Viúva Negra | L.S

By the_noemimutti

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Todos homens temiam seu nome. Idolatravam sua postura. Seguiam suas regras. Harry Styles era o braço direito... More

A Jornada Começa Aqui
01. Homem de Princípios
02. A Morte dá Tchau
03. Desafiando o Diabo
04. Quebrando a Banca
05. Louvado seja Satã!
06. A Deusa da Morte
07. Súplicas Perdidas
08. Fogo Cruzado
09. Com Unhas e Dentes
11. O Pai da Mentira
12. Flores Álcoolicas
13. Onde Judas Morre Antes
14. Sob Rédeas Curtas
15. O Lobo Atrás da Porta
16. O Verdadeiro Alfa
16,5. Nargot
17. De Frente com o Diabo
18. Vestíbulo do Inferno
19. Chamas na Escuridão
20. Incendiado
21. Jardins da Babilônia
22. Deus e o Diabo na Terra do Sol
23. Corrida Contra o Tempo
24. Eu te Devoro
25. Entre a Cruz e a Espada
26. O Rei Renasce
27. O Caos que nos Une
28. Quando a Luz Toca
29. A Solidão Que Nos Habita
30. Você Vai Me Destruir
31. Imortais & Fatais
32. Doce Criatura Cruel
33. Tudo por Amor
34. Como Atlas
35. Lobo em Pele de Cordeiro
36. Anaconda
37. Em conversa de malandro...
38...otário não se mete
39. Encruzilhadas
40. Bonnie & Clyde
41. De Volta ao Jogo
42. Romeu & Julieta
43. As Rosas Não Falam
44. Demônio Noturno
45. A Fúria
46. A Toca do Coelho
47. Afrodisíaco
48. Xeque-mate
49. Eu Sobre Mim Mesmo
50. O Amor Que Nos Destruiu

10. Lar Maldito Lar

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By the_noemimutti

Ooi! Eu disse que voltaria essa semana ainda. Obrigado pelos 15K! :)

Tenham uma boa leitura, y'all.


O amor é veneno.

Em grandes doses, ele te mata. Sua família, seus amigos, seus pretendentes românticos ou até mesmo você. Tudo em excesso, incluindo amor, envenena.

Entorpece, serpenteia e por fim bombeia em seu coração como um organismo vivo que se alimenta da sua fraqueza.

O amor é capaz disso. De enlouquecer até mesmo os mais lúcidos e sábios, os que desafiam a lógica e coragem.

Louis iria aprender que o amor, mesmo que fosse de sua família, poderia ser letal.

Mas por outro lado... outros tipos de amores, em doses pequenas, te tornam imune.

Como por exemplo: o amor da sua vida.

LOUIS WILLIAM TOMLINSON - P.O.V

O cheiro de carro novo, perfume caro e comida caseira preencheu minhas narinas, fazendo meu coração dar um solavanco em estranheza. Um arrepio lento subiu pela minha espinha e eriçou os pelos de minha derme, me deixando ansioso.

Puxei uma grande lufada de ar quando os portões finalmente abriram.

Minhas costas estavam devidamente cuidadas pelas mãos mágicas de Niall Horan, o maior médico-cirurgião que tínhamos dentro da máfia. Às vezes eu me esquecia que todos ali carregavam algum tipo de diploma, por mais inútil que viesse a ser.

Molhei meus lábios, sentindo o gosto metálico fornecido pela mordida generosa que eu dei na minha língua em nervoso. Ver a Mansão Tomlinson ainda me dava a sensação do garotinho de 4 anos sendo resgatado e achando que estava entrando numa espécie de castelo.

Margot parecia levemente cansada enquanto entrava com o carro e Niall fazia um leve carinho na perna dela, me deixando eufórico para fugir daqueles dois.

O amor deles às vezes me deixava muito invejoso.

Por trás do retrovisor, pude observar a Mercedes preta nos seguindo com dois seguranças no portão.

— Sr. Tomlinson, como é bom o ver novamente — disse Pierre, nosso mordomo que parecia ter mais de setecentos anos.

Mantemos porque ele era muito antigo e principalmente por ser a única pessoa que conseguia me acalmar quando criança.

— Ei, Pierre — sorri saudoso, o abraçando com força. Ainda tinha cheiro de lar. — Senti sua falta.

— Eu também, garoto. Seus pais te esperam na Sala Principal.

Fiz uma careta.

— De dez a zero, o quanto você acha que mamãe vai me xingar?

Ele riu, fazendo um leve carinho na minha bochecha e franzindo o cenho ao ver um leve corte ao lado do meu lábio inferior.

— Como foi lá? — perguntou baixinho.

