Jardim de Papel (taekook ABO)

By Nyx-in07

55.7K 7.5K 6.4K

Kim Taehyung, um garoto simples e único criado numa fazenda no interior de Daegu, Coreia do Sul, tem o sonho... More

Margaridas na Janela
O Almoxarifado N° 1
Um Chefinho Muito Estranho
Azul Hortênsia
Luz na Escuridão
Florzinhas de Papel
Cabelos de Fogo
Dia de Cão
Garrinhas Afiadas... Ou Nem Tanto
Especial - O quê era Antes para se tornar Depois
O Vencedor
A Mui Nobre Família Ling
Se Queima em mim, Queima em você?
A Família Que Escolhemos
Amor Entorpecido e Instigado
Não Pode Ser Escondido
Profundezas do Desespero
Estou Aqui Agora
Incêndio
O Pardal Perdido Que Não Podia Planar
A Mais Terrível e Perigosa e Completamente Assustadora Coisa de Todas

Onde Deve Estar

2.3K 339 236
By Nyx-in07


Olá, Oi! 

Ufa, finalmente consegui terminar esse capítulo. Foi o mais difícil de escrever até agora, então deem muito carinho a ele ❤️

Boa leitura!! 

✿✿✿


Jeongguk estava com um enorme buraco na mente, como se alguém tivesse entranhado os dedos em sua cabeça e retirado as memórias da noite do karaokê.

Ele se lembrava de estar lá, obviamente. E também lembrava de ver Taehyung cantar - essa memória sondava sua mente desde que acordara domingo de manhã, confortável em sua cama, com Garrinhas sobre sua barriga e um remédio pra ressaca na mesa de cabeceira. Depois, era tudo um borrão azul e vermelho com gosto de álcool.

Jeongguk passou o domingo inteiro pensando nisso. Agora, na segunda-feira, se afundava em papeladas do trabalho e no planejamento do desfile para esquecer.

Cenário da boca de cena.... Passarela... Luz e som...

– Bom dia, Sr. Jeon! Lindo dia hoje, não é? – era Lian-chi, entrando sem nem se dar ao trabalho de bater.

Jeongguk olhou para trás, visualizando a paisagem de Seul pelas enormes janelas de sua sala. Poluição, céu cheio de nuvens cinzentas sem nenhum mísero raio de sol. Tinha chovido mais cedo, então uma névoa úmida se condensava no asfalto e nos vidros.

Se ele pedisse para Taehyung descrever aquele dia, ele diria "Espantosamente horrendo, indigno de admiração e incapaz de oferecer inspiração".

Ele voltou-se para Lian-chi, aborrecido.

– O quê é agora?

– Não pretendo tomar muito do seu tempo. – falou ele. Mas, contrariando sua declaração, se sentou preguiçosamente na cadeira em frente à mesa de Jeongguk, esticado como um gato. – Sou uma pessoa ocupada, você sabe. Mas queria te dar uma coisa.

Lian-chi revirou o bolso do casaco acolchoado com estampa militar e retirou um punhado de polaroides, colocando-as à mesa de Jeongguk. Ele gesticulou para Jeongguk pegá-las.

– O quê é.... – mas as palavras morreram na ponta de sua língua. Assim que deu uma olhada mais de perto, percebeu que não eram apenas fotos polaroides comuns.

Eram fotos de Taehyung.

Ele estava todo de branco, um constraste com o fundo escuro. Uma coroa de flores pousava delicadamente sobre seus cabelos azuis e um sorriso enorme, do tipo que fazia seus olhos se tornarem meia-luas luminosas, despontava de seus lábios rosados. Ele não estava realmente posando para ser fotografado, percebeu Jeongguk. Não. Aquelas fotos foram tiradas espontaneamente.

Eram todas assim. Dele sorrindo, olhando para longe da câmera, distraído, se espreguiçando, bocejando, arrumando a coroa de flores em sua cabeça. Jeongguk havia visto as fotos de estúdio que o fotógrafo lhe mandara e eram ótimas. Mas aquelas ali, em suas mãos, eram obra-prima.

Jeongguk ergueu um olhar inquisidor para Lian-chi, que deu de ombros.

– Pedi para um dos fotógrafos tirar essas instantâneas. Achei que você fosse gostar pra... Sei lá... Usar de inspiração para suas próximas criações? Modelo? Musa? Que seja...

Ele tinha um sorriso particularmente irritante na boca volumosa. Jeongguk estreitou os olhos.

– Aprecio sua boa vontade. – disse Jeongguk, um quê de ironia na voz entediada.

Lian-chi fez uma reverência exagerada, dando passos para trás.

– Sempre pronto pra ajudar, Sr. Jeon.

Ele saiu. Jeongguk suspirou e olhou para as fotos. Em uma delas, Taehyung parecia conversar animadamente com um modelo, daquele jeito que tinha de falar com as pessoas que era só dele. Os olhos que sorriam enquanto a boca estava ocupada demais formulando palavras e palavras, os gestos que conversavam por si só. Jeongguk se viu sorrindo pequeno.

Tendo certeza de que não estava pensando direito, ele pegou a primeira foto que viu, a que ele sorria, e guardou no bolso interior do paletó.

No segundo seguinte, batidas soaram da porta. Jeongguk pulou de susto e abriu a gaveta da mesa rápido, jogando todas as outras fotos dentro e fechando com um estrondo. Gritou um "Pode entrar!" e viu a figura alta e desengonçada de Namjoon carregando uma pasta azul enorme numa mão enquanto a outra ajeitava os óculos.

– Hey! Trouxe as finanças desse mês pra você dar uma olhada. Tem também os gastos do desfile e os cachês dos modelos, incluíndo o do Tae. – ele derrubou a pasta sobre a mesa.

– Certo... – Jeongguk chacoalhou levemente a cabeça pra tentar voltar ao normal. Ver Namjoon trouxe as memórias translúcidas da noite do karaokê de volta com tanta intensidade que Jeongguk não pôde ignorar. – Nam... Eu não sei porquê, mas não consigo me lembrar do quê aconteceu na noite do karaokê...

Namjoon congelou, os olhos subitamente arregalados por trás dos óculos.

Jeongguk confiava sua vida a Namjoon, porque além de ele ser magnificamente competente, o coitado não conseguia mentir nem se sua vida dependesse disso.

Ele pigarreou, uma, duas vezes antes de falar:

– Bem, você bebeu. Tipo, muito. Todos bebemos demais.

– Sim, isso eu lembro, mas e depois?

– Taehyung! – ele gritou, assustando Jeongguk. – Taehyung pode te explicar! Pergunte a ele!

Jeongguk franziu o cenho, meio espantado e meio perplexo.

– Taehyung? Por que ele?

Namjoon começara a suar visivelmente.

– Você vomitou nele!

Jeongguk sentiu como se Namjoon tivesse socado sua cara.

– O QUÊ?

– Quando eu cheguei, você estava todo desmaiado e ele todo vomitado... – ele fora dando sutis passos para trás, até alcançar a maçaneta. – É tudo que eu sei!

Ele abriu a porta e se esgueirou para fora, sem dar tempo de Jeongguk fazer mais perguntas.

Jeongguk estava de queixo caído, assimilando as informações, suas orelhas ficando cada vez mais vermelhas.

Ele deu um riso de nervoso. Namjoon devia estar bêbado demais e vendo coisas. Isso não podia ter acontecido, não é?

✿✿✿

– Sim, chefinho, foi isso mesmo que aconteceu!

O olho direito de Jeongguk tremeu visivelmente, rubor subindo pelo seu pescoço até a ponta das orelhas.

Deus do céu. Ele, que se policiava tanto para manter uma boa postura, dera um vexame... Um vexame vergonhoso e humilhante do qual ele agradecia por não lembrar... E ainda vomitara em Taehyung...

Taehyung lhe encarava com receio, como se estivesse cutucando uma fera com um graveto. Os sons posteriores da Praça de Alimentação ficavam cada vez mais altos conforme o silêncio se estendia entre eles.

– Ah! – exclamou Jeongguk, sua língua enrolada tentando disfarçar a vergonha. – Eu... Sinto muito, Taehyung... Por... Hm... Vomitar... Em você...

