O Garoto da Torre

By matt_escritor635

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Raul em breve fará 18 anos, e o máximo que ele conhece são as paredes frias de seu apartamento, sem quase nun... More

PRÓLOGO
Capítulo 01: O Garoto-da-Torre
Capítulo 02: Alguém na Colina-das-Libélulas
Capítulo 03: Cicatrizes que nunca Curam
Capítulo 04: Chamado para Ir Além
Capitulo 05: Segredos e mais Segredos
Capítulo 06: Bibidi-Bobidi
Capítulo 07: Feliz Aniversário!
Capítulo 8: Lembre-se de Quem Você É
Capítulo 09: Mateus 6:28
Capítulo 10: Quando Tudo Desmorona
Capítulo 11: Mostre-me Quem Você É!
Capítulo 12: Vou Sair do Seu Espelho
Capítulo 13: Rumo ao Desconhecido
Capítulo 14: Sim, Capitã!
Capitulo 15: Todos a Bordo!
Capítulo 16: Pai VS Tutor
Capítulo 17: Novas Estrelas
Capítulo 18: Tudo como num Sonho
Capítulo 19: Agora ou Nunca

Capítulo 20: Fazer o que é Melhor

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By matt_escritor635

Outra vez o sol fazia sua viagem celestial por Dublin. Mas , desta vez, veio anunciar a Evandro que seu pupilo já estava desaparecido há 2 dias, já quase indo para o terceiro. Ele não sabia mais o que fazer, tinha revirado o apartamento inteiro atrás de pistas para desvendar o paradeiro de Raúl, mas nada encontrou.

A polícia local não poderia ser acionada, Evandro não podia chamar atenção para eles, não sabia até onde poderiam existir espiões do atual governo de Mônaco. 18 anos protegendo o príncipe prejudicaram a saúde mental do antigo Conselheiro.

Tanto que ele já não tinha ânimo para coisas básicas no dia a dia, como comer, ou sequer trabalhar. Ele tinha ligado para a M.Games e disse que teria que ficar umas semanas em casa, por estar com uma “gripe violentíssima”.

Quando ele cansava de procurar por coisas, se punha a pensar, encarar de frente os seus fantasmas, pensar no que diria a Raúl, quando o encontrasse. Porque ele não se daria por vencido tão facilmente. Não era possível que os dois garotos tivessem sido engolidos pela terra.

“Eu deveria ter dito a verdade desde o começo”, era seu pensamento recorrente, entre memórias dos tempos felizes que passava com o Garoto da Torre. Ele passava horas no quarto do pupilo, já tinha desistido de procurar por lá alguma pista, era só para se sentir perto dele outra vez.

Evandro ficou muito impactado com a carta que Raúl deixou no quadro de avisos. Ela estava em sua mão

- Nunca imaginei que eu pudesse ter feito tanto mal a ele, eu só queria protegê-lo – ele suspirou. – Mas só olhei para o meu medo. Eu deveria saber que ele já não era mais criança, deveria ter me atentado a como ele se sentia...coitado do meu filho... – abaixou a cabeça. Evandro estava se acostumando a chamar o menino de filho.

“Deus, me ajuda!! Não tenho mais pra onde ir. Se, ao menos, eu tivesse uma segunda chance com o Raúl...seria tudo diferente”, pensou ele, com uma lágrima escorrendo.

O que aconteceu a seguir poderia seria ser chamado de muitas coisas: “Deus”, “destino”, “sorte”, “universo”, “carma"...como queira chamar, mas Evandro foi tirado de seus pensamentos por um toque de celular, um número desconhecido ascendendo na tela.

Ele congelou, não tinha a menor ideia de quem poderia ser. Suas paranoias o faziam pensar que o governo tirano de Mônaco tinha conseguido rastreá-lo finalmente,  já que não costumava receber ligações de estranhos. Mas algo o forçava a atender, poderia ser algo sobre Raúl.

Ainda bem que assim o fez.

- Walt...quer dizer... Sr Diretor?? – ele disse, levantando do sofá – Endereço daqui?? Claro, anote aí.

