𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.

By akastylessgirl

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Uma noite. Foi tudo o que precisou. Agora eles tem um acordo. • •... More

antes de ler / teaser
01 [ca•su•al]
02 [ten•são]
03 [pro•pos•ta]
04 [ex•ce•ção] (!)
05 [ca•pri•cho]
06 [a•cor•do]
07 [ris•pi•dez] (!)
08 [de•cep•ção]
09 [re•gra]
10 [em•pá•fi•a]
11 [pro•i•bi•do] (!)
12 [hos•ti•li•da•de]
13 [ge•ne•ro•si•da•de] (!)
14 [con•se•quên•ci•a] (!)
15 [hu•mil•da•de]
16 [in•si•di•o•so]
17 [do•mi•na•ção] (!)
18 [con•des•cen•den•te]
19 [a•fron•ta]
20 [ex•clu•si•vo] (!)
21 [a•lu•ci•nó•ge•no] (!)
23 [dra•ma•ti•za•ção] (!)
24 [ir•re•ve•rên•ci•a]
25 [vul•ne•rá•vel]
26 [con•fi•an•ça] (!)
27 [con•for•tá•vel]
28 [em•bri•a•guez] (!)
29 [con•fli•to]
30 [dis•so•lu•ção]
31 [ci•ú•mes]
32 [re•ca•í•da] (!)
33 [pe•ri•pé•ci•a]
34 [sau•da•de]
35 [ins•pi•ra•ção]
[in•ter•lú•di•o]
36 [va•ri•a•ção]
37 [or•gu•lho]
38 [re•pa•ra•ção]
39 [con•ci•li•a•ção]
40 [a•mi•za•de]
41 [con•jec•tu•ra]
42 [ten•ta•ção]
43 [i•ne•bri•an•te]
44 [êx•ta•se] (!)
45 [su•a•ve]
46 [sub•ter•fú•gi•o] (!)
47 [in•ti•mis•ta] (!)
48 [me•lí•flu•o]
49 [in•ver•são] (!)
50 [fe•ti•che]
bônus [texting]

22 [a•me•a•ça]

708 42 51
By akastylessgirl

[fato, ação, gesto ou palavra que intimida ou atemoriza; indício de acontecimento desfavorável ou maléfico; sinal.]

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HARRY

O interior do saguão de entrada do prédio residencial é resfriado graças a um ar condicionado atrelado a parede, o que me faz querer ficar parado ali por longos minutos. Mas só me resta invejar a paz de espírito do porteiro desleixadamente sentado atrás de seu balcão, enquanto lê um jornal e ouve o rádio. As bochechas naturalmente rosadas da garota ao meu lado brilham com entusiasmo, ao passo que ela me relata qualquer coisa que seja sobre o nosso futuro destino.

Seguro a porta de vidro aberta e ela passa por mim, ainda falando, ainda sorrindo. O mormaço nos atinge imediatamente, assim como o barulho da cidade. É quase verão em San Francisco e nunca esteve tão quente, mas estamos com tanta fome e ela falando é tão aconchegante, que eu não emito nenhum tipo de reclamação sobre o clima sufocante.

"Quando eu costumava acordar cedo, podia sentir o aroma do pão fresco saindo do forno. Era hipnotizante. Eu acho que engordei uns três quilos naquela época só por conta das minhas idas frequentes até lá." Charlotte ri, se apoiando no meu braço para descer os degraus, ao invés de usar o corrimão. Não me importo nem um pouco e levo minha mão para a base de sua coluna, onde posso sentir sua pele na fresta entre sua curta blusa e os shorts jeans de cintura alta.

"Charlie Fitz, viciada em pães frescos. Quem diria?" Brinco, sorrindo ao sentir as pontas dos fios de cabelo dela cutucarem meu antebraço. Hoje ela acordou e resolveu fazer um belo rabo de cavalo, que está voando na brisa de verão.

Ela me dá um olhar estreito, "Você também seria se morasse tão perto daquela bendita padaria."

