𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.

By akastylessgirl

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Uma noite. Foi tudo o que precisou. Agora eles tem um acordo. • •... More

antes de ler / teaser
01 [ca•su•al]
02 [ten•são]
03 [pro•pos•ta]
04 [ex•ce•ção] (!)
05 [ca•pri•cho]
06 [a•cor•do]
07 [ris•pi•dez] (!)
08 [de•cep•ção]
09 [re•gra]
10 [em•pá•fi•a]
11 [pro•i•bi•do] (!)
12 [hos•ti•li•da•de]
13 [ge•ne•ro•si•da•de] (!)
14 [con•se•quên•ci•a] (!)
15 [hu•mil•da•de]
16 [in•si•di•o•so]
17 [do•mi•na•ção] (!)
18 [con•des•cen•den•te]
19 [a•fron•ta]
20 [ex•clu•si•vo] (!)
21 [a•lu•ci•nó•ge•no] (!)
22 [a•me•a•ça]
23 [dra•ma•ti•za•ção] (!)
24 [ir•re•ve•rên•ci•a]
25 [vul•ne•rá•vel]
26 [con•fi•an•ça] (!)
27 [con•for•tá•vel]
28 [em•bri•a•guez] (!)
29 [con•fli•to]
30 [dis•so•lu•ção]
31 [ci•ú•mes]
32 [re•ca•í•da] (!)
33 [pe•ri•pé•ci•a]
34 [sau•da•de]
35 [ins•pi•ra•ção]
[in•ter•lú•di•o]
36 [va•ri•a•ção]
37 [or•gu•lho]
38 [re•pa•ra•ção]
39 [con•ci•li•a•ção]
40 [a•mi•za•de]
41 [con•jec•tu•ra]
43 [i•ne•bri•an•te]
44 [êx•ta•se] (!)
45 [su•a•ve]
46 [sub•ter•fú•gi•o] (!)
47 [in•ti•mis•ta] (!)
48 [me•lí•flu•o]
49 [in•ver•são] (!)
50 [fe•ti•che]
bônus [texting]

42 [ten•ta•ção]

752 48 25
By akastylessgirl

[desejo veemente ou violento; atração por coisa proibida; impulso para a prática de alguma coisa censurável ou não recomendável.]

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HARRY

"Deixe-me ver se eu entendi." O tom de sua voz é cético, definitivamente zombeteiro. Ele mal falou alguma coisa desde que comecei a me abrir sobre o que estava pensando, mas a forma como me olha deixa claro que sua mente está processando algum tipo de conselho misturado a bronca e insulto.

Eu provavelmente mereço isso e Mitch, como o bom amigo que é, não deixará a oportunidade passar.

Relaxo meus ombros o máximo que posso, suavizando meu aperto no volante do carro para me preparar. Ele não vai pegar leve.

"Você passou dois anos-"

"Um ano." O corrijo.

"-tentando superar essa garota. Escreveu incontáveis músicas sobre ela, chorou, se sentiu um lixo, dormiu com uma garota parecida com ela só para ter um gostinho patético do passado e chorou um pouco mais."

"Eu não chorava tanto assim." Refuto, mas ele me ignora.

"E então, quando finalmente consegue colocar isso para trás e aceitar a superação, você decide que seria uma boa ideia virar o melhor amigo dela."

"Eu não diria melhor amigo."

"E, como se isso não fosse o suficiente, você a convida para ficar uma semana inteira num lugar insolado, onde ambos terão tempo livre até demais para ficar juntos."

"Eu convidei a banda toda." Pontuo, mas Mitch revira os olhos.

"Nenhum de nós compartilha um passado com você, Harry." Ele diz como se fosse óbvio.

"O que?" Eu rio sem graça. "Isso é ridículo."

"Ridículo?" Dessa vez ele arregala os olhos, parecendo indignado de verdade comigo. "Então por que estava me pedindo conselho sobre sua relação com ela? Por que está com dúvida sobre o que você sente?"

"Eu não estou em dúvida sobre sentimento algum." Me defendo urgentemente. "Estava apenas desabafando com você sobre... o quão rápido nós dois nos reconectamos e como não estamos tendo problema algum com o fato do nosso passado ter existido."

Mitch fica em silêncio por um momento, seus olhos voltados para a paisagem ao quão passamos. Esse Jeep que alugamos não possui teto nem janelas, então nossos cabelos estão ao vento.

A manhã é de puro sol aqui em Malibu e as pessoas nas ruas já estão em clima de praia. Conforme cruzamos algumas ruas perto da costa, a maresia acerta nossos rostos encobertos pelos raios amarelos de luz.

"Você estava esperando drama?" Ele pergunta de repente, me encarando outra vez.

Dou de ombros, meus lábios partidos em dúvida do que responder.

"Sim, mais ou menos. Charlotte e eu... Nós não tivemos uma boa despedida." Sou comedido na declaração, afinal ele já sabe o suficiente sobre nós dois.

"Mas não aconteceu." O fito sem entender, desviando rapidamente meu olhar da rua, e ele esclarece. "Drama. Nada complicado aconteceu. Vocês fizeram as pazes."

"Exatamente."

"Mas você não queria isso."

"Claro que queria." Franzo o cenho pra ele.

"Então qual é o problema, Harry? A amizade com ela não é boa o suficiente? Por isso trouxe ela aqui, porque queria fazer dela a sua bestie oficial ao invés de passar o final de semana apenas com a banda, como programamos?" A voz dele fica mais séria e eu me demoro o analisando o máximo que posso antes de voltar a vigiar a direção.

"Oh meu Deus." Sorrio. "Você está com ciúmes."

Agora é a vez dele de franzir o cenho pra mim.

"O que?!"

"Ah, você está com ciúmes de mim, Mitchell. Isso é tão fofo." Provoco fazendo um beicinho. "Eu também te amo, parceiro. Não precisa ficar assim."

Tento tocar ombro dele, mas Mitch afasta minha mão, me fazendo rir.

"Não distorça minhas palavras só porque estou chegando perto demais de cutucar sua ferida." Rebate certeiro.

"Não tem ferida alguma." Dou de ombros, apertando o volante um pouco mais forte. "Se tivesse, não teria chamado ela pra vir também. Seria errado da minha parte."

"Você não é conhecido por fazer sempre a coisa certa." Provoca, beliscando minha bochecha. Faço uma careta.

"Jesus Cristo. Eu não sei por que resolvi conversar com você."

"Porque sou seu amigo e mais sábio que você em... tudo. Basicamente." Dá de ombros, sorrindo discretamente.

