𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.

By akastylessgirl

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Uma noite. Foi tudo o que precisou. Agora eles tem um acordo. • •... More

antes de ler / teaser
01 [ca•su•al]
02 [ten•são]
03 [pro•pos•ta]
04 [ex•ce•ção] (!)
05 [ca•pri•cho]
06 [a•cor•do]
07 [ris•pi•dez] (!)
08 [de•cep•ção]
09 [re•gra]
10 [em•pá•fi•a]
11 [pro•i•bi•do] (!)
12 [hos•ti•li•da•de]
13 [ge•ne•ro•si•da•de] (!)
14 [con•se•quên•ci•a] (!)
15 [hu•mil•da•de]
16 [in•si•di•o•so]
17 [do•mi•na•ção] (!)
18 [con•des•cen•den•te]
19 [a•fron•ta]
20 [ex•clu•si•vo] (!)
21 [a•lu•ci•nó•ge•no] (!)
22 [a•me•a•ça]
23 [dra•ma•ti•za•ção] (!)
24 [ir•re•ve•rên•ci•a]
25 [vul•ne•rá•vel]
26 [con•fi•an•ça] (!)
27 [con•for•tá•vel]
28 [em•bri•a•guez] (!)
29 [con•fli•to]
30 [dis•so•lu•ção]
31 [ci•ú•mes]
33 [pe•ri•pé•ci•a]
34 [sau•da•de]
35 [ins•pi•ra•ção]
[in•ter•lú•di•o]
36 [va•ri•a•ção]
37 [or•gu•lho]
38 [re•pa•ra•ção]
39 [con•ci•li•a•ção]
40 [a•mi•za•de]
41 [con•jec•tu•ra]
42 [ten•ta•ção]
43 [i•ne•bri•an•te]
44 [êx•ta•se] (!)
45 [su•a•ve]
46 [sub•ter•fú•gi•o] (!)
47 [in•ti•mis•ta] (!)
48 [me•lí•flu•o]
49 [in•ver•são] (!)
50 [fe•ti•che]
bônus [texting]

32 [re•ca•í•da] (!)

652 37 90
By akastylessgirl

[ato ou efeito de recair; voltar a fazer o que o que não se fazia mais.]

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CHARLOTTE

À alguns anos atrás, logo após a minha partida da faculdade de direito, eu não tinha lugar para ir. Quer dizer, eu tinha, eu poderia ir para casa, mas essa era uma opção fora de cogitação, pois os meus pais estavam absolutamente desgostosos com a minha atitude e eu também não queria ficar perto deles naquele fatídico momento.

Por sorte, ou devo dizer pela bondade desmedida da minha melhor amiga Naomi Matsuda, o sofá de sua sala me foi cedido e foi nele que dormi por alguns meses até arrumar um emprego e conseguir grana o suficiente para ter meu próprio apartamento.

Eu já era amiga da Naomi na época, pois nós nos conhecemos muito antes da minha vida se inverter de ponta cabeça. Na verdade, ela me conheceu quando eu estava começando a despertar para toda a realidade da minha vida que me incomodava.

Por conta disso, meus pais implicaram com ela desde o princípio de nossa amizade. Eles julgavam a nossa aproximação como a causadora da minha rebeldia, diziam que era culpa da Naomi eu ter agido como agi. Claro que estavam errados e no fundo eles sempre souberam disso. Eu nunca fui fácil de manejar, mas é menos doloroso ao ego fingir que a culpa pertence a outra pessoa.

Conheci a Naomi no ensino médio, mais especificamente aos meus 15 anos de idade. Eu era a patricinha que sempre teve tudo o que quis de bandeja e mesmo assim não estava satisfeita com nada. Ela era a gênia de ouro, ganhadora de prêmios acadêmicos juvenis, que honrava o esforço dos pais que ralavam no trabalho para sustentar a casa e o futuro brilhante que ela teria.

Nossos mundos se chocaram quando ambas, frustradas após um terrível dia de adolescência, decidiram entrar numa loja de bebida e fingir que tinham idade o suficiente para comprar qualquer coisa lá dentro. Ela era e sempre será mais velha que eu, mas sua aparência não demonstrava isso e juntas, nos fomos enxotadas de lá sob ameaças de envolvimento das autoridades.

Estava chovendo naquela tarde. Ambas empurradas para a calçada da loja sem nenhuma preocupação do dono da mesma. Nós nos entreolhamos e em apenas alguns segundos, compreendemos a dor uma da outra: hormônios, juventude, pais, toda a maldita pressão.

"Você fuma?" Eu me lembro de ter perguntado pra ela, enquanto a chuva caia sobre nós.

"Não." Ela respondeu tímida, ajustando seu óculos de grau em seu rosto.

"Quer tentar?" Enfiei a mão no bolso do meu casaco de moletom - que minha mãe odiava que eu usasse por ser barato demais para mim - e mostrei a ela o maço de cigarros que consegui roubar antes de ser pega pelo dono da loja.

A partir disso, nós nos tornamos inseparáveis.

Desde aquela época, Naomi e eu nunca tivemos nenhum tipo de altercação acalorada, nós nunca fomos do tipo briguentas. É claro que nós irritamos uma a outra de vez em quando, mas é só parte da graça de ser tão íntima de alguém. Você conhece todos os segredos daquela pessoa, todos os defeitos e qualidades, todas as pequenas coisas.

Portanto, Naomi sabia muito bem o quão despreparada para a cozinha eu estava na época em que morei em seu sofá. Era por isso que ela deixava comida pronta ou me deixava dinheiro para comprar algo fora. Por isso também essa é a única memória que tenho dela gritando comigo, já que eu quase incendiei sua cozinha na tentativa de fazer alguns cookies com gotas de chocolate. Eu achei que tinha tudo sob controle, mas não tinha. Deu-se aí o apelido que ela ainda usa comigo. Ela ficou louca de raiva, mas depois tudo se transformou nunca grande piada.

Vendo a forma como minha amiga me olha nesse exato momento, após testemunhar a saída de Harry do bar e ouvir da minha boca o que aconteceu entre nós, me recordo exatamente daquele dia dos cookies e sei que seu único acesso de raiva em nosso histórico de amizade irá ser superado.

