Distopia Romena

By Abyss-Rose

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[EM REESCRITA] Medo; uma sensação tão trivial. Trivial quando seu lar é imperado por monstros julgados como m... More

Mapa - România Regală
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1 - Azul Oceano
Capítulo 2 - Vermelho Sangue
Capítulo 3 - Sorriso Mordaz
Capítulo 4 - Orgulho Ferido
Capítulo 5 - Chuva de Pétalas
Capítulo 6 - Fada de Chifres
Capítulo 7 - Seus Olhos
Capítulo 8 - Zacusca com Neve
Capítulo 10 - A Provação (Parte 2)
Capítulo 11 - Sangue, Suor e Desespero
Premiação

Capítulo 9 - A Provação (Parte 1)

26 4 20
By Abyss-Rose

Elena

Uma luz cegava minha visão, ou seria a vista extremamente borrada? Com um esforço tremendo, semicerrei os olhos fortemente e tentei ajeitar o corpo. Mas algo pesava em mim. Eu era incapaz de mexer meus pés; pareciam emaranhados em um tipo de tecido infinito, que teimava em enrolar ainda mais a cada movimento. Caí de joelhos, sentindo o mar de pano envolver meu corpo ainda mais.

Foi aí que um barulho tomou conta do silêncio. Era um choro, contido, mais ainda era um. Não me assustei, não daquela vez. De certa forma, eu esperava que alguém estivesse ali. Eu estava ali por esse alguém.

Estiquei meu braço no ar, tentando em vão alcançar seu ombro.

Notei a tristeza também se apossar de mim.

- Promete nunca me esquecer? - foi só o que consegui ouvir da voz infantil, que havia me suplicado.

O clarão me privava de ver, mas uma coisa eu sentia bem lá no fundo: nós éramos amigos. Mesmo enroscada no tecido, eu queria ajudar. Lembrei do que Alis tinha dito.

"Meu irmão é muito mente aberta, Lena, você sabe bem. É só que... imagine ter a melhor amiga e a irmã namorando."

Um sentimento de culpa me atingiu, ao mesmo tempo que abri os olhos para a realidade. Ele tinha medo de ser largado para trás. Talvez eu tenha dado motivos para Nicolae pensar assim.

Alisei meus cabelos castanhos e depois de me revirar no beliche, espiei um dos relógios de 9,99 dragos em cima da escrivaninha cambeta e antiga. Seis da manhã, me informou o negócio de plástico a partir dos ponteiros. Antes que acionasse, desliguei-o. Por fim, me levantei, tomando cuidado para não esmurrar a cabeça na cama de minha irmã.

Retirei o pijama do corpo, e em seguida, pus a roupa que eu tinha usado no pré-teste. Não se passava de uma calça folgada e esportiva, juntamente de uma blusa com manga comprida; um achado no brechó dos Ferche. Eu sempre conseguia um descontinho, já era da família. Isso quando eu não ganhava algumas peças de graça.

Tanto a cor da blusa quanto a de meu tênis eram idênticos ao céu cinzento e sem vida de Bucureşti*.

Peguei a carta mais uma vez na gaveta da mesa de cabeceira. O sorriso tristonho de Alis tomou conta de minha mente.

"Congratulações Janica Florescu,

Você é apta em seguir o processo de recrutamento.

O local da avaliação manter-se-á o mesmo: a quadra do 1º Batalhão de Infantaria, Setor 6. Não é necessário que leve este documento.

Boa sorte."

Segurei a vontade de rasgar a carta comprimindo meus lábios e cerrando o punho livre. Mas optei por não perder muito mais do meu tempo ali. Fui até o banheiro descarregar o nervosismo na privada e amarrar meus cabelos em um rabo de cavalo apertado. Busquei por um café rápido antes de sair.

***

A brisa fria encontrava meu rosto na manhã cinzenta de segunda; um lembrete de que aquilo era verdade. Eu tinha finalmente passado no pré-teste, e por incrível que pareça, o teste de verdade batendo na porta me incomodava. Quase um arrependimento. Talvez... seja por eu não desejar fazer aquilo de verdade. Mas eu não suportava os vampiros, e muito menos me humilhar a ponto de doar meu sangue. Eu tinha dever comigo e com minha família, mesmo que isso custasse meus objetivos.

