Jardim de Papel (taekook ABO)

By Nyx-in07

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Kim Taehyung, um garoto simples e único criado numa fazenda no interior de Daegu, Coreia do Sul, tem o sonho... More

Margaridas na Janela
O Almoxarifado N° 1
Um Chefinho Muito Estranho
Azul Hortênsia
Luz na Escuridão
Florzinhas de Papel
Cabelos de Fogo
Dia de Cão
Garrinhas Afiadas... Ou Nem Tanto
Especial - O quê era Antes para se tornar Depois
O Vencedor
Se Queima em mim, Queima em você?
A Família Que Escolhemos
Amor Entorpecido e Instigado
Onde Deve Estar
Não Pode Ser Escondido
Profundezas do Desespero
Estou Aqui Agora
Incêndio
O Pardal Perdido Que Não Podia Planar
A Mais Terrível e Perigosa e Completamente Assustadora Coisa de Todas

A Mui Nobre Família Ling

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By Nyx-in07

Olá, Oi! 

Primeiro, quero me desculpar porque esse capítulo ficou bem grandinho kkk mas espero que gostem mesmo assim. 

Segundo, feliz aniversário pro Tete!! Vamos todos mandar boas energias para ele e pros meninos! 

Boa Leitura! 

Nota: Eu ignorei as políticas de controle populacional na China para melhor andamento da história. 

✿✿✿


– Então... – Jimin deu batidinhas no quadro negro atrás de si com uma régua de madeira, parecendo um professor severo se dirigindo a sua classe. – O quê nós sabemos sobre os Ling?

Jeongguk, Taehyung, Yoongi, Namjoon, Hoseok e Jin, distribuídos nessa ordem da esquerda para a direita ao longo de uma mesa retangular de madeira polida na sala de reuniões da empresa, permaneceram em silêncio por um instante.

– São uns patifes desgraçados e um desperdício de espaço no planeta. – resmungou Jeongguk, enfim.

– Chefinho! Não diga essas palavras feias. – repreendeu Taehyung, recebendo um sorrisinho presunçoso de Jeongguk.

– Se você encontrar alguém que possua uma suspeita cara de quem comeu kimchi sem sal – começou Jin com aquela postura de quem estava prestes a fazer uma piada. – certamente é um Ling.

– Não são eles que sofrem da Síndrome Aguda de Nariz-Empinadês? – indagou Yoongi tentando parecer sério, mas o sorrisinho besta no canto dos lábios dizia o contrário.

– Ouvi dizer que é de nascença. – emendou Jin. Yoongi deu uma risadinha, mas parou ao receber um olhar afiado de Jimin.

– Quando não estão vivendo sua vida completamente miserável – continuou Jeongguk, ignorando o olhar de tédio de Jimin. – Estão em sua mansão ridiculamente cara planejando como tornar a vida de outras pessoas completamente miserável.

– Achei que eles morassem numa caverna. – disse Jin, com uma falsa expressão de surpresa. – Eles parecem os Volturi, só que menos estilosos.

– Eu... Não creio que sei alguma coisa sobre eles. – sopesou Namjoon. Jimin balançou a cabeça e suspirou.

Taehyung levantou o braço abruptamente, exclamando "Eu, eu, eu!".

– Taehyung? – Jimin apontou esperançosamente para ele com a régua.

– São chineses!

Jin, Yoongi e Jeongguk explodiram em risadas. Hoseok continuou com aquele ar sombrio e Namjoon disse um animado "É verdade!".

– Obrigado, Tae, por ser o único a não dar uma resposta irônica e completamente inútil. – inquiriu Jimin, semicerrando os olhos para os três palhaços que ainda riam.

– Relaxa, Jiminie. – falou Jeongguk. – Eu acho que nós somos completamente capazes de lidar com dois riquinhos metidos à nobreza.

– Ah, você acha? – perguntou Jimin, sua voz mergulhada em ironia. – Pois escute bem, meu caro Jeon. Se tudo der certo, e vai dar certo, esses dois "riquinhos metidos à nobreza" vão nos garantir uma boa quantia em capital. Dinero, mi amigos, dinero! – esclareceu, gesticulando com as mãos como se estivesse jogando notas de dinheiro na direção deles. Logo, ele voltou àquela pose afetada de professor rabugento. – Por isso, eis aqui o quê precisamos saber sobre os Ling.

Ele tirou um mini controle do bolso e ligou um projetor. Era possível ver a luz pelas partículas de poeira, como uma névoa da manhã, indo em direção ao quadro negro e tomando forma num slide muito bem feito com o título "A Mui Nobre Família Ling".

– O título foi ideia minha! – contou Taehyung, muito orgulhoso.

– A família Ling é muito antiga e desde os seus primórdios são conhecidos pela confecção de tecidos. – iniciou Jimin, passando os slides. – A seda deles é caríssima, mas com uma qualidade excelente. Porém, já tiveram tantos escândalos no passado que seu nome quase perdeu todo o prestígio.

Ele passou para um slide de uma espécie de árvore genealógica com fotos.

– Ling Huang-chi, também conhecido como Velho Ling... – ele deu uma olhadela para Jeongguk, o autor do apelido, que bufou uma risada. – Foi pai aos 21 anos de seu único filho, Feng-yu, chamado pela mídia chinesa de "Diabo Serpente", por causa da tatuagem que ele tinha no pescoço. E, também, pela sua péssima reputação. Feng-yu tinha como passatempo importunar os secretários e outros funcionários de seu pai.

Jimin deu um clique no mini controle e três fotos de homens diferentes, porém com evidentes semelhanças entre si, apareceram no slide. Taehyung notou que todos tinham a mesma curvatura nos olhos e os mesmos lábios. Mas dois deles já aparentavam certa idade, enquanto o outro era bem mais novo.

– Quando tinha 19 anos... – continuou Jimin. – Feng-yu engravidou um secretário. E, assim, nasceu o mais velho dos netos do Velho Ling, Chang-yin. – ele deu uma batidinha no quadro sobre a foto de Chang-yin. Um homem maduro com algumas rugas no rosto sério e impassível. – Foi um escândalo, principalmente quando Feng-yu se recusou a casar com o secretário. 5 anos depois, a história se repete. Dessa vez, uma estagiária. Feng-yu assumiu o filho, Guiren, mas novamente se recusou a ficar com a pobre coitada.

– E então, nove anos depois, quando todos achavam que ele tinha tomado jeito, Feng-yu engravida um funcionário da limpeza e coloca mais de sua prole no mundo. – emendou Jeongguk, sua voz era uma mistura de zombaria com desprezo.

– Foi outro escândalo. – concordou Jimin. – Dizem que o Velho Ling ficou furioso. Mas Feng-yu nunca chegou a conhecer o filho mais novo. Ele morreu de overdose numa casa de shows em Las Vegas antes de Lian-chi nascer.

– Isso é terrível! – disse Tae, boquiaberto.

– Por ironia do universo, Lian-chi foi quem mais puxou ao pai. O Velho Ling tentou mantê-lo longe da mídia para ocultar sua péssima postura social e para não associá-lo a Feng-yu e manchar ainda mais a memória dele. – discorreu Jimin.

– Ah, mas ele se faz notar, sim. – falou Jin, se inclinando para frente como que para contar uma fofoca. – Uma vez, estive na mesma festa que ele e uau! Aquele garoto definitivamente não conhece limites. Eu estava meio alterado... Meio – ressaltou ao ver a sobrancelha arqueada de Yoongi. – mas me lembro de uma guitarra sendo quebrada, um sutiã voando pelos ares e atingindo o DJ na cabeça e Lian-chi dançando Macarena sobre o balcão com uma espuma azul estranha no cabelo.

– Ele me parece ser uma pessoa divertida. – comentou Tae, o queixo apoiado na mão. Era estranho quando ele fazia isso, pensava Jeongguk, porque ele ficava com um ar ainda mais sonhador, suas feições se iluminando como o sol de inverno que reflete na neve, um calor puro e esperançoso. E ainda mais bonito, também.

