O nome da sombra - Crônicas d...

By FlaviaEduarda10

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Sombra já estava acostumada a ser apenas isso: uma sombra aos olhos da sociedade que a marginalizava há 9 ano... More

Reinado das sombras
Prisioneira de luxo
Cuidada e cheirando a rosas e lavanda
Mania do oráculo
Na escuridão
Mentiras
Calia
Entre uma coisa e outra
O castelo pela manhã
Cobras e outros animais
O treinamento
O belo mundo de porcelana
É necessário conhecer o oponente
Assassino
Limites
O último Galene
Apenas reparação
Pessoas e deuses
Espere o esperado
Confronto
Loucura da realeza
Ladra
Sombra
A entrada não é pela porta
Os dias 14
Curiosidade
Sobre um belo vestido vermelho
Os nuances sobre a verdade
Presente
Tudo que viera antes
O primeiro furto
O buraco
Contradição
O que faz uma resistência
Últimos preparativos
É apenas lógico
Propriedade (de ninguém) do reino
O que uma ladra faz? Ela rouba
Encontro inesperado
Decisões entre cartas e camarões
Hayes Bechen
Roubando um pouco de volta
O sacolejo do barco
A linha tênue entre bom e mau
Fogo e gelo
Bayard
Incapaz de ter um segundo de paz
A ladra nem precisou roubar
A realeza de Drítan
Drítan não gosta de estrangeiros
Deveria?
Diplomacia e chá
A biblioteca
Confusão e incerteza são certezas
A área particular
Uma flor do deus Ignis
A reação para a ação é justiça
A calmaria antes da tempestade
Todo o ar do salão
De respirar a se afogar em um segundo
Teria que ser tudo
Automático
Deusa da (justiça) vingança
Um é a ruína do outro
O fardo do saber
A compreensão de como uma fênix funciona
Reinando das Sombras

O que há depois do rio?

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By FlaviaEduarda10

Acordara pela segunda vez com o sol entrando pela janela do quarto, iluminando-o.

Sozinha.

Agradeci silenciosamente pelo fato de Nikolai ter acordado primeiro e já ter saído, o cobertor dobrado (surpreendendo-me com tal demonstração de organização vinda dele) e uma nota cuidadosamente posicionada sobre o tecido.

"Pode vir tomar café da manhã, já é seguro para você descer."

Todo o ar boêmio que predominava na ilha na noite anterior fora substituído pela animação delicada da manhã, a maioria dos trabalhadores noturnos ainda descansando, a ilha dormindo com poucos gatos pingados despertos, pessoas recarregando materiais para seus navios e cheiro de café se sobrepondo ao cheiro de álcool.

Ao descer as escadas, vi a tripulação do salvadora Lia, nosso barco, sentada comendo antes de voltar ao mar, Kai vindo em minha direção antes mesmo dos meus pés deixarem o último degrau, um prato de ovos mexidos e uma caneca de café em mãos.

–Aqui, esses são para você. Eu já comi. –Olhei-o como se fosse meu próprio salvador, lendo minha mente sem que eu sequer estivesse no cômodo. –Ah, e não se preocupe, não adocei o café. –Sorrindo pelo gesto carinhoso, perguntei o motivo de se dar o trabalho depois de agradecer. –Bem, tinha tempo livre, você ainda não tinha vindo para tomar café da manhã e queremos partir logo. Te servindo, além de me ocupar por um momento, diminui nosso tempo aqui.

–E eu aqui, achando que fizera isso apenas porque você gosta de mim. –Devolvi com um grande sorriso, entretida em sua conversa enquanto nos dirigíamos até uma mesa para comer sentada.

–Pelos deuses, de onde você tiraria essa ideia? –Sua feição dizia "nós dois sabemos que não nos suportamos", um sorriso contido escapando pelo canto de seus lábios. Ele queria sabe se eu estava bem depois de ontem, mas era discreto o bastante para não perguntar diretamente.

–Se quer saber, eu estou bem, de verdade. –Seu escrutínio me estudava na tentativa de ver a autenticidade em minhas palavras, contentando-se com o que encontrara em meu rosto. Entre uma garfada e outra, lamentando-me por não ser os pães de Dhara, ainda que os ovos estivessem bons e o café bem passado, olhei ao redor e não notara Nikolai ou Ophelia. –Onde está sua irmã?