– Não se preocupe com isso, chefinho! – ele fez um gesto de dispensa. – Manchas de vômito podem ser retiradas com água morna e um pouquinho de vinagre branco! Foi o Sr. Google que disse! Também dá pra usar "bicarbonito" de sódio, mas não tínhamos isso em casa...

– Bicarbonato. – corrigiu Jeongguk. Taehyung fez um murmúrio de entendimento.

– Ahhh... Entendi. E como está a sua cabeça, chefinho? Namjoon-hyung disse que poderia doer de manhã depois de tanta bebedeira, por isso deixamos um remediozinho. – ele se aproximou por cima da mesa, dando duas batidinhas de leve na têmpora de Jeongguk.

– Está melhor hoje... Taehyung, foi só isso que aconteceu mesmo?

– O quê aconteceu? – era Jin, mal se dando ao trabalho de dizer "Oi" antes de roubar a latinha de suco de Jeongguk.

– Eu estava contando pro chefinho que ele vomitou em mim no karaokê. – disse Tae antes que Jeongguk pudesse impedir.

– Taehyung! – repreendeu Jeongguk. Taehyung pareceu confuso.

– Oh, me desculpe. Não sabia que não era pra contar...

– Pera aí. Então o Kookinho aqui passou vergonha no crédito e no débito e eu não estava lá pra ver? – reclamou Jin. – Droga.

Jeongguk olhou feio pra ele.

– Onde você estava? Ah, é, evacuando as tripas na privada do banheiro. Você já foi mais forte pra bebidas...

– Pelo menos era na privada, bobalhão. – Jin mostrou a língua.

– O quê as crianças tão discutindo agora? – perguntou Yoongi, sentando ao lado de Taehyung e em frente à Jin, arregaçando as mangas do uniforme de faxineiro. Ele estava cheirando a lavanda e baunilha e parecia particularmente feliz, o quê significava que acabara de vir da sala de Jimin.

– Estão competindo pra ver quem passou mais vergonha no karaokê! – explicou Taehyung, alegremente.

– Taehyung! – protestaram Jin e Jeongguk.

Taehyung se escondeu atrás de Yoongi.

– GENTE! – Jimin veio gritando desde o elevador até a mesa deles, com o celular para cima como se fosse um bilhete premiado. – SAIU!!

– O quê? O quê?! – quis saber Yoongi, afobado. – Meu bilhete da loteria?!

– Não! – disse Jimin, sentando numa cadeira grudado em Jeongguk, que fez uma careta. – Olhem só! São as fotos do Tae! Do ensaio para a promoção do desfile! Foram liberadas hoje mas já bombaram em todas as redes!

– Isso é sério? – Jeongguk pegou o celular de Jimin, arregalando os olhos conforme rolava a tela.

– Você já está em toda a internet, Tae! Todos querem saber quem é o modelo novo da JE-ON! Está deixando todos malucos! – disparava Jimin, animadamente.

Taehyung, porém, estava mais assustado que animado.

– Eu... estou?

– Está. – foi Jeongguk quem confirmou. – Olhe.

Ele entregou o celular para Tae.

A página de notícias estava recheada com fotos suas e manchetes insinuantes. "O Grande Segredo da JE-ON foi revelado!", "A internet vai à loucura com as fotos do novo desfile da JE-ON, a grife de roupas mais comentada do momento!", "Todos estão especulando quem é o misterioso e lindo modelo de cabelos azuis...".

– Parabéns, Jeonggukie, seu plano foi um sucesso! – falou Jimin, nadando em deleite. – Todos estão falando sobre nós!

– Minha nossa, nossa, nossa! – falou Taehyung, alto e espantado. – Estão todos querendo saber quem eu sou! Euzinho! Como isso é possível?

– Taehyung agora é o novo namoradinho da internet. – falou Jin, em tom provocativo. – Está na hora de você adentrar o terrível reino internauta, príncipe azul. Precisa criar um perfil em alguma rede social!

– Você vai ter fãs! – disse Jimin, batendo palmas.

– Fãs? – repetiu Taehyung, franzindo o cenho.

– E haters, também. – acrescentou Jin.

– O quê são haters? – ele olhou de um para o outro, perdido.

– Pessoas da internet que vivem para falar mal de outras. – respondeu Yoongi. – É um prazer para elas fazerem outras pessoas se sentirem mal.

– Mas isso é horrível! – exclamou Taehyung.

– Eu tenho alguns... – sibilou Jin, desgostoso. – Você sempre se lembra dos ordinários, porque são os comentários deles que ficam na sua mente. Eles falam mal da sua roupa, da sua muita maquiagem, ou da sua pouca maquiagem. E do seu cabelo. Daí você fala mal do cabelo deles também.

– Mas eu não quero falar mal do cabelo de ninguém. – disse Tae, com um biquinho triste. – Todos os cabelos são bonitos.

– Menos o do Jeongguk. – provocou Jimin.

– Obrigado, Jimin. – disse Jeongguk, com um falso sorriso.

– O do chefinho é o mais bonito de todos. – só depois que as palavras saltaram de sua boca que Taehyung foi perceber o quê tinha dito. Ele corou sob os olhares inquisidores de seus amigos.

– Você acha? – perguntou Jin, erguendo uma sobrancelha.

– Ah... É-é... É que é sempre bem arrumado... – e ele corava mais e mais, até suas bochechas se tornarem dois tomates maduros.

– Ah, claro. O famoso penteado À Lambidé de la Vaqué. – zombou Jin.

Jimin e Yoongi explodiram em risadas.

– Vocês me testam... – Jeongguk apontou um dedo para eles. – Eu ainda sou seu chefe!

– Eu era seu amigo antes de você ser meu chefe. – provocou Yoongi.

– Eu também. – emendou Jimin.

– Eu não, mas não me importa. – falou Jin.

– Com licença... – uma nova voz desviou a atenção do grupo. Um rapaz de cabelo tingido de loiro, cuja raiz escura já despontava do meio, e olhos cor de amêndoa parou em frente à Taehyung timidamente. – Eu... Quero te entregar isso.

Ele estendeu uma pequena caixa quadrangular vermelha para Tae, com um laço cor-de-rosa rodeando-a e a mantendo fechada. Quando Taehyung a pegou, ele fez uma mesura e saiu mais rápido do que chegou.

– O quê foi isso? – falou Jeongguk, aquilo que todos estavam se perguntando.

– Oh! – exclamou Tae assim que desfez o laço e abriu a caixa. – É uma cartinha, e tem muitas balas de morango! Como ele sabia que eram minhas favoritas...?

– O quê diz na carta? – perguntou Jimin.

Taehyung leu-a em silêncio, e disse:

– Ele pediu que eu o encontrasse no terraço ao pôr-do-sol se aceitasse seus sentimentos.

– Que romântico! – exclamou Jin.

– Então não vá. – resmungou Jeongguk, ao mesmo tempo.

Todos olharam pra ele.

– Mas e se Tae quiser aceitar o rapaz? – indagou Yoongi, com o semblante de um sorriso.

Jeongguk encarou Taehyung, que mastigava uma bala de morango.

– Você quer?

– Hmm?

– Você nem o conhece! – continuou Jeongguk, sem dar tempo de Tae sequer pensar numa resposta.

– Eu conheço! – falou Jimin. – Ele é um estagiário de fotografia. Um alfa.

– O nome dele é Jang Yeo-san. – disse Tae. – A carta estava assinada. Ele escreve muitinho bem...

– Então vai aceitá-lo? – insistiu Jeongguk.

– Não, eu não estava pensando nisso. Só achei as palavras bonitas. – ele continuava comendo as balas, enfiando várias de uma vez na boca. – Mas acho que deveria dizer isso pessoalmente... – falou, enrolado pela boca cheia.

– Por que? Ele disse pra ir se o aceitasse... Então não vá. – Jeongguk pegou uma bala, enfiou na boca e fez uma careta. – Confie em mim, é melhor não ir.

Tae deu de ombros.

– Então tudo bem, se o chefinho diz...

Yoongi, Jimin e Jin ficaram observando o diálogo em silêncio, cada um com suas próprias conclusões.

✿✿✿

Foi uma semana onde cada funcionário da JE-ON trabalhou como nunca antes, tudo para que o desfile saísse nada menos do que perfeito.

Jimin costurou e ajustou looks e mais looks junto com os outros estilistas e costureiros, verificando mais de uma vez se cada ponto e zíper e bordado estava no lugar. Jin e Taehyung fizeram as últimas provas e o ensaio final já estava programado para quinta, pois o desfile seria no sábado.