"Uhum." Estreito meus olhos atrás dos óculos de sol que também uso. "Já contou pra Sarah, caro amigo sábio?"

A menção do nome da nossa baterista o faz tensionar num estalar de dedos.

"O que a Sarah tem a ver com as merdas da sua vida?" Desvia o rosto, cruzando os braços.

"Ops. Parece que alguém também tem uma ferida." Digo cínico e ganho um olhar repreensivo.

"Você acaba de dizer também?"

Fico sem palavras.

Droga, Harry!

"Olha só, chegamos." Convenientemente, o local marcado para encontrar Charlotte se faz visto no horizonte. Uso disso para acabar com o assunto, mas posso perceber pelo canto dos olhos que meu amigo está balançando a cabeça.

São aproximadamente umas seis horas de viagem de carro de San Francisco até Malibu e, apesar da minha oferta de voltar para a cidade dela e vir com ela até o nosso destino, Charlotte preferiu vir sozinha de ônibus. Há uma parada em frente a uma loja de conveniência e nos havíamos marcado de nos encontrar aqui, pois esse ponto é mais próximo do local onde ficaremos hospedados.

Me aproximo do estabelecimento já procurando por ela, mas não a vejo. Estaciono o carro e pego meu celular, enviando uma mensagem perguntando se ela já chegou.

"E se ela desistiu e não quis te avisar?" Mitch supõe em voz alta, certamente querendo cutucar meu juízo.

"Ela não faria isso." Respondo sem olhar pra ele, meus dedos clicando rápido na tela do meu aparelho.

"Tem certeza?"

"Tenho. Se ela tivesse desistido, teria me avisado."

"Mmm. Então você é capaz de ter certeza sobre algo relacionado a ela."

Bloqueio meu celular e me viro pra ele, aborrecido.

"Se não parar com isso, eu juro por Deus-"

"Oi. Me desculpa. Eu estava com fome." Sou interrompido por uma voz de algodão doce que conheço bem.

Procuro a dona da voz até me deparar com um sorriso frouxo e rosado, que me faz sorrir igualmente.

Caminhando na direção do Jeep, vem Charlotte. Ela tem um saco aberto de mini-cenouras em uma das mãos e com a outra arrasta sua mala pelo pavimento do estabelecimento da loja de conveniência. Está usando calça e carrega uma jaqueta no braço, pelo visto estava frio no ônibus. Seu cabelo está preso naquele penteado novo que ela faz agora e algumas das mechas mais finas da parte da frente estão caídas em seu rosto de forma singela.

Ela sorri abertamente quando nossos olhos se encontram.

"Você tá babando." O comentário de Mitch me tira a concentração. Pisco repetidas vezes e mostro o dedo do meio pra ele antes de tirar meu cinto de segurança.

"Comporte-se." Ordeno num murmúrio e desço do carro.

"Vocês chegaram tem muito tempo?" Charlotte pergunta ao parar ao meu lado.

"Acabamos de chegar, na verdade. Não se preocupe."

Ela sorri de novo e abaixa a cabeça, mas logo me encara de novo e, de repente, me esqueço do que iria dizer a seguir pois seus olhos de mel tem um brilho tão bonito que me desconcentra totalmente.

Sem calcular meus atos, ergo meus dedos para afastar uma mecha de seu cabelo da frente de seu olho e a coloco para trás de sua orelha.

Alguém pigarra alto atrás de mim.

Charlotte pega minha mão e a coloca ao redor de sua cintura desleixadamente, se inclinando para me abraçar.

"Oi. Bom dia. Como foi de viagem." Pergunta docemente ao me soltar e eu me pego pensando em como gostaria de ter continuado no abraço.

"Bom dia, Char. Foi tudo bem. Como foi a sua viagem? Deve ter acordado tão cedo." Não consigo aguentar e passo a mão pelo braço dela ao dizer isso.

"Acordei mesmo, mas foi tudo bem. Cochilei um pouco quando uma moça se sentou ao meu lado. Pelo menos com ela ali, nenhum tarado faria nada." Ela fala isso em tom de brincadeira, mas não acho graça. Pelo contrário.

"Alguém fez alguma coisa?" Questiono a olhando de cima a baixo.

"Não." Ela ri e toca meu ombro, o apertando levemente. "É isso que estou dizendo. Foi uma viagem tranquila."

"Mm." Faço, ainda desgostoso por ela ter vindo sozinha. "Me deixe te ajudar com a mala."

Ela me entrega a bagagem e eu a coloco no banco traseiro do Jeep. Por fim, a ajudo a subir no veículo.

"Oi, Mitch. Bom dia." Ela o cumprimenta e meu amigo se vira pra falar com ela.

"Bom dia, Charlotte." Ele sorri de seu jeito tímido de sempre.

"Pode me chamar de Charlie, se quiser." Ela oferece amistosamente. "Vamos passar uma semana inteira juntos, afinal."

Por alguma razão, essas palavras saindo da boca dela fazem alguma coisa dentro de mim afundar e tremer.

Uma semana inteira.

"Bom, como quiser, Charlie." Mitch se abre para o apelido - e consequentemente para a aproximação a ela - e depois faz um gesto sugestivo de sobrancelhas para mim antes de se endireitar no banco do carona.

Olho para o céu e suspiro. Terei de arranjar muita paciência, essas férias serão menos tranquilas do que imaginei.

Mas de quem é a culpa realmente se não minha.

• • •

Ao chegarmos na pousada, na área mais reclusa da cidade, onde pessoas com uma ótima condição financeira possuem residência, vejo através do retrovisor do carro o olhar admirado de Charlotte em cada detalhe ao nosso redor.

A pousada possui decoração rústica praiana bem aconchegante. Há três andares, mas não usaremos todos. Como o lugar foi alugado apenas para nós, teremos a sala de estar, a sala de jantar e a cozinha toda para nós aproveitarmos como quiser. Isso sem falar da jacuzzi, da piscina, a área de descanso ao lado de fora e a praia privada.

Enquanto me encarrego de pegar a bagagem de Charlotte, o pessoal vem até nós cumprimentá-la, já que é a única 'de fora' do grupo. Eles já haviam a conhecido antes, mas foi bem rápido. Espero que isso não seja motivo para deixar ambos os lados desconfortáveis de forma alguma.

As meninas, Sarah, Ny Oh e Clare, são as primeiras a rodearem Charlie com atenção. Adam aperta a mão dela logo depois, mas as meninas a tomam pra si bem mais rápido do que esperei e em questão de segundos começo a ouvir um tipo de conversa que sei que vai me gerar certa dor de cabeça.

