Harry
23 de Dezembro de 1968
Não demoramos muito para entrar e minha mãe já estava com o rosto molhado devido às lágrimas.
Eu não vou mentir, algumas lágrimas caíram dos meus olhos também.
Sentia bastante saudades da minha mãe e pensei nesse momento várias vezes, mas nenhum tão acolhedor como esse momento que tive. A mais velha agarrou meu braço e me abraçou de novo quando entramos, ela segurou meu rosto e me olhou de cima a baixo. Perguntou se eu estava comendo bem e eu respondi que sim. Depois, ela me abraçou de novo e pediu desculpas por nunca ter ligado, eu também me desculpei por nunca ter ligado. Eu errei.
Logo que entramos me encontrei com Gemma. A minha irmã estava com meu sobrinho no colo, o pequeno Duncan. Também havia um sorriso cansado em seus lábios, mas seus olhos estavam brilhantes.
— Você finalmente apareceu, sumido — minha irmã fala sorridente e eu vou até ela.
— Oi — digo envergonhado e ela sorri. Gemma olha para Aaliyah e a minha namorada estava tímida e sem jeito.
Minha mãe a cumprimentou rapidamente, mas não perguntou quem ela era. O momento também não fez com que eu dissesse, ainda me sinto impactado por vê-la. Esperava por esse momento, mas sinceramente não agora.
— Ela eu não conheço, mas eu imagino quem seja — Gemma diz olhando para Ally. A mais velha estende a mão. — Prazer eu sou Gemma e você deve ser a Aaliyah.
— Prazer — Henderson a cumprimenta. — Isso sou eu.
Minha irmã sorri.
— Harry sempre fala de você.
Ally levanta as sobrancelhas surpreendida, mas isso não deveria ser uma surpresa para ela. De todo modo, a mulher me olha e eu sorrio jogando os ombros.
— Essa é a namorada então? — Minha mãe quem pergunta. Olho para ela e aceno com a cabeça.
— Sim, Aaliyah e eu estamos namorando — digo e minha mãe sorri e fica olhando para a mulher.
— Faz muito tempo? Ela é de onde? — Pergunta.
— Mamãe — Gemma reprime. — Você vai assustá-la, além disso, você pode fazer perguntas diretamente para ela.
Olho para Aaliyah e ela morde os lábios, depois a mulher olha para minha irmã e em seguida para minha mãe.
— Não tem problema, eu nasci em Louisiana, mas me mudei para Astromélia no início do ano. Foi onde conheci Harry — diz e minha mãe acena com a cabeça.
Elas começam a conversar e eu me sento ao lado da minha irmã. Olho para meu sobrinho que está dormindo nos braços da mais velha. Duncan tem sardinhas pelo rosto e a sobrancelha e o cabelo são ruivos. Ele não abriu os olhos, mas minha irmã disse que os olhos são como os dela. Perguntei sobre Ron, o seu ex, Gemma me disse que ele sumiu desde que descobriu a gravidez dela, um típico babaca.
Aquele cara é um bancário metido a besta.
Ron nunca gostou de mim, mas acredito que ele apenas não gostava porque me via como o irmão mais novo da namorada que era um desmazelado e que saiu de casa com o violão debaixo do braço para tentar a sorte. Diferente dele que é bem sucedido e rico.
Só que todas as sextas feiras ele iria para um pub em Londres e fazia sexo com outras mulheres no banco de trás do seu carro caro. Sempre soube disso, mas nunca tive coragem de contar a minha irmã, de toda forma, ela acabou percebendo que o idiota não presta.
Infelizmente, ele também sumiu completamente quando descobriu que minha irmã estava esperando um bebê dele. Só que não importa. Gemma irá dar um jeito nisso. Nós iremos dar um jeito nisso.
Inclusive, a minha irmã disse que conseguiu um emprego de enfermeira em um hospital aqui perto. Contudo, ela não sabe se irá continuar nele por causa do nascimento de Duncan e eu espero que sim, ela precisa disso. Gemma disse que mamãe está a ajudando e que ela comentou em morar com minha irmã, acredito que isso realmente venha a acontecer, porque a minha irmã está sozinha com um bebê e isso é difícil.
Disse a minha irmã que poderia ajudá-la. Convidei ela para vir morar comigo se as coisas se apertarem, mas a mais velha riu e perguntou em qual quarto de hotel. Depois, Gemma me confirmou que ficaria bem aqui em Londres, mas garanti a ela que quando eu me tornasse rico devido a música que eu compraria uma casa maior para ela cuidar de Duncan e encheria ele de presentes. Minha irmã sorriu e disse que cobraria e que também gostaria de presentes.