Já estava tudo montado. O local fora decorado - embora Taehyung não fizesse ideia de como estaria -, uma numerosa equipe de seguranças e organizadores foi contratada para garantir que nada ocorresse fora do planejado.

Na mídia, a grande pergunta do dia era: veremos o misterioso modelo de cabelos azuis no desfile?

– Se continuar tremendo assim, não vou conseguir finalizar sua maquiagem, lindinho. – disse a maquiadora, a mesma do outro dia, que Taehyung descobrira se chamar In-jo. Sua namorada, Rochelle, era francesa e já havia terminado o penteado há uns bons minutos. Taehyung sabia que estava se mexendo demais, mas não conseguia se conter. Esse era o último ensaio antes do desfile e seus nervos estavam quase pulando para fora de si como sapos descontrolados.

– Me desculpe, desculpe... Eu 'tô muito nervosinho.

– Só fique parado por mais um segundo e... Acabei! – anunciou ela orgulhosamente. Pegou um espelho de mão e posicionou-o em frente ao rosto de Taehyung, que fora surpreendido por um novo ele. – Gostou?

A maquiagem se dividia em vários traços finos de azul: delineando o contorno de seus olhos, outro um pouco abaixo da sobrancelha, seguindo seu formado, e outro saindo do canto de dentro do olho até tocar o nariz. Um toque de sombra transparente brilhosa foi adicionada nas pálpebras, na ponta do nariz, nas maçãs do rosto e no centro de seus lábios.

– Ah, querida In-jo-ssi... Suas incríveis mãos artísticas possuem a mágica de me fazer tão bonito e brilhante quanto um vagalume! Elas possuem o toque de Midas! – exclamou Tae. In-jo riu e deu tapinhas no ombro dele.

– Não fique tão nervoso, vagalumezinho, você vai se sair bem e eu vou me gabar de ter maquiado o Grande Segredo da JE-ON quando você deixar todos de queixo caído no desfile!

– Taaaae! – era Jimin gritando do outro lado do estúdio e gesticulando para Taehyung ir até ele. Ele estava gritando muito, o Jimin-ssi, porque estava tão barulhento ali, tão bagunçado, modelos se preparavam para o ensaio, maquiadores e costureiros faziam os últimos retoques. Estava uma loucura. Loucura essa que já começava a afetar Jimin-ssi.

– Jimin-ssi... Está tudo bem? – perguntou Taehyung com cautela ao seu amigo, que revirava uma arara procurando o look de Tae.

– Vai ficar tudo bem quando o desfile for um sucesso. – ele tirou o cabide com plástico e empurrou-o para Tae. – Aqui está, vá se vestir que já vamos começar... Mas que droga! Onde está o maldito Jeon Jeongguk?! Aquele salafrário deixou toda a parte difícil nas minhas costas... Ele já deveria estar aqui...

Taehyung achou melhor sair de fininho antes de ser alvo da fúria indomável de Park Jimin também.

Ele entrou num provador de cortina e abaixou o zíper do plástico protetor, seu queixo caindo em câmera lenta. Era a primeira vez que via a roupa que desfilaria ao vivo.

Era ainda mais bonita do que tinha imaginado. O azul cintilava e se dividia em tons da mesma cor e era exatamente como seu cabelo, como se fossem feitos do mesmo material. A parte de baixo era uma calça branco-prateada que parecia tecida em poeira de estrelas, que descia até um pouco abaixo dos joelhos e então se transformava em renda pura da mesma cor que ondulava até seus calcanhares.

Tae vestiu-as com cuidado, mas não teve problemas. Foram feitas exatamente na sua medida com caimento perfeito.

– Taehyung? Você 'tá aí?

Era a voz de Jeongguk.

– Chefinho?

– Jimin me mandou entregar seus sapatos. – disse. – Já está vestido?

Taehyung abriu a cortina do provador. Jeongguk estava logo ali, segurando um par do que pareciam sapatilhas com pequenos saltos e fivelas incrustadas de brilhantes. Era de couro branco com desenhos espirais prateados.

Os olhos de Jeongguk lhe admiraram de cima a baixo, desde os fios de cabelos azuis em perfeitos cachos caindo pela testa, até os dedos dos pés descalços e levemente cobertos pela renda da calça. Depois, ele fixou-os nos de Tae, e continham encanto e maravilha que deixaram o ômega envergonhado.

– Perfeito. – disse ele, com firmeza. – Você está... Lindo, muito mesmo. A roupa ficou ótima em você... E o cabelo... E a maquiagem...

Taehyung sorriu, desviando o olhar para baixo.

– ... Mas falta uma coisa. – ele ergueu o indicador, um sorriso brincalhão dançando em seus lábios. – Seus sapatinhos de cristal.

Ele mostrou o par de sapatilhas e pediu que Tae se sentasse no banquinho.

– Chefinho... Não precisa fazer isso... – mas Jeongguk silenciou-o com um gesto, guiando Taehyung a se sentar.

Então, ele se agachou sobre os joelhos e segurou o pé direito de Tae delicadamente, calçando-o e afivelando a sapatilha. Fez o mesmo no outro.

Algo sobre sentir o toque de Jeongguk em seus calcanhares, tão suave como se ele tivesse medo de quebrá-lo, enviou ondas de calor diretamente às bochechas de Tae. Borboletas dançavam em seu estômago.

Os sapatos eram do tamanho perfeito, tão confortáveis que Taehyung mal os sentia no pé. Quando terminou, Jeongguk se levantou e estendeu a mão para ele. Taehyung se sentia a própria Cinderela, olhando para seu príncipe e desejando que aquele mísero sapatinho fizesse dele seu. Ele sentia a mesma euforia que ela deve ter sentido enquanto encarava os olhos de escuridão cósmica de Jeongguk.

Segurou a mão dele, que encobria a sua com calor, e se pôs de pé.

– Como se sente? – perguntou Jeongguk.

– Como se estivesse pisando numa grama feita de algodão. – suas mãos ainda estavam juntas.Taehyung se perguntava se Jeongguk notara.

Ele riu.

– Me referia ao desfile. Está nervoso? Jimin está pegando muito no seu pé?

– Tão nervoso que sinto meu coração ficar doidinho cada vez que penso sobre. – falou Tae. – Jimin-ssi está uma pilha de nervos, mas Jin-hyung me proibiu de comer bolo no café da manhã. – ele fez um biquinho decepcionado.

– Você pode comer. Eu deixo. – disse Jeongguk, as palavras saindo mais rápido que seu pensamento.

– Eu posso mesmo?

Jeongguk assentiu, os olhos luminosos de Tae desarmando-o.

– Jin está exagerando, e o desfile já é sábado mesmo. – ele deu de ombros. – Mas não fale nada pra ele. Jin é assustador quando 'tá bravo. – sussurrou.

Tae deu uma risadinha.

– JEONGGUK!

O grito penetrante de Jimin foi a lâmina que cortou o clima de cumplicidade entre eles. As mãos se separaram bruscamente e cada um deu dois passos para trás, assustados.

– Jimin? O quê foi? – Jeongguk estava sério novamente.

– Um dos modelos ficou doente e não vai poder desfilar. – revelou Jimin afobadamente. – Céus... É um desastre! Uma tragédia completa! Está tudo dando errado...

– Calma, Jimin. Sem drama. – repreendeu Jeongguk. – Vamos ligar para todas as agências possíveis. Deve ter alguém disponível.

– A essa altura do campeonato? Muito improvável.

Jeongguk pensou por um momento, e uma luz pareceu se acender em seus olhos.

– Eu sei de alguém que sempre está disponível.

Jimin franziu o cenho, mas assumiu uma sombra de perplexidade assim que entendeu.

– Jin não vai gostar nada. – afirmou.

– Posso lidar com a fúria de Jin depois, quando o desfile der certo. Mas não conte nada ainda. Só ligue para ele.

Jimin assentiu e alcançou o celular, se afastando para fazer a ligação.

– O quê há de errado, chefinho? Por que Jin-hyung não pode saber? – indagou Taehyung.

Jeongguk suspirou.

– Parece que vamos ver Jin bem bravo daqui por diante. – ele assumiu o semblante de um sorriso. – Vá para o ensaio, Tae. E não fique nervoso. Vai se sair bem.

