O Malabarista - Concluída

By anac_ssilva

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Raul é um morador de rua que perdeu sua mãe e, desde então, vive debaixo de um viaduto com o seu irmão mais n... More

Epígrafe
Personagens
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 65
Capítulo 66
Capítulo 67
Capítulo 68
Capítulo 69
Capítulo 70
Capítulo 71
Capítulo 72
Capítulo 73
Capítulo 74
Capítulo 75
Epílogo
Outras Obras

Capítulo 12

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By anac_ssilva

O caminho até a clínica foi, inicialmente, marcado por um silêncio denso entre Lorena e Raul, que iam cada qual imerso em seus próprios pensamentos. Para o jovem rapaz era estranho estar na rua outra vez, logo após a noite anterior. De dentro do carro, o mundo parecia carregar consigo certa coloração que, antes, Raul era incapaz de ver. De repente, não pareceu cansativo viver, não pareceu exaustivo se levantar pela manhã e encarar a realidade. E pensar que talvez nunca mais precisaria voltar para debaixo daquele viaduto, verdadeiramente aquecia o seu coração, trazendo alívio e até uma ponta de satisfação.

Então, em determinada parte do trajeto, Lorena olhou para Raul de relance, vendo-o encarando o porta-luvas do carro.

— Tudo bem? — ela perguntou.

— Sim...

O jovem rapaz olhou para Lorena de relance e explicou:

— Só estou imaginando como será voltar a ter uma vida, no mínimo, digna. Passei tanto tempo debaixo daquele viaduto com Kevin que... É meio estranha a ideia de ter um emprego e uma casa, sabe?

Lorena assentiu, atenciosa, e, estacionando seu carro em frente à clínica, disse:

— Vamos?

Raul, antes de se mover para fora do carro, encarou a construção grande e de fachada branca. No mesmo instante, sentiu uma ansiedade enorme lhe abater, mas, apesar disso, respirou fundo e saiu ajeitando os cabelos com as mãos.

Sentia-se estranho e essa sensação só foi piorando à medida que ia dando passos em direção à porta de entrada, ao lado de Lorena. De fato, ninguém o estava observando minuciosamente, todos que direcionaram seus olhares para os dois, o fizeram apenas por força do hábito. Mas Raul se sentiu tão exposto como se estivesse nu, pois tinha a impressão de que todos o julgavam pelo olhar. Ainda mais porque era evidente que aquela era uma clínica da alta. Tudo muito limpo, todos muito bem vestidos. De repente, se tornou inevitável para o jovem rapaz não se envergonhar do sapato sem meia que usava.

— Bom dia! — saudou Lorena ao alcançar o balcão da recepção.

— Bom dia. Em que posso ajudar? — perguntou a atendente, diligentemente.

— O Dr. Henrique está atendendo hoje?

— Sim. É para você?

— Não. Não.

A loira se voltou para trás e olhou para Raul que, retornando à realidade, descruzou os braços e pigarreou, a fim de dizer algo, mas Lorena disse primeiro:

— É pra ele.

A atendente olhou de relance para Raul, esboçando um certo desdém, e então lhe entregou uma prancheta com um formulário.

— Preencha isso — disse ela indiferentemente, deixando o balcão e entrando em uma porta ao lado.

Tanto Lorena quanto Raul haviam notado o olhar da atendente e, ao vê-la sair, trocaram rápidos olhares. Então, apoiando a prancheta sobre o balcão, o jovem rapaz se colocou a preencher o formulário.

De repente, Raul se voltou para a loira, dizendo:

— Só vai ter um problema.

— Qual?

— Eu não tenho endereço, nem telefone de contato e nem sei o número do meu documento de cor.

Lorena observou o formulário e, no mesmo instante, a atendente retornou, ainda com seu semblante desconfiado.

— Licença. Ele não tem endereço e nem telefone de contato. Ele pode colocar o meu? — Perguntou Lorena.

— Não tem?

A atendente olhou com desdém para o jovem rapaz outra vez que, notando seu olhar, encolheu os ombros.

— Não, ele não tem. Ele pode colocar o meu? — Lorena reiterou a pergunta firmemente e a atendente voltou seu olhar para ela.

— Poder, até pode. Mas...

— E ele também não se lembra do número do documento. Tem problema?

— Não. Aí, sem o documento, não dá.

— Mas ele está passando mal — justificou a loira.

Novamente, a atendente voltou a olhar para Raul e, depois de observá-lo por alguns segundos, perguntou com um desdém evidente:

— Você tem quantos anos?

— Vinte e três.

— Certo. Então assine aí embaixo e pode esperar aqui na recepção. Daqui a pouco o Dr.Henrique vai te chamar.

— Obrigado! — Raul agradeceu gentilmente e assinou seu nome.

Então, vendo-o terminar a assinatura e ficar meio desorientado, sem saber o que fazer em seguida, Lorena o chamou para se sentar em um dos bancos dispostos ali mesmo na recepção.

— Essa clínica é muito boa — comentou a loira para não ficar em silêncio. — Fiz os meus dois pré-natais aqui. E tô fazendo o terceiro. É realmente muito boa.

