O nome da sombra - Crônicas d...

By FlaviaEduarda10

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Sombra já estava acostumada a ser apenas isso: uma sombra aos olhos da sociedade que a marginalizava há 9 ano... More

Reinado das sombras
Prisioneira de luxo
Cuidada e cheirando a rosas e lavanda
Mania do oráculo
Na escuridão
Mentiras
Calia
Entre uma coisa e outra
O castelo pela manhã
Cobras e outros animais
O treinamento
O belo mundo de porcelana
É necessário conhecer o oponente
Assassino
Limites
O último Galene
Apenas reparação
Pessoas e deuses
Espere o esperado
Confronto
Loucura da realeza
Ladra
Sombra
A entrada não é pela porta
Os dias 14
Curiosidade
Sobre um belo vestido vermelho
Os nuances sobre a verdade
Presente
Tudo que viera antes
O primeiro furto
O buraco
Contradição
O que faz uma resistência
Últimos preparativos
É apenas lógico
Propriedade (de ninguém) do reino
O que uma ladra faz? Ela rouba
Encontro inesperado
Decisões entre cartas e camarões
Hayes Bechen
Roubando um pouco de volta
O sacolejo do barco
A linha tênue entre bom e mau
Fogo e gelo
Bayard
Incapaz de ter um segundo de paz
O que há depois do rio?
A ladra nem precisou roubar
A realeza de Drítan
Drítan não gosta de estrangeiros
Deveria?
Diplomacia e chá
A biblioteca
Confusão e incerteza são certezas
A área particular
Uma flor do deus Ignis
A reação para a ação é justiça
Todo o ar do salão
De respirar a se afogar em um segundo
Teria que ser tudo
Automático
Deusa da (justiça) vingança
Um é a ruína do outro
O fardo do saber
A compreensão de como uma fênix funciona
Reinando das Sombras

A calmaria antes da tempestade

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By FlaviaEduarda10

Sendo sincera, não queria levantar da cama.

Aquele seria o dia, afinal.

O dia.

O baile e o furto, o último dia para encontrar os registros.

Havia três opções onde poderiam estar: Biblioteca nacional, biblioteca privada e, então, a sala privada do rei.

Antes do baile, ainda teria que checar se realmente os registros se encontrariam lá, sem ter a mínima noção do que viria a acontecer se não os visse.

Pelos deuses, que estivesse lá.

Estava no meio da tarde, não o melhor momento para tentar passar despercebida, mas precisava ser agora, por isso já encontrava-me em minha roupa de ladra (precisava lavá-la, inclusive), inclinando-me sobre minha janela mais uma vez.

O escritório de Corbin ficava no último andar, não seria tão mais difícil de chegar do que fora com a biblioteca, sabendo que precisaria apenas ir e voltar ao meu quarto como se nada tivesse acontecido.

Era fácil ver como estava vazia através do vidro, sem chave alguma a vista, o que significava que ele realmente estava fora, não apenas longe por um tempo. Com a mesma tática que fizera ao entrar na biblioteca poucas horas atrás, consegui que a janela se abrisse, porém, ao invés de estatelar-me contra o chão como fizera na primeira vez, consegui desenvolver minha em uma cambalhota, impedindo o impacto sobre os joelhos e sobre minhas costelas.

Não era uma sala muito grande, contudo era prática, uma mesa reta com quatro cadeiras, uma de costas para a janela e três do outro lado, além das poltronas colocadas de maneira inteligente sobre um carpete colorido, as paredes cobertas por prateleiras, simulando estantes, livros seguindo do chão até o teto, uma escada presa em um sistema de correr para alcançar os livros mais ao alto.

Hora de encontrar o que Corbin mantinha escondido.

Tentei ir da mesma forma que as procuras anteriores, querendo entender seu método de organização e prosseguir com a busca até perceber que não havia ordem alguma, seja por assunto ou por letras, os livros dispostos aleatoriamente para o meu terror.

Sem me dar chance para respirar, fui revirando os livros, checando as primeiras quatro letras para ver se encaixavam-se no que caçava.

Meu sangue começava a ferver com a demora, mas não poderia sair dali até encontrar os malditos registros, observando o sol se seguir e ir aumentando no tapete.