Charlotte raramente usa maquiagem - ou eu só não consigo perceber quando ela usa - mas ainda assim, vê-la com o rosto nu abaixo da alta claridade deste dia me deixa admirado. Suas sardinhas no nariz ficam ainda mais aparentes e seus olhos cor de mel ganham um leve tom esverdeado. Os lábios de coração dela são realmente pigmentados de magenta e suas sobrancelhas parecem se misturar com o complexo de sua pele a cada emoção que ela expressa.

Assim que nossos sapatos tocam a calçada diante ao prédio, agarro a cintura dela e a trago para o meu peito. Charlotte arfa e seus olhos queimam nos meus perigosamente, mas ela não tenta recuar.

"Sabe no que eu sou mesmo viciado?" Pergunto retoricamente, querendo ver sua reação.

Suas íris de mel rodeiam o ambiente e se põe sobre mim mais uma vez, "Estamos no meio da rua, Harry. O que pensa que está fazendo?" Há repreensão em seu timbre, mas não incômodo e eu sorrio mais largamente com isso.

"Sabia que está especialmente bonita essa manhã?" Desvio de sua pergunta e construo um elogio, este que Charlotte recebe com um riso suspirado.

"A maconha ainda está mexendo com os seus neurônios, não é? Pobrezinho." Zomba dissimulada ao fazer um biquinho e fingir pena.

"Você é irritantemente atraente, mulher." Ela ri livremente e eu levo meus lábios até seu pescoço, roçando sua pele.

"Isso não é lugar ou hora para carícias, Styles. Harry Styles." Suas mãos agarram meus ombros firmemente e ela me afasta, me fazendo soltá-la. "Agora, vamos logo comprar o nosso café da manhã antes que as coisas mais gostosas acabem."

"A coisa mais gostosa já está aqui na minha frente." Galanteio e ela ri - sua risada deliciosa de ouvir - jogando a cabeça para trás.

"Eu tô falando sério, Harry. Não faça eu me arrepender de te deixar ficar para o café." Reviro os olhos, mas não falo mais nada e ela se dá por vitoriosa.

Não era eu estar aqui agora, com ela. Ontem, após tocar no bar, saí com os gêmeos para ter uma noite dos garotos, mas o Dylan acabou levando todos nós a falência de julgamento quando nos encheu de erva. Eu fiquei tão chapado, que perdi as minhas chaves e fiquei sem rumo. Gary, o único que não quis fumar, conseguiu arrumar uma companheira para levar para seu apartamento e Dylan sumiu. Me vi recorrendo à Charlotte como meu refúgio.

Não imaginei que ela deixaria e estava pronto para implorar de joelhos, mas acabamos fazendo um extasiante 69 e dormindo um por cima do outro. Ambos chapados e fodidos.

Realmente não era a minha intenção dar nada alucinógeno pra ela - muito menos afrodisíaco. Eu jurava que aqueles bombons idiotas não funcionavam, mas aparentemente eu estava errado. Ainda preciso falar com o Dylan e perguntar pra ele de onde ele descolou aqueles chocolates. Não era a minha intenção que eles tivessem funcionado, mas causou uma sensação tão boa nela depois...

Charlotte ficou apreensiva de início, mas depois de transarmos duas vezes e o efeito dos bombons finalmente passar, ela confessou que gostou deles. E eu, bom, adorei se foi naquele estado que a deixaram; carinhosa e bem safadinha.

Não era pra eu estar aqui, com ela. Entretanto, não poderia estar mais grato por ter começado essa manhã em sua companhia.

Ambos acordamos com muita fome e Charlotte não quis se dar ao trabalho de preparar nada, impaciente está por algo rápido e saboroso. Nossa ida a tal padaria que ela tanto relata então foi a saída mais lógica.

"Ai, merda!" Ela exclama de repente, parando nossa caminhada na calçada.

"O que foi?" Me preocupo ao ver a expressão nada feliz dela e toco seu braço nu, esperando por uma resposta.