Encarei o ancião com os cabelos grisalhos e olhos pretos amistosos, o beta que tinha cuidado de mim praticamente a vida inteirinha com afeição. Pierre foi o que sugeriu eu ir embora.

— Foi incrível — confidenciei. — Eu nunca fui tão feliz.

— Isso é bom, garoto. Conseguiu o diploma pelo menos?

— Não — dei de ombros. — Duvido que eu vá algum dia.

— Você nem precisa com essa astúcia toda — piscou um dos olhos, me fazendo sorrir. — Agora vá. Tenho que recepcionar os convidados.

Olhei para trás, notando que Jauregui saía da Mercedes junto com Harry, ambos de roupas pretas dos pés à cabeça e óculos escuros. Revirei os olhos. Pareciam a Duplinha do Barulho.

Não podia negar que eram lindos.

Enquanto eu os encarava, dois carros entraram, dessa vez um cinza e outro branco. Os Horan e... Liam.

Porra.

— Pierre, preciso entrar antes que meu melhor amigo me mate — pedi em pânico e ele riu, bloqueando a minha passagem.

— Vai ser divertido.

O encarei com os olhos traídos, ouvindo apenas um rosnado tão alto que achei que Liam tinha se transformado em lobo. Se eu não tivesse um reflexo bom, teria literalmente sido atingido na perna com a facilidade que ele tinha jogado uma pedra.

— Uma pedra? Sério? — exclamei abismado, recebendo outra pedrinha de jardim, mas dessa vez tinha atingido. — Liam!

— Seu ômega desgraçado, como você me some durante anos, Louis Tomlinson?! — bradou irado, jogando uma sequência de pedrinhas no meu corpo, evitando o rosto. — POR QUE VOCÊ NÃO ME ATENDEU?

— Eu não podia divulgar meu disfarce.

— Para o cacete seu disfarce, seu maldito demônio anão!

Zayn encarava Liam com o riso preso, adorando o espetáculo que o parceiro dava comigo. Como eu odiava os dois.

— Liam, você sabe que não tinha essa opção!

— Nem uma maldita carta?!

— Você está onde? Século XV?

Foi a coisa errada a se dizer, pois dessa vez quem tinha tacado uma faca — exatamente, uma kunai que deslizou pela minha orelha esquerda — foi Niall.

— Idiota presunçoso — disse com os olhos embebidos de raiva. No fundo, eu podia ver a mágoa real por trás. Todos podiam. — Por mim você apodrecia lá.

Estremeci levemente com a raiva, me sentindo muito vulnerável ali. Todos estavam ressentidos comigo.

Menos Lauren e Harry que não entendiam bulhufas e pelo o que parecia, também não se importavam, já que aproveitavam o show.

— Querido — interviu Margot. — Cuidado com as facas, huh? Tente não lançá-las no herdeiro da Ordem.

Niall me encarou o tempo suficiente para eu me sentir a pior pessoa do mundo.

— Nem um pedido de desculpas, Louis? — indagou Zayn, baixinho.

Eu abri a boca para responder, mas a realidade era que eu não sentia muito por ter ido embora. Nenhum pouco. Por mim, eu ao menos tinha voltado.

Eu os amava, mas... amava a mim mais.

— Não sinto muito. — Fui sincero, retomando a minha postura séria. — E não devo satisfações a nenhum de vocês sobre o que eu faço ou deixo de fazer.

Niall riu, descrente. Liam me encarava com mágoa.

Endureci minha postura, pegando a faca que Niall jogou em mim e rodando nos dedos antes de jogá-la de volta a ele. Mantive a minha expressão fria o bastante para os fazer retroceder alguns passos.

Eu não era obrigado a ser escorraçado por ter me escolhido.

— Repita novamente o que você fez hoje e eu vou esquecer que é meu amigo e vou te deixar surdo dos dois ouvidos — alertei com a voz calma a Niall que assentiu.

— Sim, Sr. Tomlinson — debochou com a voz de falsa submissão.

Ignorei.

— E você — apontei a Liam. — Já te expliquei trocentas vezes do porque eu saí, agora aja como a porra de um adulto e supere porque temos assuntos mais importantes a tratar do que o seu ego ferido.

Foi a vez de Liam sorrir debochado.

— Sim, Sr. Tomlinson.

— Muito bom. — Não me abalei pelas feições raivosas, me virando diretamente a Harry que esbanjava um sorriso mínimo nos lábios. Esse bastardo devia estar amando. — Vamos.

— Quer um "Sim, Sr. Tomlinson"? — perguntou com ironia enquanto me seguia e eu ri pelo nariz, porque meu cérebro parecia ter dado pane tamanha frustração.