Enquanto ensaiava com o resto dos modelos, treinando como seria no dia do desfile, fotos sendo tiradas para servir como base, Taehyung só conseguia pensar nas doces palavras de Jeongguk e o quanto queria que se orgulhasse dele.

✿✿✿

– O.k.! – exclamou Jimin assim que deixou Taehyung em frente ao prédio da JE-ON. – O quê foi que nós combinamos?

– Não chegar atrasado, não ficar nervoso, não se distrair com coisas sem sentido e tomar cuidado pra não se machucar. – enumerou Taehyung, contando nos dedos.

– Por que é que você quer vir aqui mesmo? – quis saber Jimin, com uma careta de estranhamento.

– Eu 'tô muito ansioso, Jimin-ssi, e trabalhar no meu almoxarifado talvez me distraia um pouco. E tem umas coisas que eu preciso organizar, também, ser modelo tem me deixado ocioso em relação ao meu outro emprego, afinal eu ainda sou um funcionário do Almoxarifado! Até mais, Jimin-ssi! Aconteça o quê acontecer, não beba café!

O verão estava a todo vapor, literalmente. O sol parecia se esforçar vinte vezes mais para brilhar ainda mais quente. Taehyung havia tomado um banho fresco de manhã, mas já se sentia suando, mesmo com a camisa rosa e a bermuda florida que usava.

O dia 25 de junho, dia do desfile, fora destacado no calendário de Tae com sua caneta mais brilhante. Ele mal tinha dormido. Passara a noite pensando no desfile, sua mente barulhenta viajando por cenários irreais, ainda que assustadores, onde ele caía, escorregava, rolava como um tatu pela passarela e todos ririam.

A empresa estava quase vazia e fecharia mais cedo por causa do desfile. Porém, assim que o elevador se abriu, Taehyung deu de cara com Jeongguk. Ele carregava apenas uma pasta, nem mesmo estava usando terno. Devia estar de passagem.

– Taehyung? O quê está fazendo aqui? O desfile é hoje. – disparou ele, surpreso.

Taehyung deu um sorriso culpado.

– Sabe o quê é, chefinho... Eu estou tão, tão, mas tãããão nervoso que resolvi vir espairecer no trabalho.

Jeongguk ergueu as sobrancelhas.

– Jeito estranho de espairecer.

– Eu gosto do meu almoxarifado.

– Então tá... Só não se atrase. – lembrou Jeongguk.

– Não se preocupe, chefinho! Vou para o local do desfile logo depois do almoço! Jimin-ssi me passou o endereço. Eu pesquisei no Sr. Google e parece ser um lugar bem grande... – comentou Taehyung, curioso para saber mais.

– Ah, sim, muitas edições da semana da moda de Seul aconteceram lá. – explicou Jeongguk, orgulhosamente.

Taehyung deu um sorriso meigo.

– Deve estar ansioso pra mostrar a sua coleção ao público, chefinho. E ouvir os aplausos, agradecer...

– Não sou eu quem subo à passarela pra agradecer, Jimin sempre faz isso. – interrompeu ele. Taehyung pareceu alarmado.

– Mas... Chefinho! Você quem deveria agradecer na frente dos convidados! Trabalhou duro para que a empresa funcionasse nos conformes, planejou tudo com afinco, passou noites acordado... É seu direito inalterável estar lá! – protestou.

Jeongguk deu de ombros.

– Eu meio que fujo da mídia e da atenção. Jimin faz isso melhor do que eu. Nunca sei o quê dizer. – admitiu ele.

– Só precisa lembrar de porquê faz o quê faz. Da sua paixão pela moda e pela empresa, todo o esforço que colocou nessa coleção, e dizer o quê lhe vem ao coração. – ele sorriu. – Um dia, quero ter tanto amor pelo que faço quanto você, chefinho. E, sabe, seria muito alentador se eu subisse na passarela e depois visse você lá... Seria como se tudo tivesse valido à pena. – ele fez uma pausa. Jeongguk o encarava com uma espécie de fascínio controlado misturado com surpresa. – Você é... Minha inspiração, chefinho.

Os lábios de Jeongguk se separaram levemente. Taehyung mordeu um sorriso e fez uma mesura, voltando-se para o elevador. Jeongguk não soube o quê dizer, mal sabia o quê pensar. As palavras de Taehyung indo e voltando em sua mente como um boomerang.

As portas do elevador se fecharam, mas o coração de Jeongguk não diminuiu o ritmo incontrolável.

Taehyung permaneceu o resto da manhã trabalhando, limpando e organizando seu almoxarifado que até esqueceu-se do desfile por tranquilos e breves momentos. Ele usava o corredor entre as estantes de ferro recheadas com materiais como passarela imaginária, e fingia que as latinhas porta-canetas e as embalagens de sulfite eram seu público, vibrando com sua esplêndida performance.

Mas uma coisa estava acabando com ele: o calor.

O Almoxarifado 1 era quente nos dias amenos, e insuportavelmente escaldante nos dias ensolarados. A única janela no recinto, pequena e estreita, não era páreo. Taehyung teria que passar em casa e tomar outro banho antes de ir para o desfile, tinha certeza.

O relógio de tic tac incessante em sua parede avisou que já era meio-dia, hora do almoço. Ele pegou sua bolsa e se dirigiu à porta, levando um susto ao encontrá-la fechada. Tinha certeza de que a deixara aberta para entrar um ar do corredor. Tae girou o trinco, mas a porta não abriu.

Ele tentou outra fez, com mais força. Nada.

Revirou sua bolsa procurando as chaves, só pra se lembrar de que tinha deixado a porta aberta, com as chaves nela.

Só havia uma explicação. Alguém tinha trancado-o lá e levado suas chaves. Talvez pensasse que tinha esquecido a porta aberta. Talvez não tivesse visto Taehyung lá dentro. Talvez...

Ele pegou depressa o celular. Tentou e tentou ligá-lo, mas só via a tela preta. Devia ter descarregado. Seu carregador tinha ficado em casa.

Com o coração retumbando de desespero, Taehyung percebeu o quanto estava em apuros. Estava trancado no almoxarifado, sem celular, no dia mais importante de todos. Ó, céus... Ele já se sentia suando de calor e angústia.

– Oláááá!! – gritou, batendo na porta violentamente. – Tem alguém aí?! Eu ainda estou aqui!! Abra! Alguém!!

Dez minutos depois, Taehyung, com a voz já rouca, parou de tentar chamar por ajuda. Mais dez minutos e ele parou de tentar abrir a fechadura.

Uma hora depois, ele já chorava em desalento, encolhido com as costas molhadas de suor numa parede fria.

Duas horas depois, Taehyung se sentia se ar e sem forças, como se estivesse desidratando e afundando sob as areias de um deserto infernal e delirando. O ar estava tão quente que ele mal podia respirar.

– Socorro... Socorro, chefinho... Me ajude... Jeonggukie....

✿✿✿

– Como assim o Taehyung ainda não chegou?! – exclamou Jeongguk, parado num sinal vermelho. Ele apertava o volante com toda a sua força para, quem sabe, dissipar um pouco do estresse. Não estava funcionando.

– Ele não chegou ainda, não atende o telefone, não responde mensagem, ninguém sabe onde ele está... – falava Jimin, desesperadamente. – Eu 'tô com medo de ter acontecido alguma coisa...

Um calafrio estremeceu Jeongguk.

– Ele tem que estar em algum lugar...

– Falta uma hora pro desfile começar... Jeongguk, acho que devemos adiar...

– Nem pensar! – disparou Jeongguk. – Eu vou procurá-lo... Mantenha o planejamento!

Ele desligou e jogou o celular no banco do passageiro, ouvindo as buzinas dos carros atrás.

Vira Taehyung por último na empresa. Talvez ele ainda estivesse lá...

Jeongguk enterrou o pé no acelerador, mudando sua rota para a JE-ON.

Jeongguk sentia algo em seu peito, como se uma mão invisível com longas e afiadas garras estivesse apertando seu coração entre os dedos, sugando toda a sua energia e paz, restando apenas a profunda e tremulante agonia. Ele respirava com a força de um touro raivoso, vermelho em seus olhos. Ele só sabia que precisava encontrar Taehyung, porque algo estava errado.

Encontre Taehyung. Encontre-o. Ele precisa de você.