"Ai, Charlotte. Você não imagina como estamos felizes de ter mais uma garota aqui." Clare admite alegremente.

"Sério? Vocês são três e três. Me parece bem equilibrado." Charlotte comenta, observadora, ao apontar para nós.

"Mas com você aqui a balança fica mais pesada para o nosso lado." Ny Oh esclarece e então se vira pra nós, os meninos. "Sem mais cara ou coroa."

Mitch e Adam se entreolham, provavelmente pensando o mesmo que eu.

"Estou um pouco perdida." Charlie confessa, um tanto acanhada.

"As vezes, quando nós queremos fazer alguma coisa juntos e precisamos decidir o quê, mas discordamos, tiramos no cara ou coroa." Sarah explica calmamente.

"Meninos contra meninas todas as vezes. Eles formaram um complô contra nós." Ny Oh é mais ressentida que a colega.

"E sempre ganham." Clare revira os olhos. "É um saco."

"Estão roubando, isso sim." O fato de Sarah ter dito isso me choca.

"Hey. Isso não é verdade." Defendo minha classe.

"Não roubamos sempre." Adam brinca, mas as meninas não gostam nadinha.

"O que foi que eu disse. Complô!" O dedo de Ny Oh nos acusa, assim como os olhares delas.

"Bem, se é assim." Charlotte suspira e olha pra mim diretamente. "Ficarei mais do que feliz em pesar a balança."

Meu queixo cai e ela morde o lábio inferior, tentando mas falhando em conter seu sorriso travesso. As meninas comemoram a decisão de união da minha amiga traidora.

"Você deveria ficar do meu lado, Charlotte. É minha amiga." Resmungo, apontando para o meu peito.

Ela ergue o nariz e cruza os braços.

"Sou uma mulher antes de qualquer coisa." Declara confiante, causando exultação em suas novas aliadas.

"E uma mulher precisa de nutrientes antes de torrar na praia, então vamos tomar café da manhã, okay?" Clare chama e todas seguem tagarelando pousada a dentro, já amigas inseparáveis.

Fico olhando pra cena com um leve balançar de cabeça.

Uma mão pesada pousa sobre o meu ombro.

"Parabéns, cara." Mitch diz sarcástico.

"Qual é o problema agora?"

"Essas garotas vão nos matar antes do final da semana. A culpa é sua." Levo um tapinha mais forte que o necessário no ombro e ele adentra a pousado com Adam em seu encalço.

"Ah, qual é. Elas são tranquilas. Vai ficar tudo bem." Exclamo, mas eles não me dão confiança.

Sendo assim, ainda puxando a mala da Charlotte, me junto a eles.

Já que o dia está tão bonito, votamos unanimemente em aproveitar a praia. Contudo, como a maioria acordou cedo pra viajar, estamos com fome agora, portanto tomaremos um segundo café da manhã e partiremos para a límpida água salgada.

Mostro o lugar para Charlotte e a levo até o primeiro andar, onde dormiremos. Como ela foi a última a chegar, o rosto do pessoal já tinha escolhido um quarto e o único que sobrou foi a suíte entre a minha e a do Mitch.

"Espero que goste do quarto. Qualquer coisa, podemos subir e ver o segundo andar." Ofereço, mas ela nega com um sorriso.

"Não precisa ter esse trabalho, eu gostei sim desse quarto. Contanto que não dê pra ouvir os seus roncos através das paredes, ficarei bem." Brinca e eu finjo ofensa imediatamente.

"Como é que é? Eu não ronco, queridinha. Você deveria saber bem disso." Rio e ela também. Entretanto, ao perceber o que eu disse, ambos acabamos caindo num silêncio esquisito.

É a segunda mancada do dia, droga. Quando eu vou parar?!

"Desculpa. Vou te deixar à vontade. Desça quando estiver pronta." Me despeço e a deixo sozinha na suíte ao lado da minha, me direcionando ao meu quarto e fechando a porta atrás de mim com mais pressa que o necessário.

Isso é tudo culpa do Mitch. Se ele não tivesse insistido tanto nesse assunto do nosso passado ser um possível problema para o desenvolvimento da nossa amizade, eu não teria ficado com isso na cabeça e não teria dito o que disse. Agora ela vai pensar que eu não superei ou algo assim.

Deus, eu espero que ela não pense isso, não quero perder o que acabamos de construir.

O que quer que seja que me deixou pensativo nesses últimos dois dias deve ter sido bobagem. Eu provavelmente só estava impressionado - e ainda estou um pouco - devido a facilidade com que acabamos nos entendendo tão bem juntos.

Charlotte é e creio que sempre deveria ter sido minha amiga. Nada mais.

Repito isso várias vezes para mim mesmo até me acalmar. Depois, troco as roupas que usei na viagem por peças de banho e reúno meus pertences que levarei para a praia. Devolvo os óculos escuros no topo da minha cabeça ao terminar e deixo o quarto.

Ao mesmo tempo em que saio, vejo Charlotte fechando a porta de sua suíte também, mas agora vestindo algo muito mais fresco: uma saia soltinha rosa com flores amarelas, uma camisa de botões branca bem fina e não abotoada por inteiro, e sandálias. Há uma ecobag pendurada em seu ombro óculos escuros estilo pin-up com armação branca em seu rosto e seu cabelo está solto, com exceção das duas tranças finas que emolduram seu rosto.

"Boa o suficiente pra sair com os amigos?" Ela pergunta em tom de brincadeira e isso me serve como alerta para retomar a realidade, pois estava encarando.

"Já te disse que não precisa se preocupar com a sua aparência só porque está comigo. Mas é claro, você está linda."

Ela joga os cabelos pra trás num gesto exibido e eu rio num suspiro.

"Agora vamos descendo." Me aproximo dela e passo meu braço por sobre seu ombro, a colando ao meu lado. "Vi que só comeu aquelas cenourinhas, deve estar faminta."

"Na verdade, estou." Confessa mordendo o lábio, que eu percebo que está coberto com uma camada de gloss brilhante que faz sua boca parecer ainda mais rosada. "Mal pude comer antes da viagem. Estava muito ansiosa."

"Por que?" Indago preocupado.

"Sei lá. Não tiro férias em muito tempo." Ri, mas então assume uma expressão mais serena. "Muito obrigada por me convidar, Harry. Eu mal cheguei e já estou adorando."

Abro a boca pra responder alguma coisa, mas me calo completamente quando a dela vem de encontro a minha bochecha, onde ela deixa um beijo sabor melancia.