"Esqueci a droga da minha carteira. Lembrei de pegar as chaves, mas a carteira..."

É claro o meu alívio e eu sorrio, revirando os olhos que esse seja o motivo de seu desprazer, "Bobagem. Eu tenho uns dólares aqui-"

"Não. Eu quero pagar pelas minhas coisas." Insiste, negando minha oferta.

"Char, eu sou feminista também-" Ela me corta de novo, mas dessa vez pressionando seu dedo indicador contra os meus lábios.

"Eu tenho que comprar algumas coisas à mais para deixar lá, Harry. Não se trata de empoderamento somente." Se isso é mesmo verdade, não sei dizer, mas eu não volto a sugerir mais nada, entendendo que brigar com ela não resultará em sucesso para mim.

"Eu vou voltar pra pegar e já desço, tudo bem?"

"Não." Murmuro, mas ela me ignora e começa a andar em direção ao prédio de onde saímos.

"Vai ser bem rápido." Exclama ao longe e então aperta o passo.

Estávamos no meio do caminho e eu cruzo os braços ao ser deixado no sol escaldante.

"Honestamente... Nunca vi tão teimosa... Num calor desses..." Fico resmungando como um velho ranzinza, ao mesmo tempo que refaço meus passos para a escadaria do prédio. "Feminismo uma ova, isso é pura birra... Alguns dólares... Só porque é gostosa pra caralho..."

Tento entrar no edifício, mas a porta está travada por medidas de segurança. Bato no vidro, esperando que o porteiro me note, mas isso não acontece, porque o jornal que ele lê está em seu campo de visão e o som do rádio abafa meu chamado. Aquilo me deixa tão aborrecido, que eu desisto de tentar me abrigar no ar condicionado e cruzo os braços ainda mais apertados. Dá pra sentir suor escorrendo nas minhas costas e molhando o meu couro cabeludo.

"Eu juro por Deus, Charlotte. Você me pega depois dessa." Cochicho pra mim mesmo, já planejando as formas de me vingar dela da única forma que posso: no sexo. "Nem que implore, não vou te deixar gozar e aquelas algemas? Ah, aquelas algemas vão ser esquecidas nos seus pulsos."

Seu eu pudesse pensar racionalmente agora, diria que uns cinco minutos se passaram, mas meu desespero me faz sentir como se fossem horas. Por que a Califórnia tem de ser tão quente? E logo hoje que um imprevisto desses aconteceu...

Fica tediosa a minha espera e começo a observar as pessoas passando pela rua diante de mim, pela falta do que fazer. Há uma mulher empurrando um carinho de bebê, um entregador do correio de moto, adolescentes uniformizados provavelmente matando aula e um carro estacionando à alguns metros.

O tal carro me chama atenção. É um modelo conversível, prata, caro. Seu dono está descendo do mesmo e veste um terno azul marinho de igual aparência luxuosa. Ele é um homem que eu chuto ter entre seus quarenta e cinco, cinquenta anos de idade e tem os cabelos grisalhos. A pele é bronzeada, mas isso não é novidade alguma nesse estado. Há um óculos de sol cobrindo seus olhos e quando ele estica a mão para travar o carro, noto um brilhante relógio de pulso. Definitivamente tem muito dinheiro na conta bancária.

Eu estava pronto pra desviar o rosto, mas o homem vem andando nessa direção pela calçada e seu rosto se volta para a extensão do prédio atrás de mim. Apesar do sol quente acima da minha cabeça agora, minha mente começa a processar aquela imagem e eu paraliso ao compreender algo. Concomitantemente, o homem mira seus óculos escuros sobre mim e não adiantou que eu torcesse internamente para que fosse uma má impressão minha, pois seus passos desaceleram na calçada e sua testa se franze, a medida que seus lábios formam uma linha fina.

Ele me viu também, mas não só isso. Ele me reconheceu.