A JE-ON já estava fechada e vazia, mas ele tinha a chave de entrada de sua própria empresa. Com a velocidade de um raio, Jeongguk chegou até o primeiro andar pelas escadas, tamanha sua pressa.

Foi até a porta do Almoxarifado 1. Estava trancada.

– Taehyung! – berrou. – Taehyung, você está aí?

– Chefinho... – uma voz baixa e quebrada respondeu. Era ele. – Estou preso...

Jeongguk pôs toda sua força na perna direita e lançou-a certeiramente na porta. O trinco se quebrou e abriu. Jeongguk entrou como uma fera.

Taehyung estava encolhido contra uma parede, respirando com dificuldade. A pele brilhava com suor, seu cabelo azul grudava nas têmporas. As bochechas estavam intensamente vermelhas.

– Taehyung... – Jeongguk chegou perto dele. Taehyung parecia terrivelmente cansado, e estava quase febril de tão quente. Quanto tempo ele ficou preso naquela sala que mais parecia um forno? – Tae... Diga alguma coisa...

– Chefinho... Que bom que você veio... – ele deu a sombra de um sorriso, tocando a mão de Jeongguk que estava em seu rosto.

– O quê aconteceu? – quis saber Jeongguk, ajudando Tae a se levantar. Ele tremulou sobre as pernas fracas.

– Fiquei preso... Alguém deve ter me trancado aqui... – ele resfolegava, apoiado em Jeongguk. O alfa passou um braço por baixo dos joelhos dele, o outro atrás das costas, e pegou-o no ar. Taehyung abraçou seu pescoço com um suspiro aliviado. – O desfile... Eu perdi? Por favor, não diga que eu perdi...

– Não, mas estamos atrasados... Apenas se preocupe em ficar bem, o.k.? – ele assentiu. – Vamos pra minha casa.

Jeongguk corria contra o tempo. Ele levou Taehyung até seu apartamento depois de dar litros e litros de água pra ele beber. Quando chegaram, ele já parecia um pouco melhor. Mandou-o correr para tomar banho e separou uma roupa sua pra ele usar.

Taehyung se sentiu mal por não poder cumprimentar Garrinhas apropriadamente, mas eles estavam mais que atrasados. Tinham exatamente vinte minutos para chegar ao local do desfile se quisessem que Taehyung subisse à passarela.

Jeongguk conseguiu levá-los em quinze. O pôr-do-sol já anunciava as últimas horas do dia. Foi quando Taehyung se deu conta de que tinha passado praticamente a tarde inteira trancado no almoxarifado, morrendo de calor. Ele estremeceu com a lembrança infeliz.

Os olhos de Taehyung aumentaram e brilharam com a visão que tinha. O desfile seria realizado num complexo chamado Dongdaemun Design Plaza, cuja arquitetura realmente chamava atenção. O edifício tinha forma arredondada e curva, feito de placas de alumínio. Por baixo delas, havia luzes que pareciam querer saltar para fora das paredes de metal. Era fluido e a atmosfera cheirava a futuro.

Percebendo o olhar de Taehyung, Jeongguk falou:

– Aqui é o como se fosse o coração do design e da moda. À noite, esse lugar ganha vida. Tem um jardim de flores eletrônicas que foi o motivo pra eu escolher fazer o desfile aqui. É lindo.

Taehyung entendia. O tema da coleção era Natureza Urbana, Jimin lhe explicara, e fora ideia de Jeongguk. Ele queria mostrar como esses dois tópicos, que pareciam tão distintos, poderiam coexistir em harmonia e que havia beleza em ambos. Por isso, a coleção abordava elementos que pertenciam às duas esferas. Jin-hyung, que desfilaria com o terno que Jeongguk desenhara inspirado em Garrinhas, representaria a Fauna. Taehyung seria o Céu.

A frente do local estava cheia de carros importados e pessoas. Convidados do desfile e repórteres. Eles entraram por trás, Jeongguk estacionando o carro numa vaga reservada.

– Graças a Deus vocês chegaram! – disse Jimin, que esperava na entrada, aflito e roendo as unhas. – Vamos, vamos! Temos pouquíssimo tempo pra te arrumar, Tae!

Os bastidores estavam uma loucura. Modelos treinando respiração e tentando não surtar, maquiadores retocando maquiagens, figurinistas e bookers correndo de um lado para o outro.

Taehyung deu uma breve olhada nos modelos, que já reconhecia dos ensaios. Um homem de pele escura como a noite e cabelo trançado usava uma roupa dourada que parecia banhada à ouro com uma cauda de enfeites de fios elétricos luminosos que acompanhavam seu andar. Ele representaria as Luzes. Outra mulher, com um rosto esculpido perfeitamente e olhos no exato formato de folhas, expressivos e atentos, usava um vestido cauda de sereia esmeralda brilhante e o Casaco Komondor de Jimin. Ela representaria a Natureza.

Jin também já estava lá, perfeitamente arrumado no terno preto como nanquim que, conforme seu movimento, cintilava as listras holográficas como as de um tigre.

Jimin chamou Rochelle e In-jo, que trabalharam como profissionais e, mais rápido que o esperado, Taehyung estava de cabelo e maquiagem prontos exatamente como no ensaio. Ele foi se vestir e tentou não pensar em Jeongguk quando calçou seus sapatos. Já estava nervoso o suficiente.

Ele sacudiu as mãos que suavam e abriu a cortina do provador, dando de cara com Jeongguk ali, prestes a entrar.

– Chefinho! Você sempre invade provadores assim? – brincou Taehyung. Jeongguk deu um sorriso envergonhado. Ele estava belíssimo em sua própria roupa: um blazer preto com centenas de pedrarias de cristais bordadas por todo o tecido, uma camisa branca levemente transparente que dava uma ideia da pele e músculos que havia por baixo junto à uma calça de alfaiataria também preta. A gravata estava propositalmente desarrumada, como se ele tivesse desfeito-a num surto de impaciência.

Era quase refrescante vê-lo assim. Jeongguk, que sempre andava impecável, mostrando um lado despojado seu. Até seu cabelo parecia mais livre e solto.

– Vim te dar uma coisa. Um presente. – disse ele, tirando uma caixinha do bolso do blazer.

– Chefinho sempre me dá muitos presentes, não precisa se dar ao trabalho. – ele pegou a caixa, virando-a nas mãos.

– Claro que preciso! É seu primeiro desfile. Abra.

Eram brincos, pelo que pôde perceber. Um tipo de brinco que ocuparia todo o formado da extensão de sua orelha. Eram de prata e cristais que brilhavam como diamantes. Pareciam com asas de um anjo de vidro.

– Eu não sabia se você tinha furo na orelha, então mandei fazer de pressão. – explicou ele.

– Que lindos. – suspirou Taehyung, o brilho das joias refletido em seus olhos. – Eu tenho furos, mas não tenho ideia de como colocar estes.

Eu coloco pra você. – propôs Jeongguk, tirando um dos brincos da caixinha e se aproximando de Taehyung, que sentiu um arrepio assim que os dedos dele tocaram em sua orelha, pondo o brinco sem dificuldade. No outro, Tae sentiu-o deslizar as pontas dos dedos pela lateral de sua nuca, e prendeu o fôlego.

– Jeon Jeongguk!! Eu não acredito!! – essa voz raivosa só podia pertencer a uma pessoa: Jin-hyung. E era ele mesmo, vindo até Jeongguk e Taehyung como um dragão que foi despertado cutucado com um alfinete. – Estava escondendo ele de mim, não é, seu ordinário! Mas agora eu o vi, debochando da minha cara com aquele cabelo loiro péssimo que ele copiou de mim, prestes a desfilar! Pode me dizer o quê a cobra do Choi Han-min 'tá fazendo aqui?!

Jeongguk deu um longo e cansado fôlego.

– Um dos modelos ficou doente e ele estava disponível.

– De todos os modelos da Coreia do Sul, do mundo, e você teve que chamar o... Ugh... Choi Han-min?! – ele riu de escárnio.

– Ele já trabalhou conosco e conhece os procedimentos e nosso perfil. Fora que é um veterano experiente. – explicava Jeongguk pacientemente.

Jin cruzou os braços. Mesmo soltando fumaça pelas orelhas, ele continuava bonito naquela maquiagem feita de pequenas listras pretas de tigre que iam dos seus olhos até as têmporas, se perdendo na linha do cabelo loiro jogado para trás.

