Viúva Negra | L.S

By the_noemimutti

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Todos homens temiam seu nome. Idolatravam sua postura. Seguiam suas regras. Harry Styles era o braço direito... More

A Jornada Começa Aqui
01. Homem de Princípios
02. A Morte dá Tchau
03. Desafiando o Diabo
04. Quebrando a Banca
05. Louvado seja Satã!
06. A Deusa da Morte
07. Súplicas Perdidas
08. Fogo Cruzado
09. Com Unhas e Dentes
10. Lar Maldito Lar
11. O Pai da Mentira
12. Flores Álcoolicas
13. Onde Judas Morre Antes
14. Sob Rédeas Curtas
15. O Lobo Atrás da Porta
16. O Verdadeiro Alfa
16,5. Nargot
17. De Frente com o Diabo
19. Chamas na Escuridão
20. Incendiado
21. Jardins da Babilônia
22. Deus e o Diabo na Terra do Sol
23. Corrida Contra o Tempo
24. Eu te Devoro
25. Entre a Cruz e a Espada
26. O Rei Renasce
27. O Caos que nos Une
28. Quando a Luz Toca
29. A Solidão Que Nos Habita
30. Você Vai Me Destruir
31. Imortais & Fatais
32. Doce Criatura Cruel
33. Tudo por Amor
34. Como Atlas
35. Lobo em Pele de Cordeiro
36. Anaconda
37. Em conversa de malandro...
38...otário não se mete
39. Encruzilhadas
40. Bonnie & Clyde
41. De Volta ao Jogo
42. Romeu & Julieta
43. As Rosas Não Falam
44. Demônio Noturno
45. A Fúria
46. A Toca do Coelho
47. Afrodisíaco
48. Xeque-mate
49. Eu Sobre Mim Mesmo
50. O Amor Que Nos Destruiu

18. Vestíbulo do Inferno

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By the_noemimutti

Oi!

Leiam com "Meninos e Meninas - Jão"

Boa leitura, y'all.

O Inferno é uma alusão à prisão que o homem inventou para culpar suas decisões estúpidas e errôneas. Não satisfeito, o inferno ainda é regido por um ser maligno que parece tanto o homem quanto o próprio homem consegue ser.

Em uma das inúmeras releituras do Inferno, deixou-se a camada destinada aos que não pertencem aos céus e à plenitude eterna, muito menos a danação infinita com o maligno.

Este lugar é chamado de Vestíbulo do Inferno.

É a morado dos indecisos, caóticos; que nunca conseguiram entender a própria essência e são condenados a passar a existência inteira esperando algo concreto.

Que seja perpetuamente bom ou definitivamente ruim. Algo como a cidade natal que contém segredos enterrados e obscuros. Algo como... o alfa que culminaria no fim da sua história.

Só restava a dúvida: para cima ou para baixo? Aos olhos do Deus altíssimo ou do Maligno Senhor de Todo o Pecado?

De qualquer forma, antes de definitivamente continuar essa história de desamor caótica e traiçoeira:

Deixai toda a esperança, vós que entrais!

LOUIS WILLIAM TOMLINSON - P.O.V

O rádio tocava baixinho alguma música indie bem depressiva quando um suéter preto me foi oferecido.

Pisquei os olhos, empertigando meus ombros para sair daquela sensação horrorosa de torpor de quase ser atacado pela alfa que eu estava criando um certo carinho e Zayn forçou um sorriso mínimo.

Aceitei a peça de roupa, retirando a minha camiseta de gola alta e colocando aquele grande suéter verde musgo. Era quentinho e cheiroso e eu percebi que reconhecia aquele maldito cheiro de menta com nicotina.

Harry.

— Ei, Lou — chamou Zayn, despertando os meus pensamentos meio confusos. — Posso perguntar algo?

— Claro.

— Mas... Com o meu Louis. O Louis, meu amigo que foi criado comigo e não meu chefe — especificou com receio, me deixando levemente desconfortável.

Passei a mão nos cabelos de forma efusiva, me jogando no sofá de Lauren e pensando em como diabos eu iria dar uma aula dali trinta minutos diante de tudo o que tinha acontecido.

— Louis?

Balancei a cabeça, ponderando se me sentia preparado para qualquer pergunta sobre nós.

— Hmm... — murmurei solto, antes de suspirar. — Certo. Pergunte.

