperados significavam, porém nada a impedia de relembrá-los. Era o que acreditava seu lado insensato.

Passaram-se longos minutos, já que ela estava adiantada pela saída repentina do refeitório, até que uma batida na porta anunciou a chegada de Sanders. Melissa pulou na cadeira, assustada. O coração disparou ainda mais. Quando ele entrou, não demorou dois segundos, e o sorriso debochado de praxe passou a brincar em seus lábios. Melissa não soube a razão, mas quis muito tocá-los com os seus.

O verbo "beijar" deveria ser evitado sempre que possível.

— Mal cheguei e você já está ofegante e de coração disparado, doutora? – ele disse, sentando na cadeira que lhe era destinada. — Me sinto lisonjeado.

O guarda fechou a porta e Melissa se sentiu confortável para fechar a cara e ser mal educada. Ainda que estivesse desconcertada pelo atrevimento de Corey Sanders.

— Quem foi que disse que tem todo esse poder de sedução? — Melissa rolou os olhos.

Ele cruzou as pernas de um jeito masculino e apoiou a cabeça em uma das mãos. As algemas ainda estavam ali.

— Você pode tentar enganar a si mesma, doutora, mas não engana a mim.

— Eu acho mesmo que devemos começar a trabalhar esse seu super ego. Quase me esmaga. Essa sala é pequena demais para eu, você e ele.

— Você fala como se o que eu estou dizendo fosse uma mentira deslavada...

— É uma mentira deslavada, Sanders. Coisa da sua cabeça...

— Se você prefere encarar dessa maneira... – ele deu de ombros, e torceu os lábios em desimportância.

Melissa se irritou.

— Aonde estamos querendo chegar com isso, afinal?

— Só quero te provocar para ver até onde chega a sua negação sobre o que andou acontecendo nos últimos dias.

— Não é uma negação, Sanders. Só prefiro pensar que foi um erro que não vai mais se repetir. E do qual eu realmente não gostaria de falar.

— Ainda sim é uma negação, doutora. — ele sorriu de lado e Melissa sentiu um arrepio percorrer sua espinha. — Só está tentando dizer à sua consciência que não foi a melhor experiência da sua vida, quando, de fato, foi...

— Quem é você mesmo pra dizer qual foi ou não a melhor experiência da minha vida? — Melissa franziu o cenho e sentiu a raiva e indignação domarem seu tom de voz.

Sentou mais próxima da mesa e encarou Corey Sanders de modo até ameaçador.

— Não me leve a mal, doutora, e eu tenho certeza que você não vai gostar do que eu vou falar... Mas como eu simplesmente adoro tirá-la do sério, em todos os sentidos possíveis, vou falar mesmo assim... — disse Corey Sanders, aproximando-se da mesa também. Seus dois faróis azuis faiscavam na direção de Melissa, que teve que engolir em seco de ansiedade pelo que ele diria. — Você parece... Reprimida.

— Ah, é mesmo? E o que isso quer dizer? — Melissa cruzou os braços em cima da mesa e fingiu uma irônica curiosidade.

— Quer dizer que parece que passou a vida toda presa a um único objetivo, o que a impediu de ter uma vida mais livre, mais relaxada. Deve ter passado metade da vida preocupada com as notas para passar em Medicina e provavelmente todos os anos de faculdade buscando a perfeição em tudo. Pessoas assim são presas, não vivem.

— Achei que eu fosse a psiquiatra do recinto e soubesse desvendar a personalidade das pessoas...

— Não é preciso ser psiquiatra para perceber isso em você, doutora. — Sanders apoiou os cotovelos na mesa, repetindo o gesto de Melissa. A proximidade trouxe seu perfume e ela se sentiu dopada instantaneamente. — Você é ansiosa, tem sempre uma resposta para tudo o que falo, e quase sempre é uma resposta atravessada, você sempre me encara de frente, porque precisa se impor, precisa mostrar que também é forte... Parece que está sempre na defensiva...

—- Está enganado, Sanders.

Melissa se sentiu desconcertada. Como se toda a sua alma estivesse sendo revelada pelo provável psicopata à sua frente. Era incômodo e ao mesmo tempo levava adrenalina por todas as partes de seu corpo.