– E não podia ter me avisado antes? Você sabe o quanto eu detesto ele...

– Você teria a mesma reação. – foi o quê ele disse. – Agora chega de discussão, já 'tá quase na hora. – ele se virou para Tae. – Está pronto, Taehyung? Precisa de uma água, alguma coisa?

Taehyung respirou fundo e aprumou a postura.

– Estou prontinho! Nunca estive tão pronto em toda a minha vida para algo! Me sinto pronto como Hércules estava ao enfrentar a assustadora Hidra! Pronto como Teseu estava quando entrou no labirinto do Minotauro! Pronto como...

– Tá, tá! Você está pronto, deu pra perceber. – interrompeu Jeongguk. Taehyung riu baixinho.

– Desculpe, é que Namjoon-hyung tem me contado muitos mitos gregos ultimamente...

Taehyung e Jin se juntaram aos outros modelos na fila de espera. O homem com a roupa dourada abriria o desfile, que seria em dois atos, e Taehyung o fecharia.

Eles conseguiam ver a passarela por uma enorme televisão que transmitia tudo. Era grande e espaçosa, e os lugares ao redor estavam cheios de pessoas ansiosas para saber o quê a JE-ON traria de novo. A boca de cena, de onde saem os modelos, estava decorada com um telão luminoso sob uma cortina de hera e flores. Flores eletrônicas, réplicas do jardim de Dongdaemun Design Plaza, foram postas nas bordas da passarela, brilhando com luz branca.

A passarela se abria para um palco, onde duas garotas gêmeas seguravam uma um violino e outra uma harpa, sentadas em banquinhos. Duas outras garotas - uma com cabelos tão ruivos quanto cobre e a outra com cachos castanhos volumosos - seguravam microfones, vestidas como ninfas da floresta, e estavam sentadas aos seus pés.

O som do violino e da harpa reverberou junto às vozes de rouxinol das duas garotas. Logo, uma música envolvente e inspiradora acompanhou-as na letra. A cortina de hera se abriu e o rapaz de dourado iniciou seu desfilar.

Taehyung observou com maravilha. Estava tudo tão lindo e mágico, que se borboletas e libélulas começassem a voar e rodopiar pela passarela ninguém estranharia.

E assim se seguiu o primeiro ato do desfile. Os modelos que já desfilaram respiravam aliviados e os que ainda não, como Taehyung, torciam os dedos de nervosismo.

O pequeno ômega sentiu uma mão cálida em seu ombro e virou-se, dando de cara com Jeongguk.

– Vamos iniciar o segundo e último ato. Ansioso? – perguntou. Tae encolheu os ombros e mordeu o lábio inferior.

– Sinto como se estivesse esperando por isso minha vida inteira. – disse Taehyung com sinceridade. – Já deve estar acostumado, não é, chefinho? Já fez isso várias vezes.

– Bem, sim, mas cada desfile é diferente. – admitiu.

– Estou com medo de cair, ou escorregar. Seria muito vergonhoso. – falou Taehyung, estremecendo.

Jeongguk olhou-o no fundo dos olhos.

– Se você cair, eu vou estar lá pra te ajudar a levantar. – a mão dele alcançou seus dedos da mão direita, caída ao lado do corpo, mas Taehyung mal sentiu. Estava concentrado demais em gravar todos os detalhes das íris escuras de Jeongguk. – Mas você não vai cair. Vai ir até lá e andar com queixo erguido, porque você consegue fazer qualquer coisa, Kim Taehyung. É onde deve estar.

Os lábios de Tae se partiram. Subitamente, ele quis falar tudo. Dizer como se sentia. Dizer para Jeongguk o quanto o admirava e amava. Que ele era sua inspiração e sua força. Que pensar nele acalmava qualquer tempestade dentro de si.

– Chefinho...

– Taehyung! É a sua hora! – gritou Jimin, fazendo Jeongguk e Taehyung se afastarem. – É agora!

Taehyung procurou os olhos de Jeongguk, que sorriam para seu eu assustado. Ele respirou fundo e seguiu com Jimin.

As cortinas de hera estavam fechadas. Quando elas se abrissem novamente, Tae deveria ir. As cantoras chegaram ao ápice da música, uma voz doce e melodiosa e outra forte como um trovão, pareciam disputar quem faria a nota mais alta. Fez-se um segundo de silêncio antes da cortina se abrir e o mundo explodir em cores e luzes e música e Taehyung dar o primeiro passo.

Sorrindo com toda a sua confiança, ele se mostrou ao mundo, caminhando como caminhava nos vales de Flora Coração, o vento sussurrando notas musicais em seu ouvido e o pôr-do-sol sendo seu guia. Ele viu a passarela tomar forma, viu todos os convidados olhando para ele com espanto.

E viu milhares de hologramas de borboletas azuis aparecerem no ar, batendo as asas e acompanhando seu caminhar. Ele não sabia daquele detalhe, e foi uma surpresa maravilhosa. Seus olhos brilhavam.

A música tocava ao ritmo de seu coração. E, quando ele chegou ao fim da passarela, fazendo poses, seu sorriso tomando conta de seu rosto, ele soube que estava exatamente onde devia estar.

Aplausos soaram quando ele virou as costas.

E lá estava Jeongguk. Caminhando pela passarela como se fosse um dos modelos. Ele sorriu para Taehyung, que não parou de andar. Quando passou por ele, porém, Taehyung precisou se esforçar para não olhar para trás.

De volta aos bastidores, Taehyung agradeceu brevemente Jimin e Jin e todos que vinham parabenizá-lo e correu para o telão. Queria ver o que Jeongguk faria.

– Boa noite à todos. – disse num microfone, sua voz tão firme quanto jamais esteve. – Muito obrigado por estarem presentes esta noite. Esta coleção fala por si só. É um manifesto, uma prova e uma inovação. Queríamos tocar o coração de vocês, do público, e inspirá-los a pensar. Essas roupas passam uma mensagem. E eu, Jeon Jeongguk, estou muito honrado em ter comigo uma equipe de designers, estilistas e costureiros que pensam como eu, na verdade que nossas roupas gostariam de transmitir a quem as usasse.

Ele deu uma pausa para fazer uma mesura.

– Obrigado aos modelos, maquiadores e cabeleireiros que tornaram isso possível. E obrigado a todos os envolvidos.

Taehyung sentia que poderia chorar de emoção. Jeongguk estava agradecendo. Ele havia seguido seu conselho e passado por cima de suas próprias inseguranças e se dirigindo ao mundo e a mídia que ele tanto evitava. Estava sendo corajoso como Taehyung fora. O pequeno ômega sentiu sem peito se preencher de orgulho.

– Fiquei passado quando Jeongguk me disse que iria fazer o discurso de agradecimento. – falou Jimin, ao lado de Tae. – O quê será que deu nele?

Taehyung apenas riu e deu de ombros.

Todos os modelos foram chamados pra fazer o encerramento. Mas antes de ir, Taehyung encontrou com Jeongguk e pulou sobre ele num abraço.

– Estou feliz por você, chefinho. E orgulhoso.

Tae sentiu a tensão em Jeongguk diminuir e ele retribuir o abraço, envolvendo-o com seus braços e fixando os dedos em suas costas.

– Obrigado, Tae. – ouviu ele sussurrar, tão baixo que pensou que fosse sua imaginação.

✿✿✿

Jin encarava o espelho do banheiro masculino para ômegas ofegante, as bochechas coradas e os olhos molhados com resquícios de lágrimas. Não de tristeza ou de raiva. De esforço. O enorme esforço que ele fizera para não desmaiar no meio do encerramento do desfile.

A maquiagem de tigre se fora, assim como seu figurino. Ele parecia pálido e cansado.

Isso nunca havia acontecido antes. Jin jamais passara tão mal assim no meio de seu trabalho. Seja fotografando, posando ou desfilando. Sempre levou sua saúde muito à sério e se cuidava em dobro nos dias anteriores aos desfiles.

Porém, nesse último mês, ele vem perdurando suas idas ao médico de propósito. Havia uma voz em sua cabeça que não o deixava em paz. Uma incerteza. Uma dúvida que ele já não podia mais adiar. No fundo, já suspeitava. Mas estava com medo. Morrendo de medo.

