𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.

By akastylessgirl

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Uma noite. Foi tudo o que precisou. Agora eles tem um acordo. • •... More

antes de ler / teaser
01 [ca•su•al]
02 [ten•são]
03 [pro•pos•ta]
04 [ex•ce•ção] (!)
05 [ca•pri•cho]
06 [a•cor•do]
07 [ris•pi•dez] (!)
08 [de•cep•ção]
09 [re•gra]
10 [em•pá•fi•a]
11 [pro•i•bi•do] (!)
12 [hos•ti•li•da•de]
13 [ge•ne•ro•si•da•de] (!)
14 [con•se•quên•ci•a] (!)
15 [hu•mil•da•de]
16 [in•si•di•o•so]
17 [do•mi•na•ção] (!)
18 [con•des•cen•den•te]
19 [a•fron•ta]
20 [ex•clu•si•vo] (!)
21 [a•lu•ci•nó•ge•no] (!)
22 [a•me•a•ça]
23 [dra•ma•ti•za•ção] (!)
24 [ir•re•ve•rên•ci•a]
25 [vul•ne•rá•vel]
26 [con•fi•an•ça] (!)
27 [con•for•tá•vel]
28 [em•bri•a•guez] (!)
29 [con•fli•to]
30 [dis•so•lu•ção]
31 [ci•ú•mes]
32 [re•ca•í•da] (!)
33 [pe•ri•pé•ci•a]
34 [sau•da•de]
35 [ins•pi•ra•ção]
[in•ter•lú•di•o]
36 [va•ri•a•ção]
37 [or•gu•lho]
38 [re•pa•ra•ção]
39 [con•ci•li•a•ção]
40 [a•mi•za•de]
41 [con•jec•tu•ra]
42 [ten•ta•ção]
43 [i•ne•bri•an•te]
44 [êx•ta•se] (!)
45 [su•a•ve]
46 [sub•ter•fú•gi•o] (!)
47 [in•ti•mis•ta] (!)
49 [in•ver•são] (!)
50 [fe•ti•che]
bônus [texting]

48 [me•lí•flu•o]

803 43 47
By akastylessgirl

[que flui ou verte como mel; que tem a doçura do mel; muito agradável; harmonioso.]

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CHARLOTTE

"...muitas felicidades, muitos anos de vida!" Harry dedilha o violão com mais intensidade, acompanhando o ritmo eufórico das minhas palmas e exultação. Diante de nós, Celeste enxuga suas lágrimas de alegria. Eu a abraçaria forte, mas uma tela de computador nos separa.

Desde a recuperação total dela após o tratamento, a possibilidade dela voltar a escola veio à tona com muitas dúvidas.

Antes de descobrir sobre sua leucemia, minha amiga havia ganhado uma bolsa na minha antiga escola particular, uma bolsa de estudos financiada pela minha família que selecionou outras três crianças. Contudo, Celeste foi cortada do programa por conta de sua enfermidade e por conta disso, as prioridades de sua vida acabaram mudando. Ao invés de sonhar com um diploma em Literatura, Ph.D. em Línguas e as cópias de seus livros de romance e fantasia esgotadas, Celeste passou a se preocupar se viveria até o final de cada dia.

Mas ela venceu a luta, conseguiu sair daquele hospital e embora tenha perdido quilos e o cabelo, ganhou determinação e amor em dobro, além de uma amiga como eu, teimosa e desaforada o suficiente para ir até a minha antiga escola e exigir que a aceitassem de volta no programa de bolsas, tendo em vista o fato dela já ter conseguido a oportunidade no passado por esforço próprio.

Crescendo em privilégio, com o apoio de uma família rica ao meu lado, eu poderia ter me tornado uma pessoa que adora se gabar do que possui, do que pode conseguir com alguns dólares e um estalar de dedos. Ser a ovelha negra dos Fitzgerald, no entanto, me colocou em outro caminho. Ainda assim, eu convivi com patricinhas o bastante para saber que ataques de arrogância e presunção funcionam muito bem se o nome do seu pai for atirado a torto e a direito quando se deseja que algo seja resolvido com rapidez.

E foi o que eu fiz.

Entrei na sala do reitor, bati a mão na escrivaninha de mogno dele feita à três gerações atrás e fiz o meu melhor ao ameaçar processar Deus e o mundo caso a Celeste não pudesse ser aceita novamente. Acontece que ser filha do Jacob Fitzgerald foi tudo o que bastou pra que o homem sorrisse pra mim e dissesse "Vou ver o que posso fazer".

E agora, dois anos depois, tenho que comemorar os 15 anos da minha amiga por chamada de vídeo, porque ela está passando o verão num acampamento de férias inteiramente financiado pela minha antiga escola - sua nova escola - que fica no norte do estado.

"Feliz aniversário para a Celeste!" Harry larga o violão e ergue o cupcake com cobertura roxa e azul na altura da webcam, passando seu outro braço ao redor dos meus ombros. "Agora faça um desejo. E não conte, senão não vai se realizar." Ressalta por fim, fazendo Celeste rir.

Ah, e é claro, estamos aproveitando a oportunidade para também finalmente apresentar Harry a ela e contar as boas novas sobre nosso namoro.

Celeste se prepara, fecha os olhos e assopra na direção da vela. Com rapidez, eu apago a chama com as pontas dos dedos molhados de saliva. Assim que ela abre os olhos de novo, faz sua melhor cara de surpresa.

"Uau! Foi como magia." Brinca, colocando uma mecha de seu cabelo curto pra trás da orelha.

Desde que seu próprio cabelo cresceu a um comprimento mais agradável a ela, Celeste optou por deixar a peruca de lado e acompanhar o novo visual. Atualmente ela está apostando num estilo todo francês e elegante, com franjinha e tudo mais.

"Então, o que você pediu?" Harry pergunta e acaba ganhando um olhar estreito da minha amiga. "Só queria ver se estava alerta." Ele ergue as mãos em rendição.

"Oh, estou muito alerta. Me digam que sou a primeira a saber sobre vocês." Ela pede, se empolgando ao mudar o foco do assunto para nós.

"Na verdade..." Hesito em responder e isso diz tudo que ela precisa saber.

"Quem teve a honra?" Indaga ao cruzar os braços.

"Naomi."

"A minha mãe."

Harry e eu respondemos ao mesmo tempo e a surpresa nos faz entreolhar com um sorriso intrigado.

"Quando você contou isso pra sua mãe?" Eu pergunto a ele, que coça o nariz com timidez.