Ele sorrira de canto, provocando-me, reagindo apenas com um revirar de olhos dentro de uma risada baixa.

–Está com Nikolai checando se está tudo em ordem para embarcarmos, já que foram os primeiros a acordar. Não perderemos muito mais tempo.

E ele estava certo. Minha comida mal havia se estabelecido em meu corpo e já estava a bordo novamente, os pés presos ao convés, querendo que meu alimento continuasse onde estava.

O dia passara de maneira singela, observando de maneira atenta o caminho do sol quando passávamos por pedaços de terra, quando vi golfinhos pulando na água ao longe, quando marinheiros gritavam ordens uns aos outros até escurecer, passando a seguir o caminho da lua agora e seu reflexo no mar até algo capturar minha atenção, outra fonte refletindo o brilho da noite em meus olhos. Caminhei até ver o que era, no chão do deque e a vi ali, tão escondida e esquecida, a bússola perdida de Nikolai.

Quem diria, não é mesmo.

Se deuses existirem, seu humor é um tanto sarcástico.

Tomando-a em mãos, o frio metálico passou pela minha pele, analisando seu peso enquanto segurava, escutando o leve som de metal contra metal quando meus anéis a tocaram, balançando a cabeça resignada.

Fui em direção à cabine de Nikolai, batendo firma em sua porta apenas duas vezes, esperando que ele a abrisse.

Ao ver meu rosto, surpresa inundara seus olhos, não esperando que eu, de todas as pessoas, fosse até seu quarto àquele horário, colocando o objeto direto em sua mão esquerda.

–Sorte sua que ninguém na proa pisou nela. –Por um instante, ainda em choque, abaixara seu foco para o que segurava agora, intercalando seus olhares entre mim e o item. –Você deveria cuidar melhor dos seus pertences.

Sem esperar uma reação, virei-me e retornei aos meus próprios aposentos.

Segundo a previsão, chegaríamos ao território de Drítan já pela manhã, precisava preparar-me psicologicamente para tal evento.

_____________

Suor escorria pelas minhas têmporas e pela minha espinha depois ter cavalgado cerca de seis horas seguidas, estando próximo ao meio-dia, o sol alto logo acima das nossas cabeças.

Tivera poucas aulas de montaria apenas e já precisei acompanhar o ritmo de corrida dos outros –quase caí algumas vezes, mas o que importa é que conseguia me manter nas celas.

–Acredito que esse é um bom ponto para descansarmos. Deve ter água corrente mais adentro das árvores e podemos deixar os cavalos aqui na sombra. –Kai virou para mim já descendo de seu cavalo com um sorriso infantil no rosto, quase podia vê-lo se segurando para não fazer um trocadilho com o que havia acabado dizer e meu nome.

–Não diga nada, apenas me tire da cela. –Ele vinha em minha direção comprimindo um sorriso, seus lábios apertados.

–Eu nem disse coisa alguma. –Falou em sua defesa passando suas mãos pela minha cintura e me trazendo ao chão cuidadosamente.

–Melhor continuar assim. –Ele me olhou com as sobrancelhas arqueadas e seu cenho franzido, quase soando "como se você fizesse melhor", agora me fazendo reprimir um riso, ou melhor, teria feito se não estivesse com o humor ruim, cansada, irritada, tudo a que tinha direito.

Depois de tanto tempo cavalgando, além da estar dolorida e quase incapaz de andar, minha coxa interna queimando em conjunto com meu cóccix, me sentia suja.

A poeira de quem galopava à minha frente grudava ao meu incessante suor que surgia pelo sol impiedoso, impregnando em meu rosto, meu cabelo, minhas roupas e, talvez, até em meus pensamentos. Talvez ter todo aquele tempo com Cordélia cuidando de mim e me banhando com água quente tenha me mimado demais.

Enquanto a maioria da nossa comitiva se seguia para a principal clareira que dava à maior abertura do rio, escolhi a privacidade, seguindo por onde a água descia até chegar a um ponto distante o suficiente para que não pudesse vê-los e eles não pudessem me ver, escutando-os apenas à distância e não mais alto que o rio caindo.

Não me despi inteiramente, sabia que a privacidade que eu encontrara era falha, logo, não quis abusar da minha pequena liberdade, apenas desabotoando minha blusa e lavando-a entre as pedras e a água, sabendo que, quando voltássemos a cavalgar, pelo menos o tecido úmido me aliviaria um pouco do calor, permanecendo apenas com a regata, tendo plena noção de suas finas alças, o que facilitava me molhar na tentativa de tirar a terra de mim, esfregando meus braços, meu pescoço, minha face, meus cabelos e tudo que pudesse alcançar.