Meu coração quase parara ao finalmente enxergar um caderno fino com capa de couro marrom claro com um título em caliniano e outro em dritaniano.

"Loucura da profecia / Prophenum Insanis"

Era obvio que em outro lugar, o nome para a mesma enfermidade seria diferente, porém com o mesmo significado.

Tive quase a vontade de chorar de alívio, abraçar o livro e dançar pela sala, mas fui impedida de fazer qualquer uma dessas coisas ao escutar vozes se aproximando cada vez mais.

"...não é problema alguma, Lady Melissa. Será um prazer ajudá-la com isso" Corbin dissera.

Meus olhos arregalaram-se e respirei profundamente, tentando acreditar que justo no momento que eu encontrara os registros, o Rei estaria voltando à sua ala privada, segurando-me para não revirar os olhos pelo meu péssimo timing.

Que surpresa.

Coloquei em movimentos ágeis o caderno no mesmo lugar onde encontrara e fui veloz até a corda à medida que os passos chegavam mais perto, escalando-a e puxando-a ao mesmo tempo até que não aparecesse pela janela.

Consegui chegar ao meu quarto mais rápido do que pensava ser capaz, não precisando pular, meus pés encontrando tranquilamente o chão da minha pequena sacada.

Não tive tempo para aproveitar o pôr do sol logo atrás de mim, apressando-me para trocar de roupa para um vestido mais simples, sabendo que não continuaria com ele por muito mais tempo pois a cada hora que passava, o baile, que aconteceria nessa mesma noite, se aproximava.

E como já esperava, pouco depois de já estar trocada, bateram na minha porta, logo abrindo-a e vendo Dayna parada à minha frente com Amara ao lado, um sorriso preocupante no rosto.

–Amélia, ouvi que estão sem dama particular alguma. Tivera que abrir mão de sua presença na viagem, certo? –Sem processar o que ela falava rápido suficiente para que a expressão de confusão deixasse meu rosto, a princesa continuara. –Eu, como uma boa anfitriã, não poderia deixar uma Lady sem amparo, então Amara fará o papel de sua dama particular. –Noto já a intimidade entre ambas para que Dayna dispensasse o "senhora" antes do nome de Amara, como a aliança em seu dedo indicava.

Sem conseguir esboçar muitas reações, apenas intercalei os olhares entre as duas damas.

–Como assim? –Fora a vez de Dayna franzir as sobrancelhas e entortar a cabeça.

–Você sabe como uma dama particular funciona, o que há de confuso nisso? Ela te banhará, te vestirá e fará sua maquiagem e cabelo para o baile. Veja isso como um presente de amizade, uma ação diplomática, se preferir. –Sorrindo, segurou meu pulso e aproximou-se, ficando bem perto de mim. –Sabemos como é bom ter amizades em outros cantos do mundo.

Ela queria que uma fosse a ponte de conexão com o outro e não conseguia sentir alguma outra coisa que não fosse surpresa, sentindo-me ainda honrada... e mal. Era falso, tudo aquilo era falso, os vestidos, as joias, o nome e o título. Eu seria a única a ganhar com tal parceria e ela permaneceria sem contatos influentes, mesmo que creditasse que estivesse fazendo um.

Forcei um sorriso, o mais natural que poderia sair de mim e a retornei.

–Não acredito que se preocupe com a minha apresentação em seu baile. Não esquecerei da sua boa vontade.

Como se fosse nada, balançara os ombros comprimindo um sorriso.

–Trato bem meus convidados. –Depois de compará-los à prostitutas, pensei em responder com humor, mas apenas me mantive calada. –Inclusive, Amara, acredito que já seja melhor que comecem os preparativos. Está ficando tarde e o baile logo começará. –Dando mais uma olhada entre Amara e eu, antes que alguma de nós abrisse a boca para contestar, continuou. –Enfim, eu mesma preciso começar a me preparar. –Virando-se especificamente a mim, segurara minhas mãos, olhos presos aos meus e um sorriso em seus dentes perfeitos. –A verei daqui algumas horas.

Não tive outra opção a não ser acompanhá-la com o olhar enquanto se afastava, chocada com cada ação da princesa que se sucedia.