Raul voltou seu olhar serenamente para Lorena e perguntou, com um misto de surpresa e vontade de estender a conversa:

— Você está grávida?

— Sim.

O jovem rapaz ergueu as sobrancelhas, dizendo com ternura:

— Parabéns.

— Obrigada... Eu acho.

— Não está feliz com a gravidez?

— Dizem que não pode falar, né? Porque o bebê sente e tal, mas, se eu puder ser sincera com você, não. Felicidade é a última coisa que eu estou sentindo.

Um silêncio incômodo se seguiu às palavras da loira, obrigando ambos a voltarem seus olhares para a TV disposta no alto de uma das paredes da sala de espera. E teriam ficado assim por um bom tempo se Raul, em uma tentativa de ir pouco a pouco quitando sua dívida com Lorena, não tivesse perguntado em um tom compassivo, rompendo com o silêncio entre os dois:

— Mas você está bem com isso?

— Tô...

A resposta de Lorena soou falha e ela desceu o olhar da TV para as próprias mãos, e depois o reconduziu para Raul ao seu lado que, pela primeira vez, não desviou os olhos dela.

— Quero dizer, — ela continuou — não é como se eu tivesse outra opção. A vida me deu e agora eu tenho que dar conta.

Ao dizer, Lorena mexeu os ombros, conformada, e Raul, captando uma ponta de pesar no tom de voz da loira, assentiu vagarosamente enquanto soltava o ar com cautela.

— O que te faz sentir assim?

A pergunta do jovem rapaz surpreendeu Lorena, que não esperava por ela. Por isso, tardando o momento de responder, ergueu a cabeça e encarou Raul mais um vez, encontrando-o com um semblante sereno e leve. Então respondeu baixo:

— Divórcio.

Raul ergueu as sobrancelhas outra vez e confessou:

— Não imaginei que esse fosse o motivo.

— Não?

— Não. Achei que fosse viúva.

Lorena riu e respondeu:

— Antes fosse.

Raul, como sempre, não riu. Então, quando ele pensou em dizer algo mais, ouviu seu nome soar na recepção:

— Raul de Pádua Amorim.

— Sou eu — disse sozinho e se levantou.

Então ele olhou para trás, para Lorena e viu-a sorrir minimamente, como se o estivesse incentivando a ir. E ele foi, seguindo a enfermeira, enquanto a loira permaneceu na mesma posição, sentindo uma estranha, mas prazerosa paz de espírito. Raul parecia ter essa luz, essa boa energia que é capaz de envolver qualquer um.

━━━━━━━ ⟡ ━━━━━━━

Após quase 20 minutos esperando por Raul, a loira o viu vindo em sua direção segurando um papel. Ela guardou o celular, onde lia algumas notícias, e se levantou no instante em que o jovem rapaz a alcançou.

— E aí? — perguntou Lorena com um meio sorriso.

— Ele pediu um exame de urina — respondeu Raul, estendendo para a loira o papel que trazia.

— Exame de sangue também?

— Sim. Eu só não sei como vou conseguir marcar um exame sem documento.

— Não se preocupe com isso. Vou conversar com a minha amiga e pedir ela para assumir as pontas lá na clínica para mim. Assim, eu vou poder te ajudar a organizar essa questão dos documentos e...

— Não precisa renunciar aos seus afazeres por causa de mim — disse Raul, interrompendo a loira.

Lorena riu. Por que ele tinha essa mania de achar que sempre estava incomodando?

— A prioridade no momento é resolver esse seu problema nos rins, depois, te ajudar a se ajeitar com o apartamento e, por último, regularizar a sua contratação na clínica. E os seus documentos são imprescindíveis. Então...

— Não, olha... É que eu acho que você já está fazendo muito.

— Por que não combinamos uma coisa? — perguntou a loira, interrompendo Raul. Ela estava positivamente cansada de vê-lo negando sua ajuda, às vezes, até chegava a achar graça do seu esforço em sempre negar em um primeiro momento.

— Qual?

— Eu te ajudo em tudo que você precisar e você encara isso como... — Pensou. — Como uma ajuda apenas.

Quando concluiu, Lorena julgou que não havia feito muito sentido o que acabara de dizer, mas permaneceu firme.

— Me desculpe por sempre estar negando, mas é que eu não quero te incomodar...

— Não me incomoda, acredite em mim. Eu sou só uma louca que quer ajudar alguém para preencher um vazio. Soa um pouco mal, eu sei, mas é que... O divórcio faz isso com você, sabe? Quero dizer, eu não sei se faz com todo mundo, mas fez comigo. Então não se sinta um peso, você não é um peso. Eu faço o que faço com toda a alegria, porque... Bem, quando não se tem alegria própria, a gente busca, pelo menos, se contentar com a alegria do outro.

Lorena se virou para Raul e forçou um sorriso, que saiu triste. De fato, não estava feliz, por isso desejava, nem que por um breve momento, levar a felicidade a outra pessoa. 

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