– Se divertido você quer dizer um completo doido de pedra, então sim. – falou Jeongguk rapidamente. Ele precisava proferir alguma coisa para tirar aqueles pensamentos esquisitos de sua cabeça. – Só de pensar que esse lunático vai estar na minha empresa daqui algumas horas...

– De qualquer forma, o Velho Ling já deixou este mundo e os negócios foram assumidos por Chang-yin. – Jimin apontou para a foto do homem mais velho. – Guiren já deixou claro que não está interessado. Ele quer seguir carreira de ator. E Lian-chi... Bem, não quer seguir uma carreira. Boatos dizem que ele já chegou a gastar meio milhão de dólares em apenas uma noite.

– Divertido, porém muito solitário. – concluiu Taehyung, com pesar.

– E mimado. – acrescentou Jeongguk num resmungo.

– Alguma pergunta? – falou Jimin. Taehyung ergueu a mão. – Sim?

– Porque o chefinho e o Jin-hyung os odeiam tanto?

– Jeongguk realmente os odeia. – foi Yoongi quem respondeu. – Jin só gosta de zoar as pessoas mesmo.

Jin deu uma piscadinha para ninguém em especial.

– É uma velha rixa pessoal. – falou Jimin. – E velhas rixas pessoais são difíceis de acabar.

– Tem haver com negócios, mas também é pessoal, sim. – continuou Jeongguk, cruzando os braços. – Quando minha avó estava começando a empresa, ela procurou o Velho Ling, que não era velho na época, e pediu ajuda. Uma parceria. O pai dela era um antigo acionista da empresa do pai do velho, um bem importante, então eles meio que se conheciam. Ele aceitou a princípio, prometeu investimento e tudo mais. Mas quando minha avó foi cobrar, ele exigiu que ela se casasse com ele. Como ela não aceitou, o Velho, com o orgulho ferido, cortou todos os laços. Somos inimigos desde então. – terminou sombriamente.

– Mas vocês não pretendem fazer uma nova parceria? – perguntou Taehyung, confuso.

– Nem me lembra disso. – retrucou Jeongguk, o drama em cada gesto. – Só de pensar me dá arrepios!

– Aposto que você não consegue passar o resto da semana sem insultá-los. – desafiou Jin.

– De novo não... – murmurou Jeongguk, mas, logo em seguida... – Aposta o quê?

– Se perder, vai pagar nossa conta num restaurante caro. – foi Yoongi quem disse. Jimin já havia desistido da palestra e agora estava sentado na ponta da mesa, tamborilando os dedos e, provavelmente, imaginando onde encontrar novos amigos.

– 'Tá, mas se eu ganhar, os seis palhaços vão fazer hora extra por uma semana sem pagamento.

– Fechado!

– Já deu a minha hora. – falou Yoongi, de repente, arrastando a cadeira. – Preciso, sabem, deixar tudo em ordem para a chegada dos... hm... – ele pigarreou sob um olhar matador de Jimin. – convidados, sim. E você – ele apontou para Jeongguk. – Não envergonhe meu namorado.

Jeongguk ergueu os braços em rendição.

– Prometo ser decente para mostrar como um ser humano deve agir para aqueles... – ele percebeu, sob os olhares de expectativa de todos, o quê iria dizer. – Droga! Tudo bem, eu ainda posso xingá-los no pensamento.

– Você não vai conseguir. – afirmou Jin. – Fica explosivo quando tocam na sua ferida e não se aguenta.

– Não sei do que está falando. Não tem ferida nenhuma. – ele cruzou os braços com confiança.

– E daquela vez que um jornalista de revista de fofoca escreveu sobre um caso antigo e vergonhoso do seu avô... – ressaltou Namjoon. – E, dois meses depois, quando ele ligou para marcar uma entrevista, você o deixou esperando por uma hora no telefone com aquela musiquinha irritante de propaganda.

– Ele mereceu. Chamou meu avô de "suco de Axl Rose asiático com camisa xadrez e calça apertada". – resmungou.

– Se você parar pra pensar, não é uma ofensa tão grave assim. – indicou Jimin.

– Mas a intenção dele foi ofender! – teimou Jeongguk, o olho esquerdo tremendo.

– E daquela outra vez... – continuou Namjoon – que um faxineiro deixou um saquinho aromático de lavanda pura na sua gaveta pra não precisar limpar e te deixou com alergia. Você comprou uns cinquenta daqueles e colocou no armário do coitado. Ele ficou espirrando por uma semana.

– E quando estávamos no ensino médio e aquela diretora interina proibiu a venda do sorvete que você gostava na frente da escola. – lembrou Jimin. – Você contratou 50 carrinhos de sorvete e os mandou estacionar bem na frente da escola e organizou um protesto. Foi uma festança, mas a diretora acabou pedindo demissão depois. Coitada.

– Eu achava que você só era um maluco raivoso com problemas de comunicação. – falou Jin, espantado. – Mas isso já um transtorno compulsivo dos brabos. Já pensou em fazer yoga? Tomar um chazinho de camomila?

– 'Tá bom, 'tá bom! – Jeongguk jogou os braços para cima. – Talvez eu tenha tomado algumas decisões impulsivas no passado, mas isso era o antigo Jeongguk. Hoje eu sou um novo homem.

– Isso era para nos tranquilizar? – zombou Jimin. Jeongguk fez uma cara de tédio para ele.

Durante a discussão, Taehyung não conseguiu desviar os olhos de Hoseok, que não havia proferido uma só palavra desde que entraram naquela sala. Ele permanecia isolado num estado ensimesmado que não combinava nem um pouco com ele. Normalmente, ele estaria fazendo piadas com os outros, rindo e se divertindo. Parecia até outra pessoa. Uma sombra do antigo Hoseok.

Taehyung sabia que as coisas entre ele e Taeyeon estavam no fundinho do poço. Eles brigaram, se separaram e, na noite passada, Taeyeon ligou chorando enquanto fazia as malas porque não queria ir, e porque Hoseok não tomava nenhuma atitude para fazê-la ficar.

O pequeno ômega suspirou. Deveria interferir e dar uma de cupido de novo. Ora, por que essas pessoas não podiam só sentar e conversar direito? Eles complicavam tudo! Tsc.

Seu olhar desviou para Jeongguk, que ria de escárnio de alguma coisa que Jin havia dito. Ele fazia muito isso ultimamente. Rir. Se divertir. Aproveitar a companhia dos amigos. Estavam prestes a receber pessoas importantes - que ele odiava - mas parecia leve como o ar que puxava para os pulmões a cada gargalhada. Sem nenhuma ruga de preocupação na testa, nem olheiras embaixo dos olhos. No seu rosto, brilhava um sorriso de dentes de coelho e covinhas. Sua risada reverberava e balançava-lhe os ombros.

Taehyung deu outro suspiro. Dessa vez de completa paixão.

– Certo, falta pouco para eles chegarem. – avisou Jimin. – É melhor todos irmos para nossos lugares.

Tae permaneceu sentado enquanto os outros se retiravam da sala. Convenientemente, Jeongguk foi o último. E, quando ele estava prestes a sair, o ômega gritou:

– Alto lá!

Jeongguk espasmou de susto, virando-se para Taehyung, branco como papel.

– Ficou maluco?! Cadê o seu amor ao próximo?! Eu quase tive um ataque... Sabia que a sua voz fica diferente quando 'tá com raiva? É assustador. – ele se apoiou na porta, esfregando o peito com a mão. Taehyung fez um muxoxo.

– Tentando me fazer ficar com pena de você, não é? Ah, chefinho, eu não achava que logo você jogaria tão sujo... – ele balançou a cabeça em completa reprovação.

– Como é?

– Achou mesmo que eu esqueceria? Ou que teria a benevolência de livrá-lo de seu destino? Tsc, chefinho, as coisas estão muito, muito claras. – ele cruzou os braços e se recostou na cadeira. Só faltava colocar os pés em cima da mesa para parecer um chefe da máfia. Se, claro, ignorasse a camiseta laranja com o desenho de um porquinho tomando refrigerante e a presilha de borboleta no cabelo dele, que definitivamente precisava de um corte.

– A única coisa que está clara para mim é que você pirou. – ele arqueou uma sobrancelha, impaciente.

