𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.

By akastylessgirl

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Uma noite. Foi tudo o que precisou. Agora eles tem um acordo. • •... More

antes de ler / teaser
01 [ca•su•al]
02 [ten•são]
03 [pro•pos•ta]
04 [ex•ce•ção] (!)
05 [ca•pri•cho]
06 [a•cor•do]
07 [ris•pi•dez] (!)
08 [de•cep•ção]
09 [re•gra]
10 [em•pá•fi•a]
11 [pro•i•bi•do] (!)
12 [hos•ti•li•da•de]
13 [ge•ne•ro•si•da•de] (!)
14 [con•se•quên•ci•a] (!)
15 [hu•mil•da•de]
16 [in•si•di•o•so]
17 [do•mi•na•ção] (!)
18 [con•des•cen•den•te]
19 [a•fron•ta]
20 [ex•clu•si•vo] (!)
21 [a•lu•ci•nó•ge•no] (!)
22 [a•me•a•ça]
23 [dra•ma•ti•za•ção] (!)
24 [ir•re•ve•rên•ci•a]
25 [vul•ne•rá•vel]
26 [con•fi•an•ça] (!)
27 [con•for•tá•vel]
28 [em•bri•a•guez] (!)
29 [con•fli•to]
30 [dis•so•lu•ção]
31 [ci•ú•mes]
32 [re•ca•í•da] (!)
33 [pe•ri•pé•ci•a]
35 [ins•pi•ra•ção]
[in•ter•lú•di•o]
36 [va•ri•a•ção]
37 [or•gu•lho]
38 [re•pa•ra•ção]
39 [con•ci•li•a•ção]
40 [a•mi•za•de]
41 [con•jec•tu•ra]
42 [ten•ta•ção]
43 [i•ne•bri•an•te]
44 [êx•ta•se] (!)
45 [su•a•ve]
46 [sub•ter•fú•gi•o] (!)
47 [in•ti•mis•ta] (!)
48 [me•lí•flu•o]
49 [in•ver•são] (!)
50 [fe•ti•che]
bônus [texting]

34 [sau•da•de]

482 38 49
By akastylessgirl

[sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, uma coisa ou um lugar, ou à ausência de experiências prazerosas já vividas.]

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CHARLOTTE

"Morango, uva ou limão?"

Considero as opções por um instante e finalmente respondo: "Morango."

Ela acena e se vira para a máquina de raspadinha, apertando botões e enfiando moedas para que tenhamos nossas delícias geladas.

"Espera. Você tem certeza que pode comer isso? Eu sei que está um calor dos diabos, mas a sua mãe vai me matar se isso interferir no seu tratamento." Exclamo ao tocar no ombro dela. Seu corpo não está mais franzino como antes e posso sentir carne como não sentia a muito tempo em seus ossos.

Celeste meneia a cabeça e sorri. "Eu posso sim, querida. Não se preocupe." Então ela se volta para a máquina e recomeça a enfiar moedas na mesma. Suspiro e deixo que continue.

Fazem três meses desde que Celeste deixou o hospital e hoje é a primeira vez que nós saímos juntas para passear, mas não porque ela não poderia antes e sim, porque sua mãe é bem protetora e prefere resguardá-la sempre que é possível. Hoje, contudo, Celeste e eu imploramos juntas com toda a dedicação para que nosso pedido fosse concedido e ela não teve como negar.

Para não preocupar a mulher, prometi que não a faria se esforçar ou se desgastar tanto. A trouxe de táxi até um parque, onde ficamos um longo tempo jogando conversa fora e apreciando esse pedaço de natureza. Há comércio aqui ao redor e as raspadinhas foram ideia dela. 'Para adoçar a vida', disse.

"Eu vou me sentar naquele banco e fico te esperando, tudo bem? Senão alguém pode chegar e roubar aquele cantinho. Eu não quero ficar em pé."

"Faça isso. Eu já levo as raspadinhas."

A brisa faz a barra do meu vestido se agitar e os curtos fios do meu cabelo coçarem o meu rosto. Eu tiro a pequena presilha de cabelo de dentro da minha bolsa tiracolo e prendo apenas as mechas da frente para que não seja incomodada novamente.

Com o meu cabelo tão curto, terminando acima dos ombros, eu mal posso fazer um rabo de cavalo, tenho sempre de usar grampos e outros utensílios para conter tudo de uma vez. Foi um pouco aborrecedor nas primeiras semanas após o corte, mas agora eu não ligo mais e deixo que os fios cocem o meu pescoço como bem entendem. Me faz lembrar do meu gesto e me deixa em paz.

Avisto o bucket hat amarelo de croché com margaridas bordadas na cabeça de Celeste e me levanto do banco para pegar minha raspadinha da mão dela. Nós nos sentamos juntas e eu sorrio para ela.

