O fumo daquele cigarro entrava na sua garganta queimando tudo à passagem, conseguia sentir a dificuldade imensa em respirar pelo aperto no peito que teimava em não desaparecer. Das poucas vezes que se tinha sentido assim foi durante os piores momentos da sua vida. A esmeralda amaldiçoada que deu a Grace e que resultou na sua morte e o rapto de Charlie. Thomas era um homem controlador, tinha de o ser na posição onde estava, mas ao longo do tempo aprendeu da maneira mais cruel que por mais poderoso que seja, vão sempre existir coisas que lhe escapam por entre os dedos, por muito que lute contra isso. E mais uma vez via-se nessa posição, onde nada dependia de si mas de Helena, a mulher que amava loucamente. Vendo-a preparar-se à sua frente não podia deixar de pensar se aquilo seria um deja-vu, se estaria mesmo destinado a destruir todas as pessoas em que toca, todas as pessoas que na sua forma distorcida ama. Apagou o cigarro e levantou-se da cadeira observando a figura angelical que se encontrava em frente ao espelho a dar os últimos retoques na sua maquilhagem.
-"Por favor não."- disse Helena virando-se para encarar Thomas.
-"Não?"
-"Eu sei o que vais dizer, não o digas."- Helena pediu-lhe no tom mais suave possível.
-"Estás a ler-me os pensamentos, love?"- Thomas aproximou-se finalmente de Helena e envolveu a sua cintura delicada com as mãos. -"Fodasse, como é possível a tua beleza não parar de me surpreender?"- Os seus cachos perfeitamente ondulados caiam até à cintura, com uma mão Thomas puxou o seu cabelo para trás e admirou o vestido que Helena tinha escolhido. -"Vais ser a noiva mais linda que este mundo e o próximo já viram."
Helena parou repentinamente no olhar de Thomas com o reparo que este fez, sentiu o seu coração acelerar descontroladamente e não pode deixar de sorrir.
-"O que estás a dizer?"
-"Estou a dizer que me vais fazer o homem mais feliz do mundo quando te vir caminhar na minha direcção enquanto espero por ti no altar."- Thomas sorriu levemente com a imagem. -"Tu e eu, para toda a eternidade, love."
-"Estás a pedir-me em casamento?"- Helena levou a sua mão ao peito, não podia deixar de ficar radiante com a iniciativa de Thomas.
-"Ainda não, irei fazê-lo da forma que tu mereces e com tudo a que tens direito. Mas espero que tenhas noção que é o meu maior desejo."- Thomas beijou-a levemente tentando não se deixar embriagar pelo seu cheiro doce e lábios viciantes.- "Vamos acabar com isto de uma vez por todas primeiro, sim?"
-"Tenho de ir."- O sorriso que Helena tinha à momentos desvaneceu.
-"Pediste-me para não te dizer nada certo?"- Thomas pegou na cara de Helena delicadamente.-"Isso não está na minha natureza amor, não quando toca a ti. Eu perco o meu rumo e isso pode ser o fim na vida que levamos. Não te deixes manipular, eu, o teu pai e Alfie somos maus mas aquele homem é o Diabo. Nunca lidaste nem voltarás a lidar com alguém como ele."
-"Confias em mim?"
-"Cegamente."
-"Então confia, pelos dois. Porque vou precisar dessa força."- Helena beijou Thomas novamente antes de se encaminhar para a porta do quarto sem olhar para trás, Thomas seguiu-a e entendeu que ela precisava daquele momento em silêncio para encarar o que estava para vir. Os saltos no chão de madeira denunciaram a sua presença quando começou a descer as escadas, encarando de seguida os olhares familiares para si. Ficou ligeiramente surpresa quando viu Alfie no salão.
-"Estão todos loucos da cabeça ahm? E tu love? Perdeste a merda do juízo de vez e não avisaste ninguém?" - Alfie dirigiu-se a Helena aproveitando para a olhar deliciosamente naquele vestido.-"Não me interpretes mal sweetheart, é uma alegria para os meus olhos ver-te assim mas quem achou que seria a porra de uma ideia brilhante meter-te a jantar com aquele gajo?"- Alfie abriu os braços e encarou todos no salão um por um.
-"Eu achei, Alfie. É uma oportunidade que não pode ser perdida."- Helena encarou novamente o judeu que parou por momentos chocado com a sua afirmação, mordendo o lábio.
-"Merda Helena, porque te vais meter na boca do lobo?"- Alfie coçou a cabeça e olhou depois para Thomas.- "E tu mate, não tens nada a dizer sobre isto?"
-"Acredita que tentei mas ela tem uma vontade própria que é impossível de controlar, Alfie."- Thomas encontrava-se directamente atrás de Helena.
-"Não sei se és a mulher mais corajosa que já conheci ou se tens apenas tendências suicidas querida. Essa tua garra pode levar-te longe ou ser a tua desgraça." - Alfie encarou novamente Helena que bebia de uma só vez o copo cheio de whisky que o seu tio lhe tinha servido para ganhar coragem.
-"Tenho homens no hotel em quem confio a minha vida, não vais estar sozinha filha."- Disse Joaquim libertando o fumo que prendia até ao momento.
-"Nunca vai ser suficiente, Joaquim."- Disse Thomas por entre os dentes. -"É um risco demasiado grande."
-"Eu pedi-te por favor, Tommy."- Helena disse encarando Thomas que a olhou por breves segundos antes de se sentir derrotado.
-"Tens razão."
-"Se alguma coisa acontecer com ela a culpa vai ser tua, mate."- Alfie disse aproximando-se de Thomas com um olhar raivoso.
-"Não me apontes a merda do dedo! Já que tens o dom da palavra podes tentar fazer com a minha mulher o que eu não consegui. Desafio-te a isso, depois diz-me como correu, Alfie."- Thomas endireitou a postura, pronunciando descaradamente a palavra 'minha'.
-"Já chega, parem os dois! Não vai acontecer nada e se acontecer eu estou acompanhada."- Helena afastou-se um pouco subindo o vestido para mostrar a ambos que a sua arma estava presa na liga como sempre. Alfie e Thomas entreolharam-se não dizendo absolutamente nada.
-"Estás a assumir que a segurança de Mosley não te vai revistar, love." - Alfie finalmente pronunciou-se.
-"Já deverias saber por esta altura que qualquer homem que me tente tocar sem a minha permissão, perde as mãos Alfie."- Alfie lambeu novamente os lábios com a afirmação, lembrando-se dos momentos a sós que já tiveram.- "Desejem-me sorte, rapazes."- Helena encaminhou-se para a porta do pub.
-"Isso é algo que definitivamente não precisas, love."- Thomas disse fazendo Helena olhar para trás por breves segundos e sorrir antes de desaparecer do salão.