Servante (jjk + kth) (ABO)...

By veggiekook

796K 156K 139K

ALFA JEONGGUK | BETA TAEHYUNG Taehyung foi treinado a vida toda para ser um servo... Como um beta, o seu pape... More

Prólogo
I. Eucalipto
II. Triskel
III. Luna
IV. Obsidianas
V. Veridiana
VI. Argila
VII. Realeza
VIII. Trigo
IX. Ursae Majoris
X. Aroeira
XI. Cio
XII. Água
XIII. Narcissus
XIV. Conto
XV. Lyre
XVI. Parole
XVII. Desamado
XVIII. Estábulo
XIX. Isold
XX. Cartas
XXI. Orgulho
XXII. Piano
XXIII. Estufa
XXIV. Aniversário
XXV. Sorriso
XXVI. Elijah
XXVII. Gêmeos
XXVIII. Mango
XXIX. Wooshik
XXX. Legado
XXXI. Edmund
XXXII. Coelho
XXXIII. Elemento
XXXIV. Sentidos
XXXV. Lupino
XXXVI. Grutas
XXXVIII. Banheira
XXXIX. Glicínia
XL. Bhel
XLI. Jingoo
XLII. Karin
XLIII. Mirtilos
XLIV. Afrodisíaco
XLV. Esmeralda
XLVI. Lago
XLVII. Mudanças
XLVIII. Implícito
XLIX. Nascimento
L. Contratos
Segundo Prólogo
I. Léguas
II. Medlars
III. Vagalume
IV. Bandvja
V. Mensageiro
VI. Yoongi
VII. Pássaro
VIII. Conselho
IX. Arslan
X. Similar
XI. Alma
XII. Baile
XIII. Saudade
XIV. Dente-de-leão
XV - Trio
XVI. Arlandrianos
XVII. Nowbei
XVIII. Alvo
XIX. Ombre
XX. Hier
XXI. Kauput
XXII. Arco e flecha
XXIII. Pintura
XXIV. Namjoon
XXV. Da-rae
XXVI. Amor
XXVII. Bohumír
XXVIII. Cura
XXIX. Plano
XXX. Aliado
XXXI. Ékstasis
XXXII. Glândulas
XXXIII. Fantasma
XXXIV. Beta
XXXV. Vingança
XXXVI. Dunas
XXXVII. Lava
XXXVIII. Taehyung
XXXIX. Jeongguk
Epílogo
Pré-venda - Livro II

XXXVII. Tempestade

9.2K 2K 2.4K
By veggiekook


Oi gente boa tarde! Como cês tão?

Não deu pra postar ontem, mas hoje consegui concluir o capítulo. Pra compensar o atraso, ele vem um pouco maior, com quase 4k de palavras - não é gigante, mas maior que nossa média hehehe

Alguns acontecimentos desse capítulo estão na conta do LucaslovesSehun hihihihi Ele pediu uma cena de uma tempestade e dos tkk na cama... Não sei se era isso que ele esperava, mas gostei muito da sugestão e quis escrever! Espero que vocês gostem também S2

Muito obrigada pelo apoio com a fic, com os votos e comentários, vocês estão sendo incríveis! Espero poder retribuir esse carinho S2

Música: Opaque object - Vicente Avella

Taehyung se perdeu na volta para a entrada da gruta.

Não foi por causa de Jeongguk, que havia marchado em sua frente sem aparentemente se preocupar se Taehyung o seguia. O beta distraiu-se enquanto caminhava no chão irregular, olhando para baixo para o manter andar estável, ainda um pouco perdido na discussão que havia acabado de ter.

Uma parte da gruta tinha poças de água espessas e escuras. Curioso para saber o que era, ele aproximou-se de uma, abaixou-se e colocou a palma da mão na lama fria.

Argila negra. Surgiu em sua mente uma informação que antes estava estocada: aquela era a argila mais nobre entre as argilas, porque não era encontrada em todos os lugares. A argila negra só era extraída de lama vulcânica.

Lembrou-se de Edmund dizendo que estavam perto da Ilha de Ahora, onde um vulcão havia destruído os now'bei. Provavelmente, aqueles eram resquícios da erupção...

Taehyung segurou o fôlego. Todas aquelas coisas não podiam ser coincidência.

