Viúva Negra | L.S

By the_noemimutti

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Todos homens temiam seu nome. Idolatravam sua postura. Seguiam suas regras. Harry Styles era o braço direito... More

A Jornada Começa Aqui
01. Homem de Princípios
02. A Morte dá Tchau
03. Desafiando o Diabo
04. Quebrando a Banca
05. Louvado seja Satã!
06. A Deusa da Morte
07. Súplicas Perdidas
08. Fogo Cruzado
09. Com Unhas e Dentes
10. Lar Maldito Lar
11. O Pai da Mentira
12. Flores Álcoolicas
13. Onde Judas Morre Antes
14. Sob Rédeas Curtas
15. O Lobo Atrás da Porta
16. O Verdadeiro Alfa
16,5. Nargot
17. De Frente com o Diabo
18. Vestíbulo do Inferno
19. Chamas na Escuridão
20. Incendiado
21. Jardins da Babilônia
22. Deus e o Diabo na Terra do Sol
23. Corrida Contra o Tempo
24. Eu te Devoro
25. Entre a Cruz e a Espada
26. O Rei Renasce
27. O Caos que nos Une
28. Quando a Luz Toca
30. Você Vai Me Destruir
31. Imortais & Fatais
32. Doce Criatura Cruel
33. Tudo por Amor
34. Como Atlas
35. Lobo em Pele de Cordeiro
36. Anaconda
37. Em conversa de malandro...
38...otário não se mete
39. Encruzilhadas
40. Bonnie & Clyde
41. De Volta ao Jogo
42. Romeu & Julieta
43. As Rosas Não Falam
44. Demônio Noturno
45. A Fúria
46. A Toca do Coelho
47. Afrodisíaco
48. Xeque-mate
49. Eu Sobre Mim Mesmo
50. O Amor Que Nos Destruiu

29. A Solidão Que Nos Habita

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By the_noemimutti

Oi! Tô literalmente pilhada e completamente obcecada em escrever VN.

Leiam com "Sinfonia do Adeus - Baco Exu do Blues" e depois "Defenceless - Louis Tomlinson" pro final. SÉRIO QUE EXPERIÊNCIA MÁGICA!

Dedicado a Fe! Parabéns por ter passado na prova.

NÃO ESQUEÇAM DE COMENTAR E VOTAR, POR FAVOR ❤️


"E ela olhava para sua imagem no espelho, à procura de algo que a fizesse acreditar em dias melhores. Mas só o que conseguia enxergar era o reflexo de sua própria solidão."

— Os silêncios de Georgia Willian.

LOUIS WILLIAM TOMLINSON - P.O.V

A luz entrava pela fresta da janela e queimava meu rosto quando eu acordei naquela manhã.

Resmunguei mal-humorado, abrindo meus olhos devagar e com piscadas repetitivas a fim de manter minha visão mais límpida, tendo o vislumbre de algo que no mínimo pareceu estarrecedor.

Eu, Harry e a conchinha.

Arregalei os olhos, sentindo o braço do alfa com um agarre de ferro na minha cintura e o ressonar baixinho dele no meu pescoço, totalmente levado num sono profundo. Meu primeiro reflexo foi o de meter a cotovelada na barriga dele, porém, lembrei que éramos parceiros e provavelmente seu cheiro se atraiu pelo meu durante a madrugada que eu passei com pesadelos.

Respirei fundo, pensando em como eu sairia daquela situação sem ter que xingá-lo ou acordá-lo. Não sabia o que era pior.

Virei devagar em direção ao seu rosto, notando os cílios enormes beijando a bochecha e os lábios cheios meio entreabertos. As sobrancelhas grossas estavam meio franzidas, me fazendo rir ao pensar que até dormindo ele estava extremamente preocupado. Os cachos mínimos que batiam em sua nuca tinham escorregado para o seu rosto.
Mordi os lábios, levando as pontas dos dedos até o seu rosto e os retirando. Styles tinha uma pele bem bonita com aquelas pintinhas bem pequenas que se assemelhavam a sardas e a face bem marcada.

Um dos olhos verdes abriu, me fazendo quase pular de susto, porém as mãos fortes me seguraram pela cintura para impedir que eu caísse da cama. O alfa resmungou, respirando fundo e molhando os lábios, me deixando levemente hipnotizado pelo movimento tão natural.

A memória do seu beijo veio como chicote e o cheiro dele de menta e areia molhada invadiu como um soco e me deixou mole. Puta merda. Era delicioso.

— Bom dia, Louis — saudou com aquela voz rouca, arrepiando até os pelos da minha nuca.

— Você faz um barulho com o nariz que parece um apito de trem — disse a primeira coisa que veio a minha mente e ele ignorou, fechando os olhos e tirando o braço ao redor de mim.

Soltei um suspiro aliviado, resolvendo não comentar sobre o fato que tínhamos dormido juntos e agarrados. Era vergonhoso demais.

— Que horas são? — perguntou Harry, ignorando a minha provocação anterior e se aconchegando nas cobertas.

— São oito horas da manhã.

— Hmm — gemeu desanimado e enfiou o rosto no travesseiro. — Suponho que é agora que vestimos a roupa de líderes e comemos o cu de todo mundo? Inclusive o da Lauren e Nargot?

Ah, puta merda. Tinha esquecido de tudo isso.

— Temos que voltar a Londres para apresentar as informações do pen-drive para o conselho. Seu pai e o meu pediram informações sobre a missão enquanto seguram as pontas lá na capital — avisei ao alfa que assentiu. — Não quero ir.