Em outra palavras, lá vem a bronca.

"Charlotte Fitzgerald, o que eu faço com você?!" Ela exclama, sua voz irritada ecoando no salão do bar. "Já não basta ter sido rude ao partir o coração dele, você realmente tinha que esfregar na cara do coitado que não está ligando a mínima para os sentimentos dele? Como se já não fosse claro o suficiente, você realmente tinha que aparecer em público com o seu novo boy-toy?"

"Ele não é o meu boy-toy-" Eu tento corrigí-la, mas é em vão.

"Não interessa. O Harry viu vocês e agora deve estar ainda mais arrasado do que antes. A carinha dele quando saiu daqui..." Ela choraminga ao recordar do rápido encontro que teve com o nosso músico no momento que estava chegando e ele saindo. "E que merda aquele cara estava fazendo usando a camiseta do Harry?" Sua voz fica severa novamente, seus olhos me fuzilando em crítica dura.

Eu suspiro antes de responder, "Existe uma explicação. Não foi de propósito. Na verdade, não era pra ter acontecido. Foi acidental."

"Como? Ele escorregou e boom! Caiu dentro da camiseta? Me poupe, Charlotte!" Cruza os braços, me fazendo sentir como uma criança malcriada.

"Não foi assim." Exclamo de volta.

"Então como foi?" Ela questiona, exigindo a verdade.

Fazem três semanas que Harry e eu não temos mais o acordo de sexo casual, assim como fazem três semanas que eu tenho sido obrigada a lidar com os olhares de esguelha intensos que ele me dá, achando que eu não estou percebendo.

Eu sei que ele não está feliz com o rompimento do acordo e eu estou tentando agir da forma mais profissional possível, dando à ele espaço, ao mesmo tempo que deixo claro nas entrelinhas que seremos apenas colegas de trabalho a partir de agora - como deveríamos ter sido desde o dia que ele pisou aqui para a entrevista de emprego como músico.

Cogitei demiti-lo, mas seria canalha e insensível da minha parte. Ele precisa do trabalho e se por si só não demonstrou que queria sair, deixei estar.

Entretanto, apesar da minha convicção eu estava enlouquecendo com a constante presença dele, sempre carregada de sentimentalismo disfarçado de polidez. Harry é um recorrente lembrete de tudo o que fizemos, tudo que eu não gostaria de ter colocado um ponto final, mas que o fiz independentemente pois era preciso.

À duas semanas atrás, eu conheci esse cara boa pinta através de um acidente cotidiano. Ele estava tentando entrar no meu prédio com várias sacolas de mercado nos braços e por conta de sua insistência mal calculada, as sacolas rasgaram e suas compras se espalharam no chão. Eu o ajudei e no processo, descobri que ele estava lá apenas para entregar as compras do mercado de sua irmã mais nova, que tinha se mudado recentemente para um dos apartamentos livres.

Ele ficou interessado por mim no mesmo dia e eu digo isso com certeza, pois ele está sempre fazendo questão de deixar bem explícito o quanto tem uma quedinha por mim. Ele apareceu no bar uma vez, mas como eu não lhe dei muita conversa, Harry não deve ter notado a presença dele aqui anterior a esse episódio de hoje.

Ele é um gato, divertido e não cansa de me paparicar na esperança de conseguir algo de mim. Porém, apesar dessas qualidades discutíveis, eu confesso que apenas me aproveito de seu crush em mim para ter alguém para me distrair.

Sim, seria uma coisa terrível de se confessar, algo cruel de se fazer com alguém, mas ele não é inocente. Ele sabe que eu não estou interessada. Nós nunca fomos pra cama juntos e eu não pretendo mudar isso, mesmo que eu retribua alguns de seus flertes. É tudo pela diversão e ele sabe disso. Portanto, não é como se eu o estivesse usando de forma vil, afinal de contas ele também tem intenções mesquinhas por trás de toda a sua gentileza.

Hoje ele se ofereceu para me ajudar a trazer algumas caixas para o bar, com alguns copos novos que eu comprei para modernizar nosso serviço. Ele estava no meu apartamento antes de virmos pra cá e nós estávamos bebendo cerveja gelada, por conta do calor horrível que está fazendo.

Como de costume, sendo apenas o rapaz desajeitado e atrapalhado que é, derramou a bebida em sua camiseta. Ambos sabemos que cerveja tem um cheiro terrível, então eu não hesitei em mandá-lo tirar a peça e lhe oferecer algo para vestir ao invés. Eu não queria alguém malcheiroso do meu lado e não queria perder a carona grátis.

A camiseta do Live Aid, no entanto, não estava nos meus planos de ser ofertada à ele, mas nada que eu possuo servia nele, a não ser aquela camiseta - que nem minha é, mas que ainda estava em minhas mãos.

Eu acabei emprestando. Ignorei o desconforto em vê-lo usando a mesma e emprestei, repetindo várias vezes para ele e para mim mesma que era para ser devolvida o mais urgentemente possível, sem exceções.

Harry em si já foi uma grande exceção na minha vida e olha no que deu.

Encaro Naomi cheia de receio e murmuro, "Não era pra ele ter visto, Nae. Harry chegou no bar cedo demais, eu nunca imaginei isso." Dou a desculpa, cutucando minhas cutículas com as minhas unhas em nervosismo. "Quer dizer... O que ele estava fazendo aqui, afinal?"

Estranho o silêncio repentino que se faz. Percebo que Naomi assume um semblante pesaroso e engole em seco, seus olhos pensativos vidrados no chão conforme algo se passa pela mente dela.

"Qual o problema?" Indago intrigada. "Fora toda essa confusão, digo." Ressalto, sentindo uma pontada de embaraçamento pela discussão ridícula que tive com Harry. Ridícula e desnecessária.

"Você tem que concertar isso, Charlotte." Minha amiga anuncia de súbito, após sua reflexão misteriosa. A carranca retorna a seu rosto e ela cruza os braços com mais força.

"O que? Como assim?" Faço, arregalando os olhos.