"Ainda não acredito que saiu mesmo com essa roupa" Comento ao admirar a aparência dela. Um vestido branco de veraneio em seu corpo e sandálias de dedo nos pés. A mãe dela queria que usasse calça, blusa fechada e tênis.

"Sai correndo pelos fundos pra minha mãe não ver. Só coloquei o chapéu para não parecer completamente desinteressada pelo meu bem estar."

Eu rio. "Você está linda."

"Ora, mas é evidente." Brinca ao erguer o queixo e eu rio mais.

"Não acredito que escolheu limão." Exclamo ao ver a calda verde neon na raspadinha dela. "Pensei que queria adoçar a vida."

"Eu percebi que ter as minhas mandíbulas travadas seria uma experiência mais interessante." Explica-se com pompa, dando uma colherada generosa na raspadinha e a enfiando na boca sem hesitar. Sua careta por fim é maravilhosa.

"Parece mesmo revigorante." Zombo, mas ela não liga.

Me distraio por uns instantes com minha sobremesa, apreciando a vista do parque. Apesar de ser nossa primeira saída juntas em muito tempo, Celeste e eu não temos a necessidade de preencher todos os silêncios com conversas sem significado. Nós apreciamos o silêncio uma da outra, algo que eu adoro. Por outro lado, quando paramos para conversar, o fazemos até a garganta doer. É incrível. Me faz até esquecer nossa diferença de idade.

Enquanto me perco em devaneios, avisto um casal idoso caminhando de mãos dadas. Por conta do sol, o homem está segurando uma sombrinha sobre suas cabeças e eles trocam palavras tranquilas. Em um dado momento, ele diz algo que a faz rir alto. A mulher olha para ele e abre o mais genuíno e apaixonado sorriso. Eles selam o momento com um breve beijo terno e continuam caminhando. Meus ombros caem e eu suspiro, enfiando uma colherada de raspadinha com gosto de morango artificial e extremamente doce na boca.

"Você tem feito muito isso ultimamente." Celeste pontua de repente.

"O que?" Olho para ela.

"Isso." Ela então suspira de forma dramática e faz um olhar perdido. "Tem feito isso demais."

Forma-se uma carranca no meu rosto. "Essa deveria ser uma imitação minha?" Ela acena que sim. "Eu não faço essa cara de cachorro que caiu da mudança. Do que está falando?"

"Ora, Charlie, não precisa se resguardar. Eu sei o que você tem." Diz antes de encher a boca de gelo esverdeado.

"Sabe?" Indago intrigada.

"Sim."

Cruzo meus braços. "E do que se trata?"

"Amor, é claro." Declara com se fosse óbvio e se eu estivesse com a boca cheia, teria engasgado.

"Como é?!" Me alarmo, meu corpo ficando todo tenso.

A garota de doze anos me encara seriamente e continua, "Você está apaixonada, mas está sofrendo pela falta do seu amor. Dos dez minutos que ficamos sentadas aqui, você suspirou sete vezes e meneou a cabeça de um lado para o outro como se seus pensamentos fossem pesados demais para o seu pescoço. Está pensando nele."

"O que?! Não. O que?" Desvio meu rosto, corando até ficar da cor da calda da minha sobremesa.

"Está pensando nele nesse exato momento. Céus, Charlotte! Você está apaixonada mesmo." Maravilha-se, largando completamente a raspadinha no canto vazio do banco para focar toda a sua atenção na minha cara envergonhada. "Vamos, me conte tudo. Onde se conheceram? Por quanto tempo ficaram juntos? Quantos beijos compartilharam? Eu quero todos detalhes."

"Pare com isso." Exijo muito fracamente, meus olhos colados na calda vermelha que já não está mais me satisfazendo. "Você não sabe do que está falando. E mesmo que soubesse, eu não quero falar sobre isso."

Quando nos reconectamos alguns meses atrás, eu a atualizei sobre algumas coisas que estavam acontecendo na minha vida. Deixei escapar que estava saindo com alguém, mas nunca dei muitos detalhes, pois não seria certo. Ela é muito nova de qualquer modo. Deixei escapar também que gostava muito do tempo que passava com esse certo alguém e o lado romântico incurável dela agiu imediatamente. Depois que tudo deu errado entre ele e eu, eu parei de falar sobre isso e Celeste percebeu, mas eu não havia dito o motivo.

Acredito que ela estava se segurando esse tempo todo para tocar nesse assunto de novo. Ela é assim, uma amante tanto de histórias quanto do amor em si.

"Mas você estava radiante à um tempo atrás e agora, suspira tanto que me preocupo que esteja ficando sem ar." Ela insiste.

"Não exagere." Repreendo, não gostando de como ela está me descrevendo.