A última coisa que Evandro pensou que podia acontecer era essa, o que não o impediu de marcar com aquele homem dalí duas horas.

 *    *    *    *    *    *    *    *    *    *    *    *    *    *    *    *    *

O apartamento todo arrumadinho e cheiroso não se parecia em nada a como estava naquela manhã. Mas era uma ocasião especial. Havia uma mesa de jantar para duas pessoas, e um lombo assado no centro, e uma jarra com suco de laranja natural, fresco.

O interfone tocou.

- Pode deixar subir – disse Evandro. O coração estava muito acelerado, poderia ser sua única chance de encontrar Raúl. Apesar da excitação e do nervosismo, uma dúvida pairava sobre a cabeça dele.

“Noite passada eu dei um murro na cara dele, o homem do telefone parecia muito diferente daquele...o que será que aconteceu??”.

Dois minutos depois, ouviu-se uma batida. Evandro foi até a porta, se ajeitando pelo caminho e a abriu.

Do outro lado, havia um homem de meia idade, barba grisalha por fazer, porém bem cuidada, cabelo ralo com grandes entradas laterais, ardentes olhos azuis, um sorriso sem graça, físico atlético e carregando uma travessa com salada de batata.

Realmente não parecia o mesmo homem da noite anterior, mas ele tinha o canto de um dos olhos roxo, pelo soco bem dado que Evandro deu. O Tutor se esforçou, e colocou um sorriso no rosto.

- Senhor Diretor, boa noite!! Entre, seja bem vindo.

- Com licença – disse ele, entrando e vendo aquela mesa decorada. Ele não acreditou. – Você fez isso tudo, pra mim?? – colocou a travessa em cima da mesa, num espaço vazio.

- Sim, é minha forma de me desculpar pelo que eu lhe causei – Evandro fechou a porta e se juntou ao homem na sala de jantar. – Sente-se, está em sua casa.

- Obrigado – Eles se sentaram.

A mesa estava magnífica, uma toalha dourada com dois pratos de porcelana em cor de creme, um belo lombo assado, a salada de batata de Walter e uma taça de cada lado da mesa, para o suco. Naquela noite, ninguém iria se embebedar.

- Eu mereci aquele soco. Eu...acho que também...te devo desculpas, por aquela noite.  Eu passei muito dos limites – disse o diretor. Evandro estava servindo o prato dele e quando ouviu o que ouviu, parou por um segundo, mas se recuperou rapidamente.

- Aceito as desculpas, nós dois nos exaltamos – ele entregou o prato para ele e começou a servir o próprio. – Espero que goste do que eu preparei.

- Está tudo uma delícia, obrigado – Walter disse entre garfadas – Não esperava uma recepção dessas, não depois do que houve entre nós.

- Gentileza gera gentileza, meu caro. Talvez, mostrando um pouco de gentileza, você veja que pode sair dessa sua armadura onde tanto se esconde – disse o Tutor.

As palavras de Evandro foram serenas, porém certeiras no peito do diretor. Esse não soube o que responder e só ficou em silêncio. Sabia que Evandro tinha razão, mas seu orgulho e prepotência não o deixaram admitir.

- O que eu não esperava era sua visita. Diga, o que o traz aqui?? Por quê veio?? – Evandro perguntou, semblante sério e decidido.

- Eu refleti um pouco sobre tudo o que aconteceu e, só porque Liam deu errado, não é justo eu deixar que você fique igual doido procurando o seu garoto, sendo que tenho uma pista de onde ele pode ter ido.

- O QUE?? – o Tutor se assustou – VOCÊ SABE ONDE ELES FORAM??

As suspeitas de Evandro estavam certas, mesmo assim  ele se engasgou com a comida. Teve que beber uns bons goles do seu suco para desengasgar.

- Calma, companheiro. Eu disse que tenho uma informação que pode dar uma pista para você. - advertiu Walter.