Feito daquele tipo de argila, Taehyung tinha o jogo de cerâmica que havia ganhado do professor de filosofia. O mesmo professor que falava now'benian...

O jogo também era idêntico ao que Edmund tinha.

E havia o cheiro secundário de argila negra de Jeongguk, um cheiro terroso que Taehyung sempre associava ao da chuva, o mesmo que sentia ali na caverna.

O que juntava todas aquelas peças? Quem era a liga entre elas?

Taehyung olhou para os lados, finalmente percebendo que havia ficado para trás. Ele arregalou os olhos, levantando-se afoitamente. Passou a mão na barra das calças para limpar o excesso da argila. Apertou as pálpebras, repreendendo a si mesmo por ter se perdido.

Precisava localizar-se, então refez a rota de onde viera na mente. Apesar do nervosismo, não tinha medo. A sensação de estar na gruta era estranhamente familiar, como se já tivesse conhecido o seu interior outras vezes. Bastou seguir seu instinto e sua memória infalível para traçar um caminho de volta.

Virou algumas curvas do labirinto de pedra, não demorando para encontrar o grupo, certo que ninguém tinha percebido sua ausência. Jeongguk mesmo parecia imerso demais em uma conversa com o tio.

Taehyung perdeu o alívio que cruzou os olhos do alfa ao avistá-lo.

***

Na tarde, logo que chegaram à casa de Edmund, Jeongguk anunciou para a tripulação que deveriam se preparar para voltar para Kauput's. O navio partiria no primeiro sinal de claridade do dia seguinte.

Muitos não entenderam a pressa, mas trabalharam nos preparativos sem questionar o capitão.

Taehyung ajudou Wooshik a cuidar do estoque de comida, mas estava trabalhando no automático, quase sem dar atenção ao que fazia. Estava distraído demais debatendo consigo mesmo se falava ou não com Edmund a respeito do vaso de argila.

No fim, foi Edmund quem o buscou, logo antes de irem embora. Taehyung conversava com Loren na varanda da casa, já com a bolsa de viagem pesando em seu ombro.

- Posso dizer uma coisa, Taehyung? - Loren perguntou.

Taehyung deu um sorriso curto, ajeitando a alça de sua mala.

- Nunca é algo bom que segue essa frase.

Loren estampou um pedido de desculpas no rosto. Ele deu um sorriso antecipadamente envergonhado.

- É só que... Todos nós ouvimos o que o Governador falou na gruta.

Taehyung travou os dentes em uma careta, abaixando o queixo no peito, escondendo o constrangimento.

- Sei que a opinião vinda de um criado ômega pouco vale - Loren prosseguiu.
- Mas eu só queria... Queria dizer que eu não acho que seja verdade, não acho que relacionar-se com betas é uma depravação.

Ainda em silêncio, Taehyung continuou encarando o chão. Ele aumentou seu aperto na alça da mala. É claro que havia pensado sobre a frase do Governador. Era como um pensamento que batia incisivamente na sua porta, um que ele tentava ignorar a qualquer custo.

Tinha medo que uma hora o pensamento colocaria a porta abaixo e invadiria tudo.

- As pessoas dizem isso porque o sexo acontece fora do cio, e clamam que não é algo natural - Taehyung prendeu o fôlego perante as palavras. Não se lembrava de ver alguém falando tão abertamente sobre o cio dos betas assim...

Salvo pela beta naquele bordel de Adhara.

- E não é. Não temos o corpo designado para isso - Taehyung murmurou, sem total convicção. Estava dividido entre o que aprendera a vida toda e o que vinha sentindo. Ele levantou os olhos. De longe, observou Jeongguk conversar com alguns de seus homens. O alfa gesticulava de maneira incisiva, parecendo frustrado.

- Vocês betas podem não ter os feromônios de um alfa ou um ômega... Mas é certo resumir as relações a respostas de hormônios? - Loren balançou a cabeça. - Eu não acho que é.

Taehyung engoliu saliva. Olhou de soslaio para Loren. Não sabia o que dizer. Era a primeira vez que alguém chegava perto de validar o que sentia diretamente - fora Jeongguk, quando dissera que não precisava que Taehyung fosse um ômega para beijá-lo.

- Obrigado por compartilhar suas ideias - Taehyung agradeceu, em uma voz que era uma mistura de embargo e polidez.