Meu peito arde e meus dedos se firmam no ombro dela por instinto, enquanto eu tento me recompor e mantê-la perto ao mesmo tempo.

"Me agradeça só depois de comer. Agora vamos, antes que acabem com as coisas mais gostosas."

Todos já estão vestidos com seus trajes de banho e em meio a uma bagunça de falsos cozinheiros, música alta e fofoca, preparamos nosso desjejum.

Adam se responsabiliza pelas torradas, enquanto Clare mexe alguns ovos e Ny Oh passa geleia nas torradas prontas. Há uma embalagem de morangos aberta sobre o balcão da cozinha e Charlie recolhe alguns pra si numa porcelana. Por mais ocupado que eu finja estar ajudando Mitch a separar as nossas bebidas na caixa térmica, de soslaio a vejo se aproximar do liquidificador.

Seus quadris vão de um lado para o outro ao som de um hit qualquer dos anos 60 que está tocando e ela joga suco de laranja, limão e algumas de suas mini-cenouras dentro do aparelho, assim como gelo.

Ao apertar o botão do mesmo e colocar tudo pra bater, ela se vira, ainda dançando, a medida de captura um morango bem vermelho entre os dentes. O macio dos lábios brilhantes se fecha perfeitamente ao redor da fruta.

Abruptamente, recebo um tapa na cara.
Encaro o autor do crime diante de mim com fogo nos olhos.

"Mas que po-" Meu praguejo é cortado assim que Charlotte vem dançando até mim e eu sou obrigado a forçar um sorriso de normalidade a ela. Ela pega minhas mãos e me faz levantar da minha posição ajoelhada na frente da caixa térmica.

"Eu gosto dessa." Informa animada. "Não quero dançar sozinha no meio da cozinha."

"E-Eu posso te ajudar." Gaguejo, mas sorrio para reparar meu erro, juntando-me a ela no ritmo da música. Seguro a cintura dela e a viro de costas para onde eu estava abaixado, olhando no fundo dos olhos de Mitch. "Escapou por pouco." Sussurro pra ele, que só sorri cínico.

"O que disse?" Charlotte pergunta sorridente.

"Oh. Mmm... Seus quadris são bem soltos." Digo a primeira coisa que me vem a mente e ela acredita, rindo.

"Os seus poderiam ser mais. Vamos, animação." Incentiva, apoiando as mãos nos meus quadris e me fazendo rebolar mais. "Isso, muito bem."

A música tocando é latina, talvez brasileira, e embora seja boa, não entendo nada do que diz. O ritmo é contagiante e me faz esquecer da minha bochecha quente num estalar de dedos, ainda mais tendo essa parceira incrivelmente envolvente e radiante.

"Minha nossa, Sr. Styles! Que gingado." Ouço a azaração vinda dos meus amigos, mas não perco tempo olhando para eles. Foco em movimentar corretamente meus pés e quadris, seguindo exatamente o que Charlotte faz.

"Olha só como ele mexe o popozão." Essa voz eu reconheço como sendo a de Adam. Mostro o dedo do meio pra eles todos, sem tirar os olhos da dança.

Seguro minha parceira com mais confiança, a atenção de todos me servindo de incentivo a não vacilar. Mesmo usando uma camisa, posso sentir o calor da cintura dela nos meus dedos e minha própria pele pinica de uma forma agradável - outro incentivo.

Nossos olhares se encontram no meio da dança, meu coração acelerando; esquentando; pulando.

Mas a música acaba.

Charlotte me solta e bate palmas para nossa performance, assim como meus amigos. Estou um tanto chocado, mas me junto a eles e aplaudo também. Não precisam saber o que está acontecendo dentro de mim, nem eu mesmo sei.

"Merece um prêmio." Ela diz e antes que eu possa tomar uma atitude, tenho um morango enfiado na boca. Meu quase engasgo a diverte.

"Pelo menos teve a decência de tirar o talo." Reclamo de boca cheia, mastigando a fruta preguiçosamente.

Brigitte Bardot está tocando agora e minha parceira encontra outra parceira. Gingando com Clare, Charlotte a ajuda a colocar a mesa junto com Sarah, que acaba sendo puxada para o meio da movimentação. Introvertida como é, esta tenta resistir, mas as outras duas são insistentes o bastante para animá-la.

Aproveito que o pessoal se distrai com o entretenimento das meninas e cutuco a costela de Mitch, o fazendo se encolher numa cócega surpresa.

"Se safou por mera sorte, mas não por muito tempo." Ameaço perto do ouvido dele, que só ri de mim.

"Desculpa, cara. Você estava babando de novo, eu só queria ajudar. Bati muito forte?"

Ao invés de usar minhas palavras, o fuzilo com os olhos e me distancio deixando um tapa em sua bunda.

Nos sentamos para tomar café da manhã finalmente, depois de tantos atrasos - alguns melhores que outros. Três de nós não come derivados de animais, então compartilhamos o mesmo cardápio, ficando nas torradas, geleia, frutas, suco e café. Nem mesmo com a boca cheia de comida conseguimos nos calar, no entanto. A conversa perdura por todo o momento e me deixa muito contente ver que Charlotte já está bem à vontade com eles, era tudo o que eu queria (e ela também, afinal quando me pergunta sobre suas roupas, sei que quer dizer mais do que sua aparência).

Pode-se ver a praia conforme se avança ao sul da pousada. Ao final da propriedade, há uma cerca baixa e um portão de madeira como única barreira física. É possível avistar a praia da varanda que leva aos quartos onde dormiremos e algumas das suítes também tem essa vista de suas janelas e varandas privadas. Eu já havia visto a mesma do meu quarto quando cheguei, mas de fato pisar nessa areia e encarar esse mar é bem diferente.

Somos os únicos aqui e utilizamos disso a nosso completo favor para colocar nossa própria música e nos posicionarmos onde bem entendermos. Eu e os meninos montamos os guarda-sóis na areia e as meninas esticam suas toalhas na areia. A caixa térmica é aberta, cheia de bebidas alcoólicas geladas e não damos importância ao horário. Fazemos nossos brindes e mandamos garganta abaixo.

"À Malibu!" Adam propõe.

"À bons amigos." Sarah complementa.

"E à essa cerveja gelada." Mitch finaliza, dando-nos a permissão necessária para começarmos a ficar bêbados às dez horas da manhã.

Me sento com os meninos a uma certa distância das meninas, que estão todas sentadas em suas toalhas abaixo de sol, fofocando, passando protetor solar, ajeitando o cabelo e muito mais.