"Não sei como, mas faça alguma coisa. O coitado já está sofrendo o bastante, não precisa disso agora para agravar tudo."

Notando certa propriedade em seu discurso tão benevolente ao rapaz em questão, eu mesma cruzo os meus braços e a analiso. "Como sabe tanto do sofrimento? Ele te disse alguma coisa?" Interrogo e quando as sobrancelhas dela se arqueiam em choque, sinto uma nova onda de aborrecimento. "Naomi, eu juro-" Começo a exclamar, mas ela me corta.

"Não tente mudar de assunto. Você fez merda, Charlotte Fitzgerald e deve consertar." Se apressa em reestabelecer a bronca, apontando seu dedo acusador para mim.

Bufo em impaciência e desvio meu olhar. Eu seu que ela tem razão, mas eu verdadeiramente não faço ideia de como melhorar as coisas. O que eu disse para ele sobre não dever-lhe explicações da minha vida é algo que não me arrependo e não voltarei atrás, porém a questão da camiseta é algo que eu posso considerar remediar.

Como, ainda é a minha dúvida. Como pedir desculpas pelo inconveniente, sem necessariamente pedir desculpas; sem magoar o meu orgulho e fazê-lo se sentir melhor? Ou menos machucado, que seja. Soa impossível. E quanto mais eu penso a respeito, mais impossível parece.

Pode ser que eu esteja olhando para a situação de forma errônea, afinal isso se trata do Harry: o meu antigo amigo colorido. O que nós tínhamos, sobre o que nossa dinâmica consistia, era sexo. Puro e simples. Sexo, nada mais nada menos. Nós resolvíamos as coisas de forma horizontal, vertical, diagonal... Tantas opções.

"Pode ligar para a Bianca e ver se ela pode me substituir por umas horas?" Pergunto para a Naomi depois da minha breve epifania.

"Mm... Sim?" Ela responde incerta, me olhando com estranheza. "O que você vai fazer?"

Dou de ombros e digo, "O que eu sei fazer de melhor."

• • •

HARRY

Quando finalmente larguei o meu caderno e a caneta, mais três páginas estavam preenchidas de versos e estrofes melodiosas e cheias de história pra contar. Minha cabeça dói, meu coração dói, tudo dói.

Assim, num passo de mágoa, estou de volta aos negócios.

Minha destra está tensa pela forma rude que segurei a caneta por tanto tempo, nem sei quanto. Me ergo do sofá e ando até a cozinha, a fim de fazer algo bem típico das minhas origens: um maldito chá. Esse é o mais britânico que poderei ser, mas tenho certeza que Charlotte deve estar fazendo algo bem mais britânico nesse exato momento.

Pensar nisso quase me faz queimar os dedos com o fósforo que eu usei para acender o fogão e eu largo o mesmo acesso dentro da pia, que se apaga assim que eu ligo o registro da água e coloco meus dedos abaixo da corrente.

A chaleira apita depois de uns minutos em que me distraí olhando para o nada e eu apago o fogo. Abro minha despensa e tenho de tomar a incrivelmente complicada decisão entre chá de camomila ou camomila. Ser rico é tão difícil.

Preparo a bebida e adiciono um pouco de mel. Ergo minha caneca até os lábios para esfriar o líquido, mas uma lembrança me acerta no mesmo momento. Viro o rosto para a direção da minha sala, sendo capaz de enxergar as costas do meu sofá e...

Sentada lá em seu vestido vermelho ao me observar preparar nossos chás, ela tem as mãos unidas abaixo do queixo, seus olhos treinados em me instigar retirando um sorriso dos meus lábios, conforme ela mesma sorri.

Atiro o chá imaculado na pia e largo a caneca de qualquer jeito, resultando no estilhaçar da mesma.

"Porra!" Exclamo ao bater as mãos na bancada da pia, meus punhos cerrados.

Talvez não esteja explícito para o universo o quão péssimo eu estou me sentindo agora, pois alguém bate a minha porta bem no meio da minha contida crise de nervos. Gostaria de ter aqueles cartões de hotel que dizem 'Não perturbe' para poder colocar na maçaneta da porta nessas horas críticas, mas como esse não é o caso, tenho de respirar fundo e caminhar até o meu inesperado e indesejado visitante.

Há outra batida, dessa vez mais forte, e eu indelicadamente exclamo, "Não sou surdo, caramba!"

"Que droga-" Eu ia perguntar ao visitante, porém levo um susto com a visão da pessoa que encontro parada do lado de fora do meu apartamento.

• • •

"...então ele começou a investigar todos os funcionários e eu digo todos os funcionários. Até os entregadores de água, cara. Eu juro por Deus! Foi uma loucura." Ele me conta com os olhos arregalados, numa empolgação que me faz rir. Jorge sempre foi amistoso comigo quando eu trabalhava no Lily's, mas nunca pensei que fosse tão divertido assim e só estou concluindo isso por conta de sua chocante visita de última hora.

Sendo apenas o lavador de pratos daquele lugar e eu o antigo pianista, nosso baixo nível hierárquico naquele restaurante nos permitiu ser amigáveis um com o outro nos nossos intervalos. Por isso e por ambos sermos gentis com as pessoas em geral, diferentemente dos outros funcionários lá, que levavam a fofoca à sério demais.

Depois de ouvir sobre a minha demissão, Jorge relatou que ficou pensando em mim e imaginando se eu estava bem; se eu tinha conseguido me reestabelecer em outro emprego. Achei tocante sua preocupação e sua iniciativa de procurar pelo meu endereço nas fichas do Lily's, só para vir checar a minha situação. Ele sempre foi simpático, mas não pensei que fosse tão considerável assim. O cara até me trouxe Patacones: um prato colombiano que a mãe dele preparou especialmente para mim.

Agora que viu que eu estou bem (digo, isso é discutível), ele se pôs a relatar as novidades que eu perdi desde que saí do restaurante. Aparentemente, o Sr. De Luca criou uma paranoia à cerca dos funcionários e está ainda mais neurótico com a mania de limpar as mãos.

