O nome da sombra - Crônicas d...

By FlaviaEduarda10

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Sombra já estava acostumada a ser apenas isso: uma sombra aos olhos da sociedade que a marginalizava há 9 ano... More

Reinado das sombras
Prisioneira de luxo
Cuidada e cheirando a rosas e lavanda
Mania do oráculo
Na escuridão
Mentiras
Calia
Entre uma coisa e outra
O castelo pela manhã
Cobras e outros animais
O treinamento
O belo mundo de porcelana
É necessário conhecer o oponente
Assassino
Limites
O último Galene
Apenas reparação
Pessoas e deuses
Espere o esperado
Confronto
Loucura da realeza
Ladra
Sombra
A entrada não é pela porta
Os dias 14
Curiosidade
Sobre um belo vestido vermelho
Os nuances sobre a verdade
Presente
Tudo que viera antes
O primeiro furto
O buraco
Contradição
O que faz uma resistência
Últimos preparativos
É apenas lógico
Propriedade (de ninguém) do reino
O que uma ladra faz? Ela rouba
Encontro inesperado
Decisões entre cartas e camarões
Hayes Bechen
Roubando um pouco de volta
O sacolejo do barco
A linha tênue entre bom e mau
Fogo e gelo
Bayard
Incapaz de ter um segundo de paz
O que há depois do rio?
A ladra nem precisou roubar
A realeza de Drítan
Drítan não gosta de estrangeiros
Deveria?
Diplomacia e chá
A biblioteca
Confusão e incerteza são certezas
Uma flor do deus Ignis
A reação para a ação é justiça
A calmaria antes da tempestade
Todo o ar do salão
De respirar a se afogar em um segundo
Teria que ser tudo
Automático
Deusa da (justiça) vingança
Um é a ruína do outro
O fardo do saber
A compreensão de como uma fênix funciona
Reinando das Sombras

A área particular

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By FlaviaEduarda10

Se eu não tivesse as mãos firmes de ladra, com certeza elas estariam tremendo agora.

A área particular da realeza, que ficava bem ao fundo da biblioteca, escondida, era onde documentos sobre a construção de Drítan e como ela se baseia, documentos mais particulares, documentos esses que não poderiam estar à mostra para qualquer um que pudesse adentrar na biblioteca. Arquivos sobre uma praga extinguida, talvez.

Todos os toques marcados ainda em minha pele haviam sido apagados pelo senso de emergência que fazia com que meu coração batesse em meu ouvido, escutando meu próprio sangue.

Eu já estava lá dentro depois de ter conseguido abrir a porta com a chave roubada dos guardas que ficavam na frente da construção, analisando quem entrava, responsáveis também por fazerem as rondas sobre o restante da biblioteca e, especialmente, a área particular. O ambiente era escuro como a noite, uma caixa de metal selada com dois pequenos blocos de vidro em cada canto da parede da entrada perto do teto, abafada e quente, porém compreensivelmente lacrada, já que assim, sem ar entrando ou saindo, a contenção de incêndios, quase algum se iniciasse naquela ala, onde estariam as informações mais primordiais de seu reino, seria mais eficaz, Nikolai explicara-me.

Não estava trancada, por mais que a porta pesada desse essa impressão, sabendo que, se fosse sair, precisaria apenas girar a maçaneta, sem precisar sinalizar de qualquer forma barulhenta para que Nikolai, do outro lado, a destrancasse por mim, passando meus olhos na parca luz, apertando meus olhos para que se acostumasse e eu conseguisse ler as identificações dos livros que estavam empilhados em altas estruturas metálicas, tendo a sorte de que Drítan era um dos países que estava dentro do tratado de utilizar a nossa língua, a mais antiga datada, como o padrão para registros importantes, sabendo que Drítan falava tanto caliniano, meu idioma, e dritaniano.

O ar viciado e seco e me incomodava, aquecendo meu corpo mais do que a temperatura do alto do verão sob o sol, umidade logo acumulando-se sob minhas axilas e escorrendo pelas minhas costas, minha roupa preta, sem deixar muito da minhas pele para fora, provocava uma situação ainda mais desagradável mesmo que prática

Eram muitos itens para que eu analisasse, tentando localizar-me por ordem alfabética, o que, felizmente, descobri que era seu método de organização, buscando por todas as letras que poderiam ser compatíveis: "d" de doença, "e" de enfermidade, "h" de histeria, "l" de loucura, "m" de mania", "o" de oráculo" e seguindo nesse caminho até acabarem os cadernos, uma busca vazia e o compasso em meu ouvido ficando mais alto a cada segundo que passava naquele lugar, tão silencioso que parecia rastejar-se em horas cada instante em minha procura.

Passando meus olhos mais uma vez pelos títulos marcados nas lombadas e não vendo nada que me interessasse, já fui dirigindo-me quando escutei a chave sendo passada pela tranca –essa era uma parte de um dos planos reserva que eu não gostaria de testar.

Aquilo significava que alguém se aproximava mais rápido do que me permitia escapar, dando tempo apenas para trancar a porta, deixando tudo como estava para que não desconfiassem de, por exemplo, o ambiente mais importante da biblioteca encontrar-se destrancado –não ajudou em nada minha ansiedade crescente.