Ele riu, mostrando aquelas covinhas tão adoráveis e eu me vi sorrindo de volta.

— Se pudesse escolher onde estaria agora, qual lugar seria? — perguntou Harry.

— Numa orgia transcendental com muita droga e bebida — sacaneei e ele jogou o travesseiro no meu rosto, me fazendo gargalhar. — Sinceramente? Qualquer lugar parece melhor do que aqui.

— E se, não dizendo que estou incentivando e se você disser que eu disse, irei negar até a morte!

— Desembucha, sapo.

— Vai começar, Louis? — revirou os olhos e eu neguei, me deitando ao seu lado e apoiei minha cabeça no meu braço esquerdo.

— Vai, Príncipe — zombei e ele fechou a cara. — Me desculpa. Prossiga.

— E se só hoje, nós esquecemos que somos adultos com responsabilidades e simplesmente fôssemos para bem longe? Só por hoje? Inventamos que é uma missão de líder.

Ponderei, gostando de como aquela ideia soava, porém tinha Stacie e Niall para cuidar.

— Pela sua expressão, é um não, certo?

— Temos muita coisa para resolver. Talvez amanhã?

— Deixa para lá — negou com a cabeça, levantando-se da cama e se espreguiçando. — Vou escovar meus dentes.

Assenti, meio desanimado, porque a ideia realmente não tinha soado nada mal.

Queria muito fugir das minhas responsabilidades, contudo, eram sobre pessoas importantes e que pareciam precisar de mim ali naquele momento. Não dava para ignorar esse fato como se fosse algo banal.

Levantei da cama e peguei a primeira camiseta que vi pelo chão e minhas pantufas de Scooby-Doo, optando por manter a calça de moletom cinza. Joguei meus cabelos de qualquer jeito para trás e caminhei até a cozinha, sem nem me importar em escovar os dentes.

O corredor estava vazio e silencioso, e pareceu muito que nós estávamos sozinhos se não fosse pelo barulho alto do ronco de Niall por conta da dificuldade em respirar. O lobo exigia muita carga do corpo, e sem ele ativo, o ômega acabava tendo que descansar o triplo; e depois de uma carga emocional dessa, ele deveria ter enfrentado muitas dificuldades para dormir bem.

Bisbilhotei só um pouquinho para acalmar meu coração de irmão mais velho — mesmo que eu fosse mais novo que Niall — e tive a visão de Margot fazendo um carinho no rosto dele como uma massagem relaxante. A alfa tinha os olhos inchados, dava para notar o choro e estava imensamente cansada, porém estava ali tentando manter o sono dele mais confortável possível. Fiquei com o coração derretido, e me escorei no batente bem escondido só para ver ela beijar a bochecha, o nariz, os olhos e a boca dele com selares doces.

Eu não deveria ter lhe socado. Sabia que tinha sido parcial e agido como um melhor amigo preocupado do que com chefe, porém eu não consegui refrear minhas ações.

Niall piscou os olhos, sorrindo fraco em direção a esposa que lhe deu um selinho.

— Oi, linda — sussurrou com a voz rouca e tão frágil que meu coração doeu.

— Oi — sorriu cansada.

— Hoje é que dia? Dormi muito? Aí! — Ele colocou a mão nas gazes que tampava a mordida de Connor em seu pescoço, fechando os olhos com força.

Margot deixou uma lágrima cair, retirando a mão dele com calma.

— Foi superficial a mordida, no nível de lobo que eu digo, porém rasgou a sua pele. Vai arder um pouquinho.

— Tudo bem — suspirou. — Cadê Louis?

— Dormindo como todos os outros.

— Ah, sim. — Ele encarou a esposa que tinha as orbes castanhas claras em cima de si, franzindo o cenho quando a alfa soltou um soluço contido. — Ei, eu estou bem, querida.

— Eu quase te perdi, Niall. Não tem nada bem aqui. Você... Oh meu amor, quando foi que nos perdemos?

Eu sabia que era errado ficar ali escutando, mas eu queria muito saber finalmente do diálogo que eles deveriam ter tido há muito tempo atrás. Escorei mais na parede, levando um susto ao colidir com um corpo mais duro e másculo que rapidamente fechou minha boca com as mãos.

A voz rouca de quem acabava de acordar, cochichou em meu ouvido:

— Fica quietinho — ordenou Harry e eu assenti, o sentindo se aconchegar atrás de mim para escutar melhor.

Puta merda. Ele tinha mãos enormes!

Fixei meus olhos no diálogo Nargot, e observei Niall arregalar os olhos daquela forma que tinha acabado de raciocinar algo muito doloroso.

— Você vai terminar comigo, não é? — constatou ao ver o olhar perdido dela.

Margot não negou e eu que estava quase entrando em desespero ali.

— Como assim? Eu não deixei! — sussurrei indignado, sentindo um beliscão de Harry para ficar calado. — Aí, porr...

— Fica quieto, pelo amor de Deus. Eu quero ouvir.

— Fofoqueiro — xinguei, levando outro beliscão e eu dei uma cotovelada bem dolorosa em sua barriga, escutando ele prender o ar de dor.

— Você é uma peste, Louis.

— Blablablabla. — Fiz descaso. — Preste atenção.

Os olhos azuis de Niall já estavam enchendo de lágrimas quando a alfa beijou a bochecha dele, acalmando aos poucos com toques gentis e cuidadosos.

— Não. Não vou — disse firme. — Eu sou sua.

— Mas precisamos conversar — constatou o óbvio, a vendo assentir. — Tudo bem.

— Deixa você se recuperar e dep...

— Não. Vamos conversar agora. Eu quero esclarecer.