– Você está em débito, chefinho. E terá que pagar.

– Pelo amor de Deus, alguém liga pra um hospício. Tem um ômega achando que é um xamã aqui.

– Ao que parece, você se esqueceu da consequência de se perder a aposta. – apontou Taehyung.

Toda a cor sumiu do rosto de Jeongguk.

– E agora acabou de lembrar. – ele estalou os dedos, sorrindo vitoriosamente.

O alfa suspirou.

– O quê você quer que eu faça?

– Uma festa na piscina na sua casa! – todo o ar sombrio desapareceu, e ele falou com a animação de sempre. – E tem que ter churrasco, refrigerante e torta de morango. Pode deixar que essa última eu faço...

– Espera aí. – interrompeu Jeongguk. – Acho que não entendi direito. Você disse... uma festa? Só isso? Sem nada estranho ou vergonhoso que me faria querer desaparecer da face da Terra?

– Uhum, só isso. Ah! Mas precisa ter convidados. E eu tenho que ser um deles. Mas você pode convidar quem quiser, eu deixo. Quanto mais melhor!

– Ah, você deixa? – ironizou ele.

– Uhum, maaaas... – ele ergueu o dedo indicador. – Minha única exigência é que você se divirta. Se eu ver que você não está se divertindo, vou te obrigar a vestir uma fantasia de melancia e fazer nado sincronizado na piscina junto com...

– Quem não ama diversão, não é? Diversão é o meu nome do meio. Vou me divertir como se fosse o meu último dia! – ele fez um floreio exagerado.

Taehyung levantou de supetão e foi na direção da porta, dando tapinhas no ombro de Jeongguk.

– É muito bom fazer negócio com você, chefinho.

E saiu saltitando pelo corredor sem olhar para trás.

– Quem vai precisar de um hospício sou eu, porque esse ômega vai me deixar maluco. – resmungou Jeongguk, seu pé batendo sem parar.

✿✿✿

Taehyung estava no A1, sentado com as pernas cruzadas, cantarolando uma cantiga de ninar e fazendo colagens com jornais quando o telefone tocou. Calma e delicadamente, ele o apanhou e posicionou pertinho da orelha.

– Almoxarifado 1, como posso...

– KIM TAEHYUNG!

O telefone pulou de sua mão com o susto e caiu em cima da mesa. Quando Tae o pegou novamente, ainda tremendo e pálido como um fantasma, conseguiu ouvir a voz exaltada de Jeongguk:

– Traga uma prancheta e as melhores canetas esferográficas que tivermos para a sala de reuniões agora! Os infeliz... Quer dizer, os convidados estão quase chegando!

– Sim, senhor! Agora mesmo, senhor!

Chegar até a sala de reuniões acabou demorando mais do que o normal. Todos estavam ansiosos e excitados com as visitas tão importantes e queriam presenciar o quê aconteceria. Os elevadores estavam cheios e lentos, os corredores, praticamente impossíveis de se passar.

Mas a sala de reuniões estava deserta e perfeitamente organizada. O chão parecia um espelho de tão limpo. As cadeiras foram posicionadas em distâncias iguais da mesa, que continha uma folha de papel em cada lugar e uma bandeja com um bule de café e xícaras.

Taehyung colocou uma caneta sobre cada folha, como já fizera antes, e deixou a prancheta no lugar que seria de Jeongguk, na ponta da mesa.

Ele estava com a mão na maçaneta quando ouviu uma cacofonia aterrorizante: passos e vozes no corredor.

Ah, não. Não, não, não, não.

Jimin foi bem claro quando disse que tudo deveria ser impecável. Qualquer erro significaria a falha completa do acordo e a perda de uma parceria que poderia trazer muitos lucros para a empresa.

Não deveria ter ninguém na sala de reuniões quando os Ling chegassem. Se Taehyung fosse o responsável por tudo dar errado... Ó céus, ele não queria nem imaginar.

Sua mente funcionou em um segundo. No outro, ele já estava dentro de um armário de escritório quase vazio, exceto por uma pilha de sulfites e alguns guardanapos numa caixa. Ficava no canto da sala, longe da mesa, e Taehyung se espremeu no espaço entre o chão e uma prateleira. Ele quase bateu a cabeça num gancho para pendurar e fez uma nota mental de perguntar porque daquele armário estar ali se ninguém o usava.

Agora, vendo a porta se abrir, ele agradecia pela existência daquele pequeno móvel, mesmo que ficar nele fosse dolorosamente desconfortável. Seus joelhos estavam dobrados, mas ele não conseguia se sentar por ser alto demais e o espaço, estreito demais. Seu pescoço estava virado de um jeito que parecia estar quebrado. Usava as mãos para se equilibrar.

Ele ouviu vozes e o som de cadeiras se arrastando. E, sem conseguir conter a própria curiosidade, abriu uma fresta entre as portas e espiou.

Taehyung reconheceu Jeongguk, sentado à ponta da mesa, a postura tão ereta que o paletó azul marinho se acentuava perfeitamente em seus ombros largos, sério como uma rocha esculpida. Jimin, logo à direita do alfa, nas roupas mais chiques que Tae já vira ele usar - um terno bege sobre uma camisa rosé com delicados babados na gola que cintilavam com a luz. Ele exibia uma expressão mais branda que Jeongguk, ainda que profissional.

Taehyung quase não reconheceu seus próprios amigos. Eles pareciam bem mais velhos, como pessoas que tinham o controle de tudo que acontecia na palma das mãos. Como a água deveria correr, em qual temperatura o vento poderia soprar. Era o poder. Diluído e reformulado para compôr aquele alfa e aquele ômega em qualquer batalha que enfrentassem.

Havia ainda outras três pessoas desconhecidas, sentadas do lado esquerdo. Tae conseguia ver seus rostos perfeitamente de onde estava. Dois ele lembrava da aula de slide de Jimin. Ling Chang-yin, o irmão mais velho, vestido num terno cinza claro, os cabelos pretos bem penteados para cima, tão sério quanto Jeongguk. E Ling Lian-chi, usando uma jaqueta de couro e parecendo preferir estar ardendo no inferno do que presente naquela sala.

Taehyung se perguntou quem era a terceira pessoa, uma mulher muito bonita usando um vestido preto de mangas longas e decote coração, os brincos de pedra negra combinando com seus cabelos. Mas Ling Chang-yin sanou sua dúvida:

– Essa é Cho Fei, diretora de moda da minha empresa. – apresentou.

Taehyung inclinou a cabeça para o lado. Chang-yin ostentava um rosto impassível que dizia que estava ali apenas para negócios, mas sua voz era calma e serena como a corrente infinita de um riacho. Uma voz de canção de ninar. Ele observou Lian-chi revirar os olhos pela segunda vez desde que entrou.

Alguns apertos de mão e cumprimentos vazios depois, Jeongguk falou:

– Eu, sinceramente, não esperava que aceitasse o convite.

Chang-yin pareceu intrigado, pelo mínimo de expressão que ele se permitiu demonstrar.

– Por causa do histórico de rivalidade entre nossas famílias? Para mim, isso foi enterrado junto com meu avô.

– Mas ele morreu odiando vocês. – acrescentou Lian-chi, um quê ínfimo de ironia na voz forte. O tipo de voz que poderia causar muito, muito barulho se quisesse.

Taehyung viu no rosto de Jeongguk que ele ficou surpreso por Lian-chi se pronunciar. Assim como Chang-yin. Jimin olhou de soslaio para Jeongguk, como se esperasse que ele retrucasse. Se foi a aposta ou o decoro que impediu o alfa, Tae não sabia. Mas Jeongguk apenas deu um pequeno sorriso sem dentes, indubitavelmente falso.

– Como seu irmão disse, isso ficou no passado. – foi o quê ele disse.

Ah, Jeon Jeongguk, seu malandrinho, pensou Taehyung, rindo internamente.

– Vamos aos negócios. – propôs Chang-yin. – É imaturo e nada prático alimentar antigas rixas de família.