"Não estou e é isso que está me deixando ansiosa. Se está sofrendo do coração, precisa me dizer. Sou sua confidente, afinal."

"Naomi andou falando com você, não é?" Interrogo claramente na defensiva.

"Não." Ela desvia o olhar.

"Não minta para mim." Exijo, largando também minha sobremesa.

"Tudo bem." Celeste suspira derrotada. "Ela pode ter deixado escapar alguma coisa..." Percebendo minha carranca se agravando, ela se apressa em acrescentar, "...mas não foi nada muito revelador. Apenas disse que desde o acontecido, você tem andado abalada. E por 'o acontecido' ela disse que alguém saiu da sua vida. Alguém muito importante. Imaginei que fosse aquele tal rapaz de quem me falou certa vez, algumas luas atrás."

"Duas fofoqueiras, é isso que vocês são!" Acuso, cruzando os braços.

Celeste esmorece com meu tom e chega mais perto de mim no banco. "Não fique zangada, sim? Naomi e eu temos mesmo algo em comum: nosso apreço por você. E por isso nos preocupamos." Seu tom é doce e calmo e eu mantenho meu olhar num ponto qualquer a minha frente para não me deixar levar pelas palavras dela.

Ultimamente ando muito emotiva, eu tenho chorado com mais facilidade e às vezes por coisas que não são tão emocionantes assim. Está sendo incômodo, pois antes eu podia contar nos dedos os momentos que chorava num ano inteiro e agora minha garganta dói e meus olhos ardem quando assisto filmes da Disney. Nem preciso dizer que isso começou desde o Incidente H - como eu venho chamando para não dizer o nome dele.

"Não toquei nesse assunto antes, porque queria lhe dar espaço. Imaginei que havia um bom motivo para você ter parado de falar sobre o rapaz. Quando você falava dele, sorria tão abertamente, seus olhos brilhavam e suas bochechas ganhavam cor. Agora, querida, é difícil lhe arrancar um sorriso, você passa metade do tempo presa na sua mente." Ela acaricia meu braço suavemente. "O que quer que esteja te aborrecendo, só quero que saiba que pode contar comigo quando se sentir preparada." Conclui, calando-se.

Sinto suor frio nas mãos e aquele velho incômodo na garganta. Tal declaração não era o que que queria, pelo bem do meu orgulho, mas era exatamente o que eu precisava, pelo bem da minha sanidade. Então, a pergunta que me resta é: Orgulho ou sanidade?

Rápidas lembranças de um par de olhos verdes, lábios rosados e ondas de avelã com uma voz rouca e grave ecoam na minha cabeça. Eu optei pelo orgulho tantas vezes, que perdi a conta - e ele.

Sanidade será.

"O que que quer que eu diga? Hm?" Começo, minha voz oscilando. "Ele era o mais doce, gentil e divertido. Tão bonito que me fazia perder o fôlego. Ele me tratava tão bem, que me deixava sem jeito. Eu falava besteiras constantemente por conta disso. Ele me tirava o chão, fazia minhas pernas tremerem. Era impossível não sorrir perto dele ou desviar os olhos."

"Minha barriga ficava fria todas as vezes que ele olhava pra mim ou me beijava ou me chamava de linda. E ele me chamava de linda tantas vezes, não enjoava. Ele me chamava de tantas coisas, sempre tão carinhoso. Me fazia sentir a mulher mais importante na sala."

Uma lágrima fina escorre pela minha bochecha direita, mas eu a limpo imediatamente e fito minhas mãos no meu colo. "Nós não conversávamos muito, mas quando o fazíamos, ele me ouvia com atenção. Mostrava interesse sempre. Se algo estivesse me incomodando, ele percebia e ficava preocupado; dava logo um jeito de me fazer sentir bem de novo." Eu rio dessa pontuação, me sentido triste com algo que acaba de me ocorrer. "Tão bondoso, mas ingênuo. Ele se esforçava e nem sabia que só de estar lá, já fazia toda a diferença. E eu nunca disse isso pra ele."

Faço uma pausa para recuperar a firmeza na voz. Os olhos de Celeste estão atentos em mim, ela mal respira.

"Ele era perfeitamente imperfeito na medida certa. Suave e intenso. Rosa e amarelo. E ele me adorava." Sou obrigada a conter um soluço com tal constatação. As mãos de Celeste me envolvem em conforto. "Ele me tratava como se eu fosse um templo e tudo que eu fiz foi rir da cara dele quando ele me deu o seu amor."

"Ele estava apaixonado por mim, Celeste." Digo me virando para ela. "Ele estava apaixonado e quando teve coragem para dizer, eu gritei com ele. Mas o pior de tudo nem foi isso e sim, a forma como eu o convenci que ele estava errado em sentir o que sentia. Eu sabia o que ele sentia e mesmo assim, tentei persuadi-lo a ficar comigo nos meus termos. Eu fui baixa, suja-" Um choramingo me escapa e Celeste me abraça.