–Eu sabia das cicatrizes, mas nunca realmente as tinha visto. –Sua voz surgiu por trás, vindo pelas árvores, o que me fez virar e encará-lo.

–Me surpreende, já que eu não fazia questão de escondê-las quando estava no castelo. –Soei quase tão fria quanto a água, não querendo companhia naquele momento, muito menos a dele. Nikolai se aproximou de mim tranquilamente, devagar, até chegar a borda do rio ao meu lado, tomando uma distância respeitável, e também se agachar, assim como eu, desabotoando sua blusa, no entanto, ele não tinha regata ou qualquer coisa por baixo, apenas sua pele.

Imitando meus movimento, colocou o que vestia sob a água e começou a esfregá-la do mesmo jeito que eu, contudo, minha atenção se dispersou de suas mãos e foi parar, não intencionalmente, em seu peitoral desnudo.

Era notável que todo o seu treinamento realmente dava resultados, não é à toa que ele era o primeiro em sua turma, tudo nele parecia confiável, forte e seguro, o suor fazendo-o brilhar enquanto, logo, fui percebendo outras formas, pequenas imperfeiçoes pela pele. Cicatrizes.

–Você também tem as suas próprias. –Minha constatação fora fraca, quase mais para mim do que para ele já que, ao contrário dele, que tinha ciência sobre as minhas, eu não sabia sobre as quais eu estava vendo agora.

Ele esticou seu dorso, exibindo ainda mais seu abdômen (me esforcei para não me distrair mais uma vez) com uma cicatriz reta ainda vermelha e quase curada.

–Reconhece essa? –No começo, precisei de tempo para ligar os pontos (ainda mais com minha mente um tanto dispersa) até perceber.

–Fui eu quem te deu ela?

Seus olhos, que estavam em mim, desviaram para o rio enquanto ele soltava uma risada verdadeira, se um pingo de cinismo.

–Que tipo de primeiro encontro tivemos, não concorda? –Surpresa com a forma como ele já se referia ao dia em que eu o esfaqueara, nada mais amargurado e, sim, com humor.

–Definitivamente. –Seus olhos agora repousavam nos meus, prendendo minha atenção em si.

Antes que eu me percebesse, me aproximava ainda mais, eliminando nossa pequena distância, passei meus dedos com curiosidade pela sua cicatriz, sentindo a maciez de sua pele e o relevo do antigo machucado.

Ao notar o que fazia, puxei meu braço no mesmo instante, Nick me olhando surpreso, se fosse pela proximidade ou pela intimidade a qual me dei a liberdade ao tocá-lo assim, não sabia, só tinha ciência de seu olhar me analisando, interessado.

Disfarcei minha falta de jeito voltando minha atenção ao rio.

–Você ficou com vergonha por ter sido esfaqueado por alguém de 17 anos na época sem experiência alguma em luta? –Ele soltara uma risada genuína e sonora. Acho que nunca o tinha escutado rir, era um som novo.

–Se fosse alguém de 17 anos normal, talvez eu sentisse. –Seu foco recaiu em mim novamente, ainda com o esboço de sorriso pintado em seu rosto, chegando até aos olhos. –Mas você não é não é alguém normal.

Eu entendera o que aquilo significara, no entanto, não pude segurar a minha reação, uma gargalhada.

–Está me chamando de anormal? –Perguntei entre respiradas curtas, sem conseguir me segurar, fazendo-o se juntar à mim.

–Não foi o que quis dizer se você tiver alguma adaga consigo. Meu senso de autopreservação fala mais alto. –Nosso riso entrava em sincronia, nos recuperando quase ao mesmo tempo, uma provocação surgindo forte em minha mente, voltando meus olhos à ele com um sorriso maroto brotando no canto dos meus lábios.

–Aposto que ainda posso ganhar de você em uma luta se já consegui esse feito antes mesmo de receber treinamento. –Sua resposta fora outra risada, contudo, essa era igualmente provocativa, como se significasse "só em seus sonhos". –Ora, você é o grande auxiliar da Rainha, vai aceitar que uma ladrazinha de rua fale assim de você?

Nick me encarou com uma sobrancelha levantada, o humor ainda em sua face.