"Aquele lugar não é o mesmo sem você, Harryzito." Jorge declara sorridente, tocando meu ombro e o apertando levemente só para reafirmar o que está dizendo. "Sem música, aquela gente fica ainda mais feia."

"Só está dizendo isso pra me fazer sentir melhor." Faço um gesto tímido, corando com o elogio.

"Não, cabrón. Acredite. Ninguém apareceu lá para ocupar o seu lugar. Parece até que as pessoas sabem o que as aguardam."

"Queria eu ter recebido esse sinal do universo." Murmuro cabisbaixo e ganho um tapa amigável no ombro, assim como uma leve sacudida no mesmo. "E eu espero que isso não tenha sido um xingamento. Você sabe que eu não entendo nada de espanhol."

Jorge faz um gesto amplo com as mãos e sorri, "Essa é a graça."

Nós ficamos conversando por mais uns instantes, até que ele anuncia que tem de ir embora.

"Se eu não buscá-la no horário, os meus ouvidos que vão arder depois. Quando Deus criou a mulher, ele não estava de brincadeira e quando criou a mulher latina, levou o trabalho ainda mais à sério." Declara, por fim fazendo o sinal da cruz. Eu apenas rio de sua filosofia.

"Estão casados à quanto tempo?" Pergunto, o conduzindo a porta.

"Cinco anos."

"Você é tão jovem." Me admiro.

"Por enquanto, papi. Por enquanto." Brinca.

Abro a porta para ele em meio as nossas últimas palavras de adeus, mas antes que Jorge possa realmente partir, noto que há uma pequenina folha de orégano no canto de sua boca. Provavelmente resultado das Patacones que comemos juntos assim que ele chegou.

"Espera." Seguro o pulso dele, que é onde consigo alcançar. Jorge se vira e me encara com expectativa. "Tem uma coisinha aqui... Com licença." Ergo meu polegar até o canto de sua boca e tiro a folha num movimento único. Ele franze o cenho pra mim, mas então sorri e eu acabo fazendo o mesmo ao perceber que eu poderia ter só informado o lugar, ao invés de tirar eu mesmo.

"Você é um cara estranho, mas gentil ao mesmo tempo, Harryzito. Eu gosto de você." Ele brinca e então me puxa para um abraço de despedida.

"Como se diz por aí: A gente se vê." Ele acrescenta por fim, ainda no abraço, e eu respondo da mesma forma.

"A gente se vê, cara. Obrigado por vir aqui. E muito obrigado pelas Patacones. Estavam ótimas."

"Mama sabe o que faz." Ele me solta e faz um último gesto de adeus. "Se cuida."

"Pode deixar."

Retorno para a minha solidão quando ele parte, encontrando a bagunça de pratos e talheres que fizemos na sala. Recolho tudo e levo para a cozinha. Limpo a antiga bagunça que fiz com a tentativa do chá e a nova, usando desse tempo para clarear um pouco a mente.

Não dura muito.

Há uma batida na porta e eu paro o que estava fazendo. Jorge deve ter esquecido algo.

"O 'A gente se vê' foi mais rápido do que-" Não é o Jorge. Meu sorriso e discurso se desmontam.

Usando preto da cabeça aos pés - uma jaqueta fechada em seu tronco, saia de cetim até a metade das coxas e saltos altos -, Charlotte me fita com um sorriso malicioso de canto, numa pose que faz seu quadril direito apontar para o alto, conforme segura-se no batente da minha porta com uma das mãos. Seu cabelo está solto, ondulado como o de uma estrela de cinema. Há maquiagem em seu rosto, lábios vermelhos chamando a minha atenção de imediato.

"Olá para o homem que nunca para de me surpreender." Ela cumprimenta, rindo sensualmente em seguida. Apenas com isso sou capaz de entender que ela está de fato aqui e eu não estou alucinando outra vez.

Merda, ela está mesmo aqui. Isso não é bom, principalmente com essa boa- maravilhosa aparência.

Engulo em seco, minha garganta arranhando como se tivesse pregos, e assumo uma postura defensiva, cruzando meus braços. Não sei que diabos ela veio fazer aqui, mas não deve ser boa coisa.

"Está perdida?" Questiono sarcástico e ela desfaz sua pose confiante para me encarar mais seriamente.

Tirando algo de trás de suas costas, ela estica o braço na minha direção. "Isso é seu. Eu já deveria ter devolvido."

Desvio meu olhar duro de seu rosto perfeito e me permito notar que a minha camiseta, a mesma que vi aquele merdinha usando, está sendo entregue a mim agora em um cabide coberto por uma capa plástica, como se tivesse saído de uma lavanderia. Minhas mãos coçam para pegar a peça, mas eu me seguro e a fito de novo.

"Pensei que agora ela era do seu amiguinho, já que foi sua para fazer o que quiser." Repito as palavras que ela cuspiu na minha cara horas antes e Charlotte fica ainda mais desconcertada.

Ela balança a cabeça, abre a boca para me refutar, mas estranhamente não diz nada, exatamente como fez no bar. Ela hesita; engole o que quer que esteja sofrendo tanto para dizer e não consegue. Fico frustrado outra vez.

"Se era só isso..." Arranco a camiseta da mão dela de forma aspera, a fazendo vacilar. "...então já pode ir."

Estava pronto para bater a porta na cara dela, mas sua voz suplicante soa antes que eu possa continuar. "Por favor, espera. Não foi só por isso que eu vim."

Suspiro longamente antes de encará-la, mas dói ver a insegurança nela, porque uma parte de mim quer abraçá-la e dizer que, o que quer que esteja a perturbando, vai ficar tudo bem no final. Eu não posso deixar essa parte vencer, não mais. Então eu desvio o olhar para o chão e espero ela prosseguir.

Suas pernas trocam o peso de seu corpo, suas coxas se esfregando na ação, e eu tenho de apertar meus punhos para manter a compostura. "Fala logo, Charlotte." Apresso.

"Posso entrar, por favor? Eu não quero falar no corredor." Pede docemente. Doce até demais.