- Pois bem... - ele foi se recuperando - ... primeiro de tudo: Lírio não deu errado, só foi ele mesmo. Você precisa entender que o que aprendemos com os nossos pais, Walter, estava errado. Nós não podemos controlar a vida dos nossos filhos, não somos os donos deles.

- Vai querer ouvir o que eu tenho a dizer, ou não?? Porque, senão, eu vou embora agora!! – Walter disse ríspido e sem paciência .

Evandro se conteve, percebeu que estava exagerando,  apesar de que não estava dizendo nada mais que a verdade. Fez sinal para que o convidado continuasse.

- Liam tem uma amiga, no porto da cidade, a única amiga que ele tem, e , as vezes, eu o levava até a casa dessa garota. Talvez ela tenha alguma notícia dele, ou saiba se Raúl estava com ele ou não.

O rosto do tutor do Garoto da Torre se iluminou, num piscar de olhos. Finalmente uma pista concreta do paradeiro do pupilo. Seus olhos ameaçavam lacrimejar, mas ele se conteve.

- Muito obrigado pela informação, Walter. Se você puder anotar num papel o endereço, vou agradecer mais ainda.

- Não precisa, amanhã passo daqui, com meu carro, e levo você até lá – ofereceu Walter, com os olhos fechados, bebendo sua taça de suco logo em seguida.

Evandro ficou besta. Realmente o homem em sua frente não se parecia em nada com o asqueroso senhor da noite anterior. Era bom de mais para ser verdade. O que será que o tinha feito mudar da água para o vinho?? Era uma dúvida que não saía da cabeça dele, desde que o diretor apareceu em sua porta.

O tutor não perdeu tempo, aceitou a proposta e eles marcaram um horário de encontro. Afinal, Raúl era mais importante do que descobrir os motivos da mudança de um homem estranho.

“Raúl, aguenta firme, estou chegando!!”

*    *    *    *    *    *    *    *    *    *    *    *    *    *    *    *    *    * 

Eram 6 da manhã quando Evandro saiu do chuveiro para colocar sua roupa. Ele e Walter tinham combinado de se encontrar no térreo do Edifício Montevedro, para ir ao encontro da tal amiga de Lírio do Campo.

Ele não podia estar mais animado, ou ansioso. Afinal, era a única pista do paradeiro do menino. O Tutor só conseguia pensar nas piores coisas que podiam acontecer. Raúl poderia estar passando fome, perdido, com frio, ou pior...poderia ter sido sequestrado por espiões do Ditador de Mônaco. Se isso acontecesse, o Garoto-da-Torre certamente não estaria vivo. Era melhor não pensar nessa possibilidade.

Desde que fugiu com o bebê Raúl nos braços, Evandro nunca parou de pesquisar sobre sua terra natal e ver a situação que estava.  Era bastante difícil, pois a imprensa dentro do país era censurada quase que por completo,  mas o antigo Conselheiro Real ainda tinha um contato lá dentro, um amigo, que o abrigou junto com o príncipe depois do atentado. Esse contato, desde a fuga, o mantinha informado de tudo o que estava acontecendo lá dentro. E era cada vez pior.

Houve um tempo em que o líder Ditador até achou que o príncipe estivesse vivo, e o procurou por todo o principado e países vizinhos. Mas nem vestígios dele, então deram como morto mesmo. O amigo de Evandro disse que guardas foram até seu casebre, e ameaçaram incendiá-lo caso não entregasse o paradeiro de Raúl.  Por sorte, tiveram piedade dele e não fizeram nada, mas foi por um triz.

Era melhor voltar ao mundo real e se concentrar na oportunidade que ganhou.

O celular tocou, era Walter mandando mensagem. Ele já estava na recepção do edifício, esperando o Tutor. Evandro desceu e deu de cara com um carro enorme, preto, de luxo, teto solar e todas as coisas chiques que um carro de rico teria. Ele parou para soltar um “Wow!!”, não tinha como evitar.

O vidro da porta do passageiro desceu,  Walter estava com as mãos no volante e de óculos escuros.

- Vamos logo Evandro, pô!! Assim vamos nos atrasar!! – gritou o Diretor para o Tutor que se aproximava.