— Mais uma vez, você pode enganar a si mesma, mas não a mim. – ele sorriu e voltou a recostar contra a cadeira, adotando a mesma posição descontraída de antes — Não acho que precise agir dessa forma, já enxerguei sua força, doutora. E ela é tão poderosa, que me atingiu, que me fez renascer.

Melissa engoliu a seco, suas forças para rebatê-lo completamente neutralizadas, tanto por suas palavras, quanto por seu olhar penetrante. Demorou tempo demais para que abrisse a boca, então ele voltou a falar.

— Acho que mereço um prêmio, deixei você sem palavras! É um grande feito, não é?

— Não estou sem palavras, só estou...

— Sem palavras. — ele riu, e sua risada foi natural, relaxada, verdadeira... Tão gostosa de ouvir, que, quando se deu conta, Melissa estava rindo também. — E ainda está sorrindo? Meu Deus, já podem me absolver e me libertar!

Ela cruzou os braços e fechou a cara.

— O que está acontecendo com você hoje, Sanders?

— Não sei, você me inspira. — ele piscou e então prosseguiu — Estou gostando desse papo, vamos continuar falando de você. Me conte, qual foi a coisa mais maluca que você já fez na sua vida? — o arquear de sobrancelha dele (que Melissa achou extremamente sexy e preferiu ignorar o pensamento) lançou o desafio.

— Uma vez fugi de casa para ver um show do Black Sabbath. — soltou.

Corey riu de novo.

— Você não fez isso. — sentenciou, como se pudesse, de alguma forma, saber que ela estava mentindo.

Porque, de fato, estava.

— Tudo bem, não fiz. Mas considerei fazer, só tive medo de ser castigada pela minha mãe, então acabei não fazendo.

— Perdeu a chance de ver Ozzy em sua melhor forma.

— Provavelmente. Mas ganhei um VHS do show depois. — a doutora deu de ombros.

Corey continuou rindo.

— Isso é tão deprimente.

Melissa fez bico.

— Eu sei.

—- Então quer dizer que ser beijada inesperadamente por um cara que todos acham que é um psicopata, durante o horário de trabalho, enquanto você deveria estar tratando da loucura dele, é a maior loucura que você já fez. — Sanders piscou, voltando ao assunto para o qual ela não gostaria de voltar.

— Ou maior loucura que eu já fui forçada a fazer. — provocou, porque a capacidade de bater de frente com ele já havia retornado.

— Você deveria parar de fingir que não gostou e admitir de uma vez que nunca foi beijada da maneira com que eu te beijei. Não faz bem viver uma mentira, doutora.

— Com certeza o seu problema é um narcisismo irritante. – Melissa rolou os olhos — Diga você, então, Sanders, já que a sessão de análise é sua, e não minha... Qual foi a maior loucura que você já fez? Teve tantas aventuras assim na vida? — ela sorriu, tão desafiadora quanto ele.

— Eu sobrevivo todos os dias em um manicômio judiciário, rodeado de loucos e psicopatas... Acho que tenho aventura suficiente pelo resto da minha vida. — Sanders agora sorriu duro, sem emoção. — Tentar manter a sanidade nesse lugar não é das tarefas mais fáceis, pode apostar.

Melissa assentiu.

— As paredes podem enlouquecê-lo, de fato. Talvez o caminho seja ignorá-las e viver dentro da sua mente.

Aquela aura toda de provocação e insinuações dispersou em meio à nova, que trazia consigo os perigos da insanidade. Sanders deixou de lado o arquear de sobrancelhas e o repuxar de lado malicioso de seus lábios. Tornou-se tão sério e tenso quanto Melissa. Ela pensou se não tinha atingido o ponto crucial de tudo aquilo, afinal.

— Eu tento, doutora. – Sanders respondeu. O sorriso duro e sem alegria ainda pintava seus lábios, e, por um momento, Melissa sentiu falta da malícia que sempre os completava — Mas a cada dia eu sinto que a insanidade rompe o bloqueio que eu construí. Eu já não sei mais quanto tempo eu posso suportar. Já não sei mais quando estou completamente são. — ele umedeceu os lábios e fechou os olhos por um segundo. Quando os abriu, a carga de sentimentos que jogou sobre Melissa a teria derrubado, se não estivesse sentada — Só sei que quando você está perto, eu me sinto um pouquinho mais longe de me perder na loucura. Ao mesmo tempo em que eu sinto que estou completamente obcecado. — disse, e o coração de Melissa disparou assim que reverberou a última sílaba de Corey Sanders. — E isso, no final das contas, é só mais um sintoma de loucura.

