Corte de Labirintos de Rosas...

By FS_Violet_

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"Eu estava em um jardim que mais parecia um labirinto, o mesmo era coberto de espinhos. Vi na minha frente um... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Bônus - 1
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
aviso
Capítulo 30
aviso
Capítulo 31
Capítulo 32

Capítulo 4

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By FS_Violet_

{Primrose}

O vidro da mesa no jardim refletia a luz do Sol, a grama no tom de verde vivo se espalhava ao meu redor, e o som dos pássaros cantando pareciam me despertar. Me recostei na cadeira alisando meu vestido azul claro, como o céu no início da manhã.

Haviam se passado três dias desde de o baile. E esses três últimos dias... Bom, na realidade, foram pouco empolgantes. Me vestia, caminhava pelos jardins, lia um pouco, via meu pai durante o jantar e ia dormir para fazer o mesmo no dia seguinte.

A Grã-Sacerdotisa que havia dito que ficaria alguns dias comigo, tinha partido na manhã posterior ao baile, justificando que estaria ocupada no templo, mas voltaria na próxima semana.

Havia acabado de almoçar, faria mais uma refeição sozinha se não fosse por Ísis. Vi a feérica de cabelos negros como ônix, vindo em minha direção e me perguntando se eu precisava de algo. Ergui um pouco a sobrancelha dizendo que sim, queria que ela realizasse aquela refeição comigo.

Notei que a peguei despreparada, e a deixei um pouco desconcertada. Mesmo assim, depois de eu insistir, ela se sentou e se serviu. Apesar de conversarmos um pouco, principalmente de minha parte, o almoço foi em geral silencioso, mas um tipo de silêncio confortável.

Apenas quando estávamos quase terminando, percebi que ela ficou mais à vontade, e começou a falar mais, o que me deixou feliz. Em seguida, ela saiu às pressas, dizendo que precisava voltar ao trabalho, eu assenti e agradeci a ela por ter perdido alguns minutos de seus afazeres para me fazer companhia.

Quando me encontrei novamente sozinha encarando a mesa de vidro, decidi finalmente me levantar, e fui até a biblioteca. A mesma biblioteca que já tive aulas com vários tutores, sobre vários assuntos. Já devia ter estudado e lido a maioria daqueles livros. Sem contar as aulas de etiqueta, e algumas aulas de magia que eu tive lá.

Eu já estava avançada em minhas aulas, o que deixava meus tutores e meu pai felizes. Costumava gostar delas, eram interessantes, e faziam com que minha mente tivesse distrações.

Além disso, adorava ler livros com histórias de aventuras e romances. Sabia que não eram reais, mas quando eu me encontrava realmente perdida naquelas palavras era como se eu vivesse aquelas histórias junto com eles, me sentia próxima deles, e não tão... sozinha.

Cantarolei baixo ao pegar uma cadeira de madeira da escrivaninha e subir na mesma para alcançar um livro no alto da estante. Peguei o mesmo romance que já havia lido várias vezes.

Deitei em um pequeno sofá de veludo verde escuro. Me senti engolida por seu tecido, mas principalmente pelo romance cativante que eu começava a ler.

Ouvi a porta da biblioteca sendo aberta e passos se aproximarem. Não desviei meu olhar do livro, até eu ouvir um:

— Olá, vossa alteza - a voz familiar disse, claramente zombando

Abaixei meu livro, franzindo minhas sobrancelhas e me sentando em um movimento rápido. Jasper estava parado, a uns bons metros de distância, com os braços cruzados na frente do corpo, sorrindo um pouco. Meu rosto relaxou ao vê-lo.

— Fala sério - disse, revirando os olhos - Vossa alteza?

— Claro - ele respondeu, rindo um pouco — Não sou mal educado com a princesa

— O que faz aqui? - perguntei, ignorando o que ele havia dito, e colocando meu livro no sofá, me levantando em seguida - Não deveria estar treinando?