"Eu tenho certeza que ele me odeia agora. Onde quer que esteja, com quem estiver, ele me odeia." Murmuro no ombro dela. "Não o culpo. Eu o tratei mal e ele não merecia isso."

"Por que me parece que não é só isso?" Ela pergunta depois de uns instantes processando a informação toda. Me afasto o suficiente para encará-la e deixo claro minha incompreensão. "O ocorrido soa grave, mas eu sinto que há algo à mais nessa história; algo que a está agoniando e que ainda não foi dito. Estou errada?"

Celeste raramente está errada e por mais que me doa admitir, eu o faço. "Não nego que tenho culpa em muitas coisas e que mereço o desprezo dele, mas..." Aperto meus braços, sentindo culpa também por se quer estar externando isso.

"Mas...?" Ela incentiva cautelosa.

"Ele me deixou!" Desabafo de vez, meu peito apertado com as lembranças da noite em questão. "Novamente, eu fui uma megera, mas ir embora sem dizer uma só palavra ou até mesmo olhar nos meus olhos, me magoou. Muito."

Minha amiga tem uma expressão de consternação e faz o possível para me reafirmar de sua compaixão ao pegar as minhas mãos nas dela e me afagar.

"Nossa última interação foi de longe a pior. Ele agiu comigo exatamente como outros homens agiram no passado, logo após-" Me corto ao perceber que estava contando demais.

"Logo após o que, Charlie?" Celeste repete curiosa.

"Um... momento de intimidade." Uso o termo mais family friendly que consigo pensar.

"Oh, entendo." Ela faz. "Vocês se deitaram juntos."

"Ha! Bem que eu queria, mas o maldito nem ao menos me deixou passar da porta."

"Como disse?"

Meus olhos se arregalam ao ver os dela confusos. "Deus! Se sua mãe me ouve falando disso com você- Esqueça tudo. Conversaremos quando tiver dezesseis."

"Você também não, Charlotte. Estou farta de ser tratada como criança." Protesta veemente, aborrecida. "Eu sou grande o suficiente para entender o que as pessoas fazem quando estão apaixonadas. Ou até mesmo quando não estão. As vezes são várias pessoas ao mesmo tempo-"

"Woah! Onde você ouviu isso?" Me alarmo e a garota ri da minha reação.

"Eu sei ler, tolinha." Ela zomba.

"Então vamos voltar para a sua casa nesse momento. Eu quero das uma olhada na sua estante de livros." Anuncio ao me levantar abruptamente e pegá-la pela mão.

Celeste continua rindo e suas tentativas de me impedir de conduzi-la falham por conta disso. "Pare, está me matando de dor na barriga."

"Quero ver o seu celular também. Hoje em dia até mesmo online pode-se ler besteiras."

Essa havia sido a distração perfeita para os meus nervos sensíveis e consciência pesada. O assunto tinha voado com o vento ou assim pensei, até que minha jovem amiga se colocou na minha frente e me olhou no fundo dos olhos.

"Compreendo que esteja sofrendo embora ainda não possa entender o sentimento que a angustia. Nunca senti o amor dessa maneira ou o desejo de ser de alguém e somente daquele alguém. Mas uma coisa eu posso te dizer: não se culpe por sentir mágoa se você a sente. Você pode tê-lo machucado, mas isso não anula a dor que ele te causou. Não se invalide, só deixará tudo pior."

Meu queixo cai assim que ela termina de falar, ao mesmo tempo que um peso deixa as minhas costas. Eu não havia falado sobre minha decepção com a partida dele em voz alta, pois sentia que estava sendo injusta e isso estava me corroendo por dentro - um dos motivos pelo qual esses dois meses foram tão difíceis de processar. A partida dele deixou um buraco no meu peito e preenchê-lo com mais chateações não estava adiantando em nada.

"Eu... Eu vou tentar." Digo depois de pensar sobre o conselho dela e Celeste sorri bondosa.

"Faça isso." Ela pega a minha mão e me conduz por si mesma pelo parque. "Vamos assistir um filme quando chegarmos em casa?" Sugere. "Eu ouvi dizer que O Diário de Bridget Jones é muito recomendado para pessoas de coração partido."

"Ah não. Eu já me cansei desse." Resmungo.

"Chorou muito com ele?"

"Você não faz ideia."

"Podemos comprar sorvete pra comer assistindo?" Ela pula alegremente.

"Nada disso. Já comeu raspadinha hoje. Sua mãe vai-"

"Te matar. Eu sei." Ela me corta revirando os olhos. "O que você ainda não compreendeu, cara Charlotte, é que o que o os olhos não veem, o coração não sente."