Tem algo errado aqui, eu posso sentir. À começar pela aparência dela, perfeita demais para uma simples conversa. Ela é uma mulher linda, mas não se arruma assim só para entregar camisetas que pegou emprestado.

"Não sei se é uma boa ideia." Digo friamente e seus dedos se esfregam no cetim de sua bela saia, num movimento nervoso.

Charlotte, Charlotte, Charlotte... O que você está aprontando?

"Por favor, Harry." Ela dá um passo à frente e eu sou obrigado a olhá-la nos olhos. Sendo tão educada assim... Nem mesmo quando eu a fazia implorar no sexo, ela não era tão educada assim. Tão passiva.

"Que merda você quer?" Não consigo controlar o tom hostil que me escapa e ela congela no lugar, abaixando a cabeça imediatamente. Novamente, a maldita vontade de abraçá-la e pedir desculpas me visita, mas eu a empurro pro lado.

"Eu preciso te dizer uma coisa, Harry. Eu juro que não te incomodo mais depois disso. Só me ouça e depois faça o que quiser. Eu não ligo." Declara.

"Que novidade." Rebato no ato ao ouvir sua última frase, ganhando um olhar duro vindo dela.

A desafio a fazer mais alguma súplica, nossos olhos presos juntos testando força. Nenhum de nós quebra primeiro.

Decido por seguir num caminho arriscado. Abro a porta por completo e faço um gesto para ela passar. Ao invés de simplesmente passar por mim, Charlotte me analisa por mais alguns segundos e finalmente murmura um "Obrigada."

A tensão entre nós é tão tangível, que eu poderia cortar com uma faca. Mesmo assim fecho a porta atrás de nós e nos encurralo no meu apartamento.

Charlotte naturalmente tenta avançar até a sala, mas se surpreende quando eu a impeço, colocando meu braço na frente de seu corpo. Por estar tão perto da parede, ela não tem outra alternativa a não ser se encostar na mesma quando eu grudo minha mão na mesma, formando uma barreira. Seus olhos confusos se põe sobre mim com um breve, quase imperceptível, lampejo de inocência, porém a malícia que eu sei bem que permeia sua mente a faz sorrir de canto para mim por fim.

"Achei que você tinha me deixado entrar." Comenta ao se apoiar completamente na parede, dobrando uma das pernas até que o salto toque na mesma superfície.

"E eu deixei. Você já entrou." Me afasto até tocar na parede oposta, criando um braço de distância entre nós. Eu necessito dessa distância. "Agora diz o que você quer me dizer."

"Não vai nem me deixar sentar primeiro."

"Diga, Charlotte." Exijo com firmeza, fazendo seu sorrisinho bobo morrer.

Ela está carregando uma bolsa pequena pendurada em seu ombro. Só percebi agora, porque começa a mexer em sua jaqueta grossa - completamente fora da estação.

Eu já vi esse filme antes.

Meu coração acelera com o mero pensamento daquela noite que já passou, mas é tarde demais. Ela já abriu dois botões da jaqueta. Meus lábios se partem, mas minha voz não sai. Os botões continuam se abrindo, mais pele e renda preta sendo revelada. Então seu umbigo. Então o cós de sua saia. Ela deixa os braços caírem aos lados do corpo e me encara com uma intensidade fora desse mundo, mais uma vez em desafio, mais uma vez em dissimulação.

Dissimulação. É como ela se move. Nunca há uma palavra ou ação natural, mas sempre calculada. A saia, a maldita saia. Ela compõe seu figurino, faz parte do jogo. Sempre um jogo. O quê sempre foi.

O cabide com a camiseta cai dos meus dedos, eu nem ao menos olho para baixo. Estou abismado demais; consternado. Mas por que? Eu realmente não esperava por isso? Vindo dela? Insensatez.

As perguntas 'Como ela foi capaz?', 'No que estava pensando?', 'Será mesmo que não se importa?', 'Será mesmo tão cega?' explodem na minha mente. Eu sinto vontade de rir, depois chorar, mas não faço nenhum dos dois. Eu não posso. Estou anestesiado.

"Essa foi a última gota." Anuncio monótono e o cenho dela se franze em resposta. "Eu tô falando sério, Charlotte. Foi a última gota." Reforço e ela se desgruda da parede, se aproximando de mim. Eu deveria afastá-la, mas não o faço. Não adianta mais.

"O que? Não está feliz em me ver?" Indaga provocativa, parando bem na minha frente. Eu rio baixo sob minha respiração e desvio o rosto, mas ela puxa meu queixo de volta e exige contato visual. "Ele te deixou sem nada? É isso?"

Agora eu fico genuinamente confuso com seu comentário e ela percebe. Portanto, para se fazer mais clara, ousadamente ela leva a mão direita até o meio das pernas e me envolve com certa firmeza, mas não machucando. Eu vacilo, meu corpo tencionando, o que a diverte.

"Você aproveitou tanto com ele, que não ficou nada pra mim? Vou ficar triste." Faz falso um beicinho tristonho e então ri, mordendo o lábio inferior.

"De que merda você está falando, Charlotte?" Por que ela está falando 'ele'? Quem diabos é 'ele'?

"O homem que saiu do seu apartamento, Harry." Agora ela aperta os dedos em mim e eu parto os lábios num arquejo de sobressalto. Ainda não machuca, mas já é o suficiente para me fazer arrepiar. "Não se faça de sonso. Eu não gosto disso. E você sabe muito bem do que eu gosto." A esse ponto, todo o nervosismo e insegurança que ela sentiu, caiu por terra. Ela partiu para a tática que executa tão bem: foder a minha mente.

"O que tem ele?" Questiono, querendo entender o súbito interesse dela nisso. E daí que viu Jorge saindo daqui? Onde ela quer chegar com isso?

Soltando a minha virilha, ela trás os dedos para perto dos meus lábios, mas só seu polegar me toca. Especificamente no canto da boca, num movimento de arrastar, como se estivesse me limpando.

Oh.

A princípio acho graça, afinal é engraçado. Foi uma confusão boba. Porém, quando paro para analisar a conclusão que sua mente chegou com essa confusão boba, me choco.