"Enquanto você estava se trocando, logo depois do pedido." Ele está deixando alguns detalhes de fora aqui e faz muito bem, pois temos uma menor de idade nos assistindo. "Eu mandei uma mensagem dizendo que você disse 'sim'."

"Mas-"

"Eu já tinha conversado com ela sobre você... e nós." Admite, suas bochechas ganhando um tom claro de rosa.

Meu coração pulsa forte no peito. Ele não só queria me pedir pra ser sua namorada antes, como dividiu seu desejo com a mãe dele, uma das pessoas mais próximas e especiais pra ele. Me faz sentir tão importante, que dói. Não resisto e me inclino para lhe dar um selinho, ainda atenta ao fato de não estarmos sozinhos.

"Por que não me disse?" Indago num sussurro, meu rosto ainda muito próximo ao dele.

"Eu me distraí." Sua resposta me faz pensar nos nossos momentos de incessante grude desde a oficialização do nosso compromisso. Ele teve que viajar para Londres no final de semana, mas nem mesmo isso nos impediu de entrar em contato e assim que retornou, não saímos mais do quarto. Estamos sentados na minha cama nesse exato momento pra ser sincera.

"Vocês são tão lindos juntos que quase me faz acreditar em amor fora das páginas." Celeste suspira sonhadora e só assim retiro os olhos de cima do Harry.

"Ah, não se preocupe não isso, Cel. Você é bem jovem, ainda vai achar muitos garotos pra partir seu coração e para partir o coração deles também." Dou de ombros e ela acha graça. "Falando nisso, me conte tudo sobre os gatinhos aí. Você já...?" Faço um sinal de beijo com as mãos e Celeste esconde o rosto, embaraçada. Harry ri ao meu lado, também escondendo o rosto.

"Charlie... eu realmente não acredito que esse seja o melhor momento." Ela murmura com uma careta de desgosto.

"Tem razão." Me viro para o meu namorado. "Harry, vai assistir alguma coisa lá na sala."

"O que? Não! Eu também quero saber sobre os gatinhos." Ele protesta de cara fechada.

"Esse não é um assunto seu, meu bem."

"Por que não? Quem melhor pra dar conselhos amorosos do que um músico?"

"Um poeta." Rebato e ele se ofende.

"Você não disse isso." Cruza os braços.

"Bom-"

"Galera, não tem nenhum gatinho!" Celeste exclama do outro lado da tela, pressentindo que deveria acabar com nossa discussão boba o mais rápido possível. "Vocês não fazem ideia de quão puxado é o ensino aqui, acham mesmo que eu tenho tempo pra pensar em garotos?"

"Eu já estudei aí e ainda assim beijava na boca de vez em quando." Provoco, porque sei que ela está evitando o assunto. Em nossa última conversa, ela me deu a entender que tinha alguém na área e agora eu quero saber quem e se ele é ou não merecedor dela.

"Vamos mudar de assunto." Harry tira o notebook das minhas pernas e enquadra apenas a si mesmo na chamada de vídeo. "Então, Celeste, nós estávamos falando sobre o quanto você gosta da minha música antes de alguém nos interromper. Qual é a sua música favorita?"

"Não acredito que ficou com ciúmes da minha eu com 15 anos beijando meninos de aparelho, Harry." Julgo ao olhar para o perfil dele com indignação, porque não há outra razão pra ele estar fazendo isso agora.

"Voltando a Celeste, a aniversariante, e eu, seu artista favorito..." Ele ergue a mão na direção do meu rosto, pra bloquear minha interação com os dois.

"Espera... Eu nunca disse que você era meu artista favorito." Ela diz e eu caio na gargalhada, curtindo com a cara de poucos amigos do Harry.

"Poderia ter ido dormir sem ouvir essa." Grito em um divertimento exagerado e provocador, ganhando um olhar aborrecido do meu namorado.

"Não seja má, Charlie. Eu gosto de você, Harry, gosto mesmo." Celeste tenta amenizar suas palavras anteriores. "E eu diria que minha música favorita do seu álbum é Meet Me In The Hallway. Realmente tão melancólica e linda, me faz imergir em uma infinitude de sentimentos."

"Ouviu isso? Infinitude de sentimentos." Ele se gaba pra mim, fazendo um movimento convencido de sobrancelhas.

"Você pode não ser o meu favorito, mas definitivamente entra no top cinco." Minha amiga ressalta, dando ao homem ao meu lado material o suficiente para preencher seu ego.

"Top cinco." Ele repete ao se aproximar de mim e me roubar um beijo.

"Você pagou ela pra dizer isso?" Questiono para continuar a provocá-lo. Ele é talentoso demais para precisar tomar medidas como essa.

"Não, mas eu posso providenciar ingressos pro show." Oferece ao olhar pra ela e minha amiga se surpreende, abrindo um sorriso enorme.

"Sério? Okay, você é o meu favorito agora." Anuncia alegremente e eu reviro os olhos, mas na verdade estou muito feliz que eles estejam se dando bem. São duas pessoas muito importantes pra mim.

"Muito sério. Eles chegarão pra você em alguns dias." Harry garante, pegando o celular para mandar uma mensagem, provavelmente para sua equipe providenciar os ingressos como prometido.

"Meus ingressos não chegaram ainda." Eu reclamo, dessa vez realmente aborrecida, pois desde que ele comentou comigo que faria a abertura da Live On Tour aqui em San Francisco e que me queria nela, não recebi nada do show.

"Ousado da sua parte assumir que você precisaria de ingressos pra entrar. Seu lugar já está marcado."

Fico sem palavras e ele ri de mim, cutucando a minha costela pra me fazer pular na cama com o arrepio que isso causa.

"Posso ficar perto das celebridades?" Celeste pede e isso me assusta, já que ela sempre foi tão desconectada desse tipo de coisa.

"Desde quando você se importa com celebridades?" Pergunto sem entender de onde isso está vindo. Percebendo que foi pega, ela suspira e seu semblante muda. Me preocupo na hora. "Cel, o que aconteceu?" Deito a cabeça no ombro de Harry para melhor olhar pra ela e ele passa o braço pelo meu corpo para me acomodar contra si.

"Se lembra de quando te falei sobre a líder da minha turma?"

"Aquela vadiazinha está pegando no seu pé outra vez?" Antes mesmo que ela esclareça o assunto, sinto raiva pois sei exatamente o quão cruel adolescentes ricos podem ser quando querem.

"Querida, não acho que chamar uma garota de 15 anos de vadiazinha seja correto." Harry sussurra pra mim.

"Bom, ela está." Celeste confessa com desgosto, seus ombros caindo.