— Por que Liam não quer se casar comigo? — Foi direto ao ponto como sempre.

Engasguei com a saliva, tossindo repetidas vezes antes de voltar ao normal. Se tinha alguma probabilidade de dizer que era coisa da cabeça dele e me safar dessa, foi por água abaixo com essa enorme gafe.

— Você deveria conversar com ele. Sabe que não conversamos mais. — Tentei me esquivar, porém ele pôs a cara Zayn Filho de Assassinos de Aluguel que me fez estremecer. — É sério. Não sei.

— Sabe, sim.

— Não sei! — insisti.

— Louis — resmungou manhoso e eu revirei os olhos, recebendo uma almofada no rosto com força.

— Ei, seu projetinho de filho da p...

— Sem palavrões! — cortou rudemente. — Que boca suja. Céus.

— Que boca suja pipipopo — impliquei com a voz afinada e dessa vez gargalhei com a outra almofada no rosto. — Estressadinho.

Zayn aproveitou minha guarda-baixa e me empurrou em direção ao corpo do sofá de modo que eu deitasse nele, subindo em cima da minha barriga e colocando o cotovelo na minha garganta.

Eu me arrependia as vezes de ter sido o treinador dele.

— Fala! Vamos! Abre essa boca suja e diga logo o que você está pensando. Você sempre diz — ordenou com os olhos castanhos semicerrados, me fazendo rir pelo nariz com a ameaça. — LOUIS!

Gargalhei mais alto, segurando no braço que praticamente me sufocava e ofereci um sorriso preguiçoso em sua direção, observando as bochechas corarem adoravelmente.

Ainda o ômega fofo e tímido do grupo.

— Pare de flertar comigo, seu canalha — rompeu rudemente.

Pisquei de forma sedutora que eu sabia que deixava qualquer um mole para mim e me diverti ao ver ele ficar desconfortável em cima da minha barriga e retirar o cotovelo.

— Você está tentando me seduzir? — Levantou as sobrancelhas, de forma indagativa.

— Não sei... Está funcionando?

— Talvez.

— Então eu estou. — O puxei pela cintura, fingindo que ia beijá-lo enquanto ouvia se debater e fazer careta de nojo.

Mudei de posição, começando a ouvir as gargalhadas meio estranhas de Zayn e foi tão automático iniciar uma série de tentativas de beijá-lo na bochecha que eu ao menos percebi que estava me comportando como um adolescente bobalhão.

E eu ao menos me sentia culpado por isso.

— Para com isso, seu anão dos infernos — praguejou, tentando parar de rir e eu me apoiei nos cotovelos, bem próximo de seu rosto bonito.

— Eu tenho 1.72! Eu não sou baixinho — retruquei ofendido.

— E eu tenho 1.78 — deu língua infantilmente. — Você é o mais baixo do grupo, logo, você é baixinho. Até mesmo a doida da Íris é mais alta que você.

— Vocês comeram a pólvora da bala das armas que usam para crescer tanto? — resmunguei mal-humorado.

Apesar de não ser baixo obviamente, dentro do nosso grupo de amigos eu sempre fui o mais desprovido de altura e alvo de piadas sobre isso.

— Ficou chateadinho, é? — Fez biquinho e eu sorri em sua direção de forma cretina, me arrastando mais para perto de seu corpo e observando ele fingir que iria vomitar.

Tinha esquecido o quanto Zayn era extremamente divertido.

— É agora que a gente se beija? — Sacaneei e ele fingiu pensar.

— Eu sou noivo.

— Fiquei sabendo — suspirei teatralmente. — O corno está sabendo também?

— Louis! — riu alto. — Me responde. Você está me driblando que eu sei.

Gemi em desgosto, sentando no sofá e saindo de cima do corpo esbelto e alto. Malik aproveitou a deixa e também se ajeitou no sofá de forma aprumada, me encarando com uma óbvia expectativa nos mel nectarines.

Mal sabia o que pensar no que responder.

— Ele não quer a marca — revelei devagar, me surpreendendo que Zayn ao menos pareceu surpreso.

— Não é só isso. Eu já disse que abdico da marca, se é isso que ele quer.

— Então também não sei o motivo.

Ele bufou frustrado, enfiando a almofada no rosto e gritando abafado. Me perguntei onde Harry e Liam estavam que não retornaram até agora para nos buscar.