"Charlotte." Faço em tom de falsa ofensa. "Pensa que eu e aquele homem..." Deixo no ar e as mandíbulas dela travam, seus olhos de mel escurecendo. O que é isso?

"Sim ou não, Harry?" Exige saber, ao passo que eu tento decifrar a emoção em sua voz. Será raiva? Decepção? Nojo? Ciúmes? Não, ciúmes não.

Curvo meus lábios no meu melhor sorriso malicioso, inclinando meu rosto sobre o dela, "E se a resposta for 'sim'?"

Os lábios vermelhos dela se partem e sua pupilas dilatam, vibrando levemente. Excitação, essa é a resposta certa.

Sem nenhum resquício de delicadeza nos meus ossos, eu a agarro pela cintura e a empurro contra a parede que a havia prendido antes. Charlotte vacila, arfando, mas não lhe dou tempo de protestar, pois a grudo novamente naquela superfície fria. A visão de seu peito subindo e descendo pesadamente faz com que seu sutiã de renda chama minha atenção de novo e eu a odeio, ao mesmo tempo que admiro por estar tão irresistível usando essa roupa.

Ela sabia o que estava fazendo quando se arrumou. Sabia bem demais. Sempre aprontando algo. Por isso eu estou nessa situação, que adoro e repúdio de uma vez só.

"Se eu enfiar os dedos na sua calcinha, se é que você está usando alguma, eles vão ficar molhados, Charlotte?" Murmuro a pergunta no ouvido dela, agarrando suas mandíbulas firmemente. Posso ouvir um gemido mínimo com nossa proximidade e obtenho minha resposta desejada. "Garotinha suja, você é. Molhada por tão pouco. Só por um polegar num canto dos lábios."

"Lábios esses que pertenciam a um homem." Ela suspira e eu desencosto minha boca de seu ouvido para olhar em seus olhos. "Não sabia que gostava de garotos." Ela provoca ao repetir uma afirmação que lhe fiz semanas atrás. No meu caso, eu estava errado. Mas ela...

"Eu nunca disse que não gostava." Declaro, não respondendo necessariamente a dúvida dela sobre a saída de Jorge daqui.

"Também nunca disse que gostava." Rebate astutamente e eu tenho de morder meu lábio inferior para não sorrir ou pior - beijá-la.

"Você nunca perguntou."

Ela fica em silêncio. Essa constatação carrega muito peso e Charlotte sabe disso. Ela nunca perguntou, porque nunca se importou.

"Agora é tarde demais." Concluo e me afasto dela outra vez, mas dessa vez decidido a abrir a porta e dar-lhe adeus. Já chega disso.

Todavia, ela agarra o meu antebraço e me puxa para si, envolvendo meu pescoço com seus braços e pressionando os lábios nos meus.

O beijo ameaça derrubar a barreira que eu tive de erguer, com esforço, assim que a vi parada na minha porta. O que ela veio fazer aqui está bem nítido: me usar enquanto se distrai e distrai a mim mesmo, me dando essa falsa sensação de preenchimento. Isso foi tudo o que fizemos nesses três meses que deitamos e rolamos, usamos um ao outro ao invés de encarar as amarguras das nossas vidas e lidar com elas.

Seguro o rosto dela e desgrudo seus lábios dos meus, causando um barulho molhado. Mas ela é persistente e agora é o meu corpo sendo colocado bruscamente contra a parede.

"Sim, Harry. Seus dedos ficariam molhados se você os enfiasse dentro da minha calcinha, porque eu estou usando uma e também porque te ver com aquele cara me deixou excitada." Admite sem rodeios, sem vergonha e eu, como o otário que sou, fico impressionado.

"Então me diga, ele é grande?" Ela prossegue o papo sujo perguntando e meu queixo cai. "Ele ficou por cima? Ou você ficou? Foi gostoso? Ele era bom?"

Minha mão age sozinha e meus dedos se fecham no pescoço dela, "Cuidado com essa boca." Eu gostaria de ter soado intimidador o suficiente para calá-la, mas Charlotte é tão teimosa quanto eu e não desiste.

"Por que? Eu te chupo melhor que ele?"

A beijo. Mas não como ela me beijou. A beijo com raiva, dor, implorando que pare de me torturar. Claro, ela não nota as reais intenções. E se nota, decide encarar como ardor e paixão.

Com isso, eu desmorono.

Charlotte sorri contra os meus lábios por estar ganhando o que quer. Ela dá alguns passos pra trás e voltamos outra vez para a parede de origem. Ali, ela estabelece a posição que deseja, derretendo no contato de nossas línguas juntas.

Cruel ou só alheia? Eu me pergunto diversas vezes. Talvez ambos. Talvez seja a mesma coisa.

Ela se vira e cola sua bunda na minha virilha. Roçando em mim em movimentos sensuais, ela me faz ficar duro. Mesmo depois que me sente enrijecer, ela continua se esfregando em mim e eu relaxo sobre ela, deitando minha testa em seu ombro, em meio ao seu longo e cheiroso cabelo.

"Estou machucando você?" Compreendo que ela não está falando do meu corpo em si.

"Sim." Eu também não estou falando o meu corpo em si.

Puxo sua jaqueta e a faço deslizar por seus braços, até que o tecido grosso caia nos nossos pés. Afasto o cabelo dela e enfio meu rosto em seu pescoço, beijando, mordiscando, lambendo e suspirando sobre sua pele quente do jeito que eu costumo fazer; do jeito que senti falta.

"Por que ficou excitada quando me viu com aquele homem? Você gostou dele?" Indago baixinho, ao passo que meus dedos arranham a pele das coxas dela, subindo por sua saia de cetim.

"Você me excita, Harry, e sabe disso. Mesmo com outro homem." Responde num murmúrio, roçando no meu pau com mais força.

"Ou... talvez você seja um pouco gay." Zombo e ela ri, aquecendo os pedaços do meu coração.

"Tudo bem por mim." Concorda e geme quando eu me deixo render e passeio meus dedos para dentro de sua calcinha. Aperto seu quadril com a mão livre e o paraliso no lugar, pois serei eu agora lhe dando arrepios.