Margot concordou, se ajeitando no sofá-cama e sentou-se, de forma que ficou de frente a Niall que recostou na parede. A alfa passou os dedos no rosto dele, dando uma puxadinha no nariz que o fez rir.

— Lindo — elogiou tão espontânea que até eu sorri.

— Foco, querida. Assim não conseguiremos conversar. — Horan recobrou a postura, sendo a pessoa séria e centrada da relação. — Para de me olhar como alguém que quer muito me beijar quando estamos discutindo o futuro da nossa relação.

Margot fez uma carinha de cachorro sem dono, e Niall a puxou pela nuca, lascando um beijo de arrancar até mesmo o meu fôlego.

— Eita nós — exclamou Harry atrás de mim. — Que tipo de conversa é essa?

Não contive o comentário malicioso:

— Uma que a gente podia ter de novo — sugeri na cara de pau, nem conseguindo disfarçar que tinha vontade de beijá-lo de novo.

— É a primeira ideia que você sugere que eu não repudio totalmente.

Engasguei com a saliva, o sentindo chegar bem rente da minha orelha:

— Prometi que terminaria o que comecei, não? — Concordei, fechando os olhos e me deixando ser levado pela voz rouca.

Harry se afastou com uma risadinha sacana e eu fechei a cara, não sabendo se detestava ou gostava daquela ladainha toda. No começo eu não aprovava a ideia de sexo porque sabia que estaria fazendo só o que meu pai queria, mas bom, ele era meu parceiro e futuro marido. E não de todo ruim.

Pelo menos o sexo podia ser algo bom, já que eu não tinha o álcool como antes. Harry era do tipo quietinho e eu tinha presenciado o suficiente para saber que eram os piores — lê-se melhores — na cama.

Quando finalmente consegui recobrar atenção em Nargot, eles pareciam já ter iniciado o diálogo e eu me repreendi por ter me deixado levar por mãos grandes e vozes roucas safadas.

— Em algum ponto, nós cruzamos a linha do respeito pelos sentimentos um do outro e pela nossa integridade como casal — disse Margot.

— Eu concordo. Eu já não sei mais o que fazer para te agradar. Já fiz tudo o que você sempre reclamou, e mesmo assim, nunca parece ser o suficiente para você. Me dê uma luz, amor, porque eu estou perdido na escuridão tentando encontrar você.

Uau.

A loira se ajeitou, encarando a aliança meio desajeitada, como se tivesse levado um tiro no peito ao escutar aquilo de forma tão crua e dolorida.

— Me desculpe. Fui uma imbecil dizendo que você nunca se adaptou a mim, quando tudo o que você fazia, era justamente por conta da minha necessidade de validação emocional. — Encolheu os ombros, envergonhada. — Meu lobo não está sentindo o seu e isso vem me deixando cada vez mais estressada e propensa a dizer besteiras ilegítimas.

— Não é desculpa para dizer que eu não supre suas necessidades emocionais — retrucou magoado. — E nem de não retribuir meu "eu te amo". Foi difícil dizer aquilo.

— Não gosto quando diz "eu te amo" de uma forma desconfortável porque sei que disse para me deixar feliz. Não é isso que eu procuro e muito menos naquele momento queria me despedir de você. Não foi por orgulho, foi por medo.

Niall encarou as unhas, parecendo totalmente sem jeito diante de uma situação realmente complicada. Sentimentos eram complicados.

— Não gosto realmente de expor o que eu sinto daquela forma tão explícita e desconfortável. Simplesmente não é quem eu sou. Sinto muito que te machuque, mas não posso reduzir minha essência mais do que já fiz por capricho seu. Esse sou eu, Margot, sem vendas e amarras e eu já passei por um relacionamento abusivo para saber que não importa a concessão que eu faça, nunca vai ser o suficiente. Quando eu ver, não vou ter só perdido você, mas a mim mesmo. E não tem nada que eu ame mais no mundo do que a liberdade de ser quem eu sou.

A alfa molhou os lábios, parecendo ponderar a fala de Horan e logo após, esfregou os cabelos de forma irritada.

— E você não está errado, porém eu também não gosto quando passa por cima dos meus sentimentos para me proteger. Eu sou uma adulta, e mesmo que não pareça, sei me virar sem você. A questão é que eu prefiro fazer com você. Em algum ponto, você esqueceu que somos uma dupla e não adversários. Você esqueceu de pensar em como eu me sentia, mesmo quando pensava em mim. Entende?

Niall assentiu, também parecendo envergonhado ao responder:

— Sua opinião é importante. Em tudo. Eu só disse aquilo porque...

— Queria entrar na missão para me proteger. E para isso, teve que me machucar com suas palavras. Mesmo que eu soubesse o fim, os meios não se justificaram. Ainda doeu escutar. E doeu mais ainda ver que você não se arrependia.

— Porque precisava cuidar de você! — exclamou indignado e ela respirou fundo, parecendo procurar paciência. — Quem vai cuidar da sua vida se você nunca pensa no seu bem-estar, Margot Hayes?

— E para isso tem necessidade de passar por cima do que eu sinto?

— Era para proteger você!

— E quem vai me proteger de você? — rebateu mordaz, porém a voz calma como sempre. Acho que preferia ela gritando. — Não compensa estar viva, se você vai me matar antes do tiro. A questão nunca foi sobre dizer te amo ou palavras enfeitadas e, sim, nunca me perguntar como eu me sentia sobre suas decisões. Somos um casal, no entanto você age como se fosse meu chefe. Você age como Louis.

Engoli em seco, não gostando do rumo daquela conversa.