— Só se você quiser ser submisso ao meu nome — impliquei de volta. — Ou ajoelhar diante de mim. Sr. Tomlinson soa ótimo.

Harry sorriu cretino, retirando os óculos e andando ao meu lado com a expressão de quem estava se divertindo muito.

— Aumentar a sua lista de pretendentes? Estou em que colocação? Vigésimo?

Ri.

— Oh, querido, não se ache tanto — bocejei entediado. — No mínimo, você está no trigésimo.

— Que fila longa de alfas.

O encarei de esguelha, passando os dedos no cabelo atrás de paciência para rebater.

— E betas — acrescentei. — E ômegas.

Lauren riu ao meu lado, colocando a mão no meu ombro em conforto. Eu sabia que ela tinha percebido que assumir aquela postura com meus amigos tinha doído.

No fundo, ela não era tão ruim assim.

— O jeito que você agiu lá — começou Harry, parecendo engolir acônito ao falar. — É digno de um herdeiro. Você agiu como manda sua função, apesar de serem seus amigos.

O encarei meio espantado. Ele estava me elogiando?

— Fui criado para ser um. Faz parte do pacote ser um cuzão.

Ele negou com a cabeça, me parando bem na frente da porta com uma expressão muito relutante.

— Não. O que você fez é difícil — afirmou novamente. — Isso é o que difere você de Lottie.

— Cuidado com as palavras, Sr. Styles, se não vou achar que está me elogiando.

Ele manteve a mesma postura indecifrável, piscando os olhos e se afastando assim que meu pai abriu a porta.

— Louis, filhote! — exclamou animado, me puxando para um abraço de urso. O cheiro de terra molhada e colônia era o mesmo de anos. — Que saudades do meu ômega.

Revirei os olhos, retribuindo o abraço.

— Oi, pai.

— Que animação ao ver seu pai — debochou, esfregando meu cabelo com carinho. — Harry. Lauren. Cadê os outros?

— Na garagem provavelmente falando mal do seu filho — informou Lauren, abraçando Mark com afeto. — Oi, tio.

— Tudo bem, querida?

Ela suspirou longamente.

— Achei minha parceira e descobri que ela trepava com o inimigo — despejou em desalento. — Não podia estar melhor.

Meu pai procurou sinais de brincadeira na expressão da alfa e por fim gargalhou, a encarando com graça.

— Você sempre arruma um jeito de se ferrar, Caçadora.

— Faz parte de ser uma Jauregui — deu de ombros. — Inclusive eu trouxe ela.

Meu sangue gelou. Me virei lentamente a alfa que manteve a expressão neutra, mesmo sob olhares assassinos meu e do meu pai.

— Que porra você está dizendo? — grunhiu irritado. — Você trouxe uma ômega de outra facção para dentro da minha casa?

— Calma, tio, ela foi sedada e vendada para não saber a localização. Podemos deixá-la em algum lugar só para averiguar algumas informações. Nós salvamos ela e tenho certeza que Íris irá cooperar — garantiu com a voz firme.

Não acreditei nem por um segundo.

— Jauregui, eu não ligo se ela é sua parceira de alma. Se ela se demonstrar inútil, vou jogá-la em qualquer rua de Londres para voltar para casa sozinha — disse Mark. — E se ela me arrumar problemas, não vou pensar duas vezes antes de sentar o dedo. Entendido?

Lauren segurou o rosnado, estalando o pescoço e tentando acalmar os instintos de proteção antes de assentir curtamente. Meu pai mantinha a expressão severa.

A expressão tão igual à minha.

Segurei a náusea e entrei dentro da Mansão, ignorando os dois discutindo sobre onde ficaria Íris.

A Mansão estava do mesmo jeito que eu me lembrava desde criança. Uma grande escada no meio que cortava toda a residência que era pura madeira escura envernizada. Era um tanto tradicional, com retratos dos herdeiros da Ordem e dos líderes durante as décadas.

Tinha uma lareira enorme no canto esquerdo, o lobby era repleto de vasos e um tapete persa decorado em dourado escuro e vermelho com desenhos de deuses egípcios na entrada da mansão.

Costumava achar a mansão acolhedora por ser de madeira e ter cheiro de pinhos, mas depois de sentir tantas vezes aquele cheiro misturado ao metálico do sangue, eu perdi a visão confortável para uma que me fazia franzir o nariz.

Odiava a Mansão Tomlinson.

Ela me fazia lembrar de um Louis descontrolado, louco por aprovação do pai, com problemas com álcool e que se afundava em planos de conquista totalmente ambicioso. Querendo vencer todos.