Jasper fazia parte da guarda da Corte e passava a maior parte do tempo treinando. Ele nasceu lá, igual a mim. Seu pai começou a servir meu pai quando éramos crianças, e foi assim que nos conhecemos.

— Sim, claro - ele disse, sentando na cadeira de madeira que eu havia usado para alcançar o livro, então relaxou nela, suspirando cansado — Eu estava, dei uma pausa - ele disse calmo, deixando a cabeça cair para trás e fechando os olhos

— Que feio - falei séria me aproximando, e a próxima coisa que fiz foi dar um tapinha em sua testa, o que fez ele abrir os olhos no mesmo instante — Fugindo do treinamento... Vou te dedurar para o meu pai - disse, claramente brincando, e coloquei minhas mãos na cintura

— Nem sonhe - ele arrumou melhor a postura na cadeira, rindo fraco — Queria saber, quer treinar comigo hoje?

— Sim! - respondi animada, sem sequer pensar muito

Treinava com Jasper faz alguns anos, tínhamos 12 anos quando começamos. Um dia eu estava espiando os machos treinarem e Jasper me viu tentando imitá-lo, contei a ele que queria aprender também, mas quando pedi a meu pai ele se sentiu desconfortável, e desconversou até eu me desanimar e desistir. Minha mãe não estava mais viva, e quando estava, não lembro de ver a mesma treinando, então não tive ninguém para me ajudar ou apoiar.

Na época pensei que Jasper fosse rir de mim, ou dizer que aquilo não era coisa para uma dama, mas ele apenas disse que me ajudaria se eu quisesse.

— Então, troque de roupa - ele disse, se levantando e depois me olhou de cima a baixo — A não ser que prefira treinar com esse lindo vestidinho - ele sorriu, zombando

— Vaza daqui - disse lentamente, cruzando os braços na frente do corpo e indiquei a porta com a cabeça

Ele fez uma reverência para brincar comigo, que eu respondi com uma revirada de olhos, e depois saiu assoviando.

Andei em ritmo disparado até meu quarto e abri meu guarda-roupa lotado de vestidos. Rosa, amarelo, verde, lilás. De todas as cores vivas da corte primaveril. Arranquei do fundo do armário a roupa de couro que Jasper havia arrumado para mim, para que eu pudesse treinar com ele, tentei pagá-lo com algumas de minhas joias, mas ele recusou firmemente.

Coloquei minha roupa rapidamente e fui a seu encontro até a floresta, que era onde nós treinávamos, onde ninguém nos veria.

No caminho para sair da mansão, notei que ele havia esperado o horário de troca de sentinelas para vir falar comigo, e para que ninguém me visse saindo com a roupa de treinamento depois. Nós dois já tínhamos praticamente decorado o horário que as sentinelas descansavam, para que soubéssemos o horário de ir e voltar.

Não costumavam ter sentinelas na porta do meu quarto, ou em meu corredor, pelo menos, não durante o dia. Mas havia vários espalhados pela mansão e principalmente nas portas de entrada. Então, Jasper e eu, estudamos os horários que eu poderia sair sem grandes complicações.

Assim que o encontrei na floresta ele jogou uma espada para mim, a qual peguei no ar. Lembro-me dele fazer isso comigo desde sempre, no começo eu sempre deixava ela cair ou simplesmente desviava dela, isso, graças a mãe, parou de acontecer.

— Vamos lá - ele disse fazendo um movimento com a espada, e se colocando em posição logo em seguida.

Fiz a mesma coisa que ele. Nos encaramos, e eu semicerrei os olhos para ele. Ele me atacou rapidamente e eu o bloqueei. Sorri convencida e apertei mais forte o cabo da espada.

— Talvez seu treinamento já não esteja fazendo mais tanto efeito - provoquei o mesmo — Porque eu estou ficando tão boa quanto-

Ele me chutou com um pouco de força no joelho, o bastante para que ele se dobrasse um pouco e me fizesse perder o equilíbrio. Cortando minha fala. Nossas espadas se afastaram e quando tentei atacar contra ele, ele foi mais rápido e me fez cair. Então, colocou rapidamente a espada em minha garganta.