— O que isso tem a ver com Louis?!

— Vocês dois são farinhas do mesmo saco, Niall. É assim que você quer acabar? Como um cara vazio, procurando ensandecidamente proteger os amigos e a própria família que até esqueceu de si mesmo? Que se contenta em ver a felicidade dos outros, mesmo que tenha que passar por cima da incrível pessoa que é?

— Não coloque o Louis nisso, Margot — repreendeu duramente. — Ele não tem nada a ver.

— Tem tudo a ver, Niall! Vocês foram criados juntos. Se quer mesmo saber como eu me sinto, imagine a forma que você se sentiu quando ele foi embora e não te disse Adeus ou perguntou o que você achava. Doeu?

— Você está usando parâmetros de comparação diferentes. Ele é sim, uma pessoa frívola e que teve que se colocar em várias situações para nos proteger, porém não pense um segundo que eu me pareço com ele. Louis é melhor. E para ser o melhor, às vezes você precisa ser o pior de todos.

Meu coração batia tão rápido que meus ouvidos zuniam e Harry me chamou, porém a voz parecia tão dispersa no fundo que eu não escutei direito. Meu ouvido parecia ter submerso embaixo da água.

— Meu amor, eu nunca diminuí a grandeza e o sacrifício que ele fez. É a porra do meu ídolo. Eu morreria por ele assim como ele por mim. Eu só estou dizendo que passar por cima do que as pessoas sentem para protegê-las como ele faz, só muda quem está atirando. Porque se torna você. Não seja como Louis. Seja como nós, ok? Desde que ele voltou você ativou o lado super cópia do melhor amigo que te salvava na infância e adolescência; mas somos adultos agora. E o que nos mata somos nós mesmos.

O loiro ficou em silêncio e eu nem ao menos julguei, porque Margot estava certa. E eu sabia disso.

— Eu não quero ouvir a porra de um "eu te amo" com essa expressão de que está engolindo navalha ao dizer. Eu quero que você sente como um adulto, me colocando na jogada porque eu também deveria conversar antes de surtar, e me pergunte: "Margot, o que você acha sobre isso?"

— Eu... Não sabia que era isso que você procurava — murmurou perdido.

— Lógico que não sabia, Niall. Você me perguntou?

— E você também não fez questão de dizer.

— Porque às vezes, demonstrar que se importa não é só levar café na cama, mas perguntar o porquê eu gosto tanto do ato. Não é comprar minhas comidas favoritas, mas perguntar porque eu gosto tanto delas. Não é me trazer flores, se não vai me questionar porque eu estou triste. Não é dar presentes especiais para seus amigos durante todos os anos que se manteve afastado, se não vai perguntá-los como anda a vida. Nem tudo é sobre dar e, sim, de significar o que está dando.

O ômega encarou os dedos, e muito calmamente, Margot pegou as mãos de Niall que tremiam e beijou cada um dos nós dos dedos, deixando um selar no nariz arrebitado.

— Me pergunte. Eu quero te contar. Não preciso de palavras bonitas, meu amor, só que se preocupe em saber como eu realmente me sinto. Isso me faz sentir importante e não "eu te amo" ditos em vão.

— Ok — assentiu, meio amuado, porém com um sorriso nos lábios. — Nada de brigas de cabeça quente e com o lobo estressado.

— Juro juradinho. Nada de fazer coisas por trás das minhas costas?

— Tudo bem... — suspirou audivelmente. — E quanto ao meu lobo? O que vamos fazer quando ele acordar?

Margot revirou os olhos, o puxando para seu colo e beijando o pescoço que não estava coberto pela gaze.

— Um problema de cada vez, huh? Dois passos para frente e um para trás...

— Ainda é um passo para frente — completou, contendo uma risada quando ela começou a distribuir beijos pelo seu rosto. — Agora você me deixou pensativo.

Ela ajeitou os cabelos, o encarando com os olhos brilhando.

— Sobre o quê?

— Eu tenho você para estar ali a cada passo e me mostrar os erros. Não individualmente, mas como dupla. Mark e Amber se apaixonaram no processo e Des e Anne são apaixonados, mais como parceiros do que tudo. Liam mesmo que esteja enfrentando problemas com Zayn, ainda tem ele. E quanto a Louis?

— Como?

— Quer dizer, ele sempre deixou claro que, por mais que nos amasse, ele era nosso chefe e que se tivesse que fazer, ele faria. Digno da posição dele. Só que... quem vai estar lá quando ele precisar se estruturar?

— Ele tem a Stacie. E tem nós — apontou o óbvio.

— Não... Stacie não sabe metade da verdadeira vida dele e nem nós sabemos sobre a verdadeira essência do Lou. Estou me referindo a ser e estar, de forma genuína. Como nós dois.

Ela mordeu o canto interno da bochecha e eu tentei controlar as lágrimas de descerem, porém estava sendo cada vez mais difícil enfrentar aquela realidade.

— Ele está fadado a viver com Styles. Mesmo que sejam parceiros de alma, com Louis sendo daquele jeito e Harry expressivo como concreto, temo que seja uma existência cruel e solitária. Nenhum dos dois se importa de verdade com o outro.

Engoli em seco, sentindo que as mãos de Harry afrouxaram da minha cintura.

— E mesmo que ficassem juntos, a Ordem sempre estaria em primeiro lugar. Até mesmo da verdadeira vontade deles.

O ômega fez uma expressão de pena que me deixou mais abalado, porque eu estava sendo digno de piedade.

Piedade pelo meu coração.