Um Louis que nunca precisou levantar uma faca para matar ninguém, porque agia por trás das câmeras e programas. A mente que arquitetou metade das vitórias da Ordem.

O Louis que trepava com tanta gente em orgias e sexo aleatório em busca de algum sentimento que o mantivesse vivo; que tinha a falsa impressão de que era feliz. No mínimo, eu era respeitado por ter posto medo e ameaças em todo tempo que fiquei ali.

O Louis Tomlinson réplica de Mark Tomlinson.

— Meu amor — bradou Amber, minha mãe, vindo em minha direção com os braços abertos. — Que saudades de você. Está tão lindo!

Sorri carinhoso, a abraçando com força. A mulher mantinha os mesmos cabelos castanhos-claros com ondas volumosas, a pele com algumas pintinhas, o rosto sardento e os olhos azuis-acinzentados carinhosos.

— Oi, mãe — murmurei enquanto a segurava mais tempo que o necessário. — Senti sua falta.

— Não pareceu.

— Desculpa por não ter atendido nenhuma das suas ligações.

— Nem meus e-mails. Ou meus cartões postais. Muito menos meus presentes em datas comemorativas — acrescentou com ressentimento. — Você me esqueceu.

— Lógico que não. Eu só precisava de um tempo para mim.

— Um tempo para você ou um tempo da gente? — refutou capciosamente e eu engoli em seco.

Por fim, ignorei a pergunta. Duvidava que ela gostaria da resposta.

— Lottie?

— Foi resolver algumas ações na Espanha. Volta amanhã.

— Ela sempre foi uma ótima emissária — afirmei. Como líder Lottie era péssima. Ela era uma diplomata. Não tinha sangue frio o bastante para ser a futura líder. — E as gêmeas?

Minha mãe pareceu ler meus pensamentos, pois me deu aquele olhar de que concordava comigo. De que via em mim a futura geração e grandeza da Ordem.

Desviei meu olhar para as escadas.

— Louis! — exclamaram as pequenas juntas, correndo até mim que abaixei na altura das duas.

— Céus. Eu dormi quanto tempo? Vocês estão gigantes! — bradei abismado. — Com quantos anos?

As duas sorriram contentes, exigindo quatro na mão e eu abri a boca em espanto, abraçando as duas com afeto. O cheiro infantil me deixou levemente alegre e tirou aquela sensação pesada do meu estômago.

Daisy foi a primeira a tentar me puxar para o quarto, querendo mostrar todas as bonecas que tinha ganhado em seu aniversário e eu suspirei.

— Doces, depois eu vejo, ok? Prometo. Tenho que conversar com o papai — expliquei pacientemente e Phoebe me encarou com certo desânimo.

— Você disse isso antes de ir embora — sussurrou magoada. — E você disse que iria se despedir.

Segurei o ar, sorrindo meio triste.

Em quatro anos, eu fiz uma visita por uma inconsistência do sistema que meu pai solicitou que eu averiguasse. Só podia ser feito direto da fonte, então cerca de um ano atrás, eu voltei para verificar.

Elas estavam no jardim quando eu voltei e eu disse a mesma coisa, acabando por brigar feio com meu pai e ir embora sem me despedir das duas.

Molhei os lábios, garantindo desta vez que iria ficar.

Por falta de opção e não por escolha.

— O almoço já está quase pronto — avisou Magnólia, nossa governanta. Ela me detestava. — Sr. Tomlinson.

— Mag! Que saudades.

Ela apenas ignorou, dando uma reverência antes de sair. Minha mãe deu uma risadinha, pondo as mãos no quadril.

— Ela ainda te detesta.

— Nem tinha percebido — revirei os olhos.

— Você está achando que é quem? Sou sua mãe, moleque. Não revire os olhos para mim se quiser permanecer com eles em seu rosto — ameaçou mandona, me fazendo estremecer.

— Desculpe, mãe.

— Agora vá tomar um banho. Você está horrível. Quem te bateu?

— Um bando de alfas — bufei. — E uma ômega doida que descobri ser parceira de alma de Lauren.

Minha mãe ergueu as sobrancelhas e no exato momento, Jauregui entrou segurando um corpo que eu conhecia bem com roupas quentes.

Íris usava um moletom de lã branco e uma legging preta, nos pés tinham um par de tênis brancos simples. Lauren devia ter comprado antes de deixá-la vir.

A garota parecia começar a despertar do estado sedativo, o saco preto em sua cabeça impossibilitando de ver qualquer coisa.

Minha mãe apenas suspirou.

— Ponha no quarto de hóspedes na segunda porta à direita. Levaremos comida para ela daqui a pouco — orientou Amber a Lauren.