- Oh, Taehyung, querido. Sempre tão formal!

Loren sorriu, amplo como seu coração, e o puxou pelo pescoço para um abraço bagunçado. Taehyung ficou estático, surpreso demais para retribuir.

Alguém chamou Loren. Ele afatou-se e virou-se, respondendo algo que Taehyung não registrou. Loren acenou um adeus para Taehyung, que o observou retrair-se com um olhar contemplativo.

A gentileza de Loren era gratuita. Taehyung não tinha feito nada por ele - ainda que tivesse tido a intenção. Muito como Jimin também oferecia uma amizade sem exigir contrapartidas e Wooshik o incluía nos eventos do navio.

Se ele podia formar laços como esses, porque não...

Edmund acercou-se naquele instante. Ele carregava uma caixa de madeira pequena nas mãos.

- Lamento que a viagem tenha sido encurtada, Taehyung.

Taehyung fez-se de desentendido.

- Acredito que ficamos um bom tempo, Edmund. Foi muita gentileza sua ter nos recebido sem muita antecedência no aviso.

- Imagine, a minha casa é de Jeongguk também. Ele é realmente meu sobrinho favorito.

Taehyung não segurou um sorriso.

- Eu planejava que o passeio às grutas fosse só entre nós... Mas tive de reservar a balsa para irmos, e sabe como as notícias correm. Ainda nos dias de hoje as pessoas se servem de autoconvites, e alguns são irrecusáveis.

Taehyung assentiu.

- Querer algumas coisas é diferente de precisar fazer.

- De fato. O que me trás ao meu objetivo dessa conversa. Tome, eu quero lhe dar isso.

Edmund estendeu a caixa de madeira. Taehyung deu-lhe um olhar surpreso e dúbio. Edmund o encorajou com um sorriso. Taehyung colocou a mala de viagem no chão para pegar a caixa.

- Abra.

Taehyung seguiu o comando. O que viu quase fez com que derrubasse o presente.

Era a jarra de argila. Taehyung abriu a boca, surpreso, querendo disparar todos os seus questionamentos, mas sem conseguir formular nada. Olhou para o sorriso de Edmund por baixo do cílios. Não conseguia decifrar a expressão do tio de Jeongguk.

Pegou o objeto com cuidado. Diferente de como ele havia encontrado na saleta da casa, a boca da jarra estava selada. Taehyung percebeu que havia uma diferença de tonalidade entre as argilas. A parte de cima que fazia uma espécie de tampa era uma adição recente.

Edmund tinha fechado a jarra antes de lhe presentear? Por que? Era tudo que Taehyung queria perguntar. Seria impróprio dizer que tinha uma parecida, não seria? Poderia soar como se estivesse recusando o presente...

- Obrigado - terminou falando, rouco. - É linda - ele repetiu com mais clareza.

Edmund manteve olhos intensos em Taehyung. O beta devolveu o presente para a caixa.

- Você conhece o escultor? - Taehyung perguntou, tentando soar neutro. A sensação que tinha era que havia um bolo de massa fechando sua garganta, tamanha era sua ansiedade.

Como se não suportasse olhá-lo, Edmund fitou as árvores em sua frente.

- Ele foi um grande amigo.

***

Músicas : Cloak and Dagger e Shape of Lies - Eternal Eclipse

A viagem de volta teve poucos eventos, até o dia da tempestade.

Taehyung não ficou no quarto adjacente ao de Jeongguk. Sem criar alarde, perguntara a Wooshik se havia uma cama disponível nos outros cômodos de dormir, onde todos os outros tripulantes dormiam, e lá se alocara.

Taehyung não podia mentir. Não era nem de perto confortável como os aposentos de Jeongguk. A privacidade era inexistente, com os outros quinze tripulantes amontoados em beliches presas nas paredes, mas ao menos Taehyung já estava mais familiar com todos. As conversas que aconteciam na madrugada nem sempre eram de alto nível, era bem verdade: na maioria do tempo, eles davam relatos detalhados sobre experiências que tiveram com ômegas.

Taehyung conseguia desligar-se para não ouvir, mas às vezes captava um ou outro comentário que o fazia enrubescer-se.

