O Malabarista - Concluída

By anac_ssilva

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Raul é um morador de rua que perdeu sua mãe e, desde então, vive debaixo de um viaduto com o seu irmão mais n... More

Epígrafe
Personagens
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 65
Capítulo 66
Capítulo 67
Capítulo 68
Capítulo 69
Capítulo 70
Capítulo 71
Capítulo 72
Capítulo 73
Capítulo 74
Capítulo 75
Epílogo
Outras Obras

Capítulo 6

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By anac_ssilva

Todo o trajeto até a casa de Lorena foi quase totalmente silencioso. A voz que mais se fez ouvir foi a de Kevin, que estava sentado no banco de trás olhando, encantado, pela janela a visão embaçada pela chuva da cidade que estava quieta. De vez em quando, ele, entusiasmado e vendo tudo como uma verdadeira novidade, apontava algo e logo pendia o corpo para frente, querendo contar tudo para Raul, que estava calado no banco do passageiro.

Lorena tinha um filho daquela mesma idade e sabia muito bem o que era uma energia inesgotável. Por isso, sempre sorria quando, de relance, via Kevin inclinando-se no banco para falar mais uma vez a Raul, mesmo depois de tê-lo escutado dizer num tom firme:

— Senta direito, Kevin.

Raul, praticamente encolhido sobre o banco do passageiro, tentava não apoiar todo o corpo sobre o assento, pois tinha medo de marcá-lo com a sujeira de seu corpo. Se lhe perguntassem, ele não saberia responder qual foi a última vez que se banhou decentemente e isso o incomodava profundamente. Sobretudo porque a loira que ia ao volante, apesar de vinda de um longo dia de trabalho, tinha a roupa limpíssima, o cabelo cheiroso, as unhas pintadas com um esmalte preto reluzente e os lábios cobertos por um tímido gloss que, junto ao seu perfume ligeiramente desgastado pelo dia, mas ainda notável, espalhava pelo carro um aroma acolhedor.

Àquela altura, o que Raul sentia era muito mais do que uma simples desconfiança, pois a vergonha o inundava. De repente, sentiu-se pequeno, do tamanho de uma formiguinha, quando, depois de curtos minutos de carro, Lorena entrou no condomínio fechado e, em seguida, na garagem de sua casa, onde os latidos dos dois Poodles ecoaram alto.

— Uau, Lorena! Sua casa é linda — disse Kevin, estupefato.

A loira sorriu graciosamente e, saindo do carro, agradeceu:

— Obrigada.

Então abriu a porta de trás do Pajero para que Kevin descesse, enquanto, do outro lado, Raul também descia. E, talvez por falta de sorte, o jovem rapaz, que já andava achando que aquele não era exatamente o melhor dia da sua vida, foi imediatamente rodeado pela dupla de Poodles que eram bastante valentes.

— Bidu! Simba! — Lorena exclamou e foi até onde estava Raul, encurralado pelos dois cãezinhos.

A loira já se sentia culpada pelo soco e pelo chute que Raul, não muito acidentalmente, havia levado minutos antes, não podia ser que fosse levar também a culpa por uma mordida, apesar dos dois Poodles serem mesmo inofensivos, mas a verdade é que nunca se sabe o que pode acontecer depois de duas desgraças seguidas.

— Eles não mordem — Lorena assegurou olhando para Raul com certo receio.

Então, quando se viraram, tanto ela quanto Raul, na intenção de irem até a porta que dava para o interior da casa, viram Kevin agachado no chão acariciando os dois cachorrinhos, como se os conhecesse há tempos. No mesmo instante, Raul teve a impressão de que, talvez, o problema fosse ele.

— De quem são, Lorena? — Kevin perguntou enquanto entravam.

— Dos meus filhos — a loira respondeu, atenciosa.

Ao entrarem pela sala, Lorena encontrou Bernardo e Ícaro na mesma posição. Então, pigarreando, a fim de chamar a atenção dos filhos, a loira deixou a chave do carro dentro de uma tigela perto da TV e disse ao filho mais velho:

— Bê, pausa o jogo um instante.

Bernardo, que, até então, não havia erguido o olhar ainda, fez o que Lorena ordenou e, ao olhar em sua direção, assustou-se levemente quando viu Kevin parado ao lado da loira e Raul, um pouco mais distante, em pé à porta.

— Quem são, mãe? - perguntou Bernardo, que, ao contrário de Lorena e Ícaro, tinha cabelos negros e olhos verdes.

— Esse é o Kevin — disse e apoiou as duas mãos sobre os ombrinhos do garoto. — O Ícaro já conhece ele. Não é, amor?

Ícaro assentiu timidamente e acenou para Kevin, como havia feito dias antes.