— Não, Am, ela é prisioneira e não hóspede — avisou meu pai.

Lauren mantinha a expressão neutra, mas se você fosse bom em observar — e eu sou —, conseguia ver como ela não gostava da ideia de deixá-la no sótão dentro de algumas celas que mantemos reféns ou espiões infiltrados.

Eu também não gostei.

— Não vamos mantê-la lá embaixo — replicou minha mãe. — Ela é a ômega de Lauren.

Meu pai crispou os lábios, contrariado.

— Não interessa. Ela é uma Malterra, é aliada dos Mamba Negra.

Amber não alterou nada em sua expressão.

— Você sabe o que eles fazem com os ômegas lá. Ela provavelmente foi vendida ou qualquer coisa absurda — rebateu rispidamente e meu pai a encarou por alguns segundos.

— Não podemos dar tratamento especial só porque é parceira de Lauren, Amber.

— Não vou dar tratamento especial porque é parceira de Lauren e sim porque ela é uma ômega que foi resgatada. Não sequestrada. Duvido muito que ela não tenha implorado para Lauren a levar, dizendo que iria ajudar como testemunha porque sabe que qualquer coisa era melhor do que voltar para lá. — A expressão de Lauren deixou claro que foi o que aconteceu. — Nenhum Jauregui traria um inimigo para nossa casa a não ser que realmente acreditasse que dizem a verdade.

Jauregui se pronunciou pela primeira vez:

— Ela não tem para onde ir. Íris iria ser descartada em Sodoma e nós a salvamos. Se ela voltasse e usasse seus fundos bancários para fugir, eles iriam rastrear — disse Jauregui.

— Não somos justiceiros. Não é nosso problema — refutou Mark e Lauren e Harry me encararam com a expressão de que deixava claro quem eu era.

Como eu parecia. Porque meu pai disse a mesma coisa que eu disse.

— Pai, ela nos ajudou e salvou. Podemos deixá-la no quarto de hóspedes — disse com a voz doce, e ele suavizou a expressão. — Se não fosse por ela, estaríamos mortos.

Ele descruzou os braços antes de respirar fundo.

— Certo. Mas ela é um problema seu, Lauren — apontou o dedo em direção a alfa que assentiu. — Se ela não cooperar, mandarei um Carniceiro para fazer o trabalho.

Desta vez, Lauren rosnou levemente.

Todos gelamos no lobby, só poderia ser ouvido o crepitar da lareira. Senti a energia ondular e os olhos de Lauren arregalar ao notar que tinha rosnado ao alfa supremo da Ordem.

O maior sinal de desrespeito depois da voz de alfa.

— Pai, pai — chamei em alarde, caminhando até ele e segurando nas mãos calosas. — É a parceira dela. É instinto.

Lauren gaguejou, parecendo abismada que tinha feito isso. Meu pai pareceu perceber também que era pelo fato do sentimento novo despertado e primitivo, não como uma afronta.

Jauregui estava em seu dia de sorte, pelo visto.

— Na próxima esquecerei que é minha sobrinha e irei a punir por isso te rebaixando de patente — informou duramente. — Perderá seu cargo de Líder do Círculo dos Caçadores. Entendeu?

— Sim, senhor — confirmou com um aceno curto, totalmente obediente.

Meu pai levou os olhos a ômega.

— A deixe no quarto e desça para o almoço. Temos uma reunião mais tarde depois que todos descansarem — ordenou Mark. — Louis, filhote, venha comigo.

Suspirei antes de segui-lo. Estar em casa era maravilhoso.

Lar maldito lar.

***

O cheiro do Chivas no copo grosso de whiskey despertou minha atenção. Álcool seria uma ótima saída para meu estado de torpor diante dos acontecimentos e com muita satisfação, aceitei o copo que meu pai me ofereceu.

Me joguei no sofá no escritório dele, abrindo minhas pernas e dando um gole no líquido âmbar enquanto meu pai se escorava na ponta de sua mesa.

O escritório era como todo o resto da casa. Feito de madeira escura envernizada, os móveis da mesma tonalidade e uma estante enorme com mais de quinhentos livros atrás da mesa do meu pai.

Era seu escritório particular, então ostentava um bar personalizado com bebidas caras e datadas de mais de anos, vinhos e whiskys que meu pai fazia questão de deixar próximo a sua papelada diária.

Ser um líder é, principalmente, lidar com centenas de partes burocráticas. Liam lidava com a maior parte, mas tinham coisas que só meu pai podia ter acesso.

E eu. Bom, não mais.

— Como está se sentindo?

— Como se tivesse passado o dia todo no spa — resmunguei e recebi um olhar de repreensão. — Por que me chamou?