Já em meu quarto, as velas sendo acesas para iluminá-lo agora que apenas os últimos resquícios dos raios da luz solar remanesciam no céu, Amara enchia minha banheira com o estranho mecanismo que girava e, de lá, caía água quente com uma fonte, parecendo o mais próximo de magia que vinha a presenciar.

–Qual é o nome disso? Usei nos dias anteriores, mas não consegui entender. Como sequer sai água quente de algo tão pequeno de metal? –Amara tinha um rosto belo, porém severo, na casa dos quarenta, diria (não parecia ser uma pessoa de sorrisos fáceis).

–É uma torneira, milady. A água que cai em sua banheira é a mesma água de um reservatório de águas termais subterrâneas, ligada ao castelo por meio de canos. –Ela explicava de maneira seca, não rude e, mesmo com a forma direta como dissera a funcionalidade, tinha certeza de que eu não havia entendido muito. Apenas aceitei que água quente saía do mecanismo metálico controlado por uma válvula que abria e fechava. Uma torneira.

Depois que a banheira estava quase toda preenchia, percebera minha falha.

–Senhora Amara, eu poderia te pedir para ficar do lado de fora enquanto me banho? Não é muito do meu costume me sentir confortável com uma pessoa desconhecida vendo minha intimidade e me lavando. –Era mentira, não poderia ligar menos. Meu corpo é um corpo, assim como ela tinha um, mesmo com todas nossas diferenças, em tese, era a mesma coisa... mas ela não poderia saber das cicatrizes.

Você é uma Lady, lembrei-me, Ladys não possuem marcas de chicote nas costas.

Mantenha-se ao roteiro.

Eu notei que a dama controlava-se para não bufar ou revirar os olhos –pudor entediante, claro.

Mas como a educada servente do castelo, levantara-se do banquinho que já estava ao lado da banheira de porcelana, diferente das de Althaia, dirigira uma pequena e singela reverência a mim e fora até a porta, impedindo-se um segundo antes de sair.

–Ainda gostaria que eu arrumasse sua maquiagem e cabelo? –Concordei animada, ansiosa para ver as habilidades de Amara, despindo-me quando finalmente me encontrava sozinha, esfregando minha pele com a bucha que se encontrava à minha disposição, mergulhando minha cabeça sob a água na expectativa de que, assim, os mil e um pensamentos que borbulhavam em minha mente se silenciassem.

Não funcionou.

Por um tempo curto, mais curto do que desejava, fiquei imóvel, abraçando minhas pernas, a bochecha colada ao meu joelho, apenas encarando as artes coloridas em no carpete do meu quarto –se demorasse mais, Amara poderia vir a desconfiar de algo errado e entrar, obrigando-me a sair da banheira mais rápido do que a minha vontade (se bem que a minha vontade era ficar ali para sempre, até que tudo se resolvesse ou até que todos se matassem).

Só estava cansada.

Em poucas batidas de coração, estava dentro do meu vestido vermelho especial de baile. Uma criação que não parecia real, simplesmente.

Era delicado e incrivelmente estruturado, brilho intrincado ao tecido vermelho que brincava com a luz, mudando de cor o reflexo com o movimento. Se eu parecia uma estrela à pouca luz de velas que tinha em meu quarto, não consigo imaginar como reluziria no salão.

Mas o mais impressionante nele não era o tecido em si e, sim, o bordado que levava pequenos diamantes simulando galhos e pequenas folhas, um decote disforme descendo entre os galhos que iam, gradualmente, diminuindo conforme a saia descia, uma grande fenda que deixava a perna esquerda inteira à mostra, terminando o corte quase no meu quadril, mangas feitas em um tecido transparente que nem parecia estar lá, tão fino e delicado com os mesmos bordados assemelhando-se a galhos, como que prendessem-se à minha pele por magia, a cintura bem delimitada por uma fina faixa vermelha também bordada como uma vinha que se ajustava ao meu corpo, minhas costas bem escondidas para que ninguém visse relances do passado de Sombra. Esta noite, no salão, existiria apenas Lady Amélia Meeran.