Jeongguk não fez nenhuma objeção pela escolha de Taehyung. Em verdade, as interações com ele haviam se tornado mínimas. Como o beta conhecia melhor o funcionamento do navio, conseguia oferecer ajuda com o diário de bordo sem precisar de instruções, o que tornava mais fácil a tarefa de manter-se fora do caminho do alfa.

Foi o som do trovão, descendendo sobre suas cabeças como um anúncio, que iniciou a tempestade. O barulho acordou ele e os outros tripulantes no meio da noite, logo criando uma onda de burburinhos e exclamações entre todos. Em alto mar, o estrondo não era como nada que Taehyung já tinha ouvido. Não era um som captado só pela sua audição, mas sentido em todos os seus ossos.

Taehyung tinha ouvido as conversas paralelas entre os marinheiros. O ar estava úmido e eles já esperavam por chuva, o que já tinha aumentado as tensões entre os últimos dias, mas ninguém esperava por aquela intensidade de ventos.

Subiram para o primeiro pavimento do navio. A embarcação estava instável, e os betas e alfas sofriam para ser ágeis. Assim que pisou no convés, Taehyung olhou para o céu, imediatamente desejando que não tivesse o feito. O céu era um borrão de cinza grafite com nuvens escuras e clarões azuis que rompiam as nuvens e atingiam o oceano, amedrontador como seria o telhado do próprio inferno.

Pingos grossos de chuva bateram no rosto do beta, e ele abaixou o rosto para olhar o restante do convés. No centro dos homens, segurando algumas cordas, Jeongguk gritou ordens com todo o seu fôlego, forçando sua voz melódica acima do barulho da tempestade.

- Movam tudo que puderem para os porões! Levem as mesas e cadeiras do salão comum, também. Guardem qualquer galão de combustível para que não se soltem. Não precisamos lidar com o fogo também! Entendido? Tirem qualquer objeto que possa voar em vocês da frente. Coloquem tudo nos porões de suprimentos, estou sendo claro?

Muitos já sabiam os procedimentos, mas no momento de pânico os tripulantes tendiam a ficar paralisados. Precisavam das ordens vindas da voz absoluta de Jeongguk, que soava mais confiante que a tempestade que rodeava o navio.

- Preciso de cinco homens para me ajudar a baixar as velas. Os demais, nos objetos!

Ao fim das ordens, todos entraram em movimento. Os cinco que acompanharam Jeongguk com as velas eram alfas. Taehyung seguiu o restante com os objetos.

A tempestade foi ficando mais intensa, as trovoadas ao redor do navio mais ensurdecedoras. Certas caixas no salão comum eram especialmente pesadas, e as pernas e braços de Taehyung queimaram com o exercício. Um dos marujos explicou brevemente que era necessário levar tudo que pudessem para o porão, porque era o peso da carga naquela parte da embarcação que impedia ela de virar.

Na sala comum, Taehyung tapou os ouvidos por um segundo, desligando-se do mundo, tentando controlar as batidas enlouquecidas do seu coração. Perguntava-se se o navio iria aguentar, se eles iriam...

Uma onda mais bruta balançou o navio. Taehyung cambaleou, acertando o quadril na quina de uma caixa de madeira. Um dos gatos de Bohumír saiu de trás da caixa com um salto.

Taehyung arregalou os olhos em alarme. Mango! Onde ele estava?

Precisava continuar no trabalho, mas não conseguiria fazer mais nada sem saber se o animal estava bem. Taehyung pegou no colo o outro gato que acabara de pular em sua frente. Assustado, o animal arranhou a sua bochecha, mas Taehyung não deu atenção. Não sabia se era mais seguro deixá-lo livre ou em seus braços, mas na dúvida não podia largá-lo para trás.

Com o coração na boca, o beta passou a buscar por Mango. Encontrou Bohumír em um dos corredores.

- O Mango, Bohumír! Estou procurando por ele! Onde colocamos os gatos? - Taehyung não reconheceu a própria voz, assustada e quebrada.

Bohumír pegou o gato estressado de seus braços.

- Vamos deixá-los nos cômodos de dormir. Há poucos objetos lá e as camas são presas. - Ele explicou. - Não corre o risco de serem atingidos por alguma coisa.

- E-está bem. Eu vou encontrá-lo e...