- Nossa, esse é o seu carro?? Há tempos eu não entro num assim – disse Evandro, se ajeitando no banco ao lado de Walter.

- Bem, vamos logo. – O diretor tratou logo de sair com o carro. Por algum motivo ele estava com muita pressa, como se pudessem de verdade encontrar os garotos onde iriam.

E lá se foram eles pela Avenida Principal, em direção ao horizonte.

O caminho até o porto estava silencioso de mais para Evandro, ele olhava o homem ao seu lado e tentava comparar com o da noite anterior e o escroto da outra noite, e era tudo uma grande incógnita. A expressão do motorista era sempre séria, impenetrável.

“Como pode uma pessoa mudar tanto de personalidade de uma hora pra outra??”, pensava ele. “Ele não precisa me ajudar, por quê ele tá fazendo isso??”

- Então...qual o nome da amiga do seu filho?? – perguntou.

- Não sei.

- Quando chegarmos lá, deixa que eu falo com ela, está bem?? – Evandro mudou para um tom tão seco quanto Walter.

- Ué,  por quê?? Acha que eu não sei falar com criança?? – O tom de voz de Walter começara a subir.

- Não, não!! É que você ultimamente não tem sido o Mister Simpatia – Evandro rebateu – ela pode não querer se abrir com a gente e nos contar algo sobre os garotos.

- Como é que é, mermão?? - Walter rangeu mais os dentes e apertou mais o volante, fazendo o carro balançar. Evandro ficou com medo de acontecer um acidente ali mesmo.

- O que eu quis dizer é que você está muito estressado agora, muito nervoso. E isso não vai ser bom pra nenhum dos dois. Deixa que eu convenço a garota. Confia em mim!

- Humpf!! Certo, eu espero no carro, então – bufou o motorista, acatando a sugestão.

Evandro deu um sorrisinho de lado, vendo que conseguiu convencer aquele homem. Pelo visto, seus dons de Conselheiro continuavam intactos, mesmo depois de tantos anos.

Ele tirou de letra o cargo de Conselheiro do Príncipe, sua alteza sempre o procurava, desde a situação mais delicada do principado, até a má simples e corriqueira. Evandro sempre esteve alí , dando apoio e sabedoria ao Príncipe, ele sempre sabia o que dizer e na hora certa. E era respeitado como merecia.

“Como eu queria que fosse o mesmo com o Raúl...um dia”, seus olhos começaram a ficar marejados. Mas ele logo foi tirado de seus pensamentos, com a voz de Walter.

- Chegamos, no Porto de Dublin.

Evandro se manteve alerta, olhando para a pequena construção de madeira, alí perto da beira do porto. Havia um enorme cruzeiro saindo de lá, naquele exato momento.

Finalmente estacionando, Walter apontou para a casinha de madeira verde

- É alí que a menina mora.

Evandro observou atento, e viu uma menina escorada na parede da varanda, observando o navio se afastar.

- Acho que aquela deve ser a amiga do Lírio – apontou o Tutor.

- Okay, vai lá falar com ela, então – Walter ainda parecia incomodado de ficar no carro – Mas vai rápido, não vou esperar o dia inteiro.

- Relaxa, não vou demorar – Evandro abriu a porta e se foi.

                  *    *    *    *    *    *    *    *    *    *    *    *    *    *    *    *

Brie estava observando a embarcação sumir no horizonte, em sua varanda, quando sentiu que alguém se aproximava. Ela virou-se e viu um homem, jovem, por volta de seus 30 e poucos anos, cabelos castanhos, óculos redondo prateado, vestido com uma camisa e um colete, e uma calça jeans.

Subitamente, ela recuou, mas ficou atenta ao que ele faria a seguir.

- Olá, menina!! – falou Evandro – você mora aqui??

- Quem é você,  o que quer?? – ela disse, pegando seu remo que estava bem ao lado da porta.

- Eu preciso de ajuda. Estou procurando dois garotos, um tem cabelos morenos e o outro cabelos louros. E me disseram que poderiam ter vindo para cá.