— Isso é tão triste. Ele é incrível. Sabia que eu fui o primeiro crush de Louis? — riu alto. — Ele era doidinho por mim. Tentou me roubar uma vez.

— Vocês já ficaram?

— Não. Sempre tive uma meta de relacionamento e mesmo que eu o ame, Louis não se encaixa. Viver com ele é a mesma coisa de viver sozinho, só sendo comandado.

Margot ergueu as sobrancelhas, como quem dissesse: "Não foi isso que eu disse?"

— Oh, meu Deus! Eu estava agindo que nem Louis — reconheceu com uma expressão de pesar. — Me desculpe.

Minha garganta secou tanto que foi como se minha saliva pesasse quilos. Não sabia como me sentir diante daquela afirmação tão ressentida.

— Agora entendi o sentimento. É como estar em um relacionamento com uma parede que não desmorona, e mesmo que você tente, continua a mesma coisa. É viver eternamente solitário.

Margot soltou um muxoxo.

— Me desculpe por ter te feito sentir assim — sussurrou Niall arrependido. — Espero que meu Lobinho encontre alguém que o pergunte como foi seu dia. E realmente esteja querendo saber. Que tenha uma conexão assim como a que eu tenho com você. Ele merece ser amado.

E aquilo foi ter a certeza que eu lutei sozinho por todas as pessoas que eu amei. Não porque elas não me amassem de volta, mas sim, porque eu nunca me deixei ser amado.

Sempre fui o muro inquebrável.

Frio como gelo. Forte como aço.

E foi assim que eu me tornei um desconhecido, até mesmo para mim.

Niall gargalhou ao ter a barriga soprada como criança, e muito inconscientemente, eu deixei meus ombros caírem e minha expressão ficar mais vazia.

Eu nunca teria aquilo.

Nem mesmo uma fração.

— Ei, minha linda, será que eles acordaram? — perguntou Niall com a voz maliciosa, a puxando para seus braços com cautela pelos ferimentos.

— Gosto do jeito que você pensa, Sr. Horan — destilou com um sorriso voraz, puramente cafajeste.

Ele riu ao ser atacado por beijos e eu nem relutei ao ter os braços de Harry ao redor dos meus ombros, me puxando em direção ao nosso quarto novamente.

Harry trancou a porta e eu sentei na cama, meio distante de tudo e absorvendo as palavras dos dois. A sinceridade explícita quando não estavam perto de mim.

— Você está usando a minha camiseta — informou Styles, porém a expressão estava tão distante quanto a minha.

Totalmente neutro onde eu não conseguia nem mesmo sonhar no que ele pensava.

Não respondi a sua fala, apertando as mãos no colchão e sentindo a famosa sensação de despersonalização querendo me afundar dentro daquela cova úmida de novo.

— Loui...

— Praia — cortei sua fala, agitado. — Se pudesse ter algum lugar no mundo que eu queria estar além daqui, seria a praia.

Harry piscou os olhos, sem entender.

— Me leve para a praia, Styles.

O alfa examinou meu rosto, descruzando os braços e aliviando a expressão tensa para um sorriso de covinhas que me fez ficar meio zonzo.

— Vou pegar as chaves do carro.

***

A cerveja fria praticamente congelava o meu braço quando eu enfiei ela na parte de trás da caminhonete preta, observando Harry vir cheio de sacolas com porcarias que provavelmente me renderia dois dias no banheiro.

O alfa estava tão despojado que eu ao menos pensei que fosse o mesmo Styles que eu estava acostumado. Uma bermuda jeans, uma blusa branca e um all-star com um óculos escuro estilo aviador.

Parecia até gente.

— Por que eu tenho que trazer as cervejas e você os salgadinhos? — perguntei indignado ao ver a moleza que ele caminhava com os sacos de salgadinhos.

— Porque eu quis.

— Porque eu quis não é resposta. — Ele enfiou o picolé que estava em sua boca com tudo na minha, me fazendo calar na hora.

— Olha que paz, Louis, quando você fica quieto. Os passarinhos até cantam de alegria ao grande acontecimento.

— Só não vou reclamar porque você trouxe meu sabor favorito — retruquei emburrado, feliz com meu picolé de limão siciliano.

— É água com açúcar e você é todo estressadinho desse jeito. É lógico que seu sabor favorito é esse — expôs com obviedade, ligando o carro e sorrindo para mim de forma completamente forçada. — Preparado para curtir areia no rabo, uma cerveja mediana, salgadinhos que tem gosto de isopor ao lado da pessoa que você mais odeia no mundo?!

Não contive a risada com o tom de capitão chamando para mais uma sessão de desenhos com Bob Esponja. Bati continência, gritando de volta:

— Estou, capitão! E só para constar, você não é a pessoa que eu mais odeio no mundo. É o Edmundo.

Ele revirou os olhos, daquele jeito entediado.

Liguei o som num jazz baixinho e me aconcheguei no banco, prontinho para dormir na nossa viagem até a praia, porém aquele alfa desprezível deu um tapa forte na minha coxa, me acordando.

— Detesto dirigir sozinho. Pode acordar.

— Porra, Styles. Eu não consigo ficar acordado!

— Veste tua roupinha de lobinho perneta e dá seus pulos — caçoou.

Harry parecia realmente incentivado a levar aquela mini fuga na forma esportiva.

— Preferia quando você nem me encarava direito — bufei, não sendo realmente sincero.

— Eu preferia quando você não ficava que nem um bananão dormindo — provocou com a língua entre os dentes e eu tive um vislumbre forte da minha infância que me fez dar risada. — O que foi?

— Bananão — repeti o xingamento tosco. — Quem te contou?