"Nesse caso..." Meu namorado refaz suas palavras anteriores e eu riria se não estivesse focada no problema da minha amiga.

Celeste passa a relatar os comportamentos problemáticos da líder de sua turma, uma garota que está implicando com ela por ser bolsista e 'não pertencer àquele lugar'. Minha amiga conta que a garota pega no pé dos outros bolsistas também, que gosta de espalhar rumores falsos e jogar indiretas maldosas para que todos ouçam.

"Talvez se eu pudesse voltar as aulas com uma história que todos achariam incrível, isso a faria pegar leve. Faria com que as pessoas realmente olhassem pra mim de outra forma." Explica, olhando pra baixo.

"E você acha que tirar uma foto com uma celebridade no show do Harry vai fazer essa escrotinha gostar de você?"

"Não me importo que ela não goste de mim, eu também não gosto dela. Só quero um pouco de paz." Bufa, passando os dedos pelas têmporas.

"Olha... eu não sei se alguma celebridade vai aparecer nos meus shows. Não posso te garantir isso, por mais que eu queira ajudar." Harry comenta calmamente e pela expressão em seu rosto, sei que está comovido pelo relato. Ele acaba de conhecê-la, mas não poderia deixar de se importar.

"Mesmo que a Beyonce fosse ao show, Celeste, pessoas ruins vão continuar sendo pessoas ruins. Uma foto não vai mudar isso. Na verdade, eu desconfio que isso só a faça te odiar mais." Dou minha opinião e meu namorado concorda comigo com uma leve acenar de cabeça. "Não vai ser assim que esse problema vai ser solucionado, eu te garanto. Infelizmente não vai."

"O que eu faço, então? Eu conversei com o reitor e ele me deu o maior sermão sobre a imaturidade da juventude e sobre como jovens serão jovens, doa a quem doer. E depois eu descobri que a família dela é uma das maiores doadoras de fundos da instituição. Ele nunca vai tomar uma providência sem que isso ameace o dinheiro que recebe. Ela nem presta atenção nas aulas e sempre tira nota boa."

"Deve estar comprando os professores, eu não me surpreenderia." Reflito em voz alta.

"Eu odeio ela." Celeste murmura sobre sua respiração e eu fico pensando nas coisas que ela não me conta, o quão mal pode estar sendo.

"Olha, querida, eu sei que essa ligação deveria ser apenas sobre o seu aniversário, mas eu quero que saiba que eu estou feliz que você tenha compartilhado isso comigo. Você não está sozinha, não importa o quão distante esteja geograficamente, sempre terá a mim."

Sinto dedos gentis acariciarem o meu braço e quando olho para o dono deles, há um sorriso encantador a minha espera, assim como um olhar brilhante direcionado ao meu.

"Me diga o nome da garota." Peço e o olhar desconfiado de Celeste me faz esclarecer adiante. "Isso não pode ficar assim."

"E o que você pensa que vai fazer, Charlotte? Olha, você já fez tanto, eu mal sei como agradecer-"

"Eu não quero que agradeça, quero que seja feliz. Me diga o nome da pirralha." Peço com mais autoridade na voz e no olhar, o que a intimida e a faz obedecer.

"Kimberleigh Ford."

"Me deixe adivinhar. Ela é branca." Harry brinca, achando graça do nome.

"Muito branca."

"É com y ou-" Eu questiono.

"Termina com leigh."

"Ugh, é muito pior do que eu imaginei." Franzo o nariz, enojada. "Tudo bem. Vou ver o que eu consigo fazer e te conto depois."

"Por favor, não faça loucuras. Essa bolsa é muito importante pra mim e eu não quero perdê-la por conta da Miss Anti-Simpatia."

"Eu nunca prejudicaria você, jamais. Pode ficar tranquila."

Nós conversamos por mais uma meia hora, até que o Harry anuncie que precisará se ausentar pra se preparar para ir trabalhar. Eles dois se despedem, trocam alguns elogios sobre como gostaram de se conhecer e Celeste declara que abençoa nossa união.

"Sabe, ela não parava de falar de você no passado e eu imagino que nunca mais irá parar." Minha amiga solta e meu queixo vai ao chão, Harry adorando ter ouvido a revelação.

"Oh, é mesmo?"

"Ela disse que você era como o Hugh Grant em Um lugar Chamado Notting Hill, um sonho de tirar o fôlego." Conta ao fazer sua melhor expressão encantada, batendo os cílios e unindo as mão ao lado do rosto.

"Celeste Maria Santiago, le diré a tu madre que eres chismosa." Ameaço com as pouquíssimas palavras em espanhol que consegui aprender com ela e sua família.

"Te tengo notícias: a mi madre le encantan los chimes." Ela rebate, ganhando a discussão que mal havia começado, e sorri ao me ver insatisfeita.

"O que está acontecendo aqui?" Um Harry muito confuso e curioso se intromete, olhado entre nós duas, esperando respostas.

"Nada." Nós duas respondemos ao mesmo tempo, não o convencendo, e eu lhe dou um beijo na bochecha, que também não o convence.

"Vai se arrumar, meu bem. Você vai se atrasar se ficar sentado aqui."

Ele se levanta com uma carranca no rosto e caminha até a porta, mas antes de sair do quarto, diz: "Hugh Grant, hum? Nunca vou te deixar esquecer essa."

Lhe mostro o dedo do meio e ele me solta um beijo no ar, finalmente se afastando.

Aproveitando que agora minha amiga e eu estamos sozinhas, me aproximo da tela para cochichar com ela.

"Seja honesta." Aponto com o dedão na direção em que Harry partiu e ela entende o que quero dizer, rindo como boba ao se aproximar da tela também.

"Tão bonito, tão hipnotizante. Aposto que ele é mais bem-apessoado ao vivo. E a voz- Céus!"

"Pode dizer gostoso, eu deixo."

"Charlotte! Eu nunca faria isso!" Se ofende, corando.

"Não seja boba. Daqui à alguns anos, aposto que será você se gabando da 'gostosisse' de alguém." Ela revira os olhos com o comentário, mas sorri mesmo assim.

"Fico tão contente que tenham se reencontrado e que o universo tenha disponibilizado a oportunidade de que fosse para ser. Vocês claramente se amam muito, é inspirador."

A menção de tais palavras me faz morder os lábios.

"Eu não sei se é amor ainda. Nós acabamos de oficializar o namoro e ele voltou à um mês. Não é muito cedo?"

"Minha doce Charlotte, não existe data para o amor. Apenas acontece e é diferente para cada pessoa. Não se deixe ludibriar por essas tolices que as pessoas contam sobre ser cedo demais. E vocês tem um histórico! Não há como ignorar isso."