— O que ia dizendo? - ele perguntou, dessa vez, ele quem sorriu provocativo. Em seguida,  tirou a espada de tão perto de mim — Melhor menos papo, e mais ação

— Idiota - resmunguei, e ele me ajudou a levantar, me oferecendo a mão — Vamos de novo - disse voltando a me colocar em posição

Quando o sol começou a se pôr e meus joelhos começaram a implorar por descanso, pedi para pararmos. Me sentei tentando recuperar o ar, e ao mesmo tempo, esquecer quantas vezes Jasper havia me derrubado.

— Qual é? - ele reclamou, colocando as mãos na cintura — Estava começando a ficar legal

— Claro - bufei irritada, cruzando minhas pernas — Você adora me jogar no chão e dizer que venceu

Ele riu e se sentou na minha frente. Encarei seus cabelos curtos num tom de madeira mais claro que ele parecia manter do mesmo jeito desde que éramos crianças, e seus olhos que tinham a cor parecida com caramelo.

— Você está ficando boa, Prim - ele garantiu, e então se apoiou com as mãos na grama, suspirando fraco em seguida — Eu treino quase o dia inteiro, desde de sempre, eu preciso ser bom nisso. Mas você está melhorando bastante. Não seja tão sensível. - ele terminou, sorrindo fraco

A vontade de treinar realmente surgiu forte em mim quando eu comecei a estudar sobre outras cortes e vi a quantidade de fêmeas guerreiras que existiam, aquilo abriu meus olhos de alguma forma.

Então, treinávamos de tudo, jogar adagas era um dos meus preferidos, talvez porque eu fosse melhor. Arco e flecha, espadas e combate corpo-a-corpo, esse era claramente o mais cansativo e difícil, mas parecia ser o favorito de Jasper.

Infelizmente, não treinamos com tanta frequência quanto eu gostaria, porque Jasper tinha suas obrigações, não estava disponível o tempo todo, óbvio. E eu não podia sair quando quisesse ou por quanto tempo eu quisesse. Por mais que a maioria soubesse que eu passava muito tempo no jardim ou dentro da biblioteca, se eu sumisse por muito tempo começariam a me procurar e meu treinamento iria por água abaixo.

Então, sabia que não seria tão boa quanto os guardas que treinavam ali o dia inteiro, mas eu queria tentar. Queria ao menos saber me defender. Apesar de ouvir de meu pai que não era necessário, pois ele me defenderia, ou alguma sentinela. No começo, isso me convenceu, mas quando li sobre tantas fêmeas que lutaram na guerra, que não dependeram de sentinelas para defendê-las, eu quis aprender também.

Sorri fraco para Jasper em agradecimento e compreensão. Então, ouvi um barulho atrás da árvore e quando senti o seu cheiro. Sabia exatamente o que era, ou melhor, quem. Jasper não parecia ter escutado.

— Tudo bem... - disse, levemente distraída — Acho que você precisa voltar agora, é seu turno, não?

— Sim, claro - ele se levantou, tirando a grama que havia ficado em seu uniforme — Vamos?

— Acho que quero ficar um pouco aqui - disse, abraçando meus joelhos. Jasper me encarou — Não se preocupe, tenho quase certeza que daqui a pouco a maioria das sentinelas vão fazer uma pausa para comer. Não vou ser pega... Já fiz isso outras vezes

— Certo, mas - ele começou, meio apreensivo, e olhou para o céu que começava a escurecer — Não espere ficar muito escuro, tudo bem?

Assenti. Ele pegou as espadas e se despediu, reforçando novamente para que eu não demorasse para voltar. Eu assenti novamente rindo, o que eu faria seria rápido, sabia que não podia ficar muito mais tempo lá. Jasper pareceu se convencer e saiu, em direção à mansão.

Quando seus passos ficaram inaudíveis, eu olhei para os lados e chamei:

— Fenris - olhei para a árvore que eu havia escutado o barulho minutos antes — É você?