Ajo num impulso nervoso e giro sobre os calcanhares, meu punhos acertando a porta de vidro do prédio. O porteiro tem que ouvir e me deixar entrar, eu não posso ficar aqui fora sabendo que aquele homem também está. Nosso último encontro não foi o melhor e eu não anceio em repeti-lo.

"Hey!" Um chamado impaciente soa atrás de mim e eu fecho meus olhos bem apertados, interrompendo minhas batidas no vidro. Tarde demais. "Hey, você mesmo. Eu tô falando com você."

Engulo em seco e respiro fundo. Não terei como fugir.

Me viro de frente para a rua e me deparo com os olhos castanhos do homem furioso no fim da escada. A cor das íris me lembra as dela imediatamente, mas mais escuras e deselegantes.

"É você de novo?" Ele faz indignado, apontando as astes de seus óculos escuros para mim, "Não acredito- O que pensa que está fazendo aqui, rapaz? Se esqueceu do que lhe falei naquele dia?" Seu tom de voz é rude e me causa desconforto, mas ele não parece ligar se está ou não magoando os meus sentimentos.

"Olha, senhor, eu não quero discutir-"

"Não ligo a mínima para o que tenha a dizer, moleque. Mandei você ficar longe da Charlotte e se está parado na frente do prédio onde ela mora, é porquê deve se achar bom demais para seguir ordens expressas." A forma que ele continua apontando o dedo pra mim, soando hostil e me fuzilando com o olhar é um desafio para mim. Se eu pudesse sumir num estalar de dedos ou fazê-lo sumir, seria incrível. Eu odeio conflitos e tê-los na calçada, onde qualquer um pode ver, é ainda pior.

Eu posso odiar conflitos, mas isso não faz de mim completamente passivo e quando desço os degraus para ficar diante dele, sei que as coisas ficaram ainda mais desagradáveis entre nós.

"Não sei quem pensa que é, senhor, mas não recebo ordens suas, portanto não tenho que obedecê-las de forma alguma. E onde eu fico parado, não é da sua conta." Replico, não poupando o escárnio no pronome de tratamento.

Os olhos dele se arregalam em ofensa, "Quem eu penso que sou? Eu sou o pai dela." Esbraveja, "Quem você pensa que é importunando a minha filha?" Enfatiza.

"Isso também não é da sua conta, mas não se preocupe. Não estou importunando ninguém. Ela sabe que eu estou aqui, eu fui convidado." As palavras saem entredentes, tensão tomando meu corpo.

Ele ri com escárnio e desvia o olhar para a rua atrás de si, respirando antes de continuar me atacando, "Acho que entendi agora. Você ainda acha que tem algo com ela e que ela gosta de você e blá blá blá." Ele ri mais e isso me deixa ainda mais desgostoso, "Ah, garoto. Se tivesse me ouvido quando eu mandei se afastar logo de cara, evitaria tanta dor de cabeça."

Eu não deveria, ele está jogando comigo, mas não me contenho e questiono, "Do que está falando?"

O sorriso presunçoso que me dá me faz sentir arrependimento no mesmo instante. Ele me fisgou. Brigar com ele na calçada já era ruim o bastante e agora terei de aguentar seu veneno. A pior parte: ele não é só um babaca de meia idade qualquer, é o pai da Charlotte.

"Eu conheço a minha filha muito bem. Ela pode estar de birra comigo, mas ainda sou o progenitor dela e a criei durante toda a sua vida. Eu sei quando ela está sendo mimada e acredite, ela está sendo mimada agora." Prossegue, seu tom calmo, mas cortante. "Tivemos uma briguinha e para me desafiar, ela está fazendo tudo o que me desagrada. Saiu de casa, brigou com o namorado, começou a trabalhar... e agora ela arrumou você."

Outra coisa que eu não deveria estar fazendo: dando ouvidos ao pai dela sem ela saber. Mas o cara está falando tantas besteiras e me dando tantas informações que eu me sinto perdido, irritado. Isso está errado, muito errado.