Eu a abracei de lado naquele momento e beijei o topo da sua cabeça. Eu realmente senti saudades da minha irmã e diante dela eu me sinto apenas o irmão mais novo e meio que gosto disso.
O resto da noite ocorreu bem, minha mãe e Aaliyah conversaram bastante, enquanto eu fiquei conhecendo o meu sobrinho. Um bebê que dormiu bastante no meus braços enquanto a mãe dele teve algum descanso. Depois, nós jantamos juntos e tinha muito o que falar também. Contei para minha mãe que estava em uma banda e que estava com um disco pronto. A mais velha quis o disco e pareceu interessada no que eu fazia. A minha mãe estava animada por mim e aquilo me fez sentir bem comigo.
Depois da janta, Aaliyah ficou na cozinha com minha irmã e meu sobrinho ajudando a mais velha a arrumar a louça. Enquanto isso, a minha mãe se sentou comigo na sala.
— Eu recebi suas cartas — mamãe fala e prendo a respiração.
Eu mandei cinco cartas para minha mãe quando eu saí de casa, nunca fui respondido, então eu segui meu rumo, conheci outros países até parar nos Estados Unidos. Desisti de enviar cartas para minha mãe, mas mantinha contato com Gemma e de alguma forma eu sabia que conversando com minha irmã, a minha mãe saberia de mim.
— Eu não queria te incomodar, então parei de escrever — digo e olho para o chão. Mordo a parte interna da minha bochecha e logo minhas pernas começam a balançar, não queria estar tão nervoso, mas veja, está acontecendo.
— Não estava incomodando — ela diz e segura minhas mãos. — Eu fui estúpida e fiquei com medo do que seu pai poderia fazer. Eu também estava confusa, porque meu filho era gay, mas veja, você está com essa menina bonita. Encontrou seu caminho e voltou para casa.
Suspiro e solto das mãos da minha mãe. Olho para ela.
— Mamãe, essa parte minha que gosta de homens continua aqui, sempre vou gostar de homens como gosto de mulheres — digo e a mais velha franze a testa.
É confuso para ela, é confuso para todo mundo. Por que?
É simples, eu apenas gosto.
— Harry...
— Mãe, eu estou Aaliyah porque a amo, mas eu já amei homens também — interrompo para explicá-la. Ela tem que me ouvir, eu continuo a falar. — Por favor, não apague uma parte minha para eu me encaixar no que parece certo para você. Não suportaria você apagando uma parte minha.
— Querido, não — ela volta a segurar minhas mãos e me olha nos olhos. — Eu vejo você e somente você. Meu filho, meu neném que sempre parava de chorar quando estava nos meus braços — ela sorri e passa a mão na bochecha. — Eu te vejo, meu doce e eu te amo desse jeito.
Uma lágrima acaba escorrendo do meu rosto, eu a seco imediatamente.
— Me desculpa, eu não deveria ter parado de mandar as cartas — digo, eu realmente me sinto culpado por isso.
— Eu deveria tê-las respondido — minha mãe fala e acaricia meu cabelo. — Mas estamos aqui agora e vai ficar tudo bem.
Aceno com a cabeça. Olho para o corredor e vejo minha irmã chegando com Aaliyah. Sorrio quando vejo Henderson com meus sobrinhos no braço, ela está segurando a mão do pequeno com seu dedo e sorri quando ele faz um barulho com a boca. Não demora muito para os olhos castanhos de Ally me encontrarem e ela sorri para mim.
— Ele gostou da Aaliyah — Gemma fala e a minha irmã se senta ao lado da minha mãe.
Logo, Ally está sentada ao meu lado. Olho para meu sobrinho e ele está com seus olhos grandes abertos. Uma cor bonita de verde musgo como os de minha irmã. Volto a olhar para Henderson, mas a mais nova está com a atenção no bebê.
Por um momento, eu apenas consigo ficar olhando para Aaliyah com meu sobrinho. Muita coisa passa na minha cabeça nesse momento e a imagem mais calorosa é imaginar que um dia possa ser um filho ou filha nos braços de Ally. Entretanto, somos jovens demais para isso e estamos tentando conquistar o mundo. Quando retorno meu olhar para minha irmã e para minha mãe. As duas estão me encarando e sorrindo.
A minha irmã move os seus lábios e diz: Eu gosto dela.
Eu entendo esse sentimento, porque eu também gosto da Ally, na verdade, eu a amo e de alguma forma essa mulher me salvou.