Taehyung notou um músculo da bochecha de Jeongguk tremer. Durou um segundo, e ele voltou à calma fria de antes. O pequeno ômega sabia que ali estava o Jeon Jeongguk dos negócios, aquele que presava o bem-estar da empresa acima de tudo. E, ah, ele não podia deixar de admirar seu chefe por isso. Seu chefe Jeongguk, e não seu amigo Jeongguk. Agora ele sabia a diferença.

O Jeongguk do passado teria retrucado Lian-chi, teria dito algo ofensivo para Chang-yin nesse exato momento, mas não o fez. O Jeongguk de agora engolia sapos, suportava coisas que o ferviam de raiva, com nada mais que sua própria pose de indiferença. O Jeongguk de agora era forte.

Era impressionante quantas facetas uma pessoa podia possuir. E era ainda mais extraordinário quando se ia descobrindo-as. Conhecendo-as. Entendendo-as. E esperar que muitas outras surgissem.

Quantos outros Jeongguk's ou Jimin's ele ainda conheceria? Não tinha ideia. Mas estava ansioso para saber. E, poxa vida, quantos outros Taehyung's ele ainda descobriria em si mesmo? Era isso que significava crescer? Se tornar uma versão melhor de si? Ele esperava que sim, pois somente a ideia de, no futuro, vir a conhecer a si próprio muito melhor do que é hoje o enche de euforia auspiciosa.

Porém, infelizmente, o Taehyung do presente ainda precisa passar por um bocado de coisas, aprender uma penca de lições até evoluir. E, uma delas, seria não estar num armário durante uma reunião importantíssima que significava demais para seus amigos.

Enquanto Jimin, Jeongguk, Chang-yin e a assistente dele, Cho Fei, discutiam detalhes de contratos e coleções, Lian-chi estava visivelmente nadando no tédio. Ele estava perto da bandeja de café e empilhava saquinhos de açúcar, só para derrubá-los com um peteleco depois.

Seu irmão desviou o olhar para ele, arqueando uma sobrancelha.

– Lian-chi. – chamou. – Já que está tão interessado na bandeja de café, porque não nos serve um pouco?

O irmão mais novo virou a cabeça lentamente para ele, um pouco surpreso ou se perguntando se ele estava falando sério. Mas Chang-yin, irredutível, sinalizou com a cabeça para a bandeja.

Lian-chi passou a língua entre os lábios, abrindo um sorriso cínico de dentes alinhados.

– Claro, querido irmão. É pra já. – ele ergueu-se num pulo, arrastando a cadeira com um tinido. Serviu as xícaras com a delicadeza de uma donzela, segurando o bule pela alça e apoiando a tampa com a outra mão. Em seguida, ergueu duas delas pelo pires e deu a volta até Jeongguk e Jimin.

Mas, quando ia colocar a xícara em frente a Jeongguk, sua mão tremeu com considerável violência - o bastante para ser falso - e a xícara caiu para o lado. Líquido escuro e quente escorreu pela mesa, molhando papéis e caindo como uma cachoeira pelas beiradas. Quando Jeongguk se levantou, fugindo do café derramado, o estrago já estava feito. Uma mancha nas suas calças, em cima da coxa.

– Lian-chi! – repreendeu Chang-yin. – Olhe o quê você fez!

– Eu sinto muito. – ele ergueu as mãos em rendição. – Foi sem querer.

Jeongguk, Jimin, Chang-yin e até Cho Fei lançaram olhares para ele que diziam que não acreditavam em uma palavra, mas não tinham como acusá-lo, de qualquer forma.

Jeongguk estava vermelho e mordendo o lábio inferior com violência. Taehyung realmente admirava o autocontrole dele.

– Eu ajudo! – falou Lian-chi. – Onde tem guardanapos?

– Naquele armário. – apontou Jimin, sem olhar. Estava mais concentrado em impedir que Jeongguk perdesse a paciência e desse um vexame.

Taehyung congelou assim que as palavras evaporaram no ar. Naquele armário.

Não. Não. Não, não, não, não.

Sim. Lian-chi estava caminhando em sua direção.

Taehyung só pôde se remexer desajeitadamente, incapaz como um peixe numa rede, antes de Lian-chi abrir as portas e encará-lo diretamente.

Seu coração batia tão rápido que ele mal pôde ler as reações do outro. Surpresa, espanto, uma sobrancelha ficando maior que a outra, depois dúvida e então, entendimento.

Quando Lian-chi percebeu o quê estava acontecendo, seu olhos adquiriram um brilho felino de diversão. Como um gato que vê um passarinho distraído. Ele, finalmente, tinha achado algo para se entreter.

É provável que Taehyung nunca mais se encontrasse em situação mais embaraçosa. Espremido como uma sardinha numa lata, o desespero emanando de seu olhar, implorando para aquele desconhecido que, por tudo que era mais sagrado, não o entregasse.

E Lian-chi era esperto e ardiloso como uma raposa. Ele nada fez além de encarar o ômega, pegar os guardanapos e fechar as portas do armário. Taehyung sabia que não havia acabado. Ele sentiu na breve troca de olhares que não poderia fugir.

Mas ele ainda podia tentar. Jimin decretou uma pausa e Jeongguk saiu como um raio em plena queda para trocar a calça manchada, ou controlar um inevitável ataque de fúria. Os Ling saíram logo depois, acompanhados por um Jimin tentando mediar a situação.

Taehyung não se mexeu até ter certeza que ninguém mais entraria. Então, abriu as portas e se lançou para fora, sua pernas quase cedendo de cãibra e dormência. Depois de recuperar o fôlego e esticar os membros, ele correu para fora daquela sala tão rápido que não percebeu que alguém o esperava do outro lado, colidindo diretamente com ele.

Lian-chi o segurou pelos cotovelos e o impediu de cambalear. Seu aperto era firme, mas não dolorido. Ou talvez ele estivesse segurando-o para impedi-lo de fugir, porque era exatamente isso que Taehyung quis fazer quando percebeu a furada que havia se metido.

O outro o encarou curiosamente, movendo a cabeça de um lado para o outro como se estudasse seu rosto.

– E quem é você? – perguntou, um sorriso de divertimento junto às palavras.

Taehyung piscou, suas bochechas doendo de tão quentes.

– Minha nossa, nossa... nossa. – balbuciou. Lian-chi tinha olhos tão obscuramente profundos que era impossível deixar de encará-los. Um tipo de olhar que poderia fazer muralhas caírem, imperadores se ajoelharem e condenados implorarem por clemência.

Ele esticou ainda mais os lábios, uma presunção ociosa em cada ponta. O rosto dele parecia um conjunto feito para deixar Taehyung perdido.

– Seu nome é minha nossa, nossa, nossa? – ele riu, grave como um Dó. Sua voz era quase tão intensa quanto seus olhos.

Foi como acordar de uma hipnose. Taehyung se desvencilhou do aperto dele e cruzou os braços, seus lábios formando um bico contrariado, ainda que ele tremesse de ansiedade. Ver seus amigos agindo tão profissionalmente o inspirara a ser igualmente sério.

– É Kim Taehyung. – resmungou, imitando a forma como Jeongguk fazia.

– Kim Taehyung. – as palavras acompanharam o arquear da sobrancelha. – Certo. Kim Taehyung. Imagino que saiba quem sou eu.

Taehyung estreitou os olhos. Fendas castanhas que transmitiam suspeita. Aquele homem não lhe passava muita segurança, ainda mais por saber seu segredo obscuro.

– Por acaso, sei. – explicitou.

– E, também, porque estava bisbilhotando escondido. Tsc. – retrucou, afetadamente.

Taehyung corou, sua pose falhando como areia soprada pelo vento. Ele abriu a boca e fechou, depois deu um sofrido suspiro e disse:

– Foi um acidente... – ele voltou a se empertigar. Ora, não era assim que o chefinho agiria. Mantenha a calma, Kim Taehyung, e seja como Jeongguk. O quê ele faria? – Assim como foi um acidente você derramar café no chefinho! E nem adianta negar, eu vi tudinho! – ele fez sua melhor cara de ameaçador e até inflou as bochechas, ainda meio coradas de vergonha. Será que deveria rosnar e mostrar os dentes? Não, isso seria muito agressivo.