Na hora a expressão de Brie se converteu de desconfiança para susto. Só poderia estar falando de Raúl e Lírio.

- Eu sinto muito, não vi nenhum garoto assim por aqui, melhor você ir embora, cara.

- Não, por favor, você precisa se lembrar. Eu tô desesperado em busca do meu menino, e a sua casa foi a única pista que me deram – Evandro não deixaria sua única chance de encontrar o Garoto da Torre esvair entre seus dedos – Eu não posso sair daqui de mãos vazias.

Brígida ficou observando o homem de cima a baixo, ainda com o remo na mão, bem altiva. Ele não poderia ser o pai de Lírio, não batia com a descrição que ele lhe dera. O homem a sua frente realmente parecia desesperado, estava com os olhos vermelhos, ameaçando transbordar em lágrimas, não parecia algo falso. As pernas já começavam a tremer de ansiedade. Talvez fosse o tutor de Raúl.

- Quais os nomes deles?? – perguntou ela.

- Raúl Garcia e Lírio.

Não restava dúvida, era sobre os dois, e parecia que ele sabia do segredo de Lírio. O engraçado era que eles tinham acabado de sair no navio, se ele tivesse chegado dez minutos antes, que fosse, teria encontrado os dois.  A garota achava incrível como o destino era.

- Olha moço... – ela ia tentar dizer alguma coisa, quando a porta de casa abriu e seu pai saiu de lá, interrompendo-a.

- O que está acontecendo aqui, Brígida?? – perguntou ele, até que viu Evandro alí parado – Quem é esse senhor??

- Pai, não precisa se preocupar, eu já estava mandando ele embora.

- Senhor, eu estou a procura de dois garotos, que desapareceram há mais de 2 dias. E a única referência que deram foi a casa do senhor. Por acaso eles não estiveram por aqui?? – Evandro pegou do bolso a foto do baile do colégio de Lírio, e mostrou ao pai de Brie – Eu estou desesperado atrás deles.

Quando o pai de Brie viu os meninos da foto, logo os reconheceu.

- Sim, eles estiveram aqui, ontem a noite mesmo foi a última vez que os vi.

Aquelas palavras eram como uma gota de água doce na boca do Tutor, em seu deserto de preocupação.

- Por favor, me conte tudo o que sabe sobre eles – Evandro estava quase implorando, com um brilho no olhar. Que foi reparado pelo outro homem, a sua frente.

‐ Venha, entre e sente-se. Temos muito o que conversar – disse o pai de Brie.

A garota ficou de queixo caído,  o plano deles podia dar todo errado. Ela tinha prometido que guardaria segredo, pelos meninos. Mas aquele homem parecia estar mesmo preocupado e não era justo deixar ele daquele jeito, podendo ajudar. Ela estava dividida.

Walter podia ver que Evandro estava entrando na casa, e ficou inquieto. Pegou o celular e mandou logo uma mensagem para o Tutor, perguntando o que estava acontecendo.

“Relaxa, deixa comigo”, foi tudo o que Evandro pôde responder ante de sentar a mesa da cozinha.

- Sente-se – ofereceu o pai de Brie – Aceita um café, uma água...?

- Uma água, obrigado – respondeu o homem, sentando-se. Logo um copo de água estava servido a sua frente. Brie ficou escorada na entrada da cozinha, apreensiva.

- Olha, os meninos estiveram aqui. Ontem e anteontem também, eles e a minha filha estavam brincando aqui no porto – ele começou a falar.

Aquelas palavras atravessaram Evandro de forma certeira, finalmente algo concreto sobre onde Raúl esteve esse tempo todo.

- E o Raul, ele estava bem? – perguntou Evandro preocupado.

- Sim, sim, os dois estavam bem, não se preocupe, pelo menos enquanto estavam nesta casa. Mas é estranho...

- O quê é estranho?! – A expressão de Evandro se converteu em espanto.

- Eles disseram que os pais estavam viajando a negócios, você seria o pai de algum deles? – questionou.