Eu substituí meu sonho inalcançável de ser uma Exploradora e vasculhar os escombros de Bucureşti* por se tornar uma sargento. Soava mais acessível, crível e faria meu pai orgulhoso no outro plano. Não pensar muito sobre isso tornava a tarefa mais fácil e meus pensamentos menos divididos. Então, eu empurrava com a barriga. Mas ainda doía.

Elevei meu olhar para o tramvaiul* branco-amarelo; seus faróis iluminavam os trilhos metálicos à frente. Com a mente devagar, adentrei sem mais delongas, forçando meus pés apressados sobre os degraus com antiderrapantes.

A cidade passava rápido pelas janelas fechadas, iguais às batidas do meu coração. Prédios novos e antigos tomavam lugar, ou eu deveria dizer, destruídos? A Guerra do Fim do Mundo aconteceu há 30 anos atrás, mas as suas consequências ainda restavam. Alguns edifícios foram substituídos, outros refeitos da sua maneira. Contraste era o que mais tinha nessa selva de concreto.

O tempo passava devagar, mas parte de mim gostava e não gostava. A ansiedade me fazia querer realizar aquele teste de uma vez, mas outra, sofria por antecipação. Um suor gelado escorria sobre o pescoço, e de tão frias, minhas pontas dos dedos eram capazes de congelar qualquer coisa. Apertei os joelhos ao sentir o corpo ir bruscamente para frente e ouvir um barulho de freio pelo ar.

Fui uma das primeiras a se levantar da cadeira. Me lancei à porta e pulei direto no passeio, em disparada até a quadra do 1º Batalhão de Infantaria.

O local estava completamente vazio.

"Talvez eu tenha chegado cedo demais?", "Talvez eu tenha ido no lugar errado?"; tais pensamentos se instalaram em minha mente já confusa. Rodei o corpo à procura de alguém que seja, um desconhecido já era suficiente. O desespero fazia minhas pernas molejarem. Agarrei os cabelos curtos e amarrados em agonia.

No meio de minhas súplicas internas, tudo ficou escuro em um piscar de olhos.

E quando me dei por conta, eu já estava de cabeça para baixo.

Eu não conseguia sair, e não era por falta de tentativas. Gritei pelo o que parecia uma eternidade, e só não berrava mais alto pela rouquidão e minha garganta exausta. Tentei arranhar aquele tecido, qualquer bulhufas que seja. Minhas unhas já estavam gastas, mas de nada adiantava. Eu nunca havia sentido tanta adrenalina na vida, mas naquela situação era completamente inútil.

Senti uma superfície dura na coluna e o barulho de areia de repente. O impacto fazia minhas costas e cabeça doerem.

Uma fresta se abriu na escuridão. Esperei por um salvador.

Mas o resultado me paralisou. De medo.

O monstro de máscara pálida me puxou pelo pulso, abocanhando-me com suas garras horrendas e repulsivas; levando-me para a luz. Mas eu não queria. Meu cérebro confuso foi incapaz de reagir a tempo, e assim, fui posta de pé contra vontade. Chutei a sacola preta com os pés.

"Dumnezeu să ne ajute*" foi só o que consegui pensar e dizer naquela torrente de desespero.

Uma braçadeira vermelha foi posta em meu muque por esse mesmo monstro, e assim, meu corpo perplexo foi empurrado por algo muito mais forte que eu. O guardião não tinha piedade. O vazio dos seus olhos, na verdade, estava em si inteiramente. Sua capa vermelha escorria no chão como sangue.

Eu queria chorar. Mas o pavor também não me deixava. Tantas coisas que eu não podia fazer por viver em servidão. Eu só podia seguir em fila, calada. Tinha medo de morrer caso fizesse o contrário.

Foi aí que o empurrão parou. E então, quase o meu coração.

Ao olhar para cima, meus olhos, já arregalados, quase saíram para fora do crânio. O mais repulsivo dos monstros ergueu-se de seu trono pomposo, ajeitou o casaco de pele com desdém e se aproximou da murada. Só seu mono brinco era capaz de comprar minha casa inteira.

Tal rosto perturbadoramente bonito foi exibido pelos vários telões. Já sua pele e cabelos brancos, contrastantes com as írises vermelhas e de gato, o tornavam mais assustador ainda. Me encolhi. A voz do Imperador ressoou.