Contudo, ele me enfiou numa listagem de eventos que atrai a minha atenção e se tratando da Charlotte, meu bom senso fraqueja.

"Não entendo onde quer chegar com tudo isso." Murmuro, odiando minha maldita curiosidade. Ele só fica ainda mais contente.

"Veja. Não é querendo ofender, rapaz, mas você não é o tipo certo pra minha Charlotte e ela sabe disso. Eu sei disso. E no fundo..." Ele toca o meu ombro, um sorriso falso em seus lábios, "...você também sabe disso. Por isso ela te escolheu e te convidou, como você mesmo tão gentilmente acrescentou. Você é perfeito pra fazer o joguinho dela em me desafiar. Ela quer apertar a minha paciência e, olha só, está conseguindo."

O sorriso dele morre no mesmo instante, sua real desavença aparecendo. Meu peito dói só de pensar que tudo isso que ele disse é mesmo verdade, que a Charlotte - a minha Char - está apenas me usando para fazer birra para o pai rico.

O que nós temos é só sexo, ela sempre deixa isso bem claro, e eu não sou burro o bastante para nunca ter percebido quantas vezes ela usa do nosso acordo para se distrair de seus problemas, mesmo que eu não tenha ciência que quais são eles especificamente. Não vou mentir e dizer que não aproveito pra esquecer o meu próprio estresse também.

Porém, esse é um dos motivos pelo qual estamos nessa juntos de qualquer modo. Não é só porque somos ótimos na cama, mas porque ela está confortável comigo o suficiente para deixar que eu a faça relaxar e esquecer. Ela me escolheu, me convidou e pode até estar me usando, mas eu sempre soube disso e concordei com isso. Não! Eu me ofereci pra isso.

"Acha que eu sou um garotinho inocente?" Indago, travando as mandíbulas ao olhá-lo diretamente nos olhos. Sarcasmo de volta em meu timbre.

O homem dá um passo atrás e noto que está verdadeiramente sem reação. Seu joguinho não funcionou como ele esperava. Dessa vez sou eu a sorrir.

"Acha que não sei o que estou fazendo aqui? Ou ela? Pode até ser pai dela, mas sua filha é uma mulher adulta e decide o rumo da própria vida." Ressalto, decidido a por um fim nessa interação infeliz. "Mesmo sendo pai dela, não tem o menor direito de me tratar assim. Nem aqui e muito menos no meu local de trabalho, como naquela noite à dias atrás. Aquilo foi baixo, você está sendo baixo nesse exato momento. Não sei quem está tentando intimidar, mas não está funcionando comigo."

"Como é que é?" Rosna, avançando dois passos na minha direção. Num reflexo, eu subo um dos degraus para continuar distante dele. As veias em seu pescoço saltaram e sua pele morena ficou avermelhada. Não o conheço, mas diria que ele pode se exaltar a qualquer momento. Além de conflitos, odeio ainda mais violência física e não pretendo atingir esse patamar com ele.

"Sabe com quem você está falando, moleque?" Questiona, empáfia transbordando de cada sílaba, assim como raiva.

"Não me importo o bastante para descobrir. Então..." Dou de ombros e isso o faz perder o controle.

"Você vai se arrepender de cruzar o meu caminho assim, me ouviu? Não faz a mínima ideia de quem eu sou e do que posso fazer." Se põe a ameaçar friamente. Qualquer sinal de compostura o deixou, agora ele não passa de um ricaço histérico aos meus olhos.

Meus lábios se partem para responder, mas a porta de entrada ao prédio as minhas costas se abre e outra voz soa, me interrompendo.

"Acredita que eu não estava conseguindo achar a minha carteira?" Charlotte vem descendo os degraus da curta escada, seus olhos no chão, um sorriso breve em seus lábios. "Desculpa se eu te fiz esperar-" Quando finalmente percebe a presença do homem à poucos metros de distância, seu corpo paralisa e eu vejo choque se espalhar em seu semblante.