Lian-chi pareceu surpreso por um momento, então jogou a cabeça para trás numa gargalhada alta. Taehyung piscou, sua confiança esvaziando como um balão furado. Poxa, eu deveria ter rosnado.

– Gostei de você, Kim Taehyung. – declamou, amigavelmente, sua boca ainda repuxada naquele sorriso afetado que parecia parte dele.

Agora Taehyung estava mais do que pasmo. Seus olhos, antes estreitos em desconfiança como os de um felino, se encheram de brilho sorridente como os de um cachorrinho.

– Ah! Jura? É mesmo? Mas eu não te disse nada amigável... – disse a última frase em tom de dúvida.

Ele deu de ombros.

– Ninguém diz. Mas você foi a coisa mais interessante que vi desde que cheguei. E a mais estranha. – ele observou o conjunto que era Kim Taehyung. Cabelo azul desbotado, roupas no mínimo espalhafatosas, tênis amarelos e uma adorável expressão contrariada. Ele apoiava o queixo na mão e seus olhos diziam mil coisas, como se tentasse achar uma explicação para todos os mistérios mais singulares, ainda que poéticos, do universo.

Taehyung se lembrava de todas as coisas incrivelmente maravilhosas que viu e aprendeu desde que chegou à Coreia, e constatou:

– O senhor é meio doidinho. – constatou, estreitando os olhos. – Um Sr. Doidinho. Fala umas coisas sem sentido e tem um jeito engraçado de se comunicar, mas suponho que algumas pessoas precisem ser doidinhas para o mundo ser mais interessante.

Lian-chi pareceu ponderar, movendo a cabeça, e decidiu que concordava.

– Minha reputação me precede. – foi o quê disse. E ajeitou a postura, como se estivesse prestes a revelar um fato importante. – Você, é claro, já deve ter visto algum site de fofoca falando dos absurdos que eu cometo sem me importar.

Taehyung não sabia, mas sob o olhar de expectativa de Lian-chi, ele achou que devesse falar alguma coisa.

– Hm... Eu já ouvi falar que o Sr. Doidinho é bem... animado em festas, e já gastou meio milhão de dinheiro numa única noite, se é isso que quer dizer... Mesmo que pareça loucura...

Lian-chi deu uma risada irônica.

– Na verdade foram 195 mil dólares, mas teria sido mais se o chato do meu guarda-costas não tivesse se metido...

– O quê disse?! – exclamou Taehyung subitamente, dando um passo para trás como se as palavras do outro causassem dor física.

O sorriso de Lian-chi desapareceu. Tae parecia quase descontrolado.

– Acha isso bonito?! – continuou o ômega, parecendo prestes a ter um surto. – Gastar dinheiro assim como se não fosse nada?! Sabe quantos cachorrinhos de rua poderia ter alimentado? Quantas crianças de orfanatos poderiam ter ganhado um brinquedo novinho? Quantas senhorinhas de asilo poderiam comprar novelos de crochê com todo esse dinheiro?!

– Na verdade, eu não sei... – murmurou Lian-chi, confuso e um tanto assustado. Taehyung parecia tão ofendido, como se ele tivesse estapeado-o na bochecha e empurrado-o na direção de um abismo.

– Não me surpreende. – ele fez um muxoxo. – O Sr. Doidinho deveria olhar mais à sua volta. Nem todos tem a sorte de ter alguém que se importam com eles. Ou, pelo menos, alguém para ajudá-los. E dinheiro não é um brinquedo. É algo muitinho importante, e não deve ser desperdiçado. Não deveria. – completou num murmúrio.

Na hora Lian-chi lembrou-se de seu irmão, que vinha tentando há anos fazer com que ele mudasse de atitude, mas só conseguiu se tornar mais e mais desagradável e impossível de se conviver. Chang-yin já até contratou seguranças para tentar colocá-lo na linha. E agora um rapazinho de cabelo azul que ele nunca vira estava jogando na sua cara suas péssimas atitudes.

Lian-chi nunca havia percebido o quanto estava afundado num poço enlameado e fedorento da mais profunda vergonha quanto agora, com Kim Taehyung gritando com ele.

– Eu... Eu... Vou embora. – decidiu o ômega, assentindo com a cabeça várias vezes. – Agora. Isso. Rum.

Ele girou sobre os calcanhares, de braços cruzados e cenho franzido. E saiu pelo corredor pisando duro.

E Lian-chi sentia-se como uma formiguinha prestes a ser esmagada.

– Mas quem é você, Kim Taehyung? – sussurrou para si mesmo, com assombro e maravilha nos olhos, no tom de voz, em todo seu ser.

Existiam pessoas impactantes, e existiam pessoas como Kim Taehyung. E Lian-chi sentia que não havia mais ninguém como ele.

Lian-chi apanhou seu celular e discou o número de seu irmão, Chang-yin.

– Por que está me ligando? – perguntou ele assim que atendeu, um tom de preocupação na voz. Lian-chi entendia. Ele sempre ligava para o irmão mais velho com nada além de más notícias. – Estou ocupado no momento...

– Eu sei que você cortou todos os meus cartões e esvaziou minha conta bancária, mas pode liberar um pouco da grana que o vovô deixou para mim, não precisa ser muito...

– Por que? – quis saber ele, agora um tanto agressivo. – Se está pensando em cair na farra eu juro que...

– Não é nada disso. – revirou os olhos. – Eu... Quero fazer uma doação.

✿✿✿

O meio-dia chegou rápido e, portanto, a hora do almoço. Jimin e Jeongguk, exaustos depois de tantas reuniões com a equipe dos Ling, e planos e metas e contratos, comiam uma refeição abundante e merecida quando um pequeno ômega emburrado despencou à mesa onde eles estavam, apoiando os punhos cerrados sobre ela.

– Aconteceu alguma coisa? – perguntou Jimin, incerto. Taehyung quase nunca ficava raivoso daquele jeito, e era um perigo quando estava.

– Conheci Ling Lian-chi. – respondeu, secamente.

Jeongguk olhou para ele com interesse, mastigando e depois dizendo:

– É mesmo? Como?

Taehyung titubeou.

– Nós... trombamos no corredor. – não deixava de ser verdade.

– E? – perguntaram os dois ao mesmo tempo. Taehyung resmungou.

– Ele é um pesadelo.

– Rá! – exclamou Jeongguk, apontando para ele com um hashi. – Eu sabia. Se até Taehyung não gostou dele, então é porque ele é um...

Ele se interrompeu, murmurando um palavrão sob o olhar pretensioso vindo de Jimin.

– Ainda estamos no primeiro dia. Eu 'tô me acostumando. – esclareceu. Jimin riu de escárnio e se voltou para Tae.

– Mas, e então, por que você...

– Dá licença?

Os três se viraram para a voz intrometida. Ling Lian-chi estava ali com as mesmas roupas de antes, as mãos dentro dos bolsos da jaqueta, e ele encarava somente Tae, ignorando totalmente as outras duas pessoas na mesa, o quê não era nada educado.

– Posso falar com você? – propôs para o pequeno ômega, que assumiu um semblante indiferente, virando a cara como um gato desinteressado.

– Porquê?

– Por favor, prometo que vai ser rápido.

Jeongguk abriu a boca para interromper, mas Taehyung já havia aceitado e se levantava para acompanhar Lian-chi até um canto isolado da Praça de Alimentação.

Taehyung parou na frente do outro, esperando.

– 50 mil dólares. – disse Lian-chi. – Destinados para ONG's confiáveis de proteção animal, auxílio infantil e asilo de idosos.

Uma pausa.

– Hã? – balbuciou o ômega.

Lian-chi deu um sorriso, achando a confusão no rostinho de Taehyung adorável.

– Quer dizer que os cachorrinhos vão ter comida, as crianças vão ter brinquedos novos e as senhorinhas vão tricotar até cansar os dedos.

Ele escancarou a boca, aquele pontinho cintilante acendendo em seus olhos como a primeira estrela da noite num plano escuro e vazio.