{•••}
Não fomos embora muito tarde, mas era uma noite fria e nevava um pouco, por isso, Aaliyah ficou agarrada em mim enquanto andávamos e eu afagava o braço dela.
Contudo, a mulher não estava muito de falar, ela me ouvia falando da minha mãe e da minha irmã, mas não me respondia tanto. Notei que isso aconteceu quando comentei com a mulher sobre passar a ceia de natal amanhã com minha irmã e minha mãe. Iríamos convidar o pai de Ally para irmos conosco, ele não poderia ficar sozinho nesse dia e tenho noção disso. Aaliyah pareceu gostar da ideia, mas ela ficou quieta, não rendia em nenhum assunto que eu começava e nem ria quando eu tentava fazê-la rir e por isso, eu quis entender aquilo.
No entanto, quando chegamos em casa, a mulher foi direto para o quarto depois de dizer boa noite para John que estava nos esperando.
Não tive oportunidade de perguntar nada a Aaliyah naquele momento, mas tinha que fazer isso.
24 de Dezembro de 1968
Na manhã seguinte, eu havia acordado às seis da manhã e quando desci encontrei Ally sentada na cadeira da cozinha tomando chá.
— Acordou cedo — murmuro e beijo a bochecha da mulher. Ally dá de ombros e fica olhando para a janela.
A neve caindo e quase nenhum sinal do sol.
— Você também acordou cedo — responde e bebe o chá em seu copo. Também me sirvo com chá.
Me escoro na bancada da cozinha de frente a mulher.
— O que houve? — Pergunto e a mulher me olha e franze a testa se fazendo de desentendida. — Aaliyah, o que foi? Aconteceu algo?
Ela morde os lábios e olha para a xícara. Então eu fico a observando e percebo melhor seu rosto, os olhos inchados, o nariz avermelhado e soube que ela andou chorando.
Respiro fundo e me aproximo de Aaliyah.
— Hey, pode falar comigo — digo e a olhando. Porém, Aaliyah não está me olhando, seus olhos castanhos retornam para a janela. Ela fica parada olhando para neve por longos segundos até resolver falar.
Ela diz:
— Esse ano foi a primeira vez que eu vi a neve, sabia?
— Uhun.
— Khalil dizia que iríamos para Nova Iorque, iríamos ver a neve lá. Fazer bonecos e brincar como se fossemos crianças. Ele disse que iria trabalhar nas docas e iríamos juntar bastante dinheiro para termos uma casa grande quando voltássemos para o Sul — Aaliyah diz e morde os lábios. A mulher ainda não está me olhando. — Nunca comemos peru, porque não tínhamos dinheiro para tanto. Só que, ano passado, ele estava juntando dinheiro para passar o natal em Nova Iorque. Ver a neve, brincar como criança e ter uma ceia farta. Nós iríamos... — Aaliyah não consegue terminar de falar e simplesmente chora.
Então eu entendi o motivo dela ter ficado tão fechada ontem.
O irmão de Aaliyah morreu no fim de novembro do ano passado e esse é o segundo natal dela sem ele. Mais natais ainda sem a mãe.
Só que Aaliyah não está mais sozinha e ela não precisa se sentir assim. Ainda sim, a perda é um sentimento poderoso e doloroso.
A mulher limpa o rosto e me olha.
— Sua mãe e a sua irmã são mulheres adoráveis, Harry. Acredito que será bom passar a ceia com elas e meu pai — diz e respira fundo. — Mas eu sinto tanta saudades da minha mãe e do meu irmão.
Seguro a mão da mulher e beijo a testa dela. Não sabia o que dizer a ela e me senti estúpido por isso. Contudo, Henderson não soltou minha mão e acabou deitando sua cabeça e meu braço.
Talvez eu não precise dizer nada.
Talvez estar aqui seja suficiente. Então, eu continuo ao lado dela e não pretendo ir a lugar algum.
— Obrigada por estar comigo, Harry — ela sussurra.
Eu poderia ficar com ela para sempre. Aaliyah desperta o melhor de mim e portanto, me salvou. Eu a amo.
Continua...
Apenas...
Notas: Heey como estão?
Gente eu cometi um erro, porque realmente neva em Nova Orleans, mas vamos fingir que não. Assim como a gente fingi que Astromélia é uma cidade real nos Estados Unidos.
Enfim, gostaram do capítulo? Tenho que dizer que esse capítulo finaliza a uma fase da história. No próximo capítulo vamos começar a entrar na reta final e cara... São tantas emoções bicho!
Espero que tenham gostado do capítulo. Amo vocês, até :)