Ele deixou a frase incompleta, dando as costas para ir em sua missão. Precisava encontrar Mango. Ele tirou o cabelo molhado dos olhos, puxando um pouco os fios, tentando raciocinar por um instante.

Não conseguia pensar em nada. Mas algo lhe dizia...Seu instinto mandava procurar por ele na cozinha.

Foi por pura sorte que o encontrou debaixo da mesa, amuado em um canto.

- Ah, Mango! - ele exclamou em alívio.

O animal foi mais manso em seus braços. Taehyung o deixou sobre a cama que dormia e voltou para o salão comum para ajudar os demais. Para sua surpresa, toda a tripulação estava ali, ofegante e exausta, inclusive os alfas que antes estavam cuidando das velas.

Todos menos um.

Alfa teimoso! Claro que Jeongguk assumiria todo o perigo com as velas, com sua estupidez e orgulho! Mas Taehyung tinha sua parcela de teimosia. Ele deu a volta e subiu de novo para o convés.

Encontrou um caos. O lugar estava inundado, e as ondas que batiam na lateral da embarcação invadiam o navio e tornava aquela parte intransitável. Nos últimos minutos, os ventos haviam aumentado de intensidade assustadoramente.

Avistou Jeongguk tentando amarrar a última vela aberta. Ele puxava a corda para que ela se fechasse. Contra um vento como aquele, exigia uma força incalculável: era uma insanidade fazer aquilo sozinho, mas a vela estava abaixando.

O alfa já estava em seu limite, porém, e era visível pela forma com que os músculos de seu braço saltavam e pela maneira que sua face se contorcia com o esforço.

As tábuas vibraram sob os pés de Taehyung. Ele olhou para o mastro mais alto se envergando e por um segundo ele teve certeza que o navio ia virar.

- Taehyung - Jeongguk gritou assim que o avistou. - Vá para a cabine do capitão.

O beta não deu ouvidos. Avançou até onde Jeongguk estava usando as estacas que haviam no chão para apoiar os pés e as cordas que uniam o sistema de velas para segurar-se. As cordas molhadas estavam escorregadias em suas mãos. Uma onda se desmontou sobre ele, e Taehyung teve que usar toda sua força para manter-se firme e evitar de ser arrastado pelo navio. Ele cuspiu a água e tossiu, dando mais alguns passos.

- Vá para a cabine - Jeongguk repetiu, mais desesperado.

- Eu vou ficar e ajudar.

- Isso são ordens do seu capitão - Jeongguk brandou, furioso. - Taehyung!

Os dois estavam ensopados da cabeça aos pés. Taehyung já não sentia mais seus dedos frios, mas ele conseguiu chegar até onde Jeongguk estava, ignorando todos os protestos do alfa.

- Você é um idiota completo! - Jeongguk gritou diretamente em seu rosto.

- Assim como você? - Taehyung gritou de volta, não perdendo tempo em pegar a corda da vela também.

Taehyung o ajudou a puxar. Juntos conseguiram enrolar a última vela. O navio diminuiu a inclinação e passou a balançar com menos força, mas não houve tempo para que os dois respirassem.

Uma rajada de vento violenta bateu contra o Mango. Taehyung agarrou-se no mastro, mas Jeongguk, ocupado em amarrar a corda da vela, não conseguiu fazer o mesmo. Ele desequilibrou para trás.

- Jeongguk! - Taehyung gritou, agarrando o antebraço dele antes que ele pudesse cair. O seu músculo protestou, mas ele continuou a puxar Jeongguk para si.

O alfa usou o apoio do braço para se impulsionar para frente. Ele abraçou Taehyung contra o mastro, mantendo os dois presos no navio.

A respiração ofegante dos dois se misturaram. Taehyung deixou a cabeça pender para frente, apoiando a testa no peitoral de Jeongguk. Também apertou os braços ao redor dele, aquecendo-se no calor do seu corpo.

Os dois permaneceram presos no abraço. Não havia mais o que fazer senão esperar que o pior da tempestade passasse.

***

Música: Fire on Fire - Little Transcriber

Jeongguk ordenou para que Taehyung o acompanhasse até a cabine. Algumas coisas do cômodo tinham sido reviradas, mas a maioria dos objetos eram compartimentados e o estrago havia sido menor que de outros cantos do navio.