— Pode tentar ser agradável pelo menos uma vez na vida? Não vai te matar me tratar bem.

— Desculpe, pai. Estou cansado.

— Não é desculpa para ser um mimado petulante — cortou ríspido, me fazendo corar de vergonha. — Ficar quatro anos fora não te faz menos meu filho.

— Desculpe — pedi novamente. — Estou me sentindo mal. Dor de cabeça e precisando ficar bêbado.

Ele riu, se aconchegando melhor com uma perna em cima da mesa, empurrando os papéis. Dei mais uma golada na bebida e ignorei a queimação na minha garganta.

— Então, aprendeu muito na faculdade?

— Foi bom — disse simplista. — Quase peguei o diploma.

— Você estava na reta final, posso pegá-lo com facilidade. Se quiser — sugeriu em um dar de ombros.

— Vou pensar sobre isso.

— Todos têm um diploma. Liam é advogado, Lauren está fazendo a especialização em psiquiatria, Niall é médico, Harry é formado em administração — listou com paciência. — Você tem quase vinte e cinco anos e mereceu os anos que passou lá dentro. Faltava só terminar o TCC, certo?

Assenti.

— Pois bem, eu darei um jeito de pegá-lo para você. Não vai deixar de ser legítimo já que era uma questão de dois meses para finalizar seu curso — acrescentou, sabendo que eu não iria gostar de ter um diploma que não fosse por mérito próprio. Mas até mesmo eu tinha que concordar.

Faltavam pouquíssimos meses para eu me graduar e meu TCC estava praticamente pronto, esperando apenas para a apresentação final. Eu merecia aquele papel timbrado com minha licença em Literatura.

— É bom ter alguém versado em Literatura — divagou meu pai, passando a mão no queixo. — Apesar de eu achar que terá que fazer algo em administração. Sem um mínimo de orientação financeira, vai ser difícil lidar com a...

Franzi o cenho.

— Do que está falando?

— Bom — pigarreou. — Agora que retornou, presumi que iria voltar à linhagem de futuro líder. Sabe que sua irmã, por mais inteligente que seja, não tem a mínima vocação.

— Presumiu errado. Não tenho a mínima vontade de assumir a Ordem. Achei que já tivéssemos entrado de acordo nisso, pai — vociferei. — Se eu entrar, sabe o que terei que fazer.

Ele suspirou longamente e com certa impaciência.

— Louis, casamento é só uma formalidade. Poderá continuar com seus amantes noturnos e sua bagunça — argumentou. — Casar-se com Harry seria apenas pela tradição.

— Não — afirmei duramente. — O casamento é o que menos me importa. Tenho absoluta certeza que se me casasse com Styles, nós nem nos veríamos. Ele não me suporta nem eu a ele.

Meu pai esperou eu terminar.

— Matar não é comigo. Não posso fazer o Ritual do Corte.

— É mais uma formalidade. Podemos escolher algum ser humano péssimo para fazer. Sei lá, um estuprador? Você mataria feliz.

Um breve lampejo de raiva cintilou nos meus olhos.

— Sabe que não é assim. Eu teria que matar depois — refutei amargo. — Quantos você já matou? Um só? Só o do seu Rito?

— Logicamente não, mas você pode aprender a lidar com isso.

— Quer me ensinar a matar? — gargalhei sem humor. — Pai do ano.

— Louis William — repreendeu secamente. — Depois conversamos sobre isso. Não quero brigar em menos de uma hora conversando com você.

Massageou as têmporas e eu me afundei no sofá, recostando minha cabeça e fechando os olhos. Me imaginei afundando dentro de um oceano.

Porra. Faria tudo por um banho de banheira e um cigarro agora.

— Tenho algo para te contar. Você não vai gostar.

Gemi em desgosto, me enfiando mais ainda no sofá.

— Manda.

— Conseguimos informações consistentes sobre o Viúva Negra — informou seriamente e eu abri os olhos, me ajeitando no sofá para visualizá-lo melhor. — O último sinal que recebemos é em um dos subúrbios de uma cidade aqui na Inglaterra.

Ergui a sobrancelha, em estranheza.

— Pois é — deu de ombros. — Tudo indica que ele é de Doncaster.

Espanto cruzou meus olhos e eu tossi levemente, bebericando e matando meu whisky.

— Minha cidade natal. Ok. Bizarro para cacete.

Meu pai ignorou o xingamento, enchendo meu copo com mais álcool e voltando ao seu lugar de origem.

— Ele acha que está em uma espécie de corrida com você e o prêmio final é a nossa facção. Nossa família.

— Sua família — corrigi.