"Celeste Santiago, está sugerindo que nós enganemos a sua mãe ou que eu te vende para que não veja o sorvete enquanto estiver comendo?" Entro na brincadeira e ela se põe a pensar na melhor resposta, como a espertalhona que é.

"Opção dois." Escolhe erguendo o dedo indicador.

"Como vai assistir o filme, então, cérebro?"

Ela estala os dedos. "Então opção um."

"Você é inacreditável, mocinha." Exclamo admirada, rindo de sua cara sapeca. Ela apenas faz um movimento com a mão livre como se estivesse jogando os cabelos para trás dos ombros, mesmo que não tenha cabelo algum para fazer isso. "Não quis usar o seu cabelo hoje?" Indago agora que notei tal detalhe. Estou mais acostumada a vê-la sem a nova peruca do que com ela, já que a mesma é uma aquisição nova.

"Eu ia, mas eu havia lavado ele e meu secador quebrou. Eu não queria sair de cabelo molhado."

"Quebrou? Você devia ter me dito. Eu teria te emprestado o meu."

Depois disso, nós começamos a conversar sobre cabelo e os diferentes penteados que ela poderia fazer na peruca, já que seria mais fácil deixá-los bonitos manejando o cabelo ao alcance dos olhos. Pedi um táxi para nos levar de volta a casa dela e no caminho, o assunto ainda não havia acabado. o que foi ótimo, porque no fundo da minha mente, eu ainda estava pensando sobre o que havíamos discutido sobre os meus sentimentos e a minha certeza diária - a certeza que tenho a dois meses seguidos - se manteve firme: Sinto falta dele.

•      •      •

A imagem embaçada de uma jovem Julia Roberts na tela da televisão me faz soluçar forte. Eu enfio a colher cheia se sorvete dentro da boca, mas meu choro feio não é abafado por isso. Meus dedos dos pés estão contorcidos abaixo da coberta e eu posso sentir o corpo de Celeste estremecendo com o choro que ela também emite. O quarto está com as luzes apagadas para complementar nossa sessão cinema e nós nos aninhamos uma a outra para sobreviver ao romance ficcional.

"É agora. Ela vai dizer." Minha amiga aponta para a tela e eu faço questão de limpar minhas lágrimas para enxergar muito bem a expressão do Hugh Grant nessa cena.

"'Eu também sou apenas uma garota diante de um garoto pedindo que ele a ame'." Celeste e eu repetimos a fala junto com a atriz, pois ambas já perdemos a conta de quantas vezes já assistimos esse filme na vida.

"Por que ele não pode simplesmente amá-la?" Eu choramingo pateticamente apontando a colher cheia de sorvete para a tela de forma acusatória.

"Deus! Se o Hugh Grant tivesse me dado o fora, eu nem sei o que faria da minha vida." Celeste murmura de boca cheia, suas lágrimas brilhando em suas bochechas com a luz da TV. "Espera! Você disse que o seu ex-amor era lindo de morrer. Ele era tão bonito como o jovem Hugh Grant?"

"Ainda mais bonito." Exclamo rapidamente.

Ela expressa um grunhido de surpresa e seu queixo cai. "Tolice! Verdade?" Eu meneio a cabeça com confiança e ela se choca outra vez. "Céus, Charlotte! Você deve estar devastada."

"Eu estou! Não me lembre." Reclamo chorosa.

"Tudo bem. Me perdoe. Mas de quão bonito estamos falando aqui?" Ela se vira para mim, ignorando completamente como a Julia Roberts acaba de ser dispensada na tela.

Eu suspiro, fazendo o mesmo ao pensar na pergunta. "Britânico, cabelo ondulado castanho, olhos verdes, voz de um anjo. Ele era como um jovem Hugh Grant, mas melhor. Tatuagens, musculoso na medida certa. Bom gosto pra roupas. Charmoso até dizer chega."

"Ele soa como um sonho." Ela sorri.

"Por vezes eu acreditei que ele fosse mesmo. Ele tinha o que as pessoas chamam de beleza diabólica." Mordo meu lábio ao relembrar da feição da pessoa em questão.

"Se me disser que ele era altamente respeitoso e educado, vou começar a pensar que o rapaz foi escrito por uma mulher." Celeste brinca e eu rio fracamente.

"Quem sabe?"

"Charlie! Você achou o seu próprio personagem fictício." Se anima, mas ao relembrar do fato disso ser passado na minha vida, seu semblante pesa. "Oh, mas que lástima."

Ficamos em silêncio por uns segundos, refletindo mais uma vez sobre o infortúnio, até ela ressaltar: "Vamos focar na parte em que ele era só um homem. De uma forma ou de outra, ia arrumar um jeito de te magoar."