A ideia era chegar à biblioteca no momento que uma ronda havia acabado de ser efetuada, as quais ocorriam a cada hora a procura de algo que pudesse vir a danificar os papéis tão necessários, perdendo alguns minutos propositais para que não aparentasse estranho surgir assim que um guarda estivesse retornando ao seu posto, gastando mais um tempo precioso com o bibliotecário e algumas de suas perguntas cadastrais, desperdiçando nossa janela enquanto procurávamos pela área particular, acessível apenas para quem tivesse o selo real para isso, como a família real, obviamente, e os eruditos de Drítan. Porém, nada se compara a nossa irresponsabilidade de esquecer do relógio enquanto trocávamos carícias. Imbecis.

"Creio que você deixou cair sua chave" a voz de Nikolai estava muito abafada, quase não sendo capaz de escutar se eu não tivesse simplesmente parado de respirar.

Permitindo-me apenas que eu corresse para baixo de uma das estruturas de metal, deitada no chão encarando quilos e quilos de livros logo acima do meu corpo até ouvir o clique da porta e ela sendo aberta, abençoadamente sem rangido algum, o que indicava que eu poderia sair sem que ele percebesse –não tínhamos mais a chave, novamente nas mãos de seu dono. Se ele saísse antes que eu, trancando-me na área particular, não teria mais como sair, Nikolai não é ladrão algum, não seria capaz de roubar os guardas.

Ele caminhava com uma lamparina acesa (talvez era até um tanto idiota carregar produto inflamável para tal lugar), alternando entre fileiras e fileiras que eram divididas pelas estruturas similares à prateleiras e estantes, procurando mínimas alterações que indicariam interferências internas.

Sabendo que, naquele momento, se eu fosse até a entrada, ele não poderia me ver, testei maçaneta e meu desespero crescera ainda mais –idiota idiota idiota.

Era óbvio que a porta não abriria assim como também não abriria antes de Nikolai trancá-la por segurança. A cada vez que o mecanismo encostava-se no fecho, a trava por segurança era ativada e trancava imediatamente.

Eu precisava roubar um guarda que estava dentro de um pequeno recinto sem que ele notasse minha presença.

Conseguiria, certo? Eu sou a Sombra, afinal.

Precisava conseguir.

Estávamos a uma estante de distância, tendo percebido que ele começara a checar o conteúdo do canto mais à direita para a esquerda, vendo enquanto o brilho da lamparina avançava em conjunto a seus passos, agachando ao chão mais uma vez e rolando no chão frio de pedra sob a estrutura que suportava os livros e chegando no mesmo corredor que ele, de frente para suas costas, claramente alheio à minha presença.

Vagarosamente, como o fantasma que clamavam tanto que eu fosse, realmente uma sombra provocada pelo pouco fogo que tinha em mãos, cheguei perto o suficiente para esticar a mão e tocar seu cinto, fazendo-o e conseguindo sentir o reconfortante frio metálico em meus dedos pela segunda vez no dia. Nem mesmo um vendo passaria mais despercebido que logo atrás do guarda.

Quando ele fora passar para o outro corredor, onde eu me encontrava antes, fui para baixo de outra prateleira até que ele ficasse fora da visão da porta mais uma vez, acelerando-me até lá quase sem sequer tocar meus pés no chão, destrancando-a, quase tirando uma adaga do meu peito, restando apenas a espada que eu sentia fincada em mim.

Por mais que todos os sentidos espertos do meu corpo indicassem apenas para sair de uma vez no momento que o clique fora escutado por mim, fiquei para devolver a chave em seu cindo como se nada tivesse acontecido –e, sendo sincera, o que me comandava pela maior parte do tempo eram os sentidos não tão inteligentes, então deixei a saída encostada para não travar mais uma vez e deixando-a ainda discreta, sem que o guarda percebesse a diferença de sua posição em milímetros.

Fui rapidamente, sem nem ao menos notar meus movimentos, uma ação falha, já que ele virava-se rapidamente para observar os documentos onde me estava no exato momento, sem ter a opção de abaixar-me e ficar sob os livros mais uma vez, impulsionando-me para cima e chegando ao topo reto e frio de maneira ágil suficiente para que ele não chegasse a tempo suficiente para pegar nem minha silhueta de esguelha, esticando meu corpo para que a luz que vinha do objeto que carregasse não chegasse até mim, suando frio pela espinha e com gotas acumulando-se na linha entre meus cabelos e minha testa, dessa vez não pelo calor –naquele momento, quase havia me convertido em uma fiel novamente, pensando em lançar uma prece ao que quer que me atendesse.

Esperei, pacientemente, até que ele passara por mim e eu pude pôr os pés no chão, mais uma vez em seu encalce, no entanto, agora, para devolver o que roubara, vendo a chave em seu cinto como se nunca parara em minhas mãos.

Observando enquanto ele ia para o penúltimo corredor em seu tempo, ninguém apressando-o, fui até a porta e saí pela mais fina fresta à qual consegui me submeter para que o mínimo de luz do mundo exterior entrasse, conseguindo tal feito e encontrando o lado de fora como alguém que conseguisse respirar depois de se afogar, fechando-a atrás me mim, escutando o clique que apenas alguém tão perto quanto eu seria capaz de captar.

Sem ninguém ali, consegui correr feliz até as estantes onde eu sabia que Nikolai estaria esperando com meu vestido vermelho em sua bolsa.

–Os registros não estavam ali. –Sussurrei ainda tentando recuperar meu fôlego depois de controlá-lo por tanto tempo. –A única coisa que sei é que preciso sair daqui.


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