Nervosa, ansiosa, agitada, lisonjeada, amedrontada... Encantada.

Um turbilhão de sentimentos, como sempre, a envolveu. As mãos começaram a suar e Melissa não foi capaz de desviar o olhar. Corey Sanders a prendia como as algemas prendiam seu pulso.

Obcecado...

Corey Sanders estava obcecado por ela.

Um possível psicopata... (ela já sabia, à essa altura, que ele passava longe de psicopata, mas por que não manter a ideia e tornar a coisa toda ainda mais absurda?) Obcecado.

Isso não era bom, não era saudável, não era seguro. Era tão antiprofissional que ela queria subir no último andar do prédio administrativo e se jogar de lá. Como deixara as coisas chegarem naquele ponto? Naquele ponto que parecia irreversível? No ponto em que ela tinha vergonha de um dia ter prestado um juramento que não era capaz de seguir? No ponto em que queria mandar toda essa porcaria para o inferno e cair nos braços de seu paciente problemático?

O receio de ser a pior psiquiatra da história veio. E trouxe consigo a excitação costumeira de quando pensava em Sanders. O inferno caótico se instalou na cabeça de Melissa, que sentiu o cérebro entrar em pane. Não sabia o que pensar, como reagir... Um lado seu queria fugir, o outro pular por cima da mesa e beijar Corey Sanders até perder o fôlego. Um lado seu achava absurdo todo aquele encantamento por um homem desequilibrado. O outro, pulava de excitação. A confusão, dessa vez, durou pouco tempo.

Precisava controlar seus hormônios, precisava colocar a cabeça no lugar e agir com inteligência.

Então acordou e levantou da cadeira, começando a caminhar decidida na direção da porta. Iria mandá-lo embora, era a coisa mais inteligente que faria em anos. Antes de chegar ao seu destino, entretanto, Sanders a interrompeu, postando-se à sua frente. De imediato, sua respiração tornou-se falha e ofegante.

— Eu não quis te assustar. – ele disse baixo, e seu tom era intenso.

Estava a dois passos de distância. Seu perfume era forte e deixou Melissa zonza. Além de hipnotizada. O quente que a tomava quando ele estava por perto começou a fazer seu efeito. Estava perdida.

— Sai da minha frente, Sanders. — Melissa pediu.

O nervosismo deixou sua voz trêmula. Ela preferiu fechar os olhos, ao invés de encarar os azuis profundos de Sanders. Perder-se ali era como cair em um abismo sem fim. Simplesmente não tinha volta.

— Não até você me dizer que está tudo bem. — ele negou com a cabeça. –—Olha para mim e diz que está tudo bem.

O som quente e rouco da voz dele foi uma ordem que Melissa não pôde deixar de obedecer. Antes que se desse conta, já o encarava, diretamente naquele poço de mistério e loucura.

— Por que haveria de ter algo errado? — forçou um sorriso.

— Parece assustada, perdida, irritada...

— Pareço? — o riso e o tom irônicos escaparam — Pareço mesmo? Não consegue imaginar o porquê?

Sanders mordeu o lábio inferior e suas mãos algemadas retorceram-se juntas.

— Não é minha intenção fazer isso com você.

— Mas é o que você faz, Sanders! É o que você faz desde a primeira vez em que coloquei meus malditos olhos em você! É o que você faz desde que senti seus malditos olhos em mim pela primeira vez! Desde que ouvi sua voz pela primeira vez, desde que fez a primeira piadinha sem graça, desde a primeira cantada, desde o primeiro momento em que me tocou e desde aquela porcaria daquele primeiro beijo... Tudo o que você faz é transformar minha cabeça num perfeito inferno! — ela soltou tudo de uma vez, sem parar para respirar.

A expressão de sofrimento que tinha no rosto dele foi imediatamente substituída. Ele sorriu! O maldito sorriu, como se acabasse de ganhar o prêmio pelo qual esperara um ano todo.

— É realmente um alívio saber que a recíproca é verdadeira.

Outro riso irônico veio de Melissa. Porque doeu, o que ele falou doeu profundamente. Ela jogou os braços para o ar e disse:

— Você só pode estar de brincadeira comigo!