— Liam acha que eu preciso ter outros relacionamentos — disse Zayn. — Eu perdi a virgindade com ele, meu primeiro beijo, meu primeiro cio e principalmente meu primeiro namorado. Nunca fiquei com outras pessoas.

— Certo.

— E ele tem medo que talvez, mais para frente, amor não seja suficiente para tapar o buraco quando eu estiver mais velho e não ter experimentado a vida.

— Olha, faz sentido. A marca realmente parecia uma desculpa esfarrapada, porém vocês são Ziam, sabe? O casal mais chato e grudento do mundo. Cresceram e amadureceram juntos.

— Por isso que ele tem medo. Ele viajou o mundo durante a adolescência, pegou muitas pessoas, teve treinos rígidos e voou por aí, sabe? Liam tem trinta anos. Ele acha que o fato de eu ter vinte e sete e pouca experiência vai interferir nos meus sentimentos.

Eu concordava em partes com Liam, até porque seu argumento era lúcido, contudo, ele sempre foi uma porta para sentimentos assim como eu.

Aquela decisão cabia a Zayn e não a ele.

— Quer minha opinião? — perguntei suavemente, arrumando meus cabelos que estavam bagunçados pela brincadeira.

— Me ilumine.

— Termine com ele — fui taxativo, o vendo arregalar os olhos. — Vocês estão juntos há o quê? Desde os dezoito anos? Sei lá, doze anos namorando? Faça o que ele quer e termine com ele. Vamos ver quanto tempo o bonitão aguenta sem parecer um bezerro sem leite.

— Mas... eu não quero ficar longe dele — murmurou tristemente e eu tive vontade de socar Liam até perder a consciência que nunca teve. — Por que ele não quer se casar mais comigo? Ele me pediu tem dois anos já! Estamos noivos há muito tempo. Não vai mudar nada na rotina.

Fiz uma careta, negando levemente.

— Muda, sim. Você vai ser Zayn Malik-Payne, o ômega do maior advogado da Ordem — explicitei com obviedade. — Filhotes, Zayne. Liam pode engravidar quem quiser, mas você não vai ficar mais novo. Vai precisar engravidar e já sabe, certo? Liberdade com filhos sempre é limitada.

Ele abriu a boca e fechou repetidas vezes, por fim, relaxou os ombros consternado.

— Eu quero filhos.

— Crê em Deus Pai Todo Poderoso, criador dos céus e da terra. Amém! Vai quebrando tudo de ruim, meu pai — Fiz o sinal da cruz com uma careta.

— Crianças são bênçãos, ok? Eu pretendo ter alguns com o Li.

— Alguns?! Pelo amor dos deuses. Você virou incubadora?

— Que foi? Você também vai fazer vinte e cinco anos daqui a pouco. Já está na hora de começar a pensar...

— Pensar em quantas pessoas eu ainda tenho para pegar — completei rapidamente. — Esse gatinho aqui não terá outros mini gatinhos. Nunca.

— Como assim? Você é o herdeiro. Precisa ter filhos.

Dei de ombros, pouco me importando.

— Então é melhor Harry começar a tentar fazer os seus — divaguei enquanto encarava seu rosto espantado.

Me assustei quando uma voz rouca e profunda chegou em minha nuca, bem rente ao meu ouvido e sussurrou daquele jeito arrastado e lento que só a voz de Styles possuía:

— Eu mal saio por vinte minutos e você já está falando assim de mim? Estou duvidando dos seus reais interesses, Tomlinson... Parece muito interessado na minha vida sexual.

Soltei um gritinho de susto, escutando a voz de Zayn gargalhando com a minha expressão e me virei irritado em direção ao alfa estúpido.

— Não me interesso pela pobre alma que terá o desprazer de transar com você, babaca. E para de chegar de mansinho! — grunhi.

— Tsc, tsc, tsc — sorriu alegremente. — Tudo indica que no final essa pobre alma será você.

— Aí você acordou do seu sonho de princesa, não é?

— Não. A princesa é você. Eu sou o...

— Sapo — completei com a expressão fechada, empurrando-o do meu lado e ouvindo a risada ao ver meu estado de fúria. Ele realmente me tirava do sério.

— Você fica adorável com as bochechas coradas, Lou — informou Zayn.

— Cala a boca — ordenei infantilmente, esperando apenas Niall sair do tratamento de Lauren para irmos até a Doncaster School. — Cadê os Horan?