– Isso... Você... Como... – gaguejou. Então suspirou um sorriso. – É maravilhoso!

– Eu ou a doação? – ironizou, ainda sorrindo. Taehyung o ignorou.

– Não acredito que doou tanto dinheiro... – então, ele pareceu arrependido. – Me desculpe por ter sido rude, tirei conclusões precipitadas e não foi nadinha legal. E o quê você fez foi muito, muito gentil.

Lian-chi pareceu envergonhado pela primeira vez desde que Taehyung o conhecera.

– É... eu percebi que, o que pode significar nada para mim, vale muito para outras pessoas. – então pousou os olhos castanhos em Taehyung. – Você me mostrou isso. Então, para retribuir, quer almoçar comigo? Talvez possa criticar mais algumas atitudes minhas enquanto comemos jajangmyeon. – caçoou, ainda rindo. Taehyung deu um sorriso tímido.

– Ele está sorrindo demais para alguém que, supostamente, não gosta. – observou Jeongguk, estreitando os olhos atentos ao Ling e Taehyung.

– E por que você se importa com isso? – perguntou Jimin, distraidamente, roubando um pouco da comida de Jeongguk sem ele sequer notar.

– Ora... porque... ele está confabulando com o inimigo!

– Repito: por que você se importa? – ele arqueou uma sobrancelha, bebendo um gole de suco de melancia.

Jeongguk resmungou, virando as costas para evitar o olhar de Jimin. Quando viu, Taehyung já estava na frente deles, alegre como se tivesse ganhado na loteria, mal se contendo no próprio corpo.

– Vou ir almoçar com Lian-chi. – anunciou. – Precisam de mim para algo?

– Não, pode ir. – dispensou Jimin, ocupado demais com a própria comida, mas secretamente observando Jeongguk de soslaio.

Jeongguk murmurou uma afirmativa, sentindo uma comichão estranha na boca do estômago.

– Que bom que estão se dando bem. – falou Jimin.

– Eu sei! Não é ótimo? Eu adoro fazer amigos!

Se Taehyung não estivesse tão absorto na própria felicidade, ele teria percebido o olho de Jeongguk tremer.

– Até depois! – e saiu saltitando até Lian-chi, que esperava perto da saída.

– Taehyung está se saindo melhor do que eu imaginava. – revelou Jimin. – Quando ele chegou, achei que não fosse durar muito. Mas agora ele está até fazendo amizade com Ling Lian-chi!

– Tenho que concordar. Taehyung é capaz de qualquer coisa. – falou Jeongguk, e apanhou o celular no bolso do terno. – O quê me lembra que tenho uma festa na piscina para organizar.

Jimin encarou seu amigo, imaginando que havia escutado errado.

– O quê você disse?!

– Lembra daquela aposta do gato? Bom, eu perdi. E minha consequência é fazer um churrasco lá em casa. É cada uma que esse ômega inventa...

Jimin não foi capaz de responder. Sua voz parecia ter sumido com o choque.

– Será que esse final de semana dá? Não me lembro de nenhum compromisso... – sopesou Jeongguk, alternando o olhar entre a tela e Jimin.

– Dá, sim... – murmurou o ômega.

– Por que está me olhando com essa cara de tonto? – ralhou Jeongguk, franzindo o cenho.

– Desculpa, é que... Faz muito tempo.

Jeongguk engoliu em seco. É. Fazia mesmo. Ele nem se lembrava da última vez que deu uma festa em sua casa. Parecia algo de outra vida, até.

– É... pois é. – pigarreou.

Jimin deu um sorriso enternecedor.

– E já pensou como vai ser?

Ele deu de ombros.

– Bem simples. Vou chamar algumas pessoas. Taehyung disse que quanto mais, melhor.

– Taehyung, né... – concordou Jimin. Era bem a cara de seu amigo de cabelo azul.

– E a única condição dele é que eu me divirta, acredita? – ele riu pelo nariz, digitando uma mensagem no grupo de amigos.

Jimin engoliu em seco, sentindo uma vontade de chorar do fundo de sua alma subindo pela garganta.

– Parece algo que ele faria. – foi tudo que conseguiu dizer.

Tá todo mundo livre no domingo? Perguntou Jeongguk no grupo de mensagens.

Jin, Namjoon, Yoongi e Hoseok responderam quase simultaneamente que sim.

Vou fazer uma festa na piscina lá em casa, então venham.

Tá altíssimo, né? Foi a resposta irônica de Jin.

Hahaha acordou piadista hoje. Riu Yoongi.

Isso é sério?? Falou Hoseok.

Por um instante eu achei que fosse verdade. E muitos emojis de choro. Namjoon só sabia mandar mensagens com emojis.

Jeongguk revirou os olhos, ignorando as risadas de Jimin ao lado.

Claro que é verdade, babacas

Todos eles mandaram a mesma mensagem ao mesmo tempo "Perdeu uma aposta".

– Fala sério! – exclamou Jeongguk.

É verdade. Digitou Jimin de seu próprio celular. Eu tô de prova. Ele perdeu pro Tae e agora vai ter que dar uma festa.

Namjoon mandou emojis de comemoração.

✿✿✿

– ... E então eu peguei o trem, a Lagarta de Ferro, mas não aproveitei tanto a viagem porque dormi... Queria ter apreciado a paisagem, visto os campos verdes cobertos de flores se tornando concreto e asfalto... Mas, foi um pouco como um sonho, quando você está num lugar e, de repente, acorda em outro... – Taehyung discorria sob os olhos atentos de Lian-chi, intercalando frases com sorvidas e mastigadas no macarrão. Ao contrário do outro, que mal comia, fascinado demais com as aventuras narradas pelo pequeno ômega. – Encontrei Jimin-ssi assim que cheguei. Mal podia acreditar na minha sorte! Estamos morando juntos agora como melhores amigos!

– E você não teve medo? – quis saber Lian-chi. – De deixar sua família... sua fazenda... tudo que você conhecia, para vir pra um lugar totalmente desconhecido.

– Ah, não. – ele fez um gesto de dispensa com os hashis. – Eu estava tão animado em realizar este sonho, jamais poderia me sabotar de tal modo a ponto de sentir um tiquinho de medo que fosse. Então, estufei o peito bem assim... – ele demonstrou, quase arqueado as costas e arrancando uma risada de Lian-chi. – E o enchi de coragem! Minha mãe sempre disse que eu tinha um parafuso a menos... Você acha que o que falta é o parafuso do bom senso? Talvez o da prudência?

– Acho que não faz diferença. Você conseguiu realizar seu sonho, não foi? O bom senso e a prudência só teriam te atrapalhado.

– Deve estar certo. – falou Tae, apoiando o queixo na mão e olhando para a janela, para a rua, parecendo pensar em tudo e nada ao mesmo tempo. – Acho que devemos ser um pouco loucos, às vezes.

– É... acho que sim. – Lian-chi remexeu a comida, subitamente melancólico.

– Todos da sua família são alfas? – mudou de assunto, percebendo a mudança de humor do outro. Isso era algo que aprendeu com Jimin, que não gostava de falar muito sobre o passado. Então, quando Tae notava o desconforto em seu amigo, rapidamente perguntava outra coisa.

– A grande maioria. Não temos muitos ômegas nem betas. – respondeu. – Eu e meus irmãos somos todos alfas, assim como meu pai e meu avô também eram.

– Ele deve fazer falta... Seu avô, digo.

Lian-chi deu de ombros.

– Ele cuidava da gente, do jeito dele. Mas não era muito bom dando apoio moral, se é que me entende.

– Quer dizer que ele não apoiava seus sonhos? – ele ergueu uma sobrancelha de interesse.

Lian-chi pareceu surpreso, mas assentiu.

– Tipo isso.

– E qual é o seu sonho? – ele se inclinou pela frente, os olhos brilhando. Lian-chi deu um sorriso envergonhado.

– Você vai achar bobo...

– Juro que não vou! – ele ergueu as mãos em rendição, depois juntou-a numa súplica. – Por favor... Eu contei os meus, é justo que me conte os seus.

Ele suspirou e apoiou os antebraços na mesa, evitando o olhar do ômega.