— Eu não brincaria com você, doutora. — Sanders respondeu e se aproximou um passo — Alguma coisa mudou dentro de mim quando te vi pela primeira vez, quando senti seus olhos em mim pela primeira vez, quando falou comigo pela primeira vez... E aquele beijo... Eu simplesmente não consigo tirá-lo da minha cabeça, penso nele o dia todo, sonho com ele à noite...

A doutora levou as mãos à cabeça e fechou os olhos.

— Tudo isso seria maravilhoso se vivêssemos em outra realidade, Sanders, mas nessa é impossível.

— Não é impossível...

— Ah, é mesmo? E como sugere que contornemos a simples situação de que você está preso e é meu paciente? - ela levou as mãos à cintura.

Estava mais agressiva do que pretendia.

— Eu não sei o que fazer, não sei como contornar essa situação, mas não importa. — Sanders suspirou — Eu preciso de você, doutora. Preciso de você pra me manter preso na realidade. Eu não quero enlouquecer.

Se um piano caísse sobre sua cabeça naquele exato instante, Melissa não se daria conta. As últimas três frases de Corey Sanders repetiram em sua cabeça pelo que julgou, pelo menos, o minuto seguinte. Tudo o que conseguia fazer, enquanto tentava assimilar as palavras, era engolir em seco e fitá-lo com insistência, porque ele não parecia real. Não poderia ser real.

Doeu de novo, ouvir tudo aquilo dele. Doeu demais. A ponto de se tornar uma dor física, não apenas espiritual. Não poderia lidar com aquilo mais. Não poderia se dar ao luxo de sofrer daquela maneira, de alimentar um sentimento tão destrutivo. A verdade era uma só, e era cruel: jamais poderiam ficar juntos, não importava o que fizessem. Então era melhor acabar tudo por ali.

— Gostaria que você se retirasse agora. – pediu simplesmente, contornou-o e voltou a fazer seu caminho até a porta.

O olhar de Melissa foi atraído pelo de Sanders no momento em que sua mão tocou a maçaneta. Não completou seu movimento para abrir a porta, no entanto. Com uma rapidez impressionante, que Melissa não teve um mínimo de tempo para assimilar, ele avançou em sua direção. Melissa fechou os olhos apertados por puro instinto, já tendo pleno conhecimento do que viria a seguir. Seu corpo foi prensado na parede ao lado da porta, pelo forte e quente de Sanders.

A respiração descompassada dele bateu em seu rosto em fortes lufadas. Melissa teve certeza de que sua respiração adquiriu o mesmo ritmo. Assim como seu coração, que disparou alucinado. A doutora sentia a pulsação de suas veias levarem a adrenalina e o desespero de seus hormônios por todos os cantos de seu corpo trêmulo. Quando as duas mãos fortes e ásperas de Sanders tocaram seu rosto, ela sentiu toda aquela extensão de pele formigar e gritar por mais. Queria que ele a tocasse para sempre. E ao mesmo tempo queria estar bem longe, segura de seus encantos. Era o certo.

E ela, que sempre prezou pelo certo, estava loucamente tentada a optar pelo errado.

Mesmo que insistisse em protestar.

— Isso é tortura, sabia? Está me torturando.

A voz saiu fraca, em um sussurro quase inaudível. Seus olhos ainda estavam fechados. Temia abri-los. Temia o poder que Sanders exercia sobre si com uma facilidade que a deixava beirando a humilhação. Sua vulnerabilidade, quando presa pelos encantos daquele misterioso paciente, era vergonhosa.

E a tentativa de fazer parecer que não o queria já estava ficando repetitiva demais para parecer convincente.

Suas mãos, que espalmaram sem reação na parede fria, foram em direção ao peito dele, na intenção de afastá-lo. Sem sucesso, obviamente. Sanders tirou as mãos do rosto de Melissa e prendeu os pulsos dela entre seus dedos. Em seguida, levou os braços de Melissa a ficarem presos na parede. A corrente de suas algemas rodeou o pescoço dela, fazendo um barulho mórbido, que a deixou tomada por um arrepio de pavor.

E prazer.

Sempre uma mistura interessante quando se tratava de Corey Sanders.

— Não, doutora. Quero te dar prazer. — ele sussurrou em seu ouvido, fazendo a maciez molhada de seus lábios roçarem no lóbulo dela. O ponto fraco.

Melissa arrepiou por inteiro.