Depois do que sequer foram alguns segundos, pulou em mim um grande lobo de pelo branco com os olhos amarelados. O impacto dele em cima de mim me fez deitar na grama, provavelmente bagunçando toda trança que segurava meu cabelo.

Ele começou a lamber meu rosto e não pude evitar rir alto.

— Calma - disse entre risos, ele parou de me lamber, e se distanciou um pouco, mas continuou me encarando profundamente — Feliz em me ver? - perguntei, erguendo uma sobrancelha

Ele ronronou em resposta e depois saiu de cima de mim, me deixando sentar. Passei as mãos por sua pelagem fazendo carinho.

Conheço Fenris há algum tempo. Um dia, eu devia ter uns 14 anos, estava pronta para treinar com Jasper quando o mesmo me disse que não poderia, pois seu pai precisava dele. Levemente frustrada, tive a ideia de ir até a floresta treinar sozinha. Peguei meu arco e algumas flechas. Sorrateiramente, consegui ir até os estábulos e montei em minha égua. Sai com ela atirando flechas pelas árvores, e sentindo o vento forte bater em meu rosto.

Havia parado para descansar, e estava descendo da égua quando comecei a ouvir alguma coisa estranha atrás das árvores, poderia ser um Bogge, das histórias que eu havia escutado. Essa distração fez com que eu me desequilibrasse e caísse no solo, virando meu pé com o movimento. Resmunguei de dor.

Então, quando aquela "coisa" finalmente saiu de onde se escondia, minha boca se abriu e fechou em surpresa ao ver um lindo lobo de pelagem branca e olhos amarelados. Ele me olhou e rosnou. Minha égua relinchou com a presença do animal e partiu em disparada me deixando. Gritei para que ela voltasse, assustada, mas ela já parecia estar longe.

Senti meu olhos marejaram, tentei levantar e gemi de dor.

O lobo se aproximou lentamente. Não havia nada para me defender, já haviam acabado minhas flechas, e meu arco não seria muito útil em minha defesa contra o animal. Ele começou a farejar e farejar. Foi se aproximando aos poucos. Até chegar em minha mão, pensei que ele a ia mordê-la. Mas ele começou a lambe-la fazendo cosquinhas, quase ri.

Desde então, consegui escapar de vez em quando para vir sozinha e brincar com ele. Ele era extremamente mansinho comigo. Mas se qualquer outro se aproximava ele ia embora ou rosnava e pensava em atacar.

Quando o conheci, ele obviamente não tinha um nome, então eu mesma escolhi. Ele pareceu gostar de Fenris, pois deu várias voltas ao redor de mim animado quando o chamei assim, então ficou Fenris.

— Não posso ficar muito hoje, Fenris - disse, fazendo carinho atrás de sua orelha, ele ronronou um pouco — Se alguém for me procurar e ver que eu não estou no jardins ou na mansão... - disse, suspirando cansada ao pensar

Ele se afastou um pouco me encarando, parecia esperar meu próximo movimento. Então, finalmente me levantei.

— Quer apostar corrida comigo até a mansão? - perguntei, sorrindo de lado, e ele começou a correr em minha volta — Vou levar isso como um sim - constatei, sorrindo

Ele obviamente ganhou de mim, ganhava todas as vezes. Cheguei ofegante, e senti minhas pernas doendo mais do que antes, mas sorri para ele mesmo assim. Me despedindo em seguida.

Quando entrei na mansão tirei minhas botas para evitar o barulho alto. Como estava pensando, as sentinelas, provavelmente estavam fazendo uma pausa, então consegui chegar ao meu quarto sem complicações.

Fechei a porta aliviada atrás de mim aliviada.

Isso até Amélia sair do meu banheiro. Ela me encarou e eu arregalei os olhos. Sua expressão parecia pacífica enquanto eu começava a gaguejar minhas desculpas.

— Sabe o que é... eu... estava... - apontei para mim, pensando no que dizer — Essas roupas são para...

Ela fez um gesto com a mão como se dispensasse as minhas tentativas de mentiras. Em seguida sorriu fraco balançando a cabeça negativamente.