— Margot está na sala de jogos e Niall está acabando de acordar Lauren e trocar os curativos da mão que você esfaqueou — explicou Liam ao romper dentro da sala, sem ao menos olhar para Zayn.

Ele sempre olhava para Zayn.

— Ei! Você voltou. Vamos ao trabalho? — perguntou Malik.

— Ok — respondeu secamente e eu franzi o cenho. — Vejo vocês depois. Tentem não se matar!

Aquilo sim era tarefa impossível, dado que Harry parecia motivado a fazer da minha vida um pequeno inferno.

— Babe, pegou suas coisas? — Liam se direcionou a Zee que assentiu, voltando à postura profissional.

— Traremos mais informações do que conseguir reunir, Sr. Tomlinson — alertou Zayn formalmente. — Acredito que tendo acesso na mesma empresa que Harry, eu consiga craquear algumas novas informações da cidade.

Concordei, fechando a expressão.

— Quero relatórios extensos e explicativos sobre o tipo de software e os firewalls. Para amanhã. Certo?

— Sim, senhor — afirmou. — Harry, você entra às nove horas, certo?

O alfa que só ouvia atentamente a discussão acenou, enfiando suas mãos em seu bolso da calça e pegando o celular que tocava de forma incansável, se afastando de nós para atender.

Observei o casal sair de forma conjunta, quase revirando os olhos da forma idiota que eles se completavam e pareciam perfeitos um para o outro.

Até os passos eram sincronizados!

Zayn parou rente a porta, o corpo de costas para mim, parecendo ponderar sobre o que faria. Liam notou a expressão do noivo e partiu sem ele, dando espaço para Malik virar lentamente em minha direção.

Mal previ a forma que ele correu e me abraçou forte. Como antes.

— Obrigado — sussurrou no meu ouvido.

— Pelo o quê, exatamente?

— Por não ter desistido de nós, mesmo quando já tinha desistido de você.

Meu coração doeu tanto que eu senti se transformar em física ao ouvir aquilo. A verdade crua saindo dos lábios do meu amigo.

Do jeito torto e meio sem sentido da Ordem, mas meu amigo.

— Eu te perdoo por ter se escolhido. Na realidade, eu me desculpo por não ter te escolhido antes. — Ele beijou minhas bochechas com doçura, me entregando aquele sorriso maldito.

Quanto mais eu encarava aquele sorriso que me fazia sentir acolhido, a sombra do lobo maníaco por sangue crescia atrás de mim. Ficar com ele é a mesma coisa de ficar com a Ordem.

Um não existe sem o outro.

— Eu... senti sua falta todos os dias — confessei sinceramente, porque sabia que para Zayn Malik ter dado aquele passo, ele merecia um pouco de sinceridade.

Ele sorriu, me soltando aos poucos do abraço gostoso.

— Eu sei. Quem mais daria um pen-drive com todas as temporadas daquela série estúpida brasileira que assistia comigo quando mais novo? Liam ganhando chocolates belgas da Lottie de repente? Niall ganhando uma moto rara que só se acha no fim do mundo nos EUA?

— Você sabia que era... eu? — perguntei meio abobado, porque eles nunca manifestaram saber que em todos aqueles anos, eu os parabenizei pelas datas comemorativas através de presentes dados por outras pessoas.

Zayn me encarou como uma mãe que conhece muito bem a peça de filho que criou.

— Você é mais óbvio do que pensa, Lobinho. — Piscou um dos olhos, finalmente voltando a andar em direção a porta. — Ainda te acho um babaca.

Sorri solto, colocando as mãos nos bolsos e erguendo as sobrancelhas de forma provocativa.

— Seria louco se não achasse.

Ele piscou marotamente antes de seguir o noivo, me deixando com o coração acelerado e a sombra de um sorriso.

***

Crianças... Por que tinham que ser tão assustadoras?

Ao chegar na escola, a primeira tarefa que me propus a fazer foi justamente ir ao pátio e conhecer os alunos que iriam para o meu período depois do intervalo.

Sabe quando você entra numa situação que se pergunta seriamente se estar vivo e nela é uma questão de prioridade? Pois bem.

Eu estava.

— Tio Lou, tio Lou! — Chamou a catarrenta da Catarina, mostrando a boneca feiosa que ela tinha pego. — Parece com você!

Semicerrei os olhos, sorrindo forçado para a menininha de cabelos lisos castanhos escuro.