O céu só não está mais azul que o mar, o sol cegante de tão radiante e a brisa divina mesmo que não refresque nadinha esse calor delicioso. Afundo meus pés na areia e me livro da camiseta, ficando só com o short de banho preto. Minha pele queima de um jeito que me faz querer gemer de tão extasiante. Eu precisava mesmo dessas férias.

"O quão maravilhoso é tudo isso? Sem câmeras, sem agenda, sem pressão." Comento ao deitar a cabeça para trás, deixando o sol tocar meu rosto.

"É, cara. Isso aqui vai parecer uma alucinação coletiva quando estivermos na estrada pra tour." Adam comenta e ambos Mitch e eu concordamos.

"Estou ansioso, no entanto." Eu digo. "É tudo o que eu sempre quis, cara. Música, tumulto, correria. Eu quero provar o gosto que tem. Sucesso, sabe?"

"Totalmente." Ele compreende. "Apesar da loucura, você se acostuma e acaba se apaixonando. É irado."

Entre nós, Adam e Clare são os únicos que já tocaram para outros artistas com fama considerável no passado. Ny Oh trabalha na própria música quando não está tocando comigo. A Sarah já teve outras experiências, mas nada muito grande e o Mitch é ainda mais virgem do que eu nessa questão toda, pois antes de vir tocar comigo, ele não trabalhava com música e nunca havia entrado num estúdio antes. É engraçado pensar que ele me ajudou a compor a maior parte das músicas que entraram no álbum. Eu havia escrito muita coisa sozinho, mas as direções finais foram feitas com ele ao meu lado.

"Espero que esteja certo, Adam." É Mitch quem diz dessa vez, levando sua garrafa de cerveja aos lábios.

Toco a nuca dele e a aperto amistosamente, sorrindo pra ele.

"Vai ficar tudo bem, amigo. Estamos nessa juntos, certo?" Dou meu mindinho pra ele e, depois de muito encarar meu dedo, ele estica o seu próprio e os entrelaça.

"Certo, claro. Juntos."

Fazemos um brinde final com nossas garrafas e damos um grande gole na bebida ao mesmo tempo.

Duas garrafas depois, Adam puxa um assunto sobre os melhores guitarristas do mundo e rola uma certa discordância entre ele e Mitch, que ingressam na conversa com mais seriedade do que eu julgo necessário. Ao invés de me envolver na conversa, me apoio sobre as mãos atrás do corpo e deixo o sol tingir minha pele como quiser, admirando a paisagem diante de mim.

Vejo Ny Oh tentando prender o cabelo de Clare numa espécie de coque, que não está dando nada certo, e rio comigo mesmo. Logo ao lado Sarah e Charlotte conversam profundamente sobre algo sério o suficiente para fazer as bochechas da minha baterista corarem. Ou será que é só o sol? Sarah tem a pele bem clara.

A parte de mim que é curiosa começa a prestar atenção nelas, ao invés das ondas espumantes do mar azul turquesa. Charlie tem as mãos sobre as de Sarah, como alguém que a conforta ou aconselha. Sarah apenas balança a cabeça e faz outros comentários aqui e ali, de cabeça baixa. Sobre o que quer que seja o assunto, não é trivial. Fico ainda mais curioso.

De repente, Charlotte procura por algo em sua ecobag e tira de lá um frasco de alguma coisa. Talvez seja protetor solar ou um bronzeador, embora ela não necessariamente precise deste último. Ela diz mais alguma coisa para Sarah e esta tenta dizer algo de volta, mas a primeira se ergue da toalha e leva os dedos aos botões de sua camisa branca.

Quando entendo o que está acontecendo, me sento mais ereto. A camisa é jogada na toalha e logo sua saia rosa segue o mesmo destino. Num piscar de olhos, o corpo dela está quase todo a mostra, com apenas um biquíni amarelo cobrindo suas partes principais. Confiro se os meninos estão vendo o mesmo que eu, mas a atenção deles ainda está na mesma conversa de antes. Volto meu rosto na direção dela, empurrando meus óculos de sol sobre a ponte do nariz nervosamente, tenso de uma hora pra outra.

Charlotte passa os dedos indicadores sob as tiras da calcinha de seu biquíni em seus quadris, conferindo se estão posicionados corretamente. Ela faz a mesma coisa na parte de cima e deixo um suspiro entrecortado escapar quando suas mãos somem dentro dos copos do sutiã para ajeitar seus seios.

Sarah se levanta, muito mais acanhada que ela, e começa a se despir também. Desvio o rosto. Isso é errado da minha parte.

Passo a mão pela minha toalha, a esticando atrás de mim, e me deito sob o sol. Fecho os olhos e me obrigo a pensar em outra coisa, qualquer coisa, que não seja aquele biquíni amarelo.

"Com licença, meninos. Podem nos ajudar?" Algodão doce, seda macia, a voz dela se faz ouvida.

Gostaria de não ter me erguido da toalha tão rápido como me ergui.

Charlotte e Sarah estão bem diante de nós, a primeira confiante em sua pele e a segunda com o olhar fixado na areia. De canto de olho, vejo Mitch tenso.

"O que aconteceu?" Eu pergunto, tentando estudar a expressão das duas, mas ambas estão me dizendo coisas diferentes.

"Harry, pode passar protetor solar nas minhas costas? Eu não alcanço." Charlie pede me mostrando o frasco que eu a vi pegando antes, dando dois passos na minha direção até se ajoelhar na minha frente.

Perco minha habilidade de fala. Mitch percebe minha paralisia e me dá uma cotovelada nas costelas. Sobressalto, mas não me viro para reclamar com ele, pois Charlotte está me encarando, esperando uma resposta.

"Me faria esse favor?" Ela ergue os óculos de sol de armação branca dessa vez e então me lança um olhar enfático, os apontando na direção de Mitch e então Sarah.

Demora alguns segundos, mas a mensagem que ela transmite é compreendida. Ela tem um plano e não é pra mim.

Dividimos um sorriso cúmplice e ela pisca pra mim, antes de recolocar os óculos escuros, aproveitando que Mitch está focado na visão de Sarah de maiô em sua frente.

"Claro, Char. Eu te ajudo com muito prazer." Pego o frasco do protetor solar e ela se senta de costas pra mim.

"Mitch, você seria um anjo e ajudaria a Sarah?" Ela pede e ambos Sarah e Mitch arregalam os olhos.

Tenho de abaixar a cabeça um instante para que não vejam meu sorriso.