Sanders percebeu, e sorriu contra seu pescoço, que agora passava a acariciar com a ponta do nariz. Inspirava em cada centímetro o perfume de Melissa.

Ela apertou ainda mais os olhos, pendendo a cabeça para trás, encostando na parede. Mais vulnerável impossível. Estava exposta, com os braços, sua única arma de defesa, presos ao lado de sua cabeça, pela força além do comum de Sanders. Suas pernas estavam presas também, em um aperto de ferro, imóveis entre as dele. Melissa não tinha para onde fugir. Não tinha como fugir. E a essa altura, não queria fugir. Queria ser torturada um pouquinho mais pelo romance proibido.

— Seria tão mais fácil se me deixasse em paz... – Melissa resmungou, em sua última tentativa de prevalência de alguma sensatez; e conteve um suspiro quando ele depositou um beijo demorado ao pé de seu ouvido.

Preferiu ignorar a pressão que seu quadril fez no dela e a deixava sem ar.

— Eu não consigo... – Sanders deixou de dar atenção ao pescoço de Melissa e ela deduziu que ele fitava seu rosto — Olhe para mim. — pediu, e seu mínimo sussurro soou, mais uma vez, como uma ordem que não poderia ser ignorada.

Melissa abriu os olhos para encontrar o rosto belo e sofrido dele próximo. Próximo demais. Poderia contar os tons azuis que lhe formavam as íris.

— O que tem em você que me atrai tanto? Não consigo pensar na possibilidade de não beijá-la por um dia sequer... – — Sanders falou, em quase desespero, analisando minimamente cada traço que formava o rosto de Melissa.

Ela se sentia invadida, e ainda assim quente por dentro. Como se estivesse exposta e ao mesmo tempo segura. O paradoxo a deixava tonta e perdida.

Corey Sanders a deixava tonta e perdida.

O rebuliço que se formou em seu estômago após a declaração dele, Melissa quis muito pensar que não era resultado do bater de asas de borboletas. Não queria pensar no problema que seria se fosse por conta das malditas, que sempre apareciam quando não deveriam.

— Está enganado, Sanders. Você não pode se sentir assim. – Melissa tentou protestar.

Sua voz não saiu firme o suficiente.

— Eu me sinto. E você também.

— Não.

— Pare de tentar fugir da realidade, Melissa! – o tom de voz de Sanders era autoritário e ao mesmo tempo carregava uma pontada de desespero. Ele falou seu nome de novo e ela sentiu as pernas vacilarem — Esqueça os valores, foca em mim... Viva essa aventura... Viva essa loucura. — quando sussurrou a última palavra, sua voz saiu sedutora como nunca antes.

O corpo de Melissa foi agitado por um arrepio que a percorreu de uma extremidade a outra. E por uma fisgada esquisita, porém prazerosa, no estômago.

— Me deixa ser a causa e a consequência da sua loucura... — os lábios de Corey Sanders roçaram nos de Melissa a cada sílaba proferida, e ela não teve outra escolha, senão fechar os olhos quando ele mesmo o fez.

Dessa forma poderia sentir com maior exatidão todas as sensações que explodiam em todos os cantos de seu corpo, como pequenos fogos de artifício que deixavam as pontas de seus dedos formigando. E seu peito pulando à medida que seu coração disparava.

Quando a língua quente de Corey Sanders percorreu com delicadeza seus lábios, Melissa não hesitou em conceder a passagem em um pedido mudo que praticamente gritava em seus ouvidos. Então seus lábios se tocaram, suas línguas se chocaram. Pela terceira vez. Uma sempre melhor do que a outra. Uma sempre mais intensa do que a outra. Uma sempre mais surpreendente do que a outra.

O que antes era hesitação e medo do desconhecido e inesperado, transformou-se em desejo, em sua mais pura forma.

Desejo cru, irrefreável, inexplicável.

Melissa só queria Corey Sanders mais junto de si, o quanto fosse possível, até que não houvesse outra solução, senão se fundir a ele.

Em essência, corpo e alma.

Talvez fosse essa a solução para aquela sede de suas bocas, que se envolviam ávidas, uma tentando tomar o controle da outra. A adrenalina do perigo e do errado circulava pelo sangue de Melissa e a deixava ofegante. O aperto de ferro das mãos fortes de Corey Sanders em seus pulsos só lhe mostrava o quanto ela estava entregue a ele, e o quanto adorava estar assim, à mercê que já era de seus encantos. Então agora de seus toques.