"Eles são sempre assim, não é?" Reafirmo sua constatação para reanimar os ânimos, apesar de saber no fundo que ele corria sérios riscos de ser a exceção.

Ele sempre foi a exceção na minha vida, afinal. Sempre me ensinando coisas e quebrando minhas crenças e inseguranças que me faziam mal. Sempre me fazendo enxergar um lado mais agradável.

"Veja. Ele está indo atrás dela." Celeste chama atenção para o filme novamente, pressentindo minha quietude e a razão da mesma.

Chacoalho o pesar e me viro para a TV outra vez. "Finalmente. Eu adoro essa parte."

Nosso ninho feito pela coberta veio a calhar assim que o tempo lá fora virou de repente. Umas duas horas após termos chegado a casa dela, começou a chover e mesmo com o volume da televisão, podemos ouvir como ainda chove forte. E pelos ruídos na janela, que está sendo assolada pela água, o clima não vai melhorar tão cedo.

Estávamos ambas focadas nas últimas cenas do filme quando aconteceu. Um tremor fez as janelas chacoalharem e a energia piscar. Os móveis do quarto também tremeram e um objeto de decoração caiu no chão, se quebrando. Os livros na estante estavam saindo do lugar.

"Terremoto!" Exclamo ao compreender o que está se passando abaixo da terra.

"Charlie." Celeste se alarma, assustada.

"Vem, rápido." Tiro a coberta de nós e a puxo pra mim. Sorvete esparrama no chão, mas não damos importância. As mãos da garota me agarram firme ao redor do pescoço. Eu a pego no colo e saio de cima da cama.

"Charlie." Ela choraminga enfiando o rosto no meu pescoço, pois a terra ainda não parou de tremer e está mais forte agora.

"Vai ficar tudo bem. Eu tô aqui. Temos que nos abrigar." Garanto apesar de também estar assustada.

Como estamos tão perto da cama, instruo-a entrar debaixo da mesma. Outros objetos estão caindo no chão e pode ser muito perigoso ficarmos desprotegidas. Celeste me obedece e se esconde. Eu me junto a ela logo depois e a abraço para confortá-la. Tudo que podemos fazer agora é esperar passar e torcer para que não fique mais forte do que isso.

A falha de San Andreas deve estar sofrendo algum choque para que estejamos sentido aqui em San Francisco. Eu diria que esse tremor é nível 4, mas não há como ter certeza agora. Talvez esteja muito impressionada e seja mais leve que isso. Me faz pensar em como as coisas estão em San Andreas e se haverá muitos desastres.

A cama sobre nós parece estar dançando. Talvez não tenha sido uma ideia tão boa ficar aqui em baixo, está nós deixando ainda mais assustadas. Vou repetindo "Vai ficar tudo bem, já vai passar" como um mantra enquanto Celeste chora com a cabeça encostada no meu peito.

Ouço a voz dos pais de Celeste gritando pela garota e também por mim. Só então me toco que o tremor passou.

"Estamos bem." Eu grito de volta.

"Mamá. Papá. Estoy aquí, estoy bien." Celeste afasta o rosto do meu peito para responder a eles.

O corpo dela está suando frio, tremendo, seu coração agitado. Eu estou do mesmo jeito e por mais que a terra tenha se estabilizado, o medo faz com que permaneçamos paradas embaixo da cama, resfolegando.

A energia continuou piscando, até ir embora de vez e um último objeto mal posicionado sobre algum móvel caiu no chão e fez Celeste gritar, me agarrando por instinto.

"Tá tudo bem agora, Cel. Nós estamos bem." Eu sussurro pra ela, afagando suas costas.

"Mi hija. ¿Dondé estás?" A Sra. Santiago adentra o quarto em desespero e eu enfio um braço pra fora da cama para revelar nossa localização.

"Aqui."

"Celeste." A mulher se abaixa pra nos acessar. Seus olhos arregalados se apontam para nós e suas mãos se esticam para agarrar a filha. "Celeste, hija."

A garota vai com ela prontamente e eu vejo as duas se abraçando forte. O Sr. Santiago me surpreende ao aparecer próximo à mim e me ajuda a sair do esconderijo, conferindo meu estado. Assim que garanto minha segurança, ele corre para abraçar a filha e a esposa.

Minhas pernas ainda estão bambas e eu permaneço sentada no chão por uns minutos, respirando pesado. O quarto está um pouco bagunçado, a televisão torta na parede, mas inteira. Ouço os donos da casa dizendo que não ouve nenhum prejuízo material sério e que não se feriram. Pelo visto o susto valeu mais do que o evento em si.

"Charlotte." Celeste vem até mim depois de uns instantes com os pais e me abraça novamente, sentando no meu colo. "Você está bem?"