"Você acha mesmo?" Indago encabulada, as palavras dela me fazendo pensar.

"Do fundo do meu coração." Cruza os dedos na minha frente, soando confiante.

Ouço Harry me chamando de algum lugar do apartamento e uso disso para encerrar a ligação. Me despeço de Celeste e ela agradece mais uma vez pelo gesto. Se fosse viável, eu mandaria o cupcake que compramos pra ela, mas como não é, me ergo da cama dando uma mordida no mesmo.

"Ei." Harry chama atrás de mim, já que eu estava indo até a cozinha, e eu me viro para encontrá-lo no meu closet. "Vou para o estúdio hoje. Adiei isso desde que voltei de Londres e é sua culpa, aliás."

"Minha culpa?!" Levo a mão ao peito, indignada.

"Enfim, quer ir comigo?" Ele ignora completamente o meu protesto, me fazendo um convite que eu confesso não ter esperado.

"Mas você não está indo trabalhar? Quer dizer, vai estar ocupado, certo?"

"Sim, mas nada me impede de te ter lá comigo enquanto eu trabalho. Além do mais, não estaremos sozinhos, então... eu poderia te... apresentar a todo mundo." Harry diz isso um tanto nervoso e eu derreto pela fofura em sua intenção.

"Quer me apresentar para a sua equipe?" Repito, maravilhada por baixo do sussurro.

"Claro. Você é a minha namorada agora e não precisamos nos esconder." Se aproxima de mim e segura os meus ombros afetuosamente. "A menos que não queira-"

"Eu quero!" O corto no meio da sentença, antes que pense bobagem. "Quero ser apresentada."

Harry sorri largamente e deposita um beijo na minha testa, feliz que eu esteja tão interessada nisso quanto ele. Quando me fita novamente e eu me sinto sem chão, fica mais fácil de levar as palavras da Celeste em consideração.

Me pergunto se, caso eu realmente descubra que o ame, ele vai sentir o mesmo ou se isso é apenas uma paixão de verão, com muito tesão e carência acumulados.

"Então, vai se trocar. Não quero me atrasar." Harry beija os meus lábios rapidamente e segura o meu rosto. "Obrigado por entrar nessa comigo." Ao ver o cupcake na minha mão, ele o pega e lhe dá uma enorme mordida, deixando apenas migalhas pra trás. "Obrigado por isso também." Agradece de boca cheia e se afasta para ir ao banheiro.

"Me deve mais seis desses!" Exclamo para que ele me ouça, mas a verdade é que não ligo para o bolinho e sim, em que roupa irei usar para ser introduzida como a namorada do Harry Styles.

• • •

Confiro minha aparência pela décima vez no espelho do quebra-sol do carro, insegura sobre minha escolha de maquiagem. Busquei por inspiração no Pinterest e me apeteci muito pela estética da namorada do rockstar, portanto investi numa versão mais leve e sem esforço da mesma e esfumei lápis de olho preto nas pálpebras até formar um gatinho despojado. Espero que não tenha sido demais.

"Você está linda, meu amor." O elogio vem como um abraço acolhedor para os meus nervos e eu olho para Harry, que está atrás do volante, com um sorriso tímido. Mesmo usando óculos escuros, sei que seus olhos estão sorrindo como seus lábios. "Não se preocupe com isso."

"Estou tentando." Suspiro, voltando o quebra-sol a posição de descanso e me encostando no assento.

Harry estica a mão que estava sobre o câmbio do carro e a leva até a minha coxa desnuda. Estou usando uma saia preta e uma camiseta vintage recortada nas laterais, um look que eu espero que me deixe descolada o bastante. Honestamente, estou tão desesperada que coloquei meus coturnos.

"Se estivéssemos indo a um show, tenho certeza que o artista principal te chamaria para os bastidores." Diz e eu tenho de rir de sua tentativa de me fazer sentir melhor. "E eu odiaria isso, claro. Teria que brigar com ele."

"E se fosse o seu show?"

"Então eu estaria duplamente agradecido por você ser a minha garota e de mais ninguém." Ele pega a minha mão e deposita um beijo na mesma.

"O que significa que você me chamaria para os bastidores."

"Oh, sim. Com certeza. Nada melhor do que o sexo pós-show em cima da penteadeira cheia de produtos que não me pertencem, caindo no chão, fazendo a maior bagunça." Ele abre seu melhor sorriso safado e eu aperto sua bochecha, mordendo meu lábio ao imaginar nós dois fazendo algo assim.

"É melhor parar com isso ou vai me fazer pensar que já fez isso antes com outras pessoas." Cruzo meus braços ao olhar para a rua agitada diante de nós.

"Eu nunca fiz isso antes, acredite. É por isso que quero fazer com você." Confessa e aperta minha coxa suavemente como reafirmação.

O encaro e um suspiro me escapa ao me deparar com a beleza extasiante de seu perfil, a mandíbula máscula e definida, a leve curva da ponte do nariz, o sol vindo através da janela delineando cada traço. Meu namorado.

Me inclino sobre o console do carro e beijo Harry no pescoço. Ele ri com o arrepio, mas não me afasta, pelo contrário, leva sua mão livre até a minha cabeça, me mantendo perto.

"Baby, eu tô dirigindo." Murmura roucamente, descendo sua mão para apoiá-la na curva da minha bunda.

"Desculpa." Digo, mas demora mais alguns beijos para que eu finalmente distancie minha boca de seu pescoço.

Algumas ruas depois e então um sinal vermelho. Harry aproveita isso pra me puxar para um beijo e eu agradeço aos vidros escuros do carro, pois ser pega com ele num momento íntimo poderia estragar o clima.

Uma buzina atrás de nós e só então percebemos o sinal verde.

"Pare de me distrair, Charlotte." Reclama falsamente, colocando o carro pra rodar outra vez.

"Pare de ser tão gostoso o tempo todo e eu paro de ser uma distração."

"Bem, querida, isso vai ser impossível." Brinca ao fingir lástima. No fundo, sei que há verdade em suas palavras. Ele sabe o quão bonito é.

"Coisas assim vão continuar acontecendo, então." Dou de ombros e ele com certeza me dá um olhar estreito através dos óculos escuros.

Quando enfim chegamos ao estúdio, meu nervosismo retorna. Aproveito o cavalheirismo de Harry em querer abrir a porta do carro pra mim e confiro minha aparência outra vez enquanto ele dá a volta no veículo. Tudo está no lugar, meu cabelo e minha maquiagem, só me resta mesmo respirar fundo e não deixar o impulso da autossabotagem me dominar.