Meus olhos vão até o homem de terno, assim como os dela. Charlotte então encara a mim e agarra o corrimão ao seu lado com força, apertando os lábios numa linha fina, quase como seu pai o fez ao me ver. O desprazer dela, no entanto, está voltado para ele exclusivamente e eu agradeço internamente por não estar recebendo a severidade de seu olhar nesse momento.

"O que faz aqui, Jacob?" Questiona, ainda agarrando o corrimão com mais força que o necessário. Estranho a forma como ela se dirige a ele pelo primeiro nome, mas não ouso emitir um único som.

O tal Jacob suspira e relaxa a feição, assim como seu tom de voz ao dizer, "Não tem atendido as minhas ligações e também não respondeu as minhas mensagens. Vim para vê-la, precisamos conversar."

"Se não te atendo e respondo suas mensagens, é porquê tenho um bom motivo. Se não soube interpretar meu silêncio, é problema seu. Será melhor que vá embora." A dispensa na voz dela é quase cruel, mas eu não sinto uma gota de pena do homem diante de nós.

"Charlotte, está sendo difícil novamente. Isso é ridículo, minha filha. Não pode continuar-"

"Não! Você está sendo difícil. Pior, está sendo um verdadeiro inconveniente." Ela o interrompe, sua voz escalando alguns decibéis. "Acredito que deixei minha posição muito bem clara naquele jantar. Se não veio até aqui me dizer que pretende começar a agir como um bom pai, faça como eu sugeri e vá embora."

Novamente, Jacob perde a paciência e sua indelicadeza retoma, "Essa palhaçada já passou da validade, Charlotte. Aturei sua saída de casa, assim como a saída da universidade, mas então rompeu com o único bom sujeito que poderia lhe servir como parceiro e o levou a julgamento por tamanha besteira. Já chega! Sua teimosia está colocando em risco a carreira do Evan, tal qual a sua vida."

Charlotte ri cinicamente e cruza os braços, "De novo vitimando o merdinha do Evan. Francamente, devia adotá-lo como filho e me deixar em paz. Ele fez algo errado e pagou por isso. Sendo o ótimo advogado que é, devia entender isso."

Se eu já estava me sentindo deslocado antes dela chegar, agora fico ainda mais à deriva. A discussão deles é pessoal demais e eu sei que não deveria estar aqui, ouvindo tudo. Mas não fiz de propósito, eu fui tão atacado quanto ela está sendo nesse momento. Cogito a ideia de simplesmente me afastar e deixá-los conversando, mas eu não quero que ela fique sozinha com esse sujeito, sendo ele pai dela ou não está cada vez mais claro pra mim que ela não se sente bem perto dele. Totalmente compreensível.

"Se tivesse dado uma chance para ele se explicar como eu instrui, minha filha, nada disso estaria acontecendo." Jacob continua a defender Evan, me fazendo apertar os punhos para tentar canalizar meu descontentamento. Eu estava lá quando o loiro atrevido quebrou o letreiro do bar e sei que ele não merece chance alguma.

"A mesma história furada..." Charlotte revira os olhos e leva as mãos para cobrir o rosto, respirando fundo com estresse. Ela está cansada, é bem óbvio pra mim. Fico ainda mais inquieto, no limite. Odeio vê-la assim.

"Como se não bastasse ter tomado todas essas decisões tolas, você agora me aparece com esse rapaz." O homem de repente aponta pra mim, me colocando no holofote da discussão. Os olhos dela se põe sobre mim no mesmo instante e eu engulo em seco. "Sinceramente, Charlotte, essa foi a gota d'água."

Ela desce mais alguns degraus até se aproximar de mim e agarra o meu bíceps, me puxando pra si, "Já chega, pai. Vai embora." Ordena, me escondendo atrás de si, mesmo que meu corpo seja mais voluptuoso que o dela. Esse gesto me faria sorrir em outra ocasião, mas o fato de que ocorreu na mente dela de tentar me proteger fisicamente, preocupa-me.