– Eu... gosto de desenhar chapéus. – ele mordeu o lábio.

Taehyung inclinou a cabeça.

– Chapéus?

– Eu sei... é muito bobo, mas eu me sinto bem... Pensar que alguém pode querer usá-los... Eu sei lá...

– É incrível! Você é como o Chapeleiro Maluco! Já falou para o seu irmão? Ele pode te ajudar... Ele deve entender dessas coisas...

Mas Lian-chi negou com veemência.

– Não quero viver sob as asas dele. Quero conseguir algo por mérito próprio, não por ter recebido ajuda do meu irmão empresário milionário. – falou com desgosto.

Taehyung abriu a boca para responder, mas sentiu o celular vibrar no bolso. Ele pegou e visualizou as inúmeras mensagens no grupo de amigos dele, uma ideia florescendo em sua mente.

– Ei, quer ir numa festa, no domingo? – Tae sentiu que Lian-chi iria negar pela expressão no rosto dele, e se apressou em corrigir-se. – Vai ser bem simples, para as pessoas mais próximas. Na casa do chefinho Jeongguk! Vai ser legal!

– Jeon Jeongguk? Não sei, ele não parece gostar muito de mim...

– É o jeito dele. – Taehyung negou com as mãos. – Podemos chamar quem quisermos. Por favor... Prometo que vai ser legal.

Lian-chi pensou por um momento, mas logo um sorriso cresceu no canto dos seus lábios.

– E eu, por acaso, recuso uma festa?

✿✿✿

Taehyung olhava fixamente para a tela preta do seu celular, como se pudesse fazê-lo tocar apenas com a força do pensamento.

Já fazia duas horas que ele estava sozinho em casa, num sábado particularmente preguiçoso em que ele aproveitou para fazer as unhas e usar máscaras faciais com seu melhor amigo e colega de apartamento. Jimin foi para a casa de Yoongi assim que anoiteceu, pois eles e Hyeon jantariam comida tailandesa para comemorar as boas notas do garotinho.

E, há meia hora atrás, ele mandou uma mensagem para Jeongguk perguntando se ele estava nervoso para o dia de amanhã, para a festa na piscina que eles haviam combinado. E o alfa respondeu com um breve "Um pouco". Então, Tae perguntou o quê ele estava fazendo, e Jeongguk só disse que tinha acabado de voltar do mercado. E, depois, Taehyung finalmente perguntou o quê tanto queria. "Você precisa de ajuda, chefinho?".

Há trinta minutos que ele intercalava o filme Orgulho e Preconceito que Jimin salvara para ele na Netflix e a tela do celular. O filme era ótimo. Tae já havia lido o livro muitos anos antes quando o ganhara no Natal de seus 15 anos, e ficou muito animado quando Jimin disse que tinha o filme. Mas, ah, ele não conseguia se concentrar na espirituosa Elizabeth Bennet e no taciturno Sr. Darcy quando havia Jeon Jeongguk em sua mente.

Os meninos comentaram com ele casualmente naquela semana que Jeongguk não costumava dar nem festas sociais na empresa. Apenas comemorações nos lançamentos das novas coleções e recepções de final de ano, onde a parte mais interessante era a revelação do funcionário do ano. Qualquer coisa na casa dele era tão raro quanto um trevo de quatro folhas.

E isso deixava Taehyung preocupado. Será que Jeongguk ficava desconfortável em festas e, por isso, as evitava? Será que ele as odiava com toda a sua vontade? Será que...

O celular vibrou. Taehyung pegou-o com tanta rapidez que quase o deixou cair.

"Seria bom".

– Isso! – ele levantou num pulo, dando um soquinho no ar, e digitou com os dedos trêmulos de animação.

"Não tema, chefinho! Estou indo ao seu resgate!"

Taehyung abriu o guarda-roupa e trocou o short de moletom e uma t-shirt branca amassada por um jeans claro cintura alta, meias amarelas e uma camisa de botões com estampa de borboletas coloridas. Passou mais tempo do que deveria arrumando o cabelo, que, talvez, precisasse de um corte urgente. Quando terminou, mandou uma foto para Jin, perguntando se estava bom. Jin-hyung era ótimo com dicas de moda. Ele respondeu com um joinha e uma sugestão de pôr a camisa por dentro do jeans.

Taehyung estava pedindo um carro para o apartamento de Jeongguk quando uma ideia lhe ocorreu, enchendo seu coração de animação palpitante, e ele mudou sua rota para uma loja de artigos de festa.

✿✿✿

– O quê você acha? – perguntou Jeongguk, lançando um olhar para Garrinhas.

Ele observou a extensa área da piscina de sua casa, iluminada por lâmpadas de jardim e a luz branca metálica da lua. Seu sábado foi tão produtivo quanto cansativo. De manhã, levou Garrinhas no veterinário e aprendeu uma coisa nova sobre seu gatinho: ele odiava pessoas com jalecos brancos e agulhas que poderiam espetá-lo. Depois, foi ao mercado comprar comida e bebidas para a festa, e então passou o resto da tarde decidindo como decorar de forma decente.

Ele deixou tudo pronto na churrasqueira - conjunto de facas, espetos, garfo, amolador e até um avental - para Yoongi, porque sabia que ele iria querer assar tudo como sempre fizera. De frente para a piscina, com a água devidamente limpa com a quantidade certa de cloro, sete espreguiçadeiras uma do lado da outra foram colocadas. Jeongguk olhou para a sétima com um leve sorriso. Ele esperava que Taehyung gostasse de tomar sol.

Por falar nele, o interfone acabou de tocar, o quê só podia significar que ele chegara. Um pouco mais tarde que o previsto, no entanto.

– Sr. Jeon, Kim Taehyung está aqui. Devo deixá-lo subir? – falou o porteiro. Ele era um pouco mais formal que o outro - até demais.

– Pode, sim. E, por favor, pode colocar o nome dele na lista e deixá-lo subir sempre que quiser.

– Sim, senhor.

– Chefinho! – o elevador se abriu e Taehyung, todo jeans e borboletas e sacolas de plástico coloridas, saltitou para dentro do apartamento, tirando os tênis e deixando-os logo ao lado dos sapatos de Jeongguk, que ficou observando a cena.

– Oi, Taehyung. Como você... hm... está? – ele nunca sabia o quê dizer quando ele e o ômega se encontravam assim, casualmente, fora da empresa. Taehyung sempre fazia todo o trabalho de falar e essas coisas, e era tão cheio de vida e ideias e luz, que Jeongguk não sabia como retribuir direito. Era uma relação estranha, a deles dois, ninguém nunca imaginaria que poderia dar certo de alguma forma. Mas, surpreendentemente, era fácil.

– Ah, chefinho, sinto que se não fizer tudo que estou pensando agora, vou explodir e minhas ideias vão voar e pular por aí!

E aí estava. Como ele poderia responder uma declaração dessas? Porém, ele havia aprendido que Taehyung não era o tipo de pessoa a ser decifrada, e sim conhecida. Entendida e, se conseguir acompanhar o ritmo dele, ótimo. Se não, só te resta perguntar o quê se passa na mente dele.

– E quais são suas ideias? – quis saber Jeongguk, vendo ele se sentar sobre os calcanhares para acariciar Garrinhas, que se esfregava com deleite nos dedos dele.

– Você nem imagina! – exclamou. Ele pegou uma das sacolas e virou, deixando tudo que estava dentro cair sobre o tapete com um barulho. Garrinhas deu um sobressalto, mas logo se aproximou para cheirar todas aquelas coisas novas.

E Jeongguk... Bom, dizer que Jeongguk estava surpreso seria um eufemismo.

Ali, no meio do chão da sua casa, pacotes de bexigas, confetes, tiras de papel colorido, fitas. Havia também marshmallows, acessórios para fazer bolhas de sabão e tiaras de orelhas de gatinho cor-de-rosa.

Ai, meu Deus.

Jeongguk deveria ter dito que aquela seria uma festa simples, e não um Carnaval.

Mas aí estava, de novo. Taehyung também era surpreendente. Mesmo. De um jeito que te faria querer cair para trás e só ficar.