Já havia comentado com Charlotte sobre os sentimentos de meu amigo em relação a nossa baterista e principalmente sobre eu desconfiar que ela sente o mesmo. Agora que ela passou um tempo com a moça, provavelmente deve ter chegado a mesma conclusão que eu. Ou melhor, deve ter tido uma confirmação. A conversa delas agora me faz mais sentido.

"Sim, Mitch. Seja um anjo e ajude a garota." Ressalto, devolvendo a cotovelada nas costelas que ele havia me dado antes.

"Eu-" Ele limpa a garganta ruidosamente, claramente nervoso ao ajeitar sua posição na areia. "Eu nem sei se ela quer mesmo isso."

Charlotte cutuca a perna de Sarah com o pé e os olhos azuis dela se voltam para a nova amiga com certa repreensão. Ainda assim, ela respira fundo e se senta na frente de Mitch exatamente como Charlie está sentada diante de mim.

"Tudo bem, eu quero sim. Pode me ajudar?"

Mitch me encara como quem busca uma resposta e eu agito a cabeça num sim frenético, assim como a líder dessa tramoia.

"Claro. Eu posso passar... protetor solar... nas suas costas." Aceita pausadamente, o significado das palavras se assentando sobre sua consciência e o fazendo tremer.

Charlie sorri vitoriosa. Ela não perde tempo em tirar seu comprido cabelo da frente de suas costas, me dando espaço para começar a trabalhar. Com isso, Sarah se prepara, também colocando seu cabelo de lado para revelar a extensão de pele que seu maiô não cobre.

Quero rir dessa situação ao mesmo tempo que estou contente por Charlotte ter proporcionado essa oportunidade para que os pombinhos apaixonados finalmente avancem alguns sinais e percebam seus corações acelerados. Qualquer um pode ver que eles foram feitos um para o outro, mas que, por falta de comunicação e coragem, se mantém afastados, atrapalhando assim um romance que pode ser tão bonito e especial.

Esse pensamento me distrai por um tempo, mas quando minhas mãos cobertas de creme tocam a pele quente da mulher de biquíni amarelo na minha frente, outros pensamentos me inundam. Não só pensamentos, mas lembranças.

Meus dedos já percorreram essa pele cheia de pintinhas tantas e tantas vezes, apertando, arranhando, arrepiando.

Ela endireita a coluna e segura o cabelo no alto da cabeça quando toco seus ombros. Sinto cheiro de coco. As alças do biquíni não fazem nada além de me atrapalhar e ter de suprimir a vontade de puxá-las para o lado me deixa atônito pelo fato da vontade sequer ter surgido.

"Acabei." Declaro ao perceber que o plano dela, o qual eu servi de cúmplice, está saindo pela culatra. Tento lhe entregar o frasco de protetor solar, mas ela não o aceita, contudo.

"A parte de baixo, Harry." Ri baixo, notando que não toquei em sua pele abaixo da tira do biquíni no meio de suas costas.

"Oh. Claro."

Coloco mais produto nos dedos e a toco de novo, sentindo cada pequeno osso em sua espinha até chegar na base de sua coluna; perigosamente próximo do tecido triangular que cobre sua bunda.

"Agora eu acabei." Meu tom grita por favor, acabe logo com isso e por sorte ela se dá por satisfeita.

"Muito obrigada." Agradece ao se virar para mim, deixando seu cabelo cair novamente.

"De nada." Digo sem graça, abaixando a cabeça com uma pontada de vergonha por ter deixado minha mente navegar por águas perigosas, enquanto ela só queria um favor simples de um amigo.

"Você quer ir nadar?" Ouço a doce voz da minha baterista e ambos Charlotte e eu fitamos a interação do casal de pombinhos que estamos tentando unir (o qual eu havia me esquecido por um momento de devaneio).

Sarah está sentada de lado agora, encarando a expressão surpresa de Mitch por ter sido oficialmente convidado para fazer algo com ela.

"Nadar? Tipo... no oceano?" A indagação é tosca, mas o pobre coitado está nervoso até os ossos, então o compreendo.

"É. Tipo... no mar bem ali." Ela ri e ele acaba rindo também. É tão fofo que tenho de me segurar para não interferir e estragar tudo com minha empolgação. "O que você acha? Quer ir?"

"Você quer?" Ele joga a pergunta de volta - vou ter que conversar com ele mais tarde sobre essa técnica, não é nada promissora.

Sarah só acena positivamente. Eles se encaram por longos segundos, se perdendo nos olhos um do outro.

Sinto as mãos de Charlotte apertando o meu antebraço e quando ela se encosta em mim, percebo que seu coração está acelerado. Desvio minha atenção para fitá-la, perdendo o ritmo respiratório por um instante ao notar que até mesmo seus olhos sorriem com o que está testemunhando.

Não sei o que Mitch e Sarah dizem um para o outro depois disso, mas de soslaio vejo que saíram juntos para algum lugar.

Fico sozinho com a Charlie nesse pedaço de areia.

A brisa faz o cabelo dela roçar o meu ombro e cobrir seu rosto, então eu empurro os fios para trás de sua orelha. Esse movimento nunca perde a graça, um risco enorme. Ela olha pra mim e toca a minha bochecha, seu sorriso de orelha a orelha.

"Não acredito que deu certo. Eles foram nadar juntos! Não é maravilhoso?"

"De fato." Meus olhos caem para seus lábios por um instante antes de voltar para seus olhos.

"Ela o ama, Harry. Ela basicamente me disse isso, mas tem medo. O último relacionamento deixou marcas e ela não quer se decepcionar outra vez."

Ainda segurando o cabelo dela atrás de sua orelha, deixo meu dedão vagar até sua mandíbula e então seu queixo. Porém o que ela acaba de dizer me faz despertar do encanto que havia caído indevidamente.

"Mitch nunca machucaria ela. Ele a ama também e ele realmente me disse isso." Compartilho, a fim de pintar a melhor imagem para o meu amigo. "Sarah me contou o que aconteceu entre ela e o ex. Mitch não é um babaca mentiroso como ele."

"Eu não o conheço como você, mas conheço você o suficiente para acreditar no diz." Ela declara. "Mas às vezes palavras não são boas o bastante." Charlie olha por sobre seu ombro na direção do mar e eu faço o mesmo, encontrando a silhueta do casal de quem falamos, andando lentamente lado a lado com os pés na água espumante. "Às vezes ações são mais eficazes."

"Demos um empurrãozinho. Agora eles assumem." Ela conclui ao se virar para mim outra vez, agora deitando a cabeça sobre o meu antebraço apoiado sobre o meu joelho dobrado. Quero esticar minhas pernas e abraçá-la forte contra o meu peito, mas não farei isso.