"Sim, eu tô bem. E você? Tem certeza que não se machucou?" Pergunto mesmo tendo estado com ela o tempo todo.

"Tenho. Graças a você. Obrigada." Ela me aperta um pouco mais e eu respiro aliviada em seus braços. Se algo ruim tivesse acontecido a ela, nem sei o que faria.

Em meio a demonstração de carinho, de esguelha percebo algo familiar. A tela quebrada de um celular começa a brilhar, o aparelho vibrando como louco no chão em meio aos cacos de um anjinho de porcelana que Celeste tinha em sua estante.

"É o meu celular." Murmuro alarmada, pois estou recebendo uma ligação e o nome de Naomi está aparecendo. Celeste me dá licença e eu corro para atender a ligação.

Antes mesmo que eu possa dizer alguma coisa, a voz da minha outra amiga explode do outro lado da linha. "Charlie, pelo amor de Deus! Socorro!"

Meu coração vai na minha boca. "Naomi, onde você está? Você tá bem?"

"Charlie, o bar- O teto- Por favor, vem pra cá!" Ela grita em meio a um choro sofrido.

"O que houve? Você se machucou?" Me ergo do chão imediatamente.

"O teto está caindo! Você precisa vir agora!"

"Mas-" Eu queria uma confirmação de que ela não está ferida, mas decido não perder tempo na ligação e agir logo. "Okay, eu tô indo. Me ouviu? Eu estou indo agora. Vai ficar tudo bem."

"O que aconteceu com a doce Naomi? Ela está bem?" Celeste interroga assim que eu tiro meu celular recém-quebrado da orelha.

"Eu- Eu não sei. Ela disse algo sobre o bar. Eu... Droga. Eu não sei." Mal consigo raciocinar direito.

"Te dou uma carona, Charlie. O carro do meu irmão está aqui." Oferece o Sr. Santiago e eu não hesito em aceitar.

Ainda estava chovendo quando saímos. Celeste queria vir, mas sua mãe e eu insistimos para ela ficar em casa. Ela me fez prometer que daria notícias o mais breve possível.

Quando cheguei no bar, da calçada pude entender o motivo do desespero da minha sócia. Havia água saindo de dentro do estabelecimento, como se houvesse havido uma enchente. Aparentemente, o tremor foi mais forte naquela região da cidade e junto com a chuva torrencial, o nosso teto não aguentou. Uma parte do forro caiu e a chuva invadiu o lugar. Naomi estava sozinha lá dentro, preparando as coisas para abrir o bar, enquanto Bianca e Lola (nossas novas funcionárias) ainda não haviam chegado. Ela estava tremendo como uma folha e ficou chorando nos meus braços por meia hora, tamanho o susto ela tomou em ver nosso estabelecimento se desfazendo diante de seus olhos.

Metade da estante de bebidas se espatifou, muitas das minhas capas de discos de vinil estragaram e eu nem vou começar a falar sobre os móveis. Por sorte, não houve uma enchente de fato pra fazer as coisas flutuarem, mas foi o suficiente para termos um baita prejuízo.

"Eu te liguei tantas vezes." Ela informou quando estava mais calma, segurando o copo de água que lhe dei perto do peito, seu rosto avermelhado pela emoção. "Deixei correios de voz! Ninguém mais usa isso, mais eu usei porque eu não sabia o que fazer."

De fato haviam vinte e um correios de voz dela. Eu havia deixado meu celular no silencioso mais cedo, por isso não ouvi as ligações e no momento do terremoto não me preocupei em ver o aparelho, mas sim cuidar de Celeste. Nem me dei ao trabalho de ouvir as mensagens, pois já sei agora do que se tratam. Também não tenho cabeça para lidar com o estrago do meu celular. O bar é muito mais importante e já está ocupando a maior parte dos meus pensamentos.

"Me desculpa por não estar aqui com você."

"Não tem que se desculpar. Era sua noite de folga e você não tinha como adivinhar que as placas tectônicas iam dar um showzinho hoje." Ela dispensa minhas desculpas ao passo que limpa as lágrimas do rosto. "O que nós devemos fazer agora?"

Suspiro derrotada, meus ombros caídos. Estamos sentadas no corredor do bar, onde a água não está vazando do teto. "Eu nunca lidei com isso na vida, não sei nem por onde começar." Confesso de peito apertado. "Talvez devêssemos ligar pra alguém que concerta essas coisas assim que parar de chover. Limpar tudo e ver o que ainda dá pra salvar."

"É ótimo que o sinal de telefone não tenha caído. Talvez nos devêssemos ligar agora. Se a água continuar entrando, vai arruinar ainda mais as coisas lá dentro." Naomi sugere.

"Tudo bem. Eu vou tentar resolver isso agora mesmo. O quanto antes, melhor."