- Eu sou...tutor... do Raúl, o de cabelo preto. O pai do Lirio está do lado de fora, num carro, na entrada do porto.

Evandro achou melhor contar mais sobre ele e Raúl, sem revelar a parte da realeza e da fuga. O pai da pequena pescadora pareceu convencido, considerando o brilho no olhar de Evandro ao falar do Garoto da Torre. O Tutor falou sobre a vida que os dois levavam juntos na Torr...quer dizer, no apartamento, e falou da discussão que eles tiveram. Explicou que queria encontrá-lo a qualquer custo, para fazer as pazes.

- Agora, eu suplico, senhor, eu preciso saber para onde os meninos foram. Vocês sabem, não sabem??

- Filha..? – O pai dela a olhou como se jogando a responsabilidade em cima da garota.

Bastou essa única palavra de seu pai, e tudo o que foi dito, para que a menina se desse conta de que o melhor a se fazer era contar logo a verdade. Ela tinha prometido guardar segredo pois imaginava que Raúl sofresse nas mãos do Tutor, por isso tinha fugido. Mas o homem que estava a sua frente era outra pessoa, claro que tinha defeitos, mas estava na cara que estava arrependido e amava o menino.

Brie deu um passo a frente, chorando em silêncio

- Bem...eles...eles...- A voz dela estava embargada, e tinha dificuldade em encontrar as palavras – Eles...partiram num navio...que saiu do porto esta manhã.

- O QUÊ?? – Evandro saltou da cadeira – COMO ISSO ACONTECEU?? PRA ONDE FOI O MEU FILHO??

- O que vocês fizeram, Brígida?? – disse o pai, severamente – Como que você coloca dois meninos sozinhos dentro de um navio??

Por dentro, a menina estava entrando em desespero, mas ela tentava, com todas as suas forças, formar as palavras certas, em meio às lágrimas.

- O avião que partiu hoje, era de intercâmbio e estava levando uma turma da minha escola...para a FRANÇA - Os dois homens ficaram e boca aberta – eu os coloquei lá dentro dando dois conjuntos de uniforme dos meus irmãos e fiz duas identidades falsas pra eles

- O QUE??!! – foi a vez do pai de Brie ter um ataque – Você deu os uniformes dos seus irmãos e fez identidades falsas?? Tá ficando louca menina, o que tem na cabeça?? – ele gritava e batia na mesa.

 Evandro estava atordoado, parecia que os gritos e o barulho estavam bem distante dele.

“França?? Mas por quê ele iria pra...”, ele mesmo cortou eu raciocínio, ao lembrar da carta de Raúl: “...cumprir a missão que minha mãe me deu...” ; “o meu povo precisa de mim”. “Bingo!!”, concluiu ele.

- Onde exatamente o Navio vai atracar? – perguntou um desesperado Evandro.

- N-Normandia, senhor – gaguejou Brie.

- Já sei para onde ele está indo! – exclamou o Tutor – Preciso ir, obrigado pela ajuda de vocês, não irei esquecer.

- Espere, não precisa de ajuda para encontrá-los? - indagou o pai da menina.

- Não senhor, não se preocupe, o pai de Lírio também está comigo, mas obrigado mesmo assim.

- Muito bem então, meu jovem, boa sorte na sua busca.

- Obrigado senhor, obrigado menina, e perdão pelo incômodo – ele passou pela porta naquele instante e sumiu. Brie soltou um suspiro e uma última lágrima.

Andando rapidamente pelo porto, Evandro sentiu a brisa fresca do mar, já era quase metade da tarde e o céu estava deslumbrante, decorado com suas nuvens brancas de vários formatos. Um clima condizente com o seu humor.

Finalmente as coisas estavam dando certo para ele, seu corpo estava em chamas, por dentro e era até um pouco difícil raciocinar. Pelo menos conseguiu pegar o celular.

Tinha tantas notificações de Walter que o celular tinha travado, Evandro deu de ombros e discou o número.

‐ Walter, liga o carro, precisamos pegar um avião.

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