— E aquele — Lorena continuou, apontando para trás, para o jovem rapaz parado à porta — é o Raul, irmão do Kevin. Eles vão passar a noite com a gente hoje.

Bernardo, que pensava que sua mãe havia ficado louca, ergueu as sobrancelhas sem querer dizer nada.

— Bem! — Lorena sorriu e olhou para Kevin, que retribuiu seu olhar. — Eu vou preparar algo para vocês comerem e, enquanto isso... Quer tomar um banho?

Kevin sorriu largamente e afirmou como se não fosse grande coisa:

— Eu nunca tomei banho, Lorena!

A loira riu abafado, achando graça da sinceridade do garotinho. Raul, porém, sem achar graça alguma, disse com voz firme:

— Já tomou, sim. 

— Mas eu nunca tomei banho no chuveiro, Raul — Kevin insistiu inocentemente nas palavras e se voltou para Lorena, perguntando: — Eu vou tomar banho no chuveiro? Porque eu e o Raul toma banho na fonte da praça, mas a água é muito gelada e...

— Ela já entendeu, Kevin! — Raul interrompeu, incomodado com aquele assunto.

Kevin, por outro lado, apenas sorriu mais uma vez, sem se importar muito com a repreensão do irmão. Quanto à Lorena, seu olhar correu de Kevin para Raul e rapidamente voltou ao pequenino e, então, ela disse:

— Eu vou subir para pegar algumas coisas para vocês tomarem um banho e, enquanto isso...

A loira olhou ao redor e não soube como completar suas palavras. Por fim, apenas soltou os ombros de Kevin e foi na direção da escada que dava o segundo andar, dizendo que já voltava.

Raul, ainda no mesmo lugar, quando viu Lorena subir, chamou pelo irmão, que rodeava o sofá, querendo ver o jogo que Bernardo e Ícaro jogavam:

— Kevin, vem pra cá!

— Olha, Raul, é um jogo de futebol! — o pequenino exclamou, despreocupado.

Ícaro, como quem está a fim de fazer uma nova amizade, disse:

— É o PES 2016. 

— O que é PES? — Kevin perguntou, curioso.

Ícaro olhou para Bernardo, como se pedisse pelo olhar que ele respondesse, mas nem mesmo Bernardo teve tempo de responder, pois, no mesmo instante, Lorena reapareceu na sala.

— Vem cá, Kevin. Vou te mostrar onde você vai tomar banho — disse a loira seguindo para um corredor que dava para dois banheiros.

Kevin, sem nem olhar para Raul, saiu praticamente correndo atrás de Lorena, ansioso por aquele banho.

Dentro do banheiro, a loira começou a dizer num tom materno:

— Ó, eu peguei esse shampoo para você lavar o cabelo e...

— Posso cheirar? — o garotinho perguntou animadamente.

— Pode — Lorena respondeu com um sorriso de lado.

Então, com uma empolgação que era só sua, Kevin apoiou as duas mãos no braço de Lorena, fazendo-a abaixar o frasco, e cheirou o shampoo, como quem cheira rosas.

— Nossa! É muito cheiroso.

— É, não é? Então... Eu trouxe ele. E trouxe também um sabonete, uma bucha...

— Pra que serve essa bucha?

— A bucha é pra você esfregar os pés. 

Kevin se contorceu levemente, rindo, e disse:

— Meus pés tá bem sujo.

Lorena riu com o garotinho, sempre achando graça da sua sinceridade, e prosseguiu:

— E eu também trouxe uma toalha para você se enxugar e roupa.

Ao ver a muda de roupa, os olhinhos de Kevin brilharam e ele, com toda a alegria do mundo, agarrou a calça e blusa, que, em realidade, era um conjuntinho de pijama, e disse:

— Nossa, tia! O Homem-Aranha é o meu personagem favorito.

Lorena não teve tempo para comprar roupas para Kevin e Raul, como havia planejado, mas ficou feliz ao perceber que o pequenino ficou contente mesmo assim. Aquele pijama havia sido um presente de Ícaro, mas que não o serviu. E como Kevin era mais franzino que seu caçula, a roupa caiu como uma luva.

— Que bom que você gostou! — A loira exclamou sorridente e seguiu para o box, onde ligou o chuveiro. 

Kevin, por sua vez, entendendo que já era hora de entrar debaixo d'água, arrancou a roupa, de modo que, quando Lorena se virou, ele já estava "pronto" para um bom banho.

— Bom, fique a vontade — disse a loira, risonha, enquanto saía do banheiro. — Qualquer coisa me chame, viu?

— Tá — Kevin afirmou, satisfeito, e fechou a porta após Lorena.

Então o garotinho suspirou olhando para a água que descia e, num segundo, pulou para dentro do box mais do que animado, feliz.

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