"Obrigado por fazer isso, aliás." Digo, brincando com a trança solta em seu cabelo. "Estou torcendo por aqueles dois à meses, esperando para que algo finalmente aconteça e você só chegou e... Obrigado."

Ela ri, erguendo a cabeça outra vez.

"Até parece que minha flecha do amor acertou você e não eles." Brinca, mas suas palavras me dão um embrulho no estômago nada engraçado.

Por mais adoráveis que sejam seus olhos de mel, tê-los pesados sobre mim agora me deixa desconfortável e eu tenho de desviar o rosto para disfarçar a sensação que perpassou meu corpo.

"Por algum acaso você passou protetor solar em si mesmo antes de ficar sem camisa nesse sol escaldante?" A questão me soa aleatória, mas sem dúvidas é um alívio para a conversa anterior.

A encaro outra vez e nego.

"Não, na verdade não. Eu esqueci."

Charlotte franze o cenho, nada contente com minha resposta.

"Quer ficar vermelho como um camarão e acabar com a diversão no primeiro dia? Você é tão burro assim?"

"Não precisa elogiar tanto." Também franzo meu cenho.

"Choramingue a vontade. Você não vai escapar dessa."

Antes que eu consiga protestar, Charlotte se coloca entre as minhas pernas, tira meus braços da frente e quebra a distância respeitável entre amigos. Os copos perfeitamente seguros por aros em seu biquíni superior estão a centímetros do meu rosto. Posso sentir o cheiro do suor dela, misturado com o produto que passou pra se proteger dos raios solares, com um toque de fragrância. Nunca pensei que suor cheirasse tão bem (ou que a parte promíscua do meu cérebro adoraria tanto ter os peitos da minha amiga tão próximo assim).

Ela espreme o creme nas mãos e o espalha nos meus ombros e bíceps.

"A parte que mais arde depois."

"Ah, sim. Ardência." Murmuro ainda pasmo com o horizonte. "Bonito biquíni."

Ela olha pra si mesma e só então percebe que estava tão próxima de cometer um assédio sexual. Ao invés de ficar com vergonha, ri e me soca no peito.

"Ouch! Por que todo mundo está me batendo hoje?" Reclamo segurando o local violado.

"Porque você é um engraçadinho que às vezes merece isso." Faço uma careta, mas meus olhos caem para o biquíni dela novamente. Recebo um tapa no braço. "Pare de olhar pros meus peitos!"

"Então pare de esfregá-los na minha cara, droga."

"Feche os olhos." Ordena e eu obedeço hesitante. Meus óculos escuros são retirados do meu rosto e logo sinto o creme gelado no meu nariz, testa e bochechas, então as pontas dos dedos dela o espalhando.

"Não deveria estar usando um próprio para o rosto?"

"Você é homem, pode lidar com isso." Provoca e cegamente eu busco pelas costelas dela para fazer cócegas. Seu gritinho risonho me diz que as encontrei. "Para!" Repreende ainda rindo. "Vou te deixar assar, se for assim."

"Não, fica." Seguro Charlotte pelos pulsos delicadamente, olhando pra ela. "Fica aqui. Eu vou parar, eu prometo. Pode cuidar de mim."

Algo no olhar dela muda e eu me preocupo verdadeiramente se não a ofendi de alguma forma nessa provocação toda.

"Tudo bem." Ela diz simplesmente e sorri minimamente, entretanto não sinto a mesma firmeza de antes em seu tom.

Não falamos mais nada até ela acabar de cobrir minha pele com protetor solar em todos os lugares que acha importante. Depois disso, Charlie se despede e volta para a sua toalha, junto das meninas, se deitando no sol para se bronzear como elas.

"Prontinho." Alguém chega e eu me assusto. É Adam com a caixa térmica em mãos, colocando a mesma na areia com um ruído alto demais para a minha mente distraída. "Tive que ir comprar mais gelo, mas pelo menos agora não ficaremos sem bebidas geladas nesse calor assombroso."

Ele se senta no local de antes e suspira, parecendo cansado.

"Espera. Você tinha saído daqui?" Questiono completamente confuso.

Ele me encara como se eu fosse idiota - o que eu provavelmente sou por não ter percebido isso antes.

"Sim, cara. Fazem umas meia hora. Você realmente não notou?"

Prefiro ficar sem responder essa.

"Desculpa, parceiro. Acho que é esse sol."

Adam balança a cabeça, mas não diz nada sobre o assunto.

Olho na direção da causadora de minha loucura momentânea e a assisto tirando de sua ecobag um livro, cuja a capa me chama atenção. Mesmo a distância posso ler o título: In Watermelon Sugar. Não o conheço, mas imagino que seja bom o suficiente para entretê-la deitada de barriga pra baixo, ao invés de estar ao meu lado, me deixando um pouco mais insano.

• • •

Uma coisa sobre praias que é de conhecimento público: ela cansa. O calor, a água salgada, uma combinação que sobrecarrega o corpo, principalmente se for acompanhada de álcool e pratos generosos de almoço.

Voltamos para a pousada assim que nossas barrigas roncaram e a produção da comilança foi, mais uma vez, animada e divertida.

A estrutura da cozinha é espaçosa por ser um espaço dedicado a servir outras pessoas, mas por mais incrível que pareça - ou nem tão incrível assim, convenhamos - o espaço ficou pequeno para nós sete. Um tanto longe da sobriedade, cada um fez questão de ajudar e a quantidade de vezes que nos esbarramos com algo quente em mãos passou do aceitável.

Depois de finalizado o almoço, nos sentamos pra comer em meio a uma discussão acalorada sobre Friends ser ou não a melhor sitcom. Me posicionei a favor, aliás.

Desejando uma sobremesa, Ny Oh se propôs a fazer brownies. Todavia, não o típico brownie, se é que dá pra entender. Charlotte a ajudou, interessada em aprender a receita. Acabei me recordando de uma certa vez em que ela comeu bombons do mesmo tipo e me senti um tanto culpado depois por não ter pausado a memória apenas nesse evento daquela noite, que ficou à muito tempo atrás.

Ainda salgados de mar e ásperos de areia, comemos a sobremesa na varanda do térreo, onde há redes e esteiras acolchoadas na sombra, atrás da pousada. Nadar na piscina foi cogitado, mas todos estavam cansados e também e um tanto intoxicados para levar essa ideia a sério.

Deitado numa rede vermelha e branca, fico divagando entre admirar o céu, o horizonte ou a garota de saia cor de rosa e flores amarelas, repousando serenamente numa esteira na grama. Seu cabelo está ondulado por conta do coque que ela fez nele ainda molhado quando estava cozinhando, as duas tranças finas ainda firmes ao redor de seu rosto.