Todas as sensações pareciam tão reais, que tudo o que se passava com seu corpo entregue, era maximizado de uma forma que não podia explicar. Apenas sentir. E não havia razão, de fato, para explicar.

Corey Sanders não tinha explicação.

Ao perceber que Melissa não fugiria, ele livrou as mãos dela. Em seguida, levou as suas próprias até a cintura e então aos quadris de Melissa. Subia e descia, deslizando as mãos com força e delicadeza ao mesmo tempo.

Quando o beijo foi partido, por pura falta de ar, Melissa percebeu que suas mãos estavam livres. Cogitou por um milésimo de segundo afastar Sanders, porém a tentação passou tão rápido quanto veio. Não o queria longe de si. Queria perto. Mais perto.

Enquanto o ar voltava aos pulmões, os narizes se acariciavam, enquanto os peitos arfavam, os olhares se perdiam em desejo nos lábios inchados. Melissa levou as mãos à nuca e cabelos dele, acariciando. Sanders sorriu, e Melissa não conseguiu evitar fazer o mesmo, quando a atitude dele a encantou e cativou.

— Eu não sei o que faria se você tivesse me rejeitado... – Corey Sanders sussurrou, e seu olhar buscou o de Melissa.

A ligação que se instalou era tão rígida quanto o mais puro diamante. A respiração faltou por um segundo, então Melissa foi capaz de juntar as palavras com coerência:

— Não é como se eu tivesse escolha...

— Você tem uma escolha. – ele acariciou o rosto dela com uma das mãos, deixando a corrente da algema reluzir na frente de seus olhos. Melissa não gostou daquilo. Quis aquela algema bem longe dele. — Nunca pensei que diria isso, mas agradeço por ter escolhido o caminho errado. — então esboçou um sorriso triste. -

-Shiu... – Melissa levou o dedo indicador à boca dele — Esquece tudo e só me beija. — pediu, e seus olhos já estavam fechados quando os lábios dele encontraram os seus mais uma vez.

O desejo ainda era impresso em cada mínimo movimento, aliado à rendição de ambos. As respirações fortes se fundiam. Os lábios deslizavam num misto de força e delicadeza. As mãos passeavam por ambos os corpos, sem qualquer resquício pudor. Melissa revezava seu tato entre os músculos dos braços dele, então seus ombros, seu pescoço, sua nuca, seus cabelos. Corey Sanders revezava da cintura aos quadris dela, então descia até suas coxas, na medida em que era autorizado pelas correntes das algemas.

Em seguida, Corey Sanders levou a mão cheia de desejo até o glúteo de Melissa, levando a outra, impedida de ir muito mais longe pelas algemas, até sua barriga. Melissa suspirou com o choque térmico e o formigar já característico do toque de seu paciente em sua pele. Seus dedos ásperos a apertaram com vigor, subindo desde seu baixo ventre, acariciando seu umbigo, então chegando até seu seio, ainda coberto pelo sutiã. A outra mão ainda insistia em apertar o glúteo, de repente fazendo força pra cima.

Melissa, perdida entre os devaneios que o toque da língua dele na dela lhe proporcionava, entendeu o recado. Antes que de desse conta, já havia apoiado nos ombros largos dele e envolvido sua cintura com suas pernas. Os quadris de Corey Sanders, que a pressionavam com força e sem dó, a sustentaram.

Melissa não conteve um sorriso tomado de malícia quando o beijo foi separado mais uma vez, apenas para buscar o ar. Mordeu o lábio inferior de Sanders, puxando entre seus dentes. Seus olhares não eram capazes de se desprender um do outro. Quando Melissa arranhou a nuca dele, ganhando um sorriso sacana em troca, puxou -o com autoridade para outro beijo. A sensação da mão dura e ao mesmo tempo delicada dele ainda acariciando seu seio, com calma e paciência, como se quisesse descobrir cada mínimo centímetro de pele que a formava, era extasiante.

Melissa sentia o sangue borbulhar em suas veias, fazendo pulsar com cada vez mais violência. Sabia que ele podia ouvir seu coração batendo forte como um tambor. Era impossível não ouvir...

Ouvir...

Melissa estava presa em uma bolha, mas ainda assim, ao longe, foi capaz de ouvi-lo.

Brian.