O alfa jogou-se em uma cadeira de veludo verde com uma arfada. Seu corpo estava esvaziando-se da adrenalina, mas a sua ira ainda era sem precedentes.

Seus dentes de cima bateram contra os de baixo em um clec clec ruidoso. Ele travou a mandíbula. Era uma noite fria, e Jeongguk precisava tirar aquela roupa ensopada, mas não era só o frio que o fazia tremer: eram os nervos.

Ele levou dedos instáveis para a blusa, tentando em vão desatar o nó das amarras.

- Eu posso? - a voz de Taehyung, suave e calma, o cortou.

Jeongguk fitou Taehyung com os olhos mais escuros e turbulentos que alguém já vira. Lábios levemente apartados, ele tirou a mão dos cordões e assentiu, curto.

O beta colocou os dois joelhos contra o assoalho, postando-se na frente de Jeongguk. O alfa acompanhou a descida com os olhos, querendo protestar, querendo dizer para Taehyung cuidar de si primeiro, mas não encontrou a própria voz. Ele ainda estava drenado por tudo o que havia acontecido, mas acima de tudo...

Acima de tudo estava furioso por Taehyung tê-lo desobedecido e colocado a vida em risco daquela maneira.

Taehyung esticou os braços para alcançar o seu colarinho. Jeongguk apartou um pouco as pernas, facilitando o acesso. Com os olhos vidrados no outro, o beta inclinou para frente, por pouco não ficando entre as suas pernas. Levou dedos corajosos até os cordões que se enlaçavam na gola da camisa de Jeongguk e os desamarrou metodicamente, sem demonstrar o mais singelo dos tremores. A situação o lembrou da lição que tivera de como colocar um corset. Não se esquecera do comentário que a professora fizera a respeito de sua aparência...

Havia acontecido antes de receber a notícia de que os Jeons tinham demonstrado interesse em tê-lo como servo, há mais de uma estação atrás - ainda que parecesse que milênios haviam se passado desde então.

Ele terminou com o colarinho. A camisa não ficou mais folgada, tão colada na pele molhada que estava. Sem hesitar, Taehyung segurou na bainha e levantou. Jeongguk o ajudou erguendo os braços.

Taehyung olhou para o peito descoberto de Jeongguk. O movimento de subida e descida da respiração dele funcionava como um tranquilizante, um lembrete que estavam ali, respirando oxigênio. Um lembrete que seus pulmões não estavam cheios de água do oceano.

Voltando para a tarefa de despi-lo, Taehyung levou os dedos ao cós das calças do alfa, evitando tocar o máximo de pele que pudesse. Ele hesitou por um segundo.

Jeongguk o pegou pelo pulso gentilmente.

- Eu faço.

Taehyung piscou como se saísse de um transe. Assentindo duas vezes, levantou-se e virou-se de costas. Mantendo a postura rígida e ereta, encarou a parede.

Minutos depois, Jeongguk deu sinal para que ele se virasse de novo. Estava vestido com um par de calças secas, mas seu peitoral ainda estava exposto - e sua cicatriz também. Carregava outra muda de roupas nas mãos.

- Troque-se no quarto adjacente. - Jeongguk estendeu a pequena pilha na direção de Taehyung. - Depois volte para cá.

Mudo, Taehyung fez o que ele ordenou. A luz do outro cômodo era quase inexistente, já que só a lamparina do quarto de Jeongguk estava acesa. Taehyung deixou a porta entreaberta e pôs-se a remover as peças pesadas pela água.

Ele foi deixando o estado de choque à medida que as roupas secas foram envolvendo seu corpo. Ficaram enormes em si, já que provavelmente eram de Jeongguk. A essência protetora de eucalipto o abraçou, evaporando todas os seus temores. Sentiu as bochechas esquentarem.

No quarto, encontrou Jeongguk mexendo em algumas coisas.

- Deite-se, por favor.

Taehyung pausou.

- Aqui? Na cama?

- Aí, na cama.

O vinco na testa do beta ficou mais forte.

- Por que?

Jeongguk suspirou com mais impaciência. Ele andou até a cama e abaixou a luz da lamparina. Deitou-se sobre ela sem cerimônias.

- Porque você não vai sair do meu lado.

Relutantemente, o beta se sentou na beira do colchão, mantendo distância do outro.