"Você vai gostar deles." Harry diz ao me conduzir pela calçada, sua mão nas minhas costas.

"Estou mais preocupada se eles vão gostar de mim." Confesso e ele me olha com estranheza.

"Por que eles não gostariam? Você é incrível, Char." Ele me puxa para mais perto de seu corpo e me beija na cabeça.

O estúdio é maior do que aparenta ser pelo lado de fora. Há várias salas e o espaço se estende na vertical, sendo assim tivemos que andar pelo corredor até chegar ao espaço alugado pela equipe de Harry. O espaço não está tão cheio como eu imaginei e as poucas pessoas que se encontram nas outras salas estão ocupadas demais para darem atenção em quem vem e vai. Não esperei que isso fosse acontecer também dentro da sala de nosso destino, mas a verdade é que a equipe de Harry mal deu atenção a nós quando entramos, pois havia uma conversa de trabalho rolando ao mesmo tempo. Imediatamente eu me senti menos nervosa. Acharia que nos encarariam e que eu seria julgada, já que estou ao lado do artista da vez, mas as pessoas nessa sala estão mais interessadas em produzir música do que tecer comentários maldosos.

"Depois da ponte, a gente podia criar uma segunda camada com a voz dele." Um homem barbudo e de cabelo comprido e bem escuro sugere.

"Eu tava pensando nisso ontem, ia comentar com você." Um outro de cabeça raspada concorda com o barbudo. Ambos estão sentados próximo a uma mesa de som, enquanto as outras três pessoas na sala conversam sentadas num sofá perto da entrada.

"Vai dar mais intensidade, não é?"

"Totalmente."

Olho ao redor e percebo que eles devem passar bastante tempo aqui, já que há sacolas de entrega de comida, garrafas e latinhas de bebida pelos cantos, assim como instrumentos colocados de qualquer jeito em outros cantos. Há um espaço de gravação no fundo da sala, com um microfone e fones de ouvido pendurados no pedestal, apenas esperando para serem usados. Me pergunto se vou ver Harry gravando algo hoje. Dou uma olhada e reconheço um dos rostos que está sentado no sofá.

"Mitch." Aceno pra ele, sorrindo aliviada por conhecer mais alguém além de Harry aqui.

"Oi, Charlie. Que surpresa." Ele se ergue do sofá para me cumprimentar com um abraço rápido. Seu cabelo comprido está preso num coque baixo hoje e ele usa uma camiseta de banda sobre seus jeans.

Harry e ele se abraçam também com alguns tapinhas nas costas e logo que se desvencilha do amigo, meu namorado devolve a mão na minha cintura.

"Oh, ele chegou." O homem de cabelo raspado nota a nossa presença também. "E trouxe mais uma cabeça. Ótimo, porque precisamos de ideias."

"Teremos um feat e eu não fui avisado?" O barbudo pergunto ao apontar pra mim. Por conta disso, agora todos os olhares se voltam para mim.

"Me colocar num feat com o Harry certamente seria o gatilho para destruir a carreira dele, mas, claro, vamos tentar." Eu faço a piada sem nem pensar muito a respeito e, para a minha surpresa, todos riem.

"Pessoal, essa é a Charlotte, a minha namorada." Harry apresenta sem hesitar, o termo namorada saindo da boca dele com uma naturalidade descomunal que me faz ter um frio na barriga. "Charlotte, esses são os responsáveis por haver qualquer trabalho pronto."

"Ele não mentiu." Um rapaz de cabelo descolorido comenta a minha direita.

"Não exagera." Harry repreende em brincadeira e volta as apresentações. "Esse é o Jeffrey, meu produtor." Aponta para o barbudo. "Esse é o Tom, meu outro produtor." Aponta para o de cabelo raspado. "O Mitch você já conhece. Esse é o Elijah e por fim o Rob, nosso garoto de recados."

"Vai se ferrar, Harry." O tal Rob xinga, mas eu percebo logo que isso não passa de uma grade piada interna entre eles.

"Oi." Aceno para todos, sorrindo e olhando no rosto de cada um. "Espero não estar atrapalhando vocês."

"Na verdade estamos bem contentes de finalmente conhecer o motivo pelos atrasos e desculpas esfarrapadas dele quando se distrai com as coisas." O loiro, Elijah, é quem diz.

"É, o garoto estava suspirando demais. Só podia ser por amor." Jeffrey brinca e eu coro com a menção da palavra amor sendo atirada na minha cara pela segunda vez no dia.

"Vocês deveriam me fazer parecer legal." Harry balança a cabeça com reprovação, mas seus colegas não ligam a mínima para isso.

"Peço desculpas se causei problemas." Eu digo, sem saber o que mais falar no momento.

"Ah, eu não usaria a palavra problema." Jeffrey discorda.

"Tá mais pra inspiração." Mitch ressalta por fim e quando eu olho para Harry, ele dá uma tossida falsa no punho e desvia o olhar.

"Vamos trabalhar, okay?" Meu namorado agita, mudando o assunto, e os meninos aos poucos retomam a seus postos, alguns com equipamentos e outros com instrumentos.

Com o espaço vago no sofá, eu me acomodo nele. Mitch logo vem se sentar ao meu lado e silenciosamente me deixa saber que eu não estou sozinha, com seu olhar de bondade e sorriso doce. Fico feliz que Harry tenha amigos tão legais assim.

"Posso perguntar no que vocês estão trabalhando?" Indago baixinho a Mitch, já que está rolando uma discussão sobre notas e melodia logo adiante.

"Harry teve umas ideias de canções novas." Ele conta sem tirar os olhos de sua guitarra branca.

"Estão pensando em adicioná-las no setlist da turnê?"

"Não. É para o novo álbum."

Isso me causa um certo choque e eu deixo transparecer no meu rosto, mas ele não está realamente vendo.

"Mas... já? A turnê desse álbum nem começou."

"Pode soar como loucura, mas boas ideias nunca devem ser reprimidas. E nós só temos duas músicas até agora. E nem sempre todas as canções compostas acabam entrando no álbum finalizado, então... É tudo bem experimental."

"Uau." Faço apenas, ainda intrigada.

Ergo o olhar para Harry e o vejo sentado numa poltrona ao lado de uma larga tela de computador, onde Jeffrey está mexendo em algum programa de edição muito complicado para a minha cabecinha leiga. Suas pernas estão cruzadas e ele masca um chiclete, seus óculos escuros sobre sua cabeça. Ao notar que está sendo observado, ele olha pra mim e me oferece apenas com gestos um chiclete. Eu o aceito e ele procura em seu bolso para me dar, o atirando no ar até pousar na minha mão. É morango, claro, e eu sorrio ao sentir o gosto que me lembra ele.