— O que faço com você Primrose? - ela colocou as mãos na cintura, e eu a encarei confusa, sem saber o que dizer — Acabei de preparar seu banho. Tire essa roupa para que eu possa lavá-la.

Pisquei algumas vezes abrindo e fechando a boca com receio de falar. Finalmente me mexi para tirar minhas vestes.

— Deixe-as no cesto - ela indicou com a mão o cesto de roupas que estava perto da minha cama, então andou na minha direção abrindo a porta para sair, mas antes disse — Depois deixo ela para você atrás de seus vestidos. Bom, você sabe onde é.

Então ela saiu. Amélia sabia. Provavelmente sabia de todas as minhas "fugas". Eu obviamente não fui tão discreta quanto pensei.

Há quanto tempo ela sabe?

Tirei a roupa de couro e finalmente entrei na banheira sentindo a água morna.

Ela não havia contado para meu pai até onde eu sabia. Quase sorri ao pensar quantas vezes ela pode já ter me acobertado durante essas minhas saídas.

Depois do banho me preparei para jantar. Amélia veio pegar minhas roupas e arrumar meus cabelos. Ela não disse mais nada sobre o assunto, então, também achei melhor que fosse assim.

Quando cheguei à mesa de jantar, meu pai havia chegado antes de mim e parecia estar me esperando para começar a comer. Ele parecia muito pensativo, e encarava a madeira da mesa com um olhar sério.

— Boa noite - disse, chamando sua atenção, e me sentando na cadeira ao seu lado

— Boa noite, flor - ele disse, parecendo sair um pouco de seus pensamentos, levantando o olhar para mim

Ele ficou um pouco em silêncio e deixei que ele me servisse. Quando comecei a comer o vi fazendo um sinal para dispensar qualquer sentinela ou criada que estivesse lá. Mostrando que ele queria privacidade.

— Aconteceu alguma coisa? - perguntei, quando a última criada saiu pela porta

— Estive pensando, filha - meu pai começou. E eu mexi em minha vagem no prato — Tudo ocorreu muito bem na última festa que tivemos aqui - ele não mencionou o ocorrido que havia deixado ele preocupado, mas sabia que isso tinha se passado por sua cabeça pois ele demorou para continuar a falar

Bebi um gole d'água. E voltei a encarar meu prato.

— Bom - ele suspirou, também não me encarando — Eu recebi um convite para um baile na Corte Diurna - meus olhos se arregalaram um pouco para minha comida, então eu finalmente virei meu olhar para ele 

Ele não havia sequer tocado na comida ainda.

— Você me disse uma vez o quanto gostaria de visitá-la, então, bom, se você quiser ir, acho que podemos dar um jeito—

— Sério?! - perguntei, o cortando, e abrindo um pouco a boca em surpresa — Eu posso ir?!

— Sim - ele confirmou, olhando para mim, ainda um pouco inexpressivo, como se não tivesse certeza do que eu acharia daquilo

Não consegui me conter e um sorriso enorme tomou conta do meu rosto. Não pensei muito antes de empurrar minha cadeira para trás e o abraçar correndo.

— Obrigada pai! - disse animada, e senti ele me abraçar de volta — Muito obrigada! Não consigo te explicar o quanto estou feliz!

Me desvencilhei do abraço e ele sorriu para mim.

— Você não costuma se animar muito com as festas daqui - ele comentou com um sorriso menor — Espero que se comporte bem - ele ergueu uma sobrancelha para mim, ainda sorrindo leve

— Eu vou, prometo - disse, assentindo com confiança — Obrigada mais uma vez

Ele apenas acenou com a cabeça e pareceu finalmente relaxar, pegando o garfo para começar a comer.

Me sentei na cadeira quase não conseguindo conter minha animação e sorri ao pensar que seria a primeira vez fora de minha corte. Bati meus pés ansiosamente no chão. Mal podia acreditar, eu iria conhecer finalmente outro lugar. Quem sabe até faria... amigos novos.