Nossa, Louis. Vai ignorar sua mãe e suas irmãs? Até mesmo seu grupo de amigos. Não finja que não se importa com eles — afirmou sériamente. Permaneci em silêncio e ele suspirou. — Não podemos continuar com isso e vencer essa ameaça se você continuar apático desse jeito. Preciso do meu Louis de volta.

Ri em escárnio, revirando os olhos.

Antes que eu desse alguma resposta malcriada, uma breve batida na porta chamou nossa atenção e Harry entrou com a pose de um alfa supremo — mesmo que ainda não fosse, já que Des e Mark tinham o cargo em posse ainda — e murmurou um pedido de desculpas pela interrupção.

— Desculpa a demora. Estava ajudando Lauren com Íris. Ela acordou agitada — explicou rapidamente. — Algo sobre ter medo de lugares escuros.

Anotei mentalmente em ver a ômega assim que acabasse a reunião.

— Sem problemas, Harry. Quer algo para beber?

— Vodka pura é suficiente.

Meu pai assentiu, pegando um pouco do líquido e misturando dentro do copo. Esbocei uma careta com o cheiro de álcool forte, parecendo gasolina. Odiava vodka pura.

— E como está sendo essa adaptação de Jauregui a sua alma gêmea?

— Aos trancos. Ela não entende metade dos sentimentos que ela nutre — informou Harry. — O instinto está falando mais alto e assustando Íris que não está pronta para esse tipo de compromisso. Enfim, uma loucura loboresca.

— Que infortúnio que Lauren não obteve um imprinting — disse meu pai com pesar. — Seria mais fácil se as duas reconhecessem no mesmo momento.

Concordei juntamente com Harry.

Imprinting era extremamente raro dentro do nosso mundo. Era quase a mesma coisa de reconhecer sua parceira de alma com o cheiro, mas a conexão acontecia conjuntamente. Ou seja, os dois sentiam no mesmo exato minuto.

Quase como amor à primeira vista, mas seria amor ao primeiro cheiro. Só que como quase todo mundo está em tempos diferentes do parceiro de alma ou possui travas emocionais, costumava ser algo mais difícil de acontecer.

Ri com o "loboresca", chamando a atenção dos olhos verdes intensos em mim. Saudei com o copo e meu pai tossiu, chamando nossa atenção com um sorriso mínimo.

Quase revirei os olhos com a presunção dele de achar que eu poderia nutrir algo por Harry além de deboche.

— Estava dizendo a Louis que recebemos a informação que o último sinal de IP do Viúva veio de Doncaster. Cidade natal de Louis.

— Bizarro — sussurrou Harry e eu suspirei.

— Esse desgraçado quer que eu volte a minha cidade. Eu não sei o propósito disso tudo — fui sincero. — Não tenho laços lá.

— Nem mesmo algum amante, Lou? — indagou Mark.

— Não que eu me lembre, pai. Talvez algum dos seus antigos inimigos?

— Parece provável. Não podemos confiar em ninguém, já que eles conseguiram a senha de alguma forma. Alguém do nosso Círculo Grande vazou informação.

— Talvez não de forma proposital — elucidei. — E se alguém deixou para um amante e essa pessoa vazou a informação?

— Quem seria idiota o suficiente para escapar uma informação dessa com sexo fácil? — rebateu Harry. — É literalmente a maior burrice do mundo.

— Ah, alfinha, vai dizer que nenhum ômega entrou nesse coraçãozinho de ferro? — provoquei com graça, observando as narinas dilatarem em fúria.

— Diferente de você, eu não me deito com qualquer pessoa.

— Podemos observar já que você fala "deitar". Cara, pode falar trepar, foder, meter... Deitar me faz sentir no século do meu pai — retruquei, ouvindo meu pai me repreender.

— Louis, fica quieto — riu fracamente. — E só para te deixar ciente: na minha época já falávamos foder.

— Viu? Vovôzinho — impliquei mais e Harry revirou os olhos. — Você é virgem ainda?

— Louis!

Harry não se abalou, bebendo uma dose de vodka antes de responder irônico:

— Quer testar? Algo me diz que você pode se surpreender.

Pisquei os olhos com a oferta explícita.

— Está sugerindo esses tipos de coisa com meu pai na minha frente? Se eu fosse você tomava cuidado. Mark Tomlinson pode fazê-lo casar comigo — ri pelo nariz.

Mas os dois alfas não riram.

Franzi o cenho.

— Louis... Precisamos que você e Harry vão para Doncaster e tentem descobrir de onde surgiu isso e principalmente quem é o Viúva Negra.  Como age, amigos próximos, o que faz, motivação — explicitou com um gesto de desdém. — O de praxe.