A risada cativante que lhe era peculiar soando ao longe. Então sua voz próxima...

No corredor.

Melissa acordou do mundo paralelo em que Corey Sanders a levara e abriu os olhos. No segundo seguinte, separou seus lábios dos dele, desceu de seu colo e o empurrou pra longe. A princípio, Sanders a olhou sem entender, com um ponto de interrogação gigante figurando em sua testa. Os cabelos desarrumados e lábios vermelhos e inchados lhe davam um ar mais sexy do que era seguro no momento, Melissa percebeu. Porém tratou de ignorar a constatação. Apenas ajeitou sua roupa do melhor jeito que pôde, e limpou a boca, no exato instante em que Brian abriu a porta do consultório.

— Ah, desculpa... – disse ele, desconcertado, ao perceber que havia mais alguém, além de Melissa, ali dentro –- Não sabia que estava em consulta...

— Tudo bem. – Melissa pigarreou, reforçando a voz que saiu trêmula. A julgar pelo sorriso doce de Brian, ele não havia percebido nada, mas ainda assim estava nervosa. Após um beijo intenso como aquele com Corey Sanders, era impossível não estar desconcertada, afinal.

— Sanders já estava de saída, não é mesmo? – Melissa apontou Corey Sanders, parado do outro lado da sala.

Corey Sanders tinha o cenho franzido, a boca ainda vermelha e inchada, as mãos estrategicamente postadas em frente ao corpo. A respiração não normalizou, entretanto, porque o ódio em seu olhar era violento e quase chegava a cortar. Ia todo na direção de Brian.

Melissa, dessa vez, entendia qual era o motivo, pelo menos...

— Ah, Sanders... Você está aí... – Brian de repente abriu um sorriso maldoso.

— Não, Peters, é uma miragem. – Sanders rolou os olhos, ganhando um olhar repreensor de Melissa logo em seguida.

— Mais respeito, Sanders, eu sou um médico... Posso mandar você de volta para a solitária em um piscar de olhos. — Brian retrucou e seu tom de voz subiu uma oitava.

— Ninguém vai mandar ninguém para a solitária. — Melissa interveio — Você— ela apontou para Sanders — Espera lá fora até que o guarda venha buscá-lo. E você — ela apontou então para Brian — Espera também, só vou arrumar minha mesa e já estou indo.

Melissa viu Brian e Sanders trocarem farpas com o olhar. Os queixos erguidos, os ombros alinhados, as costas eretas, saindo um atrás do outro de seu consultório. Ela revirou os olhos, rindo da atitude machista e infantil de ambos.

A doutora não teve tempo de arrumar sua mesa, contudo. Ouviu barulhos suspeitos vindos do corredor, então deu meia volta e saiu pela porta. A cena que viu a deixou com o coração apertado. E ao mesmo tempo nervosa o bastante para caminhar até lá a passos fortes e decididos. Brian prensava o corpo de Corey Sanders na parede. Um braço prendia o pescoço dele, enquanto o outro se preparava para lhe dar um soco.

— Brian! – Melissa gritou, quando conseguiu assimilar com coerência o que estava acontecendo — Larga ele!

Não houve qualquer movimentação. Brian continuava pronto para ferir Sanders. Olhava nos olhos dele, com uma ânsia violenta. Seu peito arfava. Sanders não estava muito diferente. Exceto pelo leve sorriso que marcava os cantos dos lábios repuxados. E o desafio lançado pelo seu arquear característico de sobrancelhas.

— Brian! – Melissa chamou de novo, arriscando-se a dar os dois passos que a separava da cena e a agarrar o braço de Brian com força.

Aproveitou o vacilo que seu toque lhe trouxe e o puxou pra longe, colocando-se em meio aos dois.

— Eu não acredito que vocês dois estão fazendo essa baixaria de novo... – disse, olhando de um a outro.

Sua expressão séria e fria fez ambos baixarem a guarda. Sanders fez o sorriso sumir, deixando apenas a sobrancelha esquerda arqueada. Brian guardou as mãos nos bolsos.

— Foi Sanders quem me provocou! – Brian foi o primeiro a responder, soando ressentido.

— Eu não quero saber quem provocou quem! Você não pode fazer isso Brian!

— Vai ficar do lado dele de novo? — Brian soou mais ressentido ainda.

Parecia um garotinho mimado e Melissa estava farta disso.