"...então eu estava pensando, já que você quer uma vibe mais praiana, em deixar as batidas o mais suaves possíveis e misturar essas partes..." A voz de seu produtor é apenas um ruído pra mim e em certos momentos, percebo que também é pra ele, já que me encara como se eu fosse mais interessante. Talvez eu realmente não devesse ter vindo, ele está mesmo distraído.

"Eu pensei em colocar as back vocals num coro, repetindo a última linha do refrão." Tom sugere e Harry se reclina na poltrona displicentemente, absorvendo a ideia devagar, suas mandíbulas maltratando a goma de mascar sem descanso.

"Tipo... depois do solo do Mitch, elas entrariam e então ficaria: 'Like it's the only thing I'll ever do, the only thing I'll ever do...'. Desse jeito?" Harry cantarola roucamente, só para ver se compreendeu a ideia e os garotos acenam.

"Poderia ser ao mesmo tempo, também." Mitch comenta. "Ou a gente dá um espaço pro solo e as vozes vem depois com a guitarra."

"Sim, eu gostei." Harry pontua. "Deixar um espaço pro solo e depois as vozes."

"Ótimo. Estamos indo pra algum lugar." Tom comemora, se esticando para apertar o ombro de Harry.

Ao meu lado, Mitch começa a dedilhar uma melodia que eu nunca ouvi na guitarra, suave e transcendental. Talvez seja parte do tal solo de que eles estão falando. Começo a me sentir especial de estar no meio da produção de uma canção que ninguém ouviu ainda e vai ficando ainda mais fácil me sentir relaxada.

Depois de alguns minutos apenas os observando e trocando conversa fora com Mitch, noto que há um caderno de capa preta e branca ao lado da mesa de som, com o nome do Harry escrito de caneta azul em traços bem grossos. Fico curiosa instantaneamente, minhas mãos coçando pra pegar o objeto e folheá-lo. Parece ser um caderno de composições ou pelo menos é como minha mente está criando a história para me fazer devanear.

Me levanto do sofá e caminho até o caderno. Os meninos estão focados no computador agora, mas eu chamo Harry para pedir consentimento antes de colocar minhas garras no objeto.

"É seu? Posso olhar?"

"Pode..." Ele me responde sem muita atenção e logo volta a discussão com Jeffrey e Tom. Eu me dou por satisfeita com isso mesmo assim.

Estava certa, é mesmo um caderno de composições e, puxa vida, como meu namorado pode ser desorganizado. Há frases soltas e rabiscos aleatórios em cantos dobrados de algumas páginas, versos riscados e maldiçoados por serem ruins em outras, mas canções sólidas na maior parte. Me deparo com várias que conheço, como: Two Ghosts e Woman, assim como muitas outras que nunca ouvi.

O nome de uma desconhecida realmente me chama atenção. Se chama Complicated Freak e conforme vou lendo as estrofes, só confirma minha suposição dessa se tratar de uma música sexy e triste. Há apenas o ano em que foi escrita pra identificar e eu passo a sentir uma pontada de ciúmes ao perceber que foi composta ano passado. Pra quem quer que tenha sido, ela teve sorte, pois só pelos versos a música parece ser boa.

Folheio mais um pouco e outros títulos vão me convidando a ler os versos. Então eu vejo o meu nome rabiscado num canto e também o meu apelido dado por ele e, ainda mais, um coração com C + H escrito dentro - vários corações, na verdade. Pela aparência da tinta da caneta que foi usada, isso já foi feito a um tempo.

"Eu me perco na minha própria cabeça as vezes." Levo um susto ao ouvir a voz do meu namorado bem atrás de mim. Me viro e ele está mais próximo do que imaginei, olhando para a mesma coisa que eu estava antes de ser interrompida. Ele tem uma expressão não muito satisfeita no rosto, sua nuca sendo coçada em nervosismo. "Você não deveria estar vendo essas coisas."

"Eu te pedi." Sussurro um tanto culpada.

"Eu sei e tá tudo bem. Estou falando disso." Aponta diretamente para os corações com nossas iniciais, embaraçado. "Eu deveria ter proibido algumas páginas."

"Algumas páginas? Tem mais?" Começo a procurar por mais do meu nome, mas ele pega o caderno da minha mão e me cutuca na costela, logo me beliscando na bochecha.

"Não me provoca, Charlotte."

"Qual é o problema, Styles? Com medo que eu te dê o fora depois de ter descoberto seus hobbies de garotinho do colegial? Estou bem honrada, na verdade. Quer dizer, eu já sabia que você era meu fã, isso não é novidade." Olho para as minhas unhas com arrogância fingida e ele ameaça me atacar com cócegas outra vez.

"Graças a Deus você não achou as músicas." Ele murmura pra si mesmo ao colocar o caderno de volta onde estava, mas eu acabo ouvindo e minha curiosidade triplica.

"Além das que eu já conheço? Como assim? Você tem que me mostrar agora mesmo." Me empolgo, para sua infelicidade, o colocando numa saia mais justa do que a que estou usando.

"Eu disse música? Que loucura, eu quis dizer... outra coisa." Tenta disfarçar, mas é em vão.

"Qual é, meu bem? Não vai mesmo me deixar ver?" Chego perto dele para dizer, não querendo que mais ninguém participe da nossa conversa. "Não seria a minha primeira vez me deparando com uma canção sobre mim." Mexo no cabelo, convencida, e ele ri.

"Tenho medo que seu ego exploda se eu te der mais motivos pra se gabar." Provoca, seu olhar travesso perpassando meu rosto como um todo em nosso flerte. "Além do mais... você não reagiu exatamente muito bem dá primeira vez." Ressalta um tanto mais sério.

"Eu sei." Suspiro ao me lembrar de tudo que senti quando percebi que algumas canções em seu álbum, agora sendo ouvido por milhares de pessoas, falavam sobre mim, sobre nós dois. Nós brigamos por isso e não foi bonito.

"Eu só estava brincando com você, tá bom? Entendo completamente se não quiser me mostrar, eu também pensaria duas vezes se alguém tivesse reagido como eu reagi com você." Esclareço após refletir sobre o assunto. "Posso ver que suas composições são mais do que só música pra você." Pontuo e Harry passa os polegares na capa do caderno de forma afetuosa sem nem ao menos se dar conta, o segurando nas mãos. "O mínimo que eu posso fazer é respeitar isso."