"Então é isso? Vai continuar ignorando as ordens do seu pai? Os meus conselhos?" Ele desafia, enrijecendo o semblante. Me enoja a forma como está tentando amedrontá-la, exatamente como ele fez comigo. Pelo visto, esse homem adora ter controle sobre tudo e todos.

"Não vou repetir, Jacob. Me deixa em paz." Charlotte é concisa, determinada. Seus dedos agora apertam os músculos em seus braços e os meus coçam para envolvê-los, mas eu me detenho. Estaria atiçando o fogo com uma demonstração dessas na frente do homem implicante.

O tal Jacob lança-nos mais um olhar furioso, exprimindo sua decepção principalmente ao fuzilar a filha. Fiquei esperando que ele dissesse mais alguma idiotice, entretanto calado ele estava e calado foi embora. Respirei aliviado apenas quando o vi entrar em seu conversível prata e dirigir para longe.

Agora livres do empecilho, me ponho diante de Charlotte, recorrendo minhas mãos em seus braços. O corpo dela está tenso e ao sentir meu toque, se desvencilha. Se eu não tivesse certeza absoluta que fui gentil, poderia temer que a machuquei, porém esse não é o caso aqui. Ela está sensível, posso ver em seus olhos, por mais que tente tirá-los dos meus. Não a julgo, eu não estou exatamente saltitante também. O homem estragou o clima leve que havíamos estabelecido.

"Você tá bem, Char?" Pergunto, mesmo que soe desnecessário. Claro que ela não está bem, mas eu não posso simplesmente me calar.

Ela esfrega as mãos no rosto de forma estressada, "Sim, eu tô bem. Droga, isso foi tão... Grr!" Grunhi, frustrada, seus olhos bem apertados, as mandíbulas travadas. "Por que ele tinha que aparecer aqui assim? Merda!" Xinga, fugindo seus olhos para a rua, ainda evitando me fitar.

As bochechas dela estavam tão vivazes, seu timbre são feliz. Aquele homem veio e a deixou pálida e sobrecarregada. Sinto raiva por ela.

"Ele já foi. Estamos sozinhos de novo. Vai ficar tudo bem." Digo baixo, me aproximando um pouco mais dela. Arrisco tocar em seus braços uma segunda vez e Charlotte não tenta escapar, então eu afago sua pele delicadamente.

Charlotte abaixa a cabeça, sua respiração ainda incerta. Ela está tentando se recompor e eu farei o possível pra ajudar.

"Tá tudo bem, Char. Acabou agora." Meus dedos se encaixam na lateral do rosto dela e eu corro meu polegar por sua mandíbula, em carícias desleixadas. "Estamos bem agora."

Um silêncio conflituoso se estende por poucos minutos, onde eu debato comigo mesmo se devo abraçá-la ou sugerir que façamos algo para distraí-la.

Só dura até que a doce rispidez dela renasça.

"Estamos?" Indaga, estreitando os olhos pra mim, "Como assim 'estamos'? O que isso tem a ver com você?"

Fico sem saber o que dizer e ela só perde ainda mais a pouca paciência que tem.

"Harry, você falou alguma coisa pra ele? Antes de eu chegar, estavam conversando? Ele sabe algo sobre o acordo que temos?" Interroga, me colocando figurativamente contra a parede.

"O que?" Minha voz treme. Não esperava que ela fosse perceber, após não ter dito nada sobre como me viu em pé parado perto de seu pai. Eu estava errado, claro, e não preparei nenhuma resposta pra isso.

"Ele não conhece você, conhece? Tudo bem, você deve ter me visto com ele naquele restaurante àquela noite, mas só soube que ele é meu pai agora, certo?"

Não. Eu soube antes, porque seu pai é um babaca pretensioso que não tem respeito por ninguém e que me ameaçou diversas vezes, só para que eu me afaste de você. Mas eu não vou dizer isso.