–É sério que você quer ir por esse caminho? –Eu já conseguia ver como ele se sentia tentado, à beira de aceitar o que eu sugeri. Com certeza eu queria seguir por aquele caminho.

–A não ser que você não se garanta. Eu entendo que perder não seria bem visto para você. –Inclinei-me em sua direção, nossos rostos à poucos centímetros de distância. –Não quer tirar a prova?

Ele sorrira e eu soube que tinha ganhado o que eu queria. Ele não queria mais resistir. Talvez só quisesse tirar a presunção e a arrogância do meu rosto. Tudo bem por mim.

Ele se pôs de pé e eu o fiz logo em seguida, sem sequer esconder meu sorriso desafiador. Fomos para lados opostos da clareira e ficamos em posição de luta.

–Ainda tem como desistir. –Ele jogou para mim mais lenha no fogo (e ele sabia bem).

–Que bom que você já disse isso, economizou meu tempo. –Ele foi o primeiro a atacar, acostumado de fazer isso comigo durante o nosso treinamento, então eu já fazia uma ideia de seus primeiros movimentos, o que me fez conseguir escapar a primeira vez. Ele estava evidentemente me subestimando, Nikolai não é o tipo de pessoa que faz uma investida errada. –Poxa, eu esperava mais vindo de você.

Ele, reagindo como eu esperava, mordeu minha isca, entortando a boca com o cenho centrado.

–Por que você não vem até aqui? Tem medo? –Ele dissera aquilo na esperança que surtisse em mim o mesmo efeito que as minhas alfinetadas tem sobre ele (e tendo sucesso).

Eu já estava dentro, pequenas provocações apenas eram o meu empurrão.

Fui correndo em sua direção e então ficou divertido.

Quando ele me segurava, eu apelava à alguns de meus golpes sujos. Na primeira vez capturada, ele segurava meu corpo colado ao seu, de frente para minhas costas, sua bochecha tocando a minha e eu pisei com todo o meu peso em seu pé, me soltando junto com um palavrão.

–Isso não é tipo de coisa que se fala na frente de uma donzela. –Ao me escutar, ele apenas rira, irritado na mesma medida que divertido e desafiado.

Na segunda vez, seu braço estava prendendo o meu pescoço, não permitindo que ar entrasse em meus pulmões, novamente de costas para ele. Mais uma vez, consegui me livrar, mesmo que de maneira nada elegante.

–Você lambeu o meu braço? –Ria na mesma medida que recuperava meu fôlego, meu cabelo agitado caindo sobre minha face, olhando-o enquanto esfregava o braço com minha saliva na calça, eu não sentindo um pingo sequer de remorso ou arrependimento, esfregando meu pescoço que estava sendo pressionado anteriormente. –Donzela, hein? –Ele disse soando mais surpreso do que enojado.

Já na terceira vez, assim que ele percebeu o que estava prestes a fazer, me soltara rapidamente.

–Não! Nada de morder, suas marcas de dentes ficaram durante dias. –Me afastava rindo outra vez, divertida com a situação, trazendo-o à risada também ao mesmo tempo em que nos cercávamos.

Corri até ele, curvada para acertar sua barriga e derrubá-lo, o que fiz, no entanto, ele já esperava isso, sabendo como inverter a situação e ficando em cima de mim, segurando meus pulsos no chão, entretanto, em fração de segundo, com a mesma técnica que ele me ensinara, passando minha perna sobre a dele e girando-a, consegui com que ele ficasse sob mim, meus pulsos já livres e minhas mãos segurando seu pescoço, ainda que não forte suficiente para incapacitá-lo, suas mãos parando em minha cintura, a posição de quem poderia me tirar de cima se quisesse.

Mas ficamos ali, imóveis, nos encarando, nossa respiração ofegante tomando nosso corpo todo, seu peito desnudo notavelmente subindo e descendo, assim como o meu, sob a fina, não translúcida, regata.

O sorriso tinha deixado o seu rosto, que agora analisava o meu, uma confusão de sentimentos passando por ele. Creio que o meu estava da mesma forma.