"Porra. Exatamente como eu imaginei. Ensopada." Grunho em seu pescoço, circulando seu clitóris com a umidade que coletei em sua entrada. "Quer que eu te diga o que ele fez comigo?"

Seria uma mentira, uma mentira suja. Mas o quê entre nós não é?

"Só se você quiser." Cede, suas costas arqueando contra mim por conta dos movimentos dos meus dedos dentro de sua calcinha.

"Claro. Seria desrespeitoso compartilhar esses detalhes, não é? Você sabe disso, certo? Com isso você se importa." A forma que a estimulo fica mais áspera e Charlotte choraminga com a sensação, segurando meu braço, mas não o puxando pra longe.

"Harry-"

"Oh, não se preocupe, Charlotte. Você já vai ter o que quer."

Subo a saia dela um pouco mais e uso as duas mãos para puxar a calcinha pra baixo, até que caia ao redor de seus calcanhares. Ela tira um dos pés de dentro da circunferência do tecido para não cair e deixa a peça pendurada em um dos calcanhares.

"Não se preocupe também com o seu look. Não vou arruinar os seus esforços tão notáveis para me seduzir." Agarro sua garganta e a faço erguer a cabeça, levando minha boca ao seu ouvido. "Foi pra isso que colocou essa maldita saia, correto? Me puniu com as calças, deixou claro que eu nunca mais te tocaria, mas porque você não queria. Não foi isso que me disse uma vez? Eu só consegui você porque você me queria. Semana passada você não me queria nas suas mom jeans, mas hoje, oh hoje..." Eu rio amargo e umedeço os lábios com a língua antes de concluir. "Hoje está usando saia de cetim preto. Hoje você me quer."

"Eu..." Sussurra e sua garganta sobe e desce na minha palma ao engolir em seco.

"O que?" Pressiono impaciente.

"Eu quero você. Quero sim. Você me quer?" Maneja perguntar em tom confiante.

Fecho meus olhos e deito minha testa na parte de trás de sua cabeça, inalando o aroma de seu cabelo com força. Me lembra o verão.

"Claro que eu quero você, Charlotte." Suspiro derrotado. "Eu sempre quero você. Até mesmo quando não quero."

Ela ri brevemente, mas eu percebo que foi apenas para descontrair o clima. "Não faz muito sentido."

"Ah, mas faz. Faz, querida. Infelizmente." Dou mais um suspiro longo e levo meus lábios até a mandíbula direita dela, roçando-os na linha da mesma, descendo por seu pescoço até tocar seu ombro e senti-la suspirar em agrado. Imediatamente solto sua garganta e apoio essa mesma mão em seu abdômen, enquanto acaricio seu braço usando os dedos livres, meus lábios continuando o serviço em seu ombro.

"Eu senti falta disso." Ela confessa ao inclinar sua cabeça para trás, aproximando-se de mim o máximo que pode.

Sentiu falta disso, não de mim. Anotado.

"Carinho. Afeição. Leveza. É disso que está falando? Ou talvez orgasmos. Chupões. Um pau." Ergo minha cabeça e a encaro, esperando que perceba que estou fazendo isso. Demora uns segundos, ela estava relaxada, mas então pisca rapidamente e sorri.

"Tudo, eu acho." Dá de ombros. Eu não emito nenhuma reação e seu sorriso se desfaz. Charlotte procura no meu olhar frio alguma resposta para o meu comportamento, mas desiste quando não encontra. "Eu não havia dado a camiseta pra ele. Aconteceu um acidente. Ele precisou de alguma coisa pra vestir." Esclarece e por mais aliviado que eu tenha ficado com essa informação, não é tudo o que preciso agora.

"Está bravo comigo?" Murmura timidamente.

"O que você acha, Charlotte?" Perco a paciência na alfinetada e ela desvia o olhar.

"Você quer que eu vá?" Oferece secamente e eu tenho vontade de gritar com ela, pois ainda não está vendo o real problema aqui. E se vê, continua deliberadamente ignorando o mesmo.

"Por que veio aqui, Charlotte?" Investigo ao invés de extravasar meus sentimentos. "Digo, de verdade. E não me venha com essa história da camiseta. Ou que tem algo a me falar, só para ficar pelada na minha frente. O que você realmente veio fazer aqui?"

Ela para pra pensar por uns segundos e sinto seus ombros se encolhendo, até relaxarem novamente contra mim.

"Eu odeio o fato de que perdi algo tão bom, que me fazia tão bem. Odeio que tenhamos nos desentendido, que eu tenha feito você se estressar. Não era a minha intenção. Mas eu não podia ficar em silêncio quando me disse-" Ela percebe onde estava indo e volta atrás com as palavras. "A verdade, Harry, é que temos um potencial ótimo juntos na cama. Mas aparentemente eu sou a única que o vê pelo que ele é: tesão."

É sempre um prazer ser rejeitado duas vezes.

"Você está aqui, porque gosta de me sentir dentro de você e não tem medo de admitir o que quer." Ressalto e seus olhos encontram os meus com certo receio. "Diga que sim." Pressiono.

"Sim, é por isso." Obedece e meu sorriso triste só a deixa mais incerta.

"Boa garota." Prendo o comprimento de seu cabelo na minha mão e puxo sua cabeça para trás até que deite no meu ombro. "Agora me diga que trouxe camisinha. Eu não estou a fim de sair dessa posição e não ligo a mínima se vou sujar essa linda saia ou não."

"Sim, eu- Eu trouxe. Na minha bolsa." Charlotte quase gagueja por conta da minha mudança de assunto, mas segue o curso.

"Pega pra mim." Ordeno e ela nem pestaneja, se abaixando para pegar a bolsa, abri-la e tirar de lá o pacote de preservativo. Ela me entrega o mesmo, mas eu o devolvo. "Como só você sabe fazer, baby. Vamos lá." Sorrio e ela retribui o gesto, se permitindo ficar lisonjeada.