Hoje é só o primeiro dia, mas o sol que tomou na praia foi o suficiente para enriquecer sua melanina em tons mais escuros e dourados. Ela está deitada com as costas para cima e eu aposto que se pudesse mover a tira de seu biquíni, veria uma marca mais clara onde sua falta de férias contaria história.

Acredito ter cochilado, pois quando abro meus olhos novamente, estamos apenas nós dois aqui fora.

"Cadê todo mundo?" Pergunto ao ver Charlotte se levantar e se espreguiçar. Deve ter dormido também.

"Foram para os quartos. Acho que também vou para o meu. Você vai ficar aqui?"

Olho ao redor e balanço a cabeça. Se todos subiram, não vejo sentido em ficar sozinho aqui embaixo. Lá em cima também tem uma rede na varanda do meu quarto.

"Não." Digo, me erguendo de onde estava repousando.

Nós dois subimos em silêncio para o primeiro andar, eu xingando a escada de madeira em pensamento por conta dos ruídos que as tábuas fazem quando pisamos nelas, já que o pessoal deve estar dormindo agora.

Como nossos quartos são os últimos, fazendo uma curva para a esquerda num corredor aberto com vista para os arredores, Charlotte estremece assim que a brisa de fim de tarde toca sua pele quente de sol. Ela se abraça.

"Está ardendo?" Eu indago, tentando achar alguma vermelhidão em seu corpo sem parecer que estou sendo pervertido.

"Não. Mas esse ventinho frio... Acho que vai chover à noite." Compartilha ao olhar para o céu, que já está perdendo seu azul ciano.

"Acha mesmo?"

Ela dá de ombros e nós paramos de frente a porta de sua suíte.

Hora de partir caminho, mas por que eu me sinto estranho em só me virar e me fechar na minha própria suíte?

"O sol vai se pôr daqui à umas meia hora, talvez um pouco mais. Quer assistir na minha varanda?" Convido de repente, meu coração acelerado com a ligeira possibilidade de ser rejeitado.

É só o pôr do sol, mas...

"Por que não." Aceita sorrindo timidamente. Meu peito se enche de alívio. "Só me deixe tomar um banho primeiro, sim?"

"Claro, claro. Eu também preciso. Tem areia em todo lugar." Infelizmente, digo isso apontando pra minha bunda e a vergonha faz meu rosto arder logo depois. Charlotte ri.

"Eu bato na sua porta, Harry." Anuncia ainda rindo, abrindo a porta de sua suíte e a fechando devagar entre nós.

"Idiota, burro..." Resmungo num sussurro apenas para os meus ouvidos, marchando até o meu quarto.

Tiro meu chinelo e começo a selecionar o levarei para o banho. Dou por falta do meu celular e início uma busca desleixada pelo mesmo. Não o encontro no quarto e decido refazer meus últimos passos mentalmente. Me lembro de ter deitado na rede e mexer nele por um tempo lá. Talvez ainda esteja lá embaixo, então.

Saio do quarto, passando pelas janelas abertas da suíte de Charlotte, e rumo ao andar térreo. Exatamente como havia imaginado, o aparelho estava na rede vermelha e branca.

Ao retomar para o primeiro andar, meus passos na escada são muito mais silenciosos dessa vez por eu estar descalço. Me distraio com algumas notificações do celular, mas ao fazer a curva do corredor, ergo novamente a cabeça.

Um movimento tão despretensioso e corriqueiro, mas sincronizado com o momento exato que Charlotte deixa o banheiro de sua suíte e para, apenas de biquíni, na frente do espelho que há no quarto. Consigo ver através da janela aberta quando ela abre o biquíni em suas costas e deixa a peça cair no chão um segundo depois.

Eu travo. De uma hora pra outra, minhas pernas param de funcionar, assim como o restante do meu corpo e mente.

Marquinha de sol, grânulos de areia, esquerdo e direito nus diante do espelho, cujo o reflexo pode ser visto de onde estou no corredor.

Ela começa a prender o cabelo no topo da cabeça e enquanto eu agradeço por não ter partido para a parte de baixo da peça de banho amarela, nossos olhos se encontram através do espelho.

Choque. Sobressalto. Mãos se apressam para esconder seus seios, as minhas para esconder meus olhos - tarde demais, devo ressaltar.

Minha boca está seca. Nem mesmo o sol que tomei hoje foi capaz de me queimar como o embaraço e o remorso estão agora. Por que eu não me movi? Por que não desviei o rosto? E, porra, por que ainda estou em pé aqui?

Tentando vencer uma onda de gaguejos sem som, pois meus lábios não conseguem acompanhar minha mente, me aproximo da janela o suficiente para que ela possa ouvir minhas profundas desculpas. No entanto, sou pego de surpresa uma segunda vez quando vejo o assombro no rosto de Charlotte se transformar em outra coisa. Seu semblante se suaviza, cada linha de expressão sumindo, quando ela, hesitante, abaixa as mãos e descobre os seios.

Pânico. Eu perco a direção assim que assisto seus dedos tocarem a calcinha do biquíni e...

Saio correndo.

Bato a porta do quarto com mais força que o necessário, me encosto na mesma e escorrego nela até sentar no chão. Exatamente como naquelas cenas de filmes. Contudo, nos filmes as pessoas geralmente fazem isso quando estão devastadas, mas eu, ao invés de estar chorando, tenho uma enorme ereção.

Fecho os olhos, tentando me acalmar, mas tudo em que consigo pensar é naquele belo, redondo e perfeito par de...

"Não! Ela é minha amiga." Bato na minha cabeça. "Amiga. Amiga. Amiga. Amiga."

Me concentro e respiro fundo por uns quinze minutos até relaxar todas as partes do meu corpo, ainda assim, por mais que tenha dado certo e eu tenha tirado a imagem da cabeça, há algo intenso gritando dentro de mim, dizendo que isso não vai durar por muito tempo; que não importa o quanto eu repita a palavra amiga, a associando a Charlotte, as sílabas estão perdendo o sentido. E quando isso acontecer de vez, quando eu não souber mais onde colocar esse sentimento emergente - que eu estou claramente falhando em suprimir -, será o fim.

De quê? Eu não sei.

N/A: Primeiro dia e o H pedindo arrego. Se ele soubesse...

Convido a todxs para dar uma olhadinha na minha outra fanfic chamada Nightingale.

Votem e comentem muito, meus anjinhos!

Espero que tenham gostado do capítulo
xx

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