— Feito — concordei. — Quanto mais rápido o pegarmos, mais rápido eu posso sumir.

Meu pai ignorou a afirmação e conteve um resmungo.

— Precisamos de uma equipe sólida e que os disfarces sejam perfeitos. Por isso, recrutamos Lauren, Harry, Liam, Niall, Margot e Zayn — narrou com uma expressão séria. — Uma equipe tática rápida e com cérebro também: você, Zayn e Lauren.

— Certo. Quem vai ser o líder da missão? — indaguei.

— Harry — disse sem pestanejar. — Em segundo comando, você.

— Tudo bem — respirei fundo. — Qual vai ser o disfarce?

Ele sorriu travesso e Styles o acompanhou, me fazendo ficar agitado.

— Irei passar as instruções na nossa reunião após descansarem.

Bufei consternado e Harry riu, passando o braço ao redor do sofá onde eu estava sentado, aproximando o nariz perto do pé do meu ouvido.

Contive o arrepio quando a voz rouca proferiu:

— Se quiser que eu adiante a história para você, seremos um casal feliz.

Engasguei com a saliva, encarando meu pai com ódio.

— Por poucos meses, filhote. Vocês serão um casal comum do subúrbio com problemas entediantes de família tradicional — explicitou. — Mas por detrás das cortinas, agiram na surdina.

— Por que não posso fingir com a Lauren?

— Porque ela acabou de se enfiar em um problema maior do que pode lidar. Muito provavelmente ela vai ter que ficar intercedendo entre Londres e Doncaster por conta de Íris e a escolhemos para ser nossa emissária da missão — explicou Mark. — Sem contar que Lauren é uma caçadora. Quase cem por cento do tempo ela está se esgueirando entre os lugares e farejando por aí. Não vai poder estar em casa e fingir ser um casal.

Odiava quando meu pai usava a lógica até demais.

— E Niall é mais capaz de empalar sua cabeça em uma estaca do que deixar você chegar próximo da alfa dele. Zayn talvez concordasse, se, novamente, Liam não estivesse com ódio de você.

— Então só resta eu, lobinho — completou Harry, sorrindo debochado. — Gostou de saber que iremos nos casar? Talvez um anel de ouro branco? Não sou fã de ouro dourado.

Enfiei minhas unhas que se alongaram em garras no estofado, arranhando com o ódio que caminhava em meu sangue.

— Vamos nos matar, pai — afirmei entredentes, praticamente desesperado.

— Encare como um teste de paciência — piscou um dos olhos. — Se trabalharem arduamente, ficarão longe um do outro bem rápido.

Respirei fundo, tentando acalmar minha raiva.

— Terá que ser fiel, Louis. Não poderá colocar o plano em risco, ok? Terá que imprimir o casal perfeito. Vocês não serão um casal com muito dinheiro, mas se "amarão" muito.

— Certo, Mark — concordou Harry muito facilmente.

— Louis — chamou meu pai. — Tente ser razoável. É questão de estratégia. Os líderes precisam ficar juntos.

Levantei em um rompante de raiva, derrubando o whiskey no sofá e apontando o dedo em direção ao meu pai com uma ameaça clara:

— Eu irei pegar esse filho da puta. E eu mesmo irei fazer questão de arruinar tudo o que ele tem e o que ele poderá ter. Até mesmo a próxima geração irá sentir, porque vou destruir de dentro para fora por tudo o que fez a minha vida. A vida que eu deveria estar agora — vociferei. — E depois irei embora. Para sempre.

Meu pai piscou os olhos, parecendo assustado antes de pigarrear.

— Filho...

— Não está aberto a discussões. Estou afirmando.

Andei até a porta e assim que passei pelo batente, me virei com o olhar mais irritado possível que fez até mesmo meu pai desviar.

— E eu vou destruí-lo. Pedaço por pedaço. Talvez você consiga que eu faça o que me pede há anos — sorri em escárnio.

— O... quê? — Harry empurrou a pergunta com a voz rouca, o receio latente na indagação.

— Matar.

E sai dali.


NOTAS DA AUTORA: Quem ama fake dating/wedding plot? EU!

Eu amo plot de casamento falso e eles são obrigados a ficarem juntos para alguma coisa. É tão divertido eles se alfinetando e se conhecendo que sério! Amo esse clichê de casamento e namoro falso.

Alguma pista de quem seja o Viúva Negra? hihihi. Estou no twitter (labruxamorgana) acompanhando tudinho e amando quem se dispôs a panfletar ela! Vocês me incentivam a escrever mais ainda dela e adiantar as att.

Obrigado pelo carinho e recepção!

VEJO VCS NAS FIGURINHAS!!

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