Assisto Charlotte ficar de joelhos e abrir as minhas calças. Ela me coloca pra fora da minha boxer, ainda rígido e esperando por atenção. Eu arfo quando sua boca me toca sem a camisinha, no entanto, sua língua circulando a minha ponta macia e me fazendo gemer baixinho. Ela fecha os olhos ao me chupar mais além, como se estivesse se deliciando com algo que adora, mas não experimenta faz tempo. Por várias razões, isso me deixa extremamente infeliz e ao invés de aproveitar, eu a faço parar.

Pego-a pelos braços e a faço se levantar. Charlotte protesta apenas brevemente, pois ao me ver trocando de posição e ficando de joelhos em seu lugar, entende minha atitude.

Tomo meu tempo agraciando suas coxas antes de finalmente chegar em seu calor. Ela acha espaço entre os fios do meu cabelo para encaixar seus dedos e morde o lábio ao me observar indo tão devagar, tão gentil. Suas costas arqueiam quando eu começo de fato, um gemido de satisfação e saudade escapando dos meus lábios quando eu sinto seu gosto.

Eu vou sentir falta disso. Dela.

"Espera- Eu não quero gozar ainda." Ela protesta depois de um tempo em que minha língua passeou por sua boceta.

Normalmente eu tentaria a convencer a ter dois orgasmos, mas apenas faço o que ela pede e paro. Fico de pé e ela se segura nos meus ombros, me puxando pra perto de novo.

"Eu esperei demais, agora quero você dentro de mim." Declara antes de me beijar com vigor.

Ela cumpre o compromisso que assumiu e me veste com a camisinha com a boca. Após, eu a pego nos meus braços, suas pernas rodeando a minha cintura, e a coloco contra a parede. Nossos centros se conectam num piscar de olhos.

Começo forte, ela não reclama. Nossa conversa suja mantém o ritmo áspero da transa, porém algo não estava certo. Quer dizer, várias coisas aqui não estão certas, mas há algo em especial que não consigo quantificar ainda.

Normalmente quando nós dois transamos, não importa o quão estressado ou até mesmo aborrecido com algo que ela tenha feito eu esteja, eu sempre me distraia e esquecia da questão no final. Não está acontecendo isso agora e Charlotte pode sentir. Eu sei pela forma que está evitando me olhar nos olhos, pela forma como está hesitando em falar algo.

Normalmente nós fodemos, mas isso não é a mesma coisa. É sexo, mas tem... sentimentos. Maus sentimentos. Tristes.

"Olha pra mim." Eu peço ao diminuir consideravelmente meu ritmo dentro dela. Charlotte reluta, mas olha. Ela está suando como eu, ofegante. Passo a mão em seu rosto para afastar os fios de cabelo grudados e volto a sustentar seu peso com ambas, não confiando na minha força física nesse momento.

"Diga alguma coisa." Exige ao ficar apreensiva com meu olhar.

"Você está me matando. É isso que quer ouvir? Você me destrói." Deixo sair a honestidade bruta, embora usando um tom calmo. "Não consigo te tirar da cabeça. Apesar de tudo, eu gosto dessa dor. É melhor do que nada. E você me daria nada se eu não fosse estúpido o bastante para correr atrás de mais."

"Não isso, Harry." Choraminga apertando suas coxas ao meu redor, querendo que eu vá mais rápido. Pela primeira vez, eu não lhe dou o que quer nesse sentido. Não vou mais rápido, não vou mais forte.

"Me escuta. Escuta, por favor." Suplico, tocando seu nariz com o meu, a abraçando contra mim. "Escute isso." Coloco sua mão no meu coração. "É o som do que restou."

Chegando ao seu limite, ela me beija para me calar e eu deixo. Meus olhos ardem, mas eu deixo. Meu peito dói, mas eu a beijo de volta.

Ela goza primeiro, eu logo depois. Suas pernas tremem, seus joelhos fraquejam quando eu a coloco de pé. Charlotte quase cai, mas eu a seguro firme no lugar e aguardo que se restabeleça.

Vou até o banheiro pegar papel higiênico para limpá-la um pouco e faço o serviço eu mesmo. Nenhum de nós falou mais nada depois da minha última confissão e eu acredito que seja melhor assim.

"Consegue andar?" Pergunto quando ela se ajeita em suas roupas, passando também a mão ao redor dos lábios para limpar os resquícios de batom vermelho borrado.

Ela ri e assente, "Você já fez pior e eu fiquei bem depois."

"Ótimo. Pode ir, então."

Ouvindo isso, ela paralisa e me encara em descrença.

"Você mesma disse que veio aqui pra transar. Nós já transamos, agora pode ir."

Ganho outra sorte de olhares maldosos, mas me mantenho firme. Não está sendo fácil, no entanto. É horrível.

"Por que está falando comigo assim?" Questiona ofendida.

"Achei que fosse assim que queria desde o início. Estritamente casual, apenas sexo e nada mais. Bom, estou fazendo justamente isso."

"Harry-"

"Vou ficar devendo apenas a fuga no meio da madrugada enquanto estiver dormindo. Novamente. Foi mal por isso." Ressalto e isso pra ela é tudo.

"Vai se foder, babaca. Quer ser condescendente agora que finalmente aprendeu como, ótimo. Fique à vontade. Não era a minha intenção passar a noite com você, de qualquer modo." Cospe as palavras, seus olhos ficando úmidos. Eu não posso pensar nela chorando agora, então finjo que não estou percebendo esses sinais.

"Você não tem intenções, Charlotte. Não faz compromissos com seres humanos que durem mais do que meia hora."

"Como se você durasse tanto tempo." Desdenha e eu avanço alguns passos em sua direção, a fazendo recuar.

"Se está tão insatisfeita, o que ainda faz aqui?" Minha voz soa fria e cortante, eu fico com ódio de mim mesmo.

Agindo depressa, ela coleta sua bolsa do chão, abotoa sua jaqueta para esconder seu belo sutiã e some porta à fora.

Acho que agora posso finalmente deixar a ficha cair.

N/A: HAPPY PRIDE BITCHES 🏳️‍🌈

Quando puderem deem uma olhada na minha nova fanfic chamada Nightingale.

Votem, meus amores.

Espero que tenham gostado do capítulo.
xx

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