Tirei minhas mãos em gancho de seu pescoço e senti as suas apertando-se em minha cintura, o dedão movendo-se como se me acariciasse. Como o movimento da água, rente ao meu corpo, seus dedos foram passando da curva da minha cintura, vagarosamente, até a parte externa da minha coxa, arrepiando-me, segurando-me firmemente enquanto meus próprios dedos, como se possuíssem vida e vontade própria, transferiam-se de seu pescoço até seu peitoral, abaixando minha cabeça, seus olhos presos em meus lábios entreabertos. À medida que eu me aproximava, seu rosto também vinha em minha direção, podendo sentir sua respiração se misturar com a minha, a distância de dois dedos entre nós.

Aquilo era empolgante estranho, eu sentia algo, uma urgência que eu não sabia que tinha, minha vontade de cobrir logo o espaço que nos separava, sentir suas mãos sobre toda a minha pele e, pelos deuses, sentir seus lábios. Aquilo não era eu.

Ou era e eu estava tentando me enganar a todo custo.

Até que minha audição capturou um galho se quebrando perto de onde estávamos.

–Sombra, onde você es... –antes mesmo de Ophelia terminar sua frase, sua voz mais perto a cada palavra, saí de cima do Nikolai, como se tivesse acabado de acordar, parecendo com sua mesma reação, observando-o piscar e respirar fundo, se levantando. Depositei minha atenção em Ophelia, sabendo que ela tinha visto mais do que eu queria, sua face uma mistura de choque, embaraço e graça. –Se estiverem ocupados, eu volto depois.

–Ophelia, não seja boba, estávamos apenas treinando. Precisamos manter o hábito mesmo não estando no castelo. –Ela, assim como seu irmão, reprimia um sorriso.

–Claro, treinamento é muito importante. –Ophelia prolongou as sílabas da palavra "muito", constantemente alternando seus olhares entre eu e Nikolai. –Vamos logo, precisamos já carregar os cavalos de novo se quisermos chegar lá ainda hoje.

Caminhei rápido para sair de lá, daquela clareira, de perto dele, passando até à frente de Ophelia, sem olhar para trás.

Mesmo assim, minha mente e meu corpo não me obedeceram e repassaram tudo aquilo, as provocações, seu aperto em minha cintura, suas mãos em minha coxa, seus dedos brincando, quentes, mesmo sobre o tecido.

Obriguei-me a encarar a feia verdade: eu o desejava.

Talvez o pior nem fosse isso e, sim, o fato de que, muito possivelmente, ele também me desejava.

Depois de nos alimentarmos com a comida prática da comitiva, cerca de seis dos melhores guardas da coroa além dos O'keefe e do auxiliar da rainha, continuamos a cavalgada em mesma constância até a tarde cair e, depois disso, mais algumas horas nos cavalos tendo somente a lua como luz, finalmente chegando em Merlowe, o brilho da cidade ficando mais visível à medida em que nos aproximávamos, uma cidade quase no meio do deserto.

Tudo que eu mais queria era um bom banho frio para desimpregnar toda a sujeira que havia colado em mim, então não demorei muito, indo me limpar assim que a chave do meu quarto tocara minha mão.

O espelho que havia na penteadeira simples da hotelaria era levemente turvo em alguns pontos e tinha muitas manchas pretas atrapalhando o reflexo, lascado nas pontas, mas ainda conseguia me ver, ver o rosto limpo que nem se parecia com como havia chegado aqui.

O jantar havia sido simples, no restaurante da própria estalagem, aproveitando nosso último dia antes de enfrentarmos a corte de Drítan –meu último dia com roupas simples.

Quando era tarde da noite, início da madrugada, me encontrava inquieta no meu quarto.

Eu senti algo por Nikolai naquele momento e parecia ter sido recíproca. Eu queria Nikolai naquele momento, mais cedo, perto do rio.

Será que eu deveria ir até seu quarto para, talvez, esclarecer o que quer que tivesse acontecido? Ele poderia entender e justificar seu toques como algo... impensado, em retorno dos meus.

Mas então o que os meus significaram?

Se sequer significaram alguma coisa.

Quando voltei a mim, estava parada, congelada à frente da minha porta, a mão ensaiando o caminho até a maçaneta para ir vê-lo. Fazer o que depois de vê-lo? Não sei.

Meus dedos não chegaram a encostar no metal, quase sentindo seu toque frio.

Vá dormir, Sombra. Você já tem muito em sua cabeça.

Não preciso acrescentar sentimentos conflituosos acerca um certo assassino –que estava sendo ameaçada a matar por chantagem –que gosta de cachorros, da cor roxa, e, talvez, de uma ladra.

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