– Como o objetivo é a diversão, pensei em comprar umas coisas divertidas. – ele abriu um pacote de balões redondos e despejou no chão, pegando um e soprando para encher.

E como Jeongguk poderia dizer não? Quando ele estava ali, enchendo balões, inflando as bochechas de uma forma...hm... fofa, não que ele estivesse reparando. Aquela era uma característica natural dele, qualquer um notaria.

Jeongguk suspirou e sentou entre os montes de artigos para festa. Garrinhas já se enfiava entre eles, mordendo o pacote de tiarinhas de orelhas de gato, o quê era ou uma coincidência, ou ele tinha algum tipo de instinto felino que o fazia reconhecer coisas gatunas. Ou só havia odiado, por estava atacando o pacote com uma força considerável.

– 'Tá, mas não vamos exagerar. – disse.

Meia hora depois, Jeongguk já havia desistido de tentar tornar aquela uma festa normal. Ele devia saber que nada era normal quando Kim Taehyung estava envolvido.

O pequeno ômega havia amarrado as bexigas em fitas e prendido no encosto das espreguiçadeiras. Elas balançavam preguiçosamente com a brisa, mas sem sair do lugar. Ele jogou alguns na piscina, porque seria divertido nadar entre os balões, disse. Espetou os marshmallows em palitos de churrasco e arrumou-os numa tigela, e até que ficou bonito.

Agora, Taehyung usava uma das tiaras de gatinho e implorara tanto para Jeongguk também usar que venceu pelo cansaço. Eles tiraram uma selfie e mandaram no grupo de amigos, ignorando as mensagens de zoação - que eram muitas. E ali estavam os dois, com tiaras combinando, enchendo o resto dos balões porque Taehyung não queria desperdiçar. Garrinhas já fazia sua própria festa com um balão enchido especialmente para ele.

– Sabe, chefinho, estou preocupado com o Hoseok-hyung. – disse ele, enquanto tentava amarrar dois balões juntos.

Jeongguk sabia do quê ele falava. Hoseok estava imerso de ponta-cabeça num estado de profunda tristeza ensimesmada. Ele não falava com ninguém, ia pro trabalho e voltava do mesmo jeito que chegou, e Jeongguk notara uma vez que ele foi com a mesma camisa dois dias seguidos, o quê nunca ocorreu antes.

– Também estou. – murmurou.

– A Taeyeon-ssi viaja amanhã, e eu tentei fazer ela falar com ele, mas ela está "muitinho" brava. – ele desistiu de amarrar os balões e largou-o, junto com as mãos, sobre o colo, desolado. – Não sei o quê fazer. Acho que perdi minha habilidade de cupido. Não existe nenhuma possibilidade de fazê-la ficar.

Jeongguk parou, soltando a bexiga lentamente que desencheu com um silvo. Mas e se..

– Acho que sei o quê fazer. – falou Jeongguk, abrindo um sorriso meio surpreso e meio maravilhado.

– Sabe? – ele ergueu uma sobrancelha, mas um brilho de esperança exultante preenchendo seu semblante.

– Sei. Eu sei. – falou com mais veemência agora. Eles se olharam, ambos com sorrisos que chegavam aos olhos. Taehyung se inclinou, ficando de joelhos.

– Me conta! O quê eu faço para ajudar? Me contaaa... – ele apoiou aos mãos nas coxas, ainda segurando um balão para não desencher, mas Jeongguk negou com a cabeça, sorrindo com leveza.

– Dessa vez, deixe a Operação Cupido comigo. – rápido como o bater de asas de um beija-flor e tão natural quanto, Jeongguk deu um toquinho com o indicador e o dedo médio embaixo do queixo de Taehyung.

O ômega arregalou os olhos e corou com tanta violência que, para disfarçar sua vergonha, fez a primeira coisa que lhe veio à mente.

Ele apontou o balão para a cara de Jeongguk e soltou o ar com um barulho alto e engraçado de pum. Ele se assustou e pulou para trás antes que o balão esvaziasse completamente, mas foi o bastante para Tae desatar a rir.

– Mas o quê foi isso?! – exclamou Jeongguk, ainda se recuperando do susto.

– Você... devia... ter visto... a sua... caaara! – ria Taehyung, sem fôlego, segurando a barriga.

Jeongguk ia retrucar, mas um estampido ensurdecedor de estouro acabou com todo o riso. Taehyung levou um susto tão grande que a primeira coisa que pensou em fazer foi berrar e pular em cima de Jeongguk, derrubando os dois.

– Ai! – gritou Jeongguk quando caiu de costas, um ômega trêmulo grudado nele.

Não demorou para descobrirem de onde veio o barulho. Garrinhas tinha estourado seu balão e agora se escondia embaixo da mesa, tão assustado quanto Taehyung, o rabinho todo arrepiado.

– Me sinto vingado. – inquiriu Jeongguk quando Taehyung olhou para ele, vermelho como um tomate, as mãos espalmadas em seu peito. Quando percebeu que segurava a cintura dele, Jeongguk rapidamente afastou as mãos.

Taehyung saiu de cima dele e se sentou longe, evitando seu olhar, parecendo tão envergonhado quanto se tivesse derrubado milkshake no vestido de noiva da princesa da Inglaterra.

Jeongguk teve uma ideia, abrindo um sorriso convencido.

– Ei, quer ver uma coisa? – ele pegou uma bexiga diferente, alongada de cor azul, e encheu sob o olhar curioso dele. E então dobrou e esticou e dobrou de novo até o balão assumir a forma de um cachorro, com um longo rabinho e orelhas altas.

– Uau... Minha nossa, nossa, nossa! Chefinho! Isso é tão legal! – ele parecia exatamente com um gatinho que vê uma luzinha sacudindo na parede para ele pegar. – Como você fez isso?!

Jeongguk estufou o peito, balançando o cachorro de bexiga.

– É uma das minhas inúmeras habilidades. – e estendeu para ele. – É pra você.

Ele segurou com cuidado, como se o mínimo encostar de suas unhas fosse capaz de estourá-lo.

– Obrigado, eu adorei "muitinho"! Vou chamá-lo de... hm... – ele pensou. – Bexigo!

Jeongguk jogou a cabeça para trás e gargalhou, sem perceber o olhar de fascínio apaixonado que Taehyung assumiu.

Já era tarde da noite quando eles arrumaram a bagunça e comeram kimchi requentado e Taehyung quase dormiu em cima da tigela, caindo de sono.

Ficou decidido que ele dormiria ali. Jeongguk emprestou uma escova de dentes e um pijama para Taehyung. Ele já estava na cama do quarto de hóspedes, enrolado num lençol, quando o alfa foi até lá ver se ele precisava de algo.

– Tudo bem? – perguntou.

– Uhum. – um murmuro e um joinha preguiço erguido no ar. – Boa noite, chefinho.

– Boa noite.

– Chefinho! – chamou de repente, bocejando. – Eu gosto muito de você.

Jeongguk paralisou, congelado entre a surpresa e a vergonha. Era estranho se sentir assim, mas Taehyung o fazia sentir muitas coisas estranhas. Ele hesitou várias vezes antes de dizer.

– Também gosto de você, Taehyung. – e era verdade. Ele realmente simpatizava com o pequeno ômega, algo que nunca imaginou que aconteceria. – Boa noite, Tae.

Ele não se ligou do apelido, com a confusão de sentimentos dentro de si, mas Taehyung sim. E dormiu com um sorriso bordado em seus lábios.

Jeongguk não pregou os olhos antes de poder pegar o celular e escrever no grupo de mensagens:

A semana acabou, babacas, hora extra pra todo mundo.

Talvez ele ainda fosse um pouco do antigo Jeongguk, afinal.


No próximo capítulo...

Durante a festa, um incidente causa uma avalanche de sentimentos tanto em Jeongguk quanto em Taehyung. Um baile formal é feito para comemorar o lançamento da nova coleção da JE-ON e o sucesso da parceria com os Ling, mas termina em desastre para o pequeno ômega. 

✿✿✿

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Um Feliz Ano Novo para todos!!

Bjs e até o próximo!! 

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