- Vire pra cá, Taehyung. Nós estávamos agarrados pela vida lá fora, não precisa fugir de mim como se eu fosse a peste.

Taehyung respirou fundo, relaxando os ombros. Ele deitou-se de lado sobre os lençóis macios, ficando de frente para Jeongguk.

O alfa estudou o rosto dele. Levou o indicador para a bochecha de Taehyung, traçando uma linha tortuosa na pele.

- O que te atingiu?

Taehyung fez uma careta envergonhada ao lembrar a origem do ferimento.

- Eu estava tentando levar um dos gatos para um lugar seguro, mas ele estava assustado e acabou me arranhando.

Nem mesmo Jeongguk esperava a risada que escapou o seu tórax. O colchão tremeu com o movimento do seu riso.

- Por Luna, Taehyung, você... - Ele negou com a cabeça com um sorriso nos lábios. - O Mango está bem?

- Ele está. Ele foi bem mais dócil que o outro.

Jeongguk assentiu. Sua expressão voltou a ficar séria. Ele ergueu-se do colchão com as palmas, pairando sobre Taehyung.

- Não é tão efetivo como na forma de lobo, mas acho que para um pequeno ferimento...

Então Jeongguk levou os lábios até sua bochecha. Começou dando-lhe um selinho singelo. Taehyung sentiu os fios molhados do seu cabelo fazerem cócegas em seu rosto, e todo o seu corpo arrepiou-se novamente. Ele fechou os olhos, segurando a respiração.

O primeiro toque da língua de Jeongguk em seu ferimento foi como passar um anestésico instantâneo. A língua molhada contornou a linha de sangue, apagando o risco como se tomasse o ferimento para si. Um pouco da saliva curativa de Jeongguk escorreu por sua bochecha, e algo borbulhou dentro de Taehyung, acordando uma sensação que ele havia sido ensinado a nunca ter.

Taehyung apertou mais os olhos.

- Já está bom - disse, estrangulado, sequer pensando no ferimento.

Jeongguk encaixou o rosto em seu pescoço, respirando o seu cheiro por longos momentos.

- Lá fora, eu não estava preocupado em salvar o navio, nem com a tripulação. - Ele admitiu com a voz rouca. - Eu estava preocupado em salvar você. Ver você no convés, naquela hora... Foi insuportável. Não faça mais isso, não-

Taehyung colocou uma mão em seu ombro, massageando o músculo levemente. Ele limpou os lábios.

- Desculpe, Lorde Jeon, mas eu o faria de novo.

As palavras de Arslan naquele dia sobre Taehyung desafiá-lo voltaram para lhe atormentar, mas não fazia sentido discutir mais depois da noite que tiveram. Ele negou, ainda contra a pele de Taehyung, e afastou-se para deitar sobre o próprio travesseiro. Deu as costas para o beta, puxando as cobertas para cobrir-se, também tentando domar as próprias emoções.

- Use o Jeongguk - disse, por fim.

Taehyung considerou aquilo. Ele aconchegou-se no ninho de lençóis e cobertas, não ousando tocar a própria bochecha, mantendo o olhar fixo nas costas firmes do alfa. Fechou os olhos novamente, deixando-se ser vencido pelo cansaço.

- Em público, não - Taehyung sussurrou tardiamente, quando estavam pegando no sono, soando mais como uma reflexão do que uma afirmação. - Boa noite, Jeongguk.

Estavam falando sobre o vocativo, mas não parecia ser sobre um nome, não realmente. Adormeceram momentos depois.

Continue Reading

You'll Also Like

129K 11.9K 46
Em uma nova era em Beacon Hills, após a derrota do Anuk-Ite e da fuga de Monroe, abre caminho a uma nova jornada para nossa alcatéia, marcada por uma...
162K 25.7K 53
Eu fui o arqueira, eu fui a presa Gritando, quem poderia me deixar, querido Mas quem poderia ficar? (Eu vejo através de mim, vejo através de mim) Por...
146K 5.1K 103
• ✨ɪᴍᴀɢɪɴᴇ ʀɪᴄʜᴀʀᴅ ʀíᴏꜱ✨ •
282K 38.8K 38
CONCLUÍDA | taekook | ABO | realeza | hate x love Kim Taehyung é um príncipe ômega que tem como principal objetivo herdar o trono de seu pai, mas viv...