Minha mente se encheu de expectativas e possibilidades para o tal baile. Sabia que iria para a cama hoje e nos próximos dias pensando nele também, e o que me aguardava lá.

{Nyx}

Levei mais um mirtilo até minha boca enquanto eu estava sentado perto da janela encarando Velaris finalmente acordar. O dia começava a amanhecer e eu já estava bem desperto.

Estava vestido apenas uma calça preta de moletom. Deixando minhas tatuagens à mostra. Eu era apenas um quarto Illyriano, mas meus tios me treinaram desde cedo como um.

Quando os IIIyrianos são iniciados como guerreiros, eles recebem certas tatuagens para dar sorte e glória no campo de batalha. Ganhei mais tatuagens quando participei do Rito de Sangue, eu tinha completado 27 anos. Não parecia que fazia tanto tempo, mas na realidade, já se fazem 9 anos. Eu queria participar do Rito, queria mesmo, apesar de saber o quanto era difícil, sentia que precisava.

Lyra sentia o mesmo, e quis participar também. Catrin depois de um tempinho se convenceu, o que fez Ethan se sentir mais confiante para ir também. Apesar de serem mais novos que eu, sabia que eles iriam bem.

Foi uma experiência assustadora, preciso dizer. Ter minhas asas atadas, não ter magia, ou nenhum suprimento foi ruim, mas, mais assustador ainda, foi ser completamente separado de meus primos.

Felizmente nos encontramos lá, e conseguimos acabar o rito juntos, ajudando uns aos outros, como fomos ensinados desde sempre a fazer. Acredito que foi isso que nos salvou.

Além de ganharmos mais tatuagens, eles também ganharam sifões. Tentei usá-los também. Para usar um sifão, seu poder deve ser compatível com ele, mas meu poder sobrecarregava todos eles, fazendo com que eles quebrassem, assim como acontece com meu pai.

— Bom dia - meu pai disse ao chegar na sala, cortando meus pensamentos. Ele me encarou com as sobrancelhas franzidas — Por que está acordado uma hora dessas?

— Não consegui dormir muito bem - revelei, mastigando outra frutinha, e ele assentiu em compreensão — Você?

— Ah - ele suspirou, sorrindo de lado, um sorriso que eu conhecia bem — Tive uma noite agitada

Não demorou muito para eu entender do que ele estava falando. Isso fez com que eu quase engasgasse com o mirtilo na boca.

— Caldeirão pai! Que nojo - resmunguei para ele fazendo uma careta, e depois me sentei melhor quase que irritado — E eu fiquei sabendo na verdade... sabe, vocês são barulhentos

Ele deu de ombros levemente, como se dissesse "problema seu". Mas depois sorriu murmurando um pedido de desculpas.

Revirei os olhos para ele e o mesmo ignorou.

— Por que não dormiu direito? - ele perguntou, lembrando do que eu havia falado

Engoli em seco. Pensando se era uma boa ideia dizer aquilo em voz alta, poderia tornar tudo real demais, e eu não sabia se queria aquilo.

Minha falta de resposta fez com que ele me encarasse confuso, tombando a cabeça para o lado. Meu olhar foi para minhas frutas que eu tinha colocado em uma vasilha, e tentei afastar qualquer pensamento que me impedisse quando finalmente falei.

— Sabe... eu tenho tido uns sonhos... - levantei a cabeça para a janela, e senti o olhar dele fixo e em mim — Sempre os mesmos, com a mesma... - demorei para completar — Mesma fêmea, mas eu não conheço essa fêmea. Não conheço direito.

Continuei a encarar a cidade lá fora, não muito certo do que havia dito, ou do que eu queria que ele dissesse. Ele me encarou por bastante tempo, até se sentar ao meu lado.

— E são sonhos ruins? - ele perguntou, pegando um mirtilo, tentando fazer pouco caso, mas vi que ele estava curioso.