Harry olha para a capa do caderno e se perde em seus pensamentos. Deslizo a mão em suas costas e ele olha pra mim outra vez, abrindo um pequeno sorriso ao ver o meu próprio. Por um segundo, me esqueço onde estamos e lhe dou um selinho. É cômico quando ambos nos viramos pra conferir se fomos pegos, mas por sorte todos os rapazes estão focados no trabalho, ainda assim, noto um sorrisinho em Mitch conforme toca sua guitarra - que eu digo a mim mesma que não é por nós, só para não ter que pensar nisso.

"Volte ao trabalho. Não vou mais atrapalhar." Me afasto de Harry rapidamente e me sento na poltrona onde ele estava anteriormente, caso contrário eu só o atrasaria além.

Pego meu celular na minha pequena bolsa tira colo e abro o primeiro aplicativo de rede social que vejo, me forçando a focar em outra coisa. Não posso ficar flertando com o cantor do grupo só porque namoro com ele, agora não é o momento.

De repente, o caderno de capa preta e branca é colocado na frente do meu celular e quando eu ergo o olhar, vejo o dono do mesmo me incentivando com um gesto de cabeça a pegá-lo.

"O que está fazendo?"

"Dando a minha musa uma chance de se sentir ainda mais adorada." Sua voz carrega certeza, fazendo meu coração acelerar. Eu hesito, não tendo esperado por isso, o fazendo insistir com outro gesto para que eu pegue o caderno. "Eu confio em você. Vamos lá."

Finalmente pego o objeto oferecido, mas meus olhos estão vidrados no homem a minha frente.

"Marquei as suas com orelinhas." Informa por fim, logo voltando para se juntar a Mitch e Elijah em outro canto da sala, já engajando em outro assunto.

Gostaria de dizer que tive a decência de ao menos questionar essa decisão, mas a verdade é que eu nunca folheei um caderno com tanta rapidez como fiz com esse.

Como dito, algumas páginas estão mesmo marcadas e, bom, eu estava imaginando umas duas ou três, mas me deparei com ao menos dez marcações. A maior parte não tem nome e algumas nem sei se podem se chamar de música, pois estão curtas e aparentam ter sido interrompidas, por desistência ou por falta de ideias. Algumas apenas parecem um desabafo, ainda sim escritas de forma melódica.

Ele expressa o que já me disse com outras palavras antes e dói ler tudo outra vez, mas também me faz sorrir, porque os pontos baixos também fazem parte da nossa história. Alguns versos, no entanto, eu nunca ouvi saindo de seus lábios, mas já senti com seus olhares e toques, o que me faz suspirar.

Imagine meu choque ao descobrir que Complicated Freak é, na realidade, sobre mim e não sobre outra mulher que ele tenha se relacionado. Meus instantes de ciúmes irracional não valeram de nada. Fico pra lá de intrigada, no entanto, pois os versos da canção dão a entender que a pessoa referida está namorando outro alguém e levando em consideração ter sido composta ano passado, não faz sentido pra mim, afinal eu estava solteira nessa mesma época.

Isso acaba se repetindo com outra canção, chamada Baby Honey, onde Harry também cita a pessoa referida como agora comprometida com outro homem. E não qualquer homem, mas um com dinheiro.

"Posso conversar com você..." Apenas percebo que disse isso em voz alta depois que vejo todos na sala olhando pra mim com um ponto de interrogação enorme sobre a cabeça. "...por um segundo." Termino a frase de uma forma ou de outra e limpo a garganta, envergonhada.

Causar uma boa impressão nos amigos do meu namorado? Não. Agir como louca? Sim!

Harry olha para os dois lados e aponta para o próprio peito em modo de pergunta. Confirmo com um aceno e ele mostra a direção da porta. Me levanto e deixo a sala com agilidade, mas consigo ouvi-lo pedindo licença aos colegas antes de me seguir.

Não estava nos meus planos deixar o prédio e ir parar na calçada, mas meus pés me levaram ao único lugar onde eu finalmente consegui respirar com mais tranquilidade.

"O que houve? Você está bem?" Ele indaga preocupado ao me segurar suavemente pelos braços, analisando meu rosto em busca de algum sinal de problema.

"Por que escreveu algumas das músicas como se eu estivesse com alguém?"

Ele se mostra confuso, então eu leio alguns dos versos.

"'I know he's got the money / Baby Honey, does he make your night?'" Passo as páginas. "'She got wrapped up in somebody else'."

Antes que eu pudesse continuar a buscar por mais coisas, Harry grunhe e leva as mãos aos olhos, coçando-os.

"Ugh, Eloise..."

Lhe bato com o caderno no braço ao ser chamada pelo meu nome do meio.

"Não é nada tão importante, okay?" Esclarece, temendo levar outra cadernada. "Eu só..." Dá de ombros, enfiando as mãos nos bolsos traseiros da calça preta. "Acho que era mais fácil assumir que você já tinha alguém e então... lidar com isso."

"Mais fácil pra que?"

"Pra parar de pensar." As palavras saem um tanto secas, seus olhos no chão, mas quando volta a me encarar, sua expressão suaviza. "Em você."

Trago o caderno para o peito ao fitá-lo, sem saber como responder a isso. É reconfortante e estranho ao mesmo tempo pensar que ambos estávamos tentando deixar de lado as mesmas memórias, imaginando que o outro já tinha tido êxito.

"E funcionou? Você superou?"

Ele sorri de canto e dá de ombros, se aproxima e puxa devagar o caderno das minhas mãos.

"Acho que nunca saberemos." O trocadilho com o refrão de Baby Honey me faz sorrir.

Um gritinho agudo faz ambas as nossas cabeças virarem na direção do ruído. Há um trio de garotas adolescentes, de no máximo dezoito anos, paradas em choque na calçada do outro lado da rua. No meio delas, a loira de cabelo curto aponta para nós com um sorriso enorme e desacreditado.

"É ele! É ele mesmo!" Ela exclama, sua cara começando a ficar vermelha.

"Ai meu Deus, é o-" A garota ao lado dela tenta falar, começando a se dar conta agora.

"Sim, é ele mesmo." A loira volta a exclamar.

"Vamos." A menina do outro lado puxa as duas. Como não há carros passando na rua, elas atravessam correndo sem hesitar nessa direção.

Tudo acontece muito rápido. Antes mesmo delas chegarem, Harry já tinha colocado um sorriso amistoso no rosto, assim como o óculos de sol na frente dos olhos. As três o abraçam em meio a choramingos de meu Deus, não posso acreditar e sou a sua maior fã. Muito educado, o ídolo delas não nega as fotos que elas pedem - em grupo e individual -, muito menos os autógrafos em capinhas de celular, blocos de nota e até mesmo na blusa da loira, essa que não consegue tirar os olhos da boca dele.