Bianca e Lola vieram para cá assim que puderam, dispostas a ajudar de alguma forma. Foi ótimo estar com elas, fez com que minha sócia e eu nos sentísemos amparadas. Informei Celeste do que havia acontecido como prometido e logo depois liguei para o pessoal do seguro. Por sorte, a maioria dos estragos vão ser cobertos e isso por si só já serviu para tirar um enorme peso das nossas costas.

Com a despedida da chuva, nós limpamos o bar e tentamos secar os móveis o máximo possível, mas algumas cadeiras e mesas deram sinal que ficariam inchadas e defeituosas para sempre. Teríamos que repor estes. O estrago do teto só poderá ser arrumado pela manhã e quanto a isso não poderíamos fazer nada, além de improvisar algo para conter possíveis maiores danos caso a chuva voltasse. Foi esticado um pedaço de lona que Lola tinha perdido em sua garagem sob o rombo do forro. Nós afastamos todos os móveis da área e para finalizar, colocamos algumas câmeras apontadas para lá, caso algum babaca tentasse invadir por ali para roubar ou vandalizar. Nunca se sabe.

Fizemos a contabilidade das bebidas perdidas, assim como outros utensílios quebrados. Retirei todas as capas dos meus amados vinis da parede e chorei um bocado, já que os danos nas mesmas não tinha concerto. Vinha colecionando estes por anos e a única coisa que me confortou foi pensar que os discos em si ainda estavam guardados comigo e seguros. Os pôsteres no teto teriam de ser todos trocados também e alguns dos objetos de decoração neon estavam queimados, mas tais itens são menos importantes.

Terminamos tudo bem tarde e estávamos cansadas e emocionalmente perturbadas. Abrir o bar foi uma opção inviável.

Naomi havia recebido uma mensagem de sua vizinha dizendo que seu prédio não havia sofrido nenhum dano, então eu pude dormir lá, já que houve um acidente na minha rua com um dos postes e a passagem estava interditada.

O dia todo havia sido agitado por emoções fortes, mas quando deitei minha cabeça no travesseiro finalmente e me peguei pensando no bem estar dos meus pais, entendi a gravidade do que havia ocorrido. Terremotos são comuns na Califórnia por conta da falha de San Andreas, uma das maiores do mundo. Mas ainda assim, quando algo acontece, deixa todos com o coração na mão. Me recusei a ver o noticiário, pois não queria ficar acordada a noite toda revivendo o evento. Eu já havia sentido outro, mas muito fraco - nível 1.1 na escala Richter - e mal tenho lembranças sobre ele. Este, contudo, nunca vai sair da minha mente, não quando coincidiu com uma das mais épocas vulneráveis da minha vida.

•      •     •

Durante a madrugada, acordei perturbada por memórias do tremor e Celeste agarrada a mim cheia de pavor. Meu coração martelou tanto minha caixa torácica, que eu fiquei sem sono. Naomi ainda dormia e eu deixei a cama que compartilhávamos para não acordá-la. Fui para a sala e me deitei no sofá para mexer no meu celular livremente, pois sabia que não ia conseguir mais pregar os olhos.

Por mais patético que seja, fiquei umas meia hora procurando por qualquer notícia dele. No Instagram, escrevi seu nome várias vezes, mas não tive nenhuma sorte de achar um perfil que eu pudesse concluir como dele. Talvez ele não tivesse redes sociais, eu nunca o vi falando sobre isso ou se quer erguendo o celular para tirar uma selfie que seja. Não sabia para onde ele havia partido, mas se ainda estivesse no estado, eu queria saber se estava bem. Ele já morou em Los Angeles e pelo que eu vi nos jornais online, a capital também tremeu.

Depois de mais alguns minutos frustrada por não ter achado nada útil, bloqueei o celular quebrado e fechei os olhos, me afundando no sofá. Seria ridículo considerar que ele tenha ido para Los Angeles de novo. Ele sofreu lá. Talvez tenha ido para Nova York, lá também há muitas oportunidades para o ramo artístico. Ou talvez eu esteja me iludindo em acreditar que ele ainda esteja no país. No final das contas, a mentira que contei a mim mesma pode ser verdade. A Inglaterra é a casa dele, afinal.

Horas de devaneio depois, eu finalmente peguei no sono de novo. O céu já estava ficando claro, mas eu mantive os olhos fechados, pois sonhar com uma realidade onde ele estivesse sorrindo pra mim era muito melhor do que ver o sol raiar, trazendo as responsabilidades de um novo dia.

N/A: Quem ficou nervosx?

Quando puderem, deem uma olhada na minha nova fanfic chamada Nightingale.

Não se esqueçam de votar, loves

Espero que tenham gostado do capítulo
xx

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