- Como bem sabem, hoje será o teste para as Forças Armadas. O teste de verdade. Julguei pertinente, portanto, mudar ligeiramente o rumo dos acontecimentos. Deixá-los mais... interessantes do que outrora.

"Interessantes? Isso fazia parte do teste?", indaguei mentalmente, somado às várias torrentes de pensamento que inundavam minha mente e visão. Eu podia notar os olhares animalescos sobre mim. Famintos.

Ao contrário dos que percebi no pré-teste, não estavam sedentos por minhas fraquezas. Pelo contrário, já sabiam.

Estavam famintos é pelo meu sangue, carne e vida.

É claro, um suor frio escorreu da minha testa até a bochecha, ou seria lágrimas de puro desespero? Senti que minha vida esvairia logo em minha frente, tão rápido quanto eu tinha sido raptada e posta num saco qualquer.

Eu não tinha muito tempo ali. Nós não tínhamos. Os outros participantes sabiam disso; seus olhares arregalados, assim como os meus, não mentiam.

- O teste ocorrerá no Coliseu da Cidade Imperial, e devo imaginar o quão agradecidos e honrados devem estar por eu ter cedido este maravilhoso ensejo. Não se preocupem, meus súditos. Hoje mostrarão o quanto estão gratos em um... duelo. - Reverberou a voz arrogante e monstruosa.

A boca do Imperador se esticou em um sorriso cruel. Suas presas pulavam para fora.

O barulho de palmas então tomou conta do Coliseu. Eu só queria fugir dali o mais rápido possível; isso se eu pudesse. Isso se minhas pernas conseguissem ao menos se mover e minha vida não fosse tomada no meio do caminho.

- Mulheres duelarão mulheres, e homens duelarão homens. Caso contrário, seria injusto. E não é isso que procuro. Aliás... não existem regras. O vencedor será determinado pelo último a ficar lúcido... ou vivo. - Continuou com sua palestrinha.

Injusto? Mesmo com o medo sufocante, eu duvidava de pé junto que aquela aberração se importava com isso. Esse devia ser o menor de seus problemas.

Algo me dizia que o buraco era bem mais embaixo.

- Para que tenham um estímulo a mais, um modesto prêmio de dez mil dragos será ofertado ao vencedor, da colocação geral, é claro.

Modesto? Com esse dinheiro eu poderia comprar um aquecedor melhor, um beliche melhor, concertar o pé de minha escrivaninha e trocar aquela geladeira velha; tudo e mais um pouco. A disparidade de bens entre nós e os sanguessugas dilatava ainda mais minha revolta interna.

- Que inicie o teste - a voz da besta retumbou pela enorme construção, amplificada pelas várias caixas de som. Trombetas ecoaram pelo lugar.

Tremi e me encolhi mais ainda, esperando que com isso eu pudesse desaparecer.

- Numerele 2, 15 şi 20, prezentați-vă*! - gritou um homem farda.

O medo era tanto que ninguém se movia. Foi preciso então que um guardião fosse até cada garoto e os arrastassem impiedosamente de encontro no centro da arena. Eles se debatiam, em desespero. Suas calças estavam molhadas.

Trombetas ressoaram de novo. E eu, me retraí, igualmente.

Um dos três infelizes se lançou no enorme portão lateral esquerdo do Coliseu, em uma corrida suicida. Mas sem pestanejar, dois mascarados se puseram a frente, e com uma facilidade descomunal, o atirou contra o chão arenoso. Em conjunto, os monstrengos arrastaram o rapaz pelo solo como se fosse um saco de feijão. Ou melhor, de penas.

Quinze das bestas se posicionaram ao redor dos meninos, em círculo.

Minha vez chegaria, numa hora ou outra. A visão me fez ter calafrios, mas eu ainda tinha juízo suficiente para evitar de molhar minhas calças.

Tentei não focar no fato iminente: eu iria morrer.

Mas ficava mais difícil a cada segundo que passava.

Glossário

Bucureşti - "Bucareste" em romeno;

Tramvaiul - "Bonde";

"Dumnezeu să ne ajute" - "Deus me ajude";

"Numerele 2, 15 şi 20, prezentați-vă" - "Números 2, 15 e 20, apresentem-se".

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