Seu celular apitou. O tempo se esgotara. Ele pegou o teste de gravidez de olhos fechados. Era leve como uma pena, mas pesava terrivelmente. Abriu os olhos de uma vez e resfolegou. Dois traços.

Jin se apoiou na pia do banheiro para seus joelhos não cederem, apertando a fita de teste na mão com força. A respiração descompassada era combustível para as lágrimas que embaçavam sua vista.

Ah, não. Não, não, não, não.

Ele não podia estar grávido. Não. Não agora. Ah, céus, como permitiu que isso acontecesse?

A porta do banheiro se abriu. Jin foi rápido em esconder o teste atrás das costas e limpar as lágrimas com as costas da mão. Quando levantou a cabeça, lá estava ele, a personificação da serpente do Édem. O pior de todos os ômegas. Choi Han-min.

Jin sentiu um frio na espinha só de olhar para aquele sorriso de viés e os olhos venenosos dele.

– Olha só quem está aqui. – falou ele, rindo como um imbecil. – Estava fugindo de mim, querido Seokjin?

– Estava evitando escorregar no seu veneno, sabe como é.

Ele riu ainda mais.

– Sempre uma resposta na ponta da língua. O quê está fazendo aqui, longe dos seus amiguinhos?

Jin colocou a mão no queixo, fingindo pensar.

– O quê as pessoas normalmente fazem num banheiro... Jogar damas? Apostar em cavalos? Ah, já sei, escrever mensagens motivacionais! Força! Você consegue! Está quase lá...!

Han-min bufou. Jin sabia que ele odiava seu sarcasmo, principalmente quando era usado para debochar dele. Isto é, sempre.

– Você não parecia muito bem lá. – sondou ele. – Pensei que estivesse com problemas. Eu me preocupo com você, Jinzinho.

Foi a vez de Jin bufar.

– Que graça, você estava prestando atenção em mim, Hanzinho? Meu problema era dor de barriga, e agora que já foi resolvido... – ele pegou sua bolsa de cima da pia, o teste de gravidez ainda em sua outra mão, atrás das costas. – Tenho que ir. Au revoir! Foi um desprazer falar com você...

Mas quando Jin passou por ele, Han-min trombou em seu ombro com força o suficiente para fazer o teste voar de sua mão. Ele foi rápido e alcançou-o antes de Jin.

Sua expressão de deboche se diluiu numa de surpresa. Han-min levantou os olhos para Jin, uma sombra de sorriso em seus lábios.

– Dor de barriga, sei... Você tá grávido... – constatou, rindo de descrença. – Não acredito nisso... Não soube que você tava namorando. Quem é o outro pai do pirralho?

O olho de Jin tremeu. Uma veia saltando em seu pescoço.

– Não é da sua conta, coisa venenosa. – sibilou. Han-min gargalhou.

– Aposto que nem você sabe. Ah, nossa, o quê sua mãe vai achar disso? Nós somos bem próximos, você sabe...

Ele sabia. E odiava. E o maldito Han-min sabia que ele sabia, mas sempre fazia questão de enfatizar.

– Cale a droga da sua boca, Han-min. Só você acha chantagem divertido, agora me devolva! – ordenou.

– Hmm... e se eu não quiser? Talvez eu deva ficar com ele e mostrar à querida Hyorin o quê o filho dela anda fazendo...

– Me devolva agora! – gritou Jin.

– O quê está acontecendo aqui? – era Taehyung. Ele tinha tirado a roupa do desfile e estava de volta com uma camisa e calça de Jeongguk, a maquiagem azul ainda decorava seu lindo rosto. Encava os dois ômegas com confusão.

– E você quem é? – perguntou Han-min, em tom de deboche.

– Kim Taehyung, muito prazer. – respondeu ele, mas ainda estava desconfiado.

– Ah, acredite, não é um prazer. – ressaltou Jin. – Me devolva logo antes que eu arranque de você, Choi Han-min!

– Devolver o quê? – quis saber Taehyung, mas não esperou a resposta para dizer: – Se você roubou do Jin-hyung, deve devolver.

Han-min riu.

– E quem é você pra me dizer o quê fazer, mirtilo ambulante? Não vou devolver nada!

O rosto de Taehyung ficou vermelho. Pela expressão no rosto dele, era de raiva.

– Ora, isso não foi nada gentil! E não há nada que eu repudie mais que pessoas grosserias que roubam dos outros! Devolva e peça desculpas ou terei que tomar medidas drásticas! – ameaçou. Jin apenas observava.

– Ah, é? Nossa, eu estou morrendo de...

– UMA BARATA!! – gritou Taehyung, apontando para o canto do banheiro. Han-min olhou de reflexo, mas quando se deu conta, Taehyung já havia partido para cima dele e pegado a fita de teste.

– Mas o quê... Urghhhrrtt! – arquejou Han-min, lívido de ódio.

– Agora peça desculpas! – mandou Taehyung.

– Nunca! – e então passou correndo por eles, mas antes de sair, fulminou Jin com os olhos. – Me aguarde, Kim Seokjin, me aguarde!

E bateu a porta. Taehyung se voltou para Jin.

– Jin-hyung, o quê é...

– Um teste de gravidez. É. Eu sei. – falou Jin rápido demais.

Taehyung, na verdade, iria perguntar o quê era, mas as palavras dissolveram em sua boca assim que assimilou as de Jin.

– Ai! Minha nossa, nossa, nossa! – o sorriso foi crescendo com cada "nossa". – Jin-hyung está mesmo grávido?!

– Por que está tão feliz? É um desastre! – exclamou Jin.

– Mas não diga isso, Jin-hyung! O pequeno bebê pode ouvir e ficar magoado.

– Ele não vai ouvir nada porque ainda nem tem orelhas, Tae! – ele suspirou, cansado de tudo aquilo. – O quê eu vou fazer... O quê...

– Jin-hyung... – Taehyung se lembrara de um detalhe muito importante. – Mas quem é o outro pai?

Jin encarou-o por um longo momento. Por fim, decidiu que já não havia porquê esconder de Taehyung. Ele já sabia demais mesmo.

– Namjoon.

– O QUÊ?

– Shh... Pare de gritar!

– Ah, Jin-hyung, por favor, diga novamente porque eu sinto que não escutei direito...

– É o Namjoon. Ele é o pai alfa do meu... – ele engoliu em seco. – Do meu bebê.

Taehyung se recostou na parede de umas das cabines, encarando o nada.

– Então... Esse tempo todo... Vocês estavam... Bem debaixo do nosso nariz! – acusou, apontando um dedo trêmulo para ele. – Ah, Jin-hyung, seu safadinho! Como eu não desconfiei...

– Nós não tínhamos nada. Não temos. Mas um dia ele apareceu lá em casa, eu estava no cio, acabou acontecendo... – ele franziu o cenho em dor. – E agora isso.

– Jin-hyung... Você gosta do Namjoon-hyung? – perguntou cautelosamente.

Jin bufou de frustração.

– Inferno, é claro que eu gosto! Eu estava até lendo sobre aquelas coisas filosóficas que ele adora só pra chamar a atenção... Gosto tanto, mas não tenho certeza se ele sente o mesmo...

– Como poderia não sentir? Vocês até vão ter um filhote!

– Acontece que não falamos mais daquilo depois que aconteceu. Nenhum de nós tomou coragem e ficou tudo subtendido. Isso nunca é um bom sinal...

Taehyung sabia bem como era a sensação.

– Jin-hyung... Vai ter que contar a ele... – falou Tae, carinhosamente.

– Eu sei, mas tenho medo... tanto medo... de não ser correspondido. E agora vou ser pai... E o infeliz do Choi Han-min vai fazer de tudo pra me arruinar... – sua voz falou num choro que estava entalado. Taehyung o abraçou e Jin derramou todas as suas lágrimas em seu ombro.

– Vai ficar tudo, tudo bem, Jin-hyung. Prometo que vou ajudá-lo! – decidiu Taehyung.

Mais uma Operação Cupido para mais um Tae obstinado a unir duas almas apaixonadas.

✿✿✿

O desfile havia acabado e toda a equipe estava reunida no saguão trocando felicitações e se parabenizando. Depois de encontrar com Jin no banheiro e ficar sabendo de tudo, a cabeça de Taehyung estava longe e pensando num plano para unir ele e Namjoon-hyung.