— Não, mas... Eles não fazem sentido, não entendo porque... são sempre iguais - o encarei — É como se eu sempre tentasse chegar até ela, e quando eu estou perto... Eu acordo

Ele mastigou a fruta e riu. Começou com risadinhas baixas até virar quase uma gargalhada. 

O encarei indignado, com uma expressão enorme de confusão passando por meu rosto. 

Como ele poderia rir daquilo? Eu mal conseguia dormir a noite e ele estava achando engraçado?

— Uau, obrigado pai, ajudou muito - disse bufando, me preparando para levantar

Ele tentou controlar a risada, mas vi que estava sendo quase impossível para ele. Ele me segurou antes que eu saísse.

— Desculpa filho... - ele disse, diminuindo o sorriso, e voltei a me sentar melhor — É que... Deixa pra lá, vai ser mais divertido ver você tentar sozinho - ele disse mais baixo

Franzi minhas sobrancelhas. Tentei chegar até sua mente, mas ele foi mais rápido.

— Ei! Isso é trapacear - ele disse me empurrando de sua mente, me fazendo revirar os olhos pela falta de resposta. Ele finalmente relaxou e se voltou para mim com um olhar calmo, sincero — Talvez devesse esperar para ver o que acontece, tenho certeza que eles vão fazer sentido.

Antes que eu pudesse responder, minha mãe entrou na sala.

— Do que você tanto ri Rhysand? - ela perguntou, com um sorriso no canto dos lábios e colocando a mão na cintura, depois olhou para mim — Nyx não parece estar achando tão engraçado

— Nada, Feyre querida - ele foi em sua direção e beijou sua bochecha, em seguida dizendo mais baixo — Nyx só estava reclamando de como somos barulhentos

Ela olhou para mim e para meu pai algumas vezes. Ficando levemente vermelha. Abrindo e fechando a boca para depois cruzar os braços na frente do corpo, dizendo:

— Barulhentos? - perguntou, mais para si mesma — Apenas seu pai - ela apontou para ele sorrindo um pouco

— Ah, Feyre querida, não consigo me conter quando você-

— Sinceramente - resmunguei, o cortando e fazendo o barulho que ia vomitar

Eles apenas riram de mim. Minha mãe decidiu mudar o assunto e eu fiquei grato por isso.

— Bom, Mor me convidou para fazer compras - ela anunciou, claramente feliz — Acho que Emerie cansou de acompanhar a parceira em 50 lojas diferentes. Mas, e você vai sair hoje? - minha mãe me perguntou

— Acho que hoje não - disse, passando a mão por meus cabelos— Dá última vez que vi Lyra, ela estava pouco sóbria. Catrin e Ethan devem estar de ressaca também.

Minha mãe pareceu pensativa, e finalmente disse:

— Na verdade, pensei que você não passaria a noite aqui - ela ergueu o olhar para mim como se sugerisse algo. Apenas ri para ela balançando a cabeça. O que fez ela desistir do assunto antes mesmo de entrar nele — Bom, pode continuar o quadro que começou querido

Concordei com a cabeça. Meu pai me olhou um pouco curioso, ele não parecia prestar muita atenção nesta conversa, mas sim na anterior que eu havia tido somente com ele. Ele parecia saber de algo.

Vai ser mais divertido ver você tentar sozinho

Queria arrancar mais algo dele, mas sabia que não conseguiria. Então apenas voltei a olhar para minha mãe e a ouvi falar sobre o quanto ela queria ver sua outra irmã mais velha, a tia Elain, no baile da Corte Diurna.

Sabia que seria mais um baile comum. Mas uma parte de mim parecia bastante ansioso para o evento, não sabendo justificar exatamente o porquê. Eu teria que esperar para saber. O que meu pai havia dito talvez estivesse certo. Vou esperar para ver o que acontece.

Oioi leitores!

Feliz ano novo!

Espero que tenham gostado do capítulo de hoje, o primeiro do ano! Desculpa qualquer erro, e o próximo capítulo já está em processo, e promete kkkk

Não se esqueçam de votar e comentar. Não sejam leitores fantasmas kkk

É isso, obrigada!

Beijos <3

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