Se Charlotte descobrir que interagi com Jacob naquela noite e não lhe contei, vai ficar furiosa comigo e eu não quero isso. Ela já tem tanto pra se preocupar... Seu pai ter sido rude comigo, não é mais novidade, tendo em vista como ele agiu hoje na frente dela e com ela.

"Ele não me conhece, Char." Não é mentira, ele não conhece. Mesmo que conhecesse, não seria diferente. Pelo contrário, desconfio que teria sido pior.

Ela me analisa e então suspira, meneando a cabeça, "Graças a Deusa! Ele já age como um otário mesmo não sabendo de droga alguma. Se compreendesse o que se passa entre nós..." Desabafa, relaxando um pouco mais. "Ele foi grosso com você, não foi? Acha que ele te viu no restaurante e te reconheceu parado aqui?"

"É, algo assim." Coço minha nuca, me sentindo mal por estar omitindo algumas informações.

Vai ser melhor assim. Repito na minha mente várias vezes. Palavras rudes voam e se vão ao vento, as de hoje não serão melhores ou piores que as de noites atrás.

"Desculpa, Harry. Isso foi horrível e super constrangedor. Você não tem obrigação alguma de se meter nos meus problemas de família. Já basta o que o meu ex-namorado arrumou no Poison." Murmura, embaraçada como nunca vi antes. Seus ombros estão encolhidos e os olhos grudados no chão. Ela nunca age assim e entendo que esteja mesmo envergonhada. Me deixa triste.

"Como eu disse, tá tudo bem. Ele só foi rude, só isso. Nada que eu nunca tenha visto antes ou ouvido de outros pais bravos." Brinco, querendo vê-la sorrir de novo. "Você não é a primeira filha protegida que aparece na minha vida, sabe." Ergo o rosto dela por seu queixo, a vendo revirar os olhos e rir num suspiro.

"Ah, claro. Styles. Harry Styles. Provavelmente tem uma longa lista de affairs." Caçoa, tirando minha mão de seu queixo e cutucando o meu peitoral.

"Relativamente longa, eu diria. Mas o que eu posso fazer? Sou apenas um cara que gosta de aproveitar a vida." Dou de ombros e ela ri de novo.

"A típica desculpa." Charlotte se apoia nos meus ombros e aproxima os lábios do meu ouvido antes de acrescentar, "Só não julgarei seu caráter à diante, pois tenho uma lista tão longa quanto." Recebo um beijo provocador no pescoço e a presença dela perpassa por mim sutilmente, assim como seu riso gracioso.

Mordo o lábio inferior e viro meu rosto para encontrar o dela. É bom ver que seu semblante está melhor, mas meu ego saiu um pouco ferido dessa brincadeira ligeira.

"Irritantemente atraente, de fato." Repito o mesmo adjetivo de antes, me juntando a ela na calçada. "Ainda sente fome?" Pergunto genuinamente, já que fomos atrapalhados em meio aos nossos planos.

"Não sou uma princesa aflita de um livro romântico. Essa discussão me deixou com o dobro de fome, se quer saber." Declara, confiante.

"Ótimo. Minha barriga está roncando." Minto, pois ao contrário dela, fiquei sem apetite.

"Vamos logo, então. Estamos mais do que atrasados."

Refazendo o curto trajeto até padaria, conclui três coisas. Primeira: Ela não estava nada confiante ou recuperada de sua chateação com a visita inesperada do pai, por mais que estivesse fingindo muito bem. Segunda: O convite para tomarmos café juntos só se manteve de pé, porque ela quis se mostrar firme, como se o que o tal Jacob tivesse dito não a tivesse abalado. E terceiro: eu fiz a escolha errada por duas vezes ao decidir não dividir com ela as palavras hostis de seu progenitor.

Tivemos um restante de manhã estremecido, frágil. Eu falando pouco e ela, menos ainda. Ambos com uma verdade presa no peito que não queríamos expressar.

N/A: 🎶 Rom pom pom pom MATE UM HOMEM 🎶

Espero que tenham gostado do capítulo.
xx

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