Isso sem falar nada para ninguém, nem pro próprio Namjoon. Nada sobre a gravidez nem os sentimentos de Jin, a pedido do próprio.

A mente de Tae fritava. Era a primeira vez que ele tinha tanta dificuldade em formular um plano. Não queria dar nenhum vexame, como das outras vezes, havia aprendido muito bem sua lição. Também não queria expôr Jin ao ridículo, e teria que manter sua promessa de ficar de bico calado.

Seus amigos, Jimin, Yoongi, Namjoon e Jeongguk vieram parabenizá-lo antes de ir falar com outras pessoas. Ele ficou sozinho novamente, perdido em pensamentos.

Viu Lian-chi vindo em sua direção com seu irmão, Chang-yin, no encalço. Eles eram realmente muito diferentes - tirando as óbvias semelhanças físicas de parentesco - em jeito de se vestir, atitude, forma de pensar e, claro, idade. Lian-chi vestia tênis Nike Air e jaqueta acolchoada enquanto Chang-yin permanecia com seu terno formal de sempre, a postura impecável.

– Aqui está meu TaeTae modelo! – exclamou ele, bagunçando os cabelos de Taehyung e tirando-lhe uma risada. – Você foi ótimo! Incrível! Deixou todo mundo babando. Até meu irmão aqui ficou impressionado, e olha que ele não se impressiona com nada.

– De fato. – concordou Chang-yin, lançando um olhar de reprovação para Lian-chi, que apenas sorriu. – Você foi o ápice da noite, Taehyung, posso te chamar assim?

– Claro que sim! É o meu nome! – respondeu Taehyung animadamente. Lian-chi prendeu uma risada.

– Realmente apreciei o modo como você desfilou. Me cativou. Cativou a todos, na verdade. – disse ele, dando um sorriso pequeno que ressaltava as rugas ao redor de sua boca. Chang-yin era um homem maduro, mas bonito, e parecia ser gentil, o quê conquistou Tae. Lian-chi estava sempre implicando com ele, mas Taehyung sabia que era coisa de irmão. – Tenho muitas agências subsidiárias na Coreia, empresas de moda, que adorariam trabalhar com você. Se estiver interessado... – ele retirou um cartão de visitas do bolso. – Por favor, entre em contato.

– Uau, que cartão bonito! – falou Tae. – Obrigado, Sr. Ling!

– Me deem licença um minuto, por favor. – pediu Lian-chi, que parecia ter sua atenção em outro lugar. Nenhum dos outros dois se importou.

– Sinto que eu que preciso te agradecer, Taehyung. – disse Chang-yin, subitamente.

Taehyung inclinou a cabeça.

– Por quê?

– Meu irmão mudou muito depois que te conheceu. – explicou. – Antes, ele não queria saber de nada. Vivia mau-humorado e fazendo piadinhas sem graça, com pena de si mesmo. Mas agora ele tem até um emprego! Algo que eu nunca achei que seria possível, não porque ele não tem talento, mas porque não se importava consigo mesmo. Eu estou aliviado de vê-lo finalmente focado em algo e devo isso a você.

Taehyung corou e deu um sorriso pequeno.

– Lian-chi é uma boa pessoa, só precisava de um "choque de realidade"! – ele abriu as palmas das mãos, simulando um susto. Chang-yin riu melodiosamente, encantado com aquele pequeno ômega.

Do outro lado do saguão, Lian-chi tentava escutar uma conversa.

Ele estava observando Seomin desde o início do desfile. Ele tinha se arrumado mais que o normal. Uma blusa com decote, calças extremamente coladas, cabelo num topete que o deixava absurdamente lindo, maquiagem preta nos olhos. Ele queria chamar atenção, era óbvio. De quem, Lian-chi não sabia.

Até agora.

Ele tinha ido puxar assunto com um homem que Lian-chi já vira de soslaio de outros desfiles e eventos do tipo. O quê sabia é que já passava dos cinquenta, era rico e o boato era que tinha uns "gostos peculiares".

Lian-chi não teve um bom pressentimento logo de cara, que aumentou quando ele escutou a seguinte frase saindo dos lábios pintados de vermelho de Seomin:

– Se o senhor for generoso, eu posso fazê-lo se sentir bem.

O sorriso nojento que o homem deu foi o gatilho para Lian-chi intervir.

– Com licença. – interrompeu bruscamente, atraindo os olhares chocados de Seomin e curiosos do homem. Ele agarrou o braço do ômega. – Preciso roubar o mocinho um minuto. Me perdoe.

Ao inferno com "me perdoe", pensava Lian-chi enquanto carregava Seomin aos protestos para o lado de fora, não se importando com os tapas nem os xingamentos que ouvia dele.

Nunca esteve tão furioso. O quê aquele tonto estava pensando?

Chegaram até um canto afastado e Lian-chi soltou-o, encurralando-o na parede.

– Que merda você tem na cabeça?! – disparou Lian-chi. – É essa a sua "outra opção?" – fez aspas com os dedos. Seomin lhe fuzilava com os olhos. – Se vender?!

– E o quê você tem a ver com o que eu faço? Hein?!

Lian-chi resfolegou, respirou fundo para não ter um ataque.

– Sabe quem é aquele cara com quem você estava falando? – ele apontou para longe com o indicador. – Sabe o quê ele faria com você se te encontrasse na cama dele?! Isso – ele apontou para a vermelhidão no braço dele, onde sua mão havia segurado. – Não chega nem perto. Nem perto.

Seomin nunca pareceu tão cansado. Ele não parecia nem querer discutir. Deu um longo fôlego e encarou Lian-chi, melancólico.

Lian-chi descobriu que odiava vê-lo assim, e quis socar a parede.

– Você me atrapalhou...

– Eu salvei você.

– Atrapalhou minha chance de conseguir o maldito dinheiro e pagar o quê devo. – continuou Seomin, sua voz vazia.

– Essa não pode ser a sua única opção. Quanto dinheiro você deve? – Lian-chi começou a andar de um lado para o outro.

– Muito. Muito dinheiro. E você não pode me ajudar. – ele fez menção de se afastar, mas Lian-chi o encurralou de volta.

– Você não vai voltar para lá.

– Eu preciso.

Não. – ressaltou, fincando as palmas na parede ao redor da cabeça dele. – Não vou deixar.

– Lian-chi... – era a primeira vez que ele o chamava pelo nome. O efeito em Lian-chi foi devastador. – Não pode me ajudar.

Ele podia, mas Seomin não o permitiria, e isso o irritava além da conta. Mas não o deixaria fazer isso, jamais, então fez a primeira coisa que veio à sua mente. Beijou-o. Beijou-o com tanta fome que não queria nunca mais parar. Mas parou para ver a reação dele, e Seomin não fugiu. Ele beijou-o de volta. E, quando Lian-chi disse para irem para o carro dele, ele não protestou. Caiu direito nos braços de Lian-chi, mergulhou nele e se afogou. Mas nunca se sentiu tão vivo.


No próximo capítulo...

Jeongguk faz uma descoberta grave. Taehyung pensa em como ajudar Jin e Namjoon, mas se vê numa corda bamba. Seomin está em terríveis apuros, e resta ao pequeno ômega ajudá-lo. Taehyung toma uma decisão. 

✿✿✿

Espero que tenham gostado!! Se sim, apertem na estrelinha, por favor!!

Vou tentar postar o próximo o mais rápido possível! Enquanto isso, stream na lenda Stay Alive!

Bjs Bjs e até o próximo!!

Continue Reading

You'll Also Like

804K 48.1K 144
Julia, uma menina que mora na barra acostumada a sempre ter as coisas do bom e do melhor se apaixonada por Ret, dono do morro da rocinha que sempre...
79.2K 4.5K 74
Foi numa dessas navegadas despretensiosas pelas redes sociais que ele se deparou com ela. Uma foto, aparentemente inocente, capturou sua atenção. Seu...
518K 27.2K 97
• DARK ROMANCE LEVE 𝐎𝐍𝐃𝐄 nessa história intensa e repleta de reviravoltas, Ruby é um exemplo de resiliência, coragem e determinação. Ela é uma pr...
217K 7.8K 127
• ✨ɪᴍᴀɢɪɴᴇ ʀɪᴄʜᴀʀᴅ ʀíᴏꜱ✨ •