— Não sei se você é fã ou hater, Cata — respondi numa risada. — Ela é feia.

— Não é!

— É, sim — concordei, observando ela começar a querer chorar e me desesperei. — Catarina Lindinha, o tio dá outra boneca feiosa para você! Ok?

Porém aquela catarrenta abriu o maior berreiro no meio do pátio e os outros começaram a me olhar como se tivesse assassinado alguém logo no primeiro dia.

— Catarina Jardim, pensa só: essa aí é uma polly pocket, eu te dou uma barbie!

— Eu gosto dessa! — Bateu os pés de forma mimada e eu me senti estressado já.

— Pois ela é feiosinha... quer dizer... exótica, meu amor — sorri forçado, revirando os olhos e saindo de perto daquela dramática.

Um pinguelinho bateu nas minhas pernas, a expressão assustada quando me viu e eu praticamente me apaixonei à primeira vista.

Ele tinha os cabelos pretos bem escuros, longos e ondulados, os olhos mel clarinhos e a pele bem clara também. Parecia uma bonequinha com aquelas orbes que pareciam mentira de tão redondas.

— Oi! Eu sou a Amanda, mas todo mundo me chama de Mands — sorriu abertamente e eu quase babei. — Qual seu nome, senhor?

Antes que eu pudesse responder, uma pirralha com narizinho afilado e os cabelos castanhos batendo no queixo esbarrou em cima da Mands.

— Aí! — gemeu Amanda. — Victoria, sua tonta, olha onde anda!

— Desculpa, Mands, eu estava atrás da borboletinha que voou. — Fez biquinho. — Oi! Você é o novo professor?

Sorri abertamente na direção da menina que fez uma careta, olhando um pouco da minha tatuagem que escapou do suéter.

— Que desenho esquisito — comentou de forma grosseira. — Mands desenha melhor.

A encarei indignado.

— Não é não, sua Carinha de Salsicha — dei língua a garotinha que abriu a boca frustrada com o apelido.

— Pois você tem cara de... palmito! — Eu ri, observando a menininha fechar a expressão e Mands rir da implicância. — E quantos anos a senhorita tem?

Ela estufou o peito antes de dizer:

— Eu tenho 9 primaveras!

— 9 primaveras, é? Uau! Eu tenho 24 primaveras — contei como se fosse o maior evento do ano e ela deu de ombros.

— 24 é velho.

— Ei, isso é rude! — corrigiu Mands. — O certo é Veiote. Certo, prof?

Nem fiz questão de responder aquela afronta.

O sinal bateu alertando a volta para a sala, me fazendo levantar se ainda quisesse dar aula para os diabretes.

Entrei na sala do fundamental com a apostila do ano e já escrevendo meu nome na lousa para ensinar a pronúncia correta. De pouco a pouco eles foram entrando e se sentando, me deixando feliz ao ver todos aqueles pequeninos e principalmente as Meninas Super Mal Educadas.

Catarina foi a última a entrar na sala, agarrada em uma amiguinha enquanto brincava com aquela boneca horrorosa.

Céus.

Coloquei o sapinho de fantoche nas mãos e balancei em direção a eles, chamando a atenção da turma.

— Oi, galerinha! Eu sou o Louis Evans — me apresentei animado. — Mas podem me chamar de Prof. Playboyzinho.

A sala riu ao reconhecer a referência e eu me senti tão feliz em fazer aquilo que passei anos estudando.

— Esse aqui é o... — Droga, não tinha pensando no nome do fantoche. — HAROLD!

— Harold? — perguntou Vic, a feição confusa e enojada.

— Isso mesmo, Cara de Salsicha — respondi com o fantoche e ela fez bico, rindo no final rendida ao encantamento do Sapinho. — Você é muito bocuda, Victoria.

— Minha boca é pequena! Eu só consigo colocar duas uvas por vez — retrucou altiva e eu ao menos me importei de falar com a abençoada.

— Alguém aí gosta de livros? Que tal a gente ler... O Pequeno Príncipe, garotada animada?

E a aula correu solta.

Só sei que ao final do dia, todo sujo de tinta e babado de beijos — surpreendentemente de Vic, que se demonstrou maior apegada a mim — eu me sentia mais incrível do que me senti em anos.

Praticamente sai saltitando de felicidade até o estacionamento, observando meu suposto "marido" dentro do carro preto sedan bem popular.