— Não disse que estou do lado de ninguém! Só quero que essa infantilidade entre vocês dois acabe e seria ótimo se você parasse de tentar socá-lo todas as vezes em que o vê...

— Só estava tentando colocá-lo no devido lugar. – Brian tirou as mãos dos bolsos e cruzou os braços.

Tinha os maxilares travados. Em nenhum momento os dois deixaram de se encarar, como se daquele modo fosse possível fazer com que se explodissem.

— Se não fosse por essa algema eu teria te colocado no seu devido lugar. — Corey Sanders resolveu se manifestar, e sua voz saiu bem mais controlada e baixa.

Quase serena, Melissa arriscaria a dizer.

— Infelizmente assassinos como você têm que usar as algemas, não é mesmo? Pobre louco indefeso... — Brian rolou os olhos.

— Brian! – Melissa o repreendeu.

Não gostou do tom, nem do teor de suas palavras.

— Deixa, Melissa... Nada que venha desse idiota me atinge... – Sanders deixou de encarar Brian por um segundo, para sorrir na direção de Melissa de modo um tanto atencioso, que ela não soube de onde surgiu.

Queria ter mais tempo para apreciar tal gesto, mas precisava apartar uma briga ali...

— Melissa?! — Brian protestou — Quem você pensa que é? Para você é doutora Parker, seu idiota! — Brian retrucou em altura além do recomendado para o corredor dos consultórios.

Logo chamariam atenção.

— Eu a chamo do modo que eu quiser.

— E quem foi que te deu essa liberdade? Você é um porcaria de um prisioneiro, Sanders, não se esqueça disso.

— Eu tenho muito mais liberdade do que você imagina... – Sanders sorriu malicioso, mostrando todos seus dentes reluzentes.

E aí Melissa sentiu que precisava dar um basta final na conversa.

— Chega! – disse, e seu tom de voz saiu agudo e mais alto do que realmente planejava – Calem a boca, vocês dois! Pelo amor de Deus! Já passou da hora de agirem como adultos! Estamos no século XVIII, por acaso? Não preciso de homens brigando por mim, não preciso de homens que acham que estão defendendo minha honra, não preciso dessa porcaria! Parem, simplesmente PAREM!

— Ele me provoca, Melissa... – Brian resmungou, como se não tivesse ouvido nada do que ela acabara de falar.

— Você é surdo, Brian? Ou está se fazendo de surdo? Mandei parar! Chega! Não preciso dessa porcaria na minha vida, não preciso de você batendo nos outros porque acha que está fazendo algo por mim, não preciso e não quero! Não quero!

Brian abriu a boca para responder, enquanto Sanders batia palmas para o pequeno discurso da doutora. Ela, por sua vez, deu graças quando avistou o guarda no início do corredor. Provavelmente o que vinha buscar Corey Sanders. Ficou perguntando onde aquele imbecil estava, que não estava onde deveria estar: vigiando sua porta? Estremeceu só de pensar que passara todo aquele tempo sozinha com Sanders, sem nem ao menos ter um guarda à mão para socorrê-la caso algo acontecesse.

— Eu não quero ouvir mais nenhuma palavra sobre isso. E que fique claro que a próxima briga que eu ficar sabendo, corto relação com os dois, coisa que eu já deveria ter feito, dadas as circunstâncias. Deu para entender? — ela disse, ameaçadora como jamais achou que poderia.

— Ótimo. — Brian assentiu.

— Posso levá-lo? – perguntou o guarda, quando se aproximou de Sanders.

— Por favor. — pediu Melissa, suspirando, enquanto levava as mãos à cintura e encarava o teto.

Estava cansada.

— Odeio esse cara. – Brian resmungou.

Então Melissa voltou em sua direção mais um olhar repreensor.

— Sério, Brian, o que eu falo entra por um ouvido e sai pelo outro?

— Eu não disse que vou brigar com ele... Só disse que o odeio... — deu de ombros, fazendo-se de inocente.

— Por quê?

— Eu não... — Brian bufou — Não sei, não gosto dele perto de você...

— Não preciso que se preocupe com isso também, posso lidar com a situação sozinha muito bem, obrigada.

— Eu sei. Mas ele... Ele é perigoso. – foi a última coisa que Brian disse, antes que começassem a caminhar na direção do refeitório.

E Melissa ficou pensando na sua última declaração pelo restante do dia.

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