— Me contou o quê?

Neguei com a cabeça, sem conseguir desmanchar o sorriso ao lembrar do Louis de jardineira azul e camisa amarela querendo ganhar Deus e o mundo. Saudades de me sentir assim.

Merecedor de algo.

— É Queen, Louis! Aumenta! — exclamou agitado, dando aquele maldito sorriso de covinhas.

Estava com ódio já daquela mutação genética ridiculamente fofa a níveis desproporcionais.

Love of my life, you hurt me! — cantarolou engrossando a voz, me dando piscadas repetitivas com os cílios ridiculamente grandes e lindos.

Tudo nele era ridículo.

You broke my heart, then you leave me — continuei porque não ia perder a chance de cantar Queen, mesmo que fosse com o tapado do Styles.

LOVE OF MY LIFE, CAN'T YOU SEE? BRING ME BACK, BRING ME BACK. — Ele desafinou e eu fiz cara feia, ouvindo a gargalhada meio estranha que ele tinha.

Harry era estranho.

— É assim que se canta, Eduardo Estilos! — Comecei a cantar do pior jeito possível, errando a letra de propósito e ele começou a tentar me interromper para passar por cima da minha voz. — PRESTA ATENÇÃO, EDUARDO.

— Para de me chamar de Eduardo, Alouísio.

— Ah, seu...

Parei o xingamento quando vi a praia ao longe e o cheiro de maresia invadiu o carro, me deixando animado para enfiar meu pé na areia e simplesmente me jogar naquilo.

Como se não existissem problemas.

Dessa vez, me certifiquei de pegar os pacotes de salgadinho e deixei os mais pesados para Harry que me deu um olhar atravessado de quem não tinha gostado nadinha.

— Calado, alfa — ordenei com o nariz em pé. — É reparação histórica.

Harry ao menos me respondeu, só passou reto por mim e colocou as cadeiras que trouxemos na areia, abrindo-as e deixando o cooler no meio com as cervejas.

Eu nem me atrevi a ajudá-lo a preparar os petiscos, só sentei como o bom Rei que eu era e esperei que tudo fosse entregue em minhas mãos.

Obviamente não foi.

Tinha um casal com uma mini catarrenta no colo que pulava em direção ao mar, e o cachorro labrador caramelo sempre ia atrás como quem estava cansado demais da estupidez humana. Ri baixinho, tirando a minha camiseta e aproveitando o pouco sol que quase nunca fazia na Inglaterra.

Ainda ventava bastante, porém eu queria muito mais implicar com Harry do que tudo. Precisava tirar minha cabeça do trabalho e das minhas responsabilidades.

Naquele dia, me permiti ser só Lou.

— Puro malte ou pilsen? — indagou o alfa, me tirando dos meus devaneios.

— Hã... Puro malte. — Ele me ofereceu cerveja, sentando ao meu lado e encarando a onda quebrando no fundo como poesia. — O que fazemos?

Ele ficou um bom tempo fitando o quebrantar das ondas, como quem também não soubesse o que fazer se não fosse pelos outros.

— Não sei — confessou. — Nunca fiz algo por mim ou para mim.

— Acho que... podemos fazer tudo o que quisermos? — sugeri meio sem jeito. Céus. Era humilhante não saber nem mesmo o que eu queria para mim.

— Que estranho — sussurrou ao levar a cerveja nos lábios.

Lábios ridiculamente róseos.

— A paz? — ri desanimado, abrindo a minha e dando um grande gole. Sentia saudades da cerveja. — Tem cigarro?

— Tem crianças perto — informou com uma careta. — É deselegante.

— Quem vai fumar sou eu, não é ela. — Harry me ignorou.

Aliás, aquela parecia ser a nova abordagem dele para tudo: me ignorar veemente como se eu fosse uma espécie de animal irritante demais que precisava ficar de castigo.

Semicerrei os olhos, desconfiado.

— Que foi? Está me olhando como um psicopata — observou com estranheza.

Desviei rapidamente, me sentindo uma criança pega fuxicando algo que não devia por tempo demais. No fundo, eu achava que iria ser super divertido, mas ao decorrer das horas, foi ficando cada vez mais chato.

E nós cada vez mais bêbados. Bem, eu estava bêbado. Harry parecia a rocha de sempre.

— Está calor aqui, não? — resmunguei, tirando meus shorts também e permanecendo só com a sunga de praia branca. — Ei, quer dar um tibum?

O alfa me avaliou de cima a baixo, parando um bom tempo — como sempre — nas minhas tatuagens dispersas pelo corpo.

— Não. Obrigado.

— Vai ficar sentado como um bananão plantando bananeira?

Puta merda. Eu estava muito bêbado mesmo.

— Você não vai entrar no mar desse jeito. Capaz de te levar e não trazer mais — ordenou com a expressão fechada e eu neguei a ir me sentar novamente. — Louis.

— Vem me pegar, alfinha.

Ele franziu o cenho ao mesmo tempo que foi levantando bem sorrateiro, e mesmo que eu estivesse bêbado demais, meu corpo ainda era preparado para a guerra.

— Alfinha? Eu sou maior que você!

— Não na forma de lobo — pisquei um dos olhos, o refutando ao nível que nem poderia ser desmentido. — Então, Harold, vem me pegar.

— Não somos crianças, Louis.

— E daí? Foda-se! O dia é nosso, maridinho. Agora a gente vai brincar como dois adolescentes idiotas e que não tem o peso do mundo nas costas, ok? — incentivei quase gritando, sentindo a brisa do mar chicotear meu rosto.