Harry estava de óculos escuro, ouvindo uma música clássica com um ar de aristocrata metido a besta.

Antes que eu alcançasse ele, um mini catarrento apareceu na minha frente com os cabelos cacheadinhos ruivos e o nariz que parecia um botão.

Era a coisinha mais linda!

— Ei, professor — sussurrou tão baixo e eu percebi a voz mais fina, apesar de performar masculinidade em suas roupinhas. — Eu sou o Kaká.

— Você é o que senta no fundinho, certo?

Ele assentiu meio tímido e eu ri, abaixando em sua direção e notando o desenho em suas mãos gorduchinhas.

— Isso é para mim, K?

— Sim...

— Sou eu?

Era uma versão bem jeitosinha de um boneco de palito com duas bolotas azuis que me deixavam com o coração quentinho.

Era tão feinho que ficava fofo.

— Obrigado pelo esforço! Ficou incrível — sorri em sua direção, me surpreendendo com um abraço gostoso.

— Até amanhã, Lou.

— Até, pestinha! — Beijei a bochecha, encarando ele ir embora com o coração cheio de amor.

Eu definitivamente nasci para aquilo.

Entrei no carro com o sorriso de ponta a ponta, nem me estressando em cumprimentar Harry porque sabia que meu humor iria ser alterado.

Ele pareceu respeitar ou realmente não ligar, andando calmamente para casa de volta com a expressão tão séria que meu humor foi condensando aos poucos.

Suspirei, apoiando meu rosto no vidro e observando as árvores passando enquanto íamos para casa.

— Lottie chegou da Espanha. Vai vir te visitar nessa semana.

— Que ótimo.

Sentia saudades dela.

— Louis? — chamou de novo, parecendo meio perdido. — Hã... Como foi seu dia?

— Bom. — Me lembrei que precisava ser educado e empurrei sem realmente estar curioso ou me importar: — E o seu?

— Legal.

— Hm — murmurei sem prestar atenção.

— Dois.

Revirei os olhos, aumentando o som quando ouvi Queen tocar Love Of My Life e quase me derreter de tantas saudades de escutar música em paz.

Uma voz rouca, leve e graciosa acompanhou enquanto tamborilava no volante.

Harry parecia um anjo cantando, demonstrando todos seus dotes com a música e me deixando arrepiado com o tom incrível.

— Gosta de Queen? — perguntei sem me conter e ele riu.

— Só tenho literalmente meu quarto todo decorado.

— Uau! Eu amo Queen. Qual sua música favorita?

— Radio Ga-ga. E o seu?

— Se eu disser você vai achar que eu sou poser — ri pelo nariz. — Porém é Bohemian Rhapsody. Amo o poema por trás dessa música.

Ele levantou as sobrancelhas surpreso, me encarando de esguelha sem tirar atenção da estrada.

— E qual sua parte favorita?

— "Eu não quero morrer, às vezes desejo que eu nunca tivesse nascido" — recitei a parte para Harry que ficou em silêncio, assimilando o que queria dizer.

Depois de algum tempo quieto, ele respondeu bem baixinho, quase como se não quisesse ser escutado:

— Qualquer caminho que o vento sopre, não importa de verdade. Siga em frente, como se nada realmente importasse — recitou a letra da música de forma ajustada a fazer coerência.

Sorri levemente, assentindo sem respondê-lo.

Aquele foi um momento marcante, pois me mostrou que apesar das diferenças, nós tínhamos algo em comum: nós dois éramos pobres garotos e não precisávamos de compaixão.

Venho fácil, vou fácil. A pergunta que me restava no fim de tudo era:

Vocês me deixarão ir?

NOTAS DA AUTORA: Hihi.

Pessoal, eu costumo atualizar de noite porque é o horário que eu consigo revisar os capítulos. Então o horário é da parte final da tarde até de noite de atualização! A não ser que eu tenha revisado antes, mas são raras pela minha rotina corrida.

Uma colher de chá da intensidade para algo mais cotidiano. Daqui para frente, vai ser bem mesclado com algo tranquilo e turbulento ao mesmo tempo.

Louis de professor pior que as crianças tá sendo a minha maior diversão! Ele nasceu para ser o tiozão rico que aparece para dar presente no natal caro.

Espero que estejam gostando!

VEJO VCS NAS FIGURINHAS!!

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