Vou ficando cada vez mais incomodada ao passar dos segundos que vejo um novo toque sem necessidade aqui e um flerte descarado ali, mas não faço nada além de fingir pertencer a paisagem.

Imaginei estar me saindo bem em ser discreta, mas a mais baixa do trio, com cabelo tingido de azul e piercing no septo, me nota e o olhar que eu ganho é analítico e cheio de desdém.

"Você conhece ela?" A ousada pergunta diretamente para Harry, interrompendo a conversa que ele estava tendo com sua amiga loira.

Harry olha pra mim e rapidamente desvia o rosto, mas eu pude ver o nervosismo em seu semblante. Essa situação é nova pra ele também e aposto que não sabe exatamente o que fazer. Nós discutimos esse assunto antes, sobre me deixar o mais resguardada da mídia possível para o meu próprio bem, mas agora que fomos pegos juntos - mesmo que não tenha sido fazendo nada -, sua resposta poderá decidir o rumo dessa privacidade. Ou falta dela.

"Nós trabalhamos juntos." Sou eu quem acaba respondendo primeiro, num impulso, pegando as garotas e o meu namorado de surpresa. "Sou a assistente, olá." Cumprimento com um sorriso forçado, ignorando a testa franzida de Harry e o que ele deve estar pensando disso. A mentira já saiu, agora não dá pra voltar atrás.

"Não parece uma assistente." A garota rebate, cética, me olhando dos pés a cabeça e me julgando.

"Quem liga, Toph? Olha o Harry Styles bem aqui!" Sua outra amiga desconsidera suas suspeitas e só então ela retira os olhos de mim e volta a atenção para seu ídolo.

Tenho que me segurar pra não dar uma boa resposta malcriada. Tenho que me segurar pra não ir até lá e beijar a boca de Harry bem na frente delas. Um beijo de língua, minha mão no bolso traseiro da calça dele. Não posso fazer nada disso, porque o prejudicaria, além de não apagar as chances delas de me desrespeitarem ainda mais depois. Tenho que manter a calma e esperar Harry cuidar disso.

Elas demoram mais do que o necessário para se despedir e vão embora ruidosamente, matracando alto pela rua sobre o quão incrível foi ter conhecido o cantor mais gato do mundo, diretamente para suas câmeras do celular. Uma delas jurando que Harry estava checando o corpo dela, a outra dizendo que é mentira, porque ele gostou foi dela.

"Vacas." Praguejo pra mim mesma, mordendo o interior da bochecha pra tentar não gritar isso pra elas.

"Me desculpa por isso. Eu fiquei sem reação, não imaginei que fossem dizer aquilo." Harry vem até mim, retirando os óculos do rosto. "Fiquei com medo de piorar a situação. Nunca passei por isso acompanhado."

Pensar nas desaforadas ainda me dá certa raiva, mas me esforço para superar, afinal foi algo rápido e passageiro. Já estamos sozinhos outra vez, não há mais com o que se preocupar.

"Tudo bem. São adolescentes, é isso que fazem." Dou de ombros.

Sinto os dedos dele erguendo meu rosto e nossos olhares se encontram, os dedos por fim passeando até a minha nuca.

"Por que mentiu dizendo que era minha assistente?" Sussurra em dúvida.

"Queria que eu dissesse a verdade?"

Ele suspira e enlaça ambos os braços ao meu redor, colando nossos corpos. Posso sentir que quer dizer algo, mas não sabe o que ou como. Acredito que isso seja mais complicado na prática do que ele imaginou que seria.

"Tá tudo bem e sabe porquê? Essas garotas podem sonhar com você, tirar fotos, até mesmo conseguir um abraço, mas sou eu quem pode fazer isso." Cubro os lábios dele com os meus e puxo seu inferior com os dentes, a medida que apalpo sua bunda com as duas mãos.

Por ainda estarmos do lado de fora do estúdio, Harry vacila com o meu toque e pula com o pequeno susto que leva. Eu acho graça e ele segura meus pulsos para que eu não me arrisque a tocá-lo em nenhum outro lugar.

"E se aquelas meninas voltassem?" Ele se esforça para colocar uma expressão séria e insatisfeita no rosto, mas o ar de riso nos lábios não me engana.

"Que vissem. Que tirassem mil fotos. Não vão deixar de adorar você por conta disso."

"Mas vão falar sobre você. Coisas ruins, Charlotte. Eu já vi acontecendo com outras pessoas, não quero que aconteça com você também."

"Por que não?" Eu sei o motivo, mas quero que ele fale. Quero ouvir saindo de sua boca. Preciso disso depois do aborrecimento.

Seus lábios se abrem, mas ele desiste. Confere os arredores e então agarra meu pescoço, roubando um beijo molhado e quente na minha boca.

"Claro o suficiente?" Questiona ainda colado nos meus lábios. Como se meus joelhos quase dobrados não fossem resposta.

"Como água. Quer dizer, não. Não está. Preciso de mais um desses."

Ele sorri convencido, aquele sorriso que faz meu estômago borbulhar de desejo. Faz menção em me beijar outra vez, causando a abertura dos meus lábios, mas era só provocação. Ele se afasta sem repetir o ato.

Decidindo que o tempo perdido aqui fora já foi o suficiente, Harry me conduz de volta ao interior do estúdio. As fãs, a chateação, tudo ficou pra trás, mas a razão que nos trouxe ali fora não e por um bom motivo.

"Canta uma dessas músicas pra mim um dia desses?" Eu peço de repente, olhando para o caderno de composições nas mãos do meu namorado. Percebo que ele se surpreende em partes, mas não emite nenhuma resposta ainda. "Eu li os versos e gostei. Gostei muito. Gosto de me ver pelos seus olhos, você sabe fazer uma pessoa parecer importante."

"Isso é porque você é importante, minha Char. Importante pra caralho, nunca se esqueça."

Harry captura o meu sorriso com um último beijo antes de pegar na maçaneta da porta que nos separa de seus colegas, me lançando uma piscadela para colocar um belo ponto final em sua declaração.

"E sobre cantar as músicas: vou pensar no seu pedido." Anuncia e antes que eu possa protestar, abre a porta e entra na sala.

Não vou me preocupar com sua provocação. Nós dois sabemos que, no final, ele vai cantar.

N/A: Rip músicas não lançadas do HS1

Espero que tenham gostado do capítulo
xx

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