Eu amava a praia. Levava Pads — meu cachorrão bem irado — quando eu era mais novo, antes dele morrer. Era meu melhor amigo.

— Louis, sinceramente, não pode... — E aquele pilantra saiu correndo atrás de mim para me pegar de forma desprevenida.

Eu, com todo meu orgulho, saí correndo pela praia que nem uma garotinha gritando quando vê uma barata voadora. Harry era muito rápido e sóbrio, já eu dava passos trôpegos e desconfiava que meu rosto beijaria aquela areia em poucos minutos.

De forma espontânea, me transformei em lobo, correndo bem mais ligeiro e ouvindo o lobo de Harry atrás de mim. Ficou bem mais divertido com nós dois correndo e expulsando aquela energia que estava presa em nossos corações.

Não com drogas, não com sexo.

Com risadas.

— Não vale! Você tem quatro metros, Louis. Um passo seu e estamos na Ásia — dramatizou o lobo por telepatia, me fazendo revirar os olhos.

Desacelerei, porém Styles não previu, e dessa forma, seu lobo bateu bem forte nas minhas costas e nós rolamos juntos por toda aquela areia fina e gostosa.

Tentei mordê-lo e ele rosnou, me fazendo rolar por tudo aquilo na tentativa de morder. Logicamente, tudo na brincadeira. Eu não controlava bem a transformação ainda, então não demorou muito para eu voltar a forma humana e em cima do lobo enorme que me encarou com os verdes claros.

— Oi, fedido — provoquei ao lobo que fez um som triste. — Nem adianta chorar. Só tomando banho para sair esse cheiro de cachorrão aí.

Harry voltou à forma humana, gargalhando alto comigo ainda em cima de sua barriga.

— Não aguentei com cachorrão — disse entre risadas.

Olhos ridiculamente verdes.

Eu sentia a cerveja me deixando meio tonto e céus, eu queria realmente beijar Harry.

O laço nos envolvia de novo naquela aura verde e azul, parecendo sussurrar para que nos beijássemos como loucos ali mesmo. Eu já não estava no meu melhor estado, então poderia muito bem colocar a culpa na bebida depois.

— Não — Harry ditou seriamente ao ver meu olhar em sua boca. — Não, Louis. Não estrague o dia.

— É só um beijo. Eu sei que você quer.

— É óbvio que eu quero, mas sei que de beijo em beijo, eu vou estar na sua cama em pouco tempo. E depois? Vou virar seu novo brinquedinho como todos os outros? Acho melhor mantermos nossa relação profissional como sempre foi.

Eu nem conseguia raciocinar com aqueles olhos ridículos e aquela boca sendo molhada a cada vez que falava alguma coisa. O mundo ainda funcionava? Ou estava tudo mesmo rodando?

— Para de me olhar assim. Eu também não estou tão sóbrio quanto você pensa. Só sei fingir melhor que você.

Observei melhor, notando as pupilas dilatadas, as bochechas vermelhas e o bafo de álcool puro.

Estávamos muito bêbados.

— Um beijo — sussurrei, quase aguando quando meus lábios encostaram nos seus meio rachados.

Eu precisava sentir de novo...

— Não, não, não. Isso está indo rápido demais por conta do laço, Louis. Você vai se arrepender depois.

— E daí? Estamos fodidos, Styles.

Ele me tirou de cima de si, parecendo muito chateado ao me encarar com a postura rígida e retraída de sempre. Foi como um vulto que ele levantou, coçando a nuca de forma irritada.

— Eu não quero viver uma vida de aparências ou ter um marido só para status, Louis. Já passou pela sua cabeça que você não queria se casar, mas eu queria? Eu sempre quis casar com a pessoa que eu amasse. Vivi com a imagem do casal perfeito dos meus pais e acompanhei o amor de Gemma com Theo. Eu quero isso também, droga.

Ele parecia muito frustrado naquele momento e eu usei toda a minha energia de regeneração para tirar um pouco do meu estado alcoólico, o puxando para sentar ao meu lado.

O alfa sentou-se, a expressão distante enquanto encarava as ondas quebrantando.

— Então, é um romântico incurável? — Forcei o papo, ouvindo a risada dele.

— Costumo pensar que o amor nasce para todos, menos para os que realmente o desejam.

— Me desculpe, querido, mas você infelizmente está fadado a mim para o resto da sua vida medíocre — dei de ombros, me sentindo mais culpado do que tudo. — Se você quiser, eu posso assumir...

— Para com isso — me interrompeu, erguendo os olhos verdes até os meus. — Não tem como voltar atrás mais, Tomlinson. Você me prometeu na saúde e na doença.

— Na tristeza e na pobreza...

— Até que a morte nos separe, Lobinho. Só... Tenho medo disso. Estou morrendo de medo desse laço e de nós dois. Você é como rocha e gelo e... Eu sou a água. Vou fácil demais. Não somos qualquer coisa, sabe? Somos soulmates. Porra. Nunca achei que iria encontrar você dessa forma.

— Eu?

— Minha alma perdida — disse com obviedade.

Quase ri do mito meio ridículo e totalmente infantil que tínhamos sobre as almas gêmeas do nosso mundo e do porquê elas existiam. Do porquê eram necessárias.

Lobos não andam sem ser em alcateia, e antigamente, ômega era o lobo solitário. Alfa é o que lidera todos e os betas os que o seguem. Quando foram criados os gêneros com humanos, criou-se então a necessidade de que todo ômega ache a sua alcateia e todo alfa ache seu ômega solitário.

Era meio estúpido porque em biologia você logo aprendia que na verdade era o conjunto de cheiros que se formavam e criavam um laço de atração e conexão entre os lobos. Nada transcendental ou de outras vidas.

Me espantava que Harry acreditasse.

— Ah, sim — murmurei solto, sem dar muita credibilidade.

— Por isso eu nunca te conto nada — bufou.

— Calma, cara. Senta aí. Eu estou bêbado, com pouco funcionamento dos meus neurônios e fodido de vontade de te beijar de novo. Obviamente não estou no meu melhor estado.

— Você é péssimo.

Dei de ombros, deitando na areia quentinha e observando ele por cima dos cílios com aquele sol queimando minha pele.

— Isso quer dizer que vou virar padre?

— Como assim?

— Não vamos transar e seremos profissionais, certo? Eu não suporto traição, mas também não posso passar a vida inteira sem sexo.

Ele suspirou, se jogando ao meu lado e parecendo frustrado.

— Deveríamos conversar sobre nosso laço?

— Não — disse rápido demais. — Pelo menos uma coisa na minha vida, eu não quero que seja planejada nem calculada. Só deixe ir.

— Gosto disso — sussurrou com a possibilidade de um sorriso.

— Sem beijos mesmo ou é só...?

— Louis! — repreendeu, me fazendo gargalhar.

— Meu santinho — debochei, porém o apelido soou muito bom na minha boca.

Obviamente ele me largou um soco forte na barriga, me fazendo curvar e quase cuspir sangue com a forma agressiva que foi.

— Aí?

— Não zoe meu puritanismo.

— Puta? A puta sou eu, Santinho.

Ele riu, negando com a cabeça com o quão bêbado estava. Harry virou o rosto em direção ao meu e... ele parecia tão lindo sendo refletido por aquela luz natural.

Nem parecia o alfa ridículo de olhos ridiculamente verdes e com boca ridiculamente gostosa.

Meu lobo se remexeu, soltando feromônios de quem estava vendo a sua metade e eu sentia todo meu corpo gelar.

Styles se aproximou, encarando meus lábios com sede e eu entreabri automaticamente, sem me conter ao passar a língua por eles.

— Um beijo? — barganhou Styles e eu assenti. — Eu duvido muito.

Aproximei meu rosto ao ponto dos nossos narizes se tocarem e a respiração se misturarem, tornando tudo tão rarefeito. Meu coração batia acelerado assim desde quando?

Eu queria tanto, tanto, tanto beijá-lo. Mordê-lo. Parecia praticamente uma necessidade biológica, a Terra mudou o campo gravitacional inteiro para que eu caísse em cima dos seus braços e minha boca secou.

— É tão intenso — sussurrei meio embriagado. Tanto pelo cheiro quanto pelo álcool. — É uma ideia estúpida.

Ele concordou, segurando no meu couro cabeludo com força, sem forças de lutar contra aquele chamado instintivo.

— É absolutamente estúpida — repetiu. — Um beijo e nunca mais falamos nisso, ok?

Antes que eu pudesse respondê-lo, Styles me puxou com posse em direção aos seus lábios em um selar forte.

Eu derretia. Me sentia derreter diante dos lábios nectarines.

Parecia que a areia me puxava de forma manhosa, e assim que ele colocou a língua na minha, foi como se o mar tivesse colidido com a terra.

Explosivo. Tempestuoso. Era um completo emaranhar de sensações e sentimentos sufocantes que me fizeram investir mais, atrás daquela sensação tão gostosa. Era a pior das drogas.

Era viciante, me deixava tão tonto e eu duvidava que eu fosse querer interromper aquele choque tão bom.

Quando Harry me puxou pela cintura com força e desceu sua mão ao meu pescoço em um enforcar leve, sugando minha língua enquanto rodeava com a sua tão lentamente que eu soltei um gemido de pura profanidade.

Um gemido sujo, blasfemo, totalmente governado pelos meus instintos mais animalescos e depravados.

Eu queria mais, mais e...

— Chega. — Parei automaticamente, me sentindo muito perdido e zonzo. — Pelo amor de Deus.

Foi bastar olhar para ele que eu praticamente me joguei, investindo num beijo mais intenso. Tão lento que eu sentia o mundo parando só para que minha língua pudesse serpentear de maneira soberba na boca viciante.

Harry apertou o laço no meu pescoço, me dando uma leve falta de ar misturado com uma mordidinha no lábio inferior que me fez praticamente implorar ali para ser fodido do jeito que ele quisesse...

E parou. De novo.

— Isso não vai dar certo — murmurou Harry, de olhos fechados. — Você é...

— Eu sei.

Não sabia expor em palavras como havia sido intenso e tão sufocante ao mesmo tempo. O laço era intenso demais.

— Me fez sentir... — balbuciou perdido, levantando os olhos até os meus.

E estava lá. A energia.

A maldita gravidade.

— Vivo — completei por ele.

Meu medo era que eu realmente, irrevogavelmente, duvidasse que fosse a última vez que eu beijaria ele.

Me assustei, porque foi quando eu percebi que...

Ninguém nunca tinha me feito sentir vivo.

E eu tinha entrado num terreno muito ardiloso e perigoso, pois não era só minha facção que estava em jogo.

Era a minha alma.


NOTAS DA AUTORA: Tão meus!

Louis indo na maciota e Harry assumindo ser um romântico incurável é tudinho para mim! O tão diálogo esperado de Nargot e os pontinhos encaixando da química deles!

Quem quiser acompanhar as dicas, spoilers, avisos de atualizações e memes de VN; meu twitter é the_nohmutti.

VEJO VCS NAS FIGURINHAS!!

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