Ao deixar que Amara voltasse ao quarto, percebi um pouco do seu fôlego sendo roubado pelo trabalho das costureiras de Althaia, sabendo que esse só poderia ser um bom sinal vindo da dama particular que atendia ninguém mais, ninguém menos que a princesa.

Sem demorar muito mais tempo em contemplação, sentara-me de frente ao espelho da penteadeira, despejando diversos produtos que eu não conhecia sobre a madeira branca do móvel, logo pegando-os em pequenas quantidades e passando-os em meus cabelos.

De início, recuei por instinto, preocupada com o que viria a ser dos meus fios com tais aplicações tão diferentes e dessa vez Amara não conseguira conter uma revidara de olhos.

–Milady, acha a princesa Dayna bonita? –Sua voz impaciente me fazia responder imediatamente.

–Linda, eu diria.

–Excelente. –Após a única palavra, suas mãos com cremes e óleos e outros foram de encontro às minhas madeixas. –Sou eu que a arruma na maioria das vezes, então acredite em mim quando digo que sei o que estou fazendo.

Tentei não ver meu reflexo, querendo ser surpreendia, mas a curiosidade falou mais alto e vi o passo a passo demorado que ela levava cacho por cacho.

Por fim, pegara duas mechas da frente que ficavam logo acima do meu rosto e as fizera em duas tranças levemente frouxas e largas rente ao couro cabeludo até o topo da minha cabeça, quando se desfaziam em cachos bem definidos e juntavam-se aos outros.

Era algo diferente, diferente até mesmo de quando Eira, Dhara e Cordélia deram-me meu primeiro banho no castelo, quando senti-me quase uma princesa.

Meu cabelo tinha brilho –literalmente brilho, além da iluminação que recebia pela hidratação. Parecia pó de prata que cintilava pelo cumprimento. Era louco como até mesmo a posição de cada fio, até os que estavam fora do lugar, parecia ter sido milimetricamente calculados.

Ao passar para o meu rosto, pegara um gel preto com um pincel tão fino que me lembrava a precisão de uma agulha e começara a fazer seu trabalho em meus olhos, desenhando-os enquanto eu os fechava como se eu fosse sua tela.

Depois que ela pediu para que eu os abrisse e que mantivesse meu foco para cima, pegou um lápis bem preto, tendo visto já similares à venda em barracas nas feiras, e continuou a pintar-me no inferior nos olhos.

–Você tem olhos bonitos. Escuros com um fundo meio acinzentado, fica boa com preto ao redor deles. –Dica recebida, pensei.

Passara um ruge singelo apenas para trazer um pouco de vida às minhas bochechas, tão naturais como se tivesse pegado sol e um brilho belo e nada artificial sobre o alto das minhas maçãs do rosto e em meu arco do cupido, realçando-os.

Antes que eu pensasse já estar pronta para ir, preocupada com o horário, Amara pegara um frasco de perfume com um conteúdo brilhante dentro e fora espirrando em meu colo e a perna que estava à mostra, deixando-as ainda mais reluzentes.

Eu não parecia uma Lady ou mesmo uma princesa.

Eu parecia uma Rainha.

Miranda queria que minha presença fosse marcante? Então assim será.

Dispensando Amara educadamente depois de agradecê-la pelo maravilhoso trabalho alegando que precisava de mais uns instantes sozinha, peguei uma faixa de couro similar a um cinto e apertei-a em minha coxa direita, a que não era visível sob a saia nem pela fenda, colocando pelo menos uma adaga na bainha que lá tinha, precisando escolher uma das minhas menores, o tamanho da minha mão espalmada.

Estava quase de saída quando lembrei-me de outro item. Um mais peculiar.

Apliquei o antídoto de Badeaus Doe, um líquido parecido com água, só que mais denso, que levava na bolsa misturado com um perfume em meus pulsos e passei a corrente que carregava o veneno em vi pela cabeça, tendo sorte que poderia escondê-lo sob o tecido apenas do decote, o pequeno frasco chegando quase ao meu umbigo.

Finalmente, pegara minha máscara que me esperava em cima da cama, preta e inteiramente detalhada, e a pusera.

Era difícil carregar uma máscara nova às que estava acostumada a colocar todos os dias, mas conseguiria fazê-lo.